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1982: da greve geral à madrugada sangrenta

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(1)

l-e

Monde

diplomatique

EDrÇÃo PoBTUGUESA ALFBEDO IVARGABIDO ANA SANTOS BRUNO MONTEIRO cLnúolR cASTELo

DìOGO RAMADA CURTO ELSA PEBALTA

ItrlÊs sRRsÃo

IBENE FLUNSER PIMENTEL ISABEL CASTRO HENRIOUES

¡OÃO L¡RL ¡osÉ soRe¡s R¡ls

¡osÉ H¡nNu¡L soSRRL ¡osÉ tilutrlo H¡¡ros

Luís arnNRRoo MANUELA RIBEIRO SANCHES MTGUEL BANDEtRn ¡rnóuvo

NUNO DOIVINGOS

PAULA GODINHO PEDRO SANCHES DUARTE

síLvlR connnR VICTOR PEREIRA IITRIUR

t

ESTE

PAIS

IJ

NAO

EXISTE

(2)

TilUtO ESTE PAÍS NÃO EXISTE

AUTORES ALFREDO MARGARIDO, ANA SANTOS, BRUNO MONTEIRO, CLAÚDIA CASTELO,

DIOGO RAMADA CUBTO, ELSA PERALTA, INÊS BRASÃo, IRENE FLUNSER PIMENTEL, ISABEL CASTRO HENRIOUES, JOÃO LEAL, JOSÉ BORGES RËIS, JOSÉ MANUEL SOBRAL, JOSÉ NUNO MATOS, LUís BERNABDO, I\4ANUELA RIBEIBO SANCHES, MIGUEL

BAN-DEIBA JERÓNIMO, NUNO DOMINGOS, PAULA GODINHO, PEDRO SANCHES DUARTE,

SíLVIA cORREIA, VIcTOR PEREIRA

t

oRGANrzaçÃo BRUNo M0NTEIR0 E NUNo D0MINGoS

ISBN

ESTE

PAIS

978-989-870r -07-7 REFERÊNCIA I 510001 FORMATO 12x19 cm r" ËDrçÃ0 JANEIRO 2015 r. EDrçÃ0 DEPOSITN I FGÄI 385749/14 IMPBESSÃO

x

NAO

EXISTE

RAINHO & NEVES, LDA.

TEXTOS CONTRA

I D

EIAS-FEITAS

DÊBIVA EDIfOBES

TE[F00351 22 536 51 45 EMAIL ¡nfoderivaeditores@gma¡l.com derivaeditores.blogspot.pt der¡vadaspalavras,blogspot.pt

Esta edição é uma parceria entre a 0utro Modo, cooperativa curtural e a Deriva Editores. 0RGANIZAç40

BRUNO MONTEIRO E NUNO DOMINGOS

Reservados todos 0s d¡reitos. Esta edição não pode ser reproduzida, nem transmit¡da, no todo ou em parte, por qualquer processo electrónico, gravação ou outros, sem prévia

autorização da Editora. @ Le lvlonde Diplomatique,20ls

(3)

82 I

1982:

da greve geral

à

madrugada sangrentq

H i sro ri a d o ra, r

rtJlil

J:::ï:i

îï##.iH..;;

e Sociólogo, lnvestigador no ICS_UL

Durante uma visita às festas de Campo Maior,

o

atual

primeiro-ministro pedro passos Coelho

declarou ser ne_ cessário não confundir o exercício do direito à manifestação

1 à gr;ve com a postura daqueles gue ?ensøm gue podem

incendiør as ruøs e øjudar o

quil*o,

pLrt,)got

(eriøiirri0";î;:.

TIT^.***ro

em que se torna evidenre-a distinção entre

(Dons> e (maus> manifestantes, opacíficos,

e oviolentoso,

"cidadãos" e <radicais> importa reiordar eventos passados

em que os primeiros se viam reduzidos à condlção dos

segundos.

Hâtrintaanos atrás, no ano de I9B2,opaís encontrava_

se sob governo da Aliança DemocrátiÉ"

iÀO),

fbr_;;;o

política composta por

ppD/pSD,

CD¡;

monárquicos. O

seu programa era a austeridade, embora

a ordem dir.,rrrirr"

j:

,.^:r::^1r.-e

expressar de ourro

-"d;;

flexibitizaçio

::

:i:i.iespedimentos.

(numa conjunrura

a.

."p"r,rao

ue conrratos_a_prazo), a imposição de tetos

salariais, os

aumentos de taxas e cortes ao

nívelda saúde e da

habita;;;

e, finalmente, a proposta de revisão

.r"ril*.ir"

al a apontar para o fim das nacionalizaçoes e da

,rforma

agraria.

A

radicalidade de tais medidas,.onruiriur.iadas pela situação de crise vivida

(.o-

."r.á

¿.

¿lo

ôoo

trabalha_

EsrE pAís NÃo EXtsrE I 83

jores desempregados), tem como resposta a convocação

ðaquela que seria a primeira greve geral do então ainda

iovern regime democrático. Sem a participação da União

'Geral de tabalhadores

(UGT),

o governo

AD

inicia de imediato uma campanha de difama ção da

CGTP-IN,

insi-nuando uma aproximação dacentral sindical ao fenómeno

dahxa armada, ainda ativo. Cerca de uma semana antes

døgreve,marcada para o dia72 de Fevereiro de 1982, um

engenho explosivo destrói parte da casa de Torres Couto, àaluralíder da

UGT

Na sequência deste acontecimento,

ern entrevista ao telejornal da RTP, o dirigente sindical

insinua a existência de uma relaçáo entre o atentado e a

ação da Intersindical: esta søbe gue setil ø nlssø adesøo ø greve não terá o êxito gue eles gostariarn que tiøesse e, por conseguinte,

tun que reczrrer a algumøsforças ønti-democrriticøs, a ntátodos

destø naturezør.

Entre acusações de que a iniciativa visava a destabiliza-ção do regime e promessas de proteção aos que optassem

por não exercer o direito à greve, o governo envia um oficio

à

CGTP-IN

onde afirma ter chegado ao seu conhecimento informações relativas a pressões7z nto das populøções,

conai-dando-øs ø øderir à grezte de diø L2 de Fevereiro, sob penø de

retaliações gras¿s.

No

mesmo comunicado, as auto;idades

prometem responsøbilizar até às últimøs conseguências os

e/ernentos provocøtórios pøssíveis de comportømento ilícito,

bem como reþrçør os serviços de segurønça e de proteção às

populøções, garøntindo genericømente o direito à segurançø de

todos, incluindo os gue guiserem trøbølhaÊ. Paralelamente,

o Ministério da Adminisftaçáo Interna

(MAI)

faz seguir 1-CGTP-IN/Coordenação,

Greve Geral de 1.2 de Fevereiro d,e 79g2, n." J.95, uResultados,, oDeclarações de Torres Couto ao Telejo rnal do àia 7.2.g2,.

2 CCTp-INZCoordenação, Greve Geral

de 12 de Fevereiro de 1,992, n." 189, <Contactos com entidades oficiais>, Ofício do Gabinete do Ministro ao Secretário-geral da CGTP-Intersindical Nacionai, 8 de Fevereiro d,e 1,982.

(4)

I

84 I

para as forças policiais vtirios textos que cørøcterizøvør:

n

øção dos sindicøtos como-perigosa mønobrø goþistø

,ontro...|

democrøciø (O Didrio

24

deFevereiro de-I982).

_N-o dia da greve, as notícias não enfatizarão os cerca ds

1 500 000 trabalhadores em greve (números ¿a

CCfp).

Tämpouco as inúmeras tentativas de intimidaçao

,

g.._

vistas

-

do impedimenro

da

organizaçáo de plenáriãs s

piquetes nos locais de trabalho às ameaças de não renovação de contratos - a-prazo-,passando por processos disciplina_ res, suspensões, ou faltas injustificadas

-

foram alvo

de destaque.

A

atenção acabará"por se centraï

"-

ulg.rn,

,to,

de sabotagem, como o apedrejamento de autocarros em serviço ou o tão famigerado recurso à colocação de pregos na estrada. Num telex de 3,70 merros enviados p.tó

Mät

aos meios de comunicação social, chega-se mesmo a men_

cjonar urn pinlteiro de pequeno porte (O Dia 19 de Fevereiro

de 1,982),utilizado no bloqueio de uma via.

A

tese da insurreição, alimentada pelo então ministro

da

AI

Ângelo Correiá, acabará.po,

"pär,r,

nos resultados

da detenção de três pessoas, ao final do dia, ao redor de um

automóvel estacionado nazonado parque Eduardo

WI.A

apreensão de armas, de material de emisião radiofonica e de gravações onde se afirmava o apoio à greve, e a consequen_

te suspeita de envolvimento das Fp-2S,levaram Ângelo

Correia a

juntar

os pontos soltos. por mais distanciäos

que estivessem um dos outros, todos eles foram juntos num

puzzle, o qual, nas suas próprias palavras, assinalava um

plano subversir.to e desestøbilizador tendente ø alterør ø ordem

democr¿iticø (O Jornøl 19 de Fevereiro de I9g2).

O discurso criado acabou por ter repercussões na afu_ ação das próprias forças de segurança, ionstatando-se, ao

longo do dia, várias cargas

po1i.i"i,

sobre concentrações de trabalhadores. Na Praça ão Rossio, em Lisboa, u

^n^_

ÈsT€ PAís NÃo EXtsrE I B5

"ao daPolicia de Intervenção (PI) provoca vários feridos,

Li.luriuu-.t

te

entre jornalistas presentes no local, aos 'nvais

nao valeu, segundo as declarações do profissional inaquim Btzzaro ao

jornal

O

Dia,

ostentar

o

cartão de

:r*pir"ntu e gritar (somos jornalistaso (O Diø 13 de

Feve-reíro de 1982)'

Mais tarde, já à noite, uma caravana de automóveis em

festejo do sucesso da greve é sujeita a uma operaçao stop.

firgumentando a procura por armas, os vários carros em

desfile foram barrados e revistados, tendo alguns dos seus

proprietários sido detidos e agredidos.

De

acordo com o

ielato do iornal o Diário, Numa døs rtiaturøs descobriram uma faca ferrugentø, inutilizøda, jazendo numa caixa de

ferramentøs. .á condutorø do oeículo nao

foi

dispensadø de

"

passar pelø esquødrø do D. Møriø, ,,parø identfficøçã0". zllntes

'disso,

os revistødores tinhønt informado os revistados de "hoje

,uamos acøbar czrn a vossø seita toda, (O

Diririo,14

de

Fe-vereiro de 1982).

O

cariz da operação policial que, conforme admitiu

Ângelo Correia, contou com a coordenação de elementos

da

GEO

(a polícia espanhola anti-terrorista),levou a que,

face à ausência de provas credíveis,

o

ministro recuasse

nas suas posições. Perante questões impertinentes de

jornalistas, no âmbito do programa da RTP-2 "Clube de

Imprensau, o ministro evitará, explicaçöes mais detalhadas

sobre os acontecimentos, remetendo-as para a categoria de usegredos de Governo" (OJornøl idem).

Por sua vez, o

jliz

do 1." Juízo de Instrução Criminal

de Lisboa não deu sequer como indiciadas as acusações de crimes de rebelião e contra a segurança de Estado contra os

três detidos do Parque Eduardo

\4ll,limitando-se

a

acu-sação ao crime de posse ilegal de armas de guerra (Ditírio

(5)

86 I

As

insinuações e acusações haviam, no entanto, siclo

criadas e difundidas, ajudando a preparar o terreno par¿ os desafios do amanhã.

A madrugada sangrenta

Ig39tl9,-os

festejos

do

1." de

Maio

organizados pel¿

CGTP-IN

decorriam, habitualmente, napraça ¿u

R.r

pública. Naquele ano, porém, a resposta à requisição de

espaço p_ubllco por parte do governo civil, enrão dirigido

por

Rocha

Pinto (militar

na reserva próximo do

CóS¡,

havia tardado.

Oito

meses depois do primeiro contacto, realizado a

4

de Maio, a União de Sindicatos do porto (USP) renova

o

seu comunicado, obtendo, poucos dias

depois, a informação de que as respetivas âreãs jíthaviam

sido requisit¿das pela

UGT

a 27 de Abrilde 1981, ou seja,

ainda antes do 1." de Maio de 1981. Semanas depois, a USp

declarava não aceitar a decisão das autoridades, uma vez que, conforme estipulado por lei, qualquer indeferimento

necessitaria de ser realiza do no pnzo de 24horas seguidas

à comunicação inicial, convocando a sua concen tração para

aPraça General Humberto Delgado,Avenida dos Aliados

ePraça Geral da Liberdade.

_

O

relatório produzido

pela Procuradoria-geral da

República (PGR) em torno dos acontecimentos ão 1." de

Maio no Porto refere que, embora não se possa contestar

o direito da

UGT

a usufruir daqueles espaços, øfaltø de

resposta øtempadø øos avisosfeitos pelas organizøções sindicøis

em nødø contribuírøm pørø clar'frcar ø situação e esclørece4 com a der,,idø øntecedência, os direitos de cøda umø dessøs

orgøni-zøçoes (USP 7983,97). Fonte próxima do gor,.rrro Jh.gu

mesmo a afrrmar ao Expresso que, não obstante o âmbiio

EsrE PAís NÃo rxtsrE | 87

,^^ol dadecisão de Rocha Pinto, a mesmafoi incorretø sob

i\r-r,

de aistø político e até hurnano (Expresso 1 de Maio

7[eez,tz).

'"

-O

..nário

de duas centrais sindicais rivais a partilhar

n rrlesrrlo esþaço é adensado pela chegada de informação

i

pSp ao Pãrto a denunciar, por um lado, o reforço dos

lf"tiuot

sindicais para aquele dia, oriundos de Lisboa e,

nor outro, o atmazenamento de matracas, tubos e correntes td"

frrto por parte de elementos próximos da USP' Estas infor*uçã"t, segundo as declarações do Major Ramos de

burpor,

chefe da Secção Técnica --Informações e

Ope-raçAås

-

do comando

distrital

da PSP

do

Porto, foram

loin..idur

porfonte estatal de øttafdelidøde (USP 1'983,

ß5).

A

grávidade da situação exigia a presença da PI,

chefradaþelo

1.'

comissário Magalhães Teixeira e pelo 2.o comissário Magalhães

Lima,

um

dos responsáveis

oelos acontecimentos vividos meses antes no Estádio da

Lut,"^Maio

de 1981, âquando da vitória do Benfica no

campeonato nacional.

Ña noite de dia 30, véspera do dia do trabalhador, os

primeiros registos de confrontos ocorrem entre as 21'30

e as 27.45, resultando de pequenas "escaramuças" junto

ao palco da

UGT

(Praça

Humberto Delgado)

entre

s\mpatizantes da Intersindical e as forças de segurança

aa

UCt

Dá-se então uma primeira carga policial que

culmina no estabelecimento de um cordão de segurança

entre os apoiantes das centrais sindicais.

O

relatório da

PGR menciona o lançamento de pedras contra esta linha,

contrariado por ocasionais cargas contra os seus autores' Destas resrrlfaram alguns feridos, em particular o subchefe

José Gonçalves,prittødo de oito dentes (IJSP 1983,94)' No

entanto, a grandã parte das Pessoas encontrava-se dispersa

(6)

ESIE PAíS NÃo ËXtSfE I 89

Corpo de Intervenção øgrediram indiscriminadarnente todas

n, putoot que se encontrtt'uøm à suøfrente, à bastonada e øo

oontape, e às rtezes corn obscenidødes, independentemente do turo

i

idodt; quer orreftlessassem pedrøs ou nadafzesse/n'; quer

f4ss(rn emfuga ou sim'p/esmente estittessem pørødas, morrnente

'abrigadas ern paragens de øutocarrls 0u nøs soleiras dos prédios.

Tbdos erøm agredidos, rnuitøs vezes deformø sektrÍticø e por

rnøis de urn elemento po/iciø/ contra ø mes?77a ?essoa, mesnto gue

estu se enclntrasse prostrødø no chão e indefesø (idem,104).

A

busca chega a estender-se ao banco do Hospital de Santo

António, aonde carregam sobre familiares e amigos das

vítirnas que então chegavam às urgências.

Outros batalhões da PI dirigem-se para sul (Praça

Al-meida Garret e Estação de S.Bento),onde se deparam com

zlgtma resistência, manifesta no lançamento de pedras,

garrafas e paus. Foi neste contexto que as forças policiais

i..ort.tu-

ao uso de armas de fogo (inclusivamente de

me-tralhadoras G3), tendo sido nesta zona (próxima daPraça

Garret) que Pedro Vieira, de 24 anos,e Mário Gonçalves, de

77

anos, foram mortos: Pedro Vieira, atingido pelas costas, fruto de ricochete, e Mário Gonçalves, atingido na

cabeçapor um disparo rea)izado a poucos metros. De

acor-do com o relatório da PGR, a sua morte foi provocada por

lesões trøumdticøs crâneo- encefilicas, queforøm produzidøs por projétil de ørmø defogo, existindo fortes indícios nos autos

que apontam a autoria do disparo a um e/erltento grøduødo

(Conr.øndo de Pelotão ou Contandønte de Secção) do Corpo de

Inter v e n ç ã o (i de ru,7t2),

O relatório esclarece igualmente que, ao contrário das

afirmações produzidas pelo governo, fruto de uma reunião de urgência na Qrinta da Marinha, não existirem quaisquer provas do lançamento de cocktails molotov e de disparos realizados por manifestantes, atos que, alegadamente,

ha-d;ño øces_so àqueles /ugøres, seTn que møn.festøssem qualquer

hos_tilidøde

,às forçøs policiais ou øo espectdculo pro*oäido

pela UGT (idem,93). Apenas a

parti|

das 23.50, quand; jâhavia terminado o espetáculo de variedades orga;izad; pela

UGt

é que ocorre a última carga

policial,,.rporrau.l

por vários feridos e pela morte de duas pessoas.

-

A

investigação

do

que terá ocorrido na madrugad¿

do dia 1." de

Maio

de I9B2 começa por deparar-se pela

não correspondência dos depoimentos de Ramos Rotha,

autoridade mríxima do comando da pSp do porto, e d"

M"]

galhãesTeixeira, comandante da PI, quer no que concerne

a lorma de execução da operação, quer no que respeita aos seus fins. Enquanto o

primeiro

afrrma quã o plano tinha

um objetivo imediøto de dissuasão e de contenção døs intenções,

o segundo defende que o objetivo era olim?øn, todo o local

dos rnanifestøntes que ?rocuravøm contrariar a realização do

espectdculo dø UGT (idem, 99).

Fìndas as atividades promovidas pela

UG!

a

CGTp

tenta improvisar

um

palco numa carrinha que começa

a subir a Avenida. Fonte anónima, nunca iàentificada, informa um agente da PSP de pedras e cocktails molotov

escondidos nesse mesmo veículo, anteriormente

transpor-tados por sujeitos afetos à Intersindical. Ao mesmo tempo,

a deslocação de carrinhas daPIparua rua Sampaio

Bruio

(não para a Rua Magalhães Lemos, como haviã sido deli-neada pelo plano operacional da pSp) é confrontada com

apedrejamentos. Sem dar conhecimento a Ramos Rocha, Magalhaes Teixeira emite ordens para que os respetivos comandantes da PI actuassem, passando o plano

,

ã.orr.,

sob sua orientação.

As

cargas efetuadas nã Avenida dos

Aliados e na Praça da Liberdade visam manifestantes,

jornalistas e demais pessoas que se encontrassem

n

Íva.

O

relatório é perentório

(7)

e0 I

viam tornado inevitável a at.tação das forças de segurança.

Por sua

ve4

entÍe estas, os únicos ferimentos registadãs

foram torções lombares, derivados

do

excessivo-rrso do

cassetete (Expresso 1 de

Maio

deI9B2,12-13).

_N_g

di"

seguinre,

sem a

pI

nas ruas, milhares ds trabalhadores regressam ao centro dos

aconteci-.ntoq

num ambiente de indignação,atéraiva, mas

,.-

quulqu.,

registo de confrontos.

Qratro

dias volvidor,

-iúrr.,

d.

pessoas acompanhariam as urnas das vítimas mortais,

a

enteÍÍar,

no

que Torres Couto descreveu como cons_

tituindo

uma pøsseøtø peløs ruøs dø cidade. pelas 16h30, trabalhadores de todo o país uniram-se num minuto de silêncio, apenas interrompido pelos silvos emitido,

p.t",

sirenes de fábricas e das embarcações daTranstejo,

jurto,

na homenagem aos que caíram (USp 1983, OS_7b).

N.rr.

mesmo dia, a Intersindical convoca uma greve ge:ral para

o dia 11 de Maio.

Conclusões provisórias

As

demissões de

Ângelo

Correia

(MAI),

Rocha

pinto

(Governo Civil do Porto) e Magalhães

Teleira

(pI), em_

bora tenham constituído uma rãação ao quase estado de excepção declarado nas ruas do porto,

nãì

conseguiram

^pagar o passado. Não obstante a frustração do plãno de

uma hegemonia sindical afeta à

UGT

ná Norte do puís,

capaz de edificar o sonho marcelista de uma elite sinåicaí

tecnocrata mais avessa à rua do que à mesa de negociações,

a campanha de difamação a que a Intersindical

ioi

sujeita

não deixou de produzir or r"rrc efeitos. Na realidade, äais

do que aprópÅacentral sindical,eram os próprios trabaJha_

dores que eram intimados a

adotar.r-" portrm

razoâvel,

EsrE PAis NÃo EXrsÌE | 91

¿p)ilibrada,própria da sua condição. No final, a campanha

¡ru. .o.r"qrrências, admitidas sem grande pudor.

Numa entrevista concedida ao programa Clube de

Im-þrensa em torno dos acontecimentos verificados durante a 'sr"vegerú.do dia L2 de Fevereiro,Angelo Correia concluiu

is¡ necessária a existênciø de umø só estruturø de informøçã0,

¡¿7n capacidøde pørø øssegarar ø segurançø do Estødo

derno-crdtico, sendo ø interligøçøo entre os vdrios setores øssegurødos

p1r um tirgã03.

A

revisão constitucional de 1982 viria, de

-facto,a

considerar a criaçáo de um sistema de informação nacional,instituído dois anos depois sob a sigla SIS,

Sis-æma de Informações e Segurança.

Fontes:

ls./ a.]. 7982.<A'insurreição' de Ângelo Correia em 3,7 0 metros

de telex', O Dia,19 de Fevereiro de 7982.

ls./a.1.7982. <A'inventona'. Depressa se apanha um relatório

'coxo'... rr,OJornal, 19 de Fevereiro.

[s./ a.]. 1982. uNão confirmadas acusações de'subversão' contra

detidos no Parque Eduardo WIrr,Didrio Popular, 10 de Feve-reiro.

ls./a.]. 1.982. uPolícia de 'cabeça perdida'e algumas 'cabeças partidas'r,, O Dia, 13 de Fevereiro.

ls./a.1.7982. oRossio, sexta-feira à noite: 'isto servia para vos

enforcar a todos',r, O Didrio,14 de Fevereiro.

Canedo, Rito. 1982. nPolícias, ordem pública e propaganda políticao, O Didrio,24 de Fevereiro.

CGTP-IN/Coordenação, Greve Geral de 11 de Fevereiro de

\982, nP 103, u'Fui

eu'-

confissão de Ângelo Correia sobre a

chamada do polícia espanholr, Primeiro de Janeiro,l4 de Feve-reiro de 7982,4.

rccrp-INzco*¿*ação, Greve Geral de 11 de Fevereiro de 1982,n.o 1,03, <'Fui eu'- confissão de Angelo Co¡reia sobre a chamada do polícia espanhol,, Primeiro de Janeiro, 14 de Fevereiro de 1982, 4.

(8)

s2 I

CGTP-IN/Coordeîaçã.o, Greve Geral de 72 de Fevereiro ds 7982, n." L95, "Resultadosr, oDeclarações de Torres Couto aJ

Telejornal do dia 7 .2.82".

CGTP-IN/Coordenação, Greve Geral de 12 de Fevereiro ds 7982, nP 189, <Contactos com entidades oficiaisr, Olîcio do

Gabinete do Ministro ao Secretário-geral da CGTp-Intersinl

dical Nacional, 8 de Fevereiro de 1,982.

Público, 4 de Fevereiro de 2077, oPrimeiro-ministro diz que

aceita críticas mas não vira a cara às dificuldadesr, http:/Ávww.

publico.ptlPo lo/oC 3o/o AD tic a/pri m eiro mi n is tro - diz- quì - aceira_

criticas -mas- nao -vir a- a- cara- as -difi culdades_1 5 1 043 6.

Qreiroz, José. 7982. oUma noite de pânico>, Expresso, 1 d,e

Maio,!2-73.

USP. 1983. Livro Branco sobre a Madrugada Sangrenta do 7.o de Maio 82 Porto.Lisboa: Edições Um de Outubro.

Vieira, Joaquim. 1982. uComo vai responder o Governo ao

desafio da Polícia?

", Express o, 7 de Maio,12.

-t

ESTE PAis NÃo ExrsrÊ | 93

ll.

Paisagens

imperiais

e

Referências

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