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Cálculo da compensação ambiental de transposição entre bacias utilizando análise de paisagem: estudo de caso na Bacia do rio Jundiaí Mirim/ Calculation of the environmental compensation of inter-basin water transfer using landscape analysis: a case study

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60848-60868 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Cálculo da compensação ambiental de transposição entre bacias utilizando

análise de paisagem: estudo de caso na Bacia do rio Jundiaí Mirim

Calculation of the environmental compensation of inter-basin water transfer

using landscape analysis: a case study in the Jundiaí Mirim River Basin

DOI:10.34117/bjdv6n8-486

Recebimento dos originais: 08/07/2020 Aceitação para publicação:24/08/2020

César de Oliveira Ferreira Silva

Mestre em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Botucatu

Instituição: Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Botucatu

Endereço: Avenida Universitária, n° 3780, Altos do Paraíso, CEP: 18610-034, Botucatu – SP, Brasil

E-mail: cesar.of.silva@unesp.br

Gerson de Araújo de Medeiros

Doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Instituição: Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Sorocaba

Endereço: Avenida Três de Março 511, Bairro Alto da Boa Vista, 18.087-180, Sorocaba, SP, Brasil

E-mail: gerson.medeiros@unesp.br

RESUMO

O Decreto Federal 6.848, de 14 de maio de 2009 regulamenta a compensação ambiental de empreendimentos, todavia abordagens metodológicas para a estimativa de valores monetários necessitam de aprimoramento. O objetivo do presente artigo consistiu na aplicação da metodologia de análise de paisagem para a avaliação de impacto ambiental na área do entorno da transposição do Rio Atibaia na Bacia do Rio Jundiaí-Mirim, visando subsidiar o cálculo do valor da compensação ambiental. A identificação preliminar de impactos (ou triagem) baseou-se em análises espaciais no software ArcGIS 10.4 e análise de paisagem (meios físico, biótico e antrópico) em cinco pontos na bacia, localizada na região de Jundiaí, estado de São Paulo. Os meios físico e biótico apresentaram-se altamente impactados (com criticidade de 88% e 81%, respectivamente), e relevantes problemas na preservação de mata ciliar, selamento e impermeabilização do solo. O meio antrópico (criticidade de 54%) apresentou impactos positivos, pela segurança hídrica e aumento do potencial de diluição de poluentes proporcionados pela transposição fluvial. Considerou-se necessárias ações de gestão ambiental na bacia para mitigação dos impactos negativos, como incentivo às práticas de conservação do solo, terraceamento e recuperação da mata ciliar. A metodologia de Análise da Paisagem sistematiza o cálculo do Índice de Magnitude (IM) do Decreto nº 6.848/09. O custo da transposição inter-bacias foi estimado em R$ 20 milhões em 5 anos de projeto. A ponderação dos impactos ambientais pela análise de paisagem subsidiou o cálculo da compensação ambiental dessa obra atingiu R$ 642.857,14, considerando a legislação brasileira pertinente. Recomenda-se um

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aprofundamento na discussão da metodologia instituída no Decreto Federal nº 6848/2009, por apresentar ambiguidades na sua formulação matemática.

Palavras-chave: Avaliação ambiental, Gestão ambiental, Impacto econômico. ABSTRACT

Federal Decree 6,848, of May 14, 2009 regulates the environmental compensation of projects in Brazil, however methodological approaches for the estimation of monetary values need improvement. The main goal of this article was to apply the landscape analysis methodology to assess the environmental impact in the area surrounding the Atibaia River transfer in the Jundiaí-Mirim River Basin, in order to subsidize the calculation of the environmental compensation value. The preliminary identification of impacts (or screening) was based on spatial analysis in ArcGIS 10.4 software and landscape analysis (physical, biotic and anthropic dimensions) at five points in the basin, located in the region of Jundiaí city, state of São Paulo, Brazil. The physical and biotic dimensions were highly impacted (with criticality of 88% and 81%, respectively), and relevant problems in the preservation of riparian forest, sealing and waterproofing of the soil. The anthropic dimension (criticality of 54%) had positive impacts, due to water security and increased potential for diluting pollutants provided by river transposition. Environmental management actions in the basin were considered necessary to mitigate negative impacts, as an incentive to soil conservation practices, terracing and recovery of riparian forest. The landscape analysis systematizes the calculation of the Magnitude Index (MI) of Federal Decree 6,848. The cost of the inter-basin transfer was estimated at US$ 4 million in 5 years of the project. The weighting of environmental impacts by the landscape analysis supported the calculation of the environmental compensation for this engineering structure reached around US$ 130,000, considering the Brazilian legislation. It is recommended to deepen the discussion of the methodology established in Federal Decree No. 6848/2009, as it presents ambiguities in its mathematical formulation.

Keywords: Environmental assessment, Environmental management, Economic impact.

1 INTRODUÇÃO

A degradação dos recursos naturais causada pelas atividades antrópicas vem se intensificando ao longo das últimas décadas, notadamente em países emergentes, como o Brasil, que tem experimentado um processo acentuado de industrialização e urbanização, além da expansão da fronteira agrícola. Tal cenário levou ao desenvolvimento de novos paradigmas de gestão tanto na abrangência governamental e territorial, quanto na empresarial, como forma de conciliar os interesses políticos, sociais, culturais, econômicos e ambientais da sociedade. Nesse contexto surgiram instrumentos de gestão ambiental, como a avaliação de impacto ambiental (AIA) que realiza um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta e de suas alternativas, desde a escolha do local de implantação do empreendimento, seu projeto e construção, até o início das suas operações.

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No presente trabalho adotou-se o conceito de impacto ambiental preconizado por Wathern (1998), o qual corresponde à mudança em um parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada área, resultante de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada.

Uma técnica de avaliação de impacto ambiental que vem sendo desenvolvida e aprimorada a partir de uma parceria entre o Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba da Universidade Estadual Paulista (UNESP), e o Instituto Agronômico (IAC) é a análise da paisagem (Medeiros et al., 2016, Marques et al. 2020).

Essa abordagem metodológica busca elaborar uma representação gráfica da paisagem em compartimentos e extratos para uma avaliação de forma sistematizada e segmentada, buscando o entendimento da influência de fatores físicos, bióticos e antrópicos na sua dinâmica (Medeiros et al., 2016). Através dos elementos destaque, o potencial de impactos ambientais é avaliado quanto a sua magnitude, intensidade e importância para a gestão ambiental. Tal técnica têm sido aplicada a diferentes situações, como a avaliação de impactos ambientais de bacias hidrográficas (França et al., 2014, Medeiros et al., 2016, Silva & Medeiros, 2017, De Carli et al., 2018) e áreas produtivas do cerrado brasileiro (Marques et al., 2020).

Associado ao impacto ambiental de uma atividade, outra importante análise refere-se ao seu impacto econômico. Nesse viés se insere a compensação ambiental, a qual é baseada no Princípio do Poluidor-Pagador, e que incorpora os impactos ambientais tidos como impossíveis de serem mitigados ao custo total do projeto. Assim, o impacto ambiental, como ressaltado por Faria (2008), perde o caráter ilícito por meio da licença ambiental sem que haja uma desobrigação do causador do impacto do dever para com o dano que tem potencial de causar. Portanto, o conceito de compensação ambiente se vê estritamente ligado ao de impacto ambiental e de sua avaliação.

Uma aplicação dessa avaliação de impacto ambiental e respectiva compensação ambiental refere-se a gestão de bacias hidrográficas, como a Bacia do rio Jundiaí Mirim, na região de Jundiaí, estado de São Paulo. Essa bacia tem uma importância estratégica, pois é responsável por aproximadamente 95% do abastecimento de água do município de Jundiaí (Machado et al., 2019). Esses autores avaliaram o arcabouço jurídico que apoia as políticas ambientais dessa bacia. Apesar de sua abrangência, foi observada uma baixa efetividade jurídica na sua implementação quando os requisitos estabelecidos são confrontados com diagnósticos ambientais existentes, demandando uma maior intervenção do Estado e participação da coletividade visando o efetivo cumprimento das normas (Machado et al. 2019). Os principais impactos ambientais levantados na bacia referem-se à mudança do uso e ocupação do solo sobre a vegetação (França et al., 2014, Fengler et al., 2015a,

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Fengler et al., 2015b, Silva & Medeiros, 2017), e na qualidade da água pela transposição inter-bacias (Beghelli et al., 2015, De Carli et al., 2018, Machado et al., 2018)

A transposição inter-bacias do Atibaia para o Jundiaí Mirim foi iniciada em 1975, para assegurar o abastecimento e a segurança hídrica da cidade de Jundiaí. Portanto, essa obra é anterior à atual legislação ambiental, iniciada em 1981, e não passou pelo procedimento de licenciamento ambiental na época de sua construção. Todavia, segundo a Resolução CONAMA nº 237/97, esse tipo de obra civil está sujeito ao processo de licenciamento ambiental, tornando-a um estudo de caso de interesse para a aplicação do método de Análise de Paisagem.

O Decreto nº 6.484/09, o qual regulamenta o cálculo que embasa o processo de compensação ambiental, não estabelece uma metodologia específica para a definição e valoração de impactos ambientais, sendo assim possível também aplicar o método de Análise Visual de Paisagem para subsidiar essa tomada de decisão.

Considerando a escassez de trabalhos relacionados ao tema, tanto para apoiar políticas públicas quanto normativas legais, o objetivo do presente artigo consistiu na aplicação da metodologia de análise de paisagem para a avaliação de impacto ambiental na área do entorno da transposição do Rio Atibaia na Bacia do Rio Jundiaí-Mirim, visando subsidiar o cálculo do valor da compensação ambiental.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 ANÁLISE PRELIMINAR DA PAISAGEM POR MEIO DE GEOPROCESSAMENTO Iniciou-se pelo levantamento e análise dos dados de uso da terra, altitude, rede de drenagem e limites políticos. As informações foram obtidas junto a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. O processamento das bases cartográficas vetorizadas foi realizado por meio do software ArcGIS 10.4.

Foram feitos procedimentos de quantificação de áreas por categoria de uso da terra, áreas de diferentes faixas de declividade e cruzamentos entre áreas de diferentes classes de uso da terra para verificar inconsistências e conflitos de regularização ambiental.

2.2 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PELA ANÁLISE DA PAISAGEM As variáveis do método de análise de paisagem foram:

Natureza: Indicando quando o impacto apresenta efeitos positivos ou negativos sobre o

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Forma: Indicando como o impacto ambiental é manifestado, se é um impacto direto, decorrente de

uma ação do empreendimento, ou se é um impacto indireto, decorrente de um ou mais impactos gerados diretamente ou indiretamente;

Severidade: Indicando o grau de intensidade do impacto ambiental sobre diferentes fatores

ambientais. A severidade pode ser alta, média ou baixa, à medida que o impacto ambiental apresenta maior ou menor influência sobre o conjunto da qualidade ambiental local;

Magnitude: Indica se os efeitos dos impactos se apresentam no interior do empreendimento,

localmente (na microbacia hidrográfica em que se localiza o empreendimento) ou se podem afetar áreas geográficas mais abrangentes (municípios e estados);

Ocorrência: Indica o período de tempo em que são manifestados os efeitos dos impactos

ambientais, dividindo os impactos em cotidianos, onde sempre que o aspecto ambiental está presente o impacto se manifesta; e temporários, quando os efeitos manifestam-se durante um período de tempo determinado.

Reversibilidade: Classifica os impactos em irreversíveis, parcialmente reversíveis ou

reversíveis, após a manifestação de seus efeitos. Permite identificar que impactos poderão ser integralmente evitados ou poderão apenas ser mitigados ou compensados;

Significância: A significância representa a relevância do impacto ambiental classificada de

acordo com a combinação de todas as características do impacto ambiental, como a sua natureza, forma, severidade, abrangência, ocorrência e reversibilidade.

Para essa etapa da análise da paisagem procedeu-se ao levantamento de dados primários, por meio de visitas de campo. Nesse levantamento, escolheu-se um local com boa visualização num raio de 180° para selecionar os elementos de destaque, conforme metodologia descrita em Medeiros et al. (2016). Além do processo perceptivo (impressões visuais, olfativa, sonora) fez-se um levantamento fotográfico para posterior análise dos impactos ambientais, danos ambientais e elementos de destaque.

A partir dos impactos ambientais identificados, realizou-se uma avaliação considerando os meios Físico, Biótico e Antrópico, definidos da seguinte forma (Medeiros et al., 2016):

Meio antrópico: corresponde à intervenção do homem na paisagem, como a presença de

construções, estradas, atividades ligadas à agricultura e pecuária, ocupação do solo, etc.

Meio físico: corresponde aos recursos naturais como o solo, relevo, água e o ar.

Meio biótico: corresponde à diversidade biológica (fauna e flora), áreas de preservação permanente,

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A significância de cada impacto, para cada meio, foi classificada quanto à sua natureza (positivos ou negativos), forma (em diretos ou indiretos) e posteriormente quanto à sua severidade, a partir da Tabela 1.

Tabela 1. Critérios para classificação da severidade dos impactos ambientais.

Severidade Descrição Pontuação

Baixa Danos pouco significativos aos componentes ambientais 1

Média Danos médios aos componentes ambientais 2

Alta Danos altamente significativos aos componentes ambientais 3

A magnitude dos impactos foi classificada por meio dos critérios apresentados na Tabela 2:

Tabela 2. Critérios para classificação da magnitude dos impactos ambientais.

Ocorrência Descrição Pontuação

Pontual Na área local da atividade 1

Local Na região de influência da atividade (encosta, sub bacia hidrográfica)

2

Regional Limites municipais/Bacias hidrográficas 3

A forma de valoração da ocorrência seguiu os critérios apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Critérios para classificação da ocorrência dos impactos ambientais.

Ocorrência Descrição Pontuação

Rara Pode ocorrer em períodos superiores há um ano 1

Eventual Pode ocorrer em períodos entre uma semana e um ano 2

Cotidiano Ocorre sempre que a atividade é realizada 3

A Tabela 4 apresenta os critérios utilizados para a classificação da reversibilidade dos impactos ambientais. A partir da somatória da pontuação da severidade, magnitude, ocorrência, detecção prévia e reversibilidade foi possível valorar a importância do impacto, determinando sua significância (Tabela 5).

Os impactos de alta significância foram considerados muito críticos; quanto à intervenção, os impactos de moderada significância, críticos e os de baixa significância, pouco críticos.

A significância foi posteriormente convertida para valores discretos, conforme a Tabela 6.

Tabela 4: Critérios para classificação da reversibilidade dos impactos ambientais.

Reversibilidade Descrição Pontuação

Reversível Possibilidade de reversão do impacto ambiental a um baixo custo e curto período de tempo

1 Parcialmente

reversível

Há possibilidade de retorno ao estado original, porém com alto custo e/ou longo período de tempo

2

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Tabela 5. Critérios para valoração da significância dos impactos ambientais.

Pontuação Significância Interpretação

0 – 7 Baixa Pouco Crítica

8 – 9 Média Crítica

10 – 12 Alta Muito Crítica

Tabela 6. Critérios para valoração da significância dos impactos ambientais.

Pontuação Significância Valores

0 – 7 Baixa 3

8 – 9 Média 2

10 – 12 Alta 0

Para cada ponto avaliado no campo, calculou-se o seu valor crítico para mitigação conforme a Equação 1. Essa equação permite estimar a criticidade de intervenção em cada local avaliado, baseada na quantidade de impactos ambientais negativos e sua significância. O valor crítico, em cada ponto, varia entre os limites de 0% (não crítico) a 100% (extremamente crítico).

Em que, Vcm corresponde ao valor crítico para mitigação (%); Σno representa a soma dos valores obtidos na ponderação de todos os impactos no ponto avaliado; Σnmáx representa o máximo dos valores da ponderação de todos os impactos no ponto avaliado.

Após o cálculo para toda malha amostral, os valores atribuídos a cada ponto permitiram estabelecer a urgência de ações, ou a situação do local em análise frente aos impactos ambientais negativos, ou positivos, identificados.

2.3 CÁLCULO DA COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

A valoração completa dos impactos ambientais do empreendimento, pelo método da Análise Visual de Paisagem, foi utilizada como um subsídio para a valoração dos índices previstos no Decreto nº 6.848/09. De acordo com o texto no Anexo do Decreto nº 6.848/09, o Grau de Impacto (GI) deve ser calculado pela equação 2:

Em que GI representa o Grau de Impacto (%), ISB o Impacto sobre a Biodiversidade (%), CAP o Comprometimento de Área Prioritária (%); e IUC a Influência em Unidades de Conservação (%).

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O ISB contabiliza os impactos ocorridos diretamente sobre a biodiversidade na área de influência direta e indireta. A amplitude de variação desse parâmetro é de 0 e 0,25%. Ressalta-se que os impactos diretos sobre a biodiversidade que não estejam na área de influência direta e indireta não devem ser contabilizados. Seu cálculo se processa da seguinte forma:

Em que ISB representa o Impacto sobre a Biodiversidade (%), IM o Índice de Magnitude (adimensional), IB o Índice de Biodiversidade (adimensional), IA o Índice de Abrangência (adimensional), IT o Índice de Temporalidade (adimensional)

O valor de IA varia de 1 a 4, conforme a Tabela 7, o qual depende da extensão espacial dos impactos negativos sobre os recursos ambientais.

Tabela 7. Valor do Índice de Abrangência

Valor

Empreendimentos terrestres, fluviais e lacustres

Empreendimentos marítimos ou localizados concomitantemente nas faixas terrestres e marítima da zona costeira

Empreendimentos marítimos (profundidade em relação à lâmina d’água)

1 Impactos limitados à área de uma microbacia

Impactos limitados a um raio de 5 km

Profundidade maior ou igual a 200 metros 2

Impactos que ultrapassem a área de uma microbacia e limitados à área de uma bacia de 3ª ordem

Impactos limitados a um raio de 10 km

Profundidade inferior a 200 e superior a 100 metros

3

Impactos que ultrapassem a área de uma bacia de 3ª ordem e limitados à área de uma bacia de 1ª ordem

Impactos limitados a um raio de 50 km

Profundidade igual ou inferior a 100 metros e superior a 50 metros 4

Impactos que ultrapassem a área de uma bacia de 1ª ordem

Impactos que ultrapassem o raio de 50 km

Profundidade inferior ou igual a 50 metros

Neste trecho encontra-se uma dificuldade em relação à clareza do termo Área de Influência Indireta (AII), já que o texto não esclarece quais áreas de influência deverão ser consideradas; no caso, se devemos considerar apenas os meios físico e biótico, ou se além desses também devemos incluir o meio antrópico.

A inclusão do meio antrópico torna-se um obstáculo pela possibilidade da definição de sua abrangência ter pouca chance de ser prevista. Geralmente considera-se a AII do meio antrópico como a macrorregião na qual está prevista a implantação do empreendimento.

Neste escopo pode-se citar os impactos da geração de empregos indiretos, geração de tributos, aquecimento de setores da economia, dentre outros. Nota-se que dificilmente deixa-se de atribuir outro valor além do máximo, porém isso pode distorcer a avaliação em relação ao

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comprometimento dos recursos ambientais no meio físico e biótico. Assim, cabe ao analista equalizar e balancear essa avaliação de forma a tornar o resultado consistente e coerente.

O IB busca avaliar o estado de comprometimento da biodiversidade na situação prévia à implantação do empreendimento e pode variar de 0 a 3, conforme a Tabela 8.

Tabela 8. Valor do Índice de Biodiversidade

Valor Atributo

0 Biodiversidade se encontra muito comprometida 1 Biodiversidade se encontra mediamente comprometida 2 Biodiversidade se encontra pouco comprometida

3 Área de trânsito ou reprodução de espécies consideradas endêmicas ou ameaçadas de extinção

O IT se refere à resiliência do ambiente ou bioma em que se insere o empreendimento, variando de 1 a 4, conforme a Tabela 9, e. Busca avaliar a persistência dos impactos negativos do empreendimento, considerando o tempo necessário para que a área de implantação retorne ao seu estado prévio.

Tabela 9. Valor do Índice de Temporalidade

Valor Atributo

1 Imediata: até 5 anos após a instalação do empreendimento

2 Curta: superior a 5 e até 15 anos após a instalação do empreendimento 3 Média: superior a 15 e até 30 anos após a instalação do empreendimento 4 Longa: superior a 30 anos após a instalação do empreendimento

O IM avalia a existência e a relevância dos impactos ambientais concomitantemente significativos e negativos sobre os aspectos ambientais associados ao empreendimento, analisados de forma integrada, variando de 0 a 3, conforme a Tabela 10,

Nesse tópico, o cálculo da compensação ambiental foi ligado à avaliação de impactos ambientais de forma determinística ao serem definidas classes de criticidade para cada valor de Índice de Magnitude, a saber: de 0 a 30% do valor máximo: Pequena Magnitude (sendo o intervalo entre 0 e 5% indicando a Ausência de Impacto Ambiental Significativo); de 30 a 70% do valor máximo: Média Magnitude; e de 70 a 100% do valor máximo: Alta Magnitude.

Tabela 10. Valor do Índice de Magnitude

Valor Atributo

0 Ausência de impacto significativo negativo

1 Pequena magnitude do impacto ambiental negativo em relação ao comprometimento dos recursos ambientais

2 Média magnitude do impacto ambiental negativo em relação ao comprometimento dos recursos ambientais

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O CAP, cujo valor varia de 0 a 0,25%, contabiliza efeitos do empreendimento na área onde será inserida. Ele relaciona a significância de impactos na área de implantação. O CAP é calculado pela equação 4:

Em que CAP o Comprometimento de Área Prioritária (%), IM o Índice de Magnitude (adimensional), ICAP o Índice de Comprometimento de Área Prioritária (adimensional), IT o Índice de Temporalidade (adimensional)

O ICAP avalia o comprometimento sobre a integridade de parte significativa da área prioritária impactada pela implantação do empreendimento, assumindo valores de 0 a 3, conforme a Tabela 11, extraída da Portaria MMA nº 9, de 23 de janeiro de 2007 (MMA, 2007).

Tabela 11. Valor do Índice de Comprometimento de Áreas Prioritárias

Valor Atributo

0 Inexistência de impactos sobre áreas prioritárias ou impactos em áreas prioritárias totalmente sobrepostas a unidades de conservação

1 Impactos que afetem áreas de importância biológica alta 2 Impactos que afetem áreas de importância biológica muito alta

3 Impactos que afetem áreas de importância biológica extremamente alta ou classificadas como insuficientemente conhecidas

A Influência em Unidades de Conservação (IUC) é um índice que avalia o impacto do empreendimento sobre as unidades de conservação ou suas zonas de amortecimento, sendo seus valores considerados cumulativamente desde 0 a até o valor máximo de 0,15%, como visto a seguir (BRASIL, 2009):

G1: parque (nacional, estadual e municipal), reserva biológica, estação ecológica, refúgio de vida silvestre e monumento natural = 0,15%;

G2: florestas (nacionais e estaduais) e reservas de fauna = 0,10%;

G3: reserva extrativista e reserva de desenvolvimento sustentável = 0,10%;

G4: área de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico e reservas particulares do patrimônio natural = 0,10%;

G5: zonas de amortecimento de unidades de conservação = 0,05%.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ANÁLISE PRELIMINAR DA PAISAGEM POR MEIO DE GEOPROCESSAMENTO

As informações espaciais da Secretaria do Meio Ambiente (SMA, 2020), permitiram quantificar as classes de uso da terra da bacia do Rio Jundiai-Mirim, no ano de 2013 (Figura 1).

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Predomina nessa bacia as áreas de Mata (Cerrado, Mata Atlântica e ecótonos) (8745 ha); seguido de Pastagem (5121 ha); Edificações e loteamentos (3131 ha); Reflorestamento (1023 ha); Agricultura (1009 ha); Áreas de Proteção Permanente (APP) (702 ha); Solo exposto e pasto sujo (387 ha)

Figura 1. Uso da Terra na bacia do Jundiaí-Mirim e localização dos Pontos de Análise

A análise da Figura 1 permitiu constatar 143 ha de solo exposto em APP das margens de rios, ou seja, 46% das APP de margens de rios estavam degradadas. Em síntese, existiam 88 hectares de APP registradas como mata (28%) e o restante era ocupado por edificações (15%) incluindo ruas, e agricultura (11%). Além disso, a APP das nascentes apresentava 12 ha de solo exposto, totalizando 155 hectares de solo exposto em APP tanto fluvial como de nascentes. Portanto, a bacia apresentava problemas de preservação ambiental no âmbito da produção de água, já que as margens fluviais se encontravam desprotegidas em quase metade de seu comprimento.

A bacia do rio Jundiaí Mirim tem uma declividade máxima 37º, não havendo assim regiões de APP condicionadas pela declividade (maior ou igual a 45º). As áreas de solo exposto se concentram em áreas de baixa declividade e as de maior declividade são vegetadas, o que indica menor possibilidade de ocorrência de desmoronamentos de encostas.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60848-60868 aug. 2020. ISSN 2525-8761 3.2 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PELA ANÁLISE DA PAISAGEM

Os elementos de destaque comuns aos cinco pontos de observação, para realizar a análise de paisagem, estão expostos na Tabela 12.

Tabela 12. Elementos de destaque usados para avaliação dos meios físico, biótico e antrópico

Elemento de Destaque Descrição

M e io F ís ic o

Processo Erosivo Evidência de erosão laminar, sulcos, ravinas e voçorocas. Presença de solapamento de margem

Deposição de Sedimentos Acumulação de sedimentos transportados de pontos mais altos da bacia.

Impermeabilização de Superfície Redução da infiltração pela acumulação de partículas de granulometria fina na superfície.

Risco de Escoamento Superficial Vulnerabilidade ambiental da paisagem geomorfológica. Vulnerabilidade de Margens Potencial de degradação das margens.

M e io Bi ó ti c o

Diversidade Vegetal Presença de espécies arbóreas e arbustivas nativas. Densidade Vegetal Fragmentos florestais combinadas com diversidade. Indicadores de Regeneração Natural Resiliência ambiental.

Contaminação Biológica Presença de espécies exóticas e agressivas.

Cobertura Do Solo Áreas vegetadas.

Presença De Fauna Presença de insetos, pássaros e mamíferos.

M e io A nt ró pi c o

Uso da Terra Ocupação antrópica do solo, como agricultura, ambiente urbano, mineração e indústria.

Potencial de Espalhamento de Contaminação

Risco de contaminação por poluentes de difícil detecção, fatores topográficos e ocupação inadequada do solo. Práticas de Conservação do Solo Presença de práticas de conservação do solo, como terraços,

aceiros, etc.

Impactos de Fronteira Presença antrópica na vizinhança de fragmentos florestais. Impactos na Demografia Segurança Hídrica

Condições de Estradas Qualidade das estradas, presença de erosão e sulcos.

A Tabela 13 apresenta os resultados de valoração dos impactos e significância na bacia do rio Jundiaí Mirim, nos cinco locais avaliados, por meio da técnica de análise da paisagem. As Figuras 2 e 3 expõem o uso da terra e fotografias dos pontos de análise.

Tabela 13. Valoração da Análise de Paisagem nos pontos de análises

Elemento de Destaque P1 S1 P2 S2 P3 S3 P4 S4 P5 S5 M e io F ís ic o Processo Erosivo 10 A 10 M 10 A 10 A 10 A Deposição de Sedimentos 10 A 10 M 10 A 10 A 10 A Impermeabilização de Superfície 10 A 10 A 10 A 10 A 10 A Risco de Escoamento Superficial 10 A 10 A 10 A 10 A 10 A

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60848-60868 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Vulnerabilidade de Margens 8 M 10 B 9 M 7 B 9 M M e io Bi ó ti c o Diversidade Vegetal 10 A 8 M 10 A 10 A 10 A Densidade Vegetal 8 M 9 M 8 M 7 B 10 A

Indicadores de Regeneração Natural 9 M 10 A 10 A 10 A 10 A

Contaminação Biológica 10 A 10 A 10 A 10 A 10 A Cobertura Do Solo 10 A 9 M 9 M 10 A 10 A Presença De Fauna 10 A 10 A 10 A 10 A 10 A M e io A nt ró pi c o Uso da Terra 10 A 8 M 8 M 8 M 10 A Potencial de Espalhamento de Contaminação 10 A 9 M 9 M 9 M 10 A

Práticas de Conservação do Solo 9 M 9 M 9 M 9 M 10 A

Impactos de Fronteira 9 M 8 M 8 M 8 M 10 A

Impactos na Demografia 9 M 7 B 9 M 7 B 9 M

Condições de Estradas 10 A 10 A 10 A 10 A 10 A

P: relativo a valoração do elemento de destaque no ponto avaliado; S: nível de significância no ponto avaliado, podendo ser alta (A), média (M) ou baixa (B)

O ponto 1 (Figura 2-P1) correspondeu ao local de descarga da adutora da transposição. Nesse local, percebeu-se sulcos e princípios de ravinas, causadas pelo trânsito de máquinas agrícolas, pois na vizinhança havia uma floresta de eucaliptos. Esses elementos de destaque, indicativos de baixa qualidade no meio físico, evidenciam o selamento superficial do solo e a formação de processos erosivos, pela redução na capacidade de infiltração pela atividade agrícola, demandando formação de recursos humanos alinhados com a conservação ambiental dessa atividade (De Nadai et al., 2019)

O meio físico apresentou altos impactos, com exceção da vulnerabilidade das margens, classificada como médio impacto, pela vegetação protegendo-as. O meio biótico se apresentava contaminado, pela plantação de eucaliptos e pela abundância de espécies exóticas, como a braquiária (Brachiaria decumbens). A fauna não foi percebida visualmente nem por sinais sonoros.

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Figura 2. Localização e imagem dos pontos de observação P1 e P2 da análise da paisagem na bacia do rio Jundiaí Mirim.

Nesse meio há possibilidade de reversão dos impactos causados pela floresta plantada, como a construção de corredores ecológicos, além de uma relativa abundância arbustiva, mesmo sem diversidade. Trata-se de um local isolado de áreas antrópicas, inclusive da estrada, sendo o principal impacto no meio antrópico a segurança hídrica proporcionada pela transposição fluvial.

O segundo ponto (Figura 2-P2) era próximo de duas obras civis: uma estrada e uma ponte. Nesse local foi percebido solo exposto nas margens, o que exigiu a construção de gabiões para diminuir a deposição de sedimentos e aumentar a estabilidade das margens. Um tubo de drenagem na estrada é uma fonte pontual de poluição hídrica, pelo lançamento do escoamento da estrada, o qual carreia resíduos de óleo de automóveis, conforme observado por De Carli et al. (2018). Era perceptível a ocorrência de contaminação biológica pela presença de cipós e bambuzais. Porém, a jusante desse ponto de observação, havia uma maior diversidade arbórea e arbustiva. Nesse local, também não foi notada a presença de fauna. O principal impacto antrópico observado foi a presença

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da estrada, com vestígios da passagem dos carros, como marcas de pneu e resíduos sólidos, apesar desse ponto estar afastado da área urbana.

No terceiro ponto (Figura 3-P3), o seu entorno era ocupado por um restaurante, por ruínas de um antigo moinho e residências.

Figura 3. Localização e fotografia dos pontos P3, P4 e P5 de observação da análise da paisagem na bacia do rio Jundiaí Mirim.

Havia pequenos trechos de solo exposto às margens, porém a maior parte da área era coberta por gramíneas. Existiam indícios de enchentes na área, pelas marcas nas paredes das construções próximas às margens. Os pequenos trechos de solo exposto nas margens também indicam a ocorrência de cheias na área alagadiça.

Os caminhos de pedestres e motocicletas, o estacionamento e as trilhas do restaurante são fatores de selamento e compactação do solo. Nas margens também há solapamentos e afloramento de raízes de espécies arbóreas, com visível contaminação biológica por bambuzais e plantas ornamentais pertencentes ao paisagismo do restaurante. A presença de espécies exóticas interfere na regeneração da vegetação nativa, pela ação dos jardineiros do restaurante. Fengler et al. (2015b)

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observaram uma tendência de supressão e degradação da mata ciliar na bacia do rio Jundiaí Mirim, corroborando a presente avaliação.

A fauna percebida de patos, gansos e marrecos e animais domésticos justificam a presença de ração observada nas margens. O restaurante também promove um maior fluxo de pessoas nessa região, principalmente em horário de almoço e finais de semana, justificando a maior quantidade de resíduos sólidos nas cercanias desse ponto de observação. Essa circulação de pessoas potencializa a contaminação das águas por conta dos carros, da produção na cozinha do restaurante, por vazamentos de óleo e rejeitos orgânicos, conforme pode ser percebido pelo odor da água. De Carli et al. (2018) e Beghelli et al. (2015) observaram indicadores de lançamento de esgoto ao longo do rio Jundiaí Mirim, por meio de análises de qualidade da água.

O quarto ponto (Figura 3-P4) encontra-se próximo a uma estrada e tem trilhas por dentro da mata fechada, que podem ser consideradas sulcos e princípios de ravinas, tornando-se caminhos preferenciais em eventos de alta precipitação. O solo da margem é densamente coberto, o que torna a margem protegida. Todavia, percebeu-se vários pontos de deposição de sedimentos e de solo exposto, formando clareiras e caminhos preferenciais no entrono das trilhas. Apesar da alta densidade de plantas, não há diversidade, pelo predomínio de braquiária, cipós e ervas daninhas. A proximidade com a estrada indica a possibilidade de impactos antrópicos transitórios, pela passagem de carros. Levando em conta a maior densidade e cobertura vegetal, esse parece ser o principal motivo da presença de lixo difuso, oculto no meio da vegetação.

De todos os locais observados, o quinto ponto (próximo a P3) foi o mais antropizado (Figura 3-P5). Nele não há qualquer vestígio aparente de vegetação nativa ou solo não pavimentado ou alterado. A passagem do canal do rio, entre o reservatório de jusante e aquele no qual se localiza a estação de tratamento de água (ETA), era em parte canalizada e cimentada e em parte aberta, com margens em estágio avançado de degradação.

Nesse ponto, a água apresentou-se visualmente turva e se observou a presença de depósitos de sedimentos. Na própria margem havia sulcos e caminhos preferenciais para enxurradas, causadas pela drenagem da estrada. A vegetação era rara, com exceção de gramíneas e braquiária. Não havia qualquer vestígio de vegetação nativa ou fauna. O impacto antrópico também foi considerado muito alto, já que toda área estava alterada.

A Tabela 14 apresenta os valores de criticidade, os quais variam de um mínimo de 0% até um máximo de 100%. O principal meio impactado dentre os pontos analisados na bacia foi o meio físico, que apresentou alta criticidade. O meio biológico foi fortemente impactado pela contaminação biológica e pouca diversidade botânica, além da inexistência de fauna nos pontos

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observados, sendo esses impactos atenuados pela alta densidade vegetal em alguns pontos, mesmo com pouco diversidade. O meio antrópico teve criticidade alta, porém relativamente menor quando comparado aos meios físicos e biótico. Isso ocorreu pelos pontos estarem localizados no meio rural e periurbano, além do fato da transposição ter o impacto positivo da segurança hídrica, causando uma atenuação nos impactos negativos.

Tabela 14. Valores de Criticidade da Bacia do Jundiaí-Mirim.

Meio P1 (%) P2 (%) P3 (%) P4 (%) P5 (%) MÉDIA (%)

Físico 87 100 87 80 87 88

Biótico 78 67 78 83 100 81

Antrópico 67 39 39 39 89 54

3.3 CÁLCULO DA COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

Para o cálculo do montante de compensação ambiental foi elaborado um Inventário de um Projeto de Transposição Fluvial, o qual baseou uma simulação da magnitude dos investimentos de uma obra construída nos anos 1970 para os anos 2020. O primeiro obstáculo que se apresenta nessa etapa é a discrepância tecnológica e monetária entre a época de construção da transposição e os dias atuais.

Um segundo obstáculo refere-se a conceitos mais gerais do projeto em si, como o fato de inicialmente a transposição ter sido inaugurada sem as duas barragens (o reservatório de acumulação e a represa intermediária a montante da ETA). Tais obras elevaram consideravelmente o custo total do projeto. Para superar esses dois obstáculos, foi necessário examinar projetos similares de transposições e reservatórios para definir as variáveis antes de realizar a estimativa financeira.

Considerou-se então as variáveis de um projeto contemporâneo, com as tecnologias e facilidades atuais, já que há uma maior documentação desses itens em termos de preços de projeto e quantificação de necessidade média, a saber: 1) Levantamentos de campo (topográficos, geológicos e geotécnicos, hidrológicos e ambientais), 2) Estudos Básicos (topográficos, geológicos e geotécnicos, hidrológicos e ambientais), 3) Projeto de obras civis (barragem/vertedouro, canal/adutora e conduto forçado/casa de bombas), 4) Projeto Hidráulico (equipamentos hidráulicos, determinação da potência e necessidades da bomba) e 5) Custos de Procedimentos Legais (outorga de água). Dentre os estudos ambientais, estão inclusas as análises da qualidade da água para garantir que não ocorra corrosão das tubulações pelas características físico-químicas da água. Outra variável que não existia na época original de construção da transposição era o procedimento legal de outorga de vazão fluvial. O procedimento de licenciamento por si só tem custo simbólico, o que dispende maiores custos é o estudo numérico necessário para avaliar a vazão ambientalmente adequada a ser

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outorgada. Isso cabe ao órgão regulador, já que é necessário verificar as vazões já outorgadas e liberar novas vazões apenas se o somatório das mesmas respeitarem o limite máximo de retirada igual à metade da menor vazão registrada na série histórica durante 7 dias consecutivos e dez anos de período de retorno (Q7,10), de acordo com o Decreto Estadual nº 32.955, de 07.02.91.

Utilizando a Tabela de Preços para Engenharia Consultiva (SABESP, 2015), foi listada uma relação básica de itens necessários para um projeto hidráulico de transposição fluvial em seus valores unitários. Levando-se em conta, nessa estimativa, a demanda necessária estimada de recursos humanos, construção de canais, casas de bomba, instalação de bombas, canalização de vias, retificação de taludes obteve-se um custo total de R$ 20 milhões, para um prazo de realização de 5 anos. Em Silva (2017) são apresentadas as relações completas de variáveis levantadas e seus preços unitários nos Anexos 6 e 7.

Com esse montante estimado, foram calculados os índices apresentados no item 2.3. Segundo Silva & Medeiros (2017), a bacia do Jundiai-Mirim é de primeira ordem, assim o valor 3 foi estipulado para o Índice de Abrangência (em consonância com as opções da Tabela 7). Como o meio biótico sofre alto impacto, é dado o valor nulo ao índice de Biodiversidade (em consonância com as opções da Tabela 8). Essa metodologia para avaliar o meio biótico é passível de maiores discussões, afinal, com a atribuição do valor decrescente a medida que o impacto no meio biótico aumenta (conforme tabela 8). Portanto, se houver impacto muito baixo, é atribuído o valor 3, que torna a porcentagem de impacto na Biodiversidade maior, enquanto um impacto muito alto anula esse fator.

Em outras palavras, pela metodologia da legislação, quanto maior o impacto causado ao meio biológico, menor o custo de compensação ambiental. Foi dado o valor 3 ao índice de Temporalidade (em consonância com as opções da Tabela 9) pois é considerado um impacto a médio prazo. Como os meios físico e biótico obtiveram criticidade maior que 80% (como exposto na Tabela 14), considera-se o impacto de alta magnitude, assim é computado o valor 3 para o índice de Magnitude (em consonância com as opções da Tabela 10). A influência em áreas de conservação (Tabela 11) tem valor máximo pois há a reserva biológica da Serra do Japi ao sudeste da microbacia do Jundiai-Mirim. O grau de impacto (em valor decimal) foi multiplicado pelo montante estimado para a transposição fluvial (de R$ 20 milhões) para se obter o montante a ser pago como compensação ambiental.

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Tabela 17: Valoração das variáveis da compensação ambiental

Variável Valor absoluto ou porcentagem

Índice de Magnitude 3

Índice de Biodiversidade 0

Índice de Abrangência 3

Índice de Temporalidade 3

Impacto sobre a Biodiversidade (Equação 3) 0%

Índice de Comprometimento sobre Áreas Prioritárias 3

Comprometimento sobre Áreas Prioritárias (Equação 4) 0,17%

Influência em Unidades de Conservação 0,15%

Grau de Impacto (Equação 2) 0,32%

Montante de Compensação Ambiental R$ 642 857,14

Esse montante seria destinado ao IBAMA para ser revertido em investimentos em Unidades de Conservação já existentes.

Analisando criticamente o método oficial, há ambiguidades na sua formulação matemática. O Índice de Biodiversidade valora os impactos de forma incorreta, dando o mínimo valor ao máximo impacto. Com isso, no caso de alto impacto sobre o meio biótico a fórmula resulta em valor nulo (gerando menor valor de compensação ambiental para altos impactos na biodiversidade). Outra ambiguidade é que todas as fórmulas que deveriam resultar em valores percentuais não são coerentes, resultando simplesmente em valores numéricos que precisam ser ajustados para poderem ser considerados percentuais.

4 CONCLUSÕES

Quanto à avaliação crítica dos aspectos técnicos da Análise de Paisagem, cabe ressaltar que a existência de subjetividade é intrínseca a qualquer procedimento de valoração de impactos ambientais, uma vez que as ciências ambientais não são exatas e que os estudos de base da Avaliação de Impacto Ambiental precedem a ocorrência real dos impactos, tratando-se assim de uma criação de cenários da qualidade ambiental futura da área de estudo.

Cabe ressaltar que a metodologia de Análise da Paisagem, mesmo envolvendo uma carga subjetiva, sistematiza o cálculo do Índice de Magnitude (IM) do Decreto nº 6.848/09, que, a priori, seria definido pelo órgão ambiental, acrescentando nova carga subjetiva, conectando assim a metodologia de AIA e a confecção do EIA com o cálculo do Grau de Impacto que irá determinar a necessidade de fazer uma ação de Compensação Ambiental. O inventário da transposição carrega grande desvio por usar estimativas baseadas na escassa literatura disponível, porém é suficiente para um cálculo aproximado e um estudo das necessidades técnicas de um projeto hidráulico de desdobramentos político, social, econômico e ambiental.

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A bacia apresenta fragilidades ambientais que necessitam medidas urgentes e eficazes quanto à manutenção da produção de água e da qualidade ambiental do solo, fauna e flora. As análises por meio de Sistemas de Informação Geográfica mostraram grande potencial, tendo como único empecilho a escassez de dados disponíveis publicamente.

Por fim, percebe-se que a metodologia proposta no Decreto nº 6.848/09 contêm ambiguidades técnicas (quanto à valoração do Índice de Biodiversidade e a destinação do montante arrecadado), porém é um avanço que pode, dialeticamente, ser aprimorado e transformar-se em uma potente ferramenta na busca por um meio ambiente sustentável.

REFERÊNCIAS

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De Carli, B.P., Souza, J.C., Sousa, J.A.P., Shoegima, T.F., Romero Barreiro, M.P., Dutra, A.C., Medeiros, G.A., Ribeiro, A.I., Bressane, A. Relationship between land use and water quality in a subtropical river basin. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, v.7, n.3, p.245-261, 2018.

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Imagem

Tabela 4: Critérios para classificação da reversibilidade dos impactos ambientais.
Tabela 5. Critérios para valoração da significância dos impactos ambientais.
Figura 1. Uso da Terra na bacia do Jundiaí-Mirim e localização dos Pontos de Análise
Tabela 12. Elementos de destaque usados para avaliação dos meios físico, biótico e antrópico
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