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Prevalência de fatores de risco de suicídio em uma população de idosos no sul de Santa Catarina: Um estudo de base populacional / Prevalence of suicide risk factors in an elderly population in south Santa Catarina: A population-based study

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Prevalência de fatores de risco de suicídio em uma população de idosos no sul

de Santa Catarina: Um estudo de base populacional

Prevalence of suicide risk factors in an elderly population in south Santa

Catarina: A population-based study

DOI:10.34117/bjdv5n12-155

Recebimento dos originais: 07/10/2019 Aceitação para publicação: 11/12/2019

Zuleide Maria Ignácio

Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó, SC Endereço: Rodovia SC 484 - Km 02, Fronteira Sul, Chapecó, SC – CEP: 89815-899

E-mail: zuleideignacio@gmail.com

João Paulo Behenck

Graduando em Biomedicina pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade do Extremo Sul Catatinense – UNESC Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC

CEP: 88806-000.

E-mail: joaobehenck@hotmail.com

Talita Reis Cortez

Graduada em Medicina pela Universidade do Sul de Santa Catarina Instituição: Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL

Endereço: Rua Carlos Gomes, nº 318, Revoredo, Tubarão, SC – CEP: 88704-520 E-mail: talitareiscortez@hotmail.com

Amanda Gollo Bertollo

Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul Instituição: Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, Campus Chapecó, SC Endereço: Rodovia SC 484 - Km 02, Fronteira Sul, Chapecó, SC – CEP: 89815-899

E-mail: amandagollo@gmail.com

Luciano Kurtz Jornada

Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC

CEP: 88806-000

E-mail: lucianojornada@globo.com

Renan Antonio Ceretta

Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC

CEP: 88806-000 E-mail: rce@unesc.net

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Luciane Bisognin Ceretta

Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC

CEP: 88806-000

E-mail: lucianeceretta@unesc.net

João Luciano de Quevedo

Doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela Universidade Federal do Rio Brande do Sul Instituição1: Universidade do Extremo Sul Catarinense

Instituição 2: The University of Texas, Health Science Center, Medical School, Center for Translational Psychiatry, Department of Psychiatry and Behavioral Sciences Houston, Texas, USA.

Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC CEP: 88806-000

E-mail: Joao.L.DeQuevedo@uth.tmc.edu

Gislaine Zilli Réus

Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense Instituição: Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC Endereço: Av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma, SC

CEP: 88806-000

RESUMO

A idade da população vem aumentando de forma relevante no mundo e no Brasil. Com o aumento da idade da população, aumentam também as preocupações e cuidados com relação aos riscos de suicídio, associados a fatores biopsicossociais envolvidos no avanço da idade. Este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência do risco de suicídio em uma população entre 60 e 79 anos. Método: Estudo transversal com base de dados populacionais, que avaliou 1.021 idosos. Foram realizadas entrevistas domiciliares com a versão em português do Mini International Neropsychiatric Interview (MINI), bem como coleta de dados sociodemográficos e clínicos. O risco foi classificado em ausente ou presente, e ainda em leve, moderado ou grave. Resultados: O risco de suicídio foi classificado como presente em 26 indivíduos (2,5% da amostra), 22 tinham risco leve e 4 foram classificados como risco moderado. A média de idade dos pacientes que apresentavam risco de suicídio foi superior ao dos que não apresentavam. Os fatores de risco encontrados foram não ter companheiro, transtorno de humor, ex-tabagista, comparado com quem nunca fumou, sendo que o tabagismo atual não foi fator de risco. Não tiveram associação com risco de suicídio: gênero, escolaridade, hipertensão arterial sistêmica e infarto agudo do miocárdio, colesterol total e transtorno de ansiedade. Conclusões: Os dados demonstram que o risco de suicídio em idosos da comunidade é expressivo e está em consonância com resultados de outras pesquisas no Brasil e sul do Brasil. O risco aumenta com a idade, ausência de companheiro e transtorno de humor, corroborando dados da literatura científica nacional e internacional.

Palavras-chave: Suicídio, idosos, fatores de risco, transtorno do humor.

ABCTRACT

The age of the population has been increasing significantly in the world and Brazil. As the population ages, thus do the concerns and cautions about the risks of suicide, associated with biopsychosocial factors involved in advancing age. This study aimed to evaluate the prevalence of suicide risk in a population between 60 and 79 years. Method: A cross-sectional population-based study, which evaluated 1,021 older adults. Home interviews were conducted with the Portuguese version of the Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), as well as the collection of sociodemographic

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and clinical data. The risk was classified as absent or present and still mild, moderate, or severe. Results: The risk of suicide was classified as current in 26 individuals (2.5% of the sample), 22 had mild risk, and four were classified as moderate risk. The average age of patients at risk of suicide was higher than those who did not. The risk factors found were not being married, mood disorder, former smoker, compared with those who never smoked, and current smoking was not a risk factor. They were not associated with suicide risk: gender, education, systemic arterial hypertension, and acute myocardial infarction, total cholesterol, and anxiety disorder. Conclusions: The data show that the risk of suicide among older adults in the community is significant and in line with the results of other studies in Brazil and southern Brazil. The risk increases with age, lack of partner and mood disorder, corroborating data from the national and international scientific literature.

Key words: Suicide, elderly, risk factors, mood disorder

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aumento da idade da população mundial já é um fato consolidado e a estimativa é de que entre 2015 e 2050, a população mundial de idosos será praticamente duplicada (WHO, 2002a; WHO, 2010). No Brasil, a população de pessoas acima de 65 anos aumenta a uma taxa de 2 a 4% ao ano (NASRI, 2008), crescendo em torno de 18% de 2012 a 2017, ultrapassando a quantidade de 30,2 milhões de idosos em 2017 (IBGE, 2018).

O aumento da idade populacional vem acompanhado de aumento de doenças silenciosas crônicas (ALVES; LEITE; MACHADO, 2008), as quais, muitas vezes estão em comorbidade com transtornos psiquiátricos (SKAPINAKIS; ARAYA, 2011). Entre os transtornos psiquiátricos, a depressão é um dos transtornos mais comuns em idosos (WHO, 2001) e está subjacente à maioria dos casos de suicídio nessa população (CAVALCANTE; MINAYO, MANGAS, 2013). Em idosos o diagnóstico da depressão é mais difícil, tendo em vista que doenças somáticas crônicas e outros sintomas somáticos comuns acabam se sobrepondo e tornando alguns sintomas psiquiátricos menos aparentes (GONZÁLEZ et al., 2016; HEIDEMANN et al., 2019).

O suicídio é o ato de o indivíduo finalizar a própria vida, no qual está incluso um forte sentimento de desgosto junto a um conflito sem resolução. Caracteriza-se por um mal-estar multidimensional sofrido por um indivíduo vulnerável, que percebe um tema-problema para o qual o autoextermínio é percebido como melhor solução (SHNEIDMAN, 2001).

As taxas de suicídio em idosos vêm crescendo em todo o mundo. Países que tem uma longa perspectiva de vida e uma grande população idosa apresentam grande taxa de suicídio, como é o caso do Japão e muitos outros países asiáticos. As taxas de suicídio ou automutilação nesses países são altas quando comparadas com outros países desenvolvidos, chegando a uma taxa de óbitos de 5,6%, tendo em vista que em grande parte a primeira tentativa de suicídio é a única e definitiva (WHO, 2002b; SHAH; BHAT, 2008).

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Entre os fatores que levam ao suicídio estão as doenças degenerativas e crônicas, dependência física, transtornos e sofrimento mental, bem como depressão grave. Dentre todos os riscos encontrados que podem levar ao suicídio, os transtornos psiquiátricos são os fatores mais consistentes envolvidos no comportamento suicida (NOCK et al., 2008), sendo que os transtornos do humor são os que mais influenciam na hora de realizar a automutilação (KIOSSES; SZANTO; ALEXOPOULOS, 2014).

A população acima de 60 anos é a que mais cresce no Brasil e na maior parte do mundo, o que justifica um olhar atento para os problemas sociais e de saúde. Estudos apontam que o aumento da idade da população traz consigo uma tendência a aumento de riscos de suicídio (CAVALCANTE; MINAYO, 2012). Esta pesquisa visou identificar fatores de risco associados a suicídio em uma comunidade do sul de Santa Catarina, na faixa etária de 60 a 79 anos, fornecendo subsídios para o planejamento de intervenções no sentido de visualizar precocemente os riscos e tratar os indivíduos.

2 MÉTODOS

Este foi um estudo transversal, o qual é parte de um projeto-piloto, sob o título “Criciúma Diabetes Coorte (CDC)”, desenvolvido com a população do município de Criciúma- SC. O projeto-piloto é constituído de duas amostras populacionais. Uma amostra é composta por pacientes com diabetes mellitus (DM) tipo II e a outra amostra é constituída por indivíduos da população geral, distribuídos homogeneamente nas diversas regiões do município. Foram avaliados 1.021 indivíduos, entre 60-79 anos, provenientes da população geral, amostra não clínica (sem DM).

O tamanho da amostra foi obtido por conveniência. No entanto, pode se considerar um erro amostral de aproximadamente 3%, tendo em vista que no Censo do IBGE de 2010 (IBGE, 2010) a população no município de indivíduos na faixa etária do estudo era de 14.090.

Os indivíduos acima de 80 anos não foram incluídos nesta pesquisa. A não inclusão de indivíduos acima de 80 anos teve o objetivo de exclusão de possíveis e eventuais vieses, em razão de algumas dificuldades de testagem com pessoas em idade muito avançada. Os dados relativos aos pacientes com diabetes mellitus tiveram outro tipo de delineamento de pesquisa e fazem parte de outro estudo do grupo dessa coorte (CERETTA et al., 2012).

A coleta de dados se deu através de banco de dados referido acima. Os dados foram obtidos através de entrevistas domiciliares realizadas por agentes de saúde treinados para a pesquisa. Foram avaliadas características sócio demográficas, como idade, gênero, estado civil e escolaridade, bem como relato de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente Vascular Encefálico (AVE).

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A avaliação dos transtornos foi realizada através de entrevista estruturada - versão em português do Mini International Neropsychiatric Interview (MINI). A entrevista é padronizada e compatível com critérios do DSM-IV (APA) e CID-10 (OMS). É possível aplicá-la na prática clínica e na pesquisa, com uma duração aproximada 30 minutos. A aplicação da entrevista pode ser feita por profissionais da saúde, após um treinamento com duração entre 1 a 3 horas (AMORIM, 2000).

O estudo foi planejado de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, sob protocolo número 310/2009. Todos os participantes foram voluntários e só foram entrevistados após assinatura de Termo de Consentimento Livre Esclarecido. As suas identidades foram preservadas, somente os pesquisadores tendo acesso às identificações. Os pacientes com transtornos diagnosticados durante a entrevista foram devidamente encaminhados para tratamento.

Os dados foram alisados com programa estatístico Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0. A única variável quantitativa foi a idade, a qual foi avaliada quanto a sua adequação à normalidade pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, e, uma vez que apresentou distribuição normal, foi apresentada sua média ± desvio padrão e empregado o Teste t para amostras independentes para comparação de médias. As demais variáveis foram expressas na forma de prevalência e razões de prevalência, descritas em frequências absolutas e percentuais. Foram avaliadas associações através do qui-quadrado de Pearson ou Teste Exato de Fisher (quando pertinente), adotando nível de significância de 95% (bilateral).

3 RESULTADOS

Na amostra populacional de 1.021 idosos estudados, a idade variou de 60 a 79 anos, com média de 67,3 anos e desvio padrão 4,8 anos. O predomínio foi de indivíduos do sexo feminino, vivendo com um companheiro e com estudo até o ensino fundamental, conforme dados da tabela 01.

Tabela 01: Distribuição dos dados socioculturais (idade, gênero, situação conjugal e escolaridade), em 1021 indivíduos da comunidade.

Variável Fator Resultado

Gênero Masculino 425 (41,6%)

Feminino 596 (58,4%)

Situação conjugal Com companheiro 561 (54,9%)

Sem companheiro 460 (45,1%)

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9 anos ou mais 476 (43,7%)

Os dados clínicos e laboratoriais, descritos na tabela 02, mostraram que 31% se auto referiram como hipertensos, 13,2% histórico de IAM e 56,9% apresentaram colesterol total ≥ 200 mg/dl.

Tabela 2: distribuição dos dados clínicos e laboratoriais em 1021 indivíduos da comunidade.

A tabela 3 expressa as prevalências ao longo da vida de algum transtorno de humor e de ansiedade, ambos próximos a 40%. Aproximadamente metade dos idosos avaliados fumam ou já fumaram (tabela 3).

Tabela 03: distribuição quanto a presença de transtorno de humor, transtorno de ansiedade e tabagismo em 1021 indivíduos da comunidade.

Variável Fator Resultado

Hipertensão Arterial Sistêmica Presente 318 (31,1%)

Ausente 703 (68,9%)

Infarto Agudo do Miocárdio Presente 136 (13,2%)

Ausente 886 (86,8%)

Colesterol total ≥200mg/dL 581 (56,9%)

<200mg/dL 440 (43,1%)

Variável Fator Resultado

Transtorno de Humor Presente 405 (39,7%)

Ausente 616 (60,3%)

Transtorno de Ansiedade Presente 413(40,5%)

Ausente 608 (59,5%)

Tabagismo Tabagista 375 (36,7%)

Ex-tabagista 151 (14,8%)

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Quanto ao risco de suicídio, representado na figura 01, 26 indivíduos desta amostra populacional apresentavam risco de suicídio. Deste total, 22 tinham risco leve e 4 foram classificados como risco moderado.

Figura 1 - Distribuição das prevalências de risco de suicídio entre os 1021 idosos da comunidade

A média de idade dos pacientes que apresentavam risco de suicídio (70,65 ±5,74 anos) foi superior à média de idade dos que não apresentavam risco (67,22 ± 4,73 anos), t=3,64; gl=1019; p<0,001. Na tabela 4 estão os dados das associações entre as variáveis quantitativas, onde os fatores de risco encontrados foram não ter companheiro (χ²=6,30; gl=1; p=0,012), transtorno de humor (χ²=40,58; gl=1; p<0,001), ex-tabagista (χ²=6,29; gl=1; p=0,012, comparado com quem nunca fumou), sendo que o tabagismo atual não foi fator de risco. Não tiveram associação significativa com risco de suicídio, as seguintes variáveis: gênero, escolaridade, HAS, IAM, Colesterol total e transtorno de ansiedade.

Tabela 04: Estudo da associação entre as variáveis sócio demográficas e clínicas com os transtornos depressivos, em 1021 idosos

Variável Fator Prevalência do Risco

de Suicídio Odds Ratio (IC 95%) Sexo Masculino Feminino 3,1 % 2,2 % 1,42 (0,65-3,08)

Situação conjugal Sem companheiro

Com companheiro 3,9 % 1,4 % 2,82 (1,21-6,54)* 2,20% 0,40% 0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00% 2,50%

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Escolaridade até 8 anos 9 anos ou mais 1,9 % 3,4 % 0,56 (0,25-1,23) Hipertensão Arterial Sistêmica Sim Não 3,1 % 2,3% 0,65 (0,38-1,12) Colesterol Total ≥200mg/dl <200md/dl 2,4 % 2,7 % 0,88 (0,40-1,92) Infarto Agudo do Miocárdio Sim Não 3,7 % 2,4 % 1,58 (0,59-4,27)

Transtorno de Humor Sim

Não

6,4 % 0 %

NA# / **

Transtorno de Ansiedade Sim Não 2,2 % 2,8 % 0,77 (0,34-1,75) Tabagismo Tabagista Ex-tabagista Nunca fumou 1,9 % 6,0 % 2,0% - 3,07(1,23-7,71)* 0,92(0,35-2,45) Teste qui quadrado, *p<0.05; **p<0.01 #NA= não se aplica, pois não foi possível calcular OR (IC95%) pelo fato de

uma frequência observada=0

4 DISCUSSÃO

A amostra estudada pode ser considerada como representativa entre a população idosa de 60 a 79 anos no sul de Santa Catarina, de acordo com o processo de amostragem utilizada.

Podemos perceber que a média de idade dos pacientes que apresentavam risco de suicídio (70,65 ±5,74 anos) foi superior à média dos que não apresentavam (67,22 ± 4,73 anos), t=3,64. Estes resultados corroboram com as taxas mundiais encontradas, principalmente em países desenvolvidos, que é de 3,5%, ressaltando assim um aumento significativo de depressão entre idosos (SHAH; BHAT, 2008).

Pesquisas trazem evidências de que a partir dos 65 anos ocorre aumento progressivo nas taxas de suicídios de homens brancos e asiáticos, bem como dos homens em geral (HEISEL, 2006), sendo que idosos acima de 80 anos são os que mais apresentam pensamentos, sentimentos, tentativas e execução do suicídio (BRASIL, 2006). Alguns dados de pesquisa no Brasil mostraram que populações de idosos do sexo masculino apresentaram maior vulnerabilidade ao suicídio e que a depressão é um fator predisponente, não necessariamente porque os idosos tenham mais predisposição natural ao transtorno depressivo, mas por fatores psicossociais envolvidos em populações de idosos (MINAYO et al., 2012). Estudos também mostraram que idosos do sexo

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masculino apresentaram taxas mais altas de suicídios e que a região sul do Brasil apresenta o maior número de suicídios na população idosa, quando comparada a outras regiões brasileiras (SANTOS et al., 2017).

A segunda variável da tabela 4 em nossos estudos mostrou que a falta de companheiro na população idosa aumenta os riscos para suicídio. Encontramos dados semelhantes em várias regiões do país Manaus (Amazonas), Fortaleza (Ceará) Teresina (Piauí), Campo Grande (Mato Grosso do Sul), Campos (Rio de Janeiro), Venâncio Aires (Rio Grande do Sul)(CAVALCANTE; MINAYO, 2012). A falta de um conjugue agrava os problemas interpessoais na população idosa, pelo fato de apresentarem maior sentimento de solidão e abandono. Os estudos vêm mostrando mais frequentemente que o suicídio tardio ocorre com mais frequência, pelo fato de os idosos estarem submetidos ao isolamento, conflitos familiares, perdas parentais e transtornos psiquiátricos (ALMEIDA et al., 2018).

Outra variável que apresentou uma prevalência foi o transtorno de humor. Em nossa amostra não foram especificados os transtornos de humor, corroborando com estudos, os quais mostraram que transtornos psiquiátricos em geral são os fatores que mais predispõem aos comportamentos suicidas (NOCK et al., 2008). Entretanto, alguns autores observam que a maioria dos casos de suicídio em idosos está relacionada com depressão, embora muitas vezes o suicídio aconteça quando outros fatores biopsicossociais estão associados aos quadros depressivos (CAVALCANTE et al., 2013; SOUSA et al., 2014).

Entre os fatores biopsicossociais estão doenças crônicas, desconforto e redução da capacidade física e cognitiva, redução de trabalho e financeira, conflitos e relacionamento familiar e com a sociedade, sentimento de abandono, entre outros. Muitas dessas situações acompanham quadros depressivos que podem emergir com a idade e com as alterações biopsicossociais (SOUSA et al., 2014).

Relacionado ao fator de risco ex-tabagistas, toma-se como relevante o fato de que a exposição ao tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas e o uso de drogas podem ser fatores associados a estresse psicossocial, sendo referido em grande proporção pelos idosos, tais como sentimento de solidão, dificuldade para dormir devido a preocupações, sentimento de tristeza, ideias e planos de suicídio (WHO, 2007).

Neste estudo, o fato de ser ex-tabagista teve uma relação com risco de suicídio, quando comparado com indivíduos que nunca fumaram. Confirme já discutido, o comportamento de tabagismo pode estar relacionado a fatores que geram estresse psicossocial e aumentam o risco para depressão e suicídio (POOROLAJAL; DARVISHI, 2016).

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Os fatores de riscos podem ser cumulativos e interagir de forma sinergística. Por exemplo, a combinação de riscos associados à depressão, em comorbidade a uma doença física pode ser maior que a soma dos fatores de risco de forma isolada. Ao mesmo tempo, certos fatores de risco, como tentativa de suicídio prévia, acesso a arma de fogo e presença de uma carta de despedida, devem ser considerados relevantes e graves, independentemente da presença de outros fatores (SOUSA et al., 2014).

O risco de suicídio está fortemente relacionado à depressão, uso de substâncias, psicoses, entre outros transtornos psiquiátricos (BACHMANN, 2018). A forte associação entre suicídio e depressão deve ser considerada como situação grave que demanda cuidados intensos (CONWELL et al., 1991). Embora exista um preconceito segundo o qual as pessoas idosas sejam naturalmente deprimidas por causa da idade, a depressão não é um fato normal do envelhecimento (GONZÁLEZ, et al., 2016). Além da depressão que está fortemente associada ao suicídio em idosos, devem ser considerados outros transtornos psiquiátricos, como também outras variáveis biopsicossociais, tais como eventos estressantes ao longo da vida dos idosos, isolamento social, doenças somáticas, entre outros fatores (PITCHOT, 2014). Existe uma heterogeneidade de fatores envolvidos nos comportamentos e ideação suicida em idosos, configurando-se em uma situação desafiadora e que demanda maiores cuidados e políticas de atenção à saúde biopsicossocial dos idosos (PITCHOT, 2014).

5 CONCLUSÕES

Os resultados desta pesquisa possibilitam evidenciar facetas relevantes para a compreensão do risco de suicídio em idosos. Os dados a partir de diferentes enfoques nos possibilita sugerir que na região pesquisada, de maneira geral os dados corroboram com outras evidências na literatura nacional e internacional. Os dados demonstram que risco de suicídio em idosos da comunidade não é um fator incomum e que este aumenta com a idade, ausência de companheiro e transtornos de humor, entretanto o gênero e algumas variáveis clínicas diferem do esperado para outras faixas etárias. É importante destacar que esta pesquisa não observou os idosos acima de 80 anos, um fator que provavelmente aumentaria os escores de susceptibilidade ao suicídio, conforme apontado na literatura científica.

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REFERÊNCIAS

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Tabela  01:  Distribuição  dos  dados  socioculturais  (idade,  gênero,  situação  conjugal  e  escolaridade),  em  1021  indivíduos da comunidade
Tabela 03: distribuição quanto a presença de transtorno de humor, transtorno de ansiedade e tabagismo em 1021  indivíduos da comunidade
Figura 1 - Distribuição das prevalências de risco de suicídio entre os 1021 idosos da comunidade

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