• Nenhum resultado encontrado

Guia dos Direitos Humanos para os Utilizadores da Internet

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Guia dos Direitos Humanos para os Utilizadores da Internet"

Copied!
34
0
0

Texto

(1)

Recomendação cm/Rec(2014)6 e exposição de motivos

Guia dos

direitos

humanos

paRa os UtilizadoRes

da inteRnet

o conselho da europa é a principal organização de direitos humanos do continente europeu.

inclui 47 estados-membros, dos quais 28 são mem-bros da União europeia.

todos os estados-membros do conselho da euro-pa são signatários da convenção europeia dos di-reitos do Homem, a qual visa proteger os didi-reitos humanos, a democracia e o estado de direito. o tribunal europeu dos direitos do Homem su-pervisiona a aplicação da convenção nos estados-membros.

(2)

Índice

recomendação cm/rec(2014)6 do comité de ministros aos estados-membros sobre o Guia dos direitos humanos para

os utilizadores da internet

anexo à recomendação cm/rec(2014)6 – Guia simplificado dos direitos humanos para os utilizadores da internet

introdução 7

acesso e não discriminação 8

liberdade de expressão e de informação 9 Reunião, associação e participação 11 privacidade e proteção de dados 12

instrução e literacia 13

crianças e jovens 14

Recurso efetivo 15

documentos cm - exposição de motivos

introdução 19

antecedentes e contexto 20

observações sobre a Recomendação cm/Rec(2014)6 do comité de ministros aos estados-membros sobre

o Guia dos direitos Humanos para os Utilizadores da internet 23

preâmbulo 24

dispositivo da recomendação 27

anexo à Recomendação cm/Rec(2014)6 - GUia dos diReitos HUmanos paRa os UtilizadoRes da inteRnet

3

6

18

(3)

3

recomendação cm/rec(2014)6

do comité de ministros aos

estados-membros sobre o Guia

dos direitos humanos para os

utilizadores da internet

(Adotada pelo Comité de Ministros em 16 de abril de 2014, na 1197.ª reunião dos Delega-dos Delega-dos Ministros)

1. Os Estados-Membros do Conselho da Europa têm a obrigação de

reco-nhecer a qualquer pessoa dependente da sua jurisdição os direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados na Convenção Europeia dos Direi-tos do Homem (STE n.º 5, a seguir a Convenção). Esta obrigação também é válida no contexto da utilização da Internet. São igualmente aplicáveis os demais instrumentos e convenções do Conselho da Europa em matéria de proteção do direito à liberdade de expressão, acesso à informação, direito à liberdade de reunião, proteção contra a cibercriminalidade e do direito à vida privada e proteção de dados pessoais.

2. As obrigações dos Estados-Membros no que se refere ao respeito,

proteção e promoção dos direitos humanos passam pela supervisão das empresas privadas. Os direitos humanos, que são universais e indivi-síveis, e as normas conexas têm primazia sobre os termos e condições gerais impostos aos utilizadores da Internet por qualquer agente do setor privado.

3. A Internet tem o valor de serviço público. Pessoas, comunidades,

autori-dades públicas e entiautori-dades privadas dependem da Internet para exercer as suas atividades e têm a expectativa legítima de que os seus serviços sejam acessíveis, prestados sem discriminação e a um preço aceitável, seguros, fiá-veis e contínuos. Além disso, ninguém deve ser sujeito a ingerências ilícitas, desnecessárias ou desproporcionadas no exercício dos seus direitos huma-nos e liberdades fundamentais ao utilizar a Internet.

(4)

5

4 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

4. Os utilizadores devem receber apoio para conhecer e exercer de forma

efetiva os seus direitos humanos em linha quando os seus direitos e liberdades forem objeto de restrições ou ingerências, devendo este apoio incluir orientações sobre como obter um recurso efetivo. Tendo em conta as oportunidades proporcionadas pela Internet em termos de transpa-rência e responsabilização na condução dos assuntos públicos, os uti-lizadores devem ser capacitados para utilizar a Internet como meio de participação na vida democrática.

5. A fim de assegurar a aplicação uniforme dos direitos humanos e

liber-dades fundamentais vigentes tanto em como fora de linha, o Comité de Ministros recomenda aos Estados-Membros, ao abrigo do artigo

15.ºalí-nea b, do Estatuto do Conselho da Europa, que:

5.1. Promovam ativamente o Guia dos Direitos Humanos para os

Utili-zadores da Internet, tal como estabelecido no anexo, junto dos cidadãos, autoridades públicas e agentes do setor privado, e tomem medidas espe-cíficas com vista à sua aplicação, de modo a que os utilizadores possam exercer na plenitude os seus direitos humanos e liberdades fundamen-tais em linha;

5.2. Avaliem, examinem regularmente e, se for caso disso, eliminem as

restrições ao exercício de direitos e liberdades na Internet, em especial se não estiverem em conformidade com a Convenção à luz da jurisdição pertinente do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. As referidas restrições têm de ser previstas na lei, necessárias numa sociedade demo-crática para perseguir um fim legítimo e proporcionais ao fim legítimo perseguido;

5.3. Assegurem o acesso dos utilizadores a Internet a vias de recurso

efetivo no caso de os seus direitos e liberdades serem objeto de res-trições ou se considerarem que os seus direitos foram violados. Tal requer o reforço da coordenação e cooperação entre as instituições, entidades e comunidades envolvidas, bem como a participação empe-nhada e uma cooperação eficaz com os agentes do setor privado e as organizações da sociedade civil. Consoante o contexto nacional, tal pode passar por mecanismos de reparação como os assegurados por autoridades responsáveis pela proteção de dados, instituições nacio-nais de direitos humanos (como os provedores de justiça), processos judiciais e linhas telefónicas diretas;

5.4. Promovam a coordenação com outros agentes estatais e não estatais,

dentro e fora do Conselho da Europa, no que toca às normas e aos pro-cedimentos com impacto sobre a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na Internet;

5.5. Incentivem o setor privado a empreender um diálogo autêntico com

as autoridades públicas competentes e a sociedade civil no exercício da responsabilidade social das empresas, nomeadamente em matéria de transparência e responsabilização, em sintonia com os «Princípios Orien-tadores sobre Empresas e Direitos Humanos: aplicação do quadro das Nações Unidas “Proteger, Respeitar e Reparar”». O setor privado deve igualmente ser incentivado a contribuir para a divulgação do Guia;

5.6. Incentivem a sociedade civil a apoiar a divulgação e aplicação do

Guia, de modo a que este seja um instrumento eficaz para os utilizado-res da Internet.

(5)

7

anexo à recomendação cm/rec(2014)6

Guia simplificado dos direitos humanos

para os utilizadores da internet

introdução

1. O presente Guia pretende ser um instrumento que lhe permita,

enquanto utilizador da Internet, conhecer os seus direitos humanos em linha, as possíveis limitações dos mesmos e as vias para obter uma reparação por tais limitações. Os direitos humanos e as liberdades fun-damentais aplicam-se em igual medida dentro (online) e fora de linha

(offline). Este princípio inclui o respeito pelos direitos e liberdades dos

restantes utilizadores da Internet. O Guia fornece informações sobre as implicações práticas dos direitos e liberdades no contexto da Internet, sobre como invocá-los e aplicá-los e sobre como obter uma reparação. Trata-se de um documento evolutivo, sujeito a atualizações periódicas.

2. O presente Guia assenta na Convenção Europeia dos Direitos do Homem

e outras convenções e instrumentos do Conselho da Europa que tratam de vários aspetos da proteção dos direitos humanos. Todos os Estados-Mem-bros do Conselho da Europa estão obrigados a respeitar, proteger e aplicar os direitos e liberdades constantes dos instrumentos por eles ratificados. O Guia inspira-se também na interpretação contínua de tais direitos e liber-dades pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, bem como noutros instrumentos jurídicos pertinentes do Conselho da Europa.

3. O Guia não estabelece novos direitos do homem e liberdades

funda-mentais. Baseia-se nas normas e mecanismos de aplicação efetiva dos direitos humanos existentes.1

1) O presente Guia faz parte de uma recomendação adotada pelo Comité de Ministros dos 47 Estados-Membros do Conselho da Europa. Pode consultar Informações mais pormenorizadas de explicação do Guia na exposição de motivos da recomendação.

(6)

9

8 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

acesso e não discriminação

1. O acesso à Internet é um importante meio para exercer os seus

direi-tos e liberdades e participar na democracia, razão pela qual não deve ser desligado da Internet contra a sua vontade, exceto na sequência de uma decisão judicial. Em certos casos, as disposições contratuais podem também levar à interrupção do serviço, mas esta deve ser uma medida de último recurso.

2. O seu acesso deve ter um preço aceitável e ser não discriminatório.

Deve ter o mais amplo acesso possível aos conteúdos, aplicações e servi-ços da Internet, utilizando os dispositivos da sua escolha.

3. Se viver em zonas rurais e geograficamente remotas, tiver baixos

ren-dimentos e/ou for uma pessoa com necessidades especiais ou deficiên-cias, as autoridades públicas deverão envidar esforços razoáveis e tomar medidas específicas para facilitar o seu acesso à Internet.

4. Nas suas interações com autoridades públicas, prestadores de serviços

de Internet e fornecedores de conteúdos ou prestadores de serviços em linha, ou com outros utilizadores ou grupos de utilizadores, não pode ser objeto de discriminação com base no género, raça, cor, língua, religião ou crença, opinião política ou outra, origem nacional ou social, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento ou outra situação, incluindo a origem étnica, a idade ou a orientação sexual.

liberdade de expressão e de informação

Tem o direito de procurar, receber e transmitir as informações e ideias da sua escolha, sem ingerências e sem consideração de fronteiras. Isto significa que:

1. Tem a liberdade de se exprimir em linha e de aceder a informações,

opiniões e expressões de outras pessoas, nomeadamente discursos polí-ticos, pontos de vista sobre religião, opiniões e expressões favoravel-mente acolhidos ou considerados inofensivos, mas também os suscetí-veis de ofender, chocar ou perturbar outras pessoas. Deve ter em devida conta o bom nome ou os direitos das outras pessoas, incluindo o direito à privacidade;

2. As expressões que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência

podem ser objeto de restrições, as quais têm de ser lícitas, cingir-se ao estritamente indispensável e ser executadas sob supervisão judicial;

3. Pode criar, reutilizar e distribuir livremente conteúdos, no respeito

pelo direito à proteção da propriedade intelectual, incluindo os direitos de autor;

4. As autoridades públicas têm o dever de respeitar e proteger a sua

liberdade de expressão e a sua liberdade de informação. As eventuais restrições a estas liberdades não podem ser arbitrárias, tendo de per-seguir um fim legítimo nos termos da Convenção Europeia dos

(7)

Direi-11

10 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

tos do Homem, entre os quais a proteção da segurança nacional, da ordem pública e da saúde e moral públicas, e de respeitar a legislação em matéria de direitos humanos. Além disso, tais restrições têm de lhe ser comunicadas juntamente com informações sobre meios de procurar orientação e reparação, e não podem ter um âmbito mais alargado nem ser mantidas por mais tempo do que o estritamente necessário para alcançar um fim legítimo;

5. O seu prestador de serviços de Internet e o seu prestador de

conteú-dos e serviços em linha têm, enquanto empresas, a responsabilidade de respeitar os direitos humanos e de providenciar mecanismos de resposta às suas reclamações. No entanto, deve ter presente que os prestadores de serviços em linha, como as redes sociais, podem restringir certos tipos de conteúdos e comportamentos no âmbito das suas políticas de con-teúdos. Deve ser-lhe facultada informação sobre possíveis restrições que lhe permita decidir em consciência sobre a utilização ou não de um ser-viço, nomeadamente informações específicas sobre os conteúdos e com-portamentos que o prestador de serviços em linha considera ilegais ou inadequados para utilizar o serviço e o tratamento que lhes é dado pelo prestador de serviços em causa;

6. Pode optar por não revelar a sua identidade em linha, por exemplo,

utilizando um pseudónimo. Contudo, deve estar ciente de que as autori-dades nacionais podem tomar medidas suscetíveis de resultar na revela-ção da sua identidade.

reunião, associação e participação

Assiste-lhe o direito à liberdade de reunião pacífica e à liberdade de associação com outras pessoas utilizando a Internet. Na prática, isto significa que:

1. Tem a liberdade de escolher qualquer sítio Web, aplicação ou outro

serviço para formar, juntar, mobilizar e participar em grupos e reu-niões sociais, sejam ou não formalmente reconhecidos pelas autorida-des públicas. Deve também poder utilizar a Internet para exercer o seu direito de fundar e filiar-se em sindicatos;

2. Tem o direito de protestar de forma pacífica em linha. No entanto,

deve ter presente que, se o seu protesto em linha resultar em bloqueios, interrupções de serviços e/ou danos patrimoniais em terceiros, poderá ter de assumir as consequências jurídicas daí decorrentes;

3. Tem a liberdade de utilizar os instrumentos disponíveis em linha

para participar em debates sobre políticas de âmbito local, nacional e mundial, em iniciativas legislativas e no escrutínio público de processos de decisão, nomeadamente o direito de assinar petições e de participar na elaboração de políticas relativas à regulação da Internet.

(8)

13

12 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

privacidade e proteção de dados

Tem o direito ao respeito pela sua vida privada e familiar na Internet, o qual passa pela proteção dos seus dados pessoais e pelo respeito pela con-fidencialidade da sua correspondência e comunicações. Isto significa que:

1. Deve estar ciente de que, ao utilizar a Internet, os seus dados

pes-soais são regularmente tratados. Isto acontece quando utiliza serviços como navegadores, correio eletrónico, mensagens instantâneas, voz por protocolos de Internet, redes sociais, motores de pesquisa e serviços de armazenamento de dados na nuvem;

2. As autoridades públicas e as empresas privadas são obrigadas a respeitar

regras e procedimentos específicos quando tratam os seus dados pessoais;

3. Os seus dados pessoais só devem ser tratados nas situações previstas

na lei ou com o seu consentimento. Deve receber informação indicando quais os dados pessoais tratados e/ou transmitidos a terceiros, quando, por quem e para que fim. De um modo geral, deve poder controlar os seus dados pessoais (verificar a sua exatidão, solicitar a sua correção ou supres-são ou pedir a sua conservação por mais tempo do que o necessário);

4. Não pode ser objeto de medidas de vigilância geral ou interceção. Nas

cir-cunstâncias excecionais previstas na lei, por exemplo, numa investigação cri-minal, pode ocorrer uma ingerência na sua privacidade através do acesso aos seus dados pessoais. Neste contexto, deve ser-lhe facultada informação aces-sível, clara e precisa sobre a lei ou política aplicável e sobre os seus direitos;

5. A sua privacidade tem igualmente de ser respeitada no local de trabalho,

incluindo a confidencialidade da sua correspondência e comunicações pri-vadas em linha. A sua entidade patronal tem a obrigação de o/a informar de qualquer ação de vigilância ou acompanhamento que seja realizada;

6. A fim de se certificar do respeito pela legislação e pelos princípios em

matéria de proteção de dados, pode recorrer ao apoio das autoridades responsáveis pela proteção de dados existentes na grande maioria dos países europeus.

instrução e literacia

Tem direito à instrução, que inclui o acesso ao conhecimento. Isto significa que:

1. Deve ter acesso em linha à instrução e a conteúdos culturais,

científi-cos, académicos e outros nas línguas oficiais. Esse acesso pode ser sujeito a condições que permitam a remuneração dos direitos dos titulares de obras e trabalhos. Deve também poder aceder livremente a trabalhos de investigação e obras culturais beneficiários de financiamento público que sejam do domínio público na Internet, quando disponíveis;

2. No contexto da literacia mediática e em Internet, deve ter acesso à

instru-ção e ao conhecimento digitais para poder exercer os seus direitos e liberda-des na Internet. Tal passa pela aquisição de competências para compreen-der, utilizar e trabalhar com um vasto conjunto de ferramentas da Internet, o que lhe permitirá analisar de forma crítica a exatidão e a fiabilidade dos conteúdos, aplicações e serviços acedidos ou a que pretenda aceder.

(9)

15

14 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

crianças e jovens

Se és criança ou jovem, tens todos os direitos e liberdades descri-tos no presente Guia. Mais concretamente, devido à tua idade, tens direito a proteção especial e orientação quando utilizas a Internet. Isto significa que:

1. Tens o direito de exprimir livremente as tuas opiniões, participar na

sociedade, ser ouvido(a) e contribuir para a tomada de decisões que te afetem. As tuas opiniões têm de ser devidamente consideradas de acordo com a tua idade e maturidade, e sem discriminação;

2. Deve ser-te facultada informação numa linguagem adequada à tua

idade e deves receber formação dos teus professores, educadores e pais ou tutores sobre a utilização segura da Internet, incluindo sobre como preservar a tua privacidade;

3. Deves ter presente que os conteúdos que criares na Internet ou os

conteúdos sobre ti criados por outros utilizadores da Internet podem ficar acessíveis ao mundo inteiro e comprometer as tuas dignidade, segurança e privacidade, ou prejudicar de outro modo a tua pessoa ou os teus direitos na tua vida presente ou futura. A teu pedido, tais conteúdos devem ser eliminados ou suprimidos dentro de um prazo razoavelmente curto;

4. Devem ser-te facultadas informações claras sobre os conteúdos e

comportamentos em linha ilegais (por exemplo, o assédio em linha), bem como sobre a possibilidade de denunciares alegados conteúdos ilegais. Estas informações devem ser adaptadas às tuas idade e situação e devem ser-te prestados aconselhamento e apoio no devido respeito pela tua confidencialidade e pelo teu anonimato;

5. Deves beneficiar de proteção especial contra ameaças ao teu bem-estar

físico, mental e moral, em especial contra a exploração e o abuso sexuais na Internet e outras formas de cibercriminalidade. Mais concretamente, tens direito a ser ensinado(a) a protegeres-te contra tais ameaças.

recurso efetivo

1. Tem direito a um recurso efetivo sempre que os seus direitos

huma-nos e liberdades fundamentais forem restringidos ou violados. Para exercer este direito, não tem necessariamente de instaurar de ime-diato uma ação judicial. As vias de recurso devem estar disponíveis, ser conhecidas e física e economicamente acessíveis e permitir obter uma reparação adequada. O recurso efetivo pode ser obtido direta-mente junto dos prestadores de serviços de Internet, das autorida-des públicas e/ou de instituições nacionais de direitos humanos. O recurso efetivo pode implicar – consoante a violação em causa – um inquérito, explicação, resposta, correção, pedido de desculpas, repo-sição, restabelecimento de ligação ou indemnização. Na prática, isto significa que:

(10)

16

1.1. O seu prestador de serviços de Internet, os fornecedores de acesso

a conteúdos e serviços em linha ou outra empresa e/ou autoridade pública devem facultar-lhe informação sobre os seus direitos, liberdades e vias de recurso possíveis, e como usufruir dos mesmos, nomeadamente informação facilmente acessível sobre como denunciar e reclamar contra ingerências nos seus direitos, e como obter reparação pelas mesmas;

1.2. As autoridades públicas, instituições nacionais de direitos humanos

(como os provedores de justiça), autoridades de proteção de dados, organi-zações de aconselhamento aos cidadãos, organiorgani-zações de defesa dos direitos humanos ou dos direitos digitais ou organizações de defesa do consumidor devem disponibilizar informações e orientações suplementares;

1.3. As autoridades nacionais têm a obrigação de protegê-lo(a) contra

atividades criminosas ou delitos criminosos cometidos na ou através da Internet, nomeadamente se estes envolverem o acesso ilegal, ingerência, falsificação ou outras formas de manipulação fraudulenta da sua iden-tidade digital, do seu computador e dos dados nele contidos. As auto-ridades competentes para a aplicação da lei têm a obrigação de investi-gar e tomar as medidas adequadas, entre as quais sanções, se apresentar queixa contra danos ou ingerências na sua identidade pessoal e na sua propriedade em linha.

2. A fim de determinar o seus direitos e obrigações ou em caso de

acusa-ção em matéria penal contra si no contexto da Internet:

2.1. Tem direito a um julgamento justo e num prazo razoável, por um

tribunal independente e imparcial;

2.2. Tem o direito de recorrer individualmente ao Tribunal Europeu dos

(11)

19

paRa os UtilizadoRes da inteRnet

documentos cm

cm(2014)31 addfinal 16 de abril de 2014

1

Recomendação CM/Rec(2014)6 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre o Guia dos Direitos Humanos para os Utilizadores da Internet

Exposição de motivos

(Explanatory Memorandum).

introdução

1. A Internet desempenha um papel importante no quotidiano das

pes-soas e em todos os aspetos da sociedade humana. Evolui de forma cons-tante e oferece aos cidadãos possibilidades de acesso a informações e ser-viços, de ligação e comunicação e de partilha de ideias e conhecimentos ao nível global. O impacto da Internet nas atividades sociais, económicas e culturais é igualmente crescente.

2. São cada vez mais os processos relacionados com a Internet

subme-tidos ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (a seguir «o

Tribu-nal»).2 O Tribunal declarou que «ao disponibilizar instrumentos e

fer-ramentas essenciais para a participação em atividades e debates sobre questões políticas e de interesse geral, a Internet tornou-se um dos prin-cipais meios de os indivíduos exercerem o seu direito à liberdade de

expressão e de informação».3

3. A Estratégia de Governação da Internet 2012-2015 do Conselho da

Europa atribui grande importância aos direitos dos utilizadores da Inter-net. O capítulo «Maximizar os direitos e liberdades dos utilizadores da Internet», que visa promover o acesso e a melhor utilização da Internet, enuncia como linha de ação: «a elaboração de um compêndio dos

direi-1) Este documento foi classificado como restrito até ser examinado pelo Comité de Ministros.

2) Para obter uma síntese da jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem relativa à Internet, consulte a ficha informativa

(factsheet) sobre as novas tecnologias, outubro de 2013.

(12)

21

20 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

tos humanos atualmente aplicáveis aos utilizadores da Internet, de modo a ajudá-los a comunicar e a ter uma via de recurso eficaz junto de agentes importantes da Internet e dos organismos públicos, caso considerem que os seus direitos e liberdades foram adversamente afetados, ou seja, para comunicar um incidente, apresentar uma reclamação ou exercer o direito de resposta, reparação ou outra forma de recurso».

antecedentes e contexto

4. Na sua 1.ª reunião de 27-30 de abril de 2012, o Comité Diretor para

os Meios de Comunicação Social e a Sociedade da Informação (CDMSI) propôs ao Comité de Ministros a criação de um Comité de Peritos sobre os Direitos dos Utilizadores da Internet (MSI-DUI) e acordou o respetivo projeto de mandato. Na sequência da proposta do CDMSI, o Comité de Ministros aprovou o referido mandato na 1147.ª reunião dos Delegados

dos Ministros, em 6 de julho de 2012.4 Assim, de acordo com o seu

man-dato, o MSI-DUI tem por missão:

«Elaborar um compêndio dos direitos humanos atualmente aplicáveis aos utilizadores da Internet, de modo a ajudá-los a conhecer e exercer os seus direitos para comunicarem e terem uma via de recurso eficaz junto de agentes importantes da Internet e dos organismos públicos, caso conside-rem que os seus direitos e liberdades foram adversamente afetados (2013)» (a seguir «o Compêndio»).

5. O MSI-DUI realizou a sua primeira reunião em 13 e 14 de setembro

de 2012, em Estrasburgo. Foi acordado que o objetivo do trabalho do MSI-DUI não devia consistir em criar novos direitos humanos, mas sim em analisar a aplicação dos direitos existentes no contexto da Internet. O MSI-DUI decidiu recolher informações através de um questionário, enviado às suas redes e comunidades, sobre os problemas práticos vivi-dos pelos utilizadores e, deste modo, sobre eventuais violações vivi-dos seus direitos humanos e as vias de reparação disponíveis.

6. Durante o Fórum sobre a Governação da Internet (6 a 9 de novembro

de 2012, em Baku), no workshop «Capacitação dos utilizadores da Internet – com que ferramentas?», realizaram-se consultas a partes interessadas. Os membros participantes do MSI-DUI aproveitaram as oportunidades de contacto de proximidade proporcionadas por este evento para obter

4) Ver CM(2012)91.

os pontos de vista das partes interessadas sobre vários temas relevantes para o Compêndio. Os debates no seio do workshop incidiram sobre os problemas enfrentados pelos utilizadores da Internet, tais como a elimi-nação de conteúdos gerados pelos utilizadores sem um processo equita-tivo, questões relacionadas com a proteção dos dados pessoais e o défice de vias de recurso.

7. O MSI-DUI realizou a sua segunda reunião em 13 e 14 de dezembro

de 2012, em Estrasburgo. Apreciou as respostas dadas pelas várias par-tes interessadas ao seu questionário e discutiu as informações recolhidas através dos contactos de proximidade com as partes interessadas. O MSI-DUI decidiu concluir a fase analítica preliminar do seu trabalho e, com base na mesma, iniciar a elaboração do compêndio, tendo delineado um primeiro projeto no decurso desta reunião.

8. Na sua terceira reunião, que teve lugar em 20 e 21 de março de 2013,

em Estrasburgo, o MSI-DUI examinou em pormenor questões relacio-nadas com o direito à liberdade de expressão, o direito à vida privada, a liberdade de assembleia e de associação, a segurança em linha, o direito à instrução, os direitos da criança, a não discriminação e o direito a um recurso efetivo. Este exame baseou-se nas normas vinculativas e não vinculativas pertinentes do Conselho da Europa, bem como na jurispru-dência do Tribunal. O MSI-DUI debateu também o tipo de instrumento que o Conselho da Europa deveria adotar para aprovar o Compêndio, nomeadamente uma declaração ou recomendação do Comité de Minis-tros. O instrumento deveria perseguir o duplo objetivo de fornecer aos utilizadores da Internet orientações simples e claras sobre os seus direi-tos humanos em linha e de garantir a adoção pelos Estados-Membros de um texto conforme com as suas obrigações ao abrigo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH) e de outras normas do Con-selho da Europa.

9. Por sua vez, na sua terceira reunião, realizada de 23 a 26 de abril

de 2013, em Estrasburgo, o CDMSI considerou que o Compêndio devia combinar uma linguagem formal e simplificada, cuidando ao mesmo tempo de evitar uma simplificação excessiva das normas existentes e da jurisprudência do Tribunal em matéria de direitos humanos. Os deba-tes destacaram igualmente a conveniência de atualizar regularmente o Compêndio para nele incorporar a rápida evolução das políticas relati-vas à Internet. A fim de dar algumas orientações gerais, o CDMSI

(13)

deci-23

22 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

diu ainda formular várias observações sobre o projeto de Compêndio tal como se apresentava aquando das consultas, assinalando que se tratava de um documento em fase de elaboração. As respostas recolhi-das eram favoráveis à abordagem adotada pelo MSI-DUI no sentido de elaborar um documento de sensibilização e de fácil utilização, dando especial atenção ao direito à liberdade de expressão, ao direito à vida privada, ao direito à instrução, aos direitos da criança e à proteção con-tra a cibercriminalidade.

10. O projeto de Compêndio foi apresentado e discutido com as partes

interessadas por ocasião do Diálogo Europeu sobre a Governação da Internet (EuroDIG, 20-21 de junho de 2013, em Lisboa), mais exatamente no workshop «A caminho de uma Internet humana? Regras, direitos e res-ponsabilidades para o nosso futuro em linha». Decorreu em Lisboa uma reunião informal dos membros do MSI-DUI participantes no workshop, na qual se considerou que o projeto de Compêndio deveria ser abreviado para ser mais acessível aos utilizadores da Internet. No seguimento des-tes debades-tes e do trabalho intersessões dos membros do MSI-DUI, teve lugar, em 10 de setembro de 2013, em Estrasburgo, uma reunião extraor-dinária dos membros do MSI-DUI disponíveis. O MSI-DUI apreciou um projeto de recomendação do Comité de Ministros sobre os direitos humanos dos utilizadores da Internet, cujo anexo incluía um projeto de Compêndio dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para os utilizadores da Internet. O projeto de Compêndio adotou uma aborda-gem diretamente dirigida ao utilizador. Tendo isso em conta, decidiu-se alterar o título do Compêndio para «Guia dos Direitos Humanos para os Utilizadores da Internet».

11. Na sua última reunião, realizada em 1 e 2 de outubro de 2013, em

Estrasburgo, o MSI-DUI analisou e finalizou as suas propostas dirigidas ao CDMSI para um projeto de recomendação do Comité de Ministros sobre um Guia dos Direitos Humanos para os Utilizadores da Internet (a seguir «o Guia»). Acordou efetuar vários consultas a partes interessadas, entre os quais um fórum aberto do Conselho da Europa sobre o Guia, no decor-rer do Fórum sobre a Governação da Internet (22-25 de outubro de 2013, Indonésia). Foi solicitado a diversas partes interessadas selecionadas, representativas do setor privado, da sociedade civil e dos meios técnico e universitário, que apresentassem as suas observações e sugestões sobre o Guia. Paralelamente, foram solicitadas observações e opiniões informais

sobre o projeto de recomendação a outros comités diretores relevantes do Conselho da Europa, tais como o Comité Diretor para os Direitos do Homem (CDDH), o Comité Europeu de Cooperação Jurídica (CDCJ), o Comité Europeu para os Problemas Criminais (CDPC), bem como a vários comités convencionais, nomeadamente o Comité Consultivo da Conven-ção para a ProteConven-ção das Pessoas relativamente ao Tratamento Automati-zado de Dados de Caráter Pessoal (T-PD), o Comité da Convenção sobre o Cibercrime (T-CY), o Comité de Peritos sobre o Terrorismo (CODEXTER) e o Comité das Partes na Convenção para a Proteção das Crianças contra a Exploração e os Abusos Sexuais (T-ES). Em resposta, o CDDH, o CDCJ e os membros da mesa do T-PD apresentaram observações que foram conside-radas e integconside-radas no projeto de recomendação e no projeto de exposição de motivos do CDMSI.

12. Além disso, foram recebidos cerca de 30 contributos de

representan-tes do setor privado (empresas de telecomunicações, prestadores de ser-viços em linha), de organizações importantes da sociedade civil, do meio técnico e de académicos de diferentes partes do mundo. No geral, tais contributos saudaram o trabalho do Conselho da Europa com o projeto de Guia e apresentaram um vasto número de observações e propostas de alteração ao mesmo.

13. Durante a sua 4.ª reunião, realizada de 3 a 6 de dezembro de 2013,

o CDMSI examinou as propostas do MSI-DUI para um projeto de reco-mendação do Comité de Ministros sobre um Guia dos Direitos Huma-nos para os Utilizadores da Internet. O CDMSI tomou nota das consul-tas às várias partes interessadas acima referidas e concluiu o projeto de recomendação com base nas observações finais enviadas por correio eletrónico.

observações sobre a recomendação cm/rec(2014)6 do

comité de ministros aos estados-membros sobre o Guia

dos direitos humanos para os utilizadores da internet

14. A presente recomendação visa promover o exercício e a proteção dos

direitos humanos e das liberdades fundamentais na Internet em todos os Estados-Membros do Conselho da Europa. O acesso dos indivíduos e das comunidades à Internet e a sua melhor utilização exigem que se envidem esforços no sentido de informar e capacitar os primeiros para exercerem os seus direitos e liberdades nos ambientes em linha. Esta

(14)

25

24 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

abordagem fora afirmada pelo Comité de Ministros na sua Declaração sobre os Princípios da Governação da Internet, de 2011, na qual subli-nhava a sua visão de uma abordagem da Internet centrada nas pessoas e baseada nos direitos humanos visando capacitar os utilizadores da Inter-net para exercerem os seus direitos e liberdades na InterInter-net como um dos princípios de governação da Internet.

15. O Guia, sob a forma de anexo à presente recomendação, apresenta

algumas informações básicas sobre determinados direitos humanos constantes da CEDH e extraídas de outras normas pertinentes do Conselho da Europa. Centra-se em direitos e liberdades específicos e em normas conexas do direito internacional, designadamente sobre o direito à liberdade de expressão, a liberdade de reunião e de asso-ciação, o direito à privacidade e à proteção dos dados pessoais, os direitos da criança e o direito a um recurso efetivo. O Guia foi elabo-rado numa linguagem de fácil compreensão para os utilizadores. A fim de manter o texto tão simples quanto possível, o MSI-DUI deci-diu não se basear na formulação jurídica estrita das obrigações dos Estados-Membros nos termos do direito internacional, incluindo a jurisprudência do Tribunal.

16. Os direitos humanos e as liberdades fundamentais são garantidos

em vários instrumentos do Conselho da Europa aplicáveis aos ambien-tes em e fora de linha (on- offline), logo, não exclusivamente à Internet. Nomeadamente, os direitos humanos e as liberdades fundamentais estão consagrados na CEDH, que é interpretada pelo Tribunal na sua jurisprudência. Várias convenções e outros instrumentos de natureza não vinculativa do Conselho da Europa contêm explicações e orienta-ções suplementares para os utilizadores da Internet. O MSI-DUI enten-deu que, para os utilizadores da Internet compreenderem os seus direi-tos e liberdades, havia a necessidade de explicar, com uma formulação simples, as normas pertinentes em matéria de direito internacional do Conselho da Europa e das Nações Unidas.

preâmbulo

17. O preâmbulo enuncia os motivos que levaram o Comité de Ministros

a adotar a recomendação aos Estados-Membros do Conselho da Europa. A recomendação alicerça-se na premissa de que a responsabilidade pela salvaguarda dos direitos humanos e das liberdades fundamentais

incumbe aos Estados-Membros do Conselho da Europa. Tal salvaguarda tem de ser assegurada em conformidade com a CEDH, tal como inter-pretada pelo Tribunal. Convém também referir outros instrumentos rele-vantes e juridicamente vinculativos do Conselho da Europa, nomeada-mente a Convenção sobre o Cibercrime (a seguir «Convenção de Buda-peste»), a Convenção para a Proteção das Crianças contra a Exploração e os Abusos Sexuais (STCE n.º 201, a seguir «Convenção de Lanzarote») e a Convenção para a Proteção das Pessoas relativamente ao Tratamento Automatizado de Dados de Caráter Pessoal (STE n.º 108, a seguir «Con-venção 108»).

18. Outras normas não vinculativas adotadas pelo Comité de Ministros

dirigem orientações aos Estados-Membros sobre questões relacionadas com a Internet, entre as quais a Recomendação CM/Rec(2007)16 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre medidas para pro-mover o valor de serviço público da Internet, a Recomendação CM/ Rec(2008)6 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre medi-das para promover o respeito pela liberdade de expressão e de informa-ção em relainforma-ção aos filtros na Internet, a Recomendainforma-ção CM/Rec(2010)13 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre a proteção das pessoas relativamente ao tratamento automatizado de dados de cará-ter pessoal no âmbito da definição de perfis, a Recomendação CM/ Rec (2011)7 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre um novo conceito de meios de comunicação social, a Recomendação CM/ Rec(2012)4 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre a pro-teção dos direitos humanos no contexto dos serviços de redes sociais e a Recomendação CM/Rec(2012)3 do Comité de Ministros aos Esta-dos-Membros sobre a proteção dos direitos humanos no contexto dos motores de pesquisa.

19. O segundo parágrafo do preâmbulo especifica que as obrigações

dos Estados-Membros no que se refere ao respeito, proteção e promo-ção dos direitos humanos implicam a supervisão das empresas priva-das. Esta asserção decorre do artigo 1. º da CEDH, de acordo com o qual os Estados-Membros reconhecem a qualquer pessoa dependente da sua jurisdição os direitos e liberdades definidos na Convenção. Tal reco-nhecimento inclui a proteção contra violações dos direitos humanos por agentes não estatais e exige a tomada de medidas adequadas para prevenir, investigar, punir e reparar essas violações através de

(15)

legisla-27

26 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

ção e medidas eficazes. Nos seus acórdãos, o Tribunal declarou que os Estados têm obrigações positivas de proteção dos direitos e liberdades fundamentais das pessoas na Internet, nomeadamente no que toca à liberdade de expressão5, à proteção das crianças e dos jovens6, à

prote-ção da moral e dos direitos de outrem7, ao combate contra o discurso

racista ou xenófobo e ao combate contra a discriminação e o ódio racial8. Além disso, o Tribunal responsabilizou os Estados pela não proteção dos seus cidadãos contra o impacto negativo sobre os seus direitos e

liberdades das ações das empresas privadas.9 O segundo parágrafo

invoca igualmente o princípio da universalidade e da indivisibilidade dos direitos humanos, que se baseia na Declaração de Viena saída da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo dos Estados-Membros do Conselho da Europa, realizada em 9 de outubro de 1993.

20. O terceiro parágrafo do preâmbulo reitera o valor de serviço

público da Internet enunciado na Recomendação CM/Rec(2007)16 do

Comité de Ministros pertinente.10 Considerando o importante papel

que a Internet desempenha nas atividades diárias dos utilizadores e a necessidade de assegurar a proteção dos seus direitos humanos na Internet, a recomendação salienta que as pessoas não devem ser sujei-tas a ingerências ilícisujei-tas, desnecessárias e desproporcionadas no exer-cício dos seus direitos e liberdades.

21. O quarto parágrafo do preâmbulo define o objetivo de a

recomen-dação promover a compreensão e o exercício efetivo, por parte dos uti-lizadores, dos direitos humanos em linha, incluindo o acesso a vias de recurso efetivo. Deste modo, importa informar os utilizadores dos riscos que recaem sobre os seus direitos e liberdades fundamentais, bem como das suas possibilidades de reparação. A asserção relativa às oportunida-des oferecidas pela Internet em termos de transparência e responsabili-zação nos assuntos públicos explica um dos elementos da filosofia sub-jacente à recomendação, ou seja, capacitar as pessoas e as comunidades para a participação na vida democrática.

5) Ver Özgür Gündem/Turquia, nº 23144/93, §§ 42-46. 6) K.U. /Reino Unido, n.º 2872/02.

7) Pay/Reino Unido, n.º 32792/05. 8) Féret/Bélgica n.º 15615/07.

9) López Ostra/Espanha, n.º 16798/90, § 44-58; Taşkin e o./Turquia; Fadeyeva/Federação Russa. No processo n.º 23883/06, Khurshid Mustafa e Tarzibachi/Suécia, o Tribunal considerou que a interpretação de um ato privado (contrato) por parte de um órgão jurisdicional nacional determinava a responsabilidade do Estado demandado, alargando assim o âmbito de aplicação do artigo 10.º no que respeita à proteção contra restrições impostas por pessoas singulares.

10) Recomendação CM/Rec(2007)16 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre medidas para promover o valor de serviço público da Internet.

dispositivo da recomendação

22. O n.º 5 afirma um princípio essencial das normas do Conselho da

Europa relativas à Internet, segundo o qual os direitos e liberdades

fun-damentais são igualmente aplicáveis aos ambientes em e fora de linha11.

Esta abordagem foi igualmente afirmada pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU, na sua resolução de 2012 sobre «A promoção, prote-ção e gozo dos direitos humanos na Internet». A promoprote-ção da aplicaprote-ção do Guia irá reforçar a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em conformidade com as normas vigentes em matéria de direitos humanos.

23. O parágrafo 5.1 recomenda aos Estados-Membros que o Guia seja

promovido não só pelas autoridades públicas, mas também pelo setor privado. A promoção do Guia pode consistir na sua publicação e difusão em formato impresso ou através de adaptações em formato eletrónico. As autoridades públicas competentes podem também disponibilizá-lo nos seus sítios Web. O setor privado pode ser incentivado a proceder de igual forma.

24. O parágrafo 5.2 reitera que o exercício dos direitos humanos e das

liberdades fundamentais na Internet pode ser sujeito a restrições que per-sigam fins legítimos e se afigurem necessárias numa sociedade democrá-tica, tal como previsto nos artigos aplicáveis da CEDH. A fim de garantir a conformidade com estas condições, o Comité de Ministros recomendou aos Estados-Membros que avaliem, analisem regularmente e, se for caso disso, eliminem as restrições aos direitos humanos e às liberdades fun-damentais na Internet.

25. O parágrafo 5.3 exorta os Estados-Membros a intensificar os seus

esforços no sentido de garantir o direito a um recurso efetivo, através, entre outras medidas, do reforço da coordenação e da cooperação entre as instituições, entidades (incluindo as entidades reguladoras das comu-nicações eletrónicas) e comunidades existentes neste domínio que pro-porcione mecanismos de reparação, por exemplo, no contexto do tra-tamento das queixas e reclamações apresentadas pelos utilizadores da Internet. A recomendação reconhece também a diversidade de mecanis-mos de reparação disponíveis nos vários Estados-Membros, tais como

11) Ver a Declaração sobre os Princípios da Governação da Internet do Comité de Ministros, princípio n.º 1 «Direitos Humanos, Democracia e Estado de Direito»

(16)

29

28 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

autoridades de proteção de dados, provedores de justiça, processos judi-ciais ou linhas telefónicas diretas. Os Estados-Membros podem igual-mente realizar uma auditoria aos mecanismos de reparação existentes nas suas jurisdições e compilar as informações pertinentes num inven-tário de mecanismos de reparação de fácil utilização. Tais informações podem ser divulgadas juntamente com o Guia, por exemplo, sob a forma de anexo. Esta é uma das ações de seguimento possíveis após a adoção da recomendação.

26. Pela sua própria natureza, a Internet funciona enviando e

rece-bendo pedidos de informação através das fronteiras e, por conseguinte, independentemente destas. Isto significa que, na Internet, os direitos humanos e as liberdades fundamentais vigentes nos Estados-Membros podem ficar expostos às ações de agentes estatais ou não estatais exte-riores ao espaço do Conselho da Europa. A título de exemplo, podem ocorrer ingerências na liberdade de expressão e no acesso à informação, bem como na privacidade no que respeita aos dados pessoais. Assim, o parágrafo 5.4 recomenda a coordenação entre os Estados-Membros do Conselho da Europa e os Estados que não o sejam, incluindo também os agentes não estatais.

27. O parágrafo 5.5 recomenda aos Estados-Membros que promovam

um diálogo autêntico entre o setor privado, as autoridades públicas competentes e a sociedade civil sobre o exercício da responsabilidade social da última. Um dos princípios fundadores dos Princípios

Orien-tadores sobre Empresas e Direitos Humanos12 refere que as empresas

devem respeitar os direitos humanos, o que quer dizer que devem evi-tar violar os direitos humanos de outrem e eliminar o impacto negativo da sua atividade sobre os direitos humanos. A transparência e a respon-sabilização dos agentes do setor privado são enfaticamente referidas como um meio importante de demonstrarem a sua responsabilidade, a qual devem também promover e divulgar ativamente. Por exemplo, os prestadores de serviços de Internet e os fornecedores de acesso a conteúdos podem fazer referências ao Guia nas condições de utilização dos seus serviços.

12) Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos: aplicação do quadro das Nações Unidas «Proteger, Respeitar e Reparar» (A/HRC/17/31) aprovados pelo Conselho dos Direitos Humanos através da Resolução intitulada «Direitos humanos, empresas transnacionais e outras empresas» A/HRC/RES/17/4. Mais especificamente, os referidos princípios orientadores preveem que os Estados-Membros devem fazer aplicar leis que visem ou produzam o efeito de obrigar as empresas a respeitar os direitos humanos, a avaliar periodicamente a adequação dessas leis e a suprir eventuais lacunas; garantir que outras leis e políticas que regulem a criação e a atividade contínua das empresas, como o direito das sociedades, não restrinjam e incentivem o respeito pelos direitos humanos por parte das empresas; fornecer orientações eficazes às empresas sobre como respeitar os direitos humanos no exercício da sua atividade; incentivar e se for caso disso, exigir que as empresas comuniquem de que forma eliminam o impacto da sua atividade sobre os direitos humanos.

28. O parágrafo 5.6 reconhece o contributo fundamental que a sociedade

civil pode dar para a promoção do Guia e a conformidade com o mesmo. Deste modo, é recomendado que os Estados-Membros incentivam as organizações e ativistas da sociedade civil a contribuir para a divulga-ção e aplicadivulga-ção do Guia, bem como a basear-se nele para advogarem a aplicação e o cumprimento das normas em matéria de direitos humanos.

anexo à recomendação cm/rec(2014)6

Guia dos Direitos Humanos para

os Utilizadores da Internet

introdução

29. O Guia dirige-se diretamente ao utilizador. Trata-se um instrumento

des-tinado a qualquer utilizador da Internet sem conhecimentos especializados na Internet obtidos através de instrução ou formação. Em particular, centra-se na capacidade do utilizador para gerir as suas atividades na Internet (por exem-plo, a sua identidade ou os seus dados pessoais). Os utilizadores devem ser plenamente informados sobre as diferentes escolhas feitas na Internet suscetí-veis de afetar os seus direitos e liberdades, bem como sobre as consequências do seu consentimento a tais escolhas. Devem conhecer as limitações dos seus direitos e os mecanismos de reparação que têm à sua disposição.

30. O Guia baseia-se na CEDH e na jurisprudência aplicável do Tribunal,

bem como noutros instrumentos juridicamente vinculativos do Conselho da Europa. Inspira-se igualmente noutros instrumentos, nomeadamente em certas declarações e recomendações do Comité de Ministros. O Guia não prejudica a executividade das normas vigentes em matéria de direitos humanos que serviram de base à sua elaboração. A força executiva dos direitos e liberdades enunciados no Guia deriva dos instrumentos jurídi-cos com base nos quais são elaborados. O Guia tem como referência as normas vigentes em matéria de direitos humanos e os mecanismos rele-vantes para a sua aplicação, não estabelecendo novos direitos e liberdades. O Guia não pretende ser uma explicação exaustiva e prescritiva de normas no domínio dos direitos humanos. Por exemplo, a fim de ajudar os utiliza-dores a conhecer os seus direitos e a proteger-se a si e aos outros, poderá

(17)

31

30 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

ser necessário aprofundar esclarecimentos sobre as restrições e ingerências possíveis nos direitos humanos, bem como fornecer orientações para aju-dar os utilizadores a liaju-dar com situações de violência e abuso na Internet. No entanto, o Guia permanece suscetível de atualização para acompanhar a evolução das novas normas do Conselho da Europa e da jurisprudência do Tribunal decorrente do desenvolvimento tecnológico.

acesso e não discriminação

31. O Guia coloca a tónica em princípios e considerações tidos como

intrinsecamente ligados e geralmente aplicáveis a todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nele enunciados, entre os quais o acesso à Internet e o princípio da não discriminação.

32. Embora não seja ainda formalmente reconhecido como um direito

humano (o que reflete as diferenças dos contextos nacionais nos domí-nios do direito interno e das políticas), o acesso à Internet é visto como uma condição e um fator determinante para o exercício da liberdade de

expressão e de outros direitos e liberdades13. Por conseguinte, a

desco-nexão de um utilizador da Internet pode afetar negativamente o exer-cício dos seus direitos e liberdades e até restringir o direito à liberdade de expressão, incluindo o direito de receber e transmitir informações. O Tribunal declarou que a Internet se tornou hoje um dos principais meios para o exercício do direito à liberdade de expressão e de informação das pessoas. A liberdade de expressão aplica-se tanto ao conteúdo como aos meios de difusão das informações, porquanto qualquer restrição imposta aos últimos corresponde necessariamente a uma ingerência no direito de receber e transmitir informações. Esta ingerência só é aceitável se preen-cher as condições previstas no artigo 10.º, n.º 2 da CEDH, tal como

inter-pretado pelo Tribunal.14 Ao abrigo do artigo 10.º, uma medida que vise

influir na acessibilidade das pessoas à Internet determina a responsabi-lidade do Estado.15

13) O Relator Especial das Nações Unidas para a promoção e proteção da liberdade de opinião e de expressão, Frank La Rue, frisou que «a Internet se tornou um instrumento indispensável para realizar uma série de direitos humanos, combater as desigualdades e acelerar o desenvolvimento e o progresso humano, pelo que garantir o acesso universal à Internet deve ser uma prioridade para todos os Estados. Cada Estado deve, portanto, desenvolver uma política concreta e eficaz, em consulta com indivíduos de todos os setores da sociedade, incluindo o setor privado e os ministérios competentes na matéria, para tornar a Internet amplamente disponível e acessível a todos os segmentos da população». «Ao servir de catalisador do exercício do direito à liberdade de opinião e de expressão, a Internet possibilita igualmente a realização de vários outros direitos humanos»http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/17session/a.hrc.17.27_en.pdf. 14) Ver nota 2 supra, § 50. Ver também Autronic AG/Suíça (n.º 12726/87). No processo n.º 23883/06, Khurshid Mustafa e Tarzibachi/ Suécia, o Tribunal considerou que a interpretação de um ato privado (contrato) por parte de um órgão jurisdicional nacional determinava a responsabilidade do Estado demandado, alargando assim o âmbito de aplicação do artigo 10.º no que respeita à proteção contra restrições impostas por pessoas singulares.

15) Ver nota 2 supra, § 53.

33. Neste contexto, o Guia indica que os utilizadores da Internet não

devem ser desconectados contra a sua vontade, exceto mediante deci-são judicial. Contudo, tal indicação não deve ser entendida como impe-ditiva de medidas de desconexão legítimas, por exemplo, no contexto das obrigações contratuais. Os consumidores da Internet que não paguem o seu serviço podem ser desconectados. Não obstante, esta medida só deve ser tomada em último recurso. Além disso, consoante as suas idade e maturidade, uma criança pode ser objeto de uma inter-rupção do acesso no âmbito do exercício do controlo parental sobre a utilização da Internet.

34. Os utilizadores da Internet devem dispor de vias de recurso efetivo

contra medidas de desconexão da Internet que não resultem de uma deci-são judicial. Isto obriga os prestadores de serviços de Internet a informar os utilizadores dos motivos e da base jurídica da medida de desconexão, bem como dos procedimentos a cumprir para contestar a medida e soli-citar o restabelecimento total do acesso à Internet. Estes pedidos devem ser tratados dentro de prazos razoáveis. Além disso, qualquer utilizador da Internet, no exercício do seu direito a um processo equitativo, deve poder solicitar o exame da medida de desconexão por uma autoridade administrativa e/ou judicial competente. Estes aspetos relacionados com a equidade do processo são resumidos na última secção do Guia, intitu-lada «Recurso efetivo».

35. Outra dimensão do acesso à Internet consiste nas ações ou medidas

positivas tomadas pelas autoridades públicas para assegurar a ligação de todas as pessoas à Internet. O Comité de Ministros do Conselho da Europa recomendou aos Estados-Membros que promovessem o valor

de serviço público da Internet.16 Este é entendido como «a grande

con-fiança que as pessoas depositam na Internet enquanto instrumento essencial para as suas atividades diárias (comunicação, informação, conhecimento, transações comerciais) e a resultante expectativa legí-tima de que os serviços de Internet sejam física e economicamente aces-síveis, seguros, fiáveis e contínuos». Esta secção informa o utilizador de que deve ter um acesso à Internet economicamente acessível e não discriminatório.

36. O direito de acesso aos conteúdos da Internet está associado ao direito

de receber e transmitir informações na Internet, ao abrigo do artigo 10.º

(18)

33

32 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

da CEDH.17 O Comité de Ministros do Conselho da Europa considerou

que todos os utilizadores da Internet devem ter o mais amplo acesso pos-sível aos conteúdos, aplicações e serviços da Internet da sua preferência, gratuitos ou não, utilizando dispositivos adequados da sua escolha. Este princípio geral, normalmente designado por «neutralidade da rede», deve aplicar-se independentemente da infraestrutura ou da rede utili-zada para estabelecer a conectividade à Internet.18

37. As autoridades públicas devem envidar esforços razoáveis para

faci-litar o acesso à Internet de categorias específicas de pessoas, por exem-plo, as pessoas que vivem em zonas remotas e as pessoas com deficiên-cia. Esta recomendação assenta no princípio, previsto na Recomenda-ção n.º R(99)14 do Comité de Ministros, do serviço universal comunitário

relativo aos novos serviços de comunicação e de informação.19 Sublinha

que as pessoas que vivem em zonas rurais ou geograficamente remo-tas, de baixos rendimentos ou com necessidades especiais ou deficiência podem esperar medidas específicas das autoridades públicas para asse-gurar o seu acesso à Internet.

38. As expectativas das pessoas com deficiência terem um acesso à

Inter-net equivalente, não discriminatório e semelhante ao dos restantes utili-zadores da Internet decorrem de instrumentos do Conselho da Europa que recomendam aos Estados-Membros que tomem medidas para pro-mover a disponibilização de meios adequados para o acesso dos

utiliza-dores com deficiência à Internet e às TIC.20 Os Estados-Membros devem

promover um acesso economicamente acessível tendo em conta a impor-tância da conceção, a necessidade de sensibilizar estas pessoas e grupos, a adequação e a atratividade do acesso e dos serviços de Internet, bem

como as suas adaptabilidade e compatibilidade.21

39. O princípio da não discriminação deve aplicar-se às interações dos

utilizadores com as autoridades públicas, os prestadores de serviços de Internet, os fornecedores de acesso a conteúdos e outras empresas, utili-zadores ou grupos de utiliutili-zadores. O n.º 4 é uma paráfrase do artigo 14.º

17) Ver nota 2 supra, § 50.

18) Declaração do Comité de Ministros sobre a neutralidade da rede, adotada pelo Comité de Ministros em 29 de setembro de 2010. Ver também o artigo 8.º, n.º 4, alínea g), da Diretiva 2002/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 7 de março de 2002, relativa a um quadro regulamentar comum para as redes e serviços de comunicações eletrónicas.

19) Ver nota 9 supra, CM/Rec(2007)16, Anexo, secção II; Recomendação n.º R (99)14 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre o serviço universal comunitário relativo aos novos serviços de comunicação e de informação, princípio 1.

20) Ibid.

21) Ver nota 9 supra, CM/Rec(2007)16, Anexo, secção II.

da CEDH e do artigo 1.º do Protocolo n.º 12 da CEDH, ambos relativos à proibição da discriminação.

liberdade de expressão e de informação

40. Esta secção diz respeito ao direito à liberdade de expressão

consa-grado no artigo 10.º da CEDH. Na sua jurisprudência, o Tribunal decla-rou que o artigo 10.º é plenamente aplicável à Internet.22 O direito à liber-dade de expressão implica o direito de exprimir livremente opiniões, pontos de vista e ideias e de procurar, receber e transmitir informações sem considerações de fronteiras. Os utilizadores da Internet devem ser livres de exprimir as suas convicções políticas, assim como os seus pon-tos de vista religiosos e não religiosos. Este último aspeto respeita ao exercício do direito à liberdade de pensamento, de consciência e de reli-gião consagrado no artigo 9.º da CEDH. A liberdade de expressão é apli-cável não apenas às «informações» ou «ideias» favoravelmente acolhi-das, tidas como inofensivas ou suscitadoras de indiferença, mas também

às consideradas ofensivas, chocantes ou perturbadoras.23

41. O exercício do direito à liberdade de expressão dos utilizadores da

Internet tem de ser contrabalançado com o direito à proteção da honra. O Tribunal declarou, em vários processos, que se trata de um direito

pro-tegido pelo artigo 8.º da CEDH relativo ao respeito pela vida privada.24

O Tribunal considerou que, por uma questão de princípio, os direitos garantidos ao abrigo dos artigos 8.º e 10.º merecem igual grau de respeito. Entende que, sempre que se procure estabelecer um equilíbrio entre o direito à liberdade de expressão e o direito ao respeito pela vida privada, os critérios aplicáveis ao exercício de ponderação incluem os seguintes elementos: contributo para um debate de interesse geral, quão conhecida do público é a pessoa em causa, o assunto da notícia, o comportamento prévio da pessoa em causa, o método de obtenção das informações e a sua veracidade, o conteúdo, a forma e as consequências da publicação e

a severidade da sanção imposta.25 Deste modo, o Guia especifica que o

utilizador da Internet deve ter em devida consideração a reputação de outrem, incluindo o seu direito à privacidade.

22) Ver nota 2 supra, §50.

23) Handyside/Reino Unido, acórdão de 7 de dezembro de 1976, Série A, n.º 24, ponto 49.

24) Chauvy e o., n.º 64915/01 § 70; Pfeifer/Áustria, n.º 12556/03, § 35; e Polanco Torres e Movilla Polanco/Espanha, n.º 34147/06, § 40. 25) Delfi As/Estónia, n.º 64569/09, § 78-81 (este processo foi submetido à Grande Secção do Tribunal); Axel Springer AG/Alemanha, n.º 39954/08 § 89-95, e Von Hannover/Alemanha (n.º 2), n.os 40660/08 e 60641/08 §§ 108-113.

(19)

35

34 Guia dos direitos humanos para os utilizadores da internet

42. Certas formas de expressão não gozam da proteção conferida ao abrigo

do artigo 10.º da CEDH, entre as quais o discurso de ódio. O Tribunal con-siderou que certas formas de expressão equivalentes a discurso de ódio ou que neguem os valores fundamentais da CEDH são excluídas da proteção

outorgada pelo artigo 10.º da CEDH.26 Para o efeito, o Tribunal aplica o

artigo 17.º da CEDH. Apesar de não existir uma definição universalmente aceite de «discurso de ódio», o Comité de Ministros do Conselho da Europa declarou que o termo deve ser entendido como abrangendo todas as for-mas de expressão que difundam, incitem, promovam ou justifiquem o ódio racial, a xenofobia, o antissemitismo ou outras formas de ódio baseadas na intolerância, tais como a intolerância expressa pelo nacionalismo agressivo e pelo etnocentrismo, a discriminação e a hostilidade contra as minorias, os migrantes e as pessoas oriundas da imigração».27 O n.º 2 da secção sobre a liberdade de expressão fornece informações sucintas e formuladas numa linguagem simples para o utilizador, tendo em conta o facto de o artigo 10º da CEDH ser omisso quanto ao discurso de ódio. O número em apreço não pretende explicar, em termos jurídicos, as diferentes formas pelas quais os artigos 10.º e 17.º da CEDH podem aplicar-se ao discurso de ódio. Dada a natureza jurídica desta distinção, considerou-se mais adequado incluir a informação sobre este aspeto na exposição de motivos.

43. Os utilizadores têm o direito de receber e transmitir informações na

Internet, em especial para criar, reutilizar e distribuir conteúdos através da Internet. O Tribunal examinou a relação entre a proteção da propriedade intelectual e liberdade de expressão no tocante aos processos de condena-ção penal por violacondena-ção de direitos de autor. O Tribunal considerou tais con-denações como ingerências no direito à liberdade de expressão que, para terem justificação, têm de estar previstas na lei, perseguir o fim legítimo de proteger os direitos de outrem e ser consideradas necessárias numa

socie-dade democrática. 28 A partilha ou a permissão para outros utilizadores

partilharem ficheiros na Internet, mesmo que protegidos por direitos de autor e para fins lucrativos, é abrangida pelo direito de receber e transmitir informações previsto no artigo 10.º da CEDH. 29Este direito não é absoluto, donde a necessidade de ponderar, por um lado, o interesse da partilha de informação, e por outro, o interesse da proteção dos direitos dos titulares

26) Féret/Bélgica n.º 15615/07; Garaudy/França n.º 65831/01, 24.6.2003, decisão de admissibilidade; Leroy/França n.º 36109/03; Jersild/Dinamarca n.º 15890/89; Vejdeland e o./Suécia n.º 1813/07.

27) Recomendação n.º R (97) 20 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre o discurso de ódio.. 28) Neij e Sunde Kolmisoppi/Suécia n.º 40397/12. Ver também Ashby Donald e o./França, n.º 36769/08 § 34. 29) Ibid.

dos direitos de autor. O Tribunal sublinhou que a propriedade intelectual beneficia da proteção conferida pelo artigo 1.º do Protocolo adicional à CEDH. Por conseguinte, trata-se de equilibrar dois interesses concorrentes e ambos protegidos pela CEDH.

44. A recomendação do Comité de Ministros aos Estados-Membros no

sentido de promoverem o valor de serviço público da Internet inclui orientações específicas sobre as medidas e estratégias em matéria de liberdade de comunicação e de criação na Internet sem considerações de fronteiras. Mais concretamente, devem ser tomadas medidas para faci-litar, quando adequado, a «reutilização» de conteúdos da Internet, ou seja, a utilização dos recursos de conteúdos digitais existentes para criar conteúdos ou serviços futuros de forma compatível com o respeito pelos direitos de propriedade intelectual.30

45. O n.º 4 traça uma panorâmica geral dos requisitos a preencher pelas

restrições do direito à liberdade de expressão. Os Estados-Membros têm o dever primordial, nos termos do artigo 10.º da CEDH, de não interferir com a comunicação de informações entre indivíduos, sejam eles pessoas singu-lares ou coletivas. O Tribunal declarou que o exercício efetivo do direito à liberdade de expressão pode igualmente necessitar de medidas positivas de proteção, mesmo na esfera das relações entre indivíduos. O Estado pode ser responsabilizado por não aprovar legislação adequada ao nível nacional31. A violação da CEDH pode também pode ser estabelecida se a interpreta-ção dada por um órgão jurisdicional nacional a um ato jurídico, seja ele um contrato privado, um ato público, uma disposição jurídica ou uma prática administrativa, se afigure irrazoável, arbitrária, discriminatória ou, num sentido mais lato, incompatível com os princípios subjacentes à CEDH.32

46. A liberdade de expressão não é um direito absoluto, podendo ser

sujeita a restrições. As ingerências na liberdade de expressão têm de revestir uma forma de restrição emanada de uma autoridade que exerça funções e poderes públicos ou atue no âmbito do serviço público, nomea-damente tribunais, Ministério Público, forças policiais, organismos com-petentes para a aplicação da lei, serviços de informações, órgãos do poder central ou local, organismos governamentais, órgãos de decisão militares e estruturas profissionais públicas.

30) Ver nota 9 supra, CM/Rec(2007)16, Anexo, secção III, segundo travessão. 31) Vgt Verein gegen Tierfabriken/Suíça, n.º 24699/94, § 45.

Referências

Documentos relacionados

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Dos docentes respondentes, 62,5% conhe- cem e se sentem atendidos pelo plano de carreira docente e pelo programa de capacitação docente da instituição (que oferece bolsas de

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Este dado diz respeito ao número total de contentores do sistema de resíduos urbanos indiferenciados, não sendo considerados os contentores de recolha

Além da multiplicidade genotípica de Campylobacter spp., outro fator que pode desencadear resistência à desinfecção é a ineficiência dos processos de limpeza em si,

Figura 93 – Variação do perfil da intensidade de amônia formada durante a introdução de H2 na mistura gasosa, obtida na configuração de superfície para diferentes materiais

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for