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Literatura e resistência: a palavra armada zapatista

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Academic year: 2021

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Literatura y resistencia: la palabra ar-mada zapatista Este artículo es un estudio introductorio sobre el uso de la literatura por el Ejército Zapatista de Liberación Nacional. Trata de problematizar y comprender el potencial de esta for-ma de comunicación política cuando es utilizada por los movimientos sociales.

Palabras-clave: Literatura; Zapatista; Subcomandan-te Marcos; Comunicación Política; EZLN.

Este artigo é uma pesquisa introdutória sobre a utilização da literatura pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional. Busca-se problematizar e apreender as potencialidades dessa forma de comu-nicação política, quando utilizada por movimentos sociais.

Palavras-chave: Literatura; Zapatista; Subcomandante Marcos; Comunicação Política; EZLN. Alexander Hilsenbeck Filho

Docente na Faculdade Cásper Líbero. Doutor em Ciência Política (Unicamp), realizou a dissertação de mes-trado em Ciências Sociais (UNESP-Marília) sobre a práxis do EZLN. E-mail: amhfilho@casperlibero.edu.br

Literatura e resistência: a palavra

armada zapatista

Literature and resistance: the zapatista armed word This article is an introductory survey of the literature on the use by the Zapatista Army of National Liberation. Seeks to problematize and apprehend the potential of this form of political communication when used by social movements. Key-words: Literature; Zapatista; Subcomandante Marcos; Political Communication; EZLN.

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“Chega mais perto e contempla as palavras, Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra...”

Carlos Drummond de Andrade A comunicação tem tido papel cada vez mais relevante na vida contemporânea. Não estando isentas das contradições que permeiam a sociedade, diferenças, oposi-ções e contradioposi-ções reais penetram nos domínios da linguagem e se tornam uma fer-ramentas primordiais na composição da luta social. Elementos comunicacionais têm sido utilizados como parte da estratégia de superar as categorias políticas tradicionais, abrangendo o nível cultural e a concepção da sociedade de forma geral.

Hans Enzensberger (2003) desenvolveu uma teoria marxista das mídias, a partir da contradição entre o desenvolvimento acelerado e do alcance crescente desse setor da produção e a necessidade do capitalismo de reter suas potencialidades liberadoras e coletivas. Afastando-se de uma interpretação liberal ou sindical desses conflitos, o autor criticou também a utilização que a esquerda faz dessas tecnologias, quase sem-pre de modo retrógrado, reconhecendo na indústria da consciência apenas o reverso capitalista, mas não as suas possibilidades emancipadoras (com raras exceções, como Benjamin e Brecht). Ratificando essa linha interpretativa, constata-se que são poucos os movimentos sociais que, em suas lutas, procuram utilizar e liberar as forças propulsoras das tecnologias de mídia.

Ainda assim, uma das faces mais visíveis e sedutoras das novas formas de comu-nicação, numa era da informação eletrônica e redes sociais, tem sido o aumento do uso da internet por movimentos antissistêmicos1. Esta foi uma das características mais

des-tacadas do Exército Zapatista de Libertação Nacional: indígenas armados utilizando-se das vias eletrônicas, no meio da selva, para travar uma guerra que se valia também da comunicação, conseguindo fazer com que sua luta e seus comunicados tivessem resso-nância imediata.

Diante de um projeto de transformação política, faz-se necessário angariar apoios e solidariedades, aglutinar engajamentos. Mas, num momento de refluxo das lutas de esquerda, por quais meios, com quais linguagens, com qual estética e para qual significação? Com qual forma e com que conteúdo? Ao contrário de grupúsculos pretensamente radicais, que podem e querem manter-se com o mínimo apoio so-cial, colocando-se como elite de classe e empunhando abstrações desmobilizadoras

1. Alguns estudos têm sido desenvolvidos com esse caráter de uso da internet pelos movimentos sociais,

conferir, por exemplo, Ortiz (1997), que foi um dos primeiros trabalhos no Brasil a abordar não apenas essa face do zapatismo, mas o próprio movimento; Orrico (2009), que comparou a linguagem na internet do EZLN e do MST. Para uma crítica das perspectivas pós-modernas que classificam o conflito em Chiapas como uma guerra puramente informacional e sobretudo de palavras ver Hilsenbeck Filho (2009).

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(pois não atingem a realidade concreta das pessoas), essas são questões cruciais para qualquer movimento social de base, massivo, alicerçado por práticas autonomistas e democráticas no seu interior 2.

A procura por soluções para essas questões é capital para a sobrevivência e pos-sibilidades de ampliação dos movimentos sociais, como também para o desenvolvi-mento do mundo novo que pretendem construir. E mais essencial quando os velhos discursos e bandeiras de ordem parecem não encontrar eco significativo em grande parte da população.

Há um papel político para a literatura?

“Palavra, palavra, se me desafias, aceito o combate” Carlos Drummond de Andrade A literatura escrita – em contraposição à literatura oral – historicamente teve um papel dominante pelo curto período de alguns séculos, mas o seu caráter revolucionário é inquestionável. A literatura (enquanto forma específica de escrita) já foi um mecanis-mo poderoso de instrução e educação – concorrendo no início do século XIX com a So-ciologia na primazia da explicação da sociedade, pelo fato de permitir ligar densamente a análise descritiva com os avanços imaginativos.

O material literário pode ser atravessado por fronteiras como sucederam histo-ricamente e as que podem vir a ser. Assim, a conjuntura política é entremeada pelas possibilidades do devir e, noutro sentido, os elementos mais fantásticos também bebem no caudal político e social no qual estão imersos.

A produção literária é uma das facetas do conflito comunicativo, pois contém um significado estético, didático e político, contribuindo para a apreensão da realidade e de suas contradições3 . Mas qual papel a literatura ocupa nos projetos dos movimentos

sociais, e como tem sido essa apropriação? Visto que os movimentos antissistêmicos e anticapitalistas propugnam a criação de “outro mundo”, em que medida têm se utilizado da literatura – enquanto forma de linguagem artística – como uma das ferramentas para auxiliá-los no processo de emancipação social? O uso da arte (notadamente da literatura) revelaria as transformações almejadas? Ou, ao não se expressarem

artistica-2. Para Gramsci (2005), o intelectual orgânico deveria captar os acontecimentos mais cotidianos e transformá-los

em base real para a reflexão dos grandes temas históricos, servindo assim à classe trabalhadora, auxiliando-a na direção de um futuro emancipado.

3. Para alguns setores, essa forma de produção está em declínio e desuso, em decorrência não apenas da cultura

televisiva e da falta de prática de leitura, mas da própria pasteurização do gênero literário, do predomínio da literatura de autoajuda, o que levou à perda de potência da literatura contemporânea (Tabarovsky, 2010).

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mente, tampouco tais anseios de mudanças seriam manifestos?

Partimos de um conceito abrangente de literatura, como definido por Antonio Candido (2007, p.28),

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos de folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações.

A riqueza estética e comunicativa do texto literário está assente num conjunto de significados presentes na dimensão social, da qual a obra literária é produto e, em dada medida, no processo de desvelar ou esconder estruturas profundas, auxilia a reproduzir ou combater elementos sistêmicos, sendo também produtora, traduzindo elementos de permanência, bem como anseios de mudança. A produção discursiva constitui dimen-são em que o complexo conjunto de relações sociais é corroído pela perplexidade, pela dúvida e experiência dos setores e grupos que desafiam estruturas do sistema, explici-tando tensões e antagonismos.

Romances, ensaios, narrativas, contos e poemas sobre as lutas sociais têm sido criados tanto por escritores e intelectuais como – e este fato nos parece essencial – pe-los próprios integrantes dos movimentos.

Dado esse preâmbulo explicativo, vejamos alguns aspectos da arte e literatura no zapatismo que, em dada medida, têm influenciado na sensibilidade e estética produzida nas lutas autônomas contemporâneas.

A opção zapatista

“Não morrerá a flor da palavra […] A palavra que veio do fundo da história e da terra já não poderá ser arrancada pela soberba do poder” Marcos O EZLN recorreu à literatura para:

[...] tentar explicar, através do coração, as ideias que eram destinadas à cabeça. Procurava uma maneira de explicar o que éramos e o que pensávamos, sem cair nos mesmos erros. Durito, como o Velho Antônio ou as crianças zapatistas que aparecem nos contos, era uma personagem que, no lugar de explicar, fazia intuir a situação na qual nos encontrávamos [...] não queríamos construir um discurso sentimentalista, apolítico ou contrário à teoria, procurávamos apenas recolocar a teoria ao nível do ser humano, da vida, de partilhar

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experiências vivenciadas sobre as quais refletir (Marcos, 2004).

Optaram, assim, pelo manejo intensivo e criativo da literatura como elemento po-lítico. Percebe-se a tentativa de transposição de seu cotidiano, de suas necessidades vi-venciadas, bem como de seus ideais e objetivos para o campo comunicativo, auxiliando na compreensão de táticas e estratégias desenvolvidas na condução de suas lutas.

Para os poderosos, o nosso silêncio era uma benção. Calando morríamos, sem palavra não existíamos. Lutamos para falar contra o esquecimento, contra a morte, pela memória e pela vida. Lutamos pelo medo de morrer a morte do esquecimento (IV Declaração da Selva Lacandona, 1995).

Os zapatistas, paradoxalmente, rompem com uma linguagem de esquerda milita-rizada, mais sisuda e rígida (ao mesmo tempo em se que contrapõe à linguagem domi-nante)4 , mediante uma pluralidade discursiva, recheada de mitos e lendas, de histórias

e poemas, procurando atingir grande parcela da população, das donasdecasa aos de-sempregados, dos estudantes aos professores, dos operários aos camponeses. Lingua-gem sincrética, que mescla elementos das culturas indígenas, da tradição socialista, das atuais demandas por direitos humanos e democracia, combina narrações do cotidiano das comunidades e faz alusões a Shakespeare, Neruda, García Lorca e vários estilos lite-rários e formas linguísticas, que varia conforme o objetivo e o interlocutor.

No caso dos textos de ficção, isso permite que os leitores adentrem o mundo da fantasia criado por Marcos e distanciem-se da realidade cotidiana, o que lhes possibi-lita refletir de modo profundo e intuir sobre a vida concreta5 . Os escritos de Marcos

alcançam, assim, forte efeito político, talvez exatamente por não terem a forma de um panfleto político ou tratado sociológico; nessa medida, constituem uma via privilegiada para a transmissão do conhecimento, ainda mais que se valem de alta dose imaginativa, o que, como já ressaltou Florestan Fernandes, é fundamental não apenas para medir a grandeza de um homem, mas pelo fato de a imaginação fornecer os instrumentos para transformar o mundo.

Nos contos infantis, Marcos usa palavras semelhantes ao vocabulário das crianças chiapanecas e períodos breves, simples, interrompidos por outros contos – que por sua vez podem ser interrompidos por ainda outros contos – explorando aspectos do funcio-namento do dia a dia das comunidades em resistência. Também se vale da prosopopeia, a humanização da natureza, contra um mundo que animaliza o ser humano.

4. “Quando ouvi Marcos se dirigir à multidão na Cidade do México, fiquei surpresa de que ele não

parecesse um político em um comício ou um pregador em seu púlpito, mas um poeta no maior recital de poesia do mundo”. Naomi Klein (Ortiz, 2007: 53).

5. Essa forma nos remete ao final do séc. XIX, quando alguns autores passaram a superar a dicotomia

entre realidade e fantasia. Tal superação tornou possível libertar o “reino da imaginação” que passou a habitar não apenas os contos de fada, mas também a literatura adulta de escritores como Machado de Assis e Franz Kafka.

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Na carta ao menino Miguel, o subcomandante zapatista responde a acusação do governo de que seriam profissionais da violência:

O dia já está morrendo entre os braços noturnos dos grilos e então tive a ideia de lhe escrever para lhe dizer algo que viesse desses ‘profissionais da violência’, como nos chamam tão amiúde.

É verdade, somos profissionais. Mas nossa profissão é a esperança. Um belo dia, decidimos virar soldados para que noutro dia os soldados não sejam mais necessários. Ou seja, escolhemos uma profissão suicida porque é uma profissão cujo objetivo é desaparecer: soldados que não são soldados, porque um dia ninguém mais será soldado. Está claro, não é? [...]

Dos nossos corpos nus e despedaçados deverá surgir um mundo novo. Será que o veremos? É importante vê-lo? Acho que isso não é tão importante como saber que ele nascerá e que, no longo e doloroso parto da história, nós contribuímos com alguma coisa ou com tudo: vida, corpo e alma (Marcos, 1998, p. 47-48).

A narrativa literária do subcomandante Marcos também será tributária da li-teratura originária da reação ao colonialismo cultural. No México, tal lili-teratura fun-diu técnicas europeias com elementos da linguagem indígena, o que resultou numa fusão do surrealismo e do indigenismo, tendo por grande expoente Pedro Páramo (2009) de Juan Rulfo, que inspirou as obras de Gabriel Garcia Márquez, Augusto Roa Bastos etc. Nessa mesma linha, Miguel Angél Asturias (2003; 2004) se opôs à aplicação de um modelo de modernização importado e, com sua narrativa, recu-perou mitos e lendas maias, valendo-se também da “[...] elaboração poética desse mundo mágico por um prisma surrealista” (Gelado, 2006, p. 89) e, numa outra pers-pectiva, mas que também defenderá o setor indígena subalternizado, porém levando em conta as benesses da modernização, estão, por exemplo, os ensaios e escritos de Mariátegui (2008). Outra influência direta reside no pouco que restou da literatura indígena dos povos pré-colombianos, como o Popol Vuh e o Chalam Balam de

Chu-mayel, compostos por uma narrativa mítica, repleta de poesia e eloquência, que vem

influindo, ainda hoje, na literatura e no pensamento mundial. Popol Vuh é o livro que narra o destino de um povo, a gênese e evolução dos maias-quichés. Sua história escrita em estrutura de versos (também possivelmente encontrada em hieróglifos e códices – cenas pintadas em artefatos maias) e com forte qualidade oral, na qual convivem variados níveis de tempo, procura afirmar a memória e os direitos dos in-dígenas maias-quiches, tendo por objetivo reclamar, perante o governo colonial, um benefício anterior à invasão (Brotherson; Medeiros, 2008).

Diversos elementos contados nessa criação originária do Novo Mundo estão presentes na narrativa de Marcos: a cosmogonia maia, o papel do silêncio, a contra-dição e reconciliação entre cultura e natureza, os mistérios envolvendo as pessoas das montanhas, a sedução da noite, o Sol e a Lua como símbolos de renovação da

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vida, os vários elementos dos quais foram constituídos os seres humanos, a centralidade e importância do milho, o estilo oral e poético dos textos, recheados de elementos fantásticos.

No entanto, como já ressaltado, a literatura zapatista é herdeira não apenas da cos-mogonia maia, mas também da já citada literatura de realismo fantástico, e que será utiliza-da pelo subcomanutiliza-dante para ampliar efeitos políticos, integrando o moderno e o indígena para além das instituições, ao preservar e recuperar certos aspectos linguísticos e culturais, ao tempo em que outros são abandonados e transformados. Marcos ainda comumente se utiliza de estruturas sintáticas próprias, influenciadas pela linguagem da geração de me-xicanos dos anos 1960-70. Assim, ressaltam-se os traços peculiares da cultura maia e são recriadas lendas e tradições dos povos originários da América indígena, mas sem perder o contato com a realidade concreta que os circunda e aflige e a qual os zapatistas pretendem transformar.

A produção zapatista adota na narrativa o ponto de vista dos esquecidos pela história oficial, “dos perdedores” e “anônimos”, “dos sem rosto e sem voz”, relendo o passado na busca de uma tradição alternativa, a partir da experiência dos “de baixo” (Benjamin, 1983; 1991). Essa produção literária parte da realidade dos “vencidos da história”, sustentando valores que estão dissociados da ordem imperante. Busca, assim, afastar nos aspectos coti-dianos o véu de fábula que a ideologia dominante impõe (Santos, 2004).

A utilização do fantástico para fundamentar seu texto permite a Marcos assumir múltiplas temporalidades e espacialidades, bem como a apropriação dos mitos e lendas com vistas a ressignificar a história, fazendo com que as referências ao passado exprimam também a transformação desse passado e do próprio presente, projetando os valores e an-seios de “outro mundo possível”, com outras sociabilidades e relações.

Assim, pode-se recriar o discurso histórico para legitimar dada identidade, reinter-pretando informações, conceitos e significados numa releitura da memória coletiva, com o objetivo de trazer à tona a dignidade dos povos indígenas, de fortalecer suas identidades, seus idiomas, sua memória e cultura, mas também impregná-los de valores e direitos das sociedades contemporâneas, numa dialética que representa o tempo presente como a sín-tese da herança do passado em conflito com as possibilidades do futuro.

É o que se pode ver na valorização do diferente, na defesa das escolhas do indivíduo concomitante com a vida baseada na coletividade. Nesse sentido, a questão de gênero e da liberdade sexual é abordada quando Magdalena (uma transexual da Cidade do México) conversa com o zapatista Elias Contreras, tocando em aspectos do machismo incrustado na cultura mexicana e indígena (e não apenas nessas), como o direito à escolha sexual, vin-culando-a à luta de todos os “diferentes”, de todos que sofrem preconceito e discriminação, as “minorias que lotam os porões do mundo”, como diria Eduardo Galeano. Nas palavras de Magdalena:

Olhe, Elias, talvez você me entenda porque é indígena e sabe o que se sente com a discriminação e o racismo. Não sei, há como um ódio ao que é diferente. E esse ódio não é nada mais do que lhe interpretarem mal, caçoarem de você, fazerem piadas ou

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o humilharem e insultarem [...] chegam até a assassinar [...] E também, por ser o que somos, se acontece algo de ruim, suspeitam primeiro de nós [...] Como se a nossa preferência sexual fosse produto de uma mente criminosa, um traço de delinquência... ou de animalidade [...] Não sei, mas o caso é que se uma pessoa é homossexual, lésbica, transexual ou trabalhadora sexual, isso basta para ela ser o primeiro suspeito ou suspeita de algo ruim. Então a pessoa tem que esconder sua diferença ou acantoná-la em uma rua escura. E por que vamos esconder o que somos? Trabalhamos como qualquer um, amamos e odiamos como qualquer um, sonhamos como qualquer um, temos virtudes e defeitos como qualquer um, ou seja, somos iguais porém diferentes [...] Além disso, não se usa a referência homossexual para insultar alguém? “Puto”, “viado”, “bicha”, “maricas”. Bem, o que estou lhe contando se “índio” continua sendo ainda um insulto neste país que se construiu e se levanta sobre as costas dos indígenas? (Marcos; Taibo II, 2006, p.148-149). Através da literatura, o subcomandante também efetua autocríticas às próprias co-munidades zapatistas, desnaturalizando relações e evitando que essas sejam mantidas num cômodo silêncio. Nesse sentido, o primeiro capítulo de Mortos Incômodos6 já expõe a difícil

situação vivenciada pelas mulheres indígenas, mesmo nas comunidades bases de apoio za-patistas. Esse tipo de autocrítica vem a ser recorrente na linguagem zapatista, o que denota um caráter de verdade aos seus comunicados, ao contrário de um percurso comum em outros movimentos de esquerda de buscar escamotear suas próprias contradições, valendo--se da comunicação apenas para passar uma imagem límpida e, por isso, mais próxima de manuais de catecismos.

Os textos zapatistas, por sua vez, parecem buscar humanizar a teoria, para que essa, segundo eles, abandone sua obsessão pela higiene antirrealidade, ligando-a com o amor, com música e dança mais do que com a seriedade e o rigor científico (estes a cargo dos acadêmicos de diversos tipos). Uma pretensão para que a teoria volte a se enamorar da rea-lidade (Felício; Hilsenbeck Filho, 2008).

Para tal objetivo, Marcos vale-se de personagens literárias, como o Velho Antônio7,

evocando a tradição de oralidade indígena, com o sábio ancião contador de histórias que, entre o ritual de enrolar o fumo e dar tragadas no tabaco, revela nas nuvens da fumaça os ensinamentos ancestrais com a magia da voz e da palavra, resgatando o elo entre o passado – desde os tempos da criação do mundo e de todas as coisas – e o presente.

No conto sobre A História das Cores8, relata-se o processo de descobrimento das

6. Romance policial escrito a quatro mãos, pelo subcomandante Marcos e Paco Ignácio Taibo II (famoso

pela biografia do Ernesto Che Guevara e de Pancho Villa), sendo que os capítulos eram divididos em ímpares (escritos pelo subcomandante Marcos) e pares (por Paco Ignácio Taibo II), enviados para um jornal que os publicava e, a partir de então, o outro autor continuava o livro.

7. Conforme Marcos, o Velho Antônio foi um líder indígena que realmente existiu e auxiliou

profundamente na tradução de seu mundo para os guerrilheiros urbanos. Após sua morte, Marcos irá recorrer a sua memória para fazer esse papel de tradução nos contos literários.

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cores e como elas pintaram displicentemente tudo na Terra, aludindo ao fato de existirem homens de diferentes cores e pensamentos. Mas antes de relatar a coloração do mundo, o Velho Antônio,

(...) limpa a garganta, acende o cigarro e se acomoda, como pode, para começar, lentamente.

A arara não era assim. Ela quase não tinha cor nenhuma. Era só cinza. Suas penas eram curtas, como uma galinha molhada [...] Os próprios deuses não sabiam quem fizera os pássaros. Ou como haviam sido feitos. E assim era a vida. Os deuses despertaram depois que a noite disse ‘agora é a minha vez’ para o dia. E os homens e mulheres estavam dormindo ou se amando, que é uma forma bonita de ficar cansado para dormir logo depois. Os deuses lutavam, sempre lutavam esses deuses que eram muito briguentos [...] lutavam porque o mundo era muito chato, pois era todo pintado somente em duas cores (Marcos, 2003).

A narrativa, a todo o momento, aborda o tema da diversidade. Os deuses, depois de descobrirem as cores e antes de irem dormir, pensaram numa forma de guardá-las, para não mais as perder nem esquecê-las, e colocaram todas numa arara que estava passando, aumentando suas penas para que as cores coubessem nela.

Ao explicar a partir da fábula a razão pela qual existem tantas cores no mundo, os insurgentes estão a reforçar um (e não o único) dos seus projetos políticos: a luta pelo reconhecimento dos direitos e culturas indígenas, contra o racismo e opressão às mi-norias e por uma efetiva organização democrática da sociedade. Em outras palavras, ou melhor, em palavras zapatistas, “[...] para que os homens e as mulheres não se esqueçam de que existem muitas cores e pensamentos, e que o mundo só será alegre, se todas as cores e todos os pensamentos tiverem o seu lugar” (Marcos, 2003).

Esse resgate da tradição indígena de transmissão de ensinamentos pelos mais ve-lhos, a partir dos contos, vincula as experiências das gerações passadas com as atuais. Por meio desse retorno ressignificado do passado, Marcos projeta e coloca no plano literário um tempo até então contido na tradição oral e na memória familiar.

Os mortos e o tempo

“Os mortos de baixo nunca estão quietos” Elias Contreras Tal como em Pedro Páramo há nos contos e comunicados zapatistas uma sobrieda-de fantasmal, ainda que não uma fuga do presente, pois se valem do passado para puxá-lo para o futuro. Os antepassados levantam-se para reaverem a dignidade e o sentido para suas

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mortes. Há uma ligação entre as gerações, entre o círculo infernal de nascer e voltar a mor-rer. Octávio Paz (1984) já apontava essa característica muito peculiar da atitude do mexica-no em relação à ligação profunda entre a morte e a festa, aparentemente irreconciliáveis em outras culturas, no caso mexicano a vida tem como finalidade a morte, vive-se para morrer.

Logo em seu primeiro comunicado público, o EZLN se reconhece como fruto de 500 anos de luta, vinculando-se com um longo processo de confrontos e resistências dos mexicanos e indígenas. Em outra oportunidade, ao recusarem o “perdão” presiden-cial, ainda que aceitando a trégua, os insurgentes atrelaram sua luta aos antepassados:

Quem tem de pedir perdão e quem pode outorgá-lo? [...] Os nossos mortos, que são a maioria, que morreram, democraticamente, entre os sofrimentos, já que ninguém nunca fez nada, porque todos os mortos, nossos mortos, partiam, de repente, sem que ninguém se desse conta, sem que ninguém dissesse, finalmente, o “Basta!”, que devolvesse sentido a essas mortes, sem que ninguém pedisse aos mortos de sempre, aos nossos mortos, que regressassem, não para morrer outra vez, mas agora para viver? (Marcos, 1998, p. 45-46). Assim como na obra de Juan Rulfo (2009) há uma sobreposição e inconstância de tempos históricos, em que os mortos coabitam os vivos, o passado se manifesta no pre-sente, negando a manifestação palpável do social, possível, mas não realizado. Esmagan-do o presente por meio de um Esmagan-domínio ancestral, fazenEsmagan-do com que o contemporâneo seja realizado tão somente como um prolongamento do passado que impede o caminho para o futuro (Oliveira, 2010), e é esse amanhã possível que os zapatistas reivindicam, ao remeterem o momento presente para as tensões do passado, um passado vivo que, pelas suas contradições, delimita as possibilidades do futuro imediato. Numa época de esquecimento coletivo, entender o passado – não como uma sucessão de presentes e atos naturalizados, mas como uma sucessão de lutas – se faz fundamental para que o tempo adquira significação humana.

Desse modo, um dos preceitos da obra de Juan Rulfo abordado exaustivamente nos escritos zapatistas vem a ser a presença dos mortos, esses nunca se calam, se ainda persistem as causas de injustiça de suas mortes.

Considerações finais

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução” Machado de Assis A literatura zapatista é multifacetada, o que permite ao leitor se identificar e com-partilhar visões, valores e reflexões, configurando uma recepção ativa que fomenta a

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re-flexão, por propiciar o vislumbre de multiplicidade de aspectos da experiência humana. É certo que os escritos de Marcos fogem de uma observação neutra e desinteres-sada e se aproximam do modelo do escritor engajado que se vale da palavra como forma de ação para desvendar e transformar. A partir da concepção mesma de práxis, há a intervenção na sociedade, tanto na qualidade de chefe militar do EZLN, como escritor engajado, trabalhando paralelamente, seja no universo da produção simbólica e teórica, seja na reorganização material das comunidades autônomas zapatistas, reunindo numa crítica corrosiva a produção literária e a militância política.

Por colocar em sintonia sua produção literária-política e o plano estético, o sub-comandante zapatista é considerado um grande literato por escritores e críticos reno-mados. Conforme Antonio Candido, “Marcos sabe dar o melhor realce ao contorno das ideias, revigoradas pela justeza e a eloquência da expressão”; e para José Saramago, “Nas suas ideias e na forma como se expressa, Marcos não é só uma grande inteligência, é também uma extraordinária sensibilidade” (Marcos, 2003).

O estilo adotado por Marcos abriu a possibilidade de diversas pessoas, em varia-dos cantos do mundo, identificarem-se com a causa zapatista, possibilitando a criação de redes internacionais de solidariedade e engajamento. De traduções a composições musicais, passando por contos narrados e escritos e por intervenções de artes plásticas, a solidariedade aos zapatistas encontra ressonância e ecos em múltiplas formas9.

O EZLN, assim, realiza um manejo moderno da comunicação, em sua substância (texto e imagem) bem como em seus vetores (imprensa, vídeo, internet), inaugurando uma disputa pelo discurso dentro e por meio do próprio discurso, diferenciando-se da lógica puramente militar e ampliando a forma de comunicação política.

É importante salientar que essa forma de comunicação zapatista tem seu alicer-ce no próprio modo de organização política dos insurgentes, que é fruto de seu lento processo de desenvolvimento, no qual os guerrilheiros marxistas urbanos tiveram que compreender a especificidade das populações indígenas, traduzir suas teorias e codifi-car seus símbolos. Essa primeira necessidade de aprender a ouvir e aprender a falar, com uma linguagem não viciada em jargões políticos veio acompanhada, a partir do início do levante, da necessidade de dialogar com uma parcela da sociedade que não apoiou a ofensiva de extermínio empreendida pelo Exército mexicano, mas tampouco se lançou em armas ao lado dos zapatistas.

Desse momento em diante, os insurgentes indígenas empreenderão uma estraté-gia, cada vez mais consolidada, de criar encontros e diálogos alternativos com setores da

9. Exemplos como os escritos de Emílio Gennari (2005); a compilação dos contos de Marcos na forma de

um livro-cd, no qual estes são narrados por personalidades como o escritor Eduardo Galeano ou o músico Daniel Viglietti (RED, 2008); a publicação da história do zapatismo em quadrinhos (GANESH, 1999); a utilização de trechos de comunicados ou referência aos zapatistas em músicas como as do cantor Manu Chao, do grupo Mundo Livre S/A e da banda Rage Against The Machine; a publicação de contos e poemas de autores como João Cabral de Mello Neto, José Saramago e Mario Benedetti a partir de desenhos das crianças chiapanecas (FZLN, 2001).

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sociedade, num constante ir e vir, independentemente de negociações com governos e instituições oficiais. Dessas duas “derrotas” – como as define o subcomandante Marcos – os zapatistas compreenderam que têm de trabalhar a questão da linguagem, num diá-logo no qual, invariavelmente, as trocas ocorrem em ambas às direções, influenciando--se mutuamente.

Como vimos, uma das formas que os zapatistas utilizam para desvelar e nomear as contradições sociais é a literatura e seu universo fabuloso, pois,

[...] a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. Em segundo lugar, a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição aos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual (Candido, 2007, p.42-43).

Ao buscarem dar significados às palavras e formas à linguagem, os insurgentes zapatistas também a carregam de todas as contradições inerentes não só a eles, mas à própria sociedade da qual fazem parte, em pequena ou larga medida. Isso faz com que a literatura zapatista contenha as contradições do real, pois é parte do desenvolvimento do processo histórico geral da sociedade.

A totalidade presente nos escritos zapatistas só pode ser apreendida na relação entre o particular e o geral, da qual a obra emerge como outra possibilidade de mundo. Ainda que essa possibilidade possa parecer inviável e pouco crível, ela contesta a todo o momento a idolatria dos fatos, a história dos vencedores. Entre o real e o possível, a história e a teoria possuem diversas linhas de contato não consumadas. A produção lite-rária de Marcos desenvolve-se consoante as transformações políticas, podendo ser lidas como resposta estética aos conflitos. Obviamente um tipo de resposta que acompanha outras formas de ação, não se limitando à comunicação, até porque essa literatura está encampada pela “crítica das armas”.

Um ponto frágil nessa opção literária zapatista vem a ser a centralidade na produ-ção do subcomandante Marcos. Para os zapatistas avançarem neste processo de apren-dizagem e criação coletiva, seria interessante que mais obras literárias (e artísticas de forma ampla) fossem realizadas por outros sujeitos dessa luta, pela população indígena em rebeldia. Nesse sentido, parece-nos salutar que, cada vez mais, outras lideranças zapatistas estejam escrevendo comunicados e proferindo discursos. A diversificação de vozes se faz importante para desvelar outras palavras e outros olhares insurgentes.

Passo importante nesse caminhar foi o lançamento em 2014 da revista Rebeldia

Zapatista em que integrantes das comunidades relatam o que viram, escutaram,

vive-ram e pensavive-ram a partir da experiência e do contato com diversas pessoas do mundo na

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do EZLN professem discursos e escrevam comunicados, como o subcomandante insur-gente Moisés (antigamente Major de Infantaria).

Esses fatos permitem a multiplicação do olhar, e que estes olhares se somem a outros mais, de fora e de dentro, de escritores e teóricos, de simpatizantes e militantes, de lideranças e de bases, mas que só são capazes de apreender uma parte do que é efe-tivamente o movimento zapatista. Esses olhares são como janelas através das quais se podem vislumbrar parcelas do horizonte a partir de onde se olha, mas que têm o privi-légio e a responsabilidade de serem janelas por onde outros olham estes movimentos.

Todos estes tipos de olhares, tão distintos uns dos outros, tão diferentes na forma de eleger a parte nossa que observam, têm, contudo, algo em comum: são olhares de fora [...] e não só elege uma forma de nos olhar [...] mas também elege olhar só uma parte do que somos [...] Sei que minha posição como Sup me dá um lugar privilegiado para olhar olhando-nos. Mas sou sincero com vocês: não consigo abranger todos os detalhes e, [...] não deixo de me assombrar e de me maravilhar, uma e outra vez, com o pouco que consegue abranger um coração maltratado, cheio de remendos e de cicatrizes que, afortunadamente, não cessam.

Então vos digo com este coração na mão: no zapatismo o olhar não é um privilégio individual e sim coletivo (Marcos, 2008, p. 167-171).

A combinação da função poética e emotiva da palavra, empregando consciente-mente os mais variados recursos estilísticos, mas também uma linguagem mais objetiva e adequada a prestar informação, pode abrir importantes veredas tanto para a luta mais imediata dos movimentos sociais, como no sentido de já construírem no presente as-pectos da emancipação humana que pretendem conquistar no futuro, vinculando sen-timento e racionalidade, objetividade e subjetividade, forma e conteúdo.

Entender o que dizemos, fazemos e faremos é impossível, se não consegue sentir nossa palavra.

Eu sei que os sentimentos não têm lugar na teoria, quanto menos na que agora anda aos tropeços.

Que é muito difícil sentir com a cabeça e pensar com o coração.

Que não são menores as masturbações teóricas que o apresentar desta possibilidade criou e que as estantes de livrarias e bibliotecas estão cheias de tentativas falidas ou ridículas disto que vos digo [...]

Mas insistimos que esta concepção é correta, o incorreto é o lugar em que se está querendo solucionar.

Porque para nós zapatistas, o problema teórico é um problema prático.

Não se trata de promover o pragmatismo ou de voltar às origens do empirismo, e sim de assinalar claramente que as teorias não só não devem isolar-se da realidade, mas que, pelo contrário, devem buscar nela os maços que às vezes são necessários quando se encontra um beco sem saída conceitual.

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As teorias redondas, completas, acabadas, coerentes, são boas para apresentar exame profissional ou para ganhar prêmios, mas costumam virar cacos com o primeiro vendaval da realidade (Marcos, 2008, p. 186-187).

Movimentos como o zapatismo, ao erguerem trincheiras poéticas e literárias, escritas pelos excluídos e vencidos da história, conjugam o potencial elucidativo e pedagógico da literatura com uma formação mais sólida e humanística de seus mem-bros e aliados.

Considerando que o contexto histórico e a sociedade de cada época influenciam o autor e, por sua vez, a sociedade é influenciada pela obra que ele produz, atuando mutuamente um sobre o outro numa relação dialética, percebe-se que o recurso à literatura enquanto procedimento político-pedagógico pode ser eficazmente utiliza-do pelos movimentos sociais e escritores críticos, visto que, propicia a percepção da complexidade de dada realidade social e a difusão de saberes. Possibilitam-lhes aglu-tinar engajamentos e apoios, e incorporar os anseios populares de mudança numa linguagem que dá sentido às expressões mais simples e escondidas da cotidiana re-beldia, construindo laços coletivos de solidariedade e apoio mútuo.

Não deixa de ser um fato curioso que um movimento “indígena” e “camponês” – portanto duplamente retrógrado para parcelas tanto da direita quanto da esquerda – se utilize da forma literária, e especialmente do livro – para muitos, outro instru-mento anacrônico na era dos bits e fluxos eletrônicos – como estratégia de formação de seus membros e conflito social com vias a modificar a assimétrica sociedade atual. Mas, há algo mais historicamente anacrônico do que lutar pela utopia de “outro mundo”, mais justo e igualitário, desprovido de opressões e explorações, tal qual de-fendido pelo EZLN? Ou, pelo contrário, essas exigências estariam na vanguarda do que efetivamente se possa chamar de uma história humana?

Para os zapatistas,

A história não passa de rabiscos escritos por homens e mulheres no solo do tempo. O poder traça o seu rabisco, elogia-o como escrita sublime e o adora como se fosse a única verdade. O medíocre limita-se a ler os rabiscos. O lutador passa o tempo todo preenchendo páginas. Os excluídos não sabem escrever... ainda. (Marcos, 1998, p. 170). Ao que parece os atuais vencedores se esqueceram de avisar aos perdedores que a própria história já tinha chegado ao seu fim, pois insistem que todo fim é tam-bém a possibilidade da escrita de um novo começo, história que os “de baixo” estão aprendendo a escrever...

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