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A transmissão intergeracional da percepção de estado de saúde no Brasil

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Academic year: 2021

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Título: A transmissão intergeracional da percepção do potencial estado de saúde no

Brasil

Palavras-Chave: Saúde do Adolescente, Transmissão Intergeracional, Determinantes

Sociais da Saúde

Autores *:

Rebeca Carmo Batista Souza. Souza, RCB. Universidade de Brasília, UnB, Programa de Pós-Graduação do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM.

Luiz Alexandre Rodrigues da Paixão. Paixão, LAR. Universidade de Brasília, UnB Programa de Pós-Graduação do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM.

Marília Miranda Forte Gomes. Gomes, MMF. Universidade de Brasília, UnB Programa de Pós-Graduação do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM.

Leides Barroso Azevedo de Moura. Moura, LBA. Universidade de Brasília, UnB, Faculdade de Ciências da Saúde e Programa de Pós-Graduação do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM.

                                                                                                                         

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Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016.

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Introdução

No Brasil, aproximadamente 17% da população tem entre 10 e 19 anos de idade. Esta faixa etária é conhecida como adolescência (UNICEF, 2016; OMS, 2016a). Esse é um período marcado por mudanças biológicas, emocionais, sociais e cognitivas que antecedem a vida adulta (MALTA et al, 2011), sendo, por muitos, associado a saúde repleta e vigor físico (OMS, 2016b). Todavia, estudos apontam que importantes riscos a saúde são iniciados durante essa fase, sendo eles reproduzidos entre gerações e formadores de desigualdades em saúde com sérias consequências para a vida adulta (WICKRAMA et al, 1999; OMS, 2012).

Além disso, adolescentes em países com elevada desigualdade na distribuição de riqueza são mais vulneráveis a desenvolverem desfechos de saúde desfavoráveis, independentemente de seu nível de renda (DUE et al., 2009; HOLSTBEIN et al, 2009; TORSHEIM et al., 2004). Dessa maneira, em uma sociedade desigual como a brasileira, a transmissão intergeracional de potencial de saúde reflete o gradiente social produzido pelos determinantes sociais da saúde, deixando milhões de adolescentes excluídos do acesso a uma vida saudável e produtiva. Nesse contexto, o estudo dos canais de potencial intergeracional de saúde é crucial para propor políticas públicas que priorizem equidade na saúde no país.

O principal objetivo desse trabalho é avaliar o peso da intergeracionalidade sobre o potencial de estado de saúde dos adolescentes brasileiros, com as informações referentes à declaração da percepção do estado de saúde disponíveis na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2013. O presente estudo inova ao tratar de um tema ainda pouco explorado no Brasil, com nenhum trabalho – até o momento – tendo usado a PNS ou trabalhado com o período da adolescência nessa perspectiva. Ademais, avaliar o nível da reprodução de riscos à saúde é importante para discutir ações de promoção de saúde adequadas para o combate de iniquidades sociais durante a adolescência, permitindo que gerações futuras tenham oportunidade de realizar todo o seu potencial de saúde.

A transmissão intergeracional de potencial de saúde

Pesquisas que abordem as relações intergeracionais de saúde são cada vez mais frequentes no mundo científico. Estudar a persistência de riscos de saúde entre gerações é essencial para entender os processos causadores de desigualdades. Segundo Thompson (2013), o crescente interesse no estudo da transmissão da saúde entre as

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gerações é devido ao fato de que o estado de saúde é um desfecho socioeconômico cada vez mais reconhecido dado sua correlação com renda e educação. Nesse contexto, são muitas as maneiras em que esse tipo de intergeracionalidade é avaliado, com o uso de indicadores de morbidade, mortalidade, antropométricos e, como é o caso desse trabalho, indicadores de percepção de saúde.

Por exemplo, Bhalotra e Rawlings (2009) mostram que a altura da mãe é negativamente correlacionada com indicadores de mortalidade infantil, mostrando que esses efeitos são ainda piores em circunstâncias socioeconômicas desfavoráveis. Já Thompson (2012) mostra que os filhos possuem 100 vezes mais chances de apresentarem o mesmo problema de saúde dos pais, sendo que o efeito varia com a idade dos filhos e o sexo dos pais. Finalmente, ao usar dados longitudinais de adultos e crianças na Alemanha, Coneaus e Spiess (2012) mostram que pais que classificaram sua saúde como boa teriam menos chances de ter filhos com alguma enfermidade recorrente. Além disso, os autores também identificaram uma correlação positiva entre a autopercepção da saúde da mãe e da percepção da saúde da criança.

No caso específico da adolescência, a transmissão intergeracional da saúde é avaliada em relação aos hábitos formadores de riscos à saúde, tais como o uso de tabaco, substâncias ilícitas, consumo de álcool, alimentação inadequada (KRAL E RAUH, 2010; RICHARDS et al, 2009; WICKRAMA et al, 1999). Todavia, apesar da percepção de saúde não ser difundida em pesquisas intergeracionais envolvendo adolescentes, tais indicadores são bastante utilizados nessa mesma faixa etária em outros contextos (CUREAU et al, 2013; REICHERT, LOCH e CAPILHEIRA; 2012). No Brasil, os estudos de intergeracionalidade na saúde ainda são escassos, sendo que os poucos existentes são focados no estudo da obesidade (ALMEIDA E NETTO JÚNIOR, 2015) e da relação da saúde com a mobilidade social (FLOR et al, 2014).

Metodologia

Trata-se de estudo transversal para identificar a associação intergeracional da percepção de estado de saúde no Brasil com o uso dos dados da PNS. A PNS é uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo objetivo geral é a produção de dados sobre a situação de saúde e os estilos de vida da população brasileira.

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Conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016), esse estudo considera adolescentes os indivíduos com 10 a 19 anos de idade, sendo eles filhos do cônjuge ou do responsável pelo domicílio e também os filhos somente do chefe do domicílio. Também foram considerados os enteados. As informações consideradas foram da pessoa de referência cujo cônjuge é do sexo oposto ou pai ou mãe solteira, separada ou divorciada. Para as análises foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences.

Baseando-se em trabalhos sobre intergeracionalidade na saúde (ALMEIDA E NETTO JÚNIOR, 2015; BHALOTRA E RAWLINGS, 2013), foi proposto um modelo logístico em que a probabilidade do estado de saúde do filho é dada pela condição de saúde dos pais (incluindo fatores ligados à genética e a percepção de saúde), outras variáveis que envolvem a escolarização, o arranjo familiar e características do indivíduo, bem como um termo de erro estocástico.

O modelo de regressão multivariada utilizado para as análises foi o modelo de regressão logística binária uma vez que a variável dependente, percepção de saúde dos adolescentes, foi categorizada em duas alternativas de resposta: (i) muito ruim, ruim ou regular e (ii) muito boa ou boa2. Foram utilizadas como variáveis explicativas aquelas que trazem informações relacionadas às características dos adolescentes, dos pais e de aspectos regionais da família:

§ Para os adolescentes, foram consideradas três variáveis: a) sexo (Masculino e Feminino); b) raça/cor (Branca, Preta, Parda, Amarela, e Indígena); e c) distorção idade/nível de escolaridade (Sem instrução, Idade/Nível correto e Idade/Nível incorreto3);

§ As características dos pais (responsáveis) utilizadas compreendem três variáveis: a) arranjo familiar (responsável mora sozinho e responsável mora acompanhado; b) nível de escolaridade mais elevado (Até o Ensino

                                                                                                                         

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O questionário da PNS classifica o estado de saúde em cinco categorias: (1) muito boa, (2) boa, (3) regular, (4) ruim e (5) muito ruim.

3Sem instrução”: adolescentes de 10 a 19 anos de idade que não tinham instrução;

“Idade/Nível incorreto”: adolescentes com 15 anos ou mais de idade que tinham somente o ensino fundamental incompleto ou equivalente (exceto os sem instrução) ou até o ensino fundamental completo ou equivalente, e aqueles com 19 anos de idade que tinham até o ensino médio incompleto ou equivalente ou até o ensino médio completo ou equivalente;

“Idade/Nível correto”: os demais adolescentes da amostra, ou seja, aqueles com idades de 10 a 14 anos com ensinos fundamental incompleto ou equivalente ou fundamental completo ou equivalente, ou ensino médio incompleto ou equivalente; adolescentes de 15 a 18 anos de idade com ensino médio completo ou equivalente, ou ensino superior incompleto; e adolescentes de 19 anos de idade com ensino superior incompleto.

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Fundamental incompleto, com Ensino Fundamental Completo e Médio Incompleto, com Ensino Médio Completo e Ensino Superior Incompleto e Ensino Superior completo); e c) a percepção de saúde (Boa/Muito boa e Ruim/Regular);

§ Para a questão dos aspectos regionais, foram consideradas as grandes regiões geográficas de residência da família (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste).

A utilização do modelo de regressão logística binária se deve também ao fato de o modelo fornecer a odds ratio, ou seja, a razão de chance. Essa estatística mede a força de associação entre a variável independente e a variável dependente que, neste caso, é a percepção de saúde do adolescente. Como os resultados das análises se dão em termos das razões de chance (considerando intervalos de confiança de 95% e erro menor que 5% (p<0,05) para a seleção de variáveis nos modelos), e a categoria de referência sendo a categoria Boa/Muito boa, ela traz a informação de que uma razão de chance menor que um significa que a variável se comporta como protetor de risco de uma percepção negativa de saúde. Por outro lado, se a estatística for maior que um, a variável se comporta como um fator de risco para uma percepção negativa de saúde.

Resultados

Nesta seção são apresentados os resultados das análises sendo que, primeiramente, serão apresentadas as estatísticas descritivas das variáveis segundo a percepção de saúde dos adolescentes. Em seguida, serão apresentadas as razões de chance dos coeficientes referentes aos modelos de Regressão Logística que tem como variável reposta a percepção de saúde do adolescente.

O total de observações, ou seja, de adolescentes com 10 a 19 anos de idade foi de 27.672.800. A maioria dos adolescentes era do sexo masculino (51,4%) e pertenciam à raça ou cor parda (49,6%) ou branca (41,7%). Quase 70% delas não apresentaram distorção idade e nível de escolaridade e 6,5% não tinham instrução alguma. Com relação ao local de moradia da família, a maioria delas estava localizada na região Sudeste (40,4%) e Nordeste (29,2%) do Brasil.

Quanto ao arranjo familiar, 76,8% afirmaram que moravam acompanhadas no domicílio. Os responsáveis que tinham até o ensino fundamental incompleto como nível mais elevado de ensino totalizaram 48,1% das observações, e 65,9% perceberam a saúde como boa ou muito boa.

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A Tabela 1 mostra a distribuição relativa das crianças ou adolescentes de 10 a 19 anos de idade segundo as variáveis selecionadas, de acordo com a percepção de saúde.

A maioria dos adolescentes percebeu sua saúde como muito boa ou boa (88,5%). Observa-se que 89,3% das crianças ou adolescentes do sexo masculino perceberam positivamente sua saúde e 12,3% das do sexo feminino avaliaram negativamente a saúde. Considerando a raça/cor dos filhos, a maioria era da cor branca ou parda (91,3% da população analisada) sendo que 91,9% dos brancos e 86% dos pardos perceberam sua saúde como muito boa ou boa.

Com relação à idade e o nível de instrução mais elevado, 15,4% daqueles que não tinham instrução, 13,4% dos que estavam na idade e escolaridade incorretos e 10,3% dos que estavam em idade e escolaridade corretos apontaram negativamente sua saúde. Dessa forma, observa-se a distorção entre a idade e o nível de instrução sugere uma percepção mais negativa da saúde.

As regiões Norte e Nordeste abarcaram 10,7 milhões de adolescentes, ou seja, 38,8% do total, sendo que foram as regiões com os maiores percentuais de percepção negativa da saúde (18,2% e 16,5%, respectivamente). Na região Sudeste, que possui 40% dos adolescentes residentes, 92,1% dos adolescentes avaliaram a saúde de forma positiva.

Ainda na Tabela 1, adolescentes que residiam em domicílios cujos responsáveis moravam acompanhados totalizaram 77% dos casos e 89,1% dos adolescentes destes domicílios tiveram avaliações positivas da saúde.

Tabela 1 - Distribuição relativa de crianças ou adolescentes de acordo com a percepção de saúde – 2013

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Quando à escolaridade do responsável pelo domicílio, a grande maioria dos adolescentes tinha o responsável como escolarização mais elevada aquela que vai até o ensino fundamental incompleto (13,3 milhões de pessoas), e esta categoria é responsável pelo maior percentual de avaliações negativas de saúde (14,7%). Verifica-se que quanto maior a escolaridade do responsável, maior o número relativo de adolescentes que perceberam sua saúde como muito boa ou boa.

Por fim, 66% dos adolescentes tinham responsáveis que avaliaram positivamente sua saúde, e, neste caso, 96,2% dos adolescentes perceberam também de forma positiva

Muito boa/Boa Regular/Ruim/Muito Ruim Total

Total 88,5 11,5 27.672.800 Sexo do filho Feminino 87,7 12,3 13.435.863 Masculino 89,3 10,7 14.236.937 Raça/Cor do filho Branca 91,9 8,1 11.530.823 Preta 87,1 12,9 2.135.116 Parda 86,0 14,0 13.737.527 Amarela 82,3 17,7 174.412 Indígena 87,9 12,1 94.919

Distorção idade/Instrução do filho

Sem instrução 84,6 15,4 1.807.057

Idade/nível incorreto 86,6 13,4 7.382.891

Idade/nível correto 89,7 10,3 18.482.852

Região de moradia da família

Norte 81,8 18,2 2.657.828 Nordeste 83,5 16,5 8.084.804 Sudeste 92,1 7,9 11.179.894 Sul 92,6 7,4 3.717.475 Centro-Oeste 90,0 10,0 2.032.799 Arranjo familiar Mora sozinho 86,4 13,6 6.423.194 Mora acompanhado 89,1 10,9 21.249.605 Escolaridade do responsável

Até o ensino fundamental incompleto 85,3 14,7 13.310.585

Ens. Fundamental completo e médio incompleto 89,6 10,4 4.296.303

Ens. Médio completo e superior incompleto 91,7 8,3 7.288.601

Ens. Superior completo 94,3 5,7 2.777.311

Percepção de saúde do responsável do domicílio

Boa/Muito boa 96,2 3,8 18.239.969

Ruim/Regular 73,6 26,4 9.432.830

Fonte: Elaboração própria. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013.

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a saúde. Por outro lado, 26,4% dos adolescentes que perceberam sua saúde como regular, ruim ou muito ruim, pertenciam a domicílios cujos responsáveis também avaliaram sua saúde de forma negativa.

Na análise multivariada foram elaborados quatro modelos e as variáveis foram inseridas de acordo com o grupo a que pertencem (variáveis referente aos adolescentes, variáveis referentes à região de moradia e arranjo familiar, variável com características da escolaridade dos responsáveis e, por último, variável de percepção da saúde dos responsáveis. As razões de chance da percepção de saúde ruim ou regular dos adolescentes de 10 a 19 anos de idade em cada um dos modelos encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2 - Razões de chances para a percepção de saúde ruim ou regular dos adolescentes de 10 a 19 anos de idade – 2013

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O Modelo 1 considera as variáveis de sexo, raça ou cor e a distorção idade-nível de escolarização. Observa-se que os adolescentes do sexo feminino têm 21% de chance a mais de relatar a saúde como ruim ou regular em comparação com aqueles do sexo masculino. Aqueles que se declararam da raça/cor parda apresentaram 2,27 vezes mais chances do que os brancos de perceberem negativamente a saúde; adolescentes da raça/cor parda tiveram 81% a mais de chance de relatarem a saúde como ruim ou regular que os seus pares da raça/cor branca. Considerando a relação idade e nível de instrução que o adolescente se encontrava, observa-se que os adolescentes sem instrução e no nível incorreto para a idade têm, respectivamente, 29% e 18% a mais de chance de perceberem negativamente sua saúde em relação aos adolescentes na escolaridade ideal para a idade.

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Sexo do filho Masculino 1,00 1,00 1,00 1,00 Feminino 1,21 1,22 1,21 1,23 Raça/Cor do filho Branca 1,00 1,00 1,00 1,00 Preta 1,64 1,37 1,28 1,17 Parda 2,27 2,09 2,20 2,23 Amarela 1,81 1,43 1,31 1,24 Indígena 1,55 1,17 1,09 1,11

Distorção idade/Instrução do filho

Idade/nível correto 1,00 1,00 1,00 1,00

Sem instrução 1,29 1,42 1,35 1,35

Idade/nível incorreto 1,18 1,26 1,20 1,05

Região de moradia da família

Centro-Oeste 1,00 1,00 1,00 Norte 1,89 1,80 1,56 Nordeste 1,71 1,58 1,33 Sudeste 0,81 0,80 0,88 Sul 0,86 0,81 0,82 Arranjo familiar Mora sozinho 1,00 1,00 1,00 Mora acompanhado 0,79 0,79 0,83 Escolaridade do responsável

Ens. Superior completo 1,00 1,00

Até o ensino fundamental incompleto 2,23 1,39

Ens. Fundamental completo e médio incompleto 1,67 1,19

Ens. Médio completo e superior incompleto 1,36 1,16

Percepção de saúde do responsável do domicílio

Boa/Muito boa 1,00

Ruim/Regular 8,05

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O Modelo 2 agrega as informações da região geográfica de residência da família e o arranjo familiar. Observa-se que os adolescentes residentes nas regiões Norte e Nordeste do Brasil apresentam 89% e 71% a mais de chance de perceberem negativamente a saúde, comparando-se com aquelas residentes na região Centro-Oeste do país. Por outro lado, os moradores das regiões Sudeste e Sul têm 19% e 14% a menos de chance, respectivamente, de perceberem sua saúde como ruim ou regular, que aqueles residentes na região Centro-Oeste.

O arranjo familiar se mostra como um fator de proteção para os adolescentes na questão de percepção da saúde. Os adolescentes que moram com pai ou mãe e mais um cônjuge apresentaram menos chance de relatarem a saúde negativamente (21% a menos de chance em relação aos responsáveis que moravam sozinhos).

Com a inclusão destas duas variáveis, percebe-se que, os adolescentes de todas as raças, em especial, amarelas e indígenas, diminuíram a chance de relatarem negativamente a saúde, o que mostra que o local de moradia e o arranjo familiar tiveram um impacto na percepção de saúde sob a característica da raça ou cor do adolescente. Por outro lado, a questão da idade e nível de instrução se comportou de forma diferente. Os adolescentes sem instrução apresentaram 42% a mais de chance de relatarem saúde como ruim ou regular que aquelas que tinham idade e nível de instrução em alinhamento considerado ideal.

No modelo 3 foi introduzida a variável que aborda o nível de escolaridade dos responsáveis pelos domicílios. Os adolescentes com responsáveis que possuíam até o ensino fundamental incompleto como nível mais elevado de escolarização apresentaram 2,23 vezes mais chances de perceberem sua saúde como ruim ou regular que aqueles que moravam com responsáveis que possuíam curso superior completo. Observa-se que esta relação vai diminuindo na medida em que a escolaridade dos responsáveis vai aumentando de nível, chegando a 36% a mais de chance dos adolescentes relatarem negativamente a saúde quando os responsáveis possuíam o ensino médio completo ou ensino superior incompleto.

A inclusão desta variável no modelo determinou a redução na chance de relato negativo da saúde em todas as categorias das variáveis já consideradas. A desigualdade de sexo na percepção de saúde, por exemplo, foi menor com a inclusão da escolaridade dos responsáveis; os adolescentes da raça/cor amarela apresentaram uma redução de 9,3% na chance de perceberem a saúde como ruim ou regular, em comparação com os brancos; a escolarização dos responsáveis apresentou-se como um forte determinante da

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percepção da saúde para os residentes na região Nordeste uma vez que houve uma redução de 8,3% na chance dos adolescentes perceberem negativamente a saúde. No Modelo 3, observa-se que os adolescentes da região Nordeste tem 58% a mais de chance de relatarem a saúde como ruim ou regular com relação às crianças ou adolescentes da região Centro-Oeste.

No Modelo 4 foi incluída a percepção de saúde dos responsável do domicílio. A partir daí, observa-se que os adolescentes com responsáveis que relataram saúde como ruim ou regular, têm 8 vezes a mais de perceberem negativamente sua saúde que aquelas com responsáveis que percebem sua saúde de forma positiva.

A inclusão da variável de percepção do responsável fez com que a desigualdade entre os sexos aumentasse bem como alteração na razão de chance da região Sudeste. Observa-se que os adolescentes do sexo feminino têm 23% de chance a mais que homens de relatarem a saúde de forma mais negativa. Os adolescentes da região Sudeste apresentaram um aumento de 10,5% na chance de perceberem negativamente sua saúde, após a inclusão da percepção da saúde dos responsáveis. No entanto, as pessoas desta região continuam com menos chance (12%) de perceberem sua saúde como ruim ou regular que os adolescentes residentes na região Centro-Oeste.

Por outro lado, a percepção de saúde dos responsáveis se mostrou significativamente associada com a percepção dos adolescentes, principalmente quando se observa a raça/cor do adolescente. Neste caso, a raça/cor preta apresentou uma redução 8,5% na chance de perceberem sua saúde como ruim ou regular. Também nota-se que os adolescentes com idade não adequada com nota-seu nível de instrução têm 50% a mais de chance de perceberem a saúde negativamente que aquelas com idade e nível de instrução considerado adequado: uma redução de 12,2% quando acrescentada a variável de percepção da saúde do responsável pelo domicílio.

Discussão

Os resultados obtidos nesse trabalham confirmar evidências anteriores quantos aos determinantes da percepção de saúde dos adolescentes. Por exemplo, ser do sexo feminino também foi considerado fator associado à autopercepção da saúde negativa em adolescentes pesquisados em Santa Maria no Rio Grande do Sul (CUREAU et al, 2013) e em Florianópolis (SOUSA et al, 2010). Além disso, com proporção parecida com o desse trabalho de adolescentes com percepção negativa da saúde (12,1%), Reichert et al (2012) também mostrou que o nível de escolaridade estava inversamente associado com

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o desfecho, que era a percepção negativa da saúde, no município de Pelotas no Rio Grande do Sul.

Apesar da escassez de estudos intergeracionais envolvendo a percepção de saúde dos adolescentes, os resultados existentes corroboram os obtidos no presente trabalho. Wickrama et al (1999) mostrou que hábitos formadores de riscos à saúde, tais como o uso de tabaco, consumo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo, seriam repassados de maneira intergeracional ao avaliar dados longitudinais de pais e seus filhos adolescentes do estado americano de Iowa. De maneira semelhante, a existência de poucas atividades recreativas familiares durante a infância foram associadas com a inatividade física quando adolescentes, segundo estudo longitudinal realizado na Nova Zelândia (RICHARDS et al, 2009).

Cabe ressaltar, entretanto, alguns fatores que limitam os resultados apresentados. Primeiramente, foram usados indicadores de percepção da saúde dos adolescentes, sendo esses construídos a partir das respostas obtidas pelo responsável do domicílio e não pelo próprio adolescente. Sendo assim, é difícil perceber o quanto essas respostas, de fato, refletem o estado de saúde da população-alvo do estudo, pois essa fase da vida é marcado pela aumento de autonomia e independência, sendo que os pais e responsáveis podem não saber a real condição de seus filhos adolescentes.

Ademais, destaca-se o fato de que foi estudado a correlação intergeracional de potencial de saúde, indicando que existe uma associação entre a saúde dos pais e filhos, mas não uma relação de causalidade. Para estudos que buscam mostrar causalidade, faz-se necessário esgotar todos as possíveis variáveis confundidoras, além do uso de dados longitudinais.

Conclusão

O presente trabalho teve como objetivo estudar a correlação intergeracional de potencial de saúde entre pais e filhos adolescentes a partir das informações da PNS.

Seguindo a literatura focada nas crianças (CONEAUS E SPIESS, 2012; CASE ET AL,

2002), os resultados mostraram que o estado de saúde de adolescentes no Brasil tem correlação intergeracional, sendo que os filhos com pais com percepção negativa da saúde tiveram até 8 vezes mais chances de assim terem sua saúde declarada como ruim ou muito ruim.

Além disso, dentre os determinantes da percepção negativa de estado de saúde dos adolescentes, foram identificados ser do sexo feminino, morar nas regiões Norte e

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Nordeste do Brasil, se declarar de cor parda, viver sozinho, não ter instrução e ter pais ou responsáveis com nível de escolaridade de até o ensino fundamental incompleto. Isso demonstra a importância dos determinantes sociais na saúde.

Apesar da existência de políticas sociais que visassem a inclusão dos grupos mais vulneráveis nos serviços de saúde, ações específicas devem ser tomadas a fim de produzir um ciclo virtuoso de promoção de transmissão de potencial de saúde ao longo de gerações. Além disso, novos estudos são necessários, considerando outras bases de dados, a fim de se fortalecer a área da saúde baseada em evidência no que se refere à transmissão intergeracional de potencial de saúde, na lógica dos determinantes sociais. Referências

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Referências

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