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Ecovilas: Um método de avaliação de desempenho da sustentabilidade

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Academic year: 2020

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Ecovilas: Um método de avaliação de desempenho da

sustentabilidade

Ecovillages: A method of assessing sustainability performance

Lays Britto (laysbritto1@gmail.com) Unifacs, Salvador, Bahia

Submetido em 19/04/2017

Revisado em 19/04/2017 Aprovado em 15/05/2017

O trabalho tem como objetivo geral apresentar um método de avaliação de desempenho da sustentabilidade adotado em ambientes urbanos de uma forma adaptada às ecovilas. O trabalho foi feito a partir do ponto de vista do usuário da ecovila e está restrito à dimensão ecológica da sustentabilidade. Essa avaliação tem como base o desempenho do Grau de Satisfação do usuário e Fatores críticos do Sucesso. Os dados foram obtidos através de questionários aplicados aos moradores da ecovila Terra Mirim, localizada em Simões Filho, Bahia (essa ecovila foi escolhida para estudo de caso).

Inicialmente a autora apresenta uma contextualização e conceituação das ecovilas de forma resumida, destacando alguns fatos históricos que foram relevantes para o surgimento desse tipo de iniciativa na atualidade, como o movimento rippie com sua proposta de vida alternativa, e a crise do petróleo da década de 1970, que proporcionou uma reflexão sobre o sistema econômico vigente e incentivou a busca por energias renováveis, colocando a sustentabilidade em evidência, através de discussões, conferências e movimentos sociais em diversas partes do mundo. Em 1995 surge a GEN (Rede Global de Ecovilas), instituição que reune essas iniciativas sustentáveis, proporcionando uma interatividade entre as mesmas, além de organizar e cadastrar essas experiências, compartilhando-as com a sociedade de um modo geral. Desca também o crescimento relativo do número de Ecovilas no mundo.

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Em 1995 existiam apenas nove experiências cadastradas, hoje existem mais de 15.000. A autora cita algumas experiências de maior porte como o Movimento Sarvadaya para a Paz (Sri Lanka), EcoYoff e Coluffa (Senegal), Auroville (Índia),Federação de Damanhur (Itália), Fundação Findhorn (Escócia), e algumas experiências brasileiras como o Parque Ecológico Visão do Futuro (São Paulo), Vila Céu do Mapiá (Acre), Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Goiás).

A autora apresenta o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, que é a busca do equilíbrio entre os fatores econômicos, sociais, e ambientais. Destaca a importância de eventos como a Eco92 e a criação da Agenda 21, usada como base para políticas urbanas sustentáveis. Apresenta os desafios da sustentabilidade a nível global, sendo o grande desafio a convivência entre as particularidades regionais e locais com os processos econômicos globais, e também o desafio para as cidades brasileiras que ainda possuem políticas urbanas insustentáveis. Sistema de transporte público precário, destino inadequado de resíduos, desigualdade socioespaciais cada vez maiores, são alguns dos problemas presentes em todas as metrópoles brasileiras.

Com relação à sustentabilidade em ecovilas, a autora define três dimensões: sustentabilidade ecológica, sustentabilidade social/comunitária e sustentabilidade cultural/espiritual. A ecológica está relacionada ao lugar, produção e distribuição de alimentos, esquemas de reciclagem, água e esgotos, sistema integrando de energia renovável, restauração ecológica, permacultura e bioconstrução. A social/comunitária tem a ver com saúde, economia, política, educação e comunicação. A cultural/espiritual está relacionada às atividades artísticas e celebrações.

A autora faz uma breve abordagem de percepção ambiental, incluindo conceitos de alguns autores muito estudados em Arquitetura como Kevin Lynch e Gordon Cullen. Comenta sobre como a paisagem ambiental é percebida pelas pessoas através dos sentidos (olfato, audição, visão, tato) e os impactos que essa paisagem pode ter, tanto positivamente como negativamente. Fala da relação entre paisagem natural e artificial, como grande parte das pessoas

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atualmente vivem desconectadas do meio natural, e que praticamente não existem mais locais no mundo onde não exista intervenção ou interferência do ser humano. Nesse contexto, as ecovilas aparecem como uma alternativa que apesar de oferecer um modo de vida artificial, é integrado ao meio ambiente.

A autora explica os fatores que permitem avaliar como anda a sustentabilidade nas ecovilas e qual o grau de satisfação dos usuários. Esses fatores são diversos enquadrados nas dimensões, atributos, Grau de Satisfação Relativa e Fatores Críticos do Sucesso abordados pela autora. Estão associados à percepção dos usuários em relação ao meio ambiente, de que maneira esses usuários intervêm (quais as técnicas usadas), qual o nível de consciência e responsabilidade com a sustentabilidade ambiental, qual o nível de interação entre os usuários no meio externo e interno. Através da análise desses fatores é medido o Grau de Satisfação Relativa (GSR) e também os Fatores Críticos do Insucesso (a autora escolheu estudar os fatores do insucesso no caso das ecovilas por considerar mais útil na identificação das áreas que necessitam de intervenção).

No capítulo 3 é apresentada a ecovila escolhida para estudo. A autora comenta que escolheu três ecovilas para fazer o trabalho, sendo elas o IPEC, Parque Visão do Futuro e Fundação Terra Mirim, por essas serem consideradas por May East (brasileira membro da GEN e moradora da ecovila Findhorn) as mais estruturadas, porém as duas primeiras não aceitaram participar da pesquisa, impedindo a autora de obter resultados comparativos. A autora concentrou seu estudo na Fundação Terra Mirim. Apresenta os aspectos gerais da ecovila, comentando sobre a cidade em que está inserida (Simões Filho-BA), sobre a distribuição dos espaços encontrados no local (templos, residências, áreas de convivência), e as políticas da ecovila (trabalho com Educação Integrativa).

No capítulo 4 a autora fala do processo de construção do método de avaliação, feito através de levantamento quantitativo (observações técnicas) e qualitativo (questionário preliminar e de pesquisa) de uma forma integrada. Para o estudo a autora se limitou a sustentabilidade ecológica, associando-a aos atributos e dimensões (dimensão abrigo, acesso, ocupação e atributo

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simbólico, ambiental, humano, técnico, econômico e social). Essa avaliação foi dividida em duas partes, a primeira refere-se a dados socioeconômicos e a segunda à comunidade, à unidade residencial e à sustentabilidade ecológica. Também foram feitas perguntas para descobrir se os usuários absorveram o conceito de ecovila e os princípios de sustentabilidade, já que a Terra Mirim está cadastrada na GEN (Rede Global de Ecovilas).

O capítulo 5 mostra os resultados da pesquisa. Os questionários foram respondidos por 11 moradores (sendo 15 o total). A pesquisa indicou que a maioria está satisfeita de um modo geral com a ecovila e seus aspectos de sustentabilidade ecológica (68%). Os gráficos elaborados pela pesquisadora mostram que a maioria dos moradores são mulheres entre 26 e 45 anos (81,81%), as famílias em sua maioria são de apenas duas pessoas, as residências variam entre 50 e 100m² e quase todas são feitas de alvenaria (90,90%), o deslocamento dos moradores é feito principalmente de transporte público (54,54%). A maioria é de Salvador (63,63%) e vivem na ecovila de 5 a 10 anos (90,90%). A partir do resultado dos dados coletados a pesquisadora identificou os pontos mais fracos e mais fortes quanto à sustentabilidade da Terra Mirim.

Esses dados estão presentes na tabela do Grau de Satisfação Relativo de todas as dimensões e aspectos abordados. Pelos resultados, os aspectos sociais da comunidade são os de maior satisfação dos usuários. Não existem áreas de baixa satisfação na ecovila, apenas média e alta. Os aspectos de maior satisfação foram o atributo social, a dimensão abrigo e o atributo humano. O caráter social, comunitário e espiritual são os mais desenvolvidos na comunidade, definido, portanto sua sustentabilidade social. Os aspectos de menor satisfação foram o atributo econômico, a dimensão ocupação e o atributo técnico, correspondendo esses aos Fatores Críticos do Sucesso abordados pela pesquisadora.

Quanto à dimensão ecológica das residências e da comunidade, a pesquisadora encontrou algumas contradições. As residências segundo ela não possuem conforto ambiental e também não foram construídas com

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materiais ecológicos. Apesar disso, as respostas dos moradores foram positivas, se mostrando satisfeitos com as soluções e materiais escolhidos para a construção. A partir disso a pesquisadora faz a análise de que o conforto ambiental para os moradores talvez esteja relacionado ás questões subjetivas com relação ao viver em comunidade. Essas questões referem-se à espiritualidade e cuidado com a natureza, através de um modo de vida simples, ou seja, um bem-estar subjetivo dos moradores. A pesquisadora conta que não foi permitida a entrada dela nas residências dos condomínios, limitando sua análise aos chalés destinados aos hospedes, mas afirma que os processos adotados na construção foram os mesmos. Muitos dos resultados de satisfação obtidos na pesquisa estão relacionados ao trabalho social praticado pela Terra Mirim e seu caráter espiritual.

As questões de maior insatisfação dos usuários estão relacionadas ao fato da comunidade não conseguir produzir todo alimento necessário para seu consumo, além de não conseguir recurso financeiro a partir agricultura orgânica. Muitos moradores precisam trabalhar fora da comunidade para conseguir os recursos que garantem sua manutenção, pois apenas os recursos advindos de cursos, hospedagens e palestras. Também não estão satisfeitas com a reciclagem, pois não há um projeto concreto dentro da comunidade com relação a isso. Esses resultados demonstram que existe certa fragilidade na dimensão econômica da comunidade. Outras questões de insatisfação estão ligadas a sustentabilidade ecológica, inexistente na ecovila segundo a pesquisadora. Essas questões são tratamento de esgoto, permacultura e uso de materiais ecológicos nas edificações, reciclagem do lixo, uso de energia renovável. Então, apesar de da integração da ecovila à região, não possui sustentabilidade em todos esses aspectos. Sendo que a sustentabilidade ecológica não é uma prioridade da ecovila estudada.

Na conclusão do trabalho a pesquisadora faz algumas pontuações importantes, como o fato das edificações da comunidade estarem no mesmo nível do rio e da lagoa presente no terreno, o que pode provocar problemas com relação à qualidade de vida dos moradores. Esses fatores além de outros

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menores comentados pela autora demonstram falta de planejamento da comunidade e problemas relacionados à sustentabilidade ecológica.

A autora destaca o trabalho como uma tentativa de propor um método que possa avaliar e gerenciar a sustentabilidade em comunidades, bairros e cidades, e que contribua no processo de adaptação dos assentamentos humanos à sustentabilidade real, avaliando as potencialidades e problemas para que seja possível dar as soluções mais adequadas a cada caso. Ao analisar a sustentabilidade na ecovila Terra Mirim a autora identifica uma falta de desenvolvimento da sustentabilidade ecológica e ressalta a importância de haver uma integração entre as dimensões da sustentabilidade abordadas no trabalho (ecológica, social/comunitária, cultural espiritual), para que se consiga atingir a sustentabilidade real. A autora destaca também que esse tipo de ferramenta permite avaliar se os moradores da comunidade possuem o conhecimento dos conceitos de ecovila e sustentabilidade ecológica. No caso da Terra Mirim, alguns moradores não conheciam os conceitos propostos pela GEN. De modo geral o trabalho também busca levantar questionamentos quanto às práticas de sustentabilidade adotadas nesses assentamentos.

Referências

Bissolotti, P. M. A. Ecovilas: Um método de avaliação de desempenho da sustentabilidade. Florianópolis, Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.

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