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Revista
Portuguesa
de
Cardiologia
Portuguese
Journal
of
Cardiology
PERSPETIVAS
EM
CARDIOLOGIA
Documento
de
Consenso
e
Recomendac
¸ões
para
a
realizac
¸ão
de
Ecocardiografia
Transtorácica
em
Portugal
Francisco
Sampaio
a,b,∗,1,
Regina
Ribeiras
a,c,j,1,
Ana
Galrinho
a,d,
Rogério
Teixeira
a,e,
Isabel
João
a,f,
Marisa
Trabulo
a,c,
Isabel
Quelhas
a,g,
Sofia
Cabral
a,h,
José
Ribeiro
a,b,
Miguel
Mendes
c,j,
João
Morais
i,jaSecretariadodoGrupodeEstudodeEcocardiografiadaSociedadePortuguesadeCardiologia,Lisboa,Portugal bServic¸odeCardiologia,CentroHospitalardeVilaNovadeGaia/Espinho,VilaNovadeGaia,Portugal
cServic¸odeCardiologia,CentroHospitalardeLisboaOcidental,Lisboa,Portugal dServic¸odeCardiologia,CentroHospitalardeLisboaCentral,Lisboa,Portugal
eServic¸odeCardiologia,CentroHospitalareUniversitáriodeCoimbra,Coimbra,Portugal fServic¸odeCardiologia,HospitalGarciadeOrta,Almada,Portugal
gHospitalCUFPorto,Porto,Portugal
hServic¸odeCardiologia,CentroHospitalardoPorto,Porto,Portugal iServic¸odeCardiologia,CentroHospitalardeLeiria,Leiria,Portugal jDirecc¸ãodaSociedadePortuguesadeCardiologia,Lisboa,Portugal
Recebidoa2deoutubrode2017;aceitea14demaiode2018 DisponívelnaInterneta20dejulhode2018
PALAVRAS-CHAVE Ecocardiografia; Laboratóriode Ecocardiografia; Treino; Competência; Relatório; Qualidade
Resumo A ecocardiografia éo métodode imagemmais usadonaprática clínicadiária da cardiologiamoderna,dadaasuadisponibilidade,portabilidade,ausênciadeefeitosbiológicos deletériosrelevantesemenorcustoquandocomparadacomamaioriadasoutrasmodalidades deimagem. Aevoluc¸ãotecnológicadasúltimasdécadas,comaintroduc¸ãodenovosecada vezmaiscomplexosmétodosdeavaliac¸ãoecocardiográfica,alargouaindamaisasindicac¸ões para arealizac¸ãode um ecocardiograma; noentanto, conduziuigualmenteao aumento da informac¸ãoproduzidapeloexameeàmaiorcomplexidadedasuainterpretac¸ãocompotencial gerac¸ãodeerrosdeavaliac¸ãoporoperadorescommenorexperiência.Demodoaassegurara qualidadeeaseguranc¸adosexamesminimizandoosriscosparaospacienteseanecessidade deduplicac¸ãodeexames,énecessáriouniformizarapráticadaecocardiografiaemPortugal. Opresentedocumentopretendecontribuirparaesteesforc¸o,enumerando-secompetênciasa adquirireprocedimentosaadotardemodoagarantiroperadoreselaboratóriosqualificados. ©2018SociedadePortuguesa deCardiologia.PublicadoporElsevierEspa˜na,S.L.U.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:fpasampaio@gmail.com(F.Sampaio). 1 Contribuic¸ãoigualparaoartigo.
https://doi.org/10.1016/j.repc.2018.05.009
KEYWORDS Echocardiography; Echocardiography laboratory; Training; Competence; Report; Quality
ConsensusdocumentontransthoracicechocardiographyinPortugal
Abstract Echocardiographyisthemostwidelyusedimagingtechniqueinmoderncardiological clinicalpractice,sinceitisreadilyavailable,portableandsafe,andprovidesacomprehensive morphologicalandfunctionalassessmentatlowcost comparedtootherimagingmodalities. Recenttechnologicaladvanceshaveintroducednewechocardiographictechniquesandwidened theclinicalapplicationsofechocardiography.However,thesedevelopmentshavealso ledto anincrease ininformation,renderinginterpretationofthedataprovidedbytheexam more complex;thismayresultinassessmenterrorsbylessexperiencedoperators.Standardization ofproceduresandtraining inechocardiographyistherefore essentialtoensure qualityand safetyforpatients.Thepresentdocumentaimstocontributetothisend,recommendingquality requirementsforoperatorsandechocardiographylaboratoriesinPortugal.
©2018SociedadePortuguesadeCardiologia.PublishedbyElsevier Espa˜na, S.L.U.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
Aecocardiografiaéométododeimagemmaisusadona prá-ticaclínicadacardiologia,dadaaampladisponibilidadeea avaliac¸ãocompleta(cominformac¸ãomorfológica,funcional ehemodinâmica)queproporciona,emtemporealeabaixo custo.Éassimométododeprimeiralinhanaabordagemde grandepartedaspatologiascardiovasculares,comimpacto realnaestratégiadiagnósticaeterapêuticasubsequentes1,2.
Mesmooexame ecocardiográficobásico implicao recurso adiferentesmodosdeimagem,quefornecem dados com-plementares.Asrecentesevoluc¸õestecnológicaspermitem aumentar ainda mais a quantidade de informac¸ão e as indicac¸õesdoexame.Nessesentido,éfundamentalgarantir operadoreselaboratóriosqualificados,capazesdeexecutar einterpretarcorretamenteoexame.
Objetivo
Contribuirpara a melhoria e uniformizac¸ão daprática da ecocardiografiaemPortugal,enumerando-seas competên-ciasaadquirireosprocedimentosaadotarporoperadores e laboratórios quese entende deverestar presentes para se assegurar a qualidade e a seguranc¸a dos exames eco-cardiográficos.Serãoabordadososdiferentescomponentes consideradosfundamentaisparaaqualidadefinaldoexame: oexameecocardiográfico(execuc¸ãoerelatório);o labora-tóriodeecocardiografiaeooperador.
Este documento limita-se à ecocardiografia transtorá-cica (ETT) de adultos. A ecocardiografia transesofágica (ETE), pediátrica (ETT e ETE), de sobrecarga (de esforc¸o e farmacológica), bem como a perioperatória de cirurgia cardíacaeaperiprocedimentosdeintervenc¸ãopercutânea (ETTe ETE), sãogenericamente excluídasdessas normas.
Dada a sua especificidade e complexidade, merecerão
documentos separados. Do mesmo modo, embora alguns
dospontosabordadospossamsermaisaplicáveisàprática em meio hospitalar, os princípios gerais definidores de qualidade enunciados devem ser igualmente aplicados à práticadeecocardiografiadeambulatórioextra-hospitalar,
não obstante a eventual necessidade de pequenas
adaptac¸õesaestarealidade.
Aregulamentac¸ão legal da execuc¸ão de atos médicos, como a ecocardiografia, não é competência das socieda-descientíficas,peloqueestasrecomendac¸õesnãopoderão sobrepor-se àlegislac¸ão em vigor.Noentanto,o presente documento foi apresentado e discutidocom o colégio da especialidade de Cardiologiada Ordem dos Médicos(OM) tendoobtidoconcordânciaformaleexplícitadomesmo.
O
exame
ecocardiográfico
O exame ecocardiográfico transtorácico (ETT) envolve
obrigatoriamente uma combinac¸ão integrada de imagens bidimensionais,Dopplerespectralpulsadoecontínuo, Dop-pler codificado em cor e, geralmente,modo M e Doppler tecidular3.Aecocardiografiatridimensional,aindaemfase
deconsolidac¸ãoclínica,éopcional,masdeveserutilizada de acordo com a disponibilidade e a experiência locais, quandoindicada4,5.
Umexametranstorácicocompletoincluiaavaliac¸ão mor-fológicaefuncionaldetodasascâmarascardíacas,válvulas e grandes vasos,utilizando diferentes planosde imagem. Isto implica medic¸ões sobre as imagens bidimensionais, medic¸õessobreimagensdeModoMedeDopplerespectrale tecidular,aquantificac¸ãodafunc¸ãosistólicaediastólica,o cálculodosorifíciosvalvularesestenóticoseregurgitantese estimativasdepressõesdeenchimentoedapressãoarterial pulmonar3.
Embora a sequência em que a informac¸ão é adqui-rida possa variar de acordo com as práticas locais e as preferências3,6,7, há um conjunto mínimo de imagens em
movimento e fixas, nosdiferentes planos, que são reque-ridasparaumETTcompletodemodoaserpossívelproduzir umrelatóriofinalcomqualidade(Tabela1).
Os clips gravados devem conter pelo menos um (mas
preferencialmente três) ciclo representativo de um ciclo cardíaco normal;noscasosdearritmiascom variabilidade RRsignificativa,deveserconsideradaaaquisic¸ãodemaior número de ciclos ou um tempo de aquisic¸ão maislongo. Patologiasespecíficasidentificadasnodecursodeumexame
Tabela1 Conjuntomínimodeimagensrequeridasparaum ecocardiogramatranstorácicocompleto
Plano Tipodeimagem Paraesternaleixolongo
2D+ModoM+Doppler-cor
Clipemmovimento Paraesternaleixocurto(base
comV.Mitralesegmentos médioscommúsculos papilares) 2D+ModoM+Doppler-cor Velocidadestranspulmonares Velocidadestranstricúspides Clipemmovimento Imagemestática Imagemestática Apical4-câmaras 2D+Doppler-cor velocidadestransmitrais velocidadesanelmitral(TDI)
Clipemmovimento Imagemestática Imagemestática Apical5-câmaras 2D+Doppler-cor velocidadestransaórticas velocidadesCSVE Clipemmovimento Imagemestática Imagemestática Apical2-câmaras
2D+Doppler-cor Clipemmovimento Apical3-câmaras∼Apical
longoeixo 2D+Doppler-cor
Clipemmovimento SubcostalcomVeiaCava
Inferior 2D+Doppler-cor
ModoM--- veiacavainferior
Clipemmovimento Imagemestática Supraesternal 2D+Doppler-cor Dopplerespectral Clipemmovimento Imagemestática
CSVE,câmara de saída doventrículo esquerdo; TDI, Doppler tecidular.
podemrequererplanose medic¸õesadicionaisparao diag-nósticocorreto.Éfulcraledaresponsabilidadedomédico interpretante assegurar que toda a informac¸ão relevante sejaobtidaantesdaemissãodorelatóriofinal.
Asimagensdoexamedevemserobrigatoriamente grava-dasemformatodigital,emsistemasquepermitamarevisão posteriordoexame.Agravac¸ãocompletadopacienteinclui asimagense asmedic¸õesgravadas,bemcomoorelatório interpretado.Reconhece-sequeemalgumascircunstâncias, comosituac¸õesdeemergênciaoulimitac¸õestécnicas,possa nãoserfeitaaaquisic¸ãocompletadeimagensedados. Nes-tescasos,oexamedevesercatalogadocomo«limitado»ou focalizadoeascondicionantesquetaldeterminaram deve-rãoestarexplícitasnorelatório.
Osavanc¸ostecnológicostêmfornecidosistemasde ima-gemmaispequenoseportáteis.Tais sistemasrepresentam umavanc¸osignificativo,fornecendopotencialmente opor-tunidadesparaaexecuc¸ãodeexamesecocardiográficosde modomaisvastoedemaisfácilacesso,expandindoassimos benefíciosdatecnologia8.Noentanto,aqualidadedos
exa-mesnãodeveserafetadapeloseuuso.Adecisãodefazer umecocardiogramaforadoLaboratóriodeEcocomum sis-temaportátildeveráserguiadapelaestabilidadeclínicado doente,avaliada pelo médicoassistentee deacordo com o médicocardiologista.Para osexamesportáteis exige-se
o mesmo grau de qualidade no que respeita aos princí-pios acima indicados, ou seja, não devem variar com os diferentessistemasdeimagem,nomeadamenteemrelac¸ão à execuc¸ão e ao arquivo digital do conjunto mínimo de clips/imagens.Admite-seainda,comoexcec¸ão,autilizac¸ão destessistemaspormédicosnãocardiologistasemcontexto deemergência,paraexclusãodequadrosdechoque,como extensãodoexamefísico,semproduc¸ãoderelatório estru-turado.Mantém-se,contudo,aobrigatoriedadedoarquivo digitaldasimagenseoregistodainformac¸ão ecocardiográ-ficanoprocessoclínicodopaciente9.
O relatório doecocardiograma deve teruma estrutura claraelinguagemfacilmentepercetívelpornão cardiologis-taseresponderdeformaobjetivaàquestãoquemotivousua realizac¸ão.Aestruturadorelatório podevariardeacordo com preferências locais, organizando-se os achados com baseem estruturasanatómicas ouem modosde imagem. Noentanto,orelatóriodeveobrigatoriamenteincluir3,6:
• umcabec¸alho,contendosempreaidentificac¸ãoeosdados demográficosdodoente,adataeomotivodoexame,a identificac¸ãonominaldoexecutoredorelatordoexame. Recomendando-seigualmenteoregistodeoutrosdados, comopeso,alturaesuperfíciecorporal,ritmoe frequên-ciacardíaca,bemcomoaidentificac¸ãodoequipamento utilizado;
• umasecc¸ãodemedic¸õescomoregistodetodasas dimen-sõesevaloresobtidospelasdiferentesmodalidades; • umasecc¸ãodescritivadosachadosmorfológicose
funci-onaisdasdiferentesestruturasanatómicasavaliadas; • umaconclusão,quedeveserclara,percetívelpara
qual-quer médico, respondendo objetivamente às questões quemotivaramoexame,realc¸andoosprincipaisachados. Qualquerlimitac¸ãooucondic¸ãopassíveldeinfluenciaras conclusõesdeveficarclaramenteregistada.
O relatório deve ser escrito em suporte informático e/ou papel e ser assinado apenas pelo médico cardiolo-gistacomcompetênciaemecocardiografiaresponsávelpelo relatório,preferencialmente comassinatura digital prote-gidapor palavra-chave. Osrelatórios dosexames eletivos devemestar disponíveispreferencialmente nopróprio dia doexame,oudentrodecincodiasúteis.Nosexamescom carácterurgente/emergente,umrelatórioprovisóriodeve serfeito imediatamente.Sempre que osachados do eco-cardiograma impliquematitudes terapêuticas urgentes, o médicoresponsável pelo doente deve ser informado pes-soalmente.
DeacordocomdocumentodoColégiodaEspecialidade deCardiologiadaOrdemdosMédicosrelativoaotreinoem ecocardiografiaenormasparaecocardiograma10:
• OETTdeverá,preferencialmente,terasuaexecuc¸ãoe elaborac¸ãodorespetivorelatórioacargodemédico car-diologista.
• Comoopc¸ão,poderásercontempladaaexecuc¸ãodoETT portécnicocardiopneumologista(CPL),quepoderá pro-duzirrelatóriopreliminar,mascomsupervisãoevalidac¸ão pelomédicocardiologista,queserásempreoresponsável pelorelatóriofinal.
Para realizar estasfunc¸ões,aos médicos cardiologistas envolvidosexige-secompetência específicaem ecocardio-grafia (vide infra), devendo estar fisicamente disponíveis demodoaque durantea execuc¸ãodoexamepossamdar aconselhamentoe,senecessário,procederàreaquisic¸ãode imagense finalmente à produc¸ão dorelatório final. Inde-pendentementedoexecutor doETT(médicocardiologista outécnicocardiopneumologista),mantém-seobrigatóriaa produc¸ão de relatório final em suporte informático e/ou papel, exclusivamente assinado pelo médicocardiologista relator.
O
Laboratório
de
Ecocardiografia
Emborasereconhec¸aqueaorganizac¸ãointernadosservic¸os possa variar de acordo com os locais, o laboratório de ecocardiografia deverá idealmente estar integrado num LaboratóriodeImagemCardíaca,noqualseinserea ecocar-diografia,bem comoasrestantesmodalidadesdeimagem nãoinvasiva(nomeadamentearessonância magnéticaea tomografiacomputorizadacardíacas).
Deformaapoderemsergeradosexames ecocardiográfi-coscompletosefiáveis,osexecutorescomtreinoespecífico necessitam de local de trabalho adequadamente estrutu-radoeequipado11,12.
As salas deexame devem terespac¸o suficiente e ade-quadoparaassegurarconforto, privacidadee seguranc¸aa doentes eoperadores (tipicamentecercade20 m2) eter condic¸ões de climatizac¸ão, ventilac¸ão e iluminac¸ão apro-priadas.Embora fora do âmbito do presente documento, realc¸a-se que os laboratórios que fac¸am ecocardiograma transesofágico (ETE) com sedac¸ão ou ecocardiograma de sobrecargafarmacológicadevemternolocaldeexecuc¸ão meiosdemonitorac¸ãoedeeventualsuporteavanc¸ado,bem comoespac¸opararecobro,sobvigilânciadeprofissionaisde saúdeapropriadamentetreinadosequalificados13.
Para que segaranta a aquisic¸ão de imagens com qua-lidade e quantificac¸ão hemodinâmica Doppler completa, todososecocardiógrafos em utilizac¸ão devemter capaci-dadeparaimagem bidimensional comimagemharmónica, Doppler espectral pulsado e contínuo, Doppler codificado em cor, Doppler tecidular e para arquivo digital de ima-gem em formato DICOM com possibilidade de exportac¸ão pararedelocal.Todososequipamentosesondasdevemter manutenc¸ãoregular(pelomenosduasvezes/ano), habitu-almenterealizadaporrepresentantesdasmarcasdeacordo com contratos específicos de manutenc¸ão ou, em opc¸ão, porpessoalespecializadolocal.Amanutenc¸ãodeve englo-bar procedimentos específicos que garantam a seguranc¸a dos equipamentos, como a limpeza dos sistemas de fil-troe a verificac¸ão de eventual fuga de corrente elétrica e/ouinterferênciacomoutrosequipamentos.Idealmente, todo ecógrafo em utilizac¸ão deverá ter sofrido a última atualizac¸ãodesoftware/hardwarehámenosdeseteanos.
Oexameecocardiográficopodeserfisicamenteexigente e resultar em lesões músculo-esqueléticasdo operador. É assimimportantequeoslaboratóriosdeimagemcardíacase encontrembemestruturadosdeformaaminimizarosriscos dopessoal.Dessemodo,recomenda-seque:
• asaladeexecuc¸ãodeexamesdeveserseparadae limi-tadaapenasaesseutilizac¸ão;asáreadeespera,vestiário
e recobro devemser fisicamente separadasdolocal de execuc¸ão;
• deve existir uma sala própria para revisão off-line do exameeproduc¸ãodorelatório;
• naáreadeexecuc¸ãodosexames,aluz,aventilac¸ãoeas cadeirasdeutilizac¸ãodosoperadoresduranteaexecuc¸ão dosexamesdevemserapropriadas;
• amarquesadeexecuc¸ãodosexamesdeveterumsistema deregulac¸ãodaaltura.
Oprolongadocontactofísicooperador-pacientelevanta a questão do risco de propagac¸ão de infec¸ão. Nesse sen-tido, os laboratórios de ecocardiografia devem manter ligac¸õesadequadasaodepartamentohospitalardecontrole deinfec¸ãoeseguirasrecomendac¸õespadrão.Todaaequipa dolaboratório deveráterconhecimentoatualizado dessas recomendac¸ões.Comoregrageral:
• assondasdeETTdevemserdesinfetadasentreexames, comtoalhete/líquidodesinfetanteapropriado;
• osoperadoresdevemlavaradequadamenteasmãosentre exames,sendoobrigatória aexistênciadelavatórionas salasdeexame;
• osecocardiógrafosdevemserlimposdiariamente; • assondasdeETErequeremprocedimentosdedesinfec¸ão
particulares,exigindolocaleequipamentoespecíficosde desinfec¸ão,comsistemadeextrac¸ãodearapropriado,de modoaevitarcontaminac¸ãodoambienteeoperadorde limpezapelosdesinfetantesvoláteis.
Oslaboratóriosdeecocardiografiadevemterumsistema deagendamentoorganizado.Nesseagendamento,otempo destinadoaumecocardiogramatranstorácicopadrãodeverá ser,nomínimo,de30minutos.Semprequesejaprevisívela necessidadedequantificac¸ãocomplexae/ouautilizac¸ãode técnicasavanc¸adasdeecocardiografia,o tempodestinado paraoexamedeveráserde60minutos.Omédico cardiolo-gistadiretor/responsáveldolaboratóriodeveorganizarum sistemaderevisãodas requisic¸õesdemodo aestabelecer grausdeprioridadeparaaexecuc¸ãodoexame.Deverá igual-mentepromovermedidasdecontrolodequalidadeatravés de auditorias periódicas,com avaliac¸ão daadequac¸ão do motivo dosexamesrealizados,dostemposdeesperaede execuc¸ão, doconjunto deimagens/medic¸õesadquiridase dosrelatórios.
Reuniões com carácter periódico (preferencialmente semanal) com revisão de casos clínicos --- e idealmente em conjuntocomasoutrasmodalidadesdeimagem ---são aconselháveis e devem igualmente ser promovidas pelo responsável clínico. É ainda um critério de qualidade a produc¸ãocientífica.Oselementosdolaboratóriodevemter acessoàbibliografianecessáriaparaasuaatividadeclínica edeinvestigac¸ão,sejaatravésdeumabibliotecalocal(com livrosdetextodereferência)sejaatravésdeacesso eletró-nicoàsprincipaisrevistasnaáreadaecocardiografia.
O
operador
Nos últimos anos, vários documentos comrecomendac¸ões
sobre treino e competência em ecocardiografia,
publicados7,14,15. Em linha com estes documentos,
considera-se que a ecocardiografia é uma técnica de
imagemaltamentedependentedooperador,exigindodeste formac¸ãoespecíficadeformaatercompetêncianatécnica. Assim,aformac¸ãobásicadooperadorterádeincluir: • treino geral naáreacardiovascular,incluindo treinoem
auscultac¸ãocardíaca;
• conhecimentodetalhadodaanatomia,fisiologiae hemo-dinâmica cardiovasculares em condic¸ões normais e nas diferentespatologias;
• domíniodosprincípiosfísicosedosefeitosbiológicosdos ultrassons, de forma a saber como utilizar os equipa-mentosdeecocardiografiaereconhecerasindicac¸õese limitac¸õesdatécnica;
• capacidadedeobterinformac¸ãoclínicadomédico refe-renciador, do processo clínico ou do doente, de modo a aplicar a metodologia mais apropriada para obter informac¸ãoecocardiográficacoerente;
• reconhecimentodapatologiaecapacidadedeformulac¸ão dediagnósticosdiferenciaispreliminares,deformaaser capazdeexplorarosplanoseprocederàsquantificac¸ões necessárias;
• capacidadedecorrelacionarosachadosecocardiográficos comosdeoutrosmeioscomplementaresdediagnósticoe deintegrac¸ãoglobaldosresultados;
• conhecimentodaspotenciaiscomplicac¸õesdasdiferentes técnicasecocardiográficas.
Níveisdecompetênciaparacardiologistas
Existemalgumasdiferenc¸asnosesquemaserequisitospara atribuic¸ão de níveis de competência entre as sociedades científicas internacionais, de acordo com especificidades locais e com a regulamentac¸ão legal da formac¸ão pós--graduadanosdiferentespaíses.AAssociac¸ãoEuropeiade Ecocardiografia/Associac¸ãoEuropeiadeImagiologia Cardio-vascularpropõeaexistênciadedoisníveisdecompetência em ecocardiografia15 queseaceitam como genericamente
válidosnonossopaís: a) Nívelbásico
A ser cumprido durante a formac¸ão de todos os
car-diologistas em geral. No fim deste nível, o operador
deverásercapazdeexecutar,deformaindependente,um ecocardiograma-padrão,comvistaaresponderàsquestões clínicas mais comuns e a algumas situac¸ões de urgên-cia/emergência.
Aobtenc¸ãodestenívelimplicaumtreinodeseismeses num laboratório de ecocardiografia hospitalar de alto volume,compelomenos350exames completosdeforma
autónoma e com contacto com as principais entidades
patológicas (designado como case-mix adequado):
val-vulopatias, cardiopatia isquémica, miocardiopatias/
insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, endocardite infeciosa, massas intracardíacas, cardiopatias congénitas
mais comuns, tromboembolismo pulmonar, hipertensão
pulmonar, doenc¸as da aorta e doenc¸as do pericárdio. Os examesnormaisnãodeverãoexcedermaisdoqueumterc¸o do número total. Deve ser considerado o prolongamento
dotemponecessárioparacumprimentodestenívelquando o período de treino tenha que ser interrompido ou seja realizado concomitantemente com outras atividades, ou quandoonúmerodeexamessejainferioraoprevistonestas recomendac¸ões.
Quanto ao ETE e ao ecocardiograma de sobrecarga, é recomendadoo seuacompanhamento e suaexecuc¸ão sob supervisãodemédicocardiologistacomnívelavanc¸adode competência em ecocardiografia. Assim, no fim do nível básicode competência deverá o médico cardiologista ser capazdereconhecerasindicac¸ões,contraindicac¸ões, capa-cidadesdiagnósticas,limitac¸õesepotenciaiscomplicac¸ões destes métodos ecocardiográficos.Contudo, este nível de treinonãoconferecompetênciaparaaexecuc¸ãoautónoma dosmesmos(ETEeecocardiogramadesobrecarga).
Asrecomendac¸õesparaaobtenc¸ãodestenívelestãoem linhacomaPortariaqueregulaoInternatoMédiconaárea profissional de especializac¸ão de cardiologia (Portaria no
46/2011)ecomdocumentorecentedoColégiode Especiali-dadedeCardiologiadaOMsobre«Treinoemecocardiografia enormas para realizac¸ão deecocardiograma»10, peloque
seconsideraquequalquercardiologistanofimdointernato da especialidade deverá ter obtido este nível básico. Ressalva-se, no entanto, que a obtenc¸ão deste nível de competência não equivale à sua manutenc¸ão e que esta implica treino continuado (vide infra). De igual modo, sendo de estimular a obtenc¸ão de acreditac¸ão individual em ecocardiografia por outra sociedade científica idónea reconhecida pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia e pelaOrdemdos Médicos,esta deveserreconhecidacomo «certificac¸ãodaobtenc¸ãodeconhecimento»,nãopodendo substituir,masapenascomplementar, aformac¸ão continu-adaem laboratóriodeecocardiografiaidóneo.Estaúltima serásempreo componente determinantee obrigatório da obtenc¸ãonacionalde«competência»emecocardiografia. b) Nívelavanc¸ado
O nível avanc¸ado destina-se aos cardiologistas cuja principaláreadeinteresseedesubespecializac¸ãoéa eco-cardiografia.Osoperadorescomestenívelsãocompetentes paraa execuc¸ão independentede ecocardiogramas trans-torácicos complexos e/ou com necessidade de recurso a técnicas avanc¸adas, como a quantificac¸ão hemodinâmica completade valvulopatias complexas,ecocardiografia tri-dimensional, ecocardiografia com contraste, imagem de deformac¸ãomiocárdica(strain/strainrate)ouaselecãode candidatosatratamento percutâneodecardiopatia estru-turalvalvular e nãovalvular. A aquisic¸ão de competência paraarealizac¸ãoautónomadeecocardiografia transesofá-gica(ETE)edesobrecarga,ecocardiografiaintraoperatória decirurgiacardíacaeecocardiografiaparamonitorac¸ãode procedimentospercutâneosdeveestarigualmenterestrita aoperadorescomesteníveldecompetência.
A obtenc¸ão deste nível implica umtreino adicional de seis mesese a realizac¸ão de, pelo menos, 750 ETT com-pletos (para além dos efetuados para obtenc¸ão do nível básico)numlaboratóriodeecocardiografiahospitalar idó-neoesobsupervisãodeumcardiologistacomnívelavanc¸ado de ecocardiografia. Durante o período de treino para a obtenc¸ãodequalquerumdosníveis,osoperadoresdevem
participar nas reuniões periódicas do laboratório de ima-gem/ecocardiografiaparadiscussãodecasosclínicos,bem comoem reuniõesnacionaisouinternacionaisacreditadas deecocardiografia/imagiologiacardíaca.Aparticipac¸ãoem atividadesdeinvestigac¸ãodeveservalorizada.
c) Manutenc¸ãodacompetência
Demodo a manter a competência adquiridadurante a formac¸ão,osoperadoresdeverãoexecutareinterpretarde
formaautónoma pelo menos250 ETT/ano, com case-mix
adequado,devendoonúmerodeexamesnormaisserinferior a30%donúmerototaldeETTporano.Estaexposic¸ãodeve poderserverificávelatravésdeacessoaarquivodigitaldas imagensadquiridasemcadaexame.Paraalémdaexecuc¸ão deexames,amanutenc¸ãodecompetênciadeveráimplicar aparticipac¸ão continuadaem programasde formac¸ão em ecocardiografia,preferencialmente verificávelpor sistema decréditos.
Ocardiologistaquenãotenhaatingidoosrequisitospara amanutenc¸ãodacompetênciaemecocardiografianos últi-mosdoisanosdeverealizarumperíodode,pelomenos,um mês de treino em ecocardiografiaem laboratório de ele-vadovolumedecasos(mínimode20casos/dia)epatologia variada.
Talcomoafirmadopreviamente,encoraja-seaobtenc¸ão derecertificac¸ãoindividualporsociedadecientíficaidónea reconhecida pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia e pelaOrdemdos Médicos,embora, isoladamente,este não constituarequisitosuficienteparaprovademanutenc¸ãode competência.
Competênciaemecocardiografia
pornãocardiologistas
a) Técnicosdecardiopneumologia(CPL)
Aintegrac¸ãodeCPLnasequipasdoslaboratóriosde eco-cardiografiaécomumàmaioriadasinstituic¸õesportuguesas. DeacordocomoDecreto-Leino564/99de21dedezembro,a
suaatividadeprofissional‘‘centra-senodesenvolvimentode atividadestécnicasparaoestudofuncionaledecapacidade anatomofisiopatológica docorac¸ão, vasos e pulmões e de atividadesaoníveldaprogramac¸ão,aplicac¸ãodemeiosde diagnósticoesuaavaliac¸ão,bemcomonodesenvolvimento deac¸õesterapêuticasespecíficas,noâmbitodacardiologia, pneumologiaecirurgiacardiotorácica’’.Estesprofissionais, com formac¸ão superior (licenciatura), estão integrados na Carreira dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica, que é regulada legalmente por diferentes documentos: Decreto-Leino261/93,Decreto-Leino320/99,Decreto-Lei
no 564/99,Portariano 256-A/86(n◦ 3).Noentanto, todos
estesdocumentossãogeneralistaseomissosquantoaograu preciso de autonomia/responsabilidade atribuível ao CPL narealizac¸ãodeecocardiogramastranstorácicos.
É reconhecido, no já citado documento do Colégio de Especialidade de Cardiologia sobre ‘‘Treino em ecocardi-ografia e normas para realizac¸ão de ecocardiograma’’10,
que o padrão de autonomia com que exercem as suas
func¸õesvariadeacordocomasinstituic¸ões.Omesmo docu-mentocontemplaaexecuc¸ãodeETTportécnicoCPL,mas
recomendaasuasupervisãoevalidac¸ãopormédico cardio-logista,queseráoresponsávelpelorelatóriofinal.
Emlinhacomestaorientac¸ão,recomenda-sequesejam competênciasdotécnicoCPLintegradonaequipado labo-ratóriodeecocardiografia:
• a explicac¸ão das características do exame ao doente, previamente à execuc¸ão; de realc¸ar que a obtenc¸ão da informac¸ão clínica necessária para o exame deverá caberexclusivamente ao médicoresponsável pelo rela-tóriofinal;
• a execuc¸ão de exames tecnicamente padronizados
atravésdaobtenc¸ãodas imagense medic¸ões que cons-tituemumecocardiogramacompleto, deacordocomas recomendac¸ões atrás descritas. Em caso dedificuldade ouinconsistência,omédicocardiologistasupervisordeve sernotificadoduranteaexecuc¸ãodoexamedeformaa prestarassistênciadireta;
• oregistodevídeoseimagensemformatodigital,demodo apermitirarevisãocompletadosexameseoseuarquivo emlongoprazo;
• a interpretac¸ão das imagens sob supervisão de médico cardiologistacomcompetênciaemecocardiografia; • apossívelrealizac¸ãoderelatóriopreliminar;
• aparticipac¸ão,em conjunto com ocardiologista super-visor,naproduc¸ãodorelatório final;estacolaborac¸ãoé necessáriaparaassegurarquetodaainformac¸ãotécnica e diagnóstica obtida foi relatada do modo mais com-pleto possível. De realc¸ar que o CPL não poderá ser responsável pela validac¸ão do relatório final, cabendo essaresponsabilidadeaomédicocardiologista.Domesmo modo,adiscussãocomodoenteoucomomédico refe-renciadordosachadosclínicosdoexameesuaseventuais implicac¸õesdeverácaberexclusivamenteaomédico car-diologistaresponsávelpelavalidac¸ãodorelatório; • averificac¸ãoperiódicadaqualidadeedaseguranc¸ados
ecocardiógrafoserespetivassondas.
Considera-seaindaqueosconhecimentosbásicosparaa práticadeecocardiografiadetalhadosnoiníciodestasecc¸ão deverãoserdominadosporqualqueroperadorqueexecute ecocardiogramas,incluindoosCPL16.
b) obtenc¸ãoemanutenc¸ãodecompetênciapor cardiopneu-mologistas.
Reconhecendo diferenc¸as significativas entre países e regiões geográficas no que respeita ao papel de téc-nicos de ecocardiografia17, as recomendac¸ões europeias
são omissas quanto a diferenc¸as entre médicos e não médicos e/ou requisitosespecíficos para estesúltimos no que respeita ao tempo de treino e número de exames a realizarparaobtenc¸ãodecompetênciaemecocardiografia transtorácica15.Naausênciadestadistinc¸ão,eatendendoa
queestesprofissionaisparticipamigualmentenarealizac¸ão de exames transtorácicos complexos, deecocardiogramas transesofágicosedesobrecarganamaioriadoscentrosem Portugal, recomenda-se como requisito obrigatório para obtenc¸ão de competência em ETT pelos CPL um período detreinopós-graduadocontínuodepelomenosumano,a tempointeiro,emlaboratóriodeecocardiografiahospitalar
comvolumedecasoselevado(mais de20ETT/dia), pato-logiadiversificadaesoborientac¸ãodemédicocardiologista com nível avanc¸ado em ecocardiografia. Neste período, devem ser executados, pelo menos, 350 exames transto-rácicos completos. A efetiva realizac¸ão dos exames deve serverificável através doregisto digitaldas imagense da elaborac¸ãodeumlogbook.
Tal como para os médicos cardiologistas, é desejável a realizac¸ão deexamede acreditac¸ão em ecocardiografia porsociedadecientíficaidónea,reconhecidapelaSociedade Portuguesade Cardiologiae Ordem dos Médicos, sob pro-postadodiretorclínicodolaboratóriooudeoutromédico
cardiologista com competência em ecocardiografia. Do
mesmomodoqueparaosmédicoscardiologistas,estetipo deacreditac¸ãodeveserconsideradocomo«certificac¸ãode conhecimento»,masnãodecompetênciaem ecocardiogra-fia,nãoconferindopersehabilitac¸ãopararealizac¸ãoe/ou interpretac¸ão de ecocardiogramas sem apoio e validac¸ão por médico cardiologista com competência em ecocardi-ografia. Essa recomendac¸ão está também explícita no já citadodocumentoemanadopelo ColégiodaEspecialidade deCardiologiadaOM10:«Aacreditac¸ãoeuropeiaem
ecocar-diografia deve ser assumida como reconhecimento formal de autonomia pré-existente e continuada na execuc¸ão de ecocardiogramas e respetiva elaborac¸ão de relatórios, que em Portugal são restritos a médicos cardiologistas». Também como para os cardiologistas, a manutenc¸ão da competênciadeveráestardependentedeatividadeprática continuada em laboratório de ecocardiografia com ade-quadovolume(maisde20ETT/dia)ecase-mixvariado,com execuc¸ãode,pelomenos, 250ecocardiogramas transtorá-cicos/ano, os exames normais nãopoderão perfazer mais doqueumterc¸odonúmerototaldeETT/ano.Emcasode interrupc¸ãodaatividade superioraumanorecomenda-se que o treino seja repetido durante, pelo menos, qua-tro semanas num laboratório de ecocardiografia de alto volume, com execuc¸ão pessoal de pelo menos oito ETT diários.
c) Médicosnãocardiologistas
É recomendac¸ão do Colégio da Especialidade de
Car-diologia da OM, relativamente ao treino e ao uso de
ecocardiografia,queautilizac¸ãodestatécnicapormédicos não cardiologistas deve ficar circunscrito a um nível que envolva estritamente ecocardiografia 2D e Modo M, per-mitindoemsituac¸õesclínicasdeemergênciaodiagnóstico decausasdechoquepotencialmentereversíveis, nomeada-mente disfunc¸ão ventricular esquerda grave, hipovolémia grave,tromboembolismopulmonardealtoriscoe tampona-mento.Nestecontexto,aexecuc¸ãodeumecocardiograma emergente e focalizado poderá salvar a vida do doente. Esteconceito,baseadonametodologiainternacionalmente reconhecidaFATEe FOCUS18---20, enquadra-senumnível de
treinoecompetênciaqueexigeaquisic¸ãodeconhecimento básicodafísicadosultrassons,daecoanatomianormal,das imagens típicasdos quadros dechoque acimareferidos e sobretudo da identificac¸ão das limitac¸ões desse nível de competência, que passa pelo reconhecimento da necessi-dade a recurso a médico cardiologista com competência básica ou avanc¸ada. O nível de competência para «ETT na Emergência»sóficará completocoma execuc¸ãode 50
ETT,emperíodonãosuperioraumano,sendoobrigatória averificac¸ãodaadequac¸ãodaindicac¸ãoparaarealizac¸ão doETTemquadrosdechoqueacimadescritos,bemcomo a aquisic¸ão de clips/imagens padronizadas de acordo como protocoloFATE/FOCUS,devidamente registados em arquivo digital e validados por médico cardiologista com competência em ecocardiografia. É importante salientar queaobtenc¸ãodosníveisdeformac¸ãobásicoeavanc¸ado, emecocardiografia,apenaséreconhecidapelaOrdemdos Médicosa«especialistaemcardiologia»10.
Realc¸a-sequea ecocardiografiaem contextode urgên-cia/cuidados intensivos, aparte a metodologia focalizada paraquadrosde choque,podeser umprocedimento alta-mente complexo9. O contexto clínico, com necessidade
deobtenc¸ão deinformac¸ão e tomada dedecisão rápidas, a frequente dificuldade de obter imagens de boa quali-dade e a variabilidade hemodinâmica(condicionada quer pelapatologiaquer pelomanejode fluidose suporte
ino-trópico) exigem um ETT com estudo Doppler completo
adicional à avaliac¸ão 2D e Modo M, o que pode gerar errosdeinterpretac¸ãocomconsequênciasgravesna abor-dagemterapêuticadodoente.Essteserrosdeinterpretac¸ão serão tanto maisprováveis quanto menor for a experiên-ciaediferenciac¸ãocardiológicadoexecutor.Nestesentido, é recomendac¸ão da SPC que os médicos não cardiologis-tasquerealizamecocardiogramasnaurgênciahospitalare emunidadesdecuidadosintensivospolivalentesna ausên-ciadecardiologistadevamterumperíododetreinoprévio deseismesesemlaboratóriodeecocardiografiahospitalar, com execuc¸ão de 350 exames completos e interpretac¸ão adicional de 150 ecocardiogramas, cobrindo as principais entidadesclínicasemcontextodeurgência/cuidados inten-sivospolivalentes. Dos exames executados pessoalmente, 50 deverão ter sido realizados na urgência geral ou em cuidadosintensivospolivalentes,sobsupervisãodemédico cardiologista com competência em ecocardiografia. Por outro lado, reforc¸a-se que a situac¸ão clínica de urgên-cia/emergêncianãopodejustificaraausênciaderegistoe arquivodigitaldasimagensobtidas,devendoestesexames serreavaliadoseorelatóriodeveservalidadoomais rapida-mentepossívelpormédicocardiologistacomcompetência emecocardiografia.Amanutenc¸ãodacompetênciadeETT emcontexto deurgência/cuidados intensivosexigea prá-ticaregulardeecocardiografia,recomendando-seexecuc¸ão pessoalmínimade50casos/ano.
Tambémparaestesprofissionais,arealizac¸ãodeexame deacreditac¸ãoemecocardiografiaporumasociedade cien-tíficaidónea reconhecidapela SPC e OM não devepoder ser considerada como uma certificac¸ão de competência, nãoconferindo per se habilitac¸ão paraa realizac¸ão e/ou interpretac¸ãodeecocardiogramassemacompanhamentoe validac¸ão por médico cardiologista com competência em ecocardiografia.
Relativamente à ecocardiografia transesofágica
intra-operatória em cirurgia cardíaca ou em ambiente de
cuidadosintensivos, reconhece-se que existem especifici-dades locais, quer em nível nacional quer europeu, que resultamnaexecuc¸ãodestesexamespormédicosnão car-diologistas(anestesiologistaseintensivistas).Apropostade regulamentac¸ão daformac¸ãonestaárea,demodo a asse-guraraqualidadedos examese a seguranc¸ados doentes, deveráserestabelecidaemdocumentofuturopelosórgãos
próprios da Ordem dos Médicos e sob recomendac¸ão da SPC. Sem prejuízo do acima referido, recomenda-se que osrequisitosmínimosde treino paraobtenc¸ão de compe-têncianestaáreanuncasejaminferioresaosdeterminados paraosmédicoscardiologistasdenível avanc¸ado---treino completoemecocardiografiatranstorácica(conforme des-critopreviamente)e realizac¸ãoadicional de,pelomenos, 75ecocardiogramastransesofágicos.Amanutenc¸ãode com-petência deverá igualmente implicar a realizac¸ão de 50 ecocardiogramastransesofágicosporano.
Em conclusão,sendo aecocardiografia umatécnicade imagem diagnóstica, da qual resultam procedimentos e orientac¸ões terapêuticas de grande importância para o doente,terádeserencaradacomo umatoinegavelmente médicoe cardiológico cominerentesimplicac¸ões médico--legais. Pretende-se que a regulamentac¸ão da prática da ecocardiografiaemPortugalintroduzidapelopresente docu-mentocontribuaparaasseguraraqualidadeeaseguranc¸a dosexamesecocardiográficos,minimizandooerro diagnós-ticoeoriscoparaospacientes,masquetambémconduza àreduc¸ãodaduplicac¸ãodeexameseconsequentescustos.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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