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DILMA ROUSSEFF NA IMPRENSA BRASILEIRA: Da Reeleição ao Processo de Impeachment

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Academic year: 2020

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DILMA ROUSSEFF NA IMPRENSA BRASILEIRA:

Da Reeleição ao Processo de Impeachment

Adjovanes Thadeu Silva de Almeida (coord.)1 Vitória Thess Lopes da Silva Lima2

Resumo: O presente texto pretende destacar como a imprensa brasileira vem abordando a temática que envolve o governo da presidente Dilma Rousseff com foco no processo de reeleição e do impeachment. Para alcançar tal objetivo, o jornal O Globo, na versão eletrônica, foi selecionado, uma vez que aborda diversas temáticas (tanto nacionais quanto internacionais) e possui uma abrangência mais significativa dentre outros órgãos midiáticos existentes no país. Com relação a isso, o jornal publicou diversas reportagens acerca do atual contexto político brasileiro em torno do governo Dilma Rousseff no decorrer do primeiro e segundo mandato presidenciais. Os eventos da reeleição e o processo de impeachment foram apresentados de modo peculiar pela mídia selecionada no tocante à construção de uma imagem negativa tanto da presidenta quanto do governo em questão, mostrando assim o posicionamento editorial frente à conjuntura política nacional. Inicialmente, o trabalho abordará reflexões a respeito da influência da mídia na formação de percepções políticas acerca do cenário brasileiro. Em um segundo momento, o texto pretende analisar a abordagem do jornal com relação ao assunto a ser tratado. Por fim, destaca a importância da diversificação dos meios de comunicação de massa no Brasil que, apesar de seguirem excessivamente concentrados nas mãos de poucas empresas, favorecem um aprofundamento da experiência democrática e demonstram a pluralidade de posicionamentos existentes na sociedade.

Palavras-Chave: História do Tempo presente – Mídia Brasileira – Governo Dilma Rousseff

1 Professor do Departamento de História do Colégio Pedro II (CPII/CENII). Coordenador da

Especialização em Ensino de História (CPII). Professor da Especialização em Ensino de História da África (CPII). Professor Supervisor do Programa de Residência Docente do Colégio Pedro II. Doutor em História Social (PPGHIS/UFRJ). Mestre em Educação (PROPPED/UERJ).

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Abordar um tema como o que nos propomos envolve, decerto, riscos – afinal de contas, não há o lapso temporal para filtrar as análises; por outro lado, trabalhar com a História do Tempo Presente (como propomos nesse texto) significa escrever “no calor” dos acontecimentos, sem o distanciamento cronológico que, de algum modo, favorece a produção de uma análise crítica mais acurada.

O historiador do tempo presente foi expulso do paraíso ilusório da extratemporalidade, da independência absoluta do pesquisador frente a seu objeto (…). Enquanto historiadores, não podemos renunciar à nossa única liberdade, aquela de colocar nossas próprias questões e de tentar respondê-las segundo nossas próprias regras (LAGROU, 2007, pp. 44-45).

Conscientes dos perigos de nossa empreitada, discutiremos a atuação de um componente específico da imprensa brasileira entre 2014 e 2016 e sua relação com a ambiência política vivida pela sociedade nacional neste período.

A temática que envolve a atuação da mídia na sociedade pode induzir a diversas reflexões, uma vez que os meios de comunicação estão presentes no cotidiano de muitas pessoas. Um dos pontos que pode ser motivo de questionamento remete à funcionalidade da mídia no interior de uma sociedade pluralizada quanto a brasileira.

O papel da mídia esperado, seja impressa ou digital, sendo um meio de comunicação, seria o de manter o cidadão melhor informado sobre os múltiplos aspectos (economia, cultura, política, cotidiano, esportes, entre outros) do momento presente, tanto na esfera nacional quanto internacional, guardando uma pretensa neutralidade (cf. ARÊAS, 2012, pp. 34-35).

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Porém, na prática, ocorre algo distante do aguardado, visto que a mídia termina por ser distanciar de sua função inicial teórica e passa representar outras vozes que não a do interesse público; neste sentido, notícia e opinião não se confundiriam, pois as ideias da empresa apareceriam somente nos editoriais e nos artigos opinativos assinados por colunistas (do próprio órgão ou convidados). Como decorrência lógica, enquanto o noticiário se manteria neutro, as opiniões apareceriam em espaços delimitados e expressando interesses políticos, culturais, econômicos e/ou empresariais, desta forma procurando afirmar consensos específicos na sociedade – as opiniões expressariam os anseios da “opinião pública” (cf. ARÊAS, 2012, p. 37)

Entretanto, tal separação teórica não se faz presente, pois

o jornalismo é uma atividade de autonomia reduzida. Isso decorre da ausência de regras claras de produção, de proteção contra os desvios, falsificações etc. quanto ao processo e produtos da atividade. A fragilidade dessas regras permite que o campo seja invadido pelo campo econômico e político, com seus interesses e regras específicas, desfazendo qualquer norma de produção midiática em constituição. (JAIRO, 2005, p. 40)

A partir dessa reflexão, na qual o autor dialoga com Bourdieu, torna-se possível perceber a existência de uma gama de complexidades envolta no ato de informar dos jornais que, por disporem de limitada autonomia, tornam-se mais permeáveis a outros interesses que não apenas noticiar de forma isenta os acontecimentos da sociedade para seu público leitor.

Desta maneira, a mídia termina por intervir, tanto numa compreensão plural do contexto nacional quanto na pluralidade de vozes dos múltiplos atores da sociedade, assim contribuindo para que o entendimento por parte da população sofra interferências diretas, uma vez que os meios de comunicação decidem quais os assuntos deverão estar na lista das preocupações rotineiras. Neste

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sentido, alguns órgãos de imprensa outorgam-se o papel de porta vozes da opinião pública, buscando influenciar os leitores a aceitarem as opiniões publicadas como expressão dos anseios sociais.

No entanto, conforme nos recorda Jean Jacque Becker:

[...] não podemos aceitar formulações tais como “a opinião pública pensa isto”, “deseja aquilo” etc., cuja utilização, frequentemente aliás, pelos políticos em particular, esconde sobretudo uma vontade de dissimular as próprias escolhas por trás daquelas tomadas de empréstimo da opinião pública. É irreal considerar que tenham existido situações em que havia apenas uma única tendência. (BECKER, 2003, p.190)

De acordo com Becker, a considerada opinião pública referencial para certas analises pode, na verdade, ser um reflexo de interesses de grupos (políticos ou econômicos) atuantes no cenário social. Algo preocupante na conjuntura de aproximação dos meios de comunicação com a sociedade, uma vez que ao assumirem o papel de porta-vozes da sociedade como um todo, em geral, expõem interesses de grupos sociais específicos – entretanto, os meios de comunicação dominantes hoje no Brasil não assumem uma vinculação explícita com agremiações partidárias ou setores sociais (cf. ARÊAS, 2012, p. 38), o que lhes permite, por outro lado, influir numa postura crítica e plural por parte dos leitores e ouvintes dos jornais.

No tocante a isso, a proximidade da mídia com a sociedade pode ser vista não apenas durante o período eleitoral, mas no cotidiano, através da constante construção e/ou manutenção de consensos na arena social. Na prática, tal atitude significa uma limitação de um diálogo social plural, visto que o destaque a determinados eventos políticos em razão de outros podem ser observados nas manchetes matinais e na forma de abordar assuntos pertinentes a determinadas forças políticas (aliadas ou rivais).

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106 Daí não ser surpresa que a mídia hegemônica, de voz da oposição, tenha se transformado na própria oposição e, mais recentemente, deixasse de lado qualquer pudor [...]. Se em 2010, a então dirigente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, afirmava, com todas as letras, que onde a oposição era fraca, a mídia deveria assumir este papel, nos últimos meses a mídia passou a agir como oposição e a pregar o desrespeito ao resultado democrático das urnas. (CARRATO, Observatório da Imprensa, Mar 2015)

Por meio dessa análise, a jornalista Ângela Carrato expõe a atuação dos órgãos midiáticos no que diz respeito ao posicionamento frente aos recentes acontecimentos políticos do país, revelando o distanciamento existente no quesito neutralidade e imparcialidade jornalística.

No que se refere às abordagens de O Globo (jornal por nós selecionado para realizar a análise) em relação ao governo Dilma Rousseff, tal matutino adotou um posicionamento francamente oposicionista à presidenta, não apenas por meio dos editoriais, mas, em especial, através das manchetes, assim como do próprio noticiário.3 Posicionamento que se tornou cada vez mais transparente no

segundo mandato, iniciado em 2014, e ao recente processo de impeachment, contribuindo assim para a criação de uma imagem desfavorável da presidente e do governo recém-destituído.4

Neste sentido, O Globo funcionou como um partido, quer dizer, como uma instituição que busca coesionar frações da sociedade em torno de determinadas ideias, assimilando-se ao que Gramsci analisou, comparando os âmbitos italiano e francês dos primórdios do século XX:

3 Também as imagens (fotografias e charges) publicadas em O Globo expressaram, muitas vezes,

a hostilidade do periódico em relação ao governo Rousseff; todavia, as mesmas não serão objeto de análise neste artigo.

4 Isto não significa, obviamente, que o governo Rousseff não cometeu erros ao longo de seu 2º

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107 Jornais italianos muito mais bem-feitos do que os franceses: eles cumprem duas funções — a de informação e de direção política geral, e a função de cultura política, literária, artística, científica, que não tem um seu órgão próprio difundido (a pequena revista para a média cultura). Na França, aliás, mesmo a primeira função distinguiu-se em duas séries de cotidianos: os de informação e os de opinião, os quais, por sua vez, ou dependem diretamente de partidos, ou têm uma aparência de imparcialidade (Action Française — Temps — Débats). Na Itália, pela falta de partidos organizados e centralizados, não se pode prescindir dos jornais: são os jornais, agrupados em série, que constituem os verdadeiros partidos. (GRAMSCI, 2001, v. 2, p. 218)

Assim, a reportagem a seguir exemplifica a postura adotada pelo jornal logo após o resultado das urnas no mês de outubro.

O resultado foi confirmado pelo sistema de apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 20h30, quando 98% das urnas estavam apuradas e não havia mais possibilidade matemática de virada. Com a vitória, Dilma completará um período de 16 anos do PT no comando do governo federal, desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. É o dobro do tempo do PSDB, que teve dois mandatos com Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002). (O Globo, Out 2014)

Diante disso, é possível perceber o modo como o processo de reeleição da presidente foi abordado com destaque para a permanência do partido PT na liderança da República brasileira em comparação com período do governo do PSDB. Observação da temporalidade de um partido sobre outro, contribuindo para construir uma imagem de usurpação da democracia política, uma vez que está no poder no “dobro de tempo” de mandatos consecutivos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao mesmo tempo, a reportagem abstém-se de analisar com alguma profundidade as diferenças internas no quesito gestão ou em relação à conjuntura política brasileira, aludindo, ao contrário, no que se constituiria em uma espécie de caráter dinástico do partido que faz parte a presidente.

Em outra publicação do jornal da família Marinho, na seção de blogues que examinam a conjuntura política e econômica do país, o governo Rousseff foi

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englobado na imagem estereotipada da Venezuela, associado, portanto, a uma extremamente limitada liberdade de atuação da imprensa. A colunista Míriam Leitão destaca:

Um Congresso com um número extravagante de parlamentares sob suspeição, presidido por políticos investigados pelo Ministério Público, e uma presidente com a mais alta rejeição da história democrática se juntam para criar uma mordaça sobre a imprensa. A Lei do Direito de Resposta é a mais genuína representante do bolivarianismo no Brasil. (LEITÃO, O Globo, Nov. 2015)

Com efeito, a economista procurou associar negativamente o governo venezuelano (sempre criticado nas páginas de O Globo) com o da presidente reeleita, externando, assim, o posicionamento do jornal, de modo dicotômico: por um lado, um governo (Rousseff) assolado por grave crise de popularidade, a flertar com práticas “bolivarianas”; e, do outro, o zelo democrático da imprensa, que sofreria sanções por parte dos atuais governantes do Estado brasileiro através de “uma mordaça” sobre os meios de comunicação; desta maneira, a colunista buscou associar o governo Rousseff à limitação da divergência de opiniões – o que reduziria o espaço para o exercício da própria democracia em nosso país.

No tocante ao processo de Impeachment, a cobertura midiática realizada pelas organizações Globo, expressas nos diversos canais (televisões aberta e fechada, retransmissoras, sistemas de rádio, jornais e revista), valeu-se da predominância de veículos de informação para apresentar ao público leitor a versão sobre os fatos recentes políticos do país. Em uma das reportagens, tal processo assim foi exibido nas palavras do colunista Helio Gurovitz:

[...] Depois das manifestações históricas de ontem por todo o país, o recado da população está claro: basta! O dia 13 de março entra para a História do Brasil como a data das maiores manifestações populares jamais registradas. [...] Qualquer um com um mínimo de sensibilidade sabe, a esta altura, que o governo Dilma acabou. Game over. A dúvida é apenas como, tecnicamente, ela e seu

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109 partido deixarão o poder. [...] Claro que, Brasil sendo Brasil, sempre é possível algum acordo que mantenha Dilma no cargo até o fim do mandato, como um zumbi a vagar entre o Planalto e o Alvorada. Mas para todos efeitos seu governo acabou, e ela nada poderá fazer, além de matar "mosquitas". (GUROVITZ, O Globo, Mar. 2016)

O jornal buscou reduzir o protagonismo das múltiplas vozes da sociedade a partir de manifestações ocorridas em determinada data com sendo a vontade geral da nação. Eliminando assim a existência de outros atores sociais favoráveis ao, então, governo em exercício. O colunista aponta para a necessidade de um mínimo de percepção do fim do mandato, faltando apenas detalhes técnicos para o afastamento político. Ou seja, optou-se por uma generalização ao invés de análise a partir de outros interlocutores não ligados ao posicionamento do jornal.

Com relação ao monopólio informativo existente no país, em que um número limitado de empresas domina a realidade das informações públicas de massa5, certos pontos devem ser levados em consideração no tocante ao impacto

provocado na ampliação de uma esfera social mais democrática.

Acerca dessa discussão, as vinculações entre empresas privadas midiáticas e a sociedade adquirem uma relação significativa no tocante à formação de um espaço público plural onde, não somente, problemas de uma realidade privada sejam destacados, mas também daquelas dimensões periféricas da sociedade. Sobre isso Éllida Neiva Guedes ressalta:

A tematização de questões de interesse do bem-estar social por organizações específicas provoca a demarcação de novos espaços participativos e, por conseguinte, a ampliação do jogo de disputa entre interesses e opiniões e a possibilidade de ocorrência do conflito. A admissão de novos interlocutores, o estabelecimento e a ampliação do diálogo e a abertura de canais de comunicação entre o Estado e a sociedade modificam as formas de reivindicar,

5 Informações de acordo com CNJ (Associação Nacional de Jornais) acerca dos maiores jornais

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110 de administrar os conflitos e de legitimar interesses, enfim, reconfiguram o espaço reconhecido para a participação política. Amplia-se a oportunidade de colocação de posições e contraposições [...]. (GUEDES, 2010, p. 6)

De acordo com a autora, ao repensar um espaço social diversos atores devem ser considerados para a ampliação do diálogo sobre interesses de um todo, não da minoria. Algo importante na complexidade existente no interior de uma sociedade democrática com inúmeros interesses e disputas pelos espaços de poder em constantes interações.

Assim, o quase monopólio de informações realizado pelos órgãos midiáticos brasileiros constitui-se um problema, uma vez que poucas famílias terminam por decidir a maneira como a sociedade irá entrar em contato com os acontecimentos internos e externos ao país. Separando parte da população com acesso à internet e redes sociais que assumem certo papel na imersão de novas vozes, o restante dos ouvintes ou leitores ficam à mercê dos interesses empresariais inseridos na mídia jornalística. Éllida Neiva Guedes complementa:

As tecnologias de comunicação disponíveis permitem a exposição de problemas de cunho social, político, econômico e cultural, a convivência com o novo e o diverso e a descoberta de diferentes modos de enfrentamento. Desse cenário podem emergir espaços públicos parciais, livres de uma concepção política institucionalizada. As interações e mediações que se dão no âmbito das tecnologias modificam a socialização e correspondem a uma condição essencial para a emergência de espaços públicos. O homem passa a ocupar mais espaços e isso o fortalece em suas ações. Entretanto, trata-se de possibilidade, de processo em andamento, ainda sem a concreticidade necessária para que se possa dizê-lo eficaz e democrático. Lembra-se que as informações estão disponíveis, mas precisam ser acessadas e nem todos dispõem de tal possibilidade ou interesse. (GUEDES, 2010, p. 12)

Além disso, Emir Sader acrescenta argumentos a respeito da necessidade e importância da democratização de informações advindas dos órgãos midiáticos

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existentes no país. Convergindo para um ponto em comum com a Éllida Neiva Guedes concernente a construção de um espaço plural de vozes na sociedade. Com efeito, Sader enfatiza:

O dilema, na democracia, não é, então, entre uma imprensa calada ou essa que temos. Uma imprensa monopolizada por algumas famílias, que define o que diz, como, quando, que pretende ser o partido de oposição, que distorce e/ou esconde a verdade. Uma imprensa financiada pelas agências de publicidade e, através destas, pelas grandes empresas, que colocam publicidade e, por meio delas, condicionam o funcionamento da imprensa. Uma imprensa que escolhe quem vai escrever, como e quando, alinhando-se abertamente – conforme confissão explicita disso – como partido político da oposição. Uma imprensa que, apenas dos índices econômicos revelarem o oposto: a economia cresce, aumenta o nível de emprego, os salários sobem acima da inflação, a inflação está controlada – cria um clima de incerteza, de preocupação, de insegurança, que por sua vez, se reflete em pesquisas manipuladas. Essa a imprensa que temos hoje, que condiciona as chamadas “agências de risco”, que pressiona sistematicamente o governo pelo aumento da taxa de juros, que representa não a população, mas o capital financeiro. A alternativa a essa mídia antidemocrática não é calá-la. É democratizar a formação da opinião pública, limitando o poder monopolista dos meios atuais, abrindo canais alternativos da mídia – TV, rádio, jornais, internet. Ao não avançar em nada nessa direção, o governo é vítima da monopolização antidemocrática da mídia. (SADER, Carta Maior, maio 2014)

De acordo com Sader, adotar um novo posicionamento frente às empresas midiáticas no tocante a democratização de informações e diálogos não seria sinônimo de censura, mas sim de compartilhar outros argumentos/vozes, de atores sociais não vinculados com os interesses dominantes, podendo assim dar visibilidade a temáticas que sejam também importantes para aqueles que não usufruem da realidade comum aos grupos sociais mais abastados de nosso país.

Diante disso, a temática aqui desenvolvida conduz a certas conclusões, destacando-se, dentre outras, as possíveis influências da mídia sobre o corpo social. Uma vez que o monopólio de discursos reduz o diálogo baseado na multiplicidade de vozes atuantes na sociedade, ao mesmo tempo que pode ser

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usado como ferramenta para interesses políticos não comprometidos com as preocupações atuais da sociedade. No tocante à mídia selecionada para essa análise e os pontos que foram destacados ao longo do texto trazem luz sobre uma problemática perene do país. Apontando assim a relevância de reflexões e debates com o propósito de aperfeiçoar a vivência democrática nacional.

Referências

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ARÊAS, João Braga. Batalhas de O Globo: o neoliberalismo em questão. Niterói: UFF, 2012 (tese de doutorado, mimeo.)

BECKER, Jean J. A opinião pública. In. Por uma história Política. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, pp. 185-211.

CARRATO, Ângela. A mídia é o golpe. In: Observatório da Imprensa, São Paulo, mar 2015. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/interesse-publico/_ed843_a_midia_e_o_golpe/. Acesso em: 15 maio 2016.

EDITORIAL. Em São Paulo, tucanos gritam ‘impeachment’ e petistas pedem choro no Cantareira. In: O Globo, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2014/noticia/2014/10/na-paulista-tucanos-gritam-impeachment-e-petistas-pedem-choro-no-cantareira.html. Acesso em: 15 maio 2016.

FERREIRA, JAIRO. Mídia, Jornalismo e Sociedade: a herança normalizada de Bourdieu. In: Estudos em jornalismo e Mídia. Santa Catarina, v.2, n. 1, p. 35-44,

2005. Disponível em:

https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/2087/1827. Acesso em: 28 maio 2016.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, v. 2: Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. 2.ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

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Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/game-over presidente-dilma.html. Acesso em: 27 maio 2016.

LAGROU, Pieter. Sobre a atualidade da História do Tempo Presente. In: PÔRTO JR., Gilson. História do Tempo Presente. Bauru, SP: EDUSC, 2007, pp. 31-45.

LEITÃO, Miriam. Ameaça à imprensa. In: O Globo, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/ameaca-imprensa.html. Acesso em: 15 maio 2016.

DILMA ROUSSEFF IN THE BRAZILIAN PRESS:

From the reelection to the Impeachment Process

Abstract: This paper aims to highlight how the Brazilian press has been addressing the re-election process and impeachment concerning the government of President Dilma Rousseff. To achieve this objective, the newspaper O Globo, in its electronic version, was selected since it addresses both national and international issues and has a more significant exposure than other existing media in the country. In this regard, the newspaper has been publishing several reports about the current Brazilian political context considering the government Dilma Rousseff during the first and second presidential terms. The events of re-election and the process of impeachment were presented in a particular way by the selected newspaper, focusing on the construction of a negatively distorted image of both the president and the government in question. This construction has shown a given editorial position upon the domestic political conjuncture. Firstly, the article addresses reflections on the influence of the media on the formation of political perceptions in/about the Brazilian scene. Secondly, it analyses the approach of the newspaper concerning the aforementioned subject matter. Finally, it stresses the importance of the diversification of means of media, which still remain under monopoly of few family companies. These three questions point to not only a deeper view of the democratic experience, but also the relevance of political and ideological plurality in contemporary Brazilian society.

Keywords: History of the Present Time - Brazilian media - Government Dilma Rousseff

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