• Nenhum resultado encontrado

Psicopatologia e resiliência: um estudo com reclusos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Psicopatologia e resiliência: um estudo com reclusos"

Copied!
29
0
0

Texto

(1)

Diana Raquel Rodrigues

Psicopatologia e Resiliência:

Um Estudo com Reclusos

Universidade do Minho

Escola de Psicologia

(2)

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Área de especialização em Psicologia da Justiça

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor Rui Abrunhosa Gonçalves

Diana Raquel Rodrigues

Psicopatologia e Resiliência:

Um Estudo com Reclusos

Universidade do Minho

Escola de Psicologia

(3)
(4)

Índice Introdução ... 6 Método ... 10 Resultados ... 14 Discussão ... 19 Conclusão ... 21 Referências Bibliográficas ... 24 Índice de Tabelas Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra. ... 11

Tabela 2. Consistência Interna dos instrumentos aplicados em termos das suas dimensões. .. 15

Tabela 3. Resultados descritivos das variáveis em estudos e das suas respectivas escalas. .... 15

Tabela 4. Correlações entre as variáveis de sintomatologia psicopatológica (BSI) e a variável resiliência (ERA) ... 16

Tabela 5. Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da Reincidência ... 17

Tabela 6. Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da História de Consumo de Substâncias ... 17

Tabela 7. Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função do tratamento ao consumo de substâncias. ... 18

Tabela 8. Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da presença ou ausência de sintomatologia psicopatológica de acordo com o ISP Clínico do BSI. ... 18

Tabela 9. Resultados do teste de Kruskal-Wallis: diferenças na Resiliência em função do Estado Civil. ... 18

(5)

Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer meu orientador, o Professor Doutor Rui Abrunhosa Gonçalves, pelo profissionalismo, pelos conhecimentos transmitidos, pelas críticas e pelos conselhos partilhados.

Agradeço à Direção Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais, bem como às respectivas Direções dos Estabelecimentos Prisionais do Porto e de Paços de Ferreira, por me terem permitido a recolha de dados e por me terem facilitado o acesso aos participantes. Agradeço em especial os Serviços de Educação de cada um dos Estabelecimentos Prisionais, por me terem proporcionado um contexto de recolha adequado e terem flexibilizado a dinâmica do Estabelecimento de forma a concretizar a recolha de acordo com a minha disponibilidade.

Agradeço igualmente aos reclusos que aceitaram participar, sem os quais não teria sido possível a realização deste estudo.

(6)

Mestrado Integrado em Psicologia da Universidade do Minho

Psicopatologia e Resiliência: Um Estudo com Reclusos

Diana Raquel Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Rui Abrunhosa Gonçalves

RESUMO

O estudo da resiliência em população de ofensores não está muito desenvolvido, sendo que a investigação tem-se focado principalmente nos factores de risco associados ao crime. Este estudo pretende contribuir para a conceptualização da resiliência em populações adultas de ofensores e definir associações entre resiliência e sintomatologia psicopatológica. Mais detalhadamente, pretendeu-se analisar os níveis médios das dimensões de sintomatologia psicopatológica e de resiliência, analisar as associações entre estas variáveis, identificar diferenças nos índices de resiliência em função de alguns factores de risco e características sociodemográficas da amostra e ainda, observar as variáveis preditoras da resiliência nesta população. Participaram no presente estudo 94 reclusos, os quais preencheram um Questionário de Dados Sociodemográficos, o Brief Symptom Inventory (BSI) e a Escala de Resiliência para Adultos (ERA). Os resultados mostram que a sintomatologia psicopatológica está negativamente associada à resiliência, mas que não existem diferenças na resiliência em função da reincidência, da história de consumo de substâncias, do tratamento a substâncias, da existência clínica de perturbação emocional e do estado civil.

(7)

Mestrado Integrado em Psicologia da Universidade do Minho

Mental Illness and Resilience: A Study with Inmates

Diana Raquel Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Rui Abrunhosa Gonçalves

ABSTRACT

The study of resilience in offenders is undeveloped, and the research has focused primarily on risk factors associated with crime. This study aims to contribute to the conceptualization of resilience in adult populations of offenders and define associations between resilience and mental illness. Thus, we sought to analyze the average scores of the dimensions of psychopathological symptoms and resilience, examining the associations between these variables, to identify differences in levels of resilience in relation to socio-demographic characteristics of the sample and also observe predictors of resilience. The sample included 94 inmates, which completed a socio-demographic questionnaire, the Brief Symptom Inventory (BSI) and the Resilience Scale for Adults (RSA). The results show that the psychopathological symptoms are negatively associated with resilience, but there are no differences in resilience due to reoffending, the history of substance abuse, treatment of substance, clinical existence of emotional distress and marital status. Limitations of the current study and implications for future research are briefly addressed.

(8)

Introdução

Ao longo das últimas décadas, a investigação na avaliação e identificação em populações de ofensores dos factores de risco que contribuíssem para a explicação do compromisso com a carreira criminal e da perpetuação de comportamentos criminosos tem sido um foco central da investigação psicológica (e.g. Farrington, 1995; Loeber et al., 2001). Por outro lado foi possível identificar programas de intervenção para ofensores bem-sucedidos, especialmente dirigidos para factores de risco, de acordo com o modelo de Risco-Necessidade-Responsividade (RNR) (Andrews, Bonta & Wormith, 2006).

Mais recentemente, vários autores apontam para a necessidade de redireccionar e alargar o foco da investigação para a identificação dos contributos dos factores protectores e da relevância da sua avaliação em ofensores (Farrington, 2007; Rennie & Dolan, 2010). Se por um lado a investigação nos factores de risco poderá contribuir para fornecer um maior insight acerca do que conduz ao comportamento anti-social ou criminal, o estudo dos factores protectores tem sido identificado na literatura como essencial para compreender o bom ajustamento na sociedade de alguns ofensores, bem como a prevenção da reincidência e a dissolução da carreira criminal (Efta-Breitbach & Freeman, 2005; Fougere & Daffern, 2011; Walker, Bowen & Brown, 2013). Pensa-se que os factores protectores poderiam modificar o efeito dos factores de risco e reduzir a probabilidade de reincidência, através de efeitos compensatórios, sendo que a avaliação do risco e a elaboração de predições ficam incompletas se não se tiver em conta o impacto das variáveis protectoras (de Vogel, de Vries Robbé, de Ruiter, & Bouman, 2011).

Este novo foco na investigação em ofensores permitiu o desenvolvimento de instrumentos de avaliação de ofensores que incluíssem tanto um conjunto de factores de risco como de factores protectores, de que são exemplo o Structured Assessment of Protective Factors for Violence Risk – SAPROF (de Vogel, de Ruiter, Bouman & de Vries Robbé, 2009) e o Short-Term Assessment of Risk and Treatabilily – START (Webster, 2006). Ainda assim, o avanço da investigação no âmbito da saúde mental em contextos forenses tem evoluído relativamente pouco no que diz respeito à compreensão da gestão e prevenção dos comportamentos violentos enquanto equilíbrio das forças e potencialidades dos indivíduos ofensores (e.g. factores protectores) e das suas vulnerabilidades (e.g. factores de risco) (de Ruiter & Nicholls, 2011).

A resiliência constitui um dos factores protectores que tem obtido mais atenção na investigação recente. No entanto, a sua conceptualização permanece relativamente ambígua, nomeadamente no que diz respeito ao facto de ser considerada um factor protector per se, ou

(9)

uma característica individual que é formada por um conjunto de factores protectores que determinam a qualidade do seu efeito e da sua força. Por referência aos factores de risco e na existência de condições adversas, a resiliência pode ser enquadrada como pertencente ao polo oposto de um contínuo de risco, no qual os factores de risco estão relacionados com consequências negativas e a resiliência com resultados positivos (Efta-Breitbach & Freeman, 2005).

O conjunto das diversas definições utilizadas para o entendimento da resiliência complexifica o seu entendimento, tornando a sua conceptualização relativamente inconsistente. A resiliência tem sido estudada numa variedade de modelos, seja como traço, referindo-se a uma série de qualidades pessoais ou características individuais (e.g. auto-eficácia, perseverança, boas competências sociais e comunicacionais), seja como processo, que a considera como um conjunto de factores, internos e externos ao sujeito, que interagem entre si e que facilitam o coping face a determinadas situações, ou ainda seja como um resultado final. Assim, encontramos definições que conceptualizam a resiliência como uma competência de coping face a stressores de vida, mediada por um conjunto de factores protectores relativos ao individuo; definições que identificam a resiliência como uma forma de recuperação após uma exposição a adversidades severas e/ou prolongadas, sendo a resiliência identificada como a capacidade de “sobreviver” e de se ser bem ajustado perante a exposição a determinado trauma (Rutter, 1985); ou ainda definições que consideram a resiliência como a capacidade de ultrapassar as adversidades do ambiente apesar da elevada ocorrência de factores de risco (Masten et al., 1990, cit in Fougere & Daffern, 2011). As teorias actuais enfatizam o carácter multidimensional do construto, considerando o conjunto de factores constitucionais do individuo, como o temperamento e a personalidade; o conjunto de competências específicas adquiridas pelo individuo (e.g. competências de resolução de problemas) e ainda a existência de factores protectores externos ao individuo que enfatizam o efeito do conjunto de características internas associadas a consequências positivas no individuo (Campbell-Sills, Cohan & Stein, 2006).

Numa revisão da literatura sobre reincidência e resiliência em jovens ofensores sexuais, Efta-Breitbach e Freeman (2005) identificam como factores internos associados à resiliência 1) a existência de habilidades intelectuais e cognitivas acima da média; 2) uma elevada auto-estima e auto-eficácia; 3) auto-regulação eficaz; 4) locus de controlo interno; 5) fé, religião ou espiritualidade e, finalmente, 6) predisposições biológicas, como a boa saúde física ou um temperamento fácil. No que concerne os factores externos associados à resiliência, ou seja, condições do contexto que permitem o desenvolvimento das características individuais, os

(10)

autores identificam a influência do estatuto socioeconómico, dos relacionamentos e ambiente familiar, dos cuidadores e do estilo parental, do grupo de pares e do suporte da comunidade (Efta-Breitbach & Freeman, 2005).

Em síntese, a resiliência pode-se definir como um conjunto de fatores protetores, mecanismos e processos que contribuem para a obtenção de um bom ajustamento do individuo, apesar da ocorrência de experiências com stressores que predizem um maior risco de desenvolver psicopatologia (Hjemdal, Friborg, Stiles, Rosenvinge & Martinussen, 2006). No contexto forense e criminal, a resiliência poderá assim ser entendida como o grau com que os fatores protetores ajudam os indivíduos a evitar a exposição aos fatores de risco, recuperar da sua exposição ou reduzir os seus efeitos negativos (Viloen, Nicholls, Greaves, de Ruiter, Brink & 2011). O estudo deste construto torna-se assim especialmente útil nas populações encarceradas e nos ofensores em geral, na medida em que já se reconhece neste tipo de população uma ocorrência elevada de factores de risco, nomeadamente do abuso de substâncias e da prevalência de psicopatologia (Fraser, Gatherer, & Hayton, 2009; Hammersley, 2011), sendo que as perturbações da personalidade e perturbações de abuso de substâncias se encontram associadas a um maior risco de reincidência (O'Driscoll, Larney, Indig & Basson, 2012).

Um dos primeiros estudos sobre resiliência em ofensores (Born, Chevalier, & Humblet, 1997) visou relacionar a resiliência com a desistência da criminalidade em jovens adolescentes através da identificação de factores que pudessem prever o envolvimento criminal. Numa população de 363 indivíduos, apenas 7% foi considerada resiliente, sendo que os indivíduos resilientes apresentavam menor probabilidade de ser diagnosticados com perturbação mental e estabeleciam um melhor relacionamento com os adultos, para além de serem considerados mais maduros e menos agressivos. Apesar de apenas 20 % da amostra ser constituída por raparigas, estas representaram 67 % do grupo dos resilientes. Os autores concluíram que os factores individuais e pessoais seriam melhores preditores da resiliência, em comparação com factores externos (Born, et al., 1997).

Lodewijks, de Ruiter, Doreleijers (2010) estudaram o impacto de factores protectores na desistência do crime em 3 amostras de jovens ofensores, sendo a primeira amostra constituída por jovens antes de serem julgados; a segunda incluía indivíduos que se encontravam em tratamento institucional e a terceira era composta por jovens já libertados. O SAVRY - Structured Assessment of Violence Risk in Youth (Borum et al., 2000), que comporta indicadores de resiliência (inteligência acima da média, capacidade de resolução de problemas, adaptabilidade, capacidades de coping, autoestima elevada) foi aplicado às três

(11)

amostras. Os resultados demonstram que os rácios de reincidência são mais elevados na ausência de fatores protetores e que o efeito “amortecedor” (buffering) dos efeitos protetores são mais evidenciados em grupos de alto-risco (nas 3 amostras).

Um estudo conduzido num período de 3 anos por Viljoen et al. (2011) com uma população de pacientes do género feminino de um hospital-prisão investigou as taxas de readmissão na instituição por referência a factores de risco e factores protectores utilizando o START (Webster, 2006). Os resultados mostram que 47.9 % das mulheres que reintegraram com sucesso a sociedade possuíram significativamente mais factores protectores em comparação com as mulheres que ainda se encontravam institucionalizadas, sendo que as primeiras apresentavam mais atitudes prosociais e apresentavam uma maior aderência a medicação e a tratamento.

A resiliência, a desistência do comportamento criminal e a reintegração bem sucedida na sociedade têm sido pouco estudada em populações de ofensores adultos, sendo que a investigação se tem focado consideravelmente mais nas populações juvenis, num contexto de transição da adolescência para a idade adulta (Born et al., 1997; Efta-Breitbach & Freeman, 2005; Lodewijks et al., 2010).

Fougere e colaboradores (2012) tentaram contribuir para a clarificação da resiliência numa população de jovens adultos, definindo associações entre inteligência, factores familiares, pares, psicopatologia, uso de álcool e de drogas e personalidade anti-social com a resiliência. As análises efectuadas indicam que a ausência de psicopatologia constituía o único factor que se associava de forma significativa com a resiliência (apesar de explicar apenas 6% da variância total), sendo que o abuso de drogas/álcool e a personalidade anti-social se aproximavam de valores significativos.

Perante os dados da investigação, surge a necessidade de esclarecer o construto de resiliência em ofensores adultos, e de clarificar o contributo da psicopatologia na sua conceptualização, tal como o abuso de drogas e álcool, dado o seu contributo para as taxas de reincidência. Usando uma nova medida da resiliência (Resilience Scale for Adults – RSA, Friborg, Martinussen & Rosenvinge, 2006) e abrangendo um conjunto de indivíduos do género masculino, este estudo pretende identificar medidas de resiliência numa população de ofensores do norte de Portugal e estabelecer relações com psicopatologia.

Objetivos do estudo

Tendo em conta a revisão da literatura efetuada o presente estudo apresenta como principais objectivos:

(12)

i) Contribuir para o estudo e conceptualização da resiliência em populações adultas de ofensores;

ii) Caracterizar o fenómeno de resiliência e sintomatologia psicopatológica em ofensores recluídos;

iii) Identificar em que medida a sintomatologia psicopatológica em ofensores se associa a resiliência;

iv) Averiguar diferenças na resiliência de acordo com variáveis sociodemográficas e jurídico-penais (reincidência).

v) Analisar as variáveis associadas à resiliência.

Perante os objectivos apresentados, apresentam-se as seguintes hipóteses de investigação:

H1: A sintomatologia psicopatológica está negativamente associada à resiliência.

H2: Existem diferenças na resiliência em função da História Criminal (Reincidência) dos

participantes.

H3: Existem diferenças na resiliência em função da história do consumo de substâncias

dos participantes.

H4: Existem diferenças na resiliência em função dos indivíduos que seguem tratamento

ao consumo de substâncias.

H5: Existem diferenças na resiliência em função da presença/ausência de sintomatologia

psicopatológica clínica nos reclusos.

H6: Existem diferenças na resiliência em função do estado civil.

H7: A sintomatologia psicopatológica, a história de consumo de substâncias e tratamento,

a reincidência e o estado civil são preditores da resiliência.

Método Instrumentos

Face aos objetivos de investigação propostos, os instrumentos utilizados no âmbito deste estudo foram os seguintes:

Questionário Sociodemográfico. Este questionário apresentou como objectivo a

recolha de informação sociodemográfica sobre os participantes, em particular sobre as seguintes variáveis: idade, estado civil, habilitações académicas, número de reincidências (nenhuma, uma, duas ou mais), consumo de substâncias (álcool e/ou drogas; existência, frequência, duração de consumo).

(13)

Inventário de Sintomas Psicopatológicos ou Brief Symptom Inventory – BSI

(Derogatis, 1993; versão de investigação de Canavarro, 1999). O Brief Symptom Inventory - BSI foi desenvolvido por Derogatis (1982, 1993) e adaptado para a população portuguesa por Canavarro (1999). Este instrumento é utilizado para efetuar um screening de sintomas de psicopatologia em termos de nove dimensões (somatização, obsessão-compulsão, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade, hostilidade, ideação paranoide e psicoticismo) e três índices globais: o Índice Geral de Sintomas – IGS, que considera o número de sintomas psicopatológicos e a sua intensidade; o Índice de Sintomas Positivos – ISP, que representa uma medida de combinação da intensidade da sintomatologia com o número de sintomas presentes e o Total de Sintomas Positivos – TSP, que reflecte o número de sintomas assinalados. A pontuação obtida em cada uma das nove dimensões fornece informação sobre o tipo de sintomatologia que mais perturba o individuo, sendo que alfas de Cronbach variam de 0.62 (Psicoticismo) a 0.80 (Depressão). O BSI é um instrumento de auto-resposta constituído por 53 itens, cujas auto-respostas se apresentam sob a forma de uma escala do tipo Likert que varia desde “Nunca” (0 pontos) até “Muitíssimas vezes” (4 pontos). O participante deverá responder classificando o grau em que cada problema o afectou nos últimos 7 dias.

Escala de Resiliência para Adultos – ERA (Friborg, Barlaug, Martinussen, Rosenvinge,

& Hjemdal, 2005; Friborg, Martinussen & Rosenvinge, 2006; traduzida e adaptada para Portugal por Pereira, Cardoso, Alves, Narciso & Canavarro, 2013).

A Resilience Scale for Adults – RSA (Friborg, Martinussen & Rosenvinge, 2006) é uma

escala de auto-resposta destinada a avaliar factores protectores associados à resiliência em adultos. O participante deverá responder aos itens referenciando-se perante o último mês. É constituída por 33 itens cujas respostas se apresentam numa escala do tipo Likert que varia de 1 a 7 e cujas dimensões de avaliação são específicas a cada item. Cada item apresenta assim uma dimensão positiva e outra negativa, sendo que em metade de cada um dos itens, os atributos positivos foram colocados à direita, de forma a evitar o efeito de aquiescência (Hjemdal et al., 2006). A pontuação obtida varia entre 33 e 231, com pontuações mais elevadas a indicar maiores níveis de resiliência. A execução de uma análise fatorial confirmatória (Hjemdal et al., 2006) permitiu a identificação de 6 factores na RSA: 1) Percepção do self, que inclui itens que dizem respeito a auto-eficácia, avaliação realista e confiança nas próprias competências; 2) Futuro Planeado, que diz respeito à capacidade para realizar planos e orientar-se para objectivos definidos; 3) Competência Social, que integra

(14)

domínios correspondentes a extroversão, flexibilidade social, competências para desenvolver amizades e humor; 4) Estilo estruturado, que avalia a capacidade de manter e organizar rotinas; 5) Coesão Familiar, com itens a avaliar valores partilhados, visão optimista partilhada acerca do futuro, lealdade e apreciação mútua e 6) Recursos sociais, que inclui itens que avaliam o suporte social, a presença de pessoas significativas fora do núcleo familiar e a existência de ajuda quando necessitada.

No âmbito dos estudos realizados com a RSA, verifica-se que pontuações elevadas estão associadas a melhor saúde mental (Friborg, Hjemdal, Rosenvinge, & Martinussen, 2003) e a um coping face a acontecimentos negativos mais eficaz (Hjemdal et al., 2006).

Participantes

A amostra deste estudo é constituída por 94 indivíduos (n=94) do género masculino, provenientes de dois Estabelecimentos Prisionais Centrais do Norte de Portugal A idade dos participantes varia entre os 22 e os 66 anos, com uma média de 37.39 anos (DP=10.34). A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos que caracterizam os participantes, nomeadamente em termos do estado civil, da nacionalidade, das habilitações literárias, da caracterização jurídico-penal (história criminal e de institucionalização em meio prisional) e da história de consumo de substâncias e de tratamento às mesmas.

Tabela 1

Características sociodemográficas da amostra.

N (%) Nacionalidade Portuguesa 92 (97.9) Estrangeira 2 (2.1) Estado Civil Solteiro 49 (52.1) Casado/União de Facto 31 (33.0) Divorciado/Separado de facto 12 (12.8) Viúvo 2 (2.1) Habilitações Literárias

Não sabe ler nem escrever 1 (1.1)

4º ano 29 (30.9) 6º ano 12 (12.8) 9º ano 37 (39.4) 12º ano 11 (11.7) Curso Superior 4 (4.3) História Criminal Primário 58 (61.7)

(15)

Preso pela segunda vez 25 (26.6)

Preso mais da segunda vez 11 (11.7)

Consumo de Substâncias

Sim 80 (85.1)

Não 14 (14.9)

Tratamento ao Consumo de Substâncias

Não 80 (85.1)

Sim 14 (14.9)

Procedimento

Recolha de dados

A recolha junto dos participantes foi efetuada mediante a obtenção da autorização da DGRSP (Direção-Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais), acompanhada da obtenção do consentimento informado de cada um deles. O consentimento informado foi apresentado no momento do preenchimento dos questionários, contendo uma indicação acerca da confidencialidade e anonimato dos resultados.

Os questionários foram aplicados em grupo ou individualmente, de acordo com a disponibilidade dos participantes no momento da recolha. No caso dos questionários aplicados em grupo, existiu o cuidado de fornecer a cada um dos participantes um espaço não vigiado, respeitando-se a confidencialidade e a privacidade de cada um.

Uma vez que os instrumentos foram aplicados a todos aqueles que se disponibilizarem para os preencherem durante o tempo da recolha dos dados, o método de amostragem foi o método por conveniência (Almeida & Freire, 2003).

No processo de recolha dos participantes, foi assegurado que os participantes fossem condenados e que estivessem institucionalizados no EP havia pelo menos 6 meses, de modo a evitar que não se verifique o efeito da adaptação à prisão no quadro da sintomatologia psicopatológica que ocorre nos primeiros meses de reclusão (Gonçalves, 2008; Moreira & Gonçalves, 2010).

Estratégia de análise de dados

A análise de dados foi realizada através do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 22.

Numa primeira fase, antes de efetuar as análises relativas aos objetivos deste estudo, testámos as estruturas fatoriais dos instrumentos aplicados, através de execução de uma análise fatorial para a escala ERA e da testagem da consistência interna, através do cálculo do

(16)

alfa de Cronbach, das escalas dos instrumentos utilizados. Procedeu-se de seguida a análises descritivas (médias, desvios padrões, mínimos e máximos) referentes à caracterização da amostra e aos resultados obtidos em cada um dos questionários e respectivas dimensões.

De modo a averiguar a existência de correlação entre as variáveis em estudo, testaram-se, na presença de variáveis intervalares, os pressupostos exigidos de acordo com a Análise Exploratória de Dados (AED) (normalidade da distribuição e/ou homogeneidade das variâncias). Neste sentido, efetuaram-se testes de correlação Pearson e Spearman para testar a Hipótese 1.

A fim de averiguar diferenças e testar as hipóteses H2, H3, H4, H5 e H6, confirmou-se novamente se os pressupostos da normalidade da distribuição (Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, p>.05) e da homogeneidade das variâncias (Teste de Levene, p>.05) estavam cumpridos. Assim, procedeu-se à realização de testes paramétricos (Testes t) quando os pressupostos da AED estavam cumpridos e testes não paramétricos (Teste Kruskal Wallis) quando tal não se verificava.

Por último, procurámos compreender quais seriam as variáveis que poderiam predizer o valor da resiliência na população em estudo. Para conduzir este tipo de análise utilizámos o modelo de regressão linear múltipla (método “enter”), constatando-se a ausência de problemas nos modelos testados, através da observação de alguns indicadores de linearidade, de normalidade, homocedasticidade, multicolinearidade (Índices de Tolerância, Variance Inflaction Factor e o Condition Index), e ausência de auto-correlações (teste de Durbin-Watson).

Resultados

Propriedades psicométricas dos instrumentos

No que concerne os valores de fidelidade (“alpha” de Cronbach) apresentados na tabela 2, verifica-se que estes assumiram valores abaixo do recomendado de .70 (Pasquali, 2003) em algumas dimensões do BSI (Sensibilidade Interpessoal, α=64; Depressão, α =.65; Ansiedade fóbica, α=55, Psicoticismo, α=59). Em relação à escala ERA, uma vez que o número de sujeitos a quem foi aplicado o instrumento era insuficiente para executar uma análise factorial fiável, optou-se por utilizar o score global da escala. Neste estudo, o “alpha” do total dos itens em ambas as escalas indicam uma excelente consistência interna (α =.93 na escala BSI eα =.92 na escala ERA).

(17)

Tabela 2

Consistência Interna dos instrumentos aplicados em termos das suas dimensões.

Nome da Dimensão # de Itens Média DP Alpha

BSI Total Itens 53 .81 .92 .93

Somatização 7 .63 .65 .81 Obsessões Compulsões 6 .95 .74 .82 Sensibilidade Interpessoal 4 .90 .67 .64 Depressão 6 .95 .62 .65 Ansiedade 6 .76 .58 .75 Hostilidade 5 .81 .70 .80 Ansiedade Fóbica 5 .38 .44 .55 Ideação Paranóide 5 1.36 .78 .69 Psicoticismo 5 .85 .65 .59

ERA Total Itens 33 5.17 1.85 .92

Estatísticas Descritivas das Variáveis em Estudo

Neste tópico, observámos os valores descritivos (valores médios, mínimo, máximo e desvio padrão) das dimensões da sintomatologia psicopatológica e de resiliência, tendo por base os valores das escalas “likert” de cada instrumento (tabela 3).

Os resultados das análises descritivas demonstram que no questionário BSI, os participantes relatam as pontuações médias mais elevadas na escala Ideação Paranóide, seguidas de pontuações mais elevadas nas escalas Obsessões Compulsões e Depressão. O valor médio do IGS foi de .86 (DP=.49).

No que concerne a escala ERA, os participantes relataram um valor médio de resiliência de 167.74 (DP=33.37).

Tabela 3

Resultados descritivos das variáveis em estudos e das suas respectivas escalas.

Variável Média Mínimo Máximo DP

Somatização .63 0 3 .65 Obsessões Compulsões .95 0 4 .74 Sensibilidade Interpessoal .90 0 3 .67 Depressão .95 0 3 .62 Ansiedade .76 0 3 .58 Hostilidade .81 0 4 .70 Ansiedade Fóbica .38 0 2 .44 Ideação Paranóide 1.36 0 4 .78 Psicoticismo .85 0 3 .65 IGS .86 0 2 .49

(18)

TSP 25.94 0 49 12.62

ISP 1.74 1 3 .44

ERA Score Total 167.74 66 226 33.37

Correlações entre as Variáveis em Estudo

Nesta etapa, procedeu-se à análise das correlações entre as variáveis em estudo, recorrendo-se, para o efeito, ao cálculo dos coeficientes de correlação de Pearson e Spearman (Tabela 4).

Tabela 4

Correlações entre as variáveis de sintomatologia psicopatológica (BSI) e a variável resiliência (ERA).

ERA Score Totalb

Somatizaçãoa -,114 Obsessões Compulsõesa -,321** Sensibilidade Interpessoala -,258* Depressãob -,23* Ansiedadea -,329** Hostilidadea -,334** Ansiedade Fóbica -,216* Ideação Paranóideb -,124 Psicoticismoa -,210* IGSb -,305** TSPb -,316** ISPb -,150 *p < .05, **p < .01 a

Coeficiente de correlação de Spearman; b Coeficiente de Correlação de Pearson

Em relação às correlações entre as variáveis sintomatologia psicopatológica e resiliência, verifica-se que as correlações entre as escalas do BSI e o score total ERA encontram-se entre si negativamente associadas. Estas correlações apresentam-se de forma significativa nas dimensões Obsessões Compulsões (r=-.32, p<.01), Sensibilidade Interpessoal (r=-.25, p<.05), Depressão (r=-.23, p<.05), Ansiedade (r=-.32, p<.01), Hostilidade (r=-.33, p<.01), Ansiedade Fóbica (r=-.21, p<.05), e Psicoticismo (r=-.21, p<.05). Verifica-se igualmente que o score total da ERA está negativamente associado de forma significativa (r=-.30, p<.01), com o Índice Geral de Sintomas (IGS).

Diferenças entre as Variáveis em Estudo

Nesta parte do estudo, procurámos verificar se existiriam diferenças na resiliência (variável dependente) em função da presença de sintomatologia psicopatológica, da

(19)

reincidência, da história de consumo de substâncias, da existência de seguimento de tratamento às mesmas e do estado civil dos participantes (variáveis independentes). Antes da execução dos testes, foram efetuadas as análises exploratórias dos dados no sentido de testar os pressupostos da utilização de testes paramétricos.

No primeiro grupo de comparação, colocámos em análise a existência de diferenças na resiliência em função da história criminal (primário vs reincidente). O teste para amostras independentes (teste t; tabela 5) revelou a inexistência de diferenças significativas ao nível da resiliência.

Tabela 5

Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da Reincidência

Primário (N=58) Média (DP) Reincidente (N=25) Média (DP) t p

ERA Score Total 173.28 (33.93) 164.48 (31.77) 1,10 0.27

Do mesmo modo, os resultados do teste-t (tabela 6) revelaram a inexistência de diferenças significativas no score total da ERA em função da história de consumo de substâncias, apesar dos indivíduos com história de consumo apresentarem valores de resiliência mais reduzidos.

Tabela 6

Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da História de Consumo de Substâncias. Com História de Consumo (N=80) Média (DP) Sem História de Consumo (N=14) Média (DP) t p

ERA Score Total 166.10 (33.93) 177.14 (23.28) 1,14 0.25

No terceiro grupo de comparação, analisámos diferenças no valor médio de resiliência em função dos indivíduos que seguem algum tratamento ao consumo de substâncias (bebidas alcoólicas ou outras drogas). Os resultados do teste-t não indicaram diferenças significativas para os dois grupos em comparação (tabela 7).

(20)

Tabela 7

Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função do tratamento ao consumo de substâncias. Com Tratamento (N=14) Média (DP) Sem Tratamento (N=80) Média (DP) t p

ERA Score Total 164.93 (27.21) 169.53 (32.67) 0.49 0.41

Os resultados conduzidos pelo teste-t não revelaram diferenças significativas no que se refere às diferenças no que concerne a presença ou ausência de sintomatologia psicopatológica nos dois grupos da amostra em estudo, avaliada através do ponto de corte clínico do ISP (> 1.7) do BSI (tabela 8).

Tabela 8

Resultados do Teste-t: diferenças na Resiliência em função da presença ou ausência de sintomatologia psicopatológica de acordo com o ISP Clínico do BSI.

Com Presença (N=48) Média (DP) Sem Presença (N=45) Média (DP) t p

ERA Score Total 172.92 (30.99) 163.29 (35.02) 1,40 0.16

Neste último grupo de análise, comparámos o valor médio do score total da escala ERA de acordo com o estado civil dos participantes (tabela 9). Os resultados do teste de Kruskal-Wallis revelaram diferenças marginalmente significativas (χ2 (3) = 6.92, p =.07) nos quatro grupos de comparação.

Tabela 9

Resultados do teste de Kruskal-Wallis: diferenças na Resiliência em função do Estado Civil.

Solteiro (n=49) Ordem Média Casado ou União (n=31) Ordem Média Divorciado ou Separado (n=12) Ordem Média Viúvo (n=2) Ordem Média χ2(3) ERA Score Total 42.83 57.05 39.38 62.75 6.92

(21)

Variáveis Preditoras da Resiliência

Para estudar a influência das variáveis “Sintomatologia Psicopatológica”, “Reincidência”, “História de Consumo de Substâncias”, “Tratamento ao Consumo de Substâncias” e “Estado Civil” na variável “Resiliência”, conduziu-se uma análise de regressão linear múltipla, após verificação dos pressupostos necessários para o efeito. De modo a controlar outliers, foi necessário retirar um caso do modelo final obtido.

A análise efetuada permitiu verificar que as variáveis “Sintomatologia Psicopatológica”, “Reincidência”, “História de Consumo de Substâncias”, “Tratamento ao Consumo de Substâncias” e “Estado Civil” predizem de forma marginalmente significativa a variável “Resiliência” (F (5,75) = 1.94, p=.09), explicando 5% da variância (R2 Aj =.05). Das cinco variáveis em análise, apenas uma delas (variável “Estado Civil”) prediz de forma significativa (β =0.20; t=2.44; p<0.05) a variável dependente em estudo. A tabela 10 apresenta um resumo do modelo resultante da análise.

Tabela 10

Resumo do modelo de Regressão Linear Múltipla.

R2 (R2 Aj) F (5.75) β t p

Modelo 0.11 (0.05) 1.94 0.09

ISP Clínico (a) -.08 -.67 0.50

Reincidência (b) -.10 -.90 0.37

Consumo de Substâncias (c) -.16 -1.41 0.16

Tratamento (d) .02 .20 0.83

Estado Civil (e) .20 2.44 0.01*

*p<0.05

(a)

0 - Com presença clínica de perturbação emocional; 1 - Sem presença clínica de perturbação emocional; (b) 0- Primário; 1- Reincidente; (c) 0 - Semconsumo de substâncias/NA; 1 - Com consumo de substâncias; (d) 0 – Não segue tratamento/NA; 1- Segue tratamento; (e) 0 – Solteiro/viúvo/separado/divorciado; 1- Casado/União de facto.

Discussão

O principal objetivo deste estudo foi contribuir para o estudo e conceptualização da resiliência em populações adultas de ofensores e caracterizar o fenómeno de resiliência e sintomatologia psicopatológica em ofensores recluídos. Mais detalhadamente, pretendeu-se analisar os níveis médios das dimensões de sintomatologia psicopatológica e de resiliência, analisar as associações entre estas variáveis, identificar diferenças nos índices de resiliência em função de alguns factores de risco e características sociodemográficas da amostra e ainda, observar as variáveis preditoras da resiliência nesta população.

(22)

Tomando como primeiro ponto de análise os resultados obtidos através da análise descritiva referentes aos instrumentos utilizados, verificamos que a amostra relatou maiores índices de perturbação nas escalas de Ideação Paranóide, Obsessões Compulsões e Depressão, sendo que os menores índices de sintomatologia ocorreram na escala Ansiedade Fóbica. No geral, estes participantes pontuam valores médios no IGS muito semelhantes aos da população em geral (.86 vs .83) (Canavarro, 1999), apesar do Índice de Sintomas Positivos se apresentar muito elevado em comparação, o que poderá resultar da existência de valores extremos na nossa amostra. Este estudo vai ao encontro de outros já realizados com o BSI em populações reclusas condenados do sexo masculino (Carreira & Gonçalves, 2010), que não indicam prevalência de sintomatologia psicopatológica, quando comparados com os resultados da população emocionalmente perturbada reportados no estudo de Canavarro (1999). À semelhança dos estudos de Carreira e Gonçalves (2010) e de Moreira e Gonçalves (2010), confirmamos que a população reclusa portuguesa do sexo masculino evidencia como principal sintomatologia psicopatológica a Ideação Paranóide, corroborando a presença constante desta dimensão e o seu impacto à luz da dinâmica prisional.

Relativamente à primeira hipótese colocada neste estudo, verificou-se, tal como era esperado e ainda que de forma modesta, associações negativas entre as dimensões do BSI e o score total da Escala de Resiliência para Adultos. Estas associações apresentam-se de forma estatisticamente significativas nas dimensões Obsessões Compulsões, Sensibilidade Interpessoal, Depressão, Ansiedade, Hostilidade, Ansiedade Fóbica e Psicoticismo, bem como de uma forma geral no Índice Geral de Sintomas. Estes resultados levam-nos a afirmar que os resultados observados também vão de encontro a outros resultados obtidos na literatura (Friborg et al., 2003; Campbell-Sills, Cohan, & Stein, 2006; Robinson, Larson & Cahill, 2013), o que significa que menores índices de sintomatologia psicopatológica estão associados a uma maior resiliência. Assim, é plausível que os reclusos mais resilientes, isto é, com maior autoestima, maior autoeficácia, maior suporte social e maior capacidade de realizar planos e orientar-se para o futuro e para objetivos definidos seriam menos suscetíveis de desenvolver psicopatologia ou doença mental. Mais pesquisa no sentido de examinar a relação entre a resiliência e saúde mental poderá ser útil para esclarecer a natureza dessa relação.

Esperava-se que existissem diferenças na resiliência em função da história criminal (reincidência) dos participantes, da história de consumo de substâncias, do tratamento ao consumo de substâncias, da presença/ausência de sintomatologia psicopatológica clínica nos reclusos e do estado civil. Nenhuma destas hipóteses pôde ser confirmada, na medida em que

(23)

os resultados apresentaram-se de forma estatisticamente não significativa. Assim, apesar de existirem diferenças nos scores de resiliência em função das variáveis independentes (à excepção, da variável “Com ou sem presença de sintomatologia psicopatológica de acordo com o ISP Clínico”), nenhuma das diferenças obtidas permitiram reter as hipóteses alternativas H2, H3, H4, H5 e H6. Ainda que tivéssemos verificado diferenças marginalmente significativas nos índices de resiliência em função do estado civil dos participantes, com participantes viúvos e casados ou em união de facto a relatarem maior resiliência, o ponto de corte mínimo habitualmente convencionado para a significância estatística (p<0.05) não foi atingindo, pelo que rejeitamos neste estudo as nossas hipóteses alternativas.

Da última hipótese apresentada no nosso estudo, esperava-se constatar que a sintomatologia psicopatológica, a história de consumo de substâncias, o seguimento de tratamento a substâncias em meio prisional, a reincidência e o estado civil seriam preditores da resiliência. O modelo resultante das análises efectuadas confirmou esta hipótese de forma marginalmente significativa (p<0.10), sendo que as variáveis independentes em estudo explicaram apenas cerca de 5% da variância total. De todas as variáveis independentes do modelo, apenas o estado civil dos participantes revelou ser um preditor significativo da resiliência. Uma justificação para esse resultado pode se relacionar com o facto da existência de um relacionamento estável e de qualidade num casal ser identificado na literatura como um importante fator protetor face à perpetuação do crime (e.g. Laub, Nagin & Sampson, 1998; Capaldi, Kim, & Owen, 2008), num contexto de controlo social informal (Walker et al., 2013). Deste resultado, poder-se-ia concluir que indivíduos envolvidos em relações estáveis beneficiariam de maior suporte social, mais recursos de coping, maior auto-regulação e mais competências socias, tornando-os estruturalmente mais resilientes face aos fatores de risco. Neste estudo, a história de consumo de substâncias não revelou ser um preditor de resiliência, apesar da existência de estudos que demonstram associações negativas entre resiliência e abuso de substâncias (Wingo, Ressler, & Bradley, 2014). Mais uma vez, dada a não significância do nosso modelo, rejeitámos a hipótese alternativa.

Conclusão

A resiliência é um construto ainda pouco compreendido e estudado, particularmente no que se refere aos ofensores. O estudo dos fatores protetores e o seu impacto na prevenção da reincidência tem sido um tema de estudo relativamente recente, que tem suscitado algum interesse por parte dos investigadores, dado o seu potencial contributo na

(24)

remoção/amortização dos fatores de risco. Neste sentido, a resiliência surge como um fator de estudo que poderá ajudar a compreender como certos reclusos ultrapassam as adversidades do ambiente apesar da elevada ocorrência de fatores de risco.

Os resultados deste estudo contruíram para clarificar, ainda que de forma incompleta, a concetualização da resiliência. Uma revisão crítica da literatura e os resultados deste estudo sugerem que a resiliência inclui a presença de recursos e competências sociais, estratégias de coping, auto-regulação e ausência de sintomatologia clínica. Ainda que este construto mereça um estudo mais aprofundado, o estudo da relação entre a resiliência e a reincidência revela ser crucial, uma vez que não se consegue claramente perceber qual o contributo da primeira para a diminuição da segunda e como a resiliência poderia se constituir como um fator protetor vis-à-vis dos fatores de risco. Mais estudos que incluem o estilo de vida criminal diferencial dos sujeitos poderiam contribuir para compreender o perfil de resiliência.

Este estudo apresenta ainda mais limitações que importam realçar, dada a sua potencial influência ao nível dos resultados obtidos e da sua interpretação.

Em primeiro lugar, salienta-se o facto da recolha se ter limitado a apenas dois estabelecimentos prisionais do Norte e do número de participantes envolvidos ser reduzido, considerando os condicionalismos formais que se associam ao levantamento de dados no contexto prisional. Associada a esta dificuldade, encontra-se o facto do método utilizado para a recolha de dados ter sido por conveniência, uma vez que limita a generalização dos resultados à população reclusa no geral. Convém igualmente salientar o elevado número de missings em alguns participantes que dificultaram algumas análises estatísticas.

Salienta-se de igual forma a natureza dos instrumentos utilizados neste estudo, que por serem de autorrelato, encontram-se associados a fenómenos de desejabilidade social. Neste contexto, o controlo dos relatos sub ou sobrestimados torna-se difícil (e.g. história criminal, historia de consumo), conduzindo a um enviesamento ao nível das informações transmitidas. Ainda relativamente aos instrumentos utilizados, refere-se a dificuldade de alguns participantes em responderem aos itens dos instrumentos, por não compreenderem a modalidade de resposta adequada ou não entenderem alguns conceitos. Esta dificuldade foi evidente na aplicação da escala ERA, que exigiu ajuda adicional por parte da investigadora. Em relação à mesma escala, o facto de não se poder ter reproduzido a estrutura factorial do instrumento com esta população revela ser outra limitação consequente neste estudo, que impossibilitou a integração das subescalas desta escala nas análises estatísticas. Seria pertinente em estudos futuros adaptar esta escala para contextos forenses, uma vez que se trata de uma escala cujo uso é fundamentalmente direccionado para o contexto clínico/de saúde.

(25)

Assim, a integração de medidas adequadas de desejabilidade social nesta escala poderia ser benéfica para o contexto forense.

Como última limitação, referimos a escassez de estudos na área, pelo que não abundam dados na literatura que ajudem a compreender em maior detalhe os resultados encontrados.

(26)

Referências Bibliográficas

Almeida, L. & Freire, T. (2003). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação. Braga: Psiquilíbrios.

Andrews, D. A., Bonta, J., & Wormith, J. S. (2006). The recent past and near future of risk and/or need assessment. Crime & Delinquency, 52(1), 7–27. http://dx.doi.org/ 10.1177/0011128705281756

Born, M., Chevalier, V., & Humblet, I. (1997). Resilience, desistance and delinquent career of adolescent offenders. Journal of adolescence, 20(6), 679–94. doi:10.1006/jado.1997.0119

Campbell-Sills, L., Cohan, S. L., & Stein, M. B. (2006). Relationship of resilience to personality, coping, and psychiatric symptoms in young adults. Behaviour research and therapy, 44(4), 585–99. doi:10.1016/j.brat.2005.05.001

Canavarro, M. C. (1999). Inventário de Sintomas Psicopatológicos: BSI. In M. R. Simões, M. Gonçalves, L. S. Almeida (Eds.), Testes e Provas Psicológicas em Portugal (vol. II, pp. 87-109). Braga: SHO/APPORT.

Capaldi, D. M., Kim, H. K., & Owen, L.D. (2008). Romantic partners’ influence on men’s likelihood of arrest in early adulthood. Crminology, 46 (2), 267-299.

Carreira, L. & Gonçalves, R. A. (2010). Psicopatologia e Adaptação à Prisão. Saúde Mental, 12 (4), 14-30.

De Ruiter, C., & Nicholls, T. L. (2011). Protective Factors in Forensic Mental Health: A New Frontier. International Journal of Forensic Mental Health, 10(3), 160–170. doi:10.1080/14999013.2011.600602

De Vogel, V., De Vries Robbé, M., De Ruiter, C., & Bouman, Y. H. a. (2011). Assessing Protective Factors in Forensic Psychiatric Practice: Introducing the SAPROF. International Journal of Forensic Mental Health, 10(3), 171–177. doi:10.1080/14999013.2011.600230

Efta-Breitbach, J. E. & Freeman, K. A. (2005). Recidivism and Resilience in Juvenile Sexual Offenders : An Analysis of the Literature. Journal of Child Sexual Abuse. 13:3-4, 257-279.

Farrington, D. P. (1995). The development of offending and antisocial behaviour from childhood: Key findings from the Cambridge Study in delinquent development. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 36: 929–964.

(27)

Farrington, D. P. (2007). Advancing knowledge about desistance. Journal of Contemporary Criminal Justice, 23: 125–134.

Fougere, A., & Daffern, M. (2011). Resilience in Young Offenders. International Journal of Forensic Mental Health, 10(3), 244–253. doi:10.1080/14999013.2011.598602

Fougere, A., Daffern, M., & Thomas, S. (2012). Toward an empirical conceptualisation of resilience in young adult offenders. Journal of Forensic Psychiatry & Psychology. 23 (5–6), 706–72.

Fraser, a, Gatherer, a, & Hayton, P. (2009). Mental health in prisons: great difficulties but are there opportunities? Public health, 123(6), 410–4. doi:10.1016/j.puhe.2009.04.005 Friborg, O., Barlaug, D., Martinussen, M., Rosenvinge, J. H., & Hjemdal, O. (2005).

Resilience in relation to personality and intelligence. International Journal of Methods in Psychiatric Research, 14(1), 29–42.

Friborg, O., Hjemdal, O., Rosenvinge, J. H., & Martinussen, M. (2003). A new rating scale for adult resilience: what are the central protective resources behind healthy adjustment?. International journal of methods in psychiatric research, 12(2), 65–76. Retrieved from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12830300

Gonçalves, R. A. (2008). Delinquência, crime e adaptação à prisão. Coimbra: Quarteto. Hammersley, R. (2011). Pathways through drugs and crime: Desistance, trauma and

resilience. Journal of Criminal Justice, 39(3), 268–272. doi:10.1016/j.jcrimjus.2011.02.006

Hjemdal, O., Friborg, O., & Stiles, T. C. (2012). Resilience is a good predictor of hopelessness even after accounting for stressful life events, mood and personality (NEO-PI-R). Scandinavian journal of psychology, 53(2), 174–80. doi:10.1111/j.1467-9450.2011.00928.x

Hjemdal, O., Friborg, O., Stiles, T. C., Rosenvinge, J. H., & Martinussen, M. (2006). Resilience Predicting Psychiatric Symptoms: A Prospective Study of Protective Factors and their Role in Adjustment to Stressful Life Events. Clinical Psychology and Psychotherapy. 13 , 194–201. doi:10.1002/cpp

Laub, J. H., Nagin, D. S., & Sampson, R. J. (1998). Trajectories of change in criminal offending: Good marriages and the desistance process. American Sociological Review, 63(2), 225-238.

Lodewijks, H. P. B., De Ruiter, C., & Doreleijers, T. a H. (2010). The impact of protective factors in desistance from violent reoffending: a study in three samples of adolescent

(28)

offenders. Journal of interpersonal violence, 25(3), 568–87. doi:10.1177/0886260509334403

Loeber, R., Farrington, D. P., Stouthamer-Loeber, S., Moffitt, T., Caspi, A., Lynam, D. (2001). Male mental health problems, psychopathy and personality traits: Key findings from the first 14 years of the the Pittsburgh Youth Study. Clinical Child and Family Psychology Review. 4: 273–297.

Moreira, N. A. C. & Gonçalves, R. A. (2010). Perturbação mental e ideação suicida entre reclusos preventivos. Análise Psicológica, 28 (1): 133-148.

O’Driscoll, C., Larney, S., Indig, D. & Basson, J. (2012). The impact of personality disorders, substance use and other mental illness on re- offending, Journal of Forensic Psychiatry & Psychology. 23 (3), 382–39.

Pasquali, L. (2003). Psicometria – Teoria dos testes na Psicologia e Educação. Petróplois: Editora Vozes.

Pereira, M., Cardoso, M., Alves, S., Narciso, I. & Canavrro, M. C. (2013). Estudos preliminares das caracteristicas psicometricas da Escala de Resiliência para Adultos (ERA). In Pereira, A., Calheiros, M., Vagos, P., Direito, I., Monteiro, S., Fernandes da Silva, C. & Gomes, A. A (Eds.). Livro de Atas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia. Associação Portuguesa de Psicologia: Aveiro.

Rennie, C. E. & Dolan, M. (2010). The significance of protective factors in the assessment of risk. Criminal Behaviour and Mental Health. 20: 8-22.

Robinson, J. S., Larson, C. L., & Cahill, S. P. (2013). Relations Between Resilience, Positive and Negative Emotionality, and Symptoms of Anxiety and Depression. Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy. doi:10.1037/a0033733

Rutter, M. (1985). Resilience in the face of adversity: Protective factors and resistance to psychiatric disorder. British Journal of Psychiatry. 147: 598–611.

Viljoen, S., Sc, M., Nicholls, T., Ph, D., Greaves, C., Ruiter, C. De, Brink, J., et al. (2011). Resilience and Successful Community Reintegration among Female Forensic Psychiatric Patients : A Preliminary Investigation. Behavioral Sciences and the Law. 29: 752–770. doi:10.1002/bsl

Walker, K., Bowen, E., & Brown, S. (2013). Psychological and criminological factors associated with desistance from violence: A review of the literature. Aggression and Violent Behavior. 18(2), 286–299. doi:10.1016/j.avb.2012.11.021

Wingo, A. P., Ressler, K. J., & Bradley, B. (2014). Resilience characteristics mitigate tendency for harmful alcohol and illicit drug use in adults with a history of childhood

(29)

abuse: a cross-sectional study of 2024 inner-city men and women. Journal of Psychiatric Research, 51, 93–9. doi:10.1016/j.jpsychires.2014.01.007

Referências

Documentos relacionados

A variação do a* ao longo do tempo de armazenamento também não seguiu a mesma tendência em todos os tratamentos: enquanto as algas desidratadas, e em salga seca

cardeal D. Henrique, teve várias edições na sua versão latina e em traduções. O texto que va- mos seguir é o adoptado pela edição dos Opera Omnia, publicada em Roma, pelo sobrinho,

que tartufice profunda!” (ASSIS, 2014, p. 127), como fosse natural dela se prestar a esse papel. E não só dela, mas de todas as mulheres com quem se relacionou. Isso ocorre,

iii) Previamente à fusão e cisão do Fundo de Investimento, caso a última avaliação dos imóveis que integrem os respetivos patrimónios tenha sido realizada há

Deve-se pensar também, quando se pergunta “COMO?”, se, para a realização da atividade proposta, exige-se a participação dos familiares ou se a tarefa deverá ser

No diálogo entre os dois autores, encontram-se pontos de convergência e/ou divergência no que tange as formas de comunicação mãe- bebê, das quais se destaca

Nesse contexto, os objetivos do trabalho foram: quantificar a interação genótipos x ambientes e verificar a participação da interação linhagens x locais em

Considerando-se que na Administração Pública, o orçamento é o principal elemento de gestão, já que o próprio sistema contábil se desenvolve a partir da Lei de