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Barreiras à Implementação da Economia Circular: Uma Revisão da Literatura

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Academic year: 2021

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BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO DA ECONOMIA CIRCULAR: UMA

REVISÃO DA LITERATURA

Diogo Filipe Aguiar de Figueiredo

Dissertação

Mestrado em Economia

Supervisionado por

Professora Doutora Maria Isabel Rebelo Teixeira Soares

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Agradecimentos

Durante todo o processo de elaboração desta dissertação tive, felizmente, o apoio e o incentivo de várias pessoas. No entanto, de entre todas tenho de destacar a minha mãe, que foi sempre uma figura omnipresente quer fisicamente, quer no meu subconsciente, a incentivar-me a terminar esta dissertação. A sua insistência em que eu trabalhasse levou a que eu, realmente, levasse a cabo este projeto.

Ao meu pai, que foi um modelo e uma inspiração que, infelizmente, nem sempre segui, também deixo uma enorme palavra de agradecimento. Comparando o seu ritmo de trabalho com o meu, fiquei sempre mal, o que me motivou a melhorar consistentemente.

Deixo um especial obrigado aos meus colegas da KPMG, António Rothes, João Silva e Telmo Marinho, que desde que me conheceram me incentivaram e motivaram para trabalhar na dissertação, estabelecendo, eles próprios, uma fasquia elevada para o meu trabalho. Agradeço, profundamente, à KPMG por todo o apoio e pela enorme disponibilidade prestadas, não podendo deixar de referir a Dra. Céu Carvalho, que sempre mostrou compreensão pela minha situação e um soberbo esforço em garantir que tinha as melhores condições para terminar a minha dissertação com sucesso.

Um sincero obrigado à minha Orientadora, a Professora Doutora Maria Isabel Rebelo Teixeira Soares, por me ter acompanhado durante todo este processo e por ter estado na génese da ideia que esteve por detrás de todo este trabalho.

Por último, mas não sendo este um agradecimento em menor grau do que os outros (talvez até maior em certos aspetos), quero agradecer à Beatriz Almeida, pois tenho a certeza de que se não a tivesse conhecido e se ela não me tivesse incentivado da maneira que incentivou, não teria acabado este ano esta dissertação.

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Resumo

As alterações climáticas são uma realidade cada vez mais evidente nos dias de hoje e acarretam com elas inúmeros perigos e impactes negativos sobre a natureza e, consequentemente, sobre a sustentabilidade global. Urge, deste modo, encontrar e desenvolver modelos alternativos à Economia Linear que tem caracterizado a sociedade ultimamente. É nesse sentido que surge o modelo de Economia Circular. No entanto, existem barreiras à implementação deste modelo que impossibilitam ou tornam difícil a transição eficaz e perene para uma Economia Circular. O objetivo central desta dissertação consiste na análise dessas barreiras, assim como a identificação de possíveis soluções para a sua mitigação.

Com este trabalho espera-se contribuir para a literatura no sentido em que, do nosso conhecimento, não existe uma compilação desta natureza sobre as barreiras à implementação da Economia Circular suplementada por uma contextualização histórica do tema. O mesmo parece acontecer em relação a casos de aplicação prática do conceito e da sugestão, por parte da literatura, de medidas que possam ser implementadas de modo a mitigar ou a eliminar estas barreiras.

Foi realizado um levantamento da bibliografia considerada relevante, sendo esta sujeita a posterior análise e comparação por forma a agregar e sintetizar as barreiras à implementação da Economia Circular e às medidas identificadas para permitir essa adoção.

Com base na revisão atenta da literatura disponível, foi possível identificar sete barreiras transversais a vários autores: tecnológicas, de financiamento, de informação, de mercado, regulatórias e legislativas, culturais e operacionais. Foi possível, também, identificar medidas que diversos autores sugerem de modo a mitigar as barreiras supramencionadas.

Códigos JEL: H23, N93, O13, O33, Q00,

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Abstract

Climate change is a self-evident reality in the current age, and with it comes countless threats and harmful impacts on the nature and, consequently, on overall global sustainability. Therefore, it is of paramount importance to find and develop alternative models to the Linear Economy that has characterized society until our present age. It in this context that the model of Circular Economy comes to light. However, there are barriers to the implementation of this model that inhibit an effective and permanent transition to a Circular Economy. The main goal of this dissertation consists in the analysis of those barriers, as well as identifying possible solutions for their mitigation.

With this work, it is expected to contribute to the literature in the sense that, and to the knowledge of the investigators, there isn’t a compilation of this kind of nature about the barriers to the implementation of the Circular Economy aided by a historical contextualization of the topic. The same seems to occur regarding practical application cases of the concept and the suggestion, by the literature, of measures that might be implemented in order to mitigate or eliminate those barriers.

It was conducted an analysis of the bibliography considered relevant, being this subject to further analysis and comparison in order to congregate and summarize the barriers to the implementation of the Circular Economy and the already identified measures that allow that adoption.

Based on the careful review of the available literature, it was possible to identify seven encompassing barriers to several authors: technological, financing, information, market, regulatory and legislative, cultural and operational. It was also possible to identify measures that several authors suggest in order to mitigate the above-mentioned barriers.

JEL Codes: H23, N93, O13, O33, Q00,

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Índice de Conteúdos

Introdução ... 1

Motivação do estudo ... 1

Objetivo e questão de investigação ... 3

Relevância do estudo ... 3

Estrutura do trabalho ... 6

Metodologia ... 8

A Economia Circular ... 12

Conceito de Economia Circular ... 12

Relevância e atualidade do tema ... 16

Aplicação prática ... 25

Barreiras à Implementação da Economia Circular ... 29

As barreiras à implementação da Economia Circular ... 29

Soluções para a mitigação das barreiras ... 37

Conclusão ... 41

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Índice de Figuras

Figura 1 - Ciclo industrial embebido na Economia Circular (Ellen MacArthur Foundation, 2013) ... 5 Figura 2- Poluição por parte de fábricas durante a Revolução Industrial ... 17 Figura 3 - Fluxos lineares de energia e materiais, Korhonen & Seppälä & Honkasalo (2018) ... 18 Figura 4 - Índice de Preços das Matérias-Primas (Ellen MacArthur Foundation, 2014) ... 21

Índice de Quadros

Quadro 1 - Top Publications from Google Scholar (2019) ... 9 Quadro 2 - Barreiras à Implementação da Economia Circular (síntese do autor com base na literatura recolhida) ... 37 Quadro 3 - Barreiras à Implementação da Economia Circular e Respetivas Soluções

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Introdução

Motivação do estudo

A utilização responsável dos recursos naturais é essencial para o desenvolvimento e prosperidade humana, sendo que dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável avançados pela Organização das Nações Unidas, 12 encontram-se diretamente dependentes da gestão sustentável dos recursos num âmbito abrangente a toda a economia. Isto deve-se ao facto de os padrões de consumo atuais apresentarem consequências negativas para o bem-estar humano no futuro próximo (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017).

A estratégia delineada pela Comissão Europeia para a implementação de atividades mais sustentáveis e de cariz circular deve-se ao facto de os desafios que a Europa enfrenta atualmente não serem de natureza cíclica, mas sim estrutural. Deste modo, a organização produtiva da Europa, de uma forma geral, não se encontra preparada para fazer face a um cenário de abrandamento cada vez maior da procura por recursos e, principalmente, de um cenário onde os preços desses mesmos recursos serão de uma natureza volátil (Comissão Europeia, 2015b).

Caso não sejam implementadas mudanças estruturais e profundas, a União Europeia corre o risco de se tornar menos competitiva, atrativa e viável economicamente (Comissão Europeia, 2015b).

Existe, portanto, uma oposição entre os modelos de Economia Linear e Economia Circular. Segundo Stahel (2016), a Economia Linear funciona como que um rio, ou seja, quando os recursos utilizados no processo produtivo são utilizados numa etapa, nunca mais voltam a ser utilizados na mesma, e a responsabilidade pelo destino do produto final após o seu período de uso recai sobre o consumidor (por exemplo, é o consumidor que decide se deve proceder à reciclagem do produto ou não). Pelo contrário a Economia Circular funciona como que um lago, no sentido em que os recursos utilizados numa etapa voltam a ser reaproveitados na mesma no futuro, assim como os resíduos provenientes de todo o

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2 processo produtivo. Deste modo, consegue-se reduzir a quantidade de recursos consumida e o desperdício.

Surge, por isso, uma oportunidade no contexto da Economia Circular. À medida que os países em desenvolvimento adotam padrões de consumo ocidentais (assim como os seus padrões de produção lineares), a União Europeia tem a oportunidade de se reinventar, abandonando o antigo modelo de produção linear, abraçando e implementando um modelo de produção circular, fazendo, para isso, uso da sua capacidade financeira para alavancar esta mudança (Comissão Europeia, 2015b).

O conceito de Economia Circular tem estado em voga atualmente, quer em termos académicos, quer em termos de aplicação prática (Kirchherr & Reike & Hekkert, 2017). Por exemplo, em Dezembro de 2015, a Comissão Europeia adotou um abrangente e ambicioso plano intitulado “Plano de Ação para a Economia Circular”, com o objetivo de, tal como presente no Relatório da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões Sobre a Aplicação do Plano de Ação Para a Economia Circular (2019):

“…dar um novo impulso ao emprego, ao crescimento e ao investimento, bem como a desenvolver uma economia neutra em termos de carbono, eficiente em termos de recursos e competitiva.” (p.1)

De facto, a transição para uma Economia Circular, pautada pela manutenção e retenção do valor dos produtos, materiais e recursos pela maior duração de tempo possível, é uma prioridade fundamental para a União Europeia de modo a desenvolver uma economia sustentável, hipocarbónica, eficiente e competitiva (Comissão Europeia, 2015a).

No entanto, e apesar de muitos agentes económicos e políticos terem manifestado o seu apoio à implementação da Economia Circular na sociedade e na economia, esta encontra-se, ainda, numa fase muito embrionária, apresentando-se nas etapas iniciais de adoção, sendo a China e os Países Baixos as únicas prováveis exceções relevantes (Kirchherr et al., 2018). A génese desta relutância ou dificuldade em adotar medidas relativas à Economia Circular pode

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3 estar relacionada com uma variedade de fatores, nomeadamente barreiras, que serão objeto de aprofundamento nesta dissertação.

Objetivo e questão de investigação

O objetivo desta dissertação surge, desta forma, embebido no contexto da Economia Circular, procurando, através de uma revisão de literatura, compilar informação relevante sobre quais as barreiras mais pertinentes que impossibilitam ou conferem dificuldades à implementação de atividades ou metodologias relacionadas o método circular e que impossibilitam a obtenção de ganhos de eficiência em termos de utilização e reaproveitamento de recursos e, por conseguinte, de práticas mais sustentáveis em termos da utilização de recursos (materiais e energéticos).

Relevância do estudo

O estudo sobre quais as barreiras à implementação da Economia Circular assume-se como de elevada relevância e importância nos dias de hoje, fruto da crescente preocupação com as alterações climáticas e dos impactos que a atividade Humana tem no ecossistema do planeta Terra.

As economias dos países da OCDE são, atualmente, caracterizadas por um processo económico linear de extração, produção, utilização e descarte. De facto, este tipo de processo leva a que cerca de 80% a 90% de todos os produtos e serviços consumidos se transformem em desperdício num prazo de seis meses, sendo que 20% de todos os materiais extraídos a nível mundial sofra o mesmo destino no período de um ano (ISWA Task-Force on Resource Management, 2015).

Em cada etapa do processo extrativo, produtivo e de consumo, existe criação de desperdício de materiais e energia, e esta situação apresenta uma tendência para aumentar, dado que à medida que as economias nacionais crescem, as necessidades dos consumidores também aumentam, criando pressões por parte da procura a que a oferta tem de dar resposta (ISWA

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4 Task-Force on Resource Management, 2015). Esta conjuntura tende a piorar devido ao desenvolvimento dos países em desenvolvimento e da sua adaptação aos padrões de consumo ocidentais, tal como se tem verificado na China, em outros países Asiáticos e, provavelmente no futuro, em África.

Deste modo, urge implementar medidas que visem minimizar os desperdícios registados, dado que os padrões de consumo por parte dos consumidores são voláteis, e ao se implementar um processo produtivo assente na Economia Circular, será possível aumentar a eficiência da utilização dos recursos (Kirchherr et al., 2018).

O conceito de Economia Circular, quando aplicado a um sistema industrial, pode ser considerado como sendo um sistema restaurador ou regenerativo, substituindo o conceito de fim-de-ciclo de um produto por o de uma restauração, eliminando a utilização de métodos ou elementos que impossibilitam a sua reutilização (como químicos tóxicos), almejando a eliminação de desperdício através de um desenho e utilização inovadores de materiais, produtos, sistemas e modelos de negócio (Ellen MacArthur Foundation, 2013).

O objetivo da implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular consiste, por isso, na minimização da quantidade de desperdícios gerados e na maximização do aproveitamento dos desperdícios que são, de facto, gerados.

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Figura 1 - Ciclo industrial embebido na Economia Circular (Ellen MacArthur Foundation, 2013)

Como se pode observar na Figura 1, um sistema industrial embebido no conceito de Economia Circular irá permitir vários ciclos diferentes de reaproveitamento dos desperdícios gerados.

O conceito de Economia Circular tem vindo a ganhar um maior dinamismo nos anos mais recentes, alicerçando-se como um método alternativo eficaz para a obtenção de um desenvolvimento sustentável, tendo obtido especial atenção por parte da União Europeia. No entanto, e apesar disto, a aplicação prática da Economia Circular tem ficado muito aquém do esperado, apresentando um reduzido grau de implementação (Kirchherr et al., 2018). Isto deve-se ao facto de existirem várias barreiras que tornam esta implementação uma tarefa desafiadora, sendo que as de cariz tecnológico (relacionadas com o facto de a implementação destas atividades originar alterações significativas nos produtos e/ou no processo produtivo) assumem um papel vital como dissuasoras (Kirchherr et al., 2018).

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6 No entanto, existem outros tipos de barreiras que tornam a implementação da Economia Circular uma tarefa difícil, como as barreiras financeiras (existência de incertezas sobre se, e como, iriam ser gerados proveitos financeiros com a implementação destas atividades, assim como o esforço financeiro em termos de investimento que teria de ser realizado de forma a implementar as mesmas atividades), barreiras estruturais (relacionadas com as responsabilidades e divisão de tarefas dentro de uma organização), barreiras operacionais (relacionadas com o papel que as organizações assumem ao longo da cadeia de valor) e as barreiras ligadas à vertente comportamental (se os decision-makers e/ou os policy-makers estão cientes do que consiste a Economia Circular, assim como o grau de aversão ao risco de cada um) (Ritzén & Sandström, 2017).

O esperado contributo desta investigação e compilação de literatura é o de fornecer uma visão abrangente, mas concisa, de quais as barreiras que tornam difíceis a implementação de atividades e metodologias relacionadas com a Economia Circular. Para além do exposto, irá procurar-se, com base também na literatura, obter um conjunto de respostas que possibilitem a mitigação destas barreiras, de modo a facilitar a difusão das atividades relacionadas com a Economia Circular.

Estrutura do trabalho

A presente dissertação compreende esta introdução, onde são expostos vários tópicos, nomeadamente a motivação para a realização deste estudo, o objetivo e a questão de investigação, a relevância do estudo e o contributo para a literatura.

Seguidamente, será apresentado o capítulo referente à Metodologia utilizada no âmbito desta dissertação. Serão abordados os métodos e os critérios utilizados na filtragem e análise da informação recolhida, assim como a justificação para a escolha dos artigos e publicações analisadas.

Nos dois capítulos seguintes à Metodologia é apresentada a compilação e revisão da literatura disponível selecionada. O primeiro capítulo está associado ao conceito de Economia Circular, onde será apresentado um conjunto de definições do tema, assim como as

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7 motivações e contexto para o seu surgimento. É também feita uma apresentação da relevância e atualidade do tema nos dias de hoje, e a razão de existirem cada vez mais investigações e publicações sobre o tema (Ellen MacArthur Foundation, 2013).

Neste capítulo é, ainda, efetuada uma análise das aplicações práticas e reais que a Economia Circular tem tido, nomeadamente utilizando o exemplo da China, que passou a incluir metodologias e a dar uma relevância substancial à implementação de atividades relacionadas com o tema (Geng & Sarkis & Ulgiati & Zhang, 2013), através dos planos quinquenais que são delineados pelo Governo Chinês.

Estes planos quinquenais consistem numa série de iniciativas de planeamento do desenvolvimento social e económico delineadas pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês. Neles são definidas estratégias de desenvolvimento, reformas, objetivos de crescimento e metas de produção (Informação de Mercados Financeiros, 2016).

O terceiro capítulo aborda as barreiras à implementação da Economia Circular, ou seja, quais os maiores entraves e dificuldades que são sentidos pelas entidades que procuram implementar a Economia Circular, ou então, que entraves existem de uma forma já pré-existente que impossibilitam a adoção ou tomada de conhecimento em relação ao tema. Irão ser, também, analisadas algumas soluções propostas pela literatura para mitigar ou eliminar esta temática de forma parcial ou completa, de modo a que se torne possível a adoção de metodologias relacionadas com a Economia Circular de uma forma mais célere, completa e abrangente.

Este trabalho termina com uma conclusão que pretende dar resposta às questões identificadas e apresenta uma síntese do trabalho, assim como apresentar as principais conclusões, os problemas e limitações enfrentados e possíveis linhas de investigação futuras. São, ainda, apresentadas as referências bibliográficas utilizadas que suportam o trabalho de investigação desenvolvido.

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Metodologia

De modo a responder à problemática identificada, foi realizado um levantamento de várias fontes bibliográficas de múltiplos autores, procurando, desta forma, obter-se uma variada fonte de conhecimento relativamente à definição do conceito de Economia Circular, da relevância e pertinência do tema à luz de várias perspetivas, de que forma o conceito tem vindo a ser implementado na prática e quais as barreiras existentes que impossibilitam ou dificultam a sua implementação.

Por forma a serem selecionadas fontes de informação fidedignas e confiáveis, foram utilizados o Scopus, a Web of Science e o Google Scholar. Os artigos foram pesquisados utilizando os conceitos-chave já identificados previamente na secção “Resumo”, tendo-se prosseguido à implementação de uma análise e de uma seleção sobre quais seriam os mais relevantes. O critério de seleção dos artigos foi com base na sua leitura e ponderação sobre se estes se enquadravam devidamente nas temáticas que iriam ser abordadas ao longo da do estudo. O número de citações que cada artigo apresentava não foi, em geral, tido em conta, dado que esse não foi considerado, pelo investigador, como um método fidedigno de representação da qualidade ou relevância de um artigo, dado que pode ter sido citado repetidamente, e de forma negativa, por outros autores, ou seja, as conclusões alcançadas nesse artigo podem ser consideradas pela restante comunidade científica como estando erradas.

Para além do mais, o número de citações irá depender, em larga medida, da área de onde o artigo foi trabalhado. Por exemplo, um dos artigos utilizados no âmbito desta dissertação (Geng, Y. & Sarkis, J. & Ulgiati, S. & Zhang, P. (2013). Measuring China’s Circular Economy.

Science. 339. 1526-1527) apresenta apenas 210 citações, que consiste num valor abaixo da

h5-median (que corresponde ao número h5-mediano de citações para os artigos que compõem o h5-index1) da revista onde foi publicado, que é de 4972. No entanto, se forem analisados

quais os artigos que mais frequentemente são citados, chegar-se-á conclusão que são nos

1 O h5-index corresponde ao h-index de artigos publicados nos últimos 5 anos. O h-index, por sua vez,

captura o número total de publicações e o número total de citações das mesmas, fornecendo um enquadramento da performance académica de um indivíduo (University of Waterloo, 2019).

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9 campos das Ciências Médicas e da Engenharia, de modo que existe um enviesamento dos campos científicos no que toca ao número de citações.

Publicações h5-index h5-median

1. Nature 362 542

2. The New England Journal of Medicine 358 602

3. Science 345 497

4. The Lancet 278 417

5. Chemical Society reviews 256 366

6. Cell 244 366

7. Nature Communications 240 318

8. Chemical Reviews 239 373

9. Journal of the American Chemical Society 236 309

10. Advanced Materials 235 336

11. Proceedings of the National Academy of Sciences 226 291

12. Angewandte Chemie International Edition 213 295

13. JAMA 209 309

14. Nucleic Acids Research 208 392

15. ACS Nano 199 279

16. Physical Review Letters 197 286

17. Energy and Environmental Science 196 330

18. Journal of Clinical Oncology 196 279

19. Nano Letters 194 281

20. IEEE Conference on Computer Vision and Pattern Recognition, CVPR 188 302

21. Nature Genetics 187 277

22. Journal of the American College of Cardiology 180 268

23. PLoS ONE 180 229

24. The Lancet Oncology 179 283

25. Nature Materials 178 314

Quadro 1 - Top Publications from Google Scholar (2019)3

De modo a elaborar este quadro e a chegar às conclusões sobre o que consistia, ou não, um número de citações adequado ou relevante para uma fonte bibliográfica, foram pesquisadas fontes de informação que pudessem auxiliar nesta questão. Na página web intitulada

3 Acedido e retirado de https://scholar.google.com/citations?view_op=top_venues&hl=en, acedido em

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ResearchGate4 foi encontrada uma discussão sobre o tema, onde um utilizador questionava

qual o número de citações que seria recomendável um artigo ter para ser considerado influente. Após analisar as respostas que foram dadas ao tema por parte de outros autores e de vários académicos, o investigador chegou à conclusão de que a questão formulada carece de uma resposta consensual.

Primeiramente, o número de citações irá depender da revista ou da entidade que publica o artigo ou relatório. Editoras mais reconhecidas irão atrair, naturalmente, um maior número de citações, enquanto que as que são menos reconhecidas terão maiores dificuldades em colocar as suas publicações numa posição destacada. No seguimento do número de citações alcançado por uma publicação, há que ter em conta que muitas vezes os artigos são citados no âmbito de trabalhos de licenciatura ou mestrado e não propriamente por pares dos autores.

Seguidamente, existe a questão da definição de “influente” ou “impacto”. Segundo Bai et al. (2017) e Neylon & Wu (2009), os termos estão relacionados com o número médio de citações para cada revista científica. No entanto, esta definição apresenta lacunas, dado que cerca de 80% do impacto atribuído a uma revista científica advir de apenas 20% dos artigos por ela publicada. Adicionalmente, existe o risco de os resultados apresentados não serem fidedignos, dado que as entidades que procedem ao tratamento destes dados serem empresas privadas, não estando sujeitas a nenhuma obrigação legal de disponibilizar os seus processos. Surge, portanto, a questão da medição do nível de influência de um artigo ou obra, sendo que essa questão não foi explorada no âmbito desta dissertação devido ao facto de se desviar de sobremaneira do tema proposto.

Por último, e referente às métricas de medição do possível grau de influência de um artigo científico, o Professor Doutor Ljubomir Jacic (2014), docente na Universidade de Pozarevac na Sérvia, afirma que:

4 Disponível em

https://www.researchgate.net/post/How_many_citations_does_it_take_to_indicate_an_academic_article_is _influential, acedido em 21.06.2019

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11 “A questão da métrica de influência de um artigo académico é de difícil discussão. Depende fortemente de vários fatores.”

Não obstante, e seguidamente, foi utilizada a fonte Google Scholar Metrics5, que consiste numa

ferramenta de fácil utilização que permite medir a extensão do grau de visualização e influência de determinada obra em publicações académicas. De modo a filtrar as publicações que podem ser qualificadas como minimamente influentes, foram excluídas publicações com menos de 100 artigos publicados no período temporal compreendido entre 2013 e 2017, publicações que não foram alvo de qualquer citação durante o mesmo período temporal, decisões de tribunais, patentes, livros e dissertações.

O top 100 de publicações nas mais diversas línguas, ordenado pelo seu h-index e h-median pode ser acedido nesta página6, tendo servido de base para a elaboração do Quadro 1.

5 Disponível em https://scholar.google.com/intl/en/scholar/metrics.html, acedido em 21.06.2019

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A Economia Circular

Conceito de Economia Circular

Encontrar a origem do conceito de Economia Circular representa uma tarefa árdua e complexa, senão mesmo impossível, dado que o conceito é despoletado de uma miríade de diferentes escolas de pensamento e de teorias que questionam a omnipresença dos sistemas económicos e de produção lineares, assumindo estes últimos que os recursos naturais se encontram disponíveis em quantidades infinitas para o seu aproveitamento (Rizos et al., 2016).

Os antecedentes do conceito de Economia Circular encontram-se dispersos por várias áreas científicas, como a História, Economia e Ecologia. Um dos primeiros autores a abordar o conceito de ciclo e a aplicá-lo ao fluxo de rendimentos foi Quesney no livro Tableau

Économique em 1758, tendo este sido inspirado pelas obras de William Harvey e de Marcello

Malpighi, em 1628 e 1661, respetivamente, sobre a circulação do sangue no corpo humano, tendo o sistema circulatório sido utilizado como uma metáfora (Murray & Skene & Haynes, 2015).

Um dos primeiros autores que se pode considerar como ter estado na origem do desenvolvimento da corrente de pensamento da Economia Circular foi Kenneth Boulding, que desenvolveu a teoria da “economia do astronauta” (“spaceman economy”), onde a economia encontrar-se-ia num ciclo onde se iria reproduzir o stock inicial de input (por exemplo, matérias-primas) e reciclar os desperdícios que adviriam de todo o processo produtivo (Boulding 1966).

No entanto, a ideia de um sistema produtivo que se iria alimentar a si próprio já existia anteriormente, sendo que Murray & Skene & Haynes (2015) mencionam a afirmação de August Hofman (presidente da Royal Society of Chemestry) em 1848, que descrevia que a fábrica química ideal iria ser caracterizada por um processo sem desperdícios, dado que iria reutilizar tudo o que fosse, normalmente, considerado resíduo. Ao implementar este método, e à medida que se reduzisse cada vez mais o volume de desperdícios, maior seria o lucro.

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13 Ao mesmo tempo, autores como Liu et al. (2009) e Yuan & Bi & Moriguichi (2006) também reivindicam a origem do conceito propriamente dito, atribuindo-a a um artigo não referenciado de 1998. No entanto, este artigo foi inspirado por teorias alemãs e suecas de “loop-closing”, ou seja, de encerramento do ciclo (Murray & Skene & Haynes, 2017).

Seguidamente, o conceito foi expandido de uma forma teórica pelos economistas Pearce & Turner (1989), que explicam a mudança de paradigma de um sistema económico linear tradicional para um caracterizado pela Economia Circular, onde podem ser identificadas três funções económicas da envolvente: fornecimento de recursos, suporte de vida e fonte de absorção de resíduos e emissões, sendo que cada uma delas apresenta um custo, mesmo não apresentando, frequentemente, um preço (externalidades como a qualidade do ar e bens públicos) (Pearce & Turner, 1989).

Desde os primórdios da sua conceção, o conceito tem sofrido mutações e, acima de tudo, adaptações aos tempos correntes, assumindo uma vertente cada vez mais importante e vanguardista na conversação política. De facto, e devido, em grande medida, às crescentes preocupações com as alterações climáticas, o conceito de Economia Circular tem vindo a refinar-se e a adaptar-se, passando a definir-se como um sistema que é restaurador ou regenerativo na sua intenção, cujo objetivo principal é o de depender, primeiramente, de fontes de energias renováveis, procurando minimizar, reaproveitar e/ou eliminar os desperdícios gerados durante todo o processo produtivo e de consumo, nomeadamente os resíduos prejudiciais ao meio ambiente (Ellen MacArthur Foundation, 2013),

A Economia Circular procura, desta forma, gerir os fluxos de materiais gerados, que podem ser de duas naturezas (confrontar Figura 1): biológicos, que reentram na biosfera de uma forma segura e contribuem para o aumento do capital natural, e técnicos, que são desenhados de forma a circularem em todo o processo sem nunca entrarem em contacto com a biosfera e sem perderem as suas qualidades inerentes.

O conceito de Economia Circular traça uma distinção clara entre a definição de utilização e consumo de materiais, dado que procura transformar os fabricantes ou retalhistas (dependendo de quem fornece o produto ou o serviço) em agentes que fornecem a utilização

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14 do produto e não o seu consumo. Ou seja, quem fornece o produto ou serviço irá reter a posse do bem em vez de a transferir para o consumidor, evitando, deste modo, o fluxo linear tradicional, apostando em produtos mais duráveis, sustentáveis e renováveis (Ellen MacArthur Foundation, 2013).

Fundamentalmente, a Economia Circular é baseada em 5 princípios, segundo a Ellen MacArthur Foundation (2013):

• Minimização de desperdícios

o Os desperdícios serão minimizados quando as componentes biológicas e técnicas são inerentemente desenhadas com o intuito de se inserirem nos respetivos ciclos.

• Versatilidade

o A versatilidade, adaptabilidade e um design modular devem ser elementos prioritários aquando do desenho de um produto, dado que os tempos correntes são caracterizados por evoluções e alterações rápidas dos padrões de consumo e mentalidades dos consumidores;

o Deste modo, os produtos serão mais resilientes e resistentes a eventuais choques na envolvente exterior.

• Utilização de energias renováveis

o Os sistemas embebidos na Economia Circular devem almejar a utilização de energias renováveis durante todo o seu processo produtivo. Por energias renováveis inclui-se, também, o capital humano.

• Reutilização de desperdícios

o Tanto as componentes biológicas como as componentes técnicas produzem desperdícios que podem, e devem,ser reaproveitados e reintroduzidos de volta nos seus respetivos ciclos, de modo a alimentar futuras produções; o No que se refere às componentes biológicas, estas podem ser reintroduzidas

de volta na biosfera através de ciclos não tóxicos e restaurativos. Nas componentes técnicas, devem ser implementadas melhorias na qualidade dos produtos, permitindo o que se chama de upcycling (processo de conversão de materiais utilizados em materiais capazes de voltarem a serem consumidos). • Pensamento “em sistemas”

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15 o Forma de pensamento que enfatiza os fluxos e as conexões que existem ao longo do tempo no processo produtivo (e para além dele), apresentando, desta forma, uma capacidade de incorporar condições regenerativas que perdurem durante o processo;

o Para evitar o foco em partes singulares do sistema, que induziam à tomada de decisões com vista à resposta a problemas de curto prazo em vez de médio/longo prazo.

A Economia Circular assume-se, assim, como de grande interesse para académicos, tomadores de decisão e empresas, dado que é considerada como vital para a implementação de medidas que levem a um desenvolvimento sustentável (Ghisellini & Cialani & Ulgiati, 2016).

Enquanto que o conceito definido explicitamente como Economia Circular pode ser considerado como uma terminologia recente, a ideia subjacente ao mesmo já é antiga e motivo de pesquisa e investigação desde o século XIX.

Resumidamente, o conceito de Economia Circular representa uma alternativa substancial ao tradicional modelo de Economia Linear que continua a predominar nos dias de hoje, sendo um conceito o antónimo do outro (linear vs. circular). Este modelo linear assume que os recursos disponíveis irão encontrar-se num estado de perpétua disponibilidade e abundância, o que irá originar a um rápido esgotamento dos recursos dos limites de renovação do planeta Terra (European Environmental Agency, 2016).

Tendo por base as definições avançadas pela literatura no que concerne à Economia Circular, o investigador adota a posição da Ellen MacArthur Foundation (2013), que consiste num sistema que é restaurador ou regenerativo na sua intenção, cujo objetivo principal é o de depender, primeiramente, de fontes de energias renováveis, procurando minimizar, reaproveitar e/ou eliminar os desperdícios gerados durante todo o processo produtivo e de consumo, nomeadamente os resíduos prejudiciais ao meio ambiente.

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16 Esta posição do autor deve-se ao facto de este considerar que a definição apresentada é aquela que, de uma forma mais simplificada e abrangente, sintetiza de maneira inequívoca o conceito.

Relevância e atualidade do tema

Nos dias de hoje, a civilização Humana enfrenta desafios significativos, cujas ações tomadas para lhes fazer face irão moldar o futuro da humanidade. Ao longo dos séculos, e especialmente desde a Revolução Industrial em meados do século XVIII, a sociedade tem-se caracterizado por um estilo de consumo e de produção onde as matérias-primas são transformadas em produtos de consumo intermédio ou final e, após a sua utilização, são descartadas. Este processo apresenta, frequentemente, reduzidas ou nenhumas preocupações ambientais (Ghenta & Matei, 2018).

De facto, a Revolução Industrial, que começou na Grã-Bretanha no século XVIII e que se difundiu pela Europa e pela América nas décadas seguintes, apesar de ter despoletado um aumento exponencial da capacidade produtiva das economias afetadas, teve como externalidade negativa a poluição e danos ambientais. As máquinas que começaram a ser utilizadas requeriam energia para funcionar, como combustíveis fósseis (carvão e petróleo), e o seu crescente número levou, por conseguinte, a um aumento da quantidade de energia empregada, resultando num aumento da poluição (como se pode verificar na Figura 2) (Learnodo Retaino Newtonic, 2018).

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17

Figura 2- Poluição por parte de fábricas durante a Revolução Industrial, disponível em https://learnodo-newtonic.com/industrial-revolution-facts, acedido em 30.06.2019

Estes padrões registaram-se, consistentemente, até aos dias de hoje, estando as gerações atuais confrontadas com uma redução dos recursos naturais disponíveis e com os efeitos negativos resultantes dos impactos das atividades humanas no ambiente (Ghenta & Matei, 2018).

Beach & Hanlon (2017) avançam com uma metodologia alternativa de medição das emissões poluentes no século XVIII, dado que não existem dados disponíveis para o período temporal em questão. Os autores combinam a quantidade de carvão consumida por indústria com a composição da mão-de-obra industrial de modo a estimar o nível de utilização anual de carvão por cada distrito de Inglaterra. Foi verificado que as concentrações de níveis mais altos de consumo estavam associadas aos distritos mais industrializados.

Nos distritos com as concentrações mais elevadas eram registados, simultaneamente, níveis mais elevados de mortalidade infantil (um aumento de 1% na intensidade de carvão utilizada está relacionado com o aumento da mortalidade infantil na ordem de um em cada cem nascimentos). Outras complicações de saúde também são levantadas pelos autores, como uma menor estatura média dos adultos (cerca de 10%), ritmos de desenvolvimento mais lentos e aumento de problemas de foro pulmonar (Beach & Hanlon, 2017).

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18 O atual sistema económico, caracterizado por um modelo de Economia Linear é, de acordo com Korhonen & Seppälä & Honkasalo (2018), insustentável. No entanto, este modelo tem dominado o paradigma internacional desde o advento da Revolução Industrial, causando impactos negativos no meio ambiente e na sustentabilidade dos próprios recursos.

De facto, este modelo é caracterizado por uma utilização excessiva, desregrada e insustentável dos recursos naturais, levando a uma diminuição da sua quantidade disponível. Tal como se pode verificar na Figura 3, os recursos (onde se inclui a energia) são extraídos do ecossistema, sendo, seguidamente, transformados e consumidos dentro de um outro sistema, o sistema humano (representado, na Figura, por “Economy”). Este último sistema é caracterizado por fluxos lineares, sendo que os inputs iniciais voltarão, no futuro, à Natureza, mas sob a forma de desperdícios e contaminados com substâncias tóxicas ou que causam impactos negativos no ecossistema (Korhonen & Seppälä & Honkasalo, 2018).

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19 O constante consumo de recursos naturais leva a que a esfera exterior da Figura 3 (Natureza) reduza em tamanho, enquanto que o sistema da Economia aumente. Esta situação é insustentável e trará, no futuro, graves problemas no que refere ao fornecimento de recursos e da qualidade de vida das populações humanas (Korhonen & Seppälä & Honkasalo, 2018). Surge, deste modo, uma preocupação crescente com a sustentabilidade dos recursos naturais por parte dos agentes económicos. A própria definição do conceito de sustentabilidade é relevante para se entender a sua interligação com a Economia Circular.

O termo sustentabilidade tem origens no ramo da silvicultura, descrevendo o princípio de que a quantidade de madeira colhida não poderia exceder o volume que era ganho, de modo a garantir a sustentabilidade da floresta. Este conceito foi, futuramente, expandido a vários outros ramos, adquirindo a definição de um princípio caracterizado pela extração de recursos que respeita a capacidade da natureza de se regenerar a si mesma. No entanto, e tal como a definição do conceito de Economia Circular, o conceito de “sustentabilidade” é também alvo de várias definições diferentes na literatura (Geissdoerfer & Bocken & Savaget & Hultink, 2017). No entanto, as suas diferentes definições e vertentes não serão exploradas no âmbito desta dissertação.

A preocupação atual com a sustentabilidade advém dos crescentes efeitos visíveis que o atual sistema linear apresenta, tais como a redução da camada de ozono, alterações climáticas, perda de biodiversidade e alterações no ciclo de nitrogénio. Estes riscos têm sido sistematicamente documentados, analisados e investigados desde a década de 60 (Geissdoerfer & Bocken & Savaget & Hultink, 2017).

As alterações climáticas e todos os impactos subsequentes que advêm das mesmas têm como uma das suas consequências a crescente volatilidade do preço dos recursos naturais. Entre 2003 e 2013, segundo a Comissão Europeia (2015b), os preços médios mundiais do petróleo aumentaram em quatro vezes, os do aço triplicaram e os de bens alimentares duplicaram. O preço do aço é esperado que aumente 80% nas próximas décadas, assim como o preço das

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20 Aliado a este aumento significativo e volátil dos preços, está associado um aumento das necessidades das populações a nível global, sendo que é estimado pela Comissão Europeia (2015b) que o mundo consuma, até 2030, mais 50% de energia do que os níveis de 2015 e 40% mais água.

Estes fatores irão levar a que a União Europeia se torne cada vez menos dependente de si própria para suprir as suas necessidades de recursos, tendo de recorrer ao mercado internacional. Esta situação, em articulação com os custos de trabalho elevados, padrões de consumo, custos de energia e o crescimento e desenvolvimento dos mercados dos países emergentes (como China, Índia, Nigéria, Brasil), representa um sério problema para a prosperidade da União Europeia (Comissão Europeia, 2015b).

Num nível mais micro, as próprias empresas já começaram a sentir que os seus sistemas de produção lineares aumentam a sua exposição a riscos, especialmente devido à crescente volatilidade dos preços e disrupções de fornecimento de matérias-primas induzidas, nomeadamente eventos meteorológicos extremos que se tornam cada vez mais frequentes com as alterações climáticas (Ellen MacArthur Foundation, 2014).

São cada vez mais as empresas mundiais que se sentem ameaçadas pela crescente volatilidade dos preços das matérias-primas, pela crescente competição e pela estagnação da procura em certos setores. De facto, e como se pode verificar na Figura 4, o preço das matérias-primas aumentou consideravelmente a partir do ano 2000.

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21

Figura 4 - Índice de Preços das Matérias-Primas (Ellen MacArthur Foundation, 2014)

Esta situação poderá ser agravada com o aumento do número de pessoas consideradas de “classe média” a nível global (cerca de mais três mil milhões até 2030), assumindo estas, tendencialmente, padrões e estilos de consumo ocidentais originando, por sua vez, uma maior quantidade de recursos consumidos e desperdiçados (Ellen MacArthur Foundation, 2014).

Outros sinais do esgotamento do modelo linear, segundo a Ellen MacArthur Foundation (2014) incluem:

• Produtividade agrícola

o Apesar de continuar a aumentar, esses aumentos são de uma natureza cada vez menor. Adicionalmente, a produtividade, fertilidade e o valor nutricional dos solos estão em rápido declínio.

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22 o Existem, ainda, oportunidades de se implementarem processos com vista ao aumento da eficiência. No entanto, estes ganhos são, em larga medida, incrementais e insuficientes para gerar uma vantagem competitiva relevante. • Eco-eficiência

o Uma das consequências da eco-eficiência foi a aceleração da utilização de energia e, por conseguinte, de recursos devido ao efeito “rebound”, que apresenta impactos negativos quando são implementadas melhorias na eficiência, aumentando a quantidade real de materiais e energia utilizada. • Segurança de fornecimento

o Existe uma tendência de aumento do risco associado às cadeias de fornecimento globais.

• Licenças de exploração

o Muitas empresas de exploração de recursos naturais deparam-se com cada vez mais barreiras à renovação das suas licenças de exploração devido à competição e, acima de tudo, pressão política.

Resumidamente, a pressão cada vez maior que se tem vindo a sentir em termos de produtividade dos recursos está a chegar a um ponto de rutura. O aumento geral dos preços, assim como a sua volatilidade, não é um efeito passageiro, dado que esta situação vai ser agravada com o aumento em cerca de três mil milhões de pessoas consideradas de “classe média” a nível global até 2030, assim como um aumento populacional para quase nove mil milhões de indivíduos no mesmo espaço temporal (Roser & Ritchie & Ortiz-Ospona, 2013), estando este aumento populacional irá estar concentrado, maioritariamente, nas áreas urbanas de África e Ásia (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017). O aumento populacional irá, indubitavelmente, pressionar o ambiente e aumentar a procura por bens e serviços e, por conseguinte, recursos que serão necessários para os produzir. Por exemplo, e segundo o Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (2017), a extração de materiais a nível global deverá atingir as 183 mil milhões de toneladas em 2050, o dobro da quantidade de 2015. No mesmo relatório é exposto que a procura por produtos alimentares poderá aumentar em cerca de 60% no mesmo período temporal, enquanto que a procura por água irá aumentar cerca de 55%.

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23 Adicionalmente, e apesar da crescente aposta na utilização de energias renováveis e no afastamento de combustíveis fósseis, é esperado que o custo médio de produção aumente de uma forma drástica nos próximos anos, dado que à medida que se esgotam as fontes atuais de matérias-primas, novas têm de ser exploradas, que envolvem mais riscos ambientais, políticos e económicos (Ellen MacArthur Foundation, 2014).

A volatilidade dos preços das matérias-primas, que também é uma das problemáticas que afeta as sociedades de hoje em dia, está relacionada com as dinâmicas dos mercados da oferta de recursos. Preços altos e voláteis estão na origem de muitos dos mais sérios desafios económicos e sociais vividos atualmente, dado que impossibilitam a entrada no mercado por parte de agentes económicos mais carenciados, impedindo o investimento e erodindo os níveis de confiança e segurança (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017). Uma outra problemática está relacionada com a utilização dos recursos renováveis. Devido às constantes e crescentes pressões populacionais (quer em termos de quantidade bruta, quer em termos de qualidade), há a necessidade de se utilizar uma quantidade cada vez maior de terras. De modo a suprir esta necessidade, é necessário encontrar novas terras aráveis ou então rentabilizar ainda mais as existentes (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017).

A primeira opção tem levado e irá continuar a levar, inevitavelmente, à desflorestação, resultando na perda de biodiversidade e colocando em risco os equilíbrios existentes na Natureza. A segunda opção está relacionada com a utilização de fertilizantes e pesticidas. Apesar de estar provado que a utilização destes compostos aumenta o rendimento de uma produção, tal não acontece indefinidamente, havendo já estudos que provam que o crescimento dos rendimentos dos campos estão a processar-se a um ritmo cada vez menor (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017).

A Economia Circular surge, desta forma, como um método para dar resposta a estas problemáticas, permitindo aos agentes económicos escudarem-se melhor de alterações súbitas na envolvente, prevenirem situações adversas e contribuírem para um futuro sustentável para a sociedade.

(30)

24 Este novo paradigma irá permitir, segundo a European Environment Agency (2016):

• Menor utilização de recursos naturais

o Minimização e otimização da utilização e exploração de matérias-primas, permitindo retirar-se maior valor de cada uma individualmente;

o Redução da dependência da importação de matérias-primas; o Utilização eficiente dos recursos naturais;

o Minimização da quantidade utilizada de água e energia. • Redução de emissões

o Redução de emissões ao longo de todo o ciclo de produção através da redução da quantidade utilizada de matérias-primas;

o Menor quantidade de poluição devido a novos ciclos de produção mais ecológicos e com uma preocupação acrescida pelo ambiente.

• Aumento da utilização de energias renováveis e recicláveis

o Energias não renováveis são, gradualmente, substituídas por energias renováveis;

o Melhoria na eficiência de utilização destas energias leva a uma substituição e consequente decréscimo da utilização de matérias-primas.

• Menor quantidade de matérias-primas desaproveitadas

o Minimização da quantidade produzida de desperdícios;

o Menor utilização da quantidade de aterros e de processos de inceneração. • Manutenção do valor dos produtos, componentes e dos materiais dentro do ciclo

económico

o Aumento da esperança de vida útil de um produto, paralelamente à manutenção do seu valor de utilização;

o Reutilização de componentes.

Existem, desta forma, vantagens significativas resultantes da implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular. No subcapítulo seguinte são abordados casos práticos de aplicação prática dessas atividades, sendo utilizado o exemplo da China com maior destaque.

Resumidamente, o conceito de Economia Circular é atual e relevante no sentido em que, dadas as pressões por parte das alterações climáticas que se têm vindo a sentir com maior

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25 intensidade, e com base em evidências do período industrial do século XVIII, é necessário alterar os modelos económicos e sociais vigentes de momento (caracterizados por uma Economia Linear), de modo a mitigar os efeitos que a ação humana tem no meio ambiente.

Aplicação prática

O país que mais tem implementado atividades relacionadas com a Economia Circular tem sido a China, tendo esta desenvolvido e aplicado programas ambiciosos relacionados com o conceito. A China, sendo o país mais populoso do mundo, com uma população de cerca de 1.4 mil milhões de habitantes, constitui um caso de vital interesse a nível mundial para a implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular, dada a quantidade de habitantes, assim como o seu poder de compra associado a uma adoção de padrões de consumo ocidentais (Murray & Skene & Haynes, 2015).

As primeiras implementações práticas de políticas relacionadas com a Economia Circular na China datam, segundo Skene & Murray (2015), a 1973, aquando da primeira Conferência Nacional de Proteção Ambiental, onde foram formuladas políticas e diretrizes de proteção ambiental. Os autores salientam, também, que em 2002, durante o 16º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, foi delineado um ambicioso e abrangente plano de desenvolvimento que aglutinava crescimento económico, igualdade social e proteção ambiental, também conhecido como “economia circular”7.

Objetivos relacionados com atividades no âmbito da Economia Circular foram delineados e implementados no 11º (2006-2010) e 12º (2011-2015) Planos Quinquenais para o Desenvolvimento Económico e Social, constituindo estes um conjunto de passos extremamente importantes de modo a dar uma maior ênfase à sustentabilidade das atividades económicas, dado que estes planos delineiam as políticas de médio prazo Chinesas (Wu & Shi & Xia & Zhu, 2014).

7 O termo encontra-se definido na legislação Chinesa como um método de redução, reutilização e reciclagem

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26 Juntamente com estas políticas, em 2009, foi implementada a “Lei de Promoção da Economia Circular”, com o objetivo de melhorar a eficiência da utilização de recursos, proteger o meio ambiente e alcançar um desenvolvimento sustentável (Geng & Fu & Sarkis & Xue, 2012). Esta lei foi desenhada de modo a incentivar comportamentos promotores de desenvolvimento económico, em simultâneo com uma preocupação ambiental, em todos os níveis da economia Chinesa. As empresas são, desta forma, encorajadas a desenvolver métodos de produção mais limpos e eficientes, e as administrações públicas são encorajadas a implementar políticas de produção e consumo sustentáveis, com o objetivo de maximizar a quantidade de materiais reciclados (Yuan & Bi & Moriguichi, 2006).

Na China, a implementação da Economia Circular processa-se a três níveis distintos: produção mais “limpa”, ou seja, mais ecologicamente responsável, ecologia industrial e modernização económica. No que refere ao primeiro nível, as empresas são encorajadas, ou mesmo em certos casos obrigadas (nos sectores mais poluentes), a realizar auditorias sobre o nível de produção “limpa” que apresentam. As entidades que são avaliadas positivamente são beneficiadas com incentivos financeiros por parte do Estado, enquanto que as que não são avaliadas, ou que são avaliadas negativamente, são expostas publicamente devido às suas práticas negligentes. Neste nível incluem-se, para além dos métodos e tecnologias de produção, o próprio design dos produtos, que deve ser o mais ecologicamente responsável possível (Lei, S. & Bi, J. & Lu, X. & Bin, Z., 2015).

O segundo nível tem como objetivo desenvolver uma rede industrial ecológica, fomentando o desenvolvimento de transferências de energia, partilha de infraestruturas e aproveitamento/reciclagem de desperdícios. Deste modo, começaram a ser desenvolvidos parques ecoindustriais, tornando-se, estes, bastante comuns na China, incorporando aspetos ambientais nos processos de produção e no design dos produtos (Lei, S. & Bi, J. & Lu, X. & Bin, Z., 2015).

O terceiro nível refere-se à modernização económica, sempre com uma vertente ecologicamente sustentável em mente. Deste modo, foram desenvolvidas medidas que permitissem a fomentação de cidades e infraestruturas mais ecológicas, que estabelecessem a ligação entre toda a cadeia de valor, criando, desta forma, sinergias positivas (Lei, S. & Bi, J. & Lu, X. & Bin, Z., 2015).

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27 Todas estas atividades que estão a ser atualmente implementadas na China resultam da consciencialização de que o modelo de Economia Linear se encontra esgotado e que, especialmente no contexto Chinês, seria insustentável (Lei, S. & Bi, J. & Lu, X. & Bin, Z., 2015).

Tal como a China, também a União Europeia tem apostado recentemente na promoção da Economia Circular, tendo adotado, em Dezembro de 2015, um Plano de Ação para a Economia Circular com o objetivo principal de impulsionar a criação de emprego (em 2016 os setores que contribuíam diretamente para a Economia Circular empregavam mais de quatro milhões de trabalhadores, uma variação positiva de 6% em relação a 2012), crescimento económico e o investimento, em simultâneo com uma redução das emissões de carbono e uma utilização eficiente em termos de recursos (Comissão Europeia, 2015a). A implementação destas diretrizes permitiu o surgimento de novos modelos de negócio e de novos mercados. Atividades como a reparação, reutilização ou reciclagem geraram um valor aproximado de 147 mil milhões de euros de valor acrescentado, representando, também, investimentos no montante de cerca de 17,5 mil milhões de euros (Eurostat, 2018).

De facto, o conceito tem sido objeto de destaque e relevo para a União Europeia (UE) nas últimas décadas, encontrando-se presente em várias políticas estratégicas da UE como a “Iniciativa Emblemática da Estratégia Europa 2020 – Uma Europa eficiente em termos de recursos” e o 7º Programa de Ação Ambiental. Nomeadamente, foi publicado um mapa em 2015 pela Comissão Europeia com uma lista de 20 diferentes iniciativas a serem implementadas na UE relacionadas com a Economia Circular (Rizos et al., 2015).

Adicionalmente, foram sendo sucessivamente adotadas legislações europeias com o objetivo de tornar a União Europeia mais eficiente em termos de utilização de recursos e de energia. No entanto, várias destas políticas enfrentaram barreiras à sua implementação, tal como a dificuldade em transpô-las para os corpos legislativos de cada um dos estados-membros. Foi neste sentido que, em 2014, foi adotado o “Green Action Plan” pela Comissão Europeia, para as pequenas e médias empresas, com o objetivo de transformar os desafios que as sociedades europeias vivem atualmente em termos climáticos em novas oportunidades de negócio,

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28 fomentando, desta forma, a competitividade e a sustentabilidade da economia (Rizos et al., 2015).

Entre os fatores que possibilitam e aceleram a implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular encontram-se, de acordo com Jesus & Mendonça (2017), os seguintes:

• Técnicos

o Disponibilidade de tecnologias que facilitem a otimização da utilização dos recursos, assim como a sua reutilização ao longo do processo produtivo. • Económicos / Financeiros

o Aumento da quantidade procurada de recursos, levando a uma volatilidade de preços, havendo, desta forma, incentivos para a redução do seu custo e aumento da sua estabilidade de preço

• Institucionais / Regulatórios

o Associados com aumentos da complexidade e exigência da legislação, padrões e standards ambientais.

• Socioculturais

o Preocupações ambientes que registam uma tendência crescente, assim como os níveis de literacia ambiental;

o Alterações dos padrões de consumo dos consumidores, preferindo bens e serviços mais “amigos do ambiente”.

Resumidamente, tem sido a China que mais tem implementado, na prática, metodologias e atividades relacionadas com a Economia Circular, fruto da sua planificação estatal (planos quinquenais) e do estabelecimento de objetivos a médio-longo prazo. Uma ação concertada e abrangente desta natureza produz efeitos mais palpáveis do que os que têm sido registados na Europa. Isto poderá dever-se ao facto de ser necessário coordenar a alcançar um consenso entre os diferentes estados-membro da União Europeia, enquanto que na China as políticas são ditadas pelo Comité Central e possuem carácter obrigatório.

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29

Barreiras à Implementação da Economia Circular

As barreiras à implementação da Economia Circular

A Economia Circular ainda se encontra numa fase muito embrionária da sua implementação. Segundo a Comissão Europeia (2019a), e com base no seu Documento de Reflexão Para uma Europa Sustentável até 2030 (2019b):

“A economia circular deve tornar-se a espinha dorsal da estratégia industrial da União, permitindo a circularidade em novos domínios e setores; as análises do ciclo de vida dos produtos devem tornar-se sistemáticas e o quadro relativo à conceção ecológica deve ser alargado tanto quanto possível” (p.11)

No entanto, existem várias e sérias barreiras à implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular. A própria Comissão Europeia, na sequência do seu ambicioso “Circular

Economy Package” de 2015, realizou um abrangente estudo em 2016 que explorou as atividades

das pequenas e médias empresas dos estados-membro relacionadas com a Economia Circular, assim como as barreiras que sentiam na sua implementação.

De modo a se realizar esse estudo foram conduzidos inquéritos a empresas dos 28 estados-membro durante o ano de 2016, sendo a amostra constituída por mais de 10.000 empresas (pequenas, médias e grandes).

Tendo por base esse estudo, foi possível chegar à conclusão de que cerca de 73% das empresas desenvolveram atividades relacionadas com a Economia Circular, assim como que quanto maior fosse a empresa, mais provável seria de as ter desenvolvido. Por exemplo, 72% das pequenas empresas responderam afirmativamente a esta questão, enquanto que 89% das grandes empresas o responderam.

Positivamente correlacionado com a implementação de atividades de Economia Circular encontra-se, também, o volume de negócios, que quanto maior é, maior é a probabilidade de desenvolver essas atividades.

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30 No que toca ao financiamento destas atividades, 59% das empresas responderam que pelo menos uma parte dos seus lucros eram reinvestidos nas mesmas, enquanto que 70% responderam que as financiavam através de meios próprios. De entre as que não desenvolveram nenhuma atividade relacionada, 36% responderam que, provavelmente, irão investir no futuro.

No entanto, foram, também, apontadas várias barreiras à implementação e desenvolvimento destas atividades. De facto, cerca de 60% das empresas inquiridas afirmaram que encontraram barreiras na prossecução de atividades relacionadas com a Economia Circular, como processos administrativos ou legais complexos (34%), custos necessários implementar de modo a cumprir com as regulações (32%), dificuldades em aceder a financiamento (27%), falta de conhecimentos e competências (22%) e falta de recursos humanos (21%).

Referente às empresas que não desenvolveram atividades relacionadas com a Economia Circular, as razões invocadas pelas mesmas passam por não terem uma ideia clara acerca da análise custo/benefício associada (27%) ou do investimento necessário (27%), falta de conhecimentos para a sua implementação (26%), dificuldades em aceder a financiamento (25%), custos necessários imputar de modo a cumprir com as regulações (23%), procedimentos administrativos e legais complexos (23%) e falta de recursos humanos (20%). No que se refere ao financiamento externo das atividades desenvolvidas, quase 20% das empresas inquiridas responderam que o consideraram de difícil obtenção, enquanto que apenas 13% o consideraram fácil. No entanto, a maioria das empresas (63%) não recorreu a fontes de financiamento externas. Se se comparar estes resultados com os que eram esperados pelas empresas inicialmente, ou seja, com a dificuldade que as empresas anteviam terem no acesso ao financiamento externo, podemos verificar que cerca de 45% das empresas esperavam que fosse difícil ou muito difícil. Pode-se concluir que uma das barreiras à implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular pode consistir na perceção da dificuldade em obter financiamento e no próprio acesso ao financiamento. Ainda referente ao financiamento destas atividades, e no que respeita apenas às empresas que não desenvolveram atividades relacionadas com a Economia Circular, apenas 31% afirma que iria financiá-las por meios próprios. Surge, deste modo, uma oportunidade para a

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31 existência de financiamento por parte de entidades como a União Europeia ou os governos nacionais por forma a fomentar a implementação destas atividades.

A perceção acerca da existência de programas governamentais de apoio à realização destas atividades também é um ponto crítico que deve ser analisado. De facto, cerca de 63% das empresas não sabe da existência destes incentivos, acrescendo 13% que conhece a sua existência, mas não sabe em que consistem, totalizando 76% das empresas que consideram haver lacunas severas no que toca à transmissão da informação relacionada com a existência destes incentivos.

Adicionalmente, a existência de muitas destas barreiras prende-se com o facto de as matérias-primas, a energia e a produção de resíduos e desperdícios serem comparativamente mais baratas do que os custos com mão-de-obra e logística. Os produtos podem, em vários casos, serem produzidos e desenhados com menores quantidades de materiais, resultando numa menor quantidade de matérias-primas utilizadas e numa menor quantidade de desperdício gerada, sendo possível, também, mudanças no design dos produtos de modo a aumentar a sua longevidade e a facilidade de reparação. No entanto, este cenário não costuma ocorrer devido aos custos elevados com a mão-de-obra e logística que é necessário empreender de modo a desenhar, gerir e reparar os produtos, não justificando as poupanças incorridas nos custos materiais e energéticos (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, 2017). Kirchherr et al. (2018) conduziram 195 inquéritos e 40 entrevistas a académicos especializados na Economia Circular, assim como a stakeholders de várias empresas e entidades governamentais da União Europeia com o objetivo de averiguar quais eram as barreiras à implementação de atividades relacionadas com a Economia Circular que sentiam. Uma das barreiras mais mencionadas corresponde às barreiras culturais, especialmente as referentes à cultura organizacional e dos consumidores. A cultura organizacional das empresas é um fator determinante na criação destes entraves, dado que esta se apresenta como sendo deveras hesitante na adoção de atividades de Economia Circular. Kirchherr et

al. (2018) sugerem que, apesar de ser comum pensar-se que as empresas adotam estas

atividades, na verdade elas costumam estar mais ligadas à responsabilidade social e à imagem ambiental das empresas, sendo que estes departamentos têm muito menor preponderância

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32 no processo de tomada de decisão do que os departamentos financeiros ou operacionais. Deste modo, o tema da Economia Circular surge quase como que num nicho de conversação entre académicos e profissionais do campo específico, não encontrando uma aplicação prática concertada e disseminada.

Adicionalmente, pode-se incluir nas barreiras culturais, a falta de interesse e conhecimento dos consumidores e a tradição de operar num sistema linear. No que se refere à falta de interesse e conhecimento dos consumidores pode-se incluir os padrões de consumo voláteis dos dias correntes, sendo estes caracterizados por alterações comportamentais repentinas altamente influenciadas pelos meios de comunicação e redes sociais (exemplo de produtos que deixam de estar “na moda” num período temporal mais curto do que o seu período de vida). No que toca ao segundo ponto, os entrevistados e inquiridos consideraram que as suas entidades eram caracterizadas por cadeias de valor “muito conservadoras”, não implementando, de todo, atividades relacionadas com a Economia Circular, especialmente se estas levarem ao desmantelamento das de Economia Linear já existentes (Kirchherr et al., 2018).

Seguidamente foram identificadas as barreiras do mercado, que consistem nos preços das matérias-primas, elevados custos de investimento inicial e poucas e limitadas fontes de financiamento para modelos de negócio circulares. No que toca ao primeiro ponto, referente ao preço das matérias-primas, autores como Preston (2002) mostram que o preço atual das matérias-primas torna a competição por parte de entidades que adotem a Economia Circular com as que se mantém numa Economia Linear muito exigente, dado que o primeiro modelo é bastante mais dispendioso do que o segundo (por exemplo, o preço de plásticos produzidos com base em combustíveis fósseis é bastante menor do que o preço de plásticos produzidos com biocombustíveis).

Este ponto interliga-se com o segundo e com o terceiro, referentes ao elevado investimento inicial e ao acesso limitado a fontes de financiamento (estas, também, por si só, escassas). A tecnologia relacionada com a Economia Circular (e todos os processos que se encontram embebidos na mesma) é dispendiosa, sendo que acrescendo a estes custos por si só elevados juntam-se os custos das matérias-primas renováveis. Deste modo, o investimento inicial em capital e trabalho (mão-de-obra) é, deveras, elevado, sendo uma causa para a não

Imagem

Figura 3 - Fluxos lineares de energia e materiais, Korhonen & Seppälä & Honkasalo (2018)

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