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A intervenção privada como motor de espaço público. Da escala do edifício à escala da cidade

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Academic year: 2021

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(1) . A INTERVENÇÃO PRIVADA COMO MOTOR DE ESPAÇO PÚBLICO: Da Escala do Edifício à Escala da Cidade. João Pedro Varanda Santos de Barros (Licenciado). Projecto Final de Mestrado para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura. Orientador Cientifico: Professor Luís Afonso Co-orientador: Professor Amílcar Pires Júri: Presidente: Prof. Doutor José Cabido Vogais: Prof.ª Doutora Filipa Roseta Monteiro Prof. Doutor Luís Filipe Afonso Prof. Doutor Amílcar Pires. Lisboa, FAUTL, Outubro 2011.  .

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(5) AGRADECIMENTOS    Aos meus orientadores, Prof. Luís Afonso e Prof. Amílcar Pires.  Aos meus pais e aos meus avós.  À Sara.  Aos meus colegas e amigos, Pedro Lima, Susana Neves, João Botelho, Pedro Rechena,  Guilherme Clara, João Correia e João Lopes.   .

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(7) Resumo  O  presente  documento  serve  de  base  teórica  ao  projecto  de  tese  final  mestrado.  O  projecto  assenta na concepção de um equipamento público de carácter cultural e artístico, numa zona  com um forte pendor habitacional, em articulação com a praça urbana que este define.  O tema do projecto prende‐se então com a estreita relação que se estabelece entre o edifício  e o espaço público, revelada numa interligação programática e funcional, que dá ao conjunto  uma unidade espacial, permitindo‐lhe anular as fronteiras entre os dois.  A  tese  debruça‐se  sobre  ao  espaço  da  cidade,  o  estilo  de  vida  urbano  e  consequentemente  sobre  a  forma  como  as  pessoas  usam  o  espaço  público  urbano.  A  importância  do  espaço  público como forma de preservação dos valores de cidadania e como palco para manifestações  espontâneas e interacção social.  O exercício de projecto vem ao encontro destes valores, promovendo uma relação intrínseca  entre o espaço público e privado que projecta. Esta fusão tipológica promove um intercâmbio  entre os dois, dinamizando‐os mutuamente.  A  cidade  contemporânea  apresenta  um  novo  paradigma  nas  dinâmicas  urbanas  e  do  espaço  público,  fruto  de  uma  mobilidade  urbana  cada  vez  mais  ampla,  o  tempo  dispendido  na  deslocação  entre  dois  pontos  é  cada  vez  menor,  consequentemente  permite  à  população  aumentar  a  distância  a  percorrer  em  trajectos  diários,  visto  terem  ao  seu  alcance  meios  de  transporte rápidos. Este facto leva à fragmentação do tecido das cidades, à medida que as ruas  ganham  capacidade  de  abarcar  velocidades  de  deslocação  cada  vez  mais  rápidas  vão,  simultaneamente,  perdendo  qualidades  enquanto  espaços  de  convivência  e  partilha,  dando  origem a comunidades fechadas sejam elas habitacionais, empresariais ou comerciais.   A  expansão  destas  comunidades  fechadas,  espaços  que  se  encerram  sobre  si  mesmos  com  ambientes  controlados,  não  é  apenas  uma  consequência  da  perda  de  vitalidade  e  abandono  do  espaço  público  mas  também  a  sua  origem.  Quanto  mais  as  pessoas  se  isolam  mais  segregado fica o espaço público. É necessário por isso um trabalho de preservação e incentivo  ao  uso  do  espaço  urbano  por  parte  do  privado,  é  premente  que  o  privado  expanda  os  seus  limites  até  à  esfera  do  espaço  publico  para  que  este  não  seja  negligenciado  e  com  ele  negligenciado também o estilo de vida urbana e os princípios de cidadania.  Palavras‐chave: Espaço Público, Edifício Híbrido, Espaço Transição. .

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(9) Abstract  The following document serves as a theoretical basis to the final master's thesis project. The  project builds on the concept of a public facility with a cultural and artistic character, in an area  with a strong housing nature, in conjunction with the urban square that defines it.   The  theme  of  the  project  has  to  do  with  the  close  relationship  established  between  the  building  and  public  space,  revealed  in  a  programmatic  and  functional  interconnection,  giving  the whole a spatial unit, allowing it to cancel the boundaries between the two.   The thesis focuses on the city space, urban lifestyle and consequently on the way people use  public  urban  space.  The  importance  of  public  space  as  a  means  of  preserving  the  values  of  citizenship and as a stage for spontaneous demonstrations and social interaction.   The  project  exercise  is  in  line  with  these  values,  promoting  an  intrinsic  relationship  between  the  public  and  private  space  that  it  projects.  This  typological  merger  promotes  an  exchange  between the two, revitalizing each other.   The  contemporary  city  presents  a  new  paradigm  in  urban  dynamics  and  public  space,  the  result of an increasingly larger urban mobility, the time spent travelling between two points is  getting smaller and smaller, thus allowing the population to increase the distance to travel on  daily journeys since they have at hand the means of rapid transit. This leads to fragmentation  of the fabric of cities, as the streets gain the ability to cover increasingly higher travel speeds,  they  will,  simultaneous,  lose  qualities  as  living  and  sharing  spaces,  giving  rise  to  gated  communities whether residential, business or commercial.  The  expansion  of  these  closed  communities,  places  that  close  themselves  in  controlled  environments,  are  not  just  a  consequence  of  the  loss  of  vitality  and  abandonment  of  public  space but it is also its origin. The more people isolate themselves the more segregated public  space gets. Therefore it is necessary to work on the preservation and encouragement of the  use of urban space by the private, it is urgent that the private sector expanda its limits to the  public space sphere so that it is not neglected and with it also neglected the urban lifestyle and  the principles of citizenship.    Keywords: Public Space, Hybrid  Building, Transitional Space.   .

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(11) ÍNDICE    1.. Introdução .  .  .  .  .  .  .  .  .   1 . 2.. Estado da Arte   .  .  .  .  .  .  .  .   2 . 2.1  CASOS DE ESTUDO  .  .  .  .  .  .  .   2 .  .  . 2.1.1 Elbe Philharmonic  .  .  .  .  .  .   3 .  .  . 2.1.2 TEK Building .  .  .  .  .  .   4 .  .  . 2.1.3 Museum of Tolerance Jerusalem   .  .  .  .   5 .  .  . 2.1.4 Abdullah II House of Culture & Art  .  .  .  .   6 . 3.. A CIDADE – Vida em sociedade  .  .  .  .  .   .   7 . 3.1 A CIDADE ‐ Vida Urbana .  .  .  .  .  .  .   7 . 3.2 A CIDADE – Espaço Público   .  .  .  .  .  .   9 . 3.2.1 História da Praça e do Espaço Público  .  .  .  .   9 . 3.2.2 O papel do Espaço Público na Cidade   .  .  .  . 12 . 3.2.3 A Praça Urbana  4.. 5..  .  .  .  .  .  . 15 . Novo Paradigma do Espaço Urbano .  .  .  .  .  . 17 . 4.1 A MOBILIDADE URBANA .  .  .  .  .  .  . 17 . 4.2 COMUNIDADES FECHADAS   .  .  .  .  .  . 20 . 4.3 NOVOS CONCEITOS DE ESPAÇO PÚBLICO   .  .  .  . 23 . Projecto .  .  .  .  . 25 .  .  .  .  . 25 .  .  .  .  . 27 .  .  .  .  .  . 5.1 ENQUADRAMENTO E CONDICIONANTES  5.2 PROGRAMA FUNCIONAL .  .  .  .  .

(12) 5.2.1 Tipologias Privadas .  .  .  .  .  .  . 27 . 5.2.2 Tipologia Urbana .  .  .  .  .  .  . 28 . 5.3 RELAÇÃO PRIVADO PUBLICO .  .  .  .  .  . 31 . 5.4 MORFOLOGIA CONCEPTUAL .  .  .  .  .  . 34 . 5.5 FRUIÇÃO ESPACIAL  .  .  .  .  .  .  . 35 . 6.. Conclusão .  .  .  .  .  .  .  .  . 39 . 7.. Bibliografia .  .  .  .  .  .  .  .  . 41 . 8.. Anexos  .  .  .  .  .  .  .  .  . 42 .  .  .                            .

(13) ÍNDICE DE FIGURAS    Figura 1 ‐ Elbe Philharmonic Hall 1  http://www.dezeen.com/2010/05/28/elbphilharmonie‐by‐herzog‐de‐meuron/  Figura 2‐ Elbe Philharmonic Hall, Corte  http://www.dezeen.com/2010/05/28/elbphilharmonie‐by‐herzog‐de‐meuron/  Figura 3‐ Elbe Philharmonic Hall 2  http://www.dezeen.com/2010/05/28/elbphilharmonie‐by‐herzog‐de‐meuron/  Figura  4‐ Elbe Philharmonic Hall 3  http://www.dezeen.com/2010/05/28/elbphilharmonie‐by‐herzog‐de‐meuron/  Figura 5 ‐ TEK Building 1  http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13030/big‐architects‐tek‐building.html  Figura 6 ‐ TEK Building, Corte  http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13030/big‐architects‐tek‐building.html  Figura 7 ‐ TEK Building 2  http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13030/big‐architects‐tek‐building.html  Figura 8 ‐ TEK Building 3  http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13030/big‐architects‐tek‐building.html  Figura 9 ‐ Museum of Tolerance 4  http://www.dezeen.com/2010/10/05/museum‐of‐tolerance‐jerusalem‐by‐chyutin‐architects/  Figura 10 ‐ Museum of Tolerance, Corte  http://www.dezeen.com/2010/10/05/museum‐of‐tolerance‐jerusalem‐by‐chyutin‐architects/  Figura 11 ‐ Museum of Tolerance 5  http://www.dezeen.com/2010/10/05/museum‐of‐tolerance‐jerusalem‐by‐chyutin‐architects/ .

(14) Figura 12 ‐ Museum of Tolerance 6  http://www.dezeen.com/2010/10/05/museum‐of‐tolerance‐jerusalem‐by‐chyutin‐architects/  Figura 13 ‐ King Abdullah II House of Culture & Art 7  http://www.archdaily.com/51018/king‐abdullah‐ii‐house‐of‐culture‐art‐zaha‐hadid‐architects/  Figura 14 ‐ King Abdullah II House of Culture & Art 8  http://www.archdaily.com/51018/king‐abdullah‐ii‐house‐of‐culture‐art‐zaha‐hadid‐architects/  Figura 15 ‐ King Abdullah II House of Culture & Art 9  http://www.archdaily.com/51018/king‐abdullah‐ii‐house‐of‐culture‐art‐zaha‐hadid‐architects/  Figura 16 ‐ A Polis Grega   http://4.bp.blogspot.com/_xGpjfByVFG0/SLC1mHTlFVI/AAAAAAAAADg/_wWEnZHuYiY/s1600‐ h/A+p%C3%B3lis+grega.jpg  Figura 17 – A revolução industrial  http://www.blogers.com.br/wp‐content/uploads/2009/05/revolucao.jpg  Figura 18 – Plano de Argel de Le Corbusier  http://3.bp.blogspot.com/_ImU0bSkEJkI/SkEYtt9lalI/AAAAAAAAASk/lwpTDNlnniA/s1600‐ h/argel2.jpg  Figura 19 – Praça da Republica, Viana do Castelo  http://static.panoramio.com/photos/original/44151163.jpg  Figura 20 ‐ Odivelas  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:OdivelasPortugal.jpg  Figura 21 – Rua Augusta  http://www.pps.org/graphics/gpp/ruaaugust1_large  Figura 22 – Galerias Vittorio Emanuele  http://www.aboutmilan.com/pt/galeria‐de‐fotos/imagegallery/Milano02.jpg .

(15) Figura 23 – C.C.Colombo  Figura 24  – Planta Piso Térreo  Figura 25 – Render Projecto 1  Figura 26 – Render Projecto 2  Figura 27 – Render Projecto 3  Figura 28 – Render Projecto 4  Figura 29 – Render Projecto 5  Figura 30 – Rua em Alfama  http://3.bp.blogspot.com/_p3NatTZCsl0/Sw3I9TNiYVI/AAAAAAAAGqU/4b5BsLatm94/s1600/Li sboa+‐+Bairro+de+Alfama+(p).jpg  Figura 31 – Render Projecto 6  Figura 32 – Render Projecto 7  Figura 33 – Render Projecto 8  Figura 34 – Render Projecto 9  Figura 35 – Render Projecto 10  Figura 36 – Planta Piso 1                   .

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(17) 1. Introdução  Será  que  o  espaço  público  urbano  é  o  único  local  possível  para  um  domínio  público  de  interacção social? Na história do ocidente tem sido atribuído ao domínio do público o carácter  unificador  da  sociedade,  espaço  de  mistura  social  onde  os  cidadãos  se  podem  conhecer  melhor a si próprios através da percepção dos outros.  O  tema  do  espaço  público  é  fulcral  nos  nossos  dias,  sobretudo  porque  muitos  factores  influenciam o seu abandono. As cidades estendem‐se para além dos seus limites naturais em  processos  de  sub‐urbanização,  sendo  que  os  centros  têm  sofrido  abandonos  constantes.  As  pessoas  usam  cada  vez  mais  intensamente  os  transportes  individuais,  transformando  as  cidades em ilhas, deixando as ruas de ser percorridas a pé dando origem a um sentimento de  insegurança. Por outro lado, em franca expansão estão os centros comerciais e outros espaços  privados ligados ao consumo que simulam a vivência urbana de uma forma artificial.   A configuração espacial e social contemporânea da própria cidade altera radicalmente o papel  da esfera pública no conjunto das dinâmicas urbanas. Não só, os espaços públicos deixam de  ser  o  elemento  formalmente  ordenador  dos  tecidos  urbanos  da  cidade,  como  perdem  o  seu  papel  estruturante  das  actividades  e  das  interacções  sociais  urbanas,  e  mesmo  a  capacidade  de  ser  suporte  de  rotinas  e  actividades  partilhadas,  levando  ao  enfraquecimento  da  cultura  urbana pública.  É necessário, por isso, implementar estratégias para re‐estimular o uso do espaço público, criar  condições  para  dar  atractividade  aos  espaços  de  partilha  e  socialização,  até  porque  disso  depende o futuro das cidades e também o futuro das sociedades.  O exercício projectual assenta sobre esta problemática. Se o desenho do edificado integrar o  desenho do espaço público de maneira a que estes funcionem como um só, consegue anular  as fronteiras entre eles, promovendo o uso do espaço público e estimulando o uso do espaço  privado?  Será que o futuro dos espaços públicos está condenado, ou simplesmente estaremos a entrar  num  novo  paradigma  onde  os  espaços  públicos  que  utilizamos  têm  uma  gestão  privada?  Se  sim será que é possível explorar outras dinâmicas de espaços privados com utilização colectiva  sem estarem associados aos espaços de consumo? . 1   .

(18)  .

(19) 2. Estado da Arte  A discussão sobre a morfologia do espaço público, fruto de um novo paradigma da utilização  do  espaço,  é  mote  para  muitas  teorias  sobre  o  futuro  da  vivência  em  sociedade  e  consequente, sobre a utilização do espaço que a define.   Para Herman Hertzberger a questão do gradual abandono do espaço público é consequência  de um crescente individualismo e indiferença à vida em sociedade. Hertzberger defende que a  resolução do problema passa pela responsabilização dos cidadãos pela cidade: se as pessoas  sentirem  a  cidade  como  sua  e  não  como  um  espaço  de  ninguém  tenderão  a  expandir  a  sua  esfera de influência para o espaço público e logo torná‐lo vivo.  Fernando Cabral Sacadura aborda o tema de suburbanização como problema para o abandono  das cidades e consequentemente para desumanização do espaço público. Na sua perspectiva o  estigma  social  reflectido  na  sociedade  actual  reflecte‐se  na  utilização  destes  espaços,  remetendo‐os  para  uma  situação  de  passagem,  de  utilização  acidental,  onde  não  apetece  parar e usar.  Pedro Brandão aponta o tema do consumo associado às cidades como um dos factores para a  descaracterização  da  matriz  que  a  formaliza.  O  autor  defende  que  o  facto  de  ser  o  poder  económico a definir o rumo das cidades as tem levado a uma lógica de competição urbana de  onde deriva a ideia do próprio espaço urbano como produto a ser comercializado.   A escolha dos casos de estudo em que se baseia esta tese assenta sobre a procura de novas  concepções  de  espaço  público,  todos  relacionados  com  programas  que  cruzam  tipologias  privadas  com  tipologias  públicas.  Os  projectos  apresentados  são  todos  propostas  contemporâneas que de uma forma recíproca tentam dinamizar o espaço público e o espaço  privado, pelas dinâmicas subjacentes à interligação entre ambos.   Cada caso de estudo procura uma forma diferente de fundir o espaço público urbano com o  interior  do  edifício.  Todos  os  projectos  apresentados  têm  como  base  um  programa  semelhante,  associados  a  espaços  multi‐funcionais  com  um  forte  pendor  cultural,  e  subjacentemente  com  uma  patente  utilização  pública.  Todos  têm  uma  forte  vertente  representativa para a cidade onde são edificados, procurando enquanto edifícios, criar novas  centralidades para a cidade não só pela sua escala, que tenta alcançar a qualidade urbana, mas  também pela necessidade de atrair o público para a dinamização do próprio espaço interior. . 2   .

(20) 2.1 CASOS DE ESTUDO  2.1.1 Elbe Philharmonic .     Figura 1 ‐ Elbe Philharmonic . O Projecto para a Elbe Philharmonic Hall dos arquitectos Herzog & de Meuron em Hamburgo,  Alemanha,  envolve  a  recuperação  de  um  antigo  armazém  na  zona  industrial  ribeirinha  da  cidade construído em 1963. A intervenção consiste, além da recuperação do edifício existente,  na construção de uma estrutura em vidro que “flutua” sobre o edifício existente criando entre  ambos uma praça pública urbana a 37m do rio. . Figura 2 ‐ Elbe Philharmonic .  A praça adquire a qualidade de promontório a 360º sobre a cidade, explorando a concepção e  morfologia de uma praça pública construída entre duas massas edificadas. O edifício alberga  para além das três salas de concerto, um hotel, apartamentos e uma série de equipamentos,  conferindo à praça um forte carácter urbano, fruto das várias vivências associadas ao edifício. .     .     . Figura 3 e 4 ‐ Elbe Philharmonic . 3   .

(21) 2.1.2 TEK Building .     Figura 5 ‐ TEK Building . O projecto para o TEK Building dos BIG  Architects, em Taipei, Taiwan dá origem a um edifício  cúbico  de  57m  x  57m  x  57m  que  alberga  no  seu  interior  uma  rua  pública  em  espiral  que  dá  acesso  às  zonas  privadas  do  edifício  ao  longo  do  percurso,  desde  a  cota  da  rua  à  cota  da  cobertura.  O  edifício  transforma  a  sua  circulação  vertical  interna,  espaço  geralmente  com  carácter  condicionado,  numa  escadaria  exterior  em  espiral  com  um  carácter  claramente  urbano. .     Figura 6 ‐ TEK Building . O  programa  do  edifício  inclui  zonas  de  comércio  e  serviços,  zonas  de  trabalho,  espaços  de  conferências e espaços expositivos, restaurantes e galerias, culminando num anfiteatro urbano  localizado na cobertura ajardinada. Adaptando o espaço de circulação interno à escala urbana  o  edifício  quebra  as  barreiras  entre  o  espaço  privado  e  o  espaço  publico,  usufruindo  das  dinâmicas dessa mesma apoderarço informal do espaço interno.     .  . Figura 7 e 8 ‐ TEK  Building . 4   .

(22) 2.1.3 Museum of Tolerance Jerusalem  . Figura 9‐ Museum of Tolerance . O  projecto  para  o  Museum  of  Tolerance  dos  Chyutin  Architects  em  Jerusalém  formaliza  um  edifício  em  ponte  que  se  debruça  sobre  um  jardim  fazendo  a  porta  entre  este  e  a  cidade.  O  programa inclui um  teatro, um  centro  educativo, zonas de  trabalho, um restaurante, sala  de  exposições,  para  além  do  espaço  de  plataformas  ajardinadas  que  direcciona  os  visitantes  à  praça rebaixada que dá acesso ao interior do edifício sem quebrar visualmente a ligação entre  a cidade e o jardim. .      Figura 10‐ Museum of Tolerance . A concepção do edifício em ponte, utilizando o piso enterrado como átrio de entrada, introduz  a  noção  de  um  atravessamento  urbano  pelo  centro  do  edifício,  usufruindo  o  edifício  das  dinâmicas provenientes desta transposição informal do transeunte que fazem o percurso entre  a cidade e o jardim .     .  .  Figura 11 e 12 ‐ Museum of Tolerance . 5   .

(23) 2.1.4 Abdullah II House of Culture & Art .     Figura 13 ‐ King Abdullah II House of Culture & Art . O  projecto  para  o  King  Abdullah  II  House  of  Culture  &  Art  da  arquitecta  Zaha  Hadid  em  Amman, Jordania, propõe um centro performativo para a cidade que se funde com um espaço  de utilização informal com características urbanas. Este é, no entanto, o único caso de estudo  em que o espaço urbano criado pelo edifício é interior.  .      Figura 14 e 15 ‐ King Abdullah II House of Culture & Art . O edifício formaliza um bloco paralelepipédico ao qual, pela aplicação do principio da “erosão  fluída”,  é  escavado  o  espaço  público,  espaço  esse  responsável  por  garantir  o  acesso  aos  espaços  privadas  do  edifício.  O  interior  público  da  praça  é  um  espaço  contínuo  que  se  desenvolve em vários pisos, atravessando todo o edifício, ligando o lado Norte e Sul do vale.  Enquanto  a  erosão,  que  evoca  a  forma  da  cidade  de  Petra,  cria  o  espaço  público  da  praça  e  foyer,  a  massa  reminiscente  representa  os  espaços  performativos  e  outras  espaços  mais  privadas do edifício.         . 6   .

(24)  .

(25) 3. A CIDADE – Vida em sociedade  3.1 A CIDADE ‐ Vida Urbana  A cidade conhece‐se e reconhece‐se pelos seus centros. As cidades descrevem a história, são o  espaço que contem o tempo e a memória do passado. Cada parte ou zona da cidade tem um  património  de  conjuntos  de  edifícios  e  percursos,  de  monumentos  e  símbolos,  que  são  referências  da  sua  identidade.  A  protecção  destes  centros  contribui,  por  isso,  para  a  preservação  da  memória  mas  também  para  estimular  para  a  evolução  da  cidade,  somente  assim a cidade poderá ser atractiva e integradora.   A cidade nasce da necessidade de um grupo de pessoas viverem perto umas das outras, com  as  vantagens  e  benefícios  das  dinâmicas  provenientes  desse  facto.  Essas  vantagens  e  benefícios criaram uma atracção e dependência tal que nos dias de hoje metade da população  mundial vive em centros urbanos.   Das  primeiras  cidades,  planeadas  de  acordo  com  a  sua  localizaão  em  função  de  questões  de  defesa ou aproveitamento de recursos naturais, adaptação à topografia, evoluímos para uma  cidade  desenhada  pela  crescente  necessidade  de  albergar  pessoas  perto  dos  centros,  independentemente do território para onde se desenvolvem.  A  forte  atracção  das  cidades,  fruto  das  supostas  vantagens,  foi  tal  que  os  planos  foram  ineficientes  e  as  cidades  cresceram  de  forma  descontrolada.  O  resultado  são  cidades  retalhadas e desconexas, onde os seus habitantes não se revêm nem se reconhecem.  Se  o  desenho  urbano  tem  como  objectivo  melhorar  a  qualidade  de  vida  dos  cidadãos,  esta  preocupação  deveria  manifestar‐se  na  qualidade  ambiental  dos  espaços  públicos,  nos  quais  ocorrem a maior parte dos encontros e relações.  Tal como defende Fernando Brandão Alves1, é a organização do espaço e as suas propriedades  que dão sentido à forma como as áreas urbanas se tornam mecanismos poderosos para gerar,  manter  e  controlar  os  padrões  de  movimento  e  a  conduta  dos  indivíduos  no  espaço.  A  organização espacial ainda que sujeita aos efeitos provocados pela localização das actividades  e pela densidade populacional, tem um efeito determinante na forma como os indivíduos se  movem  numa  determinada  área  e  consequentemente  na  forma  como  os  mesmos  se  aproximam ou afastam uns dos outros.                                                               1.  ALVES, Fernando M. Brandão (2003) . 7   .

(26) A defesa da cidade por parte de quem nela vive implica uma solidariedade, uma participação e  uma humanização, reflectido numa aproximação dos cidadãos e na definição de prioridades,  na  descentralização  e  na  comunicação,  tendo  em  vista  o  desenvolvimento  que  se  quer  sustentado.  Herman  Hertzberger2  defende  que  a  concepção  de  cidade  terá  de  partir  de  uma  lógica  de  organização proporcionada dos vários elementos, sejam estes privados ou públicos, de forma a  que  a  população  ocupe  os  espaços  de  forma  homogénea.  O  resultado  deverá  ser  então  um  espaço  público  utilizado  por  todos,  acolhendo  esferas  de  espaços  que  se  vão  tornando  cada  vez mais privadas.  A  cidade  deverá  também  ser  poli‐funcional  e  não  segmentada  de  forma  a  cruzar  diferentes  vivências nos mesmos locais, criando uma diversidade de utilizações dos espaços, integrando  zonas de trabalho, zonas de habitação, zonas culturais e zonas comerciais.  A  concepção  da  cidade,  apesar  de  ser  conseguida  através  da  construção  de  edifícios  e  infra‐ estruturas,  consegue  a  sua  caracterização  formal  pela  ausência  de  edificado,  são  os  espaços  vazios, que caracterizam o espaço urbano da cidade.   A  escala  e  complexidade  que  define  a  cidade  de  hoje  dificulta  a  definição  do  seu  papel  e  o  papel  da  natureza.  Devido  a  uma  força  matriz  de  expansão  e  urbanização  cada  vez  mais  notória  assistimos  a  uma  crescente  mudança  na  escala  da  cidade,  que  se  distancia  das  suas  origens  tradicionais  para  se  dissolver pelo  território,  transformando‐se,  cada  vez  mais,  numa  massa fragmentada em vez de um lugar com uma unidade urbana unitária.               .                                                              2.  HERTZBERGER, Herman (1999) . 8   .

(27) 3.2 A CIDADE – Espaço Público  3.2.1 História da Praça e do Espaço Público  As primeiras civilizações desenvolveram‐se nos vales do Nilo, do Indo, do Tigre e do Eufrates,  as  suas  cidades  dividiam‐se  em  duas  partes  bastante  diferenciadas.  Por  um  lado  uma  zona  formada pelo conjunto de pequenas casas à volta de pátios de dimensões reduzidas onde vivia  a população, não existindo espaços públicos de maior escala; por outro lado a zona constituída  pelo conjunto de palácios e templos que deixam transparecer uma maior monumentalidade,  tanto do edificado como do espaço urbano circundante, surgindo a forma da praça.  Também  as  construções  religiosas  assumiam  o  papel  de  cidade  monumental;  junto  a  estas  construções sucediam‐se inúmeras praças para acolherem as cerimónias religiosas dirigidas às  divindades ou aos líderes.  Na Grécia enforma‐se a primeira ideia clara de acontecimento urbano. Na polis grega, a cidade  está  unida  ao  território,  sendo  cidadãos  todos  os habitantes  ‐  da  urbe  ao  campo  –  de  modo  que a cidade é quase um lugar mental a que se refere toda a sua organização.   A polis grega origem primigénia da cidade ocidental baseou‐se em 3 princípios:  1‐ A continuidade do tecido urbano.  2‐ A implantação de três tipos de espaços: o privado, o sagrado e o público  3‐ O investimento do estado como regulador desses três espaços.  A  construção  da  cidade  grega  obedecia  também  a  uma  organização  rígida,  dividindo  e  agrupando funções em diferentes zonas. A acrópole é a cidade alta, cidade dos deuses, uma  praça aberta sobre a colina, donde se percepcionam os templos. A cidade baixa, o astu, cidade  propriamente  dita,  desenvolve‐se  à  volta  do  Agora,  verdadeira  praça  pública,  centro  da  vida  urbana.  Aí  se  organiza  o  mercado  e  se  localiza  o  teatro,  a  Agora  não  tem  uma  forma  muito  precisa, já que para os Gregos a ordem urbana “racional” estruturada pelas vias não existia, o  desenho  da  Agora  está,  no  entanto,  muito  relacionada  com  os  edifícios  que  o  configuram,  dispostos  numa  desordem  aparente,  mas  harmoniosamente.  É  o  lugar  de  encontro  social,  comercial, intelectual ou artístico. Nalgumas cidades o mercado é transferido para um espaço  adjacente e a Agora converte‐se num autêntico centro cívico onde conflui a dinâmica urbana.   No  caso  Romano,  mais  especificamente  da    cidade  de  Roma,  as  actividades  mercantis  e  as  feiras dos primeiros povoados, estão associadas aos fóruns romanos. Júlio César foi o primeiro  a construir  um fórum regular porticado, no seu perímetro dispõem‐se os edifícios públicos e  9   .

(28) em frente a norte, o templo dedicado a Júpiter, os outros lados são constituídos por colunatas  de  dois  pisos,  configurando  uma  grande  praça,  utilizada  para  grandes  reuniões  e  por  isso  privada de acessos.    .     Figura 16 ‐ A Polis Grega . No  império  construíram‐se  fóruns,  cada  vez  mais  majestosos,  espaços  regulares,  fechados,  ligados  a  grandes  construções  junto  ao  Capitólio.  O  desenho  do  fórum  romano  deveria  ser  proporcional ao número de habitantes, de modo a que não fosse demasiado pequeno para ser  útil ou parecesse excessivo.   Posteriormente na cidade medieval, a ordem social manifesta‐se com clareza. O crescimento é  orgânico, intra‐muralhas: as casas dispõem‐se junto à muralha à volta da igreja e do castelo,  criando‐se a praça do mercado, o largo da igreja ou da catedral. As formas são muito diversas  mas próximas da escala do homem, as preocupações defensivas explicam a forte adaptação à  topografia.  A cidade islâmica segue uma tradição distinta caracterizada por um sentido intimista no qual a  casa é um santuário. As portas das cidades muçulmanas são de grande complexidade, duplas  e, por vezes, em recanto, junto às quais se desenvolve todo o movimento dos mercados ou se  acumula  a  multidão  para  assistir  a  acontecimentos  ou  manifestações  característicos  nestes  espaços públicos.  Os  teóricos  do  Renascimento  seguiram  princípios  muito  rígidos  na  construção  da  cidade.  Alberti defendia que deveria haver várias praças distribuídas por diferentes partes da cidade,  algumas  para  darem  lugar  às  actividades  comerciais  em  tempos  de  paz,  outras  para  as  actividades  próprias  da  juventude  e  outras  para  armazenar  provisões  em  tempos  de  guerra.  Chegou mesmo a detalhar vários tipos de praças mercantis, associando‐as a zonas da cidade – . 10   .

(29) as  praças  deveriam  ser  diferentes  mercados,  uns  para  prata  e  ouro,  outros  para  especiarias,  outros ainda para madeira, bem como para gado, etc.  Com a chegada da Revolução Industrial, as cidades tiveram de se adaptar às necessidades da  era industrial, transformando a sua organização funcional, e consequentemente a sua forma.  Em primeiro lugar, há que salientar o crescimento exponencial da população devido ao êxodo  rural. Aumentando a população urbana aumentou o número de habitações necessárias ao seu  alojamento  na  cidade  bem  como  a  necessidade  de  produção  de  bens  e  serviços  agrícolas  e  industriais.  Estes  dois  últimos  acontecimentos  conduziram  à  redistribuição  dos  habitantes  dentro  e  em  redor  das  cidades,  o  que  gerou  um  crescimento  heterogéneo  entre  estas  e  o  restante território.  As inovações tecnológicas da época, nomeadamente na área dos transportes, permitiram que  houvesse um maior fluxo de pessoas e produto entre as cidades, criando também o aumento  das  mesmas.  Verificaram‐se  também  alterações  a  nível  do  pensamento  político.  Os  economistas  incentivavam  o  limite  da  intervenção  pública  em  vários  sectores,  incluindo  o  urbanístico, e passou a haver uma nova tendência em desvalorizar o controlo público sobre o  ambiente construído.   Com o rápido crescimento verificado na era industrial, observou‐se o nascimento de um nova  coroa à volta das cidades. A periferia era assim ocupada por famílias abastadas, enquanto que  o  centro  da  cidade  era  continuamente  invadido  por  construções  e  ocupações  de  edifícios  antigos ou abandonados, curiosamente o oposto do que se verifica no presente. No entanto,  dado  o  crescimento  da  cidade  ser  tão  rápido,  a  periferia  tornou‐se  facilmente  um  misto  de  bairros de luxo e bairros pobres, indústrias e depósitos.  Foi  também  nesta  altura  que  se  começou  a  verificar  uma  separação  de  zonas  por  estratos  sociais:  burgueses  e  proletariado.  As  pessoas  passaram  a  viver  mais  isoladas,  perdendo‐se  gradualmente o sentido de pluralidade social da comunidade.  A  segregação  das  zonas  mais  pobres  levou  a  piores  condições  de  salubridade,  o  que  se  reflectiu  num  quase  abandono  no  cuidado  com  o  espaço  público.  Nos  bairros  operários  a  situação  era  dramática.  O  crescimento  da  cidade  era  de  tal  maneira  rápido  que  não  havia  espaço nem tempo para planear áreas verdes com qualidade e em quantidade suficiente.  No  inicio  do  século  XIX,  o  que  se  verificava  eram  cidades  sem  qualquer  tipo  de  saneamento  básico  e  onde  não  havia  espaços  para  actividades  de  lazer  ao  ar  livre,  favorecendo  a  proliferação de epidemias.  11   .

(30)     Figura 17 – A revolução industrial . As  práticas  mono  funcionalistas,  de  separação  e  segregação  de  funções,  associadas  à  arquitectura e urbanismo do Movimento Moderno, provaram ser um contratempo na arte de  construir  a  cidade.  O  produto  desse  pensamento,  os  complexos  maciços  de  edifícios  de  serviços ou os vastos recintos comerciais, imobilizaram largas áreas da cidade ao encerrarem  ao fim do dia as suas actividades. As praças urbanas mais bem sucedidas, ainda que tenham  uma  função  dominante  pela  qual  são  conhecidas  e  classificadas,  são  na  sua  maioria  aquelas  que asseguram uma forte dinâmica pela diversidade de usos ao longo do dia e da noite.  A noção de urbanismo surge no Século XX e com ela diferentes modos de pensar e desenhar a  cidade.  Segundo  Alexandra  Castro3  foi  nos  anos  60  que  deu  o  abandono  do  espaço  público  devido a uma perspectiva de implantação funcionalista do solo em que “ a forma urbana não  era  gerada  a  partir  da  produção  de  uma  estrutura  de  espaço  público,  tendo  como  resultado  prático  a  existência  de  um  espaço  público  sem  qualidade,  caracterizado  pela  monofuncionalidade, uso fragmentado, zonamento excessivo bem como pela sua forma física  demasiado rígida.”   Todavia,  por  volta  dos  anos  80,  esta maneira  de  pensar  alterou‐se  por  via  do  surgimento  da  concorrência urbana e com ela a necessidade da criação de espaços de excelência rumo a uma  qualidade de vida urbana e um pensamento sustentável da mesma. Assim, passa a ser usual  aplicar‐se  a  noção  de  “nova  cultura  de  cidade”  para  a  nossa  contemporaneidade,  na  qual  o  espaço público se tornou num elemento de competitividade entre as cidades, já que se elevou  o padrão cultural de expectativas e os termos comparativos da qualidade de vida.  3.2.2 O papel do Espaço Público na Cidade  O desenho do espaço público implica o assimilar dos múltiplos propósitos sociais, através de  um desenho que vá ao encontro de objectivos públicos da comunidade. Assumindo que a vida                                                               3.  CASTRO, Alexandra (2002) . 12   .

(31) pública  está  pujante  na  cidade  contemporânea  industrializada,  o  uso  do  espaço  público  constitui  uma  das  medidas  mais  importantes  para  o  seu  êxito.  Tal  como  defende  Fernando  Brandão Alves4 a popularidade de um lugar depende em muita da relação entre a localização,  desenho de pormenor, uso e significado, por outras palavras da construção do seu Genius Loci,  criação de um “lugar”. Ao contrário do espaço físico residual este retoma o valor da memória  colectiva, dando à cidade uma pluralidade de níveis de significado (histórico, económico, ético,  social, psicológico, etc.), que qualificam a par da mudança de rumo proposta pelos padrões de  vida emergente a nova arquitectura da cidade.  Nas actividades que desenvolvemos, o espaço público urbano mais do que um suporte físico  específico  representa  uma  modalidade  de  composição  entre  actividades  e  grupo,  simultaneamente indutor e induzido, exprimindo as relações entre a morfologia dos espaços e  os aspectos sociais e afectivos da vida urbana.  O espaço público, bem como a interacção social que nele tem  lugar, são a razão pela qual a  cidade, enquanto sistema, promove o contacto humano. Nessa medida, as zonas centrais da  cidade  assumem‐se  como  importantes  pólos,  dado  que  proporcionam  a  oportunidade  das  pessoas  se  encontrarem.  Por  isso,  os  espaços  públicos  devem  ser  acessíveis  a  todos,  independentemente  da  idade,  capacidades,  origens  ou  rendimento.  Deste  modo,  o  espaço  público é um mecanismo fundamental para a socialização da vida urbana.   Para garantir a qualidade dos espaços de circulação e espaços de estar é necessário oferecer  condições  favoráveis  para  deambular  e  permanecer  nesses  espaços,  assim  como  condições  para  a  realização  de  diversas  actividades  sociais  e  recreativas.  A  qualidade  dos  espaços  de  encontro  permite  a  interacção  entre  gerações,  classes  sociais  e  diferentes  comunidades.  A  inexistência destes espaços empobrece a cidade e o estilo de vida urbano, sem o convívio dos  cidadãos,  dá‐se  um  isolamento  e  alienação  do  mundo  exterior,  levando  à  exclusão  da  vida  colectiva e à segregação. Mas por outro lado, para que estes tipos de espaço existam na cidade  é  necessário  muito  mais  que  o  convívio  dos  cidadãos.  É  obrigatório  que  sejam  bem  tratados  pelos seus frequentadores, que exista mobiliário urbano adequado a todo o tipo de pessoas,  boa  iluminação  pública,  incentivando  a  permanência  e  usabilidade  dos  cidadãos  nos  espaços  de encontro. .                                                             . 4.  ALVES, Fernando M. Brandão (2003) . 13   .

(32) Os  espaços  públicos  devem  por  isso  ser  planeados  para  que  a  comunidade  se  sinta  pessoalmente responsável pela sua caracterização, fazendo com que cada membro contribua  não só para a definição do que é a sua casa, mas também da rua onde vive ou do seu bairro.   Herman  Hertzberger5  afirma  que:  “Os  espaços  colectivos  das  sociedades  deveriam  ser  administrados  por  entidades  pequenas  e  funcionais,  não  maiores  do  que  as  pessoas  necessárias para as sustentar”. Desta forma cada unidade será utilizada de forma mais eficaz,  sendo mais eficaz a sua gestão. Quanto maior autonomia tiver mais deixa aos seus utilizadores  a  responsabilidade  de  fazerem  dela  o  que  quiserem.  Descentralizar  a  gestão  destes  espaço,  responsabilizando  os  seus  utilizadores  pela  sua  manutenção,  levará  a  um  sentimento  de  pertença e logo de zelo.  A  humanização  é  assim  uma  forma  muito  própria  de  expressar  a  defesa  da  cidade,  sendo  desejável que marque a “produção” e a “vivência” do espaço público. Este deve‐se entender  mais  como  o  resultado  de  um  forte  processo  participativo  onde  se  procurem  acordos  e  convergências, do que gestos individuais isolados.  O facto da gestão e definição dos espaços estar a cargo dos seus utilizadores não implica que  não exista um plano orientador ou uma estrutura global para a coerência da cidade. O plano  de Argel de Le Corbusier é pragmático em relação a este ponto, propondo uma mega‐estrutura   linear  onde  os  seus  habitantes  podem  construir  a  sua  habitação  de  acordo  com  as  suas  aspirações, sendo o resultado um padrão homogéneo e harmonioso, composto pelas escolhas  de cada utilizador.   . Figura 18 – Plano de Argel de Le Corbusier   . Os espaços públicos permitem o encontro de pessoas num terreno aparentemente neutro de  forma  planeada  ou  não  planeada,  para  interacção  com  outros  dentro  do  contexto  de  toda  a                                                               5.  HERTZBERGER, Herman (1999) . 14   .

Imagem

Figura 3 e 4 ‐ Elbe Philharmonic 
Figura 7 e 8 ‐ TEK  Building  
Figura 9 ‐  Museum of Tolerance 

Referências

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