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Gerenciamento de Resíduos Sólidos Madeireiros: Estudo em Empresas Madeireiras no Município de Buri – SP / Timber Solid Waste Management: Study in Timber Companies in the Municipality of Buri - SP

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 10, p. 78118-78146 oct. 2020. ISSN 2525-8761

Gerenciamento de Resíduos Sólidos Madeireiros: Estudo em Empresas

Madeireiras no Município de Buri – SP

Timber Solid Waste Management: Study in Timber Companies in the

Municipality of Buri - SP

DOI:10.34117/bjdv6n10-296

Recebimento dos originais:01/10/2020 Aceitação para publicação:14/10/2020

Matheus Soares Vasconcellos

Discente do Curso de Administração – Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CCN-LS E-mail: mvasconcellos@estudante.ufscar.br

Edenis Cesar de Oliveira

Doutor em Administração. Docente na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CCN-LS Rua Serafim Libaneo, 04 – CP 64 – Centro – 18245-000 – Campina do Monte Alegre – SP.

E-mail: edeniscesar@ufscar.br

RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar o processo de gestão dos resíduos sólidos madeireiros em duas serrarias que atuam no processo de transformação mecânica de madeira no município de Buri, estado de São Paulo. A pesquisa de cunho qualitativo, caráter exploratório-descritivo e abordagem de estudo de caso foi dividida em duas etapas. Na primeira etapa, procedeu-se pesquisa bibliográfica para subsidiar o referencial teórico e a elaboração dos instrumentos de coleta. Na segunda etapa foram realizadas visitas nas empresas utilizando-se da entrevista semiestruturada, pesquisa documental, corroboradas pela observação sistemática. Exceto em pontos específicos, os resultados se mostraram bastante parecidos em ambas as empresas, caracterizadas pela ausência de um sistema de gerenciamento de resíduos madeireiros, baixo aproveitamento dos resíduos como subprodutos, falta de qualificação da mão de obra especializada e direção do negócio realizada de forma bastante rudimentar. A pesquisa aponta minimamente pontos críticos a serem observados com mais acuidade pelos gestores e tomadores de decisão. Contribui com a ciência da gestão de forma geral e, em especial, com os aspectos do gerenciamento dos resíduos sólidos do setor madeireiro em empresas de pequeno porte (serrarias).

Palavras-Chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais, Gerenciamento de Resíduos

Sólidos Madeireiros, Setor Madeireiro, Transformação Mecânica da Madeira, Município de Buri-SP.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the solid wood waste management process in two sawmills that operate in the mechanical wood transformation process in the municipality of Buri, state of São Paulo. The qualitative research, exploratory-descriptive character and case study approach was divided into two stages. In the first stage, bibliographic research was carried out to support the theoretical framework and the preparation of collection instruments. In the second stage, visits were made to the companies using semi-structured interviews, documentary research, corroborated by systematic observation. Except for specific points, the results showed to be quite similar in both companies, characterized by the absence of a wood waste management system, low use of waste as by-products, lack of

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qualification of specialized labor and direction of the business carried out in a quite rudimentary. The survey minimally points out critical points to be more accurately observed by managers and decision makers. It contributes to the science of management in general and, in particular, to the aspects of solid waste management in the timber sector in small companies (sawmills).

Keywords: Industrial Solid Waste Management, Solid Wood Waste Management, Wood sector,

Mechanical Transformation of Wood, Municipality of Buri-SP.

1 INTRODUÇÃO

De maneira geral, uma floresta consiste numa grande área dominada por árvores. Centenas de outras definições de floresta são usadas em todo o mundo, incorporando fatores como densidade das árvores, altura das árvores, uso da terra, situação legal e função ecológica (MAPLESDEN e JOHNSON, 2016). A madeira tem sido comumente usada como material de construção por centenas de anos, muito utilizado na construção de casas, incluindo forros, pisos, paredes e telhados (BABATUNDE et al., 2020). No Brasil, estudos apontam elevado nível de industrialização na construção de moradias a partir dessa matéria-prima (ARAUJO et al, 2020).

A indústria madeireira é um dos setores mais importantes em termos mundiais destacando-se por destacando-ser um destacando-setor da economia brasileira com grande repredestacando-sentatividade, haja vista a geração de renda, tributos, divisas, empregos (NUNES et al., 2012). Não obstante, é também fonte de passivo ambiental (VIDOR et al., 2010).

A demanda por madeira serrada tem crescido significativamente tanto no Brasil como em várias partes do mundo, com destaque para as economias em desenvolvimento, o que, consequentemente tem aumentado as pressões ambientais em regiões ricas em recursos, como os trópicos (RICE, 2007; YU et al., 2013). O setor da construção civil, um dos principais players econômicos mundiais (LYIANAGE et al., 2019), visto como um indicador de recuperação da economia, tem se caracterizado como a indústria que mais utiliza recursos e gera mais resíduos do que qualquer outro setor industrial (ROSE e STEGEMANN, 2018).

Não obstante, os impactos gerados pela demanda de matéria-prima, tem-se a elevada geração de resíduos oriundos do processo de transformação mecânica da madeira bruta. Dados da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) apontam que em 2018, o setor gerou 52,0 milhões de toneladas de resíduos sólidos, sendo que, desse total, 36,9 milhões (70,9%) foram gerados pelas atividades florestais e 15,1 milhões (29,1%) pelas operações industriais (IBA, 2019).

Quase três quartos dos resíduos são gerados nas atividades florestais, possivelmente em função das perdas do processo de desdobro da tora de madeira que podem variar entre 50 e 65% (MURARA JUNIOR et al., 2013). Dada a expressividade desse percentual torna-se premente o uso

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de técnicas mais adequadas de coleta, disposição temporária e disposição final da matéria-prima (CERQUEIRA et al., 2012; NAIME et al., 2004).

Sabe-se que, quando dispostos de forma inadequada esses resíduos podem se tornar uma ameaça ao meio ambiente. Esse material, no entanto, transforma-se em alternativa para incrementar as receitas das indústrias de transformação mecânica da madeira. E ainda, seu aproveitamento auxilia na racionalização dos recursos florestais, contribuindo como uma alternativa socioeconômica a empresa, além de auxiliar ambientalmente no gerenciamento dos resíduos sólidos industriais (CERQUEIRA et al., 2012).

Ademais, o arcabouço legal somado à mudança de comportamento do consumidor, marcado por características mais exigentes com relação ao meio ambiente, tem demandado uma mudança na postura das empresas com relação à sua imagem social (COUTO e PEREIRA, 2018).

Assim, o problema de pesquisa que norteará esse estudo define-se da seguinte maneira: Como é feita a gestão dos resíduos sólidos gerados pelas empresas de transformação mecânica da madeira no município de Buri - SP?

Desse modo, este estudo tem como objetivo analisar o processo de gestão dos resíduos sólidos gerados por duas serrarias que atuam no processo de transformação mecânica de madeira no município de Buri, estado de São Paulo.

O texto encontra-se estruturado da seguinte forma. Além desta breve introdução, a seção seguinte apresentará uma revisão de literatura minimamente necessária à discussão dos dados coletados em campo. Seguidamente, apresentar-se-á o percurso metodológico do estudo. Na seção seguinte, a apresentação dos dados e discussão, procedida das considerações finais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS

Em que pese o debate sobre o processo da “desindustrialização” (ROWTHORN e RAMASWANY, 1999), fato é que o crescimento industrial tem sido uma constante, em especial nas economias emergentes, a fim de atender a demanda por bens e serviços, concomitante ao crescimento da população urbana. Consequentemente, tem-se um aumento de impactos no meio, decorrentes da necessidade de suprimentos (insumos e matéria-prima) e do volume de resíduos/efluentes originários do processo fabril.

Song et al. (2013) afirmam que nas últimas duas décadas, a economia global – particularmente em alguns países em desenvolvimento – passou por uma tremenda expansão que teve implicações significativas para a crescente geração de resíduos sólidos industriais.

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No entanto, as consequências negativas da enorme geração de resíduos industriais sobre o meio ambiente e os recursos naturais não podem ser ignoradas (MOHAN DAS GANDHI et al., 2006; MALLAK et al., 2016).

Resíduos industriais é um termo genérico utilizado para designar todos os resíduos oriundos de operações industriais ou derivados de processos de fabricação. Compreendem resíduos de alimentos, cinzas, rejeitos, lodo, resíduos de demolição e construção civil, resíduos especiais e resíduos perigosos (TCHOBANOGLOUS et al., 1994; LIU et al., 2016). Mais amplamente, representam sobras de materiais que de alguma forma se tornam indesejados (ITHNIN, 2016).

Cai et al. (2018) apontam que resíduos sólidos industriais são inerentes à produção industrial, como resíduos de mineração, rejeitos de minério, resíduos de combustível, fundição e processos químicos, entre outros. Em suma, resíduos sólidos industriais referem-se a todos os resíduos sólidos derivados de processos industriais.

Desde o início da década de 1990, as práticas de gestão de resíduos têm ganhado significativa atenção como questões complexas (KHAN e FAISAL, 2008), nas quais vários objetivos contraditórios deveriam ser otimizados simultaneamente. Em outras palavras, escolher a opção certa para o descarte de resíduos tem sido uma questão estratégica (VEGO et al., 2008; NOURI et al., 2016).

A gestão de resíduos sólidos é definida como uma combinação do método de produção, armazenamento, coleta, transferência, transporte, processamento e descarte desses resíduos, considerando os aspectos sanitários, econômicos, de engenharia, estéticos e ambientais (AFRIZAL, 2016).

O Conselho Nacional de Meio Ambiente, por meio da Resolução CONAMA nº 313, de 29 de outubro de 2002, em seu Art. 2º define resíduo sólido industrial como “todo resíduo que resulte de atividades industriais e que se encontre nos estados sólido, semissólido, gasoso – quando contido, e líquido – cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d`água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.

Os resíduos sólidos são classificados como perigosos e não perigosos, esse último subdividido em inerte e não inerte. Os dejetos entendidos como perigosos são resíduos ou misturas de resíduos que tem algum aspecto inflamável, corrosivo, tóxico ou de patogenicidade, o qual a riscos para a saúde pública, que auxiliam ou resultam na mortalidade ou ocorrência de doenças e propicia efeitos danosos para o meio ambiente quando manuseado de maneira inadequada. Os resíduos não perigosos e inertes são aqueles que quando introduzidos em testes de solubilidade “não

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possuem nenhum constituinte solubilizado a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água”; e os não-inertes são resíduos que não se configuram como perigosos e inertes, tendo como propriedade a combustibilidade, solubilidade em água e biodegradabilidade (ABNT, 2004).

2.2 PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO MECÂNICA DA MADEIRA

Em geral, as serrarias no Brasil são indústrias isoladas, com pequeno capital e manejo inadequado, além de empregarem equipamentos em mau estado de conservação e obsoletos. O estado de conservação dos equipamentos faz com que algumas serrarias sejam mais produtivas, ao passo que outras são ineficientes e antieconômicas, e geram uma grande quantidade de subprodutos (VITAL, 2008).

O Pinus – um dos produtos florestais mais utilizados no Brasil pela indústria de madeira processada mecanicamente (MANHIÇA et al., 2013) – e o Eucalipto constituem os gêneros de madeira mais amplamente cultivados nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Caracterizados pelo crescimento rápido e de curta rotação, compreendem a matéria-prima básica de várias indústrias, como papel e celulose, carvão vegetal, serrarias e outras (SANTOS et al., 2004). A indústria madeireira tem buscado múltiplas utilizações para sua produção, procurando melhorar a lucratividade (VIEIRA et al., 2010).

Existem vários processos que ocorrem em uma serraria: seleção de toras, serragem, secagem, aplainamento e classificação (acabamento). A matéria-prima nas serrarias são as toras transportadas da floresta após o corte das árvores derrubadas (ZANJANI et al., 2010).

Maturana et al. (2010) afirmam que os principais processos de conversão das toras em produtos acabados compreendem o recebimento das toras extraídas da floresta, o descascamento, medição e armazenamento (ainda em formato de toras), como estoque de matéria-prima. Do pátio de toras passam pelo processo de serração primária, que gera um conjunto de tábuas ásperas, ou lascas, determinadas por um determinado padrão de corte (ZANJANI et al., 2010). A maioria das pranchas também passam por um processo de afiação e aparagem para converter as lascas em pranchas acabadas.

O processo de transformação de uma tora de madeira de seção circular em peças de seções retangulares e quadradas é chamado sistema de desdobro. De acordo com Murara Junior et at. (2013), existem vários sistemas de desdobro que podem ser adaptados às mais diversas necessidades, variedades de espécies e formas das toras.

Os métodos de desdobro das toras, via de regra, ocorre de duas maneiras: desdobro convencional e desdobro programado. Denomina-se desdobro convencional a metodologia que

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utiliza, na maior parte das vezes, o sistema de corte tangencial em sanduíche, o qual consiste em ‘fatiar’ a tora, a fim de obter o maior número possível de peças. O sistema de desdobro programado utiliza-se de um sistema de corte previamente estudado, objetivando o máximo aproveitamento da tora (LEITE, 1994).

Gatto (2002) conceitua desdobro como uma etapa inicial do processo de transformação mecânica da madeira, consistindo essa num conjunto de procedimentos que convertem a tora de madeira em peças de tamanhos menores. De acordo com o autor, esse processo é subdividido em desdobro primário e secundário.

O desdobro primário é efetuado por serras principais, equipamentos de grandes dimensões que requerem maior consumo de energia para seu funcionamento. A redução das dimensões de toras, diminuição da altura de corte e a facilitação do trabalho de equipamentos menores em processos secundários são funções das serras principais, onde as toras são desdobradas longitudinal e transversalmente (ROCHA, 2007). O mesmo autor expressa que as máquinas e equipamentos utilizado no desdobro são serras de quadro; serras circulares, serra de fita e carro porta-tora.

O processo secundário de desdobro corresponde às atividades realizadas posteriormente ao desdobro principal, visando reduzir o tamanho ou definir a dimensão final das peças. O maquinário utilizado nesse processo são serras circulares, serras alternativas e serras de fita. A resserragem, operação secundária, consiste na diminuição da espessura das peças obtidas no desdobro principal; as serras que compõe o procedimento são: circulares simples ou múltiplas, serras de fita, e serras alternativas verticais. Por fim, o destopo, tem por objetivo regularizar o comprimento final, extinguindo defeitos das extremidades das peças por meio exclusivamente das serras circulares (SILVA et al., 2013).

Helling et al. (2006) ressaltam que o sistema de desdobro sofre significativa influência do operador da máquina primária, uma vez que é ele quem define a melhor maneira de se desdobrar uma tora. Desse modo, elevadas perdas de matéria-prima podem ocorrer, devido à ausência de tecnologias apropriadas para o desdobro da tora (MURARA JUNIOR et al, 2005).

Murara Junior et al. (2013) complementa que nas serrarias com projetos convencionais, a triagem das toras, no tocante a como elas serão processadas, depende da experiência dos operadores. Estudos têm demonstrado a influência que o treinamento, capacitação e efetiva qualificação tem nos quesitos de produtividade, sobretudo quanto à maximização do aproveitamento da matéria-prima, subutilização de recursos e consequente aumento de desperdício (KIURU, 2009; MANHIÇA et al., 2013; CALDERA e AMARASEKERA, 2015).

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Fatores como o posicionamento e comprimento das toras, diâmetro da madeira, número de cortes e dimensionamento dos blocos e pranchas, visando à obtenção de produtos mais adequados e à eliminação dos defeitos das toras, além da combinação entre dois ou mais fatores, afetam diretamente o rendimento do processo de corte, os produtos obtidos e, consequentemente, os custos de produção e receitas geradas (LIN et al., 2011).

Batista et al. (2013) ao desenvolverem estudos em serrarias na região sul do estado do Espírito Santo constataram que o desdobro de toras é realizado com pouco planejamento e com base na experiência dos operadores, resultando em baixo desempenho operacional e produtos de baixa qualidade. Estas características restringem o mercado das serrarias, que conseguem atender apenas a uma gama de produtos de baixo valor agregado, o que limita o sucesso econômico dos empreendimentos.

Nesse panorama, Heinrich (2010) assevera que a busca por avanços na eficiência e na produtividade, na redução de custos e no controle da produção tornou-se essencial para o desenvolvimento e o sucesso das empresas. As serrarias de grande porte, dado seus níveis de automação e mecanização, nas quais as atividades da produção são comandadas eletronicamente com poucos operários, operam com elevada eficiência, minimização de resíduos e alto nível de aproveitamento dos subprodutos. Por outra lado, as serrarias de pequeno e médio portes, nas quais o grau de automação é baixo ou inexistente, a eficiência é importante para a tomada de decisões e para o planejamento da organização produtiva (LATORRACA, 2004).

As serrarias – principais representantes da indústria de transformação primária – no contexto do setor de base florestal, em geral, apresentam baixo rendimento e geram grande quantidade de resíduos no processo produtivo (BARBOSA et al., 2014).

Dessa forma, a relação entre baixa eficiência produtiva e geração de resíduos é bastante significativa (GAVA, 2005), considerando, também, as cascas que se soltam das toras durante sua movimentação no interior da serraria, mais precisamente entre o pátio de toras brutas e a entrada para o processo de desdobro. Wiecheteck (2009) postula que são resíduos gerados desde o transporte da madeira em tora à indústria, até seu manuseio e processamento. Esse é o assunto a ser tratado no próximo tópico.

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS DA INDÚSTRIA MADEIREIRA

No Brasil, a madeira de reflorestamento – especialmente, Eucalipto e Pinus – constitui a principal fonte de matéria-prima da indústria madeireira. A prática do efetivo aproveitamento dos resíduos florestais, em escala industrial, ainda é incipiente no Brasil. No entanto, o setor madeireiro

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apresenta elevado potencial para aproveitamento dos subprodutos, considerando que é caracterizado pelo alto índice de desperdício na cadeia de produção (BONDUELLE et al., 2002). De forma genérica, a Indústria Brasileira de Árvores afirma que a maior parte do resíduo é reutilizada e o restante segue para a destinação correta, dentro dos critérios legais (IBÁ, 2019).

Resíduos sólidos madeireiros podem ser entendidos como o material advindo da lenha, que por causa de restrições tecnológicas ou do mercado, acaba sendo inutilizado nas operações de colheita florestal ou na transformação da madeira em produtos acabados ou no fim da sua vida útil (LOPES, 2016).

Segundo Fontes (1994), consoante às suas características morfológicas, os resíduos dessas indústrias são classificados como: cavacos – partículas com dimensões máximas de 50 x 20 mm, em geral provenientes do uso de picadores; maravalhas (cepilho) – resíduo com menos de 2,5 mm, gerado pela operação das plainas; serragem – partículas de madeira com dimensões entre 0,5 e 2,5 mm, provenientes do uso de serras; pó – resíduos menores que 0,5 mm; lenha – resíduos de maiores dimensões, compostos por costaneiras, aparas, refilos, resíduo de topo de tora, restos de lâminas.

Como visto, resíduos industriais florestais são os subprodutos decorrentes dos desdobros primário e secundário, como também da utilização da madeira. Assim, são considerados resíduos, a casca, as pontas, as aparas, as lascas, o pó de serra e as maravalhas (NUMAZAWA et al., 2003; MELO et al., 2012). Os resíduos mais comumente encontrados na literatura são a casca, o pó de serra e o cavaco. A Figura 1 apresenta as imagens desses três resíduos mais comuns evidenciados nas serrarias estudadas.

Figura 1. Imagens dos resíduos mais comuns encontrados na literatura e estudados nas duas empresas

Casca Pó de Serra Cavaco

Fonte: Acervo próprio.

Uliana (2005) afirma que os resíduos madeireiros são caracterizados como não perigosos, não inertes, com a possibilidade de ser biodegradável, fonte de energia ou solúvel em água. Aqueles, oriundos do processamento mecânico da madeira, podem ser: a costaneira, pó, serragem, maravalha,

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cavaco, tocos, pontas e aparas; podendo estar contaminados ou não em consequência de produtos químicos para o tratamento da madeira, cola, tinta e verniz.

Quanto à atividade geradora, os resíduos sólidos da madeira podem ser classificados em resíduos da colheita florestal; resíduos de poda ou capina; e, resíduos industriais do processamento primário e secundários da madeira. Os resíduos das indústrias florestais são as sobras decorrentes do processo mecânico, físico ou químico que não são incluídos no produto final (BARRETTO, 2008).

Estudos evidenciam que, para obtenção de seus produtos, as indústrias do setor madeireiro normalmente geram resíduos que podem ter diferentes modalidades de destinos, sendo a reutilização no ciclo de produção uma das disposições mais econômicas e ecologicamente corretas (GALBIATTI et al., 2007; SANTOS et al., 2013; TOLEDO et al., 2015). Cascas das toras como matéria-prima para produção de adubo orgânico, compostagem, revestimento de jardins e vasos decorativos; cavacos para geração de energia na indústria cerâmica; pó de serra como “cama de forração” em aviários, entre outros (SILVA et al., 2017).

No Zimbábue, país da África do Sul, os cavacos são utilizados para geração de calor em fornos. A casca, utilizada como adubo orgânico em lavouras e floriculturas, enquanto que a serragem (pó de serra) que apresenta maior volume, é usada como forração de aviário (CHARIS et al., 2019). Akutagawa et al. (2020) empreenderam estudos de viabilidade de uso do pó de serra adicionando palha de trigo para produção de painéis a partir da combinação desses resíduos, tendo obtido resultados preliminares satisfatórios.

A quantidade de resíduos gerados no ano de 2018 foi de 52,2 milhões de toneladas, incluindo as atividades florestais e industriais. Aquelas foram responsáveis por 36,9 milhões de toneladas (70,9%), em contrapartida, estas geraram o equivalente a 15,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos (29,1%) (IBÁ, 2019).

Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (2019), o setor de beneficiamento da madeira designa 63,2% dos seus resíduos para a geração de energia através da queima. Mais 29,4% dos resíduos industriais são reutilizados como matéria-prima por empresas do setor. Outros 7,4% se dividem em: lama de cal, cinza de caldeira (são reutilizados para cimento e óleo combustível reciclado) e compostos químicos.

Nos Estados Unidos da América, Falk e McKeever (2012) apuraram que dos 70,6 milhões de toneladas de resíduos de madeira urbana gerados no ano de 2010 – incluindo resíduos sólidos urbanos e resíduos de construção e demolição – os resíduos das fábricas de processamento primário

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de madeira (serrarias) não estavam incluídos, uma vez que, essencialmente, todos eram recuperados de alguma forma.

Evidentemente, isso mostra a eficiência da indústria americana no sentido de transformar os rejeitos do processo fabril em subprodutos com valor agregado. Ademais, o uso adequado de tecnologia e inovação permite que a indústria madeireira fomente uma cadeia com seus subprodutos. Corrobora com isso a asserção de Pierre (2010, p. 6) para quem “a incorporação de resíduos industriais madeireiros no processo produtivo, demanda alterações de ordem tecnológica, organizacional e gerencial para racionalizar o uso dos recursos madeireiros”.

Malgrado, esse fato parece não ser o cenário que prevalece em outras localidades. Estudo realizado em serrarias na Austrália, demonstraram quantidade significativa de resíduos enviados para aterros ou incinerados (SETUNGE et al., 2009).

Via de regra, na indústria madeireira nacional, sobretudo nas pequenas empresas de transformação mecânica da madeira – as serrarias – predomina um modelo de produção que se fundamenta no princípio da inesgotabilidade dos recursos e ausência de periculosidade dos seus resíduos. A preocupação com o rendimento da produção, com o uso ou durabilidade dos produtos, com a origem da matéria-prima, com o uso de substâncias tóxicas, bem como com a disposição final dos resíduos ainda é incipiente (NOLASCO e ULIANA, 2014).

Na atividade florestal, 98,0% dos resíduos sólidos, principalmente cascas, galhos e folhas, são mantidos no campo para proteção e fertilização do solo. Os demais 2,0%, entre óleos, graxas e embalagens de agroquímicos, são encaminhados para destinação final.

A Tabela 1 apresenta os tipos de resíduos gerados nas atividades florestal e industrial, quantidade e destinação final, segundo relatório da Indústria Brasileira de Árvores (2019).

Tabela 1. Resíduos gerados por atividades, tipos e destinação final.

Atividade Item Milhões t % Destinação Final

Florestal

Cascas, galhos e folhas 36,11 98,0 Mantidos no campo. Serve de proteção e adubação do solo

Óleos, graxas e embalagens

de agroquímicos 0,74 2,0

Segue para destinação final atendendo aos critérios legais

Subtotal 36,85 100,0

Industrial

Cavacos, serragem e licor

preto 9,72 63,2

Utilizado na queima de caldeiras para geração de energia

Cavacos, serragem e aparas

de papel 4,52 29,4

Reutilizados como matéria-prima por empresas do setor de reflorestamento

Lama de cal e cinzas de

caldeiras 0,70 4,6

Reutilizados como matéria-prima por outros setores industriais

Compostos químicos e

outros 0,43 2,8

Encaminhados para aterros industriais conforme legislação vigente

Subtotal 15,37 100,0

Total 52,22 100,0

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Cerqueira et al. (2012) afirmam que a maior parte dos resíduos da cadeia produtiva madeireira é gerada no processamento primário, embora a fração percentual que representa os resíduos varie em função de determinados fatores, como o tipo de processo, as máquinas utilizadas e as dimensões e características físicas e anatômicas das toras. O tamanho das partículas da serragem vai depender do tipo de madeira, bem como do tamanho e tipo de regulagem da serra. Entre 10% e 13% do conteúdo total da tora é reduzido a serragem nas operações de fresagem, dependendo em grande parte da largura média da lâmina, espessura da madeira serrada e tecnologia do processo de serragem (AIGBOMIAN e FAN, 2013). Asamoah et al. (2020) ao estudarem madeireiras em Gana, África Ocidental, perceberam que o uso de fresadoras obsoletas provocou um aumento na geração de resíduos. Além disso, observaram que grande parte das empresas madeireiras não sabe como gerenciar os resíduos gerados (aparas de madeira, serragem, sobras etc.), ficando sem aproveitamento. Em geral, 80% das empresas produtoras de madeira responderam que têm uma ideia de gestão de resíduos de madeira, mas não têm o know-how técnico para gerir os resíduos.

Estudos realizados na Nigéria demonstraram que a serragem – pó de madeira que se origina com o processo de serragem ou fresamento (HORNBY, 2000) – tem sido armazenada em grandes proporções e, posteriormente queimadas a céu aberto causando poluição ambiental (ADEGOKE e MOHAMMED, 2002; EFFAH et al., 2015; OGUNTOKE et al., 2013; 2019; AJIBOYE et al., 2016), além de impactos negativos em corpos hídricos (ARIMORO e OSAKWE, 2006; ARIMORO et al., 2007). O impacto da disposição inadequada desses resíduos no meio ambiente afeta os ecossistemas aquáticos e terrestres (OWOYEMI et al., 2016; HAJAM et al., 2020).

Rominiyi et al. (2017) afirmam que esses resíduos poluentes podem ser um subproduto de valor para indústrias de manufatura de placas de madeira. Contudo, isso se aplica às empresas de grande porte que geram quantidades maiores de resíduos, uma vez que a demanda dessas manufaturas por matéria-prima é muito elevada.

Caldera e Amarasekera (2015) investigaram os efeitos do manejo em 21 serrarias no Sri Lanka e aferiram perdas/desperdícios de resíduos em todas elas, tendo como fatores provocadores desde o modelo de gerenciamento da empresa, parâmetros tecnológicos (tipo de maquinário empregado nas operações), manutenção dos equipamentos, experiência do operário, além dos tamanhos das toras serradas.

A pesquisa de Hossain e Poon (2018), em Hong Kong, demonstrou a viabilidade de reaproveitamentos dos resíduos de madeira em três cenários distintos em detrimento da estratégia de disposição em aterros. A investigação de Ogunbode et al. (2013) em oito serrarias na cidade de Minna, no estado de Níger, na Nigéria, revelou que os resíduos gerados por essas serrarias consistem

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em serragem, aparas de madeira e cascas de toras de madeira, eliminados principalmente por meio de lixões, queima a céu aberto, uso doméstico, cama para aves e para aterro, muito embora ou autores relatem que a maioria das serrarias esteja ciente das diretrizes e regulamentações que regem o tratamento e a eliminação de resíduos da serraria, mesmo assim elas não as seguem.

Em estudo desenvolvido na Malásia, Adhikari e Ozarska (2018) analisaram os impactos causados pelas serrarias que vão desde o processo de serragem da madeira (descasque e corte das toras) em tábuas, até o envolvimento de maquinário pesado em todo o processo com impactos na qualidade do solo, da água e do ar.

Brand et al. (2002) postulam que conhecer detalhadamente os processos produtivos, sobretudo quanto à caracterização do rendimento produtivo das serrarias, dos fatores geradores de resíduos, do volume e tipos de resíduos existentes, da sazonalidade, além dos possíveis usos que podem ser dados a esse material, é condição indispensável a solução dos problemas de gerenciamento dos resíduos.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa classifica-se como qualitativa (MORSE, 1994; DENZIN e LINCOLN, 2008; SILVERMAN, 2016), de caráter exploratório-descritivo (STEBBINS, 2001; SANDELOWSKI, 2000; 2010; HUNTER et al., 2019), adotando a abordagem de estudo de caso (STAKE, 1995; BAXTER e JACK, 2008; HARDWICK, 2017).

O estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira, procedeu-se pesquisa bibliográfica, notadamente sobre os assuntos chave do estudo (REED e BAXTER, 2006; BYARD, 2009; TOMESCU, 2016). Na segunda etapa, foram realizadas as visitas de campo em duas empresas que preenchiam os requisitos mínimos exigidos para o estudo e, voluntariamente participaram da pesquisa. Essas empresas do setor madeireiro (serrarias) operam exclusivamente no processamento primário da madeira.

Como instrumentos de coleta de dados, utilizou-se da entrevista semiestruturada com os principais atores envolvidos nos níveis de gestão e operacional, pesquisa documental em planilhas das empresas, além da observação sistemática a fim de complementar e corroborar alguns dados.

A Figura 2 esboça sistematicamente a estrutura metodológica construída especificamente para esse estudo.

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Figura 2. Delineamento metodológico da pesquisa

A seguir apresentar-se-á um resumo das principais características do município de Buri, estado de São Paulo.

3.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ESTUDO – BURI - SP

O município de Buri está inserido na 16ª Região Administrativa de Itapeva, composta por 32 municípios, criada através da Lei nº 12.517, de 2 de janeiro de 2007, situado na região sudoeste do estado de São Paulo, consistindo em espaço geopolítico e econômico com administração própria. Os municípios dessa região se constituem por extensas áreas de terras que se configuram como latifúndios e propriedades agrárias de grande porte. A industrialização desenvolvida nessa localidade concentra-se em atividades específicas de transformação e beneficiamento da madeira e agronegócio, que se justificam pela disponibilidade de matérias-primas e terras (ABASCAL e BILBAO, 2010).

De acordo com informações da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/Instituto Florestal do Estado de São Paulo, o município está localizado numa região com característica de vegetação remanescente de floresta semidecidual e cerca de 60% da área recoberta com áreas reflorestadas, majoritariamente das espécies Pinus e Eucalypto (SÃO PAULO, 2020). Abascal e Bilbao (2010) consideram, também, a espécie Araucaria que, por sua formação aberta, homogênea e de fácil penetração, possibilita fácil extração de matéria-prima madeireira, constituindo na floresta mais desmatada no país.

O reflorestamento se converteu em atividade ambiental imperativa, uma vez que o município e a região em que se encontra se caracterizam factualmente pela dinâmica do extrativismo, destinando a madeira extraída a várias atividades industriais e ainda a transformações

Indústria Madeireira Processamento

Primário

Serrarias Município Buri-SP

Maxxi Pinus (MxP) ChicoTex ChEX Resíduos Sólidos Madeireiros Pesquisa Bibliográfica Pesquisa Qualitativa Exploratória Descritiva Estudo de Casos

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variadas, realizadas nas muitas serrarias existentes. A madeira extraída é utilizada pela indústria de papel e celulose, além de outros fins, como movelaria e náutica, e produção de lenha e carvão. Majoritariamente, das espécies Pinus e Araucaria, também se extrai a resina vegetal. Dos 20 principais municípios produtores de resina, 12 são paulistas, com destaque para Buri que ocupa o segundo lugar no ranking logo depois de Itapeva (primeiro) e Capão Bonito (terceiro), com 9.300, 12.500 e 5.500 toneladas de resina produzida no ano de 2018, respectivamente (IBGE, 2017; 2019).

O município de Buri possui uma Estação Experimental que, embora desprovida da devida política governamental, mas inserida e consolidada na região, compõe um cluster no que se refere aos arranjos produtivos locais e regionais na cadeia produtiva dos produtos madeireiros e não madeireiros entre os principais: fornecimento de arvores para a indústria de transformação regional e resina. Não obstante. Tem sido responsável por um considerável estoque de carbono retido nas suas formações florestais além de disponibilizar sementes melhoradas geneticamente e conhecimentos na área florestal aos produtores regionais, principalmente no que tange a implantação, manejo e exploração florestal.

Diante do exposto, justifica-se a importância do município no contexto regional, notadamente no que tange à produção de matéria-prima para a indústria madeireira e suas correlatas, bem como de outros setores, como da construção civil, moveleiro, papel e celulose, entre outros.

A Figura 3 apresenta o município de Buri no recorte geográfico do estado de São Paulo (esquerda), bem como as áreas de reflorestamento no município (área pontilhada em vermelho).

Figura 3. Mapa Florestal dos Municípios do Estado de São Paulo - Buri

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4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO

4.1 CASO A – EMPRESA MADEIREIRA MAXXIPINUS (MXP)

A Maxxi Pinus, doravante denominada como MxP, está localizada no bairro Capelinha, no município de Buri. O atual proprietário adquiriu a empresa em 2007. A empresa ocupa uma área aproximada de 24 mil m². Tem como atividade a transformação mecânica da madeira majoritariamente do tipo Pinus, das espécies taeda, eliotti e caribaea, considerando os dois estágios de desdobro – primário e secundário (ROCHA, 2007; SILVA et al., 2013) – cujo produto final principal é a tábua serrada de pinus.

Além desse conjunto de atividade principal – processamento primário – (IBÁ, 2019), a empresa atua no segmento de corte e transporte de toras (matéria-prima) direto das florestas plantadas, representando um aumento de sua lucratividade (VIEIRA et al., 2010), além de aproveitamento de equipamentos e maquinários disponíveis.

A MxP possui 44 funcionários em seu quadro geral, distribuídos em várias funções conforme mostrado na Tabela 2.

Tabela 2. Funções e respectivos ocupantes na Empresa MXP

Função Quantidade

Operador de carro porta-tora 02

Operador de refiladeira 02

Operador de desdobro 02

Operador de destopadeira 02

Ajudante geral de produção 13

Operador de munck florestal 01

Operador de empilhadeira 01

Encarregado de produção 01

Operador de caminhão (motorista) 10

Engenheiro de produção 04

Operadores de máquina florestal 05

Administrativo 01

Total 44

Ressalta-se que a nomenclatura das funções foi mantida pelo uso padrão do setor madeireiro, considerando, também, as especificidades da própria empresa. A atuação da empresa na atividade florestal (corte e transporte de toras) – “integração para trás” – demanda um número maior de operários.

A comercialização do produto final restringe-se ao interior do estado de São Paulo, atendendo, majoritariamente, o setor de construção civil, além de fábricas de paletes e de embalagens (caixas) para o setor de fruticultura. Os resíduos oriundos do processo produtivo na empresa são a casca, o pó de serra e o cavaco, conforme informado pelo entrevistado e constatado mediante observação in loco (CERQUEIRA et al., 2012).

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A quantidade gerada desses três resíduos no período de um mês no ano de 2019 estão demonstrados na Tabela 3.

Tabela 3. Quantidade gerada por tipo de resíduo na MxP

Tipo de Resíduo Quantidade (m3)

Casca 5.200,00

Pó de serra 13.645,89

Cavaco 66.454,09

Total 82.299,98

A Figura 4 apresenta esses mesmos valores de forma gráfica.

Figura 4. Quantidade (m3) por tipo de resíduo gerada na MxP em 30 dias.

Em que pese a incipiência no conhecimento da gestão de resíduos (NOLASCO e ULIANA, 2014), há evidências de certo grau de consciência por parte do diretor-proprietário da empresa ao relatar que a geração de resíduos, em suas palavras “acúmulo de rejeitos” ocorre “ao longo de todo o processo produtivo”.

A MxP utiliza somente o Pinus como matéria-prima em seu processo produtivo. Dessa forma, adquire-se a matéria-prima (toras) que é submetida ao processo de desdobro, cujo produto final serão as tábuas. Uma particularidade da empresa é que não se faz distinção entre toras mais espessas e mais finas, sendo todos os tamanhos submetidos ao processo de desdobro. Caso, durante o processo, precipuamente após o primeiro corte, o operador avaliar que a tora não resultará em condições de ser transformada em tábua, ela será direcionada para o picador. Nesse sentido, parece haver um aproveitamento melhor da capacidade instalada da empresa convergindo para um aumento

Tipos de Resíduos

Casca Pó de serra Cavaco

Q ua nt id ad e de R es íd uo s (m 3 ) 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000

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na eficiência e, consequente impacto positivo na rentabilidade, condizendo com a proposta de Latorraca (2004).

No que diz respeito ao resíduo “casca”, a empresa comercializava como subproduto. Nas palavras do entrevistado “antes nós vendíamos”. Segundo a empresa, face ao custo de uso de máquina e mão de obra (uma vez que segundo o entrevistado “tenho que tirar dois ou três funcionários da produção para fazer esse serviço, constatei que não estava compensando; então, decidi doar em troca da limpeza semanal do pátio”), deixou de comercializar e passou a doar em troca da limpeza semanal do pátio, processo realizado por um intermediário ligado a empresas do ramo de adubação orgânica. Tal achado apresenta proficiente alinhamento com os estudos de Asamoah et al. (2020) realizados nas serrarias ganenses, constatando que grande parte das empresas madeireiras não sabe como gerenciar seus resíduos. Ademais, por se encontrar espalhado pelo pátio, compactado pela movimentação das máquinas e caminhões eleva-se o índice de perda/desperdício do resíduo, resultado muito similar ao aferido por Caldera e Amarasekera (2015).Além do pátio de depósito das toras ponto de geração desse resíduo (casca), outro momento de ocorrência desse resíduo é quando a tora é adicionada à esteira, rolando até chegar ao carro porta-tora mecânico para a primeira serragem. Esse processo de rolagem da tora na esteira provoca o descascamento das peças e o acúmulo de resíduo na parte inferior da esteira, exigindo sua posterior retirada manualmente.

A Figura 5 apresenta os registros fotográficos da esteira que encaminha a madeira selecionada para o picador (a), o pátio de estoque da matéria-prima (b) onde pode ser observado tanto a quantidade de cascas retidas no solo, sendo compactadas pelas máquinas e caminhões, bem como as diferenças nas espessuras das toras, e as baias como depósito dos resíduos (c).

Figura 5. Esteira do processo inicial do picador, pátio de toras da Empresa e baias de resíduos na MaxxiPinus

Fonte: Acervo próprio.

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A disposição final dos resíduos de casca, pó de serra e cavaco é realizada em “baias” (c), separadas por paredes de alvenaria, sem cobertura, ficando, portanto, totalmente expostos às intempéries, especialmente precipitação que pode provocar a percolação de material tóxico no solo, constituindo um sério risco ambiental, situação semelhante a encontrada por Charis et al. (2019) ao estudarem as serrarias na região de Manicaland, no Zimbábue.

Considerando a complexidade da gestão desses resíduos (KHAN e FAISAL, 2008) parece que a empresa não está vendo esse processo como uma questão estratégica (VEGO et al., 2008; MOURI et al., 2016), pelo contrário, a “estratégia” está mais alinhada à conveniência do manejo.

As palavras do entrevistado, “dessa maneira para os resíduos serem direcionados aos caminhões facilita para o trator levar de um ponto ao outro” vão ao encontro do postulado por Nolasco e Uliana (2014) que afirmam ser incipiente nesse setor a preocupação com a correta destinação dos resíduos.

Por fim, o resíduo “pó de serra”, gerado pelas etapas de serragem da madeira é recolhido periodicamente e armazenado. Dado o porte da indústria (serraria de pequeno porte), o volume de produção desse resíduo é baixo, tornando-o pouco atraente para a indústria de manufatura de painéis de madeira processada (ROMINIYI et al., 2017). Contudo, toda produção de pó de serra tem sido demandada pelos aviários da própria região, servindo como cama de forração (SILVA et al., 2017). A empresa MxP não quantifica com precisão a produção de seus resíduos. Para comercialização dos dois resíduos (pó de serra e cavaco), a empresa estima em m3 a capacidade da carreta dos caminhões que retiram nos locais de disposição. A literatura tem sido consistente na asserção de que conhecer detalhadamente os processos produtivos, bem como o tipo e a quantidade de resíduos gerada é condição indispensável no gerenciamento desses subprodutos (BRAND et al., 2002). Tal condição encontra guarida nos estudos de Kiuru (2009); Manhiça et al. (2013); e Caldera e Amarasekera (2015) para os quais o investimento em capacitação e qualificação da mão de obra tem consequências diretas no uso otimizado de maquinários com consequente redução de desperdícios.

Não obstante, ainda que esse segmento seja caracterizado pelo baixo rendimento (BARBOSA et al., 2014), é imperioso que a MxP busque avançar na melhoria de sua eficiência e produtividade, na redução de custos e no controle da produção como condição crucial para a perpetuação de suas atividades (HEINRICH, 2010), sobretudo por ser uma serraria de pequeno porte, desprovida de automação (LATORRACA, 2004).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 10, p. 78118-78146 oct. 2020. ISSN 2525-8761 4.2 CASO B - EMPRESA MADEIREIRA CHICOTEX (CHTX)

A ChicoTex (ChTX), localizada no município de Buri, bairro Capelinha, iniciou suas atividades em 2007, atuando majoritariamente no processo de transformação mecânica da madeira. A madeira Pinus (Pinus ellioti, Pinus taeda e Pinus oocarpa) é a matéria-prima básica utilizada no processo produtivo.

Instalada numa gleba com 8,5 mil m2 de área total, a empresa concentra sua principal atividade na serragem de toras (desdobros de madeira), produzindo tábuas e embalagens como produtos finais. Toda produção final da empresa é escoada na própria região, atendendo especialmente, em maior grau, o setor da construção civil e, em menor grau, o setor de embalagens, que utilizará essa madeira como matéria-prima para produção de caixas de transportes para o setor de fruticultura.

O diretor-proprietário, além de exercer a função de gerente geral, dedicando maior tempo no acompanhamento da produção, também atua no setor comercial (venda de produtos finais e compra de matéria-prima e insumos). Outros 24 funcionários estão envolvidos nas mais diversas funções na empresa. A Tabela 4 apresenta os funcionários distribuídos conforme a função exercida na empresa.

Tabela 4. Funções e respectivos ocupantes na Empresa ChTX

Função Quantidade

Afiador 01

Operador de carro porta-tora 01

Operador de refiladeira 01

Operador de desdobro 02

Operador de destopadeira 02

Operador de máquinas (empilhadeira e carregadeira florestal 02

Operadores de caminhão (transporte) 07

Auxiliar de processo de banho de água seladora 04

Encarregado de produção 01

Encarregado de manutenção 01

Administrativo 01

Serviços gerais 01

Total 24

Atuando no segmento a mais de uma década, a empresa apresenta períodos de altos e baixos, sobretudo em função do desaquecimento da economia com reflexos diretos no setor da construção civil, principal demandante de seus produtos (BABATUNDE et al., 2020; ARAÚJO et al., 2020), considerando que Lyianage et al. (2019) consideram esse setor (da construção civil) como um dos importantes players do mercado.

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Diferentemente da MxP, a empresa trabalha somente com toras mais espessas, sendo, portanto, seletiva na aquisição de sua matéria-prima, o que pode ser observado na menor quantidade de resíduo (cavaco) gerado por esta em detrimento daquela.

A Figura 6 apresenta fotograficamente o padrão de espessura da tora iniciando o processo de transformação com o início da entrada no carro porta-tora mecânico (a); pátio de estocagem da matéria-prima, onde se nota a diferença no solo, com ausência de cascas (b); estocagem de cascas aguardando retirada pelo comprador (c).

Figura 6. Registros fotográficos da ChTX (tamanho toras, pátio de estocagem de matéria-prima e disposição de

resíduos (cascas).

Fonte: Acervo próprio

Os resíduos de maior expressividade na ChTX são a casca, o pó de serra e o cavaco (CHARIS et al., 2019). Embora boa parte de casca fique retida no campo, servindo como fertilização do solo (IBÁ, 2019), outra parte vem junto com a tora, sendo desprendida conforme se movimenta a peça no descarregamento no pátio de estoque de matéria-prima e entre o pátio e a entrada na serragem. Esses resultados vão ao encontro dos estudos de Ogunbode et al. (2013) em serrarias na Nigéria, porém, IBÁ (2019) não considera esse resíduo em sua classificação na atividade industrial, tratando-o somente na atividade florestal, o que não condiz com a realidade das empresas envolvidas com o estágio primário do processamento mecânico da madeira conforme apontam Uliana (2005) e Barreto (2008).

A Tabela 5 apresenta a quantidade gerada dos principais resíduos da ChTX no período de um mês do ano de 2019.

Tabela 5. Quantidade gerada por tipo de resíduo na ChTX

Tipo de Resíduo Quantidade (m3)

Casca 1.560,00

Pó de serra 14.664,00

Cavaco 28.620,00

Total 44.844,00

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A Figura 7 apresenta esses mesmos valores de resíduos gerados na ChTX graficamente.

Figura 7. Quantidade (m3) por tipo de resíduo gerada na ChTX em 30 dias.

Em seu depoimento, o entrevistado da empresa ChTX foi categórico ao afirmar que os resíduos provenientes do beneficiamento primário da tora de madeira são “basicamente a casca, o pó de serra e o cavaco”, o que encontra respaldo no postulado por Cerqueira et al. (2012). Chama a atenção o fato de que o entrevistado em nenhum momento faz referência à origem da geração do resíduo (casca) no âmbito da empresa, posição oposta à assertiva de Wiecheteck (2009).

Não obstante esse fato, a ChTX promove semanalmente a limpeza do pátio de depósito de toras, recolhendo as cascas e depositando temporariamente até ser vendida para empresas que utilizam como matéria-prima para produção de adubo orgânico. Se se considerar que a geração de resíduos é um fato nas indústrias de um modo geral e nas serrarias em particular (VITAL, 2008), observa-se uma discrepância nesse caso com o postulado por Heinrich (2010) e Rominiyi et al. (2017) para quem nas grandes empresas com uso de automação e alto nível tecnológico tende a haver um melhor aproveitamento dos resíduos. Visto de outra forma, o baixo nível de automação e investimento tecnológico, característica predominantes nas pequenas empresas do setor (serrarias), a eficiência exigida torna-se efetivamente maior (LATORRACA, 2004; CERQUEIRA et al., 2012), abarcando o melhor reaproveitamento possível dos resíduos gerados.

Diferentemente do Caso A, a ChTX é mais seletiva na aquisição da matéria-prima, adquirindo somente aquela que atende às especificidades de sua produção (toras mais grossas). Dessa forma, de acordo com o entrevistado, corroborado mediante observação sistemática, o cavaco é produzido no estágio final do processo de desdobro, quando “toda parte da madeira que não

Tipos de Resíduos

Casca Pó de serra Cavaco

Q ua nt id ad e de R esídu os ( m 3 ) 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000

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possui as dimensões necessárias para se tornar produto acabado é encaminhada para o picador” (FONTES, 1994, IBÁ, 2019).

O resíduo pó de serra é gerado ao longo de todo processo de transformação mecânica da madeira, mormente nos processos de cortes dos variados tipos de serras (serra de fita vertical simples, serra circular simples refiladeira e serra de fita de resserra) como parte dos dois estágios de desdobro, primário e secundário (NUMAZAWA et al., 2003; MELO et al., 2012).

A empresa não quantifica com precisão seus resíduos gerados. Nas palavras do entrevistado, a mensuração dos resíduos “é efetuada a partir do quanto cada veículo de transporte pode carregar em sua caçamba”, referindo-se ao tamanho padrão das caçambas dos caminhões que periodicamente retiram os resíduos. Assim, para que se pudesse estimar a quantidade, utilizou-se o método da capacidade de carga, em m3, dos modelos de caçamba utilizados no processo. Sem embargo disso, ainda que a empresa não quantifique com maior precisão seus resíduos, pode-se afirmar, consoante Barbosa et al. (2014) que a quantidade é bastante significativa.

À semelhança da MxP, há necessidade de aprofundar o conhecimento sobre seus resíduos (geração e destino), sobretudo com investimento na qualificação dos operários, tornando-os conscientes de que o aumento da eficiência operacional está intrinsicamente ligada ao aumento da rentabilidade e à redução de desperdícios (BRAND et al., 2002; KIURU, 2009; MANHIÇA et al., 2013; CALDERA e AMARASEKERA, 2015). De outro modo, a ChTX estará em condição análoga àquela apresentada por Batista et al. (2013) ao constatarem que o pouco planejamento, baixa experiência dos operários, ausência de investimento em qualificação da mão de obra, são fatores contributivos para o baixo desempenho operacional e produtos de baixa qualidade, atendendo uma gama limitada de produtos de baixo valor agregado, limitando sobremaneira o sucesso econômico do empreendimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo objetivou analisar o processo de gestão dos resíduos sólidos gerados pela indústria de transformação mecânica em empresas do segmento madeireiro instaladas no município de Buri, estado de São Paulo.

Ambas as empresas possuem pouco mais de uma década no mercado. Consideradas de pequeno porte, se assemelham muito às serrarias estudadas preponderantemente em países da África do Sul, África Ocidental, Austrália, entre outros. A MxP possui quase o dobro de funcionários se comparada à ChTX. Alude-se ao fato de que aquela, além de atuar no processamento mecânico da

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madeira, também atua no segmento de transporte da matéria-prima (atividade florestal), possuindo frota própria.

O Pinus é a madeira majoritariamente utilizada pelas empresas. Quanto à geração de resíduos, em comum, destacam-se a casca, o pó de serra e o cavaco, semelhante ao que predomina na literatura como sendo os principais resíduos gerados por essas indústrias.

A MxP faz a doação das cascas em troca da limpeza periódica do seu pátio de estoque de matéria-prima ao passo que a ChTX armazena e efetua a venda para terceiros.

De forma geral, o manejo dos resíduos nas empresas é deficiente. Não há precisão e sistematização da quantidade de resíduos gerada, além de descuido no armazenamento, gerando perdas, principalmente das cascas na MxP que, por não efetuar a venda, pouco se preocupa com a correta disposição. De forma geral, os resíduos são subaproveitados. Deve-se destacar que, o relatório da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ, 2019), ao propugnar que a maior parte dos resíduos do setor é reutilizada e a outra parte recebe a correta destinação de acordo com os critérios técnicos/legais restringe-se a empresas de grande porte, sobretudo restrita ao seu quadro de associados, não considerando empresas do porte dessas aqui estudadas.

Alude-se que investimento realizado em qualificação da mão de obra, poderia contribuir significativamente com o aumento da eficiência produtiva, mormente quanto ao melhor aproveitamento da matéria-prima, corte primário das toras com consequente redução de desperdícios e melhor aproveitamento dos resíduos gerados em todo o processo.

Em síntese, reputa-se muito pouca atenção aos resíduos, sobretudo na ausência de esforço mínimo na agregação de valor, a fim de transforma-los em subprodutos para nichos mais específicos de mercado. No geral, os resíduos são vistos como obstrução de espaço e causadores de custo de manejo. Por conseguinte, não são concebidos no escopo de um planejamento mais abrangente, com vistas ao seu melhor emprego.

Este estudo contribui com a ciência da gestão de modo geral e, em especial, com a gestão de resíduos industriais, nesse caso, madeireiro. Proporciona uma visão tanto para gerentes como tomadores de decisão na direção dessas empresas, quanto para a academia, ao chamar a atenção para um setor de forte inserção regional, responsável por empregos diretos e indiretos, formado por empresas de pequeno porte (serrarias) que precisam urgentemente melhorar sua eficiência operacional e melhorar seu fluxo de caixa.

A rigor, a adoção de uma gestão de resíduos com abrangência de toda cadeia produtiva, pode agregar valor ao produto e, consequentemente, incremento no caixa operacional da empresa.

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Nesse sentido, as empresas estarão, de fato, comprometidas com os aspectos econômico, social e ambiental – o tripé da sustentabilidade.

O fator limitador deste estudo circunscreve-se, fundamentalmente, ao número de empresas pesquisadas. Embora a região possua várias empresas de transformação mecânica da madeira, poucas foram aquelas que se dispuseram a participar do estudo, abrindo suas portas para a presença do pesquisador. Não obstante, o mesmo fator limitador, serve como desafio para uma agenda futura de novos estudos, máxime ao ampliar o número de empresas pesquisadas, o estudo de viabilidade de implantação de usina de energia elétrica a partir da queima da biomassa, além de ampliação do estudo a montante no intuito de perscrutar a geração e o gerenciamento dos resíduos nas atividades florestais.

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Figura 1. Imagens dos resíduos mais comuns encontrados na literatura e estudados nas duas empresas
Tabela 1. Resíduos gerados por atividades, tipos e destinação final.
Figura 2. Delineamento metodológico da pesquisa
Figura 3. Mapa Florestal dos Municípios do Estado de São Paulo - Buri
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