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O sistema prisional em face da Constituição Federal de 1988 e lei de execução penal: a superlotação carcerária e o principio da dignidade humana

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GRANDE DO SUL

RENAN HEMANN WOITECHUMAS

O SISTEMA PRISIONAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E LEI DE EXECUÇÃO PENAL: A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA E O PRINCIPIO DA

DIGNIDADE HUMANA

Ijuí (RS) 2018

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RENAN HEMANN WOITECHUMAS

O SISTEMA PRISIONAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E LEI DE EXECUÇÃO PENAL: A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA E O PRINCIPIO DA

DIGNIDADE HUMANA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão do Curso– TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador:MSc Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo e apoio em mim depositados durante toda a minha jornada acadêmica.

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À meus familiares, que estiveram presentes em todo momento e me incentivaram a seguir a minha jornada com dedicação e persistência, e com quem aprendi que os empecilhos em meu caminho encontrados são, na verdade, ferramentas para a minha evolução e desenvolvimento profissional e pessoal.

A minha orientadora, Eloisa Nair de Andrade Argerich, com quem eu tive o privilégio de contar com sua dedicação e sabedoria, me guiando pelo caminho do conhecimento.

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“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. Martin Luther King

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A pesquisa analisa criticamente o sistema prisional em face da Constituição Federal de 1988 e Lei de Execução Penal: A superlotação carcerária e o princípio da dignidade humana. Aborda o conceito e histórico do sistema prisional, à medida em que analisa o contexto em que se equipara a Constituição Federal, bem como os requisitos impostos pela Lei de Execução Penal. Estuda o sistema penitenciário nacional e a situação das casas prisionais, conprovando que, nos dias atuais ocorre o efeito da superlotação em razão do baixo número de casas prisionais em nosso país e do encarceramento em massa para de forma errada dar uma resposta rápida à sociedade. Demonstra, também, através de dados estatísticos a superlotação e o aumento de pessoas reclusas no decorrer dos anos, causando assim o aumento de doenças transmitidas pelo estado deplorável em que se encontram estes seres humanos, que são também esquecidos pelos órgãos do poder judiciário e jogados aos montes nas celas da maioria das penitenciárias brasileiras, bem como a violação de inúmeros princípios constitucionais relacionados à prisão no Brasil.

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The research critically analyzes the prison system in the face of the Federal Constitution of 1988 and Criminal Enforcement Law: Prison overcrowding and the principle of human dignity. It addresses the concept and history of the prison system, as it analyzes the context in which the Federal Constitution is equated, as well as the requirements imposed by the Criminal Enforcement Law. It investigates the situations of prison houses, evidencing that in the current day the effect of overcrowding occurs due to the low number of prisons in our country and the mass incarceration to erroneously give a quick answer to the society. It also shows, through statistical data, the overcrowding and increase of people arrested over the years, thus causing an increase in diseases transmitted by the deplorable state in which these human beings are, which are also forgotten by the organs of the judiciary and played to the mountains in the cells of most Brazilian penitentiaries, as well as the violation of innumerable constitutional principles related to the prison in Brazil.

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INTRODUÇÃO...8

1 O SISTEMA PRISIONAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988...11

1.1 Aspectos conceituais e históricos ...11

1.2 O sistema penitenciário Brasileiro: Diretrizes da politica criminal na Constituição Federal de 1988 ...17

1.2.1 Os mitos e a realidade do sistema prisional Brasileiro...20

1.3 A (i)legitimidade da lei de Execução Penal frente a realidade prisional ...22

1.3.1 Garantias penais constitucionais ...24

2 A SUPERLOTAÇÃO CARCERARIA E A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA ...29

2.1 A dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988...30

2.1.1Análise de dados estatísticos: superlotação carcerária ...33

2.1.2A violação da dignidade da pessoa humana e a prisão como pena ...37

2.2 A pena privativa de liberdade e os limites constitucionais...39

CONCLUSÃO...42

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INTRODUÇÃO

A pesquisa pretende verificar a atual situação do sistema prisional nacional, com a finalidade de comparar seu momento atual com a realidade social do Brasil, ou seja, analisar o sistema penal penitenciário visando comparar o mesmo com a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Execução Penal, a superlotação carcerária e o princípio da dignidade humana.

As considerações acerca do sistema vêm se modificando ao passar do tempo. O debate em torno do sistema carcerário brasileiro tem sido abordado em praticamente em todas as mídias nacionais. Conforme passaram-se os anos, a superlotação nas penitenciárias aumentou de um modo que as mesmas não conseguiram acompanhar esta demanda, e não comportam o número de presidiários que são encarcerados para cumprir suas penas. Desta forma, observa-se que que a violação dos direitos e garantias constitucionais no cárcere têm sido constantes, uma vez que a integridade física e moral, assistência ao preso,direito à alimentação, vestuário, instalações higiênicas, além de atendimentos de saúde – médico, odontológico e farmacêutico, assistência jurídica, educacional, social e religiosa, além de acompanhamento ao egresso e assistência à família não são cumpridas.

As principais funções do sistema prisional brasileiro, que deveriam ser de punição à pessoa do apenado e a recuperação para ressocialização não são nem de perto cumpridas pelos sistemas prisionais. O que ocorre é que os apenados são colocados diretamente em contato com diversos tipos de facções e pessoas que muitas vezes transformam os apenados para que façam parte do crime organizado, por estes motivos que o índice de ressocialização tem diminuído muito ao passar dos anos.

O sistema prisional, pela falta de comprometimento por parte dos órgãos da segurança pública governamental em implantar políticas direcionadas à ressocialização e reinserção dos

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apenados na sociedade e, também a falta de investimentos no setor que poderiam resolver os problemas da superlotação que acabam por gerar situações alarmantes com relação ao cumprimento das penas em locais tão insalubres e em condições tão precárias que não seriam locais nem próximos do correto para receber os apenados.

Os apenados são tratados na maioria dos presídios de forma totalmente errada, são deixados em celas minúsculas que por si só já não cumprem o que exige a Lei de execução penal – LEP.

Os direitos fundamentais dos apenados estão distantes de serem assegurados, muitos deles não passam nem pelo conhecimento dos presos, visto que os locais onde se encontram não apresentam sequer as mínimas condições de higiene, sem contar com o tratamento dado pelos agentes penitenciários que são muitas vezes despreparados. Tudo isso por culpa do abandono por parte do governo, trabalham com medo o tempo todo, tendo assim que tratar os presos de modo rude e grosso para amedrontar os mesmos e manter a ordem e evitar maiores complicações para os dois lados (agentes e apenados).

Se as políticas públicas fossem melhor voltadas para as casas prisionais e seus apenados, a ressocialização seria muito mais fácil, devido ao fato que estariam melhor preparados para voltar a conviver em liberdade e em harmonia com os demais.

O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar criticamente ao número de falhas que são percebidas no momento em que é equiparada a situação atual do sistema carcerário brasileiro com relação ao que está exposto no papel em forma de leis no nosso país.

No Brasil se tem a cultura do “Bandido bom é bandido morto” e é com este pensamento que são vistas as leis, pois se em um país que a maioria do povo quer aquelas pessoas que cometeram algum ato infracional seja morto, não teria necessidade alguma das organizações governamentais terem um bom tratamento para seus “bandidos”

Tendo em vista essas observações acerca do referido tema, a intenção é de abordar de forma mais pontual tais problemas, que decorrem e até onde podem acarretar a acumulação dos mesmos perante demais áreas da segurança pública, o que será realizado no primeiro capítulo. No segundo capitulo, aborda-se, a superlotação dos estabelecimentos penais e a

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violação da dignidade humana, baseados em dados estatísticos retirados do DEPEN e INFOPEN com a finalidade de esclarecer e demonstrar a todos os leitores deste artigo a real e atual situação do sistema prisional. Bem como, também, possíveis soluções práticas e objetivas que melhorariam a execução penal, o sistema prisional em si, a situação atual das penitenciárias e as formas de assegurar ao preso sua dignidade enquanto cumpre sua pena.

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1 O SISTEMA PRISIONAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A pesquisa pretende verificar a atual situação do sistema prisional nacional, com a finalidade de confrontar o momento atual nacional com a realidade social do Brasil, analisar também o sistema penal e prisional e equiparando o mesmo com o que trata a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Execução Penal, a superlotação carcerária e o princípio da dignidade da pessoa humana.

Nesse capitulo, aborda-se, ainda, aspectos conceituais e históricos, bem como o sistema penitenciário, bem como a formulação das Diretrizes da Política Criminal e penal na Constituição Federal de 1988 e os mitos e a atual realidade do Sistema, A (i)legitimidade da Lei de Execução Penal frente a realidade atual.

Após, tem-se o objetivo de verificar e analisar algumas das principais garantias penais constitucionais vigentes e os mais importantes princípios penais limitadores da dignidade da pessoa humana para demonstrar que o sistema prisional brasileiro se encontra em enorme crise que acaba por gerar a superlotação carcerária.

1.1 Aspectos conceituais e históricos

Os problemas que são causados pela precária situação que são encontradas as penitenciárias brasileiras, têm sido causa agravante no tratamento que os apenados devem receber a partir do que trata a Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º,XLIX,que assegura ao encarcerado o respeito à integridade física e moral, bem como no mesmo artigo, inciso III consigna que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, mas a realidade mostra-se diferente.(BRASIL,1988).

No que tange os aspectos conceituais e históricos sobre o sistema penal e política criminal é relevante destacar que, em primeiro lugar, necessita-se fazer o entendimento do significado do direito penal no Estado Democrático de Direito.

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O direito penal e criminal é muito mais do que um mecanismo de controle, este, exercido pelo poder público, uma vez que o mesmo pode ser entendido por aspectos, formal e material. O primeiro diz respeito à normatização que, por meio de conjuntos de normas, o mesmo estabelece diversas sanções em relação aos comportamentos que não se adequam ao padrão social e que geram conflitos entre os cidadãos. O segundo, diz respeito a reprovação de diversas condutas humanas que atentam direta ou indiretamente contra a vida ou a liberdade, que ferem os bens jurídicos e configuram infrações penais, que por sua vez exigem que o Estado tome providencias em relação à garantia e manutenção da ordem. (CAPEZ, 2012).

Nesse sentido, Fernando Capez (2012 p. 27) sustenta que:

[...] O direito penal é muito mais do que um instrumento opressivo em defesa do aparelho estatal. Exerce uma função de ordenação dos contatos sociais, estimulando práticas positivas e refreando as perniciosas e, por essa razão, não pode ser fruto de uma elucubração abstrata ou da necessidade de atender a momentâneos apelos demagógicos, mas ao contrário, refletir, com método e ciência, o justo anseio social.

Baseado nesses argumentos, pode-se observar que o direito penal tem como função principal, proteger os bens jurídicos, e assim, solucionar conflitos, evidenciando -se que deverá levar em consideração o estabelecido na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde o princípio da dignidade humana assegura explicitamente que todos os cidadãos, independentemente de terem cometido alguma forma de infração penal, tratamento conforme regulam as leis.

Interessante observar a posição de Luiz Francisco Carvalho Filho (2002 p. 21) ao ressaltar que “o direito penal até o século XVIII, era marcado por penas cruéis de desumanas, não havendo até então a privação da liberdade como forma de pena[...]”, referindo que “o encarceramento era um meio, não era o fim da punição”.

Antes de explicar o significado de sistema prisional, que então surgem os primeiros projetos, que se conhece hoje por penitenciária.

Foi no início do século XVII, entre os anos de 1726 e 1790, que John Howard “[...] que após ter sido nomeado xerife do condado de Bedfordshire, conhece a prisão de sua

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jurisdição e resolve conhecer a realidade das demais prisões da Inglaterra” (DI SANTIS, Engbruch, 2012 s.p.).

Sabe-se que de início, a justiça na terra era atribuída diretamente aos deuses, totalmente controlada e dominada pelo poder da igreja, onde o justo e digno somente é elevado ao céu e a penitencia é compreendida como uma volta direta ao seio do povo de Deus, daquele que cometeu algo denominado como pecado, ou seja, uma passagem necessária para que possa retornar para junto da sociedade, com arrependimento e purificação (BIBLIA, 1980, p. 1398).

Portanto, para o cumprimento de penas e o estabelecimento das mesmas, estas eram atribuídas pelos sacerdotes, que seriam os representantes diretos de Deus na terra.

Nas palavras de Cesare Beccaria (1999, p.3) a justiça humana passa a sofrer alterações, dependendo da força política dominante à época e espaço, quando assim assevera:

A justiça divina e a justiça natural são, por sua essência, constantes e invariáveis, porque as relações existentes entre dois objetos da mesma natureza não podem mudar nunca. Mas, a justiça humana, ou, se quiser, a justiça política, não sendo mais do que uma relação estabelecida entre uma ação e o estado variável da sociedade, também pode variar, à medida que essa ação se torne vantajosa ou necessária ao estado social. Só se pode determinar bem a natureza dessa justiça examinando com atenção as relações complicadas das inconstantes combinações que governam os homens

Conforme as palavras do autor, infere-se que a justiça depende propriamente do homem e de suas diretrizes impostas por ele, quando se toma decisões políticas, sendo estas, é que se tira a conclusão de punir ou não punir determinadas condutas.

Beccaria (1999) esclarece que, o Estado, devido a tamanho poder a ele designado, opta por fazer justiça, residindo na pessoa do responsável este poder e desta forma, escolhe tipificar tais condutas proibidas em lei. Suas colocações são elucidativas, pois

Podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social. Ora, o magistrado, que também faz parte da sociedade, não pode com justiça infligir a outro membro dessa sociedade uma pena que não seja estatuída pela lei; e, do momento em que o juiz é mais severo do que a lei, ele é injusto, pois acrescenta um castigo novo ao que já está determinado. Segue-se que nenhum

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magistrado pode, mesmo sob o pretexto do bem público, aumentar a pena pronunciada contra o crime de um cidadão. (BECCARIA 1999, p. 16)

O autor supracitado teve um importante papel na averiguação do direito da pessoa do apenado e de certos regimes impostos a ele.

Assim, o mesmo aponta que foram realizados congressos sobre o tema, nas quais já assumiam caráter internacional, como o de Londres em 1872. (BECCARIA, 1999)

Outro aspecto interessante, são as considerações de Rafael Damasceno Assis (2007, p. 2) que apresenta um julgamento do regime progressivo, no qual envolve variantes de outros sistemas, assim observa:

A ideia de um sistema penitenciário progressivo surgiu no final do século XIX, mas, no entanto, sua utilização generalizou-se através da Europa só depois da I Guerra Mundial. A essência desse regime consistia em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um deles os privilégios que o recluso poderia desfrutar, de acordo com sua boa conduta e do avanço alcançado pelo tratamento reformador. Outro aspecto importante era o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à sociedade antes do término da condenação. Basicamente, o sistema progressivo tinha como fundamento dois princípios: estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para uma futura vida em sociedade. O avanço considerável obtido pelo sistema progressivo justifica-se pela importância por ele dada à vontade do recluso e de que ele diminuíra o rigor excessivo na aplicação da pena privativa de liberdade. Da filosofia original do sistema progressivo surgiram várias variantes e peculiaridades em outros sistemas, o que na verdade se constituíam num aperfeiçoamento do próprio sistema progressivo. As primeiras mudanças decorreram do surgimento do sistema progressivo inglês, desenvolvido pelo capitão Alexandre Maconochie, no ano de 1840, na Ilha de Norfolk, na Austrália. Esse sistema consistia em medir a duração da pena através de uma soma do trabalho e da boa conduta imposta ao condenado, de forma que a medida que o condenado satisfazia essas condições ele computava um certo número de marcas (mark system), de tal forma que a quantidade de marcas que o condenado necessitava obter antes de sua liberação deveria ser proporcional à gravidade do delito por ele praticado. A duração da pena baseava-se então da conjugação entre a gravidade do delito, o aproveitamento do trabalho e pela conduta do apenado.

Apenas após a criação conhecida Comissão Penitenciária Internacional, que se alterou para Comissão Penal e Penitenciária (1929), que então, deu-se origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU, e após a Segunda Grande Guerra, surgiram então em diversos países a Lei de Execução Penal (LEP). Os países iniciais que reconheceram a mesma foram, a Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil, e outros estados-membros da ONU.

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No Brasil, as políticas punitivas, foram desenvolvidas com base nas ordenações Manuelinas e Filipinas, que tinham como base a ideia de intimação pelo terror, ou seja, era instrumento de punição contra o crime com utilização de criações religiosa e políticas da época. (CUANO, 2010)

No ano de 1830, após a Independência, os programas de ação que indicavam ordens, ficaram de lado, passando para a produção de uma legislação adequada à nação brasileira, com a finalidade de afastar o domínio de seus colonizadores e a sua opressão.

Nas lições de Rodrigo Pereira Cuano (2010, p. 3, sic), trata-se de uma transformação, com base no sentimento nacionalista, veja:

Proclamada a independência do Brasil, duas ordens de motivo viriam contribuir para a substituição das velhas Ordenações: de um lado, a situação de vida autônoma da nação, que exigia uma legislação própria, reclamada mais ainda pelo orgulho nacional e a animosidade contra tudo o que pudesse lembrar o antigo domínio. Por outro lado, as idéias liberais e as novas doutrinas do Direito, do mesmo modo que as condições sociais, vale lembrar que, bem diferentes daquelas que as Ordenações foram destinadas a reger, exigiam a elaboração de um Código Penal brasileiro, no plano constitucional, que segundo o artigo 179, 18, da Carta Política do Império, que impunha a urgente organização de "um Código Criminal fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade".

Foi esse Código obra legislativa realmente honrosa para a cultura jurídica nacional, como expressão avançada do pensamento penalista no seu tempo; legislação liberal, baseada no princípio da utilidade pública, como havia de resultar naturalmente da influência de Bentham, que se exerceu sobre o novo Código, como já se fizera sentir no código Frances de 1810.

Como pode-se perceber, ocorre então um avanço significativo no modelo de regime punitivo, o qual é construído em uma cultura liberal, que dentre demais avanços, trouxe a individualização da pena e também o princípio da utilidade da pena.

No entanto, foi após o Código Penal, em 1890, que se aboliu a pena de morte e passou a funcionar o regime punitivo em caráter correcional, com a finalidade de ressocializar e reeducar o apenado, contudo, que pouco foi posto em funcionamento e já enfrentou um movimento reformista. Pereira Cuano (2010, p. 5, sic), aduz que:

O código Penal dos Estados Unidos do Brasil” foi promulgado pelo Decreto de Governo Provisório, sob o n.° 847, de 11 de outubro de 1890, só tendo entrado em vigor no ano de 1891, face o Decreto 1.127, de 6 de dezembro de 1890, que assinava o prazo de seis meses para a sua execução no território nacional (art.411, CP). O Código, era dividido em 4 livros, sendo que o primeiro tratava dos crimes e penas, o segundo militava sobre os crimes em espécie, o terceiro, das contravenções em espécie, e o quarto, das disposições gerais, sendo composto de quatrocentos e doze artigos.

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O primeiro Código penal republicano foi menos feliz que o seu antecessor. A pressa com que foi concluído, prejudicou-o em mais de um ponto, e nele a crítica pôde assinalar, fundadamente, graves defeitos, embora, muitas vezes com excesso de severidade. Não tardou a impor-se a idéia de sua reforma, e em menos de três anos depois da sua entrada em vigor, já aparecia o primeiro projeto de Código, para substituí-lo.

O movimento de reforma, entretanto tornara-se imperioso. Em 1916, o Instituto da Ordem dos Advogados, no Rio de Janeiro, fazia sentir no Congresso a necessidade urgente da reforma penal e dois anos depois, uma Comissão da Câmara e do Senado, entrava a discutir as bases de um projeto, que ficou também sem andamento.

O que comandava naquela época o país era o pensamento de Estado Novo, então em 1940, durante o governo do presidente Getúlio Vargas, é publicada a consolidação das Leis penais, composto por Leis modificadoras, chamado de Código Penal Brasileiro. (CUANO, 2010).

Passado este momento, são divididas as penas em principais e acessórias, variando conforme a gravidade do delito, podendo esta ser de três diferentes tipos: multa, detenção e reclusão. Do fato em que a segunda e a terceira consistem na perda da função pública, nas interdições de direitos e na publicação da sentença. A mais pesada delas, sem dúvida é a reclusão, sendo esta executada de acordo com o sistema progressivo.

O modelo penal criado em 1940 veio a ser modificado, após, nos anos de 1969, 1977, 1981 e 1984, se adequando sempre a ideologia vigente da época.

Em 1984, se estabeleceu a Lei que trata da Execução das penas, a Lei 7210, que visava regulamentar a classificação e individualização das penas, propondo ideias mínimas em relação ao tratamento do apenado, sustentando a proteção de seus direitos e estabelecendo seus deveres. (CUANO, 2010)

As inovações que surgiram, se faz indispensável mencionar, nas quais se destacam: A redação do artigo 39 do Código Penal Brasileiro (CPB); e a do artigo 29 da Lei de Execuções Penais (LEP), que possibilitaram o preso de trabalhar e de receber salário pelo seu esforço, aduz Cuano (2010).

Já a Constituição Federal do Brasil de 1988 adicionou diversas matérias anteriormente estabelecidas, preocupando-se principalmente, com o princípio da humanidade, sendo assim, a dignidade humana, e dos demais fundamentos incorporados no art. 5º, inciso II i e XLIX, ou

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seja, como a proibição da tortura e o respeito à integridade física e moral, o que significa um implacável avanço no sistema democrático Brasileiro (BRASIL, 1988).

Desta forma, devemos abordar sobre o sistema penitenciário brasileiro e analisar as diretrizes de sua política criminal, para melhor compreensão das razões que afetam o atual sistema penitenciário e sua crise.

1.2 Sistema penitenciário Brasileiro: Diretrizes da Política Criminal na Constituição Federal de 1988.

O sistema prisional brasileiro se tornou em verdadeiro depósito humano, no qual a superlotação, violência e doenças são alguns pontos que marcam o Sistema Penitenciário no Brasil, descaracterizando assim o real sentido para o qual foi criado.

As prisões, como fundamento das penas privativas de liberdade, deveriam ter a finalidade de recuperação e punição do condenado. No entanto, o que se pode observar na prática, é que o caráter de punição da pena ultrapassa a esfera de liberdade do cidadão, alcançando juntamente a sua dignidade, saúde, integridade, entre outros direitos assegurados na Carta Magna. Além disso, não se consegue observar, de forma alguma, o caráter de recuperação do mesmo nas penas privativas de liberdade, podendo inclusive conferir a isso a punição aumentada do indivíduo, que passa da supressão de sua liberdade.

A superlotação nas prisões, acaba causando a falta de dignidade da pessoa humana e também de higiene, pois o espaço reduzido que os presos têm para viver, os leva a dormirem no chão, e, muitas das vezes, até próximo dos locais que normalmente chamam de “banheiro”, tal nome este que é inadequado, visto que tal local não passa de um buraco por onde seus dejetos e urina são depositados. Para Virginia Camargo (2006, sic):

A superlotação devido ao número elevado de presos, é talvez o mais grave problema envolvendo o sistema penal hoje. As prisões encontram-se abarrotadas, não fornecendo ao preso um mínimo de dignidade. Todos os esforços feitos para a diminuição do problema, não chegaram a nenhum resultado positivo, pois a disparidade entre a capacidade instalada e o número atual de presos tem apenas piorado. Devido à superlotação muitos dormem no chão de suas celas, às vezes no banheiro, próximo a buraco de esgoto. Nos estabelecimentos mais lotados, onde não existe nem lugar no chão, presos dormem amarrados às grades das celas ou pendurados em rede. (...) Os estabelecimentos penitenciário brasileiro, variam

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quanto ao tamanho, forma e desenho. O problema é que assim como nos estabelecimento penais ou em celas de cadeias o número de detentos que ocupam seus lugares chega a ser de cinco vezes mais a capacidade.

A constante violência nos presídios, além também de ser decorrência da superlotação, representam um total despreparo no sistema prisional, já que não se visa sequer a separação dos apenados portempo de pena já cumprido ou categoria de crime cometido, resultando assim, no contato de apenados primários e recém chegados com aqueles que já cumpriram boa parte de suas penas, estando, portanto, mais contaminados dos vícios e costumes do recinto prisional. Assim, segundo Assis (2007)

Homicídios, abusos sexuais, espancamentos e extorsões são uma prática comum por parte dos presos que já estão mais “criminalizados” dentro do ambiente da prisão, os quais, em razão disso, exercem um domínio sobre os demais, que acabam subordinados a essa hierarquia paralela.

Relacionado à saúde do preso, discorre a Lei Execuções Penais (lei nº 7.210/84), em seu artigo 14, que “a assistência à saúde do preso e do internado, de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico”. Apesar de previsto em Lei, a real situação da saúde nas penitenciárias é precária. Causada pela insalubridade do ambiente, à promiscuidade sexual, ao intenso uso de drogas e à falta de acompanhamento médico preventivo, que se encontra, são presidiários dotados de uma saúde debilitada, incapaz de propiciar-lhes condições satisfatórias de vida. Na maioria das vezes, encontram se com algum tipo de doença, sendo as principais delas, acomodadas nos pulmões, afetando o sistema respiratório.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, discorre nos Relatório Sobre a Situação de Direitos Humanos no Brasil (1997), em seu Capítulo IV (anexo I) que “muitos presos se queixaram de que doenças gástricas, urológicas, dermatites, pneumonias e ulcerações não eram atendidas adequadamente, afirmando que muitas vezes nem sequer havia remédios básicos para tratá-las”, além disso, dispôs também que:

Segundo declarações dos próprios presos, em caso de brigas entre eles ou doenças, eles próprios tem que tratar dos feridos ou enfermos. A Comissão, ao visitar a Penitenciária Feminina de São Paulo, recebeu queixas das reclusas quanto à falta de atendimento médico, sobretudo ginecológico e dental, e à inexistência de veículos para o transporte das internas ao médico ou hospital. [...] A Comissão recebeu igualmente queixas de que, quando os presos doentes precisam ser transladados a

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postos de saúde ou hospitais para receber um tratamento médico determinado ou de urgência, a Policia Militar (órgão encarregado de escoltar ou transportar os reclusos aos hospitais) às vezes se nega a fazê-lo ou adia sem qualquer justificação a escolta, o que muitas vezes resulta na piora do estado de saúde do doente. (CIDH, 1997).

Tratando-se sobre o trabalho do apenado, previsto no artigo 28 da LEP como “dever social e condição de dignidade humana”, falta-lhe efetivação, uma vez que o que se encontram nos presídios são indivíduos dominados pela preguiça ou entregues ao sono por extensos períodos do dia. Este quadro dificulta a recuperação e ressocialização do apenado visto que o trabalho produtivo é condição necessária para o alcance deste objetivo. (BRASIL, 1984).

Além destes problemas, muitos outros tomam conta do Sistema Prisional Brasileiro. Não se pretende assim, esgotar estes problemas estruturais que o atingem, mas sim, confirmar que pelas razões expostas, este Sistema encontra-se falido, precisando urgentemente de reformas.

Tendo como base a atual realidade social e humana, nas mudanças pelas quais a sociedade passou até então, pesquisas realizadas por diversas instituições que fazem parte do sistema prisional e na evolução e desenvolvimento da criminologia, diversos estudos e debates tentam proporcionar um modelo ideal de política-criminal, ou seja, de diretrizes norteadoras do sistema penal. Marco Russowsky Raad (2018, sic) sustenta que

É justamente essa política criminal, fundada em valores provenientes do Estado Democrático de Direito, que dá validade às normas penais (...) Cabe a ela o papel de orientar o sistema penal no exercício de suas atribuições e legitimar sua atuação no caso concreto.

Impende aqui explicitar que a opção pela política criminal no Brasil é uma parte importante em nosso Direito Penal e como as demais leis infraconstitucionais devem observância como qualquer outro ramo jurídico, às normas e princípios constitucionais.

A Constituição Federal como a Lei suprema de nosso país submete todas as áreas do direito à estrita observância de suas normas. Assim, o Direito Penal também. Este, mesmo com sua abrangência, regras e princípios próprios, não pode de maneira alguma, divergir da norma constitucional. Pelo contrário, toda e qualquer atuação na área penal, deve pautar-se

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pelo ordenamento emanado pela Carta de 1988. Nesse sentido Eugênio Raúl Zaffaroni et. al (2003) assevera que

A Constituição é uma lei mais rígida, preservada das decisões das maiorias conjunturais da legislatura ordinária geradora das leis penais comuns, razão porque estas devem estar sempre submetidas àquela e, por conseguinte, o intérprete das leis penais deve entendê-las no âmbito constitucional, ou seja, o saber do direito penal deve estar sempre sujeito ao que o saber do direito constitucional informar.

É inegável que todas as leis infraconstitucionais devem estar em consonância com a carta magna, uma vez que no ordenamento jurídico brasileiro a Constituição encontra-se no topo e submete todas as espécies normativas as suas regras e princípios.

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1.2.1 Os mitos e a realidade do Sistema Prisional brasileiro

Falar sobre os mitos e a verdadeira realidade que envolve o Sistema penitenciário brasileiro parece ser um tema fácil, mas sabe-se que é muito complexo, pois envolve uma série de pontos, dentre eles, a violação dos direitos fundamentais dos presos, em especial à dignidade da pessoa humana.

O sistema carcerário brasileiro, com estas condições extremamente precárias que apresenta, acaba por gerar a violação dos direitos fundamentais de todos os apenados, uma vez que “[...] a violência faz parte do cotidiano e as relações de poder dentro das instituições prisionais se apresentam de formas dinâmicas, [...] afirma José Luis Bolzan de Morais ( 2010, p., 32).

A dignidade humana consagrada na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º , inciso III, assim dispõe:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

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representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (BRASIL, 21988 grifo nosso)

Desse modo, embora o texto Constitucional tenha posto a dignidade como um dos fundamentos da República, ainda se vê inúmeras violações de direitos e garantias, seja do cidadão em liberdade ou do apenado. Inclusive, não se pode deixar de registrar que o Estado, é o maior violador do princípio da dignidade, quando se estuda e analisa o sistema prisional.

As casas prisionais em nosso país se encontram atualmente dominadas pela violência e pelo desrespeito. Ao invés das regras previstas nas legislações, o que prevalece lá dentro é a “lei do mais forte”. (grifo nosso)

Os presos ao entrarem nestes locais em situação de apenados, são obrigados a obedecer as regras ditadas pelas “máfias carcerárias”. Isso faz com que os apenados, na procura pela sobrevivência nestes locais, devem se adaptar aos comportamentos impostos pelo denominado código do recluso.

Segundo Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 186):

A influência do código do recluso é tão grande que propicia aos internos mais controle sobre a comunidade penitenciária que as próprias autoridades. Os reclusos aprendem, dentro da prisão, que a adaptação às expectativas de comportamento do preso é tão importante para seu bem-estar quanto a obediência às regras de controle impostas pelas autoridades.

O código do recluso obriga os presos a uma série de regras que devem ser cumpridas por todos. Sua eventual inobservância acarreta em diversas sanções, dentre elas o isolamento, o espancamento, as violências sexuais e em determinados casos, até mesmo a morte.

A prática de abusos sexuais dentro do ambiente carcerário transformou-se algo normal nos dias atuais. Com a prática destes efetivos abusos, diversas doenças transmissíveis são disseminadas. Porém grande parte daqueles que trabalham nesses locais, ao invés de denunciarem tal situação, acabam por omiti-las ou até mesmo auxiliam sua prática em troca de valores.

Verifica-se, assim, que o que consta na Lei de Execução Penal quanto ao tratamento dispensado aos presos, apresenta uma realidade chocante, uma vez que o Estado que deveria

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ser o primeiro e o maior responsável pela observância das condições mínimas nas penitenciárias, tutelando e preservando os direitos dos presos, é o maior violador da dignidade humana e da humanidade que deveria existir no cárcere para cumprir com sua função, qual seja, a ressocialização do preso.

É indispensável ressaltar que para Alexandre de Moraes (2003, p. 60),

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Desta forma, pode-se afirmar que a dignidade da pessoa humana dá sustentação aos direitos humanos fundamentais, e nestes se incluem os direitos dos apenados, pois também são sujeito de direitos, uma vez que aos ser condenado tem, apenas seus direitos políticos suspensos, conservando os demais.

E, assim a violação da dignidade dos presos configura a (i)legitimidade da Lei de Execução Penal frente à realidade atual.

1.3 A (i)legitimidade da Lei de Execução Penal frente a realidade prisional

Os diversos problemas enfrentados pelos reclusos após adquirirem liberdade ainda são muitos. Infelizmente, vê-se que a sociedade, diante de diversos atos, se deixa levar pelo sensacionalismo e preconceito disseminados pelos diversos meios de comunicação e acaba desenvolvendo uma postura nada humana em relação àqueles que conseguem sair das prisões e procuram seguir uma vida longe de infrações.

Conforme destaca Rogério Greco (2011, p. 443):

Parece-nos que a sociedade não concorda, infelizmente, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de retornar ao normal convívio em sociedade.

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A dificuldade mais enfrentada por essas pessoas é ingressar no mercado de trabalho, tendo em vista que tem em seu currículo taxado como ex-presidiário, a maioria deles não possui nem mesmo ensino fundamental completo e nem experiência profissional, sendo praticamente impossível a contratação em algum emprego.

Esses fatores dificultam a necessária e humanitária reinserção do apenado na comunidade, auxiliando de forma direta a causa de aumento da reincidência no país que muito sofre com índices elevados de criminalidade.

Inclusive, a ressocialização do preso é um dos maiores problemas enfrentados pelo Estado, pois segundo Luiz Flávio Gomes (2018, sic):

A pena de prisão, na atualidade, longe está de cumprir sua missão (ou finalidade) ressocializadora. Aliás, não tem cumprido bem nem sequer a função inocuizadora (isolamento), visto que, com freqüência, há fugas no nosso sistema. A pena de prisão no nosso país hoje é cumprida de maneira totalmente inconstitucional (é desumana, cruel e torturante). Os presídios não apresentam sequer condições mínimas para ressocializar alguém.

Ao contrário, dessocializam, produzindo efeitos devastadores na personalidade da pessoa. Presídios superlotados, vida sub-humana etc. Essa é a realidade. Pouco ou nada é feito para se cumprir o disposto no art. 1º da LEP (implantação de condições propícias à integração social do preso).

Isso faz com que a população acredite que a punição de condutas delituosas, o encarceramento das pessoas vai trazer mais tranquilidade à sociedade. Isto é um mito! A realidade é que a esmagadora maioria dos presos após cumprir pena nos estabelecimentos prisionais acaba por voltar a delinquir. A reincidência é um dos mais graves problemas enfrentados pela sociedade pois além de desacreditar na recuperação do criminoso, a ineficiência do sistema prisional em promover a sua recuperação gera insegurança e “tapar o sol com a peneira”(grifo nosso)

Observa-se que a perda da liberdade do indivíduo por ter cometido um delito, por si só já o deixa em situação de vulnerabilidade e somada as condições de vida dentro dos presídios, precárias, e sub-humanas submetem a população carcerária a situações degradantes, tais como a superlotação, o que não assegura um mínimo de dignidade da pessoa humana, conforme preleciona a Magna Carta.

Neste sentido, Izabela Alves Drumond Fernandes e Paulo Eduardo Vieira de Oliveira (2018, p. 64, grifo dos autores) afirmam que

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As pessoas, ao serem detidas, perdem não só sua liberdade, mas também sua dignidade. Dessa forma, o sistema penitenciário deveria proporcionar condições dignas ao indivíduo que ali se encontra para que possa cumprir a pena com dignidade, fazendo com que ele tenha como retornar à sociedade ressocializado Como quase nenhum direito é absoluto, o direito de liberdade deverá ceder caso ocorra a prática de alguma infração penal. É aqui que o ius puniendi se torna claro. A Convenção contra tortura, artigo 2º, estabelece que: “cada Estado Parte tomará medidas legislativas, administrativas, judiciais ou de outra natureza com o intuito de impedir atos de tortura no território sob sua jurisdição”. Por mais que o Estado tenha o poder/dever de fazer o seu ius puniendi, este deverá ser levado a efeito, preservando-se, sempre, os direitos inerentes à pessoa que não cederam em virtude da infração penal.

Com vista à crise que se encontra o sistema penitenciário brasileiro, a pena privativa de liberdade acabou por se tornar apenas mais um meio de retirar da sociedade o indivíduo que praticou alguma forma de ato contrário ao ordenamento jurídico.

Constata-se, assim que, o respeito às garantias penais fundamentais não se confunde com a impunidade. Deve existir, todavia, uma sintonia entre coerção ao delito e respeito às garantias constitucionais e, percebe-se que há uma discrepância entre a realidade e o previsto constitucionalmente em relação aos presos.

1.3.1 Garantias penais constitucionais

É de grande valia que se busquem métodos para mudar o cenário no qual se encontra atualmente o país, afinal, o Estado tem por finalidade manter a ordem e cumprir suas leis e não pode ignorar simplesmente tudo o que tem acontecido.

A partir desta perspectiva, será feita uma análise de possíveis alternativas que devem ser seguidas para que o sistema penitenciário nacional supere essa crise atual que nos envolve e ocorra a efetiva ressocialização do apenado.

Certamente que a ressocialização do preso passa necessariamente pelas garantias penais constitucionais e estão interligadas aos que prevê a Lei de Execução Penal no que diz respeito à ressocialização do apenado.

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A ressocialização, da mesma forma, passa necessariamente pela reinserção do apenado em atividades laborais e educativas, pois a atividade laborativa provoca no ser humano diversos efeitos de cunho positivo, resgatando a sua dignidade.

Conforme afirma Maurício Kuehne (2013, p. 32):

O trabalho, sem dúvida, além de outros tantos fatores apresenta um instrumento de relevante importância para o objetivo maior da Lei de Execução Penal, que é devolver a Sociedade uma pessoa em condições de ser útil. É lamentável ver e saber que estamos no campo eminentemente pragmático, haja vista que as unidades da federação não têm aproveitado o potencial da mão de obra que os cárceres disponibilizam.

O trabalho faz parte do direito social atribuído a todos os, e está devidamente previsto na Constituição Federal em seu art. 6º, in verbis:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição (BRASIL,1988, grifo nosso)

Com a finalidade de não deixar que esse direito seja abandonado dentro das prisões, a LEP em seu artigo 41, II, também elenca a atividade laboral como um direito do preso, porém, infelizmente, os estabelecimentos que fornecem vagas de trabalho aos reclusos são raros.

O trabalho prisional além de ser uma excelente forma de ressocializar, evita os efeitos corruptores do ócio, contribui para a evolução da personalidade do indivíduo, permite ao recluso obter algum dinheiro para auxiliar na sobrevivência de seus familiares e de suas necessidades, e dá ao apenado uma grande oportunidade de ganhar sua vida de maneira honesta após adquirir liberdade.

No entendimento de Adriana Bezerra Caminha de Oliveira (2007, p. 32)

A oferta de trabalho é obrigação do Estado, em relação ao presidiário vem assegurado no bojo do artigo 31 da Lei de execução penal. Além de confirmar o dever de trabalhar do preso, como manda as Regras Mínimas da ONU, refere-se as aptidões e capacidade do condenado, remetendo-se, evidentemente, às condições físicas, mentais, intelectuais e profissionais do mesmo.

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É indubitável que o trabalho do presidiário é de suma importância para a sua reintegração na sociedade, e é um direito social que faz parte do Capítulo II- Dos Direitos Sociais e constante da própria lei de execução penal em seu artigo 41, inciso III, pois não se pode deixar de lembrar que o Brasil é um pais Democrático de Direito e a realização desse ideal passa pela concretização dos direitos e deveres do preso. (OLIVEIRA, 2007)

Deve-se considerar ainda que, ao trabalhar, tem o detento uma maneira de remição de pena conforme previsto no art. 126, parágrafo 1º, inciso II, onde para cada três dias de trabalho, um será descontado.

Além de todos os benefícios que acabam sendo favoraveis ao recluso, o trabalho também é uma forma de ressarcir ao Estado o valor das despesas advindas da condenação, sendo, assim, ambos favorecidos.

Por outro lado, “O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, lerá finalidade educativa e produtiva”, consta no art. 28 da LEP, e isso provoca o bem-estar do apenado, uma vez que também, assegura a manutenção da dignidade humana pela atividade de produção.

No tocante a assistência educacional dentro das prisões a Lei de Execução Penal tratou do assunto nos artigos. 17 à 21 e no art. 41, inciso VII.

A educação nas casas prisionais tem como principal finalidade qualificar o cidadão recluso para que ele possa buscar um futuro melhor ao sair da prisão, já que o estudo é comprovadamente hoje um requisito fundamental para estar apto ao mercado de trabalho.

Todos os cidadãos, não se excluindo a população prisional são garantidos diretos e deveres fundamentais, conforme previsão expressa na Constituição Federal de 1988. Então, é responsabilidade do Estado garantir a todos, inclusive aos que ingressam no sistema penitenciário, as condições necessárias para ter acesso a educação, ou seja, “A estes condenados, devem ser proporcionadas condições para a sua integração social dentro das penitenciarias, visando a não violação de seus direitos que não foram atingidos pela sentença”, aduz Domênico De Masi (2000, p. 45).

O art. 205 da CF/88, assegura que “a educação é um direito de todos e dever do Estado e deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno

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desenvolvimento da pessoa e assim a qualificando para o trabalho”, bem como no art. 17 da LEP “assegura que a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado”, portanto, o Estado deve promover políticas públicas que possibilitem aos apenados a qualificação por meio do ensino.

Certamente que por meio da profissionalização profissional e educacional os presos estarão exercendo sua cidadania, pois sabe-se que o nível de escolaridade dos referidos é muito baixa e isso já os coloca em uma posição de desigualdade no mercado de trabalho.

A exemplo do mesmo que se dispõe ao apenado que trabalha, foi criado também a remição por estudo, prevista no art. 126, parágrafo 1º, inciso I da LEP.

Com isso, a educação prisional além de incentivar o preso a buscar novos rumos ao ser posto em liberdade, também é uma maneira de minimizar os dias que devem ser cumpridos em reclusão.

O trabalho e a educação retiram os condenados do ócio, o qual é prejudicial a todo o sistema prisional e a sociedade. Daí a importância de educar os presos e garantir uma atividade laboral para que eles saibam que ao reingressarem na sociedade poderão também voltar ao mercado de trabalho de acordo com as funções os quais tiveram oportunidade de se capacitar durante o período em que estiveram recolhidos para cumprimento da pena é o entendimento de DeMasi em sua obra o Ócio criativo (2000).

Neste sentido, pode-se afirmar que com o trabalho e educação resgata-se a cidadania do preso e sua dignidade como ser humano.

Para tanto é necessário o fomento por parte do Poder Público para atender as necessidades estruturais das casas prisionais, tais como local para que os apenados possam praticar atividades físicas, como estudar, trabalhar, e também fazer suas refeições e por fim, mas não menos importante, uma cela que atenda as características previstas na Lei de Execução Penal.

Destaca-se que a criação de políticas públicas é um fator relevante para que o Estado tenha capacidade de oferecer uma execução da pena que ofereça os objetivos da ressocialização do indivíduo.

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A falta de tais políticas públicas é um grande problema que reflete tanto fora como dentro das penitenciárias, devendo as devidas soluções serem divididas em três esferas diferentes: a estatal, a criminal e a penitenciária.

Quanto a política pública estatal, deve-se fazer necessário que o governo entenda que para minimizar o problema carcerário, se deve investir em políticas públicas direcionadas não somente à execução penal, mas também nas demais áreas, como: educação, trabalho, saúde, segurança, habitação e geração de emprego como forma de diminuir as desigualdades sociais que existem na sociedade, para que todos possam dispor de mais oportunidades e para que ao se encerrar o cumprimento da pena o apenado encontre todo o apoio na qual precisa para refazer sua vida de forma honesta ( grifo nosso)

Registra-se que certas medidas deveriam ser utilizadas por parte das políticas públicas criminais tais como: aumentar as possibilidades de alteração da pena privativa de liberdade pelas restritivas de direito ou multa, evitando assim as prisões cautelares devendo ser estas utilizadas tão somente quando preencherem os requisitos obrigatórios descritos na lei e não couber outra medida cautelar menos drástica que o cárcere, etc. Certamente isso seria um dos fatores que poderiam evitar ou amenizar a superlotação dos estabelecimentos prisionais

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2 A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

No presente capítulo, serão abordados os princípios garantidos pela Carta Magna de 1988 que se referem à dignidade da pessoa humana, com a finalidade de que, numa construção dialética e num ambiente analítico, seja possível compreender a essência do que fundamenta a Constituição relacionada aos direitos humanos. Assim, busca-se demonstrar a extrema relevância da dignidade da pessoa humana como base para a sustentação de um sistema jurídico democrático e – principalmente – como garantia inerente aos indivíduos.

No âmbito jurídico, os princípios se caracterizam como vetores que asseguram os fundamentos e alicerces de um sistema legal. Em um Estado Constitucional, afirma Miguel tedesco Wedy (2013) que os princípios adquirem o papel de verdadeira força motriz do Direito, uma vez que assentam o sistema jurídico sobre uma base consolidada. Então, os princípios são, conforme trata Norberto Bobbio (1999), normas fundamentais, nas quais se igualam às demais formas de direito positivo: os princípios gerais são normas como todas as outras.

Gomes (2011) ensina que nenhum ramo do direito pode ser estudado sem o auxílio dos princípios. Portanto, conforme o pensamento de Tucci (1986), os princípios são transformados em sustentação normativa sobre o qual assenta todo o edifício jurídico dos novos sistemas constitucionais. Guilherme Nucci (2011) pontua que os princípios constitucionais, penais e processuais penais, “devem ser assegurados no que tange o princípio maior da dignidade da pessoa humana, além de todos convergirem para o devido processo legal”.

Nessa perspectiva, o presente capítulo, em um primeiro momento, avalia o princípio da dignidade humana, análise de dados estatísticos e a prisão como pena. Na segunda parte do capítulo, pretende-se demonstrar a pena privativa de liberdade e os limites constitucionais.

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2.1 A dignidade da pessoa humana e os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988.

A dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, bem como os princípios fundamentais consagrados no Texto Constitucional são aspectos da maior relevância para os direitos humanos e a execução das garantias penais e constitucionais.

Previsto no artigo 1º, III, da CF/88, o princípio da dignidade da pessoa humana constitui um dos fundamentos, cujo principal objetivo é garantir aos indivíduos um mínimo dos direitos respeitados por parte da sociedade e pelo poder público. Acerca deste princípio, cumpre registrar a lição do jurista português José Joaquim Gomes Canotilho (2003, p. 225):

Perante as experiências históricas de aniquilação do ser humano (inquisição, escravatura, nazismo, stalinismo, polpotismo, genocídios étnicos) a dignidade da pessoa humana como base da República significa, sem transcendências ou metafísicas, o reconhecimento do homo noumenon, ou seja, do indivíduo como limite e fundamento do domínio político da República. Nesse sentido, a República é uma organização política que serve o homem, não é o homem que serve os aparelhos políticos-organizatórios.

Ingo Wolfgang Sarlet (1988) pontua que, desde a época em que predominava o pensamento clássico, há um consenso de que a dignidade humana é um valor pertencente aos indivíduos, uma vez que é irrenunciável e inalienável. Trata o autor que tal princípio é diretamente integrante e irrenunciável da condição humana que deve ser conhecida por todos, protegida e respeitada. Nessa linha de raciocínio, o autor, portanto, conclui que o princípio da dignidade da pessoa humana é

a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET, 1988, p. 62).

A pessoa humana, em sua condição natural, se destaca no meio e se diferencia do ser irracional por sua inteligência, bem como devido à possibilidade de exercer sua

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liberdade. Antônio Luís Chaves Camargo (1994, p. 27-28) assevera que as referidas características

expressam um valor e fazem do homem não mais um mero existir, pois este domínio sobre a própria vida, sua superação, é a raiz da dignidade humana. Assim, toda pessoa humana, pelo simples fato de existir, independentemente de sua situação social, traz na sua superioridade racional a dignidade de todo ser.

A dignidade é abordada por Immanuel Kant (2006) a partir da autodeterminação ética do ser humano, tendo em vista que a autonomia é o alicerce da dignidade. O ser racional tem a capacidade de autodeterminar-se e agir conforme as normas legais, segundo trata a autonomia da vontade. Essa qualidade se encontra apenas em criaturas racionais e, portanto, qualquer ser racional existe para si próprio e não como um meio para a imposição de vontades arbitrárias. Nessa mesma ótica, ensina o autor:

No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisas tem um preço, pode por-se em vez dela qualquer outra como equivalente, mas quando uma coisa está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade (KANT, 2006, p. 131).

Contribui com tal entendimento do mesmo princípio o pensamento do autor Sarlet (2004, p. 124):

Poder entender, portanto, que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui o reduto intangível de cada indivíduo e, neste sentido, um estreito entrelaçamento entre os direitos fundamentais. Salienta-se que para além da tríada vida, liberdade e igualdade, também há outros direitos fundamentais que podem ser reconduzidos e considerados como exigência ao princípio da dignidade humana.

De maneira objetiva, Michael Kloepfer (2009) esclarece que, independentemente de cor, etnia, sexo, idade ou nacionalidade, a dignidade é um valor intrínseco de todo e qualquer ser humano. Assim, é irrelevante que o titular seja consciente de sua dignidade: ela se inicia com sua existência e termina com sua morte. Dentro desse contexto, Flávia Piovesan (2004, p. 92) pontua que “é no valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido”. Se refere a autora que tal princípio é o ponto inicial e final na tarefa de interpretação normativa.

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No universo do processo penal nacional, o princípio da dignidade humana visa a garantir ao acusado – sobre o qual recai a persecução penal – o recebimento de um tratamento digno, apropriado e respeitável por parte da entidade governamental. Neste sentido, para Guilherme de Souza Nucci (2006, p. 28):

O processo penal lida com liberdades públicas, direitos indisponíveis, tutelando a dignidade da pessoa humana e outros interesses dos quais não se pode abrir mão, como a vida, a liberdade, a integridade física e moral, o patrimônio, etc.

Assim, para o autor, o processo penal deve ser analisado em conjunto com os direitos e as garantias fundamentais, considerando que estas restringem a possibilidade na qual o Estado possa praticar algum tipo de excesso contra o indivíduo. Nesse viés, sustenta Sílvio Gemaque (2006) que ocorrem as violações ao princípio da dignidade humana ao se verificarem medidas cautelares aplicadas com a finalidade de antecipar algum tipo de pena ou ainda compelir o indivíduo a cooperar com a investigação.

Explica Luiz Francisco Carvalho (2007) que, por representar um valor supremo no ordenamento jurídico, o princípio da dignidade da pessoa humana exerce influência sobre o Direito Penal e Processual Penal, de modo que todos os atos praticados nessa esfera jurídica devem estar de acordo com esse princípio, como os relacionados às sanções penais, custódias cautelares, execução penal, entre outros institutos. O mesmo autor observa que as ações dos agentes públicos e órgãos que atuam contra a criminalidade devem ser regidas pela Constituição com o intuito de preservar a dignidade humana. Este cenário de preservação do princípio analisado se concretiza, por exemplo, quando são cumpridos os requisitos legais para a aplicação da prisão cautelar no caso concreto.

Assim, o respeito ao princípio fundamental da dignidade humana da auxílio a transmutação do sistema inquisitivo para o acusatório e confere ao acusado o direito de ser julgado de forma justa.

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2.1.1 Análise de dados estatísticos: Superlotação carcerária

A população prisional brasileira tem aumentado em ritmo acelerado e suas condições continuam precárias e fora dos padrões mínimos que se exige para o atendimento de seres humanos, mesmo aqueles que cometeram delitos, pois não podem ter sua dignidade violada.

Analisando os dados informados através do Relatório do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias, o INFOPEN, divulgados pelo Ministério da Justiça, documento este que reúne os dados até dezembro de 2016, revela um crescimento do número de apenados de 161% no total desde o ano 2000.

Na verdade, constata-se com isso, que o número de presos em 2014 no Brasil alcançou 607.731 pessoas, contingente que dá ao país o quarto lugar na lista dos maiores países que prendem no mundo - perdendo apenas para Estados Unidos, China e Rússia. Nos últimos 15 anos, o Brasil foi o segundo maior país no ranking dos que mais prenderam no mundo. (INFOPEN, 2016)

O crescimento elevado no número de reclusos no Brasil é intenso, visto que o principal crescimento ocorreu em 2002, quando o País tinha 239 mil pessoas reclusas, ou seja, 60% a menos do que possui hoje. No momento, o País registra um crescimento de 7% ao ano no número de prisões e pessoas encarceradas. (INFOPEN, 2016)

É indiscutível que, não basta possuir um maior número de apenados, as precárias condições das diversas casas prisionais seguem degradantes, conforme mostra o relatório. No ano de 2014, o Brasil possuía um déficit maior de 230 mil vagas. Tal número nos permite dizer que as penitenciárias brasileiras vivem em uma condição de superlotação, com 1,6 presos por vaga. A situação é notavelmente grave em cerca de 25% das prisões, onde existem mais de dois apenados por vaga (INFOPEN, 2016).

Na tentativa de mostrar uma solução para o problema da superlotação das penitenciárias, o relatório afirma que o Estado brasileiro fez um investimento de mais de 1,1 bilhão de reais com a finalidade de ampliação do número de vagas. mas, com toda a

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intenção do estado, a medida não foi suficiente porque tratou apenas de uma face do problema. (INFOPEN, 2016)

Segundo o texto, assinado pelo diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN 2014, p 6), Renato de Vitto

[...] é preciso analisar a 'qualidade' das prisões efetuadas e o perfil das pessoas que têm sido encarceradas, para que seja possível problematizar a 'porta de entrada' e as práticas de gestão dos serviços penais, desde a baixa aplicação de medidas cautelares e de alternativas penais até a organização das diversas rotinas do cotidiano das unidades prisionais.

As sugestões do diretor-geral do DEPEN são as mesmas das políticas empregadas nos Estados Unidos, Rússia e China - os três líderes em encarceramento no mundo, que diferententemente do Brasil, vêm conseguindo diminuir a população carcerária em até 24% entre 2008 e 2016, conforme trata o relatório. (DEPEN, 2016)

A pressa do Brasil em diminuir o número de apenados se torna mais clara com as projeções do Relatório. Se o encarceramento continuar aumentando no mesmo ritmo atual, o país terá até o ano de 2022 aproximadamente 1 milhão de apenados. Em 2075, o número poderá alcançar uma em cada dez pessoas, estima o estudo. (DEPEN, 2016)

Outra informação que salta aos olhos no Relatório é o número gigante de presos provisórios, ou seja, são aqueles que aguardam em regime fechado o julgamento da Justiça. Atualmente, quatro pessoas em cada dez são presos provisórios. Além disso, a maioria não fica em penitenciárias separadas daqueles que já foram julgados e condenados culpados. Segundo o INFOPEN, apesar de 50% das unidades serem destinadas a presos provisórios, 84% delas também são ocupados por condenados.

Outro aspecto que demonstra esta realidade, é que prevalece a baixa escolaridade entre o número de apenados, o que demonstra que esta população já era vulnerável ou marginalizada antes de ocorrer as prisões. O estudo demonstra que dois terços dos detentos são negros, e metade da população prisional sequer possui o ensino fundamental incompleto. Ademais, cerca de 56% deles são jovens, entre 18 e 29 anos. (INFOPEN, 2016)

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Quanto ao tipo penal, 14% dos presos cometeram homicídio, 21% roubo e 27% tinham envolvimento com o tráfico de drogas, o que dá a exata dimensão dos problemas que o sistema penitenciário nacional enfrenta, segundo Relatório do INFOPEN (2016).

Realmente o sistema prisional a cada dia apresenta-se como uma “bomba relógio” prestes a explodir, não se podendo fechar os olhos, pois os que estão encarcerados não encontram no sistema o resguardo de seus direitos e garantias constitucionais. (grifo nosso)

Um dos maiores dos problemas enfrentados pelo sistema carcerário brasileiro, se refere à questão da superlotação, o que se percebe é um problema que não demonstra uma solução de curto prazo, o que existem são vários estudos com vistas a tentar resolver este problema, nesse sentido:

O Brasil como a maioria dos países latino-americanos, assiste imobilizado ao desenvolvimento de uma crise crônica em seu sistema penitenciário. Especialmente nesta última década, os indicadores disponíveis a respeito da vida nas prisões brasileiras demonstram de maneira inconteste um agravamento extraordinário de problemas já muito antigos como a superlotação carcerária, a escalada de violência entre os internos, as práticas de abusos, maus-tratos e torturas sobre eles, a inexistência de garantias mínimas aos condenados e o desrespeito sistemático e institucional à legislação ordinária e aos princípios dos direitos humanos. (ROLIM, 2003, p.121)

O que pode-se perceber é que o sistema carcerário brasileiro tem apresentado nítidos sinais que se encontra em grande decadência. Apesar da fatídica situação em que são encontradas as penitenciárias brasileiras nenhuma ação tem sido realizada, apenas existem especulações acerca de possíveis reformas do sistema prisional brasileiro, porém, que ao que se parece que irá perdurar ainda por muito tempo somente como meros projetos.

Conforme Sandra Carvalho (Relatório anual do centro de justiça global Direitos Humanos no Brasil, 2003, p.26) que diz:

“A Lei de Execução Penal (LEP) brasileira é elogiada em todo o mundo, e representa um dos maiores avanços jurídicos de nossa história. O grande desafio das entidades da sociedade civil que atuam nesta área, sempre foi o de reduzir a distância entre o arcabouço legal e o panorama real do sistema penitenciário.”

Referências

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