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Aplicação de geofísica na obtenção de informações para mapeamento geotécnico

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Academic year: 2020

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APLICAÇÃO DE GEOFÍSICA NA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA MAPEAMENTO GEOTÉCNICO

Vagner Roberto ELIS Lázaro Valentim ZUQUETTE RESUMO

Foram aplicados ensaios de Sondagem Elétrica Vertical e Sísmica de Refração - na obtenção de informações sobre a transição solo-rocha, profundidade do nível d'água e pro-fundidade e morfologia do topo do substrato rochoso em duas áreas com características geo-lógicas distintas - para avaliar a sua eficiência na obtenção de atributos do meio físico.

ABSTRACT

Vertical Electric Sounding and Refraction Seismic surveys have applied to get informa-tion on soil-rock zoning, depth of bedrock and water table in two areas with distinct geologi-cal features, to evaluate their relative efficiency in the obtention of physical environment attributes.

1 INTRODUÇÃO

Com a crescente preocupação em relação à preservação do meio físico e utilização racional dos recursos naturais, o planejamento e fiscali-zação da ocupação ganharam grande importân-cia. Os documentos gerados por Mapeamento Geotécnico se apresentam como uma importan-te ferramenta para orientar esse planejamento, uma vez que retratam as características e as principais variações dos componentes do meio físico.

Dentre essas diversas características, que aqui serão denominadas de atributos, é consi-derado de extrema importância para o planeja-mento da ocupação do meio fisico o conheci-mento das características da zona de transição solo-rocha, da profundidade do topo rochoso e da profundidade do nível d'água. O conheci-mento desses atributos é considerado funda-mental para praticamente todos os fatores rela-cionados à ocupação, como fundações, escava-bilidade, disposição de resíduos, estradas, obras enterradas, estabilidade de taludes, erodi-bilidade, poluição, irrigação e loteamento. Estes atributos anteriormente citados podem em muitos casos ser individualizados através de métodos e técnicas geofísicas.

O objetivo deste trabalho foi obter infor-mações a respeito desses atributos utilizando-se as técnicas de Sondagem Elétrica Vertical e Sísmica de Refração.

2 METODOLOGIA DE TRABALHO Foram realizados ensaios de sondagem elétrica vertical e sísmica de refração em duas áreas com características geológicas dinstintas, nas quais já havia informações geológicas e geotécnicas disponíveis: uma área de rochas sedimentares, em Rio Claro - SP, estudada anteriormente por COTT AS (1983); e uma área de rochas efusivas básicas em Ribeirão Preto -SP, estudada por ZUQUETTE (1991). A loca-lização das cidades no Estado de São Paulo é apresentada na figura 1.

A área de Rio Claro é representada por sil-titos e folhelhos da Formação Corumbataí e localiza-se dentro do campus da UNESP, pró-ximo ao Instituto de Biociências (IE). Foram executados 9 ensaios de sondagem elétrica ver-tical e 4 bases de sísmica de refração. A figura 2 mostra a localização desses ensaios e de per-fis que foram construídos individualizando os vários atributos obtidos pela geofísica.

A área de Ribeirão Preto, constituída por basaltos da Formação Serra Geral com a ocor-rência em algumas partes de uma cobertura inconsolidada coluvionar, localiza-se no

cam-pus da USP, próximo

ii

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Foram realizados nesta área 7 ensaios de son-dagem elétrica vertical e 3 bases de sísmica de refração. A figura 3 mostra a localização desses

(2)

Rev. IG. São Paulo, Volume Especial, 1995

FIGURA I - Localização das cidades no Estado de São Paulo.

1'::":',1 FOl"'maçc1o Rio Claro

t

-

-I

For-moçllo Corumbotoí

\B' Bo..

Sí.mico

o.,

SEV

FIGURA 2 - Localização dos ensaios e perfis na área de Rio Claro.

ensaios na área bem como a localização dos perfis que foram construídos.

As SEVs foram executadas nestas áreas com arranjo Schlumberger, sendo as curvas de

campo interpretadas em duas etapas:

primeira-mente, as curvas de campo foram interpretadas

pelo método da superposição e ponto auxiliar e

este modelo foi posteriormente refinado pelo

método de inversão de SEVs usando regressão

em cadeia.

Para os ensaios de sísmica de refração, foram utilizadas, como fonte de ondas, cargas

de explosivo gelatinoso e um "rifle sísmico"

(cartucheira calibre 12 especialmente

desenvol-vida para ensaios sísmicos). Esses ensaios

(3)

do "ti"(GURVICH, 1972 apud MALAGUTTI

FILHO, 1991) e pelo Método Recíproco

Generalizado (PALMER, 1980), através do

"Software" GREMIX, da Interpex Limited. A .

partir das velocidades de propagação das ondas longitudinais (P) de cada estrato sísmico, é possível estimar o grau de escarificabilidade através de tabelas construídas pela Caterpillar

Tractor Co., de acordo com MEYER & LESSA (1978). A figura 4 mostra uma dessas tabelas, a qual foi utilizada para estimar o grau de escari-ficabilidade dos materiais investigados neste trabalho.

47°51'53"

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1 Área de Rio Claro

Através dos ensaios realizados, foi possível caracterizar a zona de transição solo-rocha, definir a profundidade do topo rochoso e a pro-fundidade do nível d'água. Os perfis interpreta-dos são mostrainterpreta-dos na figura 5, onde se pode notar a distribuição dos vários estratos da tran-sição solo-rocha (solo supercial, saprolito e topo da rocha sã) e a profundidade do nível d'água.

De uma forma geral, os ensaios geofísicos

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Sedimento~ cok.Nionarea

53

Formaçllo S"rra Geral

~

BoM

S(~mica

05 SéV o 200 I 400 m I

FIGURA 3 - Localização dos ensaios e perfis na área de Ribeirão Preto.

Terra Vegetal

-Argila Moreno Rochos igneas Granito Basalto Trope Rocha. sedimentares Folholho Arenito Molado Arglhto Conglomerado Brecha Caliço ... Calco'reo

ii

Rochas metamórficas ... Xisto MIR~~:I~SI: minériOS ... Ca r velo d. pedro Mlnérto de ferro

.scartflcQvel _ Marginai c;::]I Noa ,scorl1lcQva' ts::9

DESEMPENHO DO ESCARIFlCADOR DO D9G SEGUNDO A VELOCIDADE DE PROPAGACÃO SISMICA

FIGURA 4 - Escarificabilidade como função de Vp para diferentes tipos de materiais (MEYER & LESSA, 1978).

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Rev. IG. São Paulo, Volume Especial, 1995

apresentaram bons resultados na obtenção dos

atributos investigados. Os resultados obtidos

para profundidade do saprolito e profundidade do nível d' água se aproximam bastante dos resultados obtidos por COTT AS (1983).

O grau de escacificabilidade dos diversos materiais da área foi estimado e é apresentado

na tabela 1.

3.2 Área de Ribeirão Preto

Na área de Ribeirão Preto ocorre, em

algu-mas partes, uma cobertura de material inconso-lidado coluvionar, que pode perfeitamente ser

individualizada, tendo os ensaios realizados mostrado eficiência na caracterização da

transi-ção solo-rocha e posicionamento do topo do

substrato rochoso.

Nos perfis da figura 6 são mostrados os

SéV' '"

l

PERFIL 02 (C-DI

FIGURA 5 - Perfis da área de Rio Claro

PERFIL

vanos estratos obtidos pela geofísica: solo superficial, cobertura inconsolidada coluvionar (quando ocorre), saprolito e topo do substrato

rochoso. Não foi possível a definição da

pro-fundidade do nível d'água, devido provavel-mente ao caráter argiloso dos produtos de alte-ração do basalto, que mesmo com um baixo

grau de saturação tendem a apresentar valores

de resistividade muito baixos, não permitindo

assim que haja contraste elétrico entre a zona

insaturada e a zona saturada.

Além desses vários estratos, ocorre em

algumas SEVs, abaixo da rocha sã definida pela sísmica, um estrato geoelétrico com

valo-res de valo-resistividade extremamente baixos para

caracterizar rochas básicas. Este estrato pode

representar a ocorrência de lentes arenosas

dentro dos derrames, como sucede em algu-mas situações na região de Ribeirão Preto.

01 (A- BI

~EV 2 oev,

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'1010 auper'ICio! ~ ,oprolito

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(5)

PERFIL BA~E l

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I PERFIL 02 (C-O)

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-

.

FIGURA 6 - Perfis da área de Ribeirão Preto.

Matenal Vp (Km/. ) Solo superficial 033 a 0,37 Saprohto 0,87 a 1,38 Rocha 2,3 a 3,6 01 (A-B) BA.sE 2 ,sEV 7 ' ,',-~

..

Grau de . . " , @] COIúV10 Dlen"'~111 ~::7··~t;v"Ódo ~ ....Iocidad. de onda Ikml.1 Escanflcabllldade e.canflcóvel

"

escorlflcavel- não escanflcavel

TABELA I - Grau de escarificabilidade para os materiais da área de Rio Claro.

Material Vp (Km/. ) Grau de E scanflca bl hdade Solo superficial 0,33 a 0,54 escarlflcóvel

Colúvlo 0,52 a 0,54

"

Saprollto 0,33 a 2,0 "

Substrato rochoso 3,6 a 4,4 não escanflcóvel

TABELA 2 - Grau de escarificabilidade para os materiais da área de Ribeirão Preto.

(6)

Rev. IG. São Paulo, Volume Especial, 1995

Um fato que merece atenção é que tanto os valores de resistividade obtidos para os basaltos

(225 a 1160 ohm.m) como as velocidades de

propagação de ondas (3,2 a 4,6 Km/s) são

valo-res considerados baixos para este tipo de rocha.

Essas rochas devem então apresentar um grau de fraturamento bastante elevado. De fato, DAVINO (1990) cita que os basaltos na região de Ribeirão Preto constituem meios fissurados,

com fissuras de tensão, fissuras no interior dos

derrames e juntas-falha horizontais. O autor realizou ensaios de SEV s na região e obteve valores de resistividadc entre 300 e 800 ohm.m

para os basaltos, valores bastante próximos dos

obtidos neste trabalho. Cita ainda a presença de sedimentos arenosos dentro dos derrames, o que, como já citado, deve ocorrer em algumas SEVs aqui mencionadas.

O grau de escarificabilidade estimado para os materiais da área é apresentado na tabela 2.

4 CONCLUSÕES

As técnicas geofísicas utilizadas apresenta-ram um comportamento bastante satisfatório na determinação das variações espaciais de alguns

atributos importantes para elaboração de mapeamento geotécnico. A aplicação conjunta de sondagem elétrica vertical e sísmica de refração mostrou ser uma boa ferramenta na obtenção dos atributos transição solo-rocha e profundidade do substrato rochoso. Quanto à profundidade do nível d'água, as técnicas apre-sentaram uma limitação na área de Ribeirão Preto, devido às características locais da zona

de transição solo-rocha.

Outra limitação da metodologia utilizada é de caráter econômico e se refere à aplicação da técnica de sísmica de refração. Apesar de apre-sentar resultados, a aplicação desta técnica em regiões de clima tropical, com o desenvolvi-mento de espessas camadas de solo, requer o uso de fontes sísmicas potentes, no caso cargas

explosivas. Além dos problemas com o manejo

desse material, o custo é bastante elevado, tor-nando-se proibitivo para o caso de estudos pre-liminares, isto é, mapeamentos geotécnicos de áreas de grande extensão. A metodologia pode se tornar interessante no caso de trabalhos de detalhe para implantação de obras de engenha-ria, onde a relação custo/benefício alcance valores mais viáveis.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COTTAS, L.R. 1983. Estudos Geológicos

-Geotécnicos aplicados ao planejamento urbano de Rio Claro - SP. Tese de Doutoramento, São Paulo, Instituto de Geociências - USP - 2 vols.

DAVINO, A. 1990. Os basaltos como meio

fissurados, na região de Ribeirão Preto -(SP). Principais métodos de pesquisa,

com ênfase na prospecção geofísica. ln:

CONGRESSO BRASILEIRO DE

GEOLOGIA, 36º, Natal - RN. Anais.

Sociedade Brasileira de Geologia, v.5,

p. 531 - 852.

MALAGUTTI FILHO, W. 1991. Utilização de

técnicas geofísicas na caracterização de solos e rochas com aplicações na

geolo-gia de planejamento urbano. Tese de

Doutorado, Rio Claro, Instituto de

Endereço dos autores:

Geociências e Ciências Exatas - UNESP, 2 vols.

MEYER, V.L.O. & LESSA, G. 1978. A

utili-zação de métodos geofísicos para a deter-minação do grau de escarificação de

maciços rochosos. ln: CONGRESSO

BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE

ENGENHARIA, 2º, São Paulo - SP.

Anais. Associação Brasileira de Geologia

de Engenharia, v. 2, págs. 31-46.

PALMER, D.F. 1980. The Generalized Reciprocai Method of seisrnic refraction

interpretation. Soco Exploration

Geophysics.

ZUQUETTE, L.V. 1991. Mapeamento

Geotécnico. Uma nova Abordagem.

Relatório Científico FAPESP, 2 vols.

Vagner Roberto Elis - Departamento de Geologia GerallUFMT - Avenida Fernando Correa da Costa s/n°, 78090-100 -Cuiabá - MT.

Lázaro Valentim Zuquette - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP -Avenida Bandeirantes, 3.900 - 14049-

Imagem

FIGURA  I - Localização das cidades no Estado de São Paulo.
FIGURA  3  - Localização dos ensaios e perfis na área de  Ribeirão Preto.
FIGURA 5 - Perfis da área de  Rio  Claro
FIGURA 6 - Perfis da área de Ribeirão Preto.

Referências

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