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A (muito) antiga re-discussão da atuação econômica do Estado. Uma visão histórica e empírica da constelação do Direito e suas contribuições para o mundo da Economia

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A (muito) antiga re-discussão da atuação econômica do Estado. Uma visão histórica e empírica da constelação do Direito e suas contribuições para o mundo

da Economia

Bruno Albergaria1

Resumo: O Estado, notadamente pelo Direito, pode, e deve, fazer a regulação da economia. Contudo, deverá fazê-lo com os sistemas inputs e outputs e não via uma legislação estanque e petrificada. Os novos paradigmas sociais, notadamente a flexibilidade e a mutabilidade dos agentes econômicos, exigem uma postura intervencionista do Estado; contudo, de forma eficiente e dinâmica.

Palavras-chaves: Estado. Constituição. Regulação. História. Direito. Economia. Keynes. Crises. Capitalismo.

1 Doutorando em Direito por Coimbra, Portugal. Mestre. Professor Universitário. Autor dos livros Instituições de Direito, Atlas, 2009 (2º impressão) e Responsabilidade Civil da Empresas no Dano

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Introdução

Uma das contribuições de Aristóteles (384-322 ac.) para a constelação jus-filosófica é o

thelos de um governo, qual seja, fazer a distribuição equitativa da felicidade entre os povos. Assim, aos governantes competiria agir segundo a premissa básica da máxima distribuição da felicidade possível entre os seus governados; quiçá hoje em dia, com a globalização, a melhor distribuição possível da dita felicidade-global em toda a população do planeta.

Apesar das palavras desanimadoras de Freud (1856-1939), ao afirmar que o mal estar das civilizaçõe1 reside justamente na impossibilidade da felicidade plena – quase um paraíso perdido – é imperioso aos pensadores sociais a eterna busca – mesmo sabendo que o destino para tal é igual ao de Moisés: andar errante pelo deserto até, quando avistar a terra prometida, cair morto - de desenvolver (ou achar as respostas para) um melhor sistema sócio-político-econômico-jurídico-sei-lá-mais-o-quê 2.

Com a crise do sistema financeiro, em escala mundial, iniciada em 2007/8, após a (necessidade de) atuação direta dos governos no mercado econômico, algumas das teorias jurídicas-económicas “acordaram” de uma hibernação de algumas décadas.

De tal sorte, alega-se que nas últimas décadas, notadamente após a quebra da bolsa de NY (1929), bem como o fim da segunda guerra (1945), que há, no meio acadêmico e político, a nova quaestio sobre a interferência – direta ou indireta – do Estado na economia, via atuação ou regulação. Dessa forma, o mundo dividiu-se, findo o conflito

Ambiental, Fórum, 2009, 2ª Edição, além de publicações em revistas especializadas e jornais.

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mundial, em total interferência (comunismo) ou total liberalismo (capitalismo). Competiam os dois principais atores internacionais, os EUA e a URSS, com a alcunha de primeiro mundo e segundo mundo, respectivamente, a defesa do certo e o ataque ao errado, baluartes e defensores da verdade (universal). Ao resto do planeta competia ser – apenas - o terceiro mundo, com papel secundário, muito mais espectador e, raramente, coadjuvante. Quando muito um peão – ou em alguns casos – um bispo no jogo internacional; jamais, rei ou rainha.

Porém, com o fim do mundo comunista, com a sua bastilha figurada na queda do muro de Berlim (1989, um ano após a promulgação da constituição programática-social brasileira, apelidada de constituição-cidadã por Ulisses Guimarães3 reinou absoluto o (neo)liberalismo econômico por mais de uma década, sem que (quase) ninguém (ousasse) contestá-lo4, produzindo inclusive uma certa amnésia acadêmica5 . O fim da

história, com a vitória inconteste do capitalismo aliado à democracia, estava anunciada; nada mais moderno poderia ser inventado ou criado6.

No Brasil, o discurso da esquerda intervencionista, que teve o seu auge na elaboração da Carta Magna de 1988, foi cedendo espaço para a moderna administração neoliberal, encartilhada pelos Senhores de Washington, capitulada em teoréticos paradigmas jurídicos-economicos da Bretton Woods Agreement (1944). Tais ditames universais são,

in per suma capita, (i) não intervenção – ou intervenção mínima – tais como privatização, (ii) automia do Banco Central, (iii) criação de Agências Reguladoras e (iv) disciplina fiscal com o fito do superátiv primário, (vi) aplicação do dinheiro (público) em obras de infra-estrutura e (vii) pagamento (dos juros) das dívidas internacionais.

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Dessa forma, foi estipulado o “Sistema Breton Woods”, que compreendida inicialmente na criação de três instituições internacionais, a saber, (i) o Fundo Monetário Internacional - FMI, (ii) o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD, ou Banco Mundial e, (iii) uma Organização Internacional do Comércio – OIC, que posteriormente tornou-se Organização Mundial do Comércio.

Assim, a Constituição brasileira, construída e erigida nos moldes das constituições sociais, foi-se modificando ao longo da década de 90, transformando-se em uma colcha

de retalhos7 para albergar os novos rumos liberais, oriundos dos ventos nortistas. O que antes eram cláusulas supereficazes8 ou cláusulas petreas no (simplista) linguajar

forense, dotadas do princípio da vinculação dirigente inclusive do legislador9 com a proibição do retrocesso social10, foram cedendo espaço ao longo das mais de 50 Emendas Constitucionais, muitas delas golpistas, diga-se de passagem11, conforme às exigências internacionais.

Enquanto quem sofria pelo panfleto de Bretton Woods eram os países pobres da África negra – ou subsaariana -, produtora de desigualdades sociais nunca vistas e também de diamantes, também nunca vistos, sedentos em aumentar os empréstimos do FMI e do Banco Mundial, bem como em aumentar o coeficiente do índice da corrupção, o mundo

civilizado de Washington, com raras exceções12, não se sensibilizava com os problemas alheios. A cartilha deveria ser seguida a risca, tendo em vista a certeza da verdade absoluta dos seus idealizadores.

Porém, o mundo caiu também para os liberais radicais. O epicentro da crise capitalista deu-se justamente nos Estados Unidos, praticamente na entrada do novo milênio (2007).

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Atualmente, alega-se que o mote de tantas turbulências foi justamente a falta de intervenção/regulação do Estado na Economia norte-americana. Certo é que, na tentativa de salvar o sistema capitalista, quase todos os “pacotes econômicos” propostos foram justamente no sentido de intervenção direita dos Governos. Calcula-se na casa dos trilhões de dólares13, se é que a nossa vã imaginação pode precisar o que seja isso – a ação "vital para ajudar que a economia americana supere a tempestade financeira"14.

A lista das empresas norte-americanas com problemas financeiros, que sofreram interferências governamentais, parecia mais a capa da Fortune de outrora, tais como os bancos Bear Stearns, Wachovia, IndyMac, Lehman Brothers, Morgan Stanley,

Washington Mutual (WaMu), a seguradora AIG, as automobilísticas General Motors,

Ford, Chrysler dentre tantas outras. O atual presidente norte-americano, Barak Obama, já anunciou, ao nacionalizar a General Motors com a compra de 60% do seu capital, com recursos tributários (leia-se novamente com o dinheiro do povo) americano e canadense, que pretende vendê-la – ou seja, privatizá-la - assim que tiver sanado as suas dívidas.

O investimento governamental público – ou estatização (?!15) - em empresas seculares, e motrizes da economia (pelo menos na psiqué) norte americana16 com o objetivo de não fechá-las, abalou não somente Wall Street e Washington17, mas também em

Harvard, Stanford, Boston e tantas outras universidades norte-americanas18; sem contar, é lógico, com todos os centros acadêmicos do resto do mundo. Assim, parece que o

Fénix Keynes, falecido e sepultado na prodigiosa década de 9019, ressurge, aos poucos, das cinzas como se fosse novamente o salvador do capitalismo (sic)20. Contudo, ver-se-á

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que não há nada de novo no front. Aliás, desde que o ser humano resolveu se agrupar e viver sobre a liderança de um chefe (de estado) – na figura de chefe tribal, enviado de Deus, rei, o próprio deus, ou simplesmente governante, seja democrático ou não – insurge-se a (des)necessidade da interferência (do Estado) na esfera econômica.

O que se deve analisar, hoje em dia, não é, s.m.j., se deve-se ou não fazer a interferência do Estado na economia. Aliás, não existe um Estado puro liberal, somente “guarda noturno”, cuja única e exclusiva missão seja apenas assegurar a ordem da urbe. O

progresso também é objeto, quer queira quer não, dos fins estatais. Quando se deseja controlar a inflação, fomentar uma região, atrair novos investimentos, impedir uma crise via políticas públicas, etc, etc, etc se está, direta ou indiretamente, interferindo na economia. Ademais, é o Estado o maior financiador de empreendimentos em qualquer país. Portanto, o que se deve discutir não é a interferência; mas, qual é a interferência necessária para o melhor governo, bem como de que forma e quando.

Assim, perfunctóriamente, far-se-á uma caminhada histórica, buscando na floresta (des)conhecida, os caminhos já traçados, bem como os erros cometidos, para se tentar projetar uma solução mais viável. Dessa forma, poder-se-á dizer se há algo de novo no velho mundo e (ou), a partir das experiências já encontradas, buscar as (velhas) soluções; se a quaestio é realmente nova e, portanto, requerer novas alternativas.

Percurso histórico da interferência do Estado nas relações de produção, distribuição e consumo: uma resposta empírica.

Geralmente apregoa-se ao iluminista escocês Adam Smith (1723-1790), autor da célebre obra Inquiry into the Nature and Causes of the wealth of nations, de 1776 – ou

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simplesmente A Riqueza das Nações -, a paternidade do liberalismo econômico21, no qual entendia que o melhor dos mundos seria aquele em que o Estado fosse (muito) rico. E a receita universal para a riqueza das nações seria o mercado regulado pela "invisible

hand" protagonizado pela “self interest” da burguesia, sedenta cada vez mais de lucros. A fórmula é simplista (e lógica): o mercado é regido pelos interesses individuais de cada um (tipo de uma “mão invisível” auto-regulatória), seja “padeiro, açougueiro ou do cervejeiro”22, os quais, agindo por interesse próprio de ficarem ricos (produzir e/ou comercializar), acabariam por gerar, em conjunto, uma sociedade abastada financeiramente.

Mas a noção de regulação dos mercados é muito mais antiga do que o próprio reino dos

Stuart´s, o que nos obriga a fazer um percurso histórico sobre as interferências governamentais sobre a economia, notadamente do ponto de vista jurídico. Ademais, para Hegel, a história do mundo se desenvolve segundo um plano racional, sendo que a filosofia da história nada mais é do que uma consequência direta desse plano racional. Marx, com sua visão econômica, entendia que as fases históricas, também dentro da racionalidade linear, eram evolutivas, passando do sistema feudal, ao capitalismo (primitivo e avançado), até chegar ao comunismo inexorável. Portanto, a história, segundo esses autores, é linear e evolutiva. Dessa forma, fica fácil: se quer saber o que vai acontecer no futuro é só entender um pouco do passado – ou, se quer entender o presente, saiba o passado.

Obviamente, que nem todos comungam da mesma idéia sobre linearidade racional progressiva da história. O alemão anti-Hegel, Schopenhauer, entendia que a vida (das

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pessoas) é feita de luta diária, na qual vivemos e morremos com armas na mão; assim, não se pode confiar somente no percurso da (livre) história para avançarmos (para onde?): a história é “destino” e repetição da mesma tragédia, em formas diferentes. Para Schopenhauer, não há linearidade nem consequências necessárias lógicas na história; apenas fatos (e porque não versões) soltos e repetitivos.

Como o Direito também se debruça sobre o tema da (força) da história – vide as escolas positivistas, exegéticas e, ainda, a universalidade atemporal (e acultural) dos Direitos Humanos – entendemos, por bem, fazer uma pequena viagem história sobre a matéria.

Assim, no prelúdio da história da humanidade, as leis de Eshunna23, datadas de 1930 a.c., já determinavam, justamente nos primeiros artigos, a interferência do poder real no domínio econômico para coibir altas dos preços de alimentos, na tentativa de estabilizar o custo de vida dos antigos povos da Babilônia. A garantia de pagamento mínimo por trabalho realizado, para cada profissão, também era contemplado pela legislação (estipulação de um salário mínimo)24. Quase trezentos anos depois, o Código de Hammurabi (1726 e 1686 ac.)25, a legislação mais famosa da antiga Mesopotâmia, também não era indiferente às interferências governamentais na economia, que entendia ser necessário para trazer a justiça na terra, (…), para que os fortes não ferissem os

fracos (…), e trouxesse esclarecimento à terra, (bem como) para assegurar o bem-estar

da humanidade. (…)26 dever-se-ia estabelecer, a exemplo das leis de Eshunna, uma forte regulamentação de preços e salários27. Só assim, Hammurabi, se auto referenciando, disse que deu a eles (o povo) um pouco da paz babilónica28. Dessa forma, no entendimento do legislador babilónico “...para que o forte não prejudique o

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mais fraco, a fim de proteger as viúvas e os órfãos, (…)(bem como) para falar de

justiça a toda a terra, para resolver todas as disputas e sanar todos os ferimentos (…)29 era necessária uma intervenção – nem que fosse regulatória – da economia.

No teocrático sistema jurídico hebreu, que se inicia praticamente com o Rei Davi (1050 ac), sucessor de Saul, e teve o seu apogeu – milenar - com o direito canónico da Idade das Trevas, enxertado o Novum Testamentum e as ideias cristãs, também tinha as suas regras e normas intervencionistas da economia. Assim, tal qual a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, no natimorto30 artigo 192 parágrafo 3, no qual vedava a cobrança de juros superior a 12% aa, no antigo testamento o princípio jurídico da proibição da usura não é muito divergente: “A teu irmão não emprestarás com juros,

nem dinheiro, nem comida, nem qualquer coisa que se empreste com juros”31. Porém, em ruptura a noção de universalidade da norma, ou seja, a norma deve ser aplicada a todos, indistintamente, o diploma legal hebreu-católico-cristão determina que “Ao

estranho emprestarás com juros, porém a teu irmão não emprestarás com juros; para

que o SENHOR teu Deus te abençoe em tudo que puseres a tua mão, na terra a qual vais a possuir”32 (sem grifo no original).

Não completamente destituído de razão, Max WEBER33 propõe que o capitalismo não é, por sí só, causador exclusivo da forte acumulação de renda verificada em algumas culturas ocidentais, mas que as religiões estruturadas no antigo testamento (in casu da obra em tela, o protestantismo e o calvinismo), contêm em seu ethos o germe da riqueza.

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todas as ordens superiores (normas jurídicas de cunho divino) era a igreja Católica Apostólica Romana34, na qual detinha a propriedade da maioria das terras cultiváveis, em forma de Feudos. Assim, a interferência era não só regulatória, mas também, direta com a produção dos bens de consumo.

Após o nefasto período do império da Santa Inquisição, o iluminismo-renascentista, estruturado na razão lógica absoluta, e universal, de Descartes (e de seu método) contamina todas as áreas do saber. O Direito, apesar de um certo atraso em relação às ciências exatas, não fica inerte ao neo-homocentrismo clássico grego filosófico: compete, através da razão pura encontrar o (melhor) Direito-puro a todas as nações; afinal, a racionalidade “encontra – ou descobre” a verdade universal, atemporal e acultural.

Dessa forma, em resposta a exaustão das guerras religiosas que assolavam o território europeu35, que não chegavam a lugar nenhum - afinal, não há vencidos ou vencedores em qualquer debate futebolístico ou religioso (quiçá político) – a paz foi reestabelecida com o jus-racional Tratado de Westfália (1648), certidão de nascimento dos Estados Modernos36. Assim, a filosofia jurídica da época, sedimentadas em nomes tais com

Niccolò Machiavelli (1469-1527), Jean Bodin (1529- 1596) e Hugo Grotius (1583- 1645), tendia a construir Estados fortes e centralizadores (Estados Absolutistas), laicos (sem a interferência religiosa) e soberanos. A idéia de dominação do mundo pelo Sacro Império Católico Romano fora demolida. A religião passou a ser individual e pessoal. Não competia ao governante tentar impor a sua religião aos seus súditos. Neste ínterim, há (praticamente) uma unanimidade sobre a interferência do Estado na vida pessoal

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religiosa: (quase) nenhuma37.

Enquanto o Rei Sol – Louis XIV – imperava absoluto na França, (quase) ninguém reclamava da sua monarquia intervencionista absoluta jurídico-económica. Afinal, nem ele mesmo sabia aonde terminava a sua figura e começava a do Estado38. Pelo menos ficou famosa a frase "L'État c'est moi" (O Estado sou eu), ápice máximo da intervenção do Estado em qualquer assunto e de qualquer forma. E, caso alguém se insurgisse poderia ser silenciado na masmorra, como aconteceu com Leonardo DiCaprio39. Enquanto isso, Colbert (1619-1683) ministro das finanças de Louis XIV, promovia a (re)estruturação do Estado Francês, nos moldes da monarquia absolutista mercantilista no qual aduzia que para um Estado se tornar rico, dever-se-ia controlar a balança comercial, isto é, a relação entre importação x exportação deveria ser positiva para a economia (poupança) do Estado.

A conta é fácil: quanto mais exporta e menos importa, mais rica se torna uma nação. Assim, a política econômica deveria girar no fomento das exportações, principalmente dos produtos de luxo, e restrições às importações. Qualquer tentativa da nova classe burguesa, ávida em acumular capital através dos seus “negocinhos” de importação e exportação, eram veementemente impedidos pela via burocrática-estatizante-engessante da política protecionista de Colbert.

Diz a lenda que o comerciante burguês francês Legendre, reclamando nos balcões alfandegários burocráticos franceses quando Colbert (1619-1683) lhe perguntou o que o Estado poderia fazer para ajuda-lo40, deu a resposta que entrou para a história: "laissez

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habilidosos, tanto na política quanto na administração da coisa pública. Começaram a gastar mais do que produziam e arrecadam. O déficit público, até mesmo com as tentativas do médico-economista Quesnay (1694-1774), que fez o mundo franco acreditar na única salvação via agricultura, tornou-se cada vez maior, a ponto de incomodar os iluministas-burgueses.

A Inglaterra, histórica desafeta e competidora, encanta o mundo com a máquina a vapor de Watt que, aliada com o acúmulo de capital originário do mercantilismo favorável (vide Tratado de Methuen, celebrado entre Portugal e Inglaterra, em 1703, também denominado de Tratado dos Panos e Vinhos) e, ainda, favorecida pela abundância de carvão, ferro e mão de obra barata originária do campo, faz eclodir a sua Revolução das Indústrias.

Agora, sim, entra em cena o escocês Adam Smith, repudiando a conta aritmética do francês Colbert, negando a horta de Quesnay, fortalecendo a teoria do laissez faire,

laissez passer, le monde va de lui-même42, só que estruturado nas modernas idéias iluministas da liberdade (plena de contratualização) e igualdade. Todos os homens – e mulheres e crianças também - são iguais e, por isso, têm a total liberdade de contratualizarem o que bem entenderem e da forma como desejarem. Assim, conforme Marx, a liberdade de contratualização, sedimentada pelo princípio da igualdade, atingiu a sociedade (trabalhadora) inglesa: os ex-camponeses cediam a força de trabalho nas indústrias, através de um contrato de trabalho, conforme a (livre) negociação entre as partes; afinal, todos eram livres e iguais.

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(contrato de trabalho) a força motriz por preços mais vantajosos do que os homens adultos (liberdade de contratar). Nunca se viu, no reino inglês, tamanha desigualdade social como nos tempos sedimentares da Revolução Industrial.

Em pouco tempo, e às custas de muitos acidentes de trabalho, bem como por movimentos trabalhistas não muito pacíficos43 diga-se, novamente, o Estado se viu “obrigado” a fazer interferências na ordem econômica. (Re)surgiam assim as normas trabalhistas, impositivas, protetoras, cientes da desigualdade fática entre as partes contratantes, impondo novamente limites às jornadas de trabalho e estipulando salários mínimos – com quase 4 mil anos de diferença entre as primeiras legislações babilônicas – aos trabalhadores ingleses.

Ao Estado francês restou apenas fazer a sua decapitadora-Revolução de 1789 em completo descontrole epilético-social44. A idéia universal de um (certo) Direito Humano, ou seja, de todos os homens (e mulheres e crianças), tornou-se papel com a Declaração de 26 de Agosto de 1789, assegurando a liberdade, igualdade (artigos 1º e 2º) e propriedade (artigo 17) como um direito inviolável, sagrado e natural (preâmbulo).

No emergente continente americano, George Washington promulgou a Declaração da

Independência, redigida pelo iluminista Thomas Jefferson, com mudanças introduzidas por Benjamin Franklin e Samuel Adams, embalados pelo gingle we are the people, na festiva data de 4 de julho 177645. Com uma colonização eminentemente judaica-protestante-iluminista-liberal a riqueza parecia mais dádiva de Deus; isto é, obviamente, até o Crack de 1929.

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com a sua teoria de como corrigir as falhas do mercado – as vezes a mão invisível tateia por buracos incertos… - provavelmente os comunistas do Kremlin teriam mais adeptos no país do Tio Sam. De qualquer forma, é inquestionável que a política do “emprego para tapar buracos”46 ajudou os países a saírem da recessão.

Porém, com a I Guerra Mundial e os problemas advindos da crise econômica de 1929, os Estados Unidos, em uma tentativa de solucionar os seus problemas internos, novamente com uma política intervencionista na economia-livre, adotou a denominada

beggar-thy-neighbour47 ao estabelecer, em Junho de 1930, a “Smoot-Hawley Tariff”48,

no qual elevou significativamente o nível dos tributos aduaneiros, com o fito específico de reduzir as importações, em clara retornada aos ditames de Colbert.

Dessa forma, o resultado em termos mundiais foi uma corrida interna de cada país para proteger o seu mercado, antes que o outro o fizesse desestimulando o comércio internacional e, com isso, agravando ainda mais a já enfraquecida economia internacional49. Alguns aduzem, inclusive, que a “semente do segundo conflito mundial, no Extremo Oriente e na Europa, foram semeadas pela assinatura da Pauta-Hawley por Hoover”. Dessa forma, percebe-se que quando os desnivelamentos das barreiras alfandegárias deslocaram-se para a relação norte-norte – isto é, Estados Unidos e Europa – as reações entre os atores internacionais provocaram consequências imediatas e drásticas50. Quando a razão acaba, a guerra surge fácil.

Nos anos finais da II Guerra Mundial os países que atingiam a supremacia bélica, notadamente França, Inglaterra, URSS e Estados Unidos desenvolveram políticas de reconstrução da Europa e Japão, bem como tentaram construir um modelo global de

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comércio para evitar o surgimento de novos conflitos armados. Com esses objetivos principais51, várias conferências foram realizadas, destacando-se as já citadas de Breton Woods52.

Assim, em New Hampshire, na cidade de Bretton Woods, no dia 01 de Julho de 1944, a convite do presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, 44 (quarenta e quatro) representantes de governo aceitaram o convite para, conjuntamente, proporem uma promoção internacional de estabilização econômica (leia-se: instituição da economia livre em escala mundial). Na cerimônia de abertura da Conferência, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Morgenthau, discursou sobre a "(…) criação de uma economia mundial dinâmica, na qual os povos de cada nação terão a possibilidade de realizar suas potencialidades em paz e de gozar mais dos frutos do progresso material, numa Terra benzida por riquezas naturais infinitas (…)"53.

A intervenção (Pública) na economia brasileira: um caso constitucional

No Brasil, com a sua revolução trabalhista-industrial54 promovida pelo simpatizante de Roosevelt bem como de Mussolini, Getúlio Vargas, já no primeiro mandato (1930-1954)55, abre mão de seus ideais em troca da Companhia Siderúgica Nacional. Por sorte, entra na guerra do lado certo56. Promove o Poder Constituinte que, em 1934 promulga a primeira Constituição intervencionista nas relações trabalhistas. A ordem econômica (e social) era prevista no Título IV, dos Artigos 115 ao 143, da referida Carta. Próprio dos regimes intervencionistas, fundamentado (sempre) nos princípios da Justiça para que

garantisse a todos existência digna, era garantida a liberdade económica57. Contudo, por motivo de interesse público, a União poderia monopolizar determinada indústria ou

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atividade econômica58.

A prática da usura deveria ser punida por lei59, devendo ao legislador infraconstitucional estipular lei para promover o fomento da economia popular, bem como promover o desenvolvimento do crédito e a nacionalização progressiva dos bancos de depósito. Igualmente, deveria providenciar sobre a nacionalização das empresas de seguros em todas as suas modalidades; bem como deveria constituir-se em sociedades brasileiras as estrangeiras que operavam no País60.

Ainda, em relação às interferências públicas na economia laboral, a Constituição de 1934 estipulava que a liberdade sindical e as associações profissionais deveriam ser reconhecidos de conformidade com a lei61. Ademais, o Estado deveria promover o amparo da produção e estabelecer as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País62. Foi feita a institucionalização da Justiça do Trabalho para dirimir questões entre empregadores e empregados63.

O médico-presidente oriundo das Alterosas, Juscelino Kubitschek de Oliveira (1901-1976), quando Presidente da Republica (1956-1961) promoveu o slogan “50 anos em 5”, com o plano de metas desenvolvimentista (da economia) até chegar à Brasília; foram os anos dourados. Na parte legislativa, a Constituição de 1946, no Título V – da Ordem Econônima e Social, o artigo 145 determinava ao Estado a obrigação de organizar uma ordem econômica conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de

iniciativa com a valorização do trabalho humano. Dessa forma, a lei infraconstitucional teve a incumbência de criar estabelecimentos de crédito especializado de amparo à

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lavoura e à pecuária64, bem como uma constitucionalização dos direitos trabalhistas e da previdência social65.

Dessa forma, a União detinha o poder de intervir no domínio econômico e monopolizar determinada indústria ou atividade. A intervenção deveria ter por base o interesse público e por limite os direitos fundamentais66.

Os cartéis e monopólios que tivessem por fim dominar os mercados, através da eliminação da concorrência, aumentando arbitrariamente os lucros, deveriam ser reprimidos por lei, evitando-se, dessa forma, o abuso do poder econômico67. A prática da usura também era vedada constitucionalmente68 na Carta de 1946.

Contudo, após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, com a famosa aclamação de forças ocultas69, o país mergulha em um período obscuro de direita-conservadora; porém, paradoxalmente, intervencionista na economia. Os melhores empregos eram justamente os (funcionários) públicos estabelecidos com as inúmeras Estatais e seus monopólios, garantidos por lei e pela força física dos anos de chumbo.

Na (re)democratização da década de 80 do século passado, o Estado brasileiro, impregnado de ares sociais, intervencionista, vai a Portugal buscar o saber do Constituinte de 1974 daquele país e, fascinado com a moderna teoria das normas programáticas sociais, formula a sua Constituição, na qual estabelece como objetivos fundamentais da (nossa) Republica Federativa70 a construção – por parte do Estado – de uma sociedade livre, justa e solidária; bem como o Estado deve garantir o desenvolvimento nacional e erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais71. Finalmente, é ainda um objetivo constitucional do

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Estado promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação72.

Assim, vários dispositivos constitucionais – institucionalização dos princípios superiores do ordenamento jurídico pátrio – de 1988 foram inseridos no texto da Carta, com o claro discurso intervencionista-social, dentro do Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, a saber: valorização do trabalho humano e da livre iniciativa73, que tem por fim assegurar a todos a existência digna (caput); a sedimentação do princípio da função social da propriedade74; defesa do consumidor75; defesa do meio ambiente76; redução das desigualdades regionais e sociais77; busca do pleno emprego78; tratamento diferenciado para as pequenas e micro empresas nacionais79.

De forma clara e expressa (e ainda não revogada), a Carta de 1988 determina ser o Estado um agente normativo e regulador da atividade econômica, na qual deve exercer

as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo determinante para o setor público e indicativo para o setor privado80.

Contudo, o Constituinte social-democrático de 1988 limita a atuação do Estado na exploração direta de atividade econômica somente quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo81. E, mesmo com esses limites constitucionais, prevê o monopólio estatal nas pesquisas e lavras das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos líquidos82; a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro83; a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos I e II (do artigo 177)84; o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no

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país85; e, finalmente, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados86.

Já a limitação dos juros a 12% aa. prevista no artigo 192 foi, conforme visto, foi revogado pela EC nº 29/2003.

Do Estado intervencionista econômico ao Estado Intervencionista ecológico

No retorno à história, o Homem começou a modificar o mundo em seu benefício há mais ou menos 12 mil anos. Desenvolveu a agricultura, pecuária e ferramentas. Não ficou mais completamente a mercê da natureza; modificou-a e retirou dela os insumos para produzir aquilo que desejava. No início, produzia os alimentos, abrigo (casa) e proteção (muros). Ainda sim, a força modificadora do habitat do homem não extrapolava capacidade restauradora do estado a quo da natureza; muito menos esgotava os recursos disponíveis. Quando muito, havia sempre um novo horizonte a ser conquistado.

Porém, notadamente após a segunda guerra mundial, fomentado por um sistema bi-polar87, alicerçado nos paradigmas de desejo/consumir, a indústria, utilizando-se de outro sistema dual, qual seja, produzir/vender, gerou um crescimento industrial em ritmo exponencial, que desalinhou um terceiro sistema: o ambiente.

Assim, verificam-se três sistemas interligados: (i) o consumidor; (ii) o produtor e, (iii) o ambiente. A questão da modernidade ambiental sedimenta-se em saber como interligar essas três constelações sem anular ou destruir cada um dos sistemas. O que se proporá para análise neste trabalho é, justamente, se há um possível papel do Estado Constitucional nesta (árdua) tarefa.

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Atualmente, a cadeia econômica capitalista sustenta-se no pilar de produzir para lucrar. Para isso, o consumo é fomentado de todas as formas; não só o necessário para o bem viver dos indivíduos, mas também para manter a roda da fortuna; ou seja, para a manutenção das empresas e, consequentemente, do próprio sistema capitalista. Assim, de forma simplista, mesmo que um carro esteja em perfeitas condições de uso, o consumidor é induzido a trocá-lo, quase todos os anos, porque a fábrica precisa continuar produzindo e vendendo, só para se manter88.

Porém, como consectário direto do sistema produção/consumo há os resíduos (indesejáveis) e, ainda, o esgotamento dos recursos naturais. Consequentemente, quando os resíduos e a degradação superam a capacidade regeneradora do sistema ecológico, opera-se um desnível insustentável ambiental que pode ocasionar a falência sistémica (de todos os sistemas). Jared Diamond denominou de eco-suicídio89 a prática de algumas sociedades se auto-destruirem através do colapso provocado no ambiente90.

Dessa forma, resta uma indagação ao homem ocidental pós-moderno: será que é incapaz de se auto-controlar ? Será que a caminhada capitalista necessariamente vai de encontro ao precipício, ou há como mudar o rumo da história? Adverte-se, ademais, que o problema atual não é só do mundo ocidental, mas de todo o planeta. Os danos ambientais vivenciados hodiernamente não se restringem apenas a uma localidade, um

locus específico, mas a todos que habitam a Terra. Haja visto o aquecimento ser global.

Afinal, qual pode ser a contribuição do Direito para a resolução desses problemas? Ficará apenas como uma disciplina dirigida, restrita a recorrer transferts paradigmáticos e conceituais das disciplinas dirigentes; estas sim, desenvolvedoras autônomas de

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teorias, teoremas, paradigmas e conceitos91?

Para alguns92, o Direito Ambiental-ecológico deve exprimir, em sua estrutura basilar, uma densificação do nível elevado do princípio de proteção ecológica93, no qual irradia-se em todos os irradia-sentidos e em todos os outros sistemas, inclusive jurídicos, com o escopo de frenagem, ou pelo menos desaceleração, do desgaste ambiental. É uma (tentativa) de construção do Estado-constitucional-ambiental94.

Assim, a atuação diretiva-programática-ecológica-intervencionista do direito deve ser sentida em três níveis: (i) na esfera anabólica, ou seja, o momento em que os materiais saem da esfera do natural e entram na esfera do social; (ii) na esfera catabólica, qual seja, o momento em que os materiais saem da tecnosfera e entram novamente na ecosfera e, também; (iii) na esfera logística, que opera-se quando os materiais95 são transportados e armazenados.

Portanto, se o consumo é fomentado pela indústria – e todo o seu aparato mercadológico, em um verdadeiro dirigismo empresarial – o Direito anabólico tem como paradigma centralizador a supressão e redução dos fluxos anabólicos de materiais, com vista à precaução e à prevenção das extinções antropogênicas. Já o Direito catabólico visa a redução e reorientação dos fluxos catabólicos de materiais, tendo como escopo a preservação do espaço.96

O Direito anabólico, assim, baseia-se nos princípios da precaução e prevenção. Lida diretamente com a retirada dos insumos do ambiente. Atua de forma co-ligada ao consumo: quanto mais consumo, mais produção e, consequentemente, maiores são os resíduos; quanto menos consumo, menor é a produção e, obviamente, menores são os

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resíduos. Ao Direito catabólico compete transformar os resíduos inúteis e nocivos em novas matérias-primas ou, pelo menos, em elementos não nocivos ao ambiente. A perspectiva do equilíbrio entre consumo/proteção ambiental gera o Direito metabólico97.

Em uma visão restrita e unilateral do ecologismo, promovido principalmente pelos adeptos do deep ecology, o ideal é impedir o consumo. Porém, ao se agir dessa forma agride-se frontalmente o sistema capitalista; o que, obviamente, haverá por parte do sistema económico repulsa de tal monta que as normas impeditivas sejam repelidas do organismo social. Da mesma maneira como foram várias normas jurídicas pragmáticas constitucionais económicas (vide a limitação dos juros em 12% a.a.).

Portanto, s.m.j, o Estado-constitucional-ambiental não deve negar o consumo; mas fornecer inputs ao sistema econômico para que este caminhe em direção ao mundo metabólico. A troca de informações dos sistemas ambiental e econômico deve ser feito não pela mão (cega) invisível do mercado, mas sim pela linha reta do Estado, no qual, através do Direito, indica qual o melhor mercado metabólico. E essa re-condução da economia dirigida pode operar por vários modos, entre eles: (i) via tributação98, (ii) restrição aos investimentos não sustentáveis (ou incentivos aos investimentos sustentáveis), (iii) sedimentação do princípio do poluidor-pagador99, (iv) fomento do princípio da educação ambiental100, (v) criação dos selos verdes com o incentivo ao consumo verde através das barreiras não tarifárias no comércio, inclusive internacional101, e, ainda, (vi) com a tipificação das condutas anti-ecológicas102.

Enfim, o Estado pode e deve intervir nos meios de produção, logística, armazenagem, consumo e resíduos, mesmo que seja de forma indireta, ao conduzir a economia a

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encontrar o seu estado metabólico.

Dessa forma, a intervenção Estatal é, atualmente, solicitada não (somente) por motivos de justiça econômica, na procura por um sistema (mais) justo entre os homens; mas, pelo simples instinto de sobrevivência da humanidade. O objeto (escopo) do Direito Ambiental é em prol do desenvolvimento sustentável: e não negar o desenvolvimento. O Direito deve proteger diretamente o ambiente para proteger indiretamente o homem (curiosamente, dele mesmo).

Conclusões

Pela Constituição Federal de 1988 o Estado deve intervir na economia. A própria bandeira nacional também é clara a respeito: ordem e progresso (econômico). A

quaestio é, como fará essa intervenção? De forma direta, como produtor, distribuidor (e/ou consumidor)? Ou, de forma indireta, como regulador, fiscalizador, incentivador? Ainda, ressurge a pergunta, notadamente após a crise de 2007: será que deve ser intervencionista para salvar bancos, ou seja, quando a política não visa interesses sociais, mas sim (e quase que exclusivamente) interesses privados-individualistas103?

Não sem razão, o ilustre representante do executivo brasileiro, em discurso na cidade de Gongoinhas - Paraná, disse, ao perceber que a verba pública para financiamento de casas populares era de valor muito aquém do necessário104, ipsis literis: “O pessoal lá

de cima sempre acha que dinheiro para pobre é gasto e para rico é investimento.”105

De qualquer forma, pela análise feita, sempre houve interferências, tanto direta quanto indireta, desde os tempos da Mesopotâmia áurea, por parte dos governantes na ordem econômica até os dias de hoje (com ou sem crise). Ao Poder Constituinte de 1988,

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acreditando nos preceitos da Constituição Dirigente, o qual poderia vincular todo o Poder Público (Legislador, Judiciário e Executivo) a seguir os caminhos para um Estado Social, diga-se mais interventor da economia, ficou uma certa frustração do inacabado. Posteriormente, a praxis foi justificada pelas (mais modernas) teorias sistémicas sociais, patrocinadas por Luhmann106, no qual adverte que a lei não pode ir contra a maré social107.

Porém, o Estado tem inúmeras formas de agir dentro (e fora) da economia. Uma norma constitucional limitando os juros bancários em qualquer patamar é, pela teoria

autopoética, impraticável. Contudo, fomentar a economia via tributação e incentivos fiscais é factível. Os tributaristas, desde os tempos de Nefertiti, já sabiam que há tributos fiscais e tributos extrafiscais.

Os primeiros têm como único e exclusivo objetivo a arrecadação de recursos – dinheiro – para o caixa do Estado. Aos segundos, tais como Imposto de Produtos Industrializados – IPI; Imposto de Importação e Exportação, etc108 – compete fomentar ou desestimular uma área da economia. Assim, têm a característica básica não da arrecadação simples, mas de controle da economia. Quando o Estado, percebendo uma certa dificuldade em um setor, tendo em vista uma crise por exemplo, pode abaixar a alíquota de IPI109. Quando se quer fomentar um setor fraco internamente, desestimulando a importação, é só aumentar a alíquota do Imposto de Exportação. Quando se quer reduzir o consumo de um determinado produto, eleva-se a aliquota do IPI e do Imposto de Importação e, assim por diante. As zonas aduaneiras também são outras formas de incrementar a economia em determinadas regiões. A exemplo da Zona Franca de Manaus que, via isenção

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tributária, praticamente “criou” a cidade de Manaus. As políticas (públicas) de crédito também são fortes aliadas do Poder Público como interventoras da economia; vide os Programa de Aceleração do Crescimento - PAC´s (eleitoreiros ou não).

É, dessa forma, que o Estado deve agir na esfera econômica: como operador e regulador do mercado – percebendo os inputs e fornecendo os outputs –; contudo, operador de uma posição privilegiada, tendo em vista ser o Poder Público (com todos as suas benesses operacionais-legais).

Enfim, o que se viu com a atual crise é uma ressuscitação acadêmica do antigo discurso da escola de Keynes. Porém, o Poder Público nunca deixou, e jamais deixará, de atuar na economia, pela sua própria estrutura arrecadatória e, via de consequência, de gastar os recursos. É condicio sine qua non do Estado; elemento intrínseco de sua natureza, o seu thelos. Ao estipular, através de suas políticas, quando, aonde e como arrecadar e gastar, já está operando no mercado. E assim deve ser. A mão invisível, sedenta de lucros – e assim também deve ser -, as vezes acaba pegando o dinheiro do bolso dos trabalhadores e consumidores. Dessa forma, compete ao Estado (tentar) fazer um pouco mais de justiça no – ainda – melhor sistema econômico já inventado: o capitalismo.

Porém, o que se busca no pós-moderno mundo hodierno é um keynes-ecológico. O Estado tem que ter forças suficientes para fundamentar e estruturar um dirigismo-ambiental. As incertezas do mercado livre, justamente por ser conduzido por uma mão invisível (ou melhor, que não enxerga o caminho por onde anda), coloca em risco toda a sociedade, acarretando em um descarrilamento na linha progressiva da histórica. Compete, portanto, ao Estado indicar a direção correta para que, com segurança

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ambiental, econômica e jurídica, a sociedade possa andar em trilhos certos e responsáveis da história da humanidade. E só um Estado dirigente/interveniente, com viés ambiental, poderá fazê-lo.

1FREUD, Sigmund. Das Unbehagen in der Kultur. Viena. 1929/30. Versão utilizada: O

Mal-estar nas Civilizações.

2 A teoria autopoiesis (Niklas Luhmann, Gunther Teubner, Helmulth Wilke) fundamenta-se na

poligonidade diferenciada da sociedade, como se a mesma fosse um grupo uniforme de vários sistemas, sem um centro único. Assim, há o sistema político, o econômico, o religioso, o científico e sucessivamente. Para Niklas Luhmann a intercomunicação desses sistemas, conjuntamente, em forma binária dos inputs e outputs, compõem o tecido social, como se fosse uma célula (biológica) primária em funcionamento. Portanto, para o conceituado autor alemão, os vários sistemas interligados compõem a sociedade, sem centro(s) hierárquico(s). Mas (curiosamente) , o Direito não faz parte desse polígono. Em linguagem metafórica, compete ao Direito – apenas - a função de óleo lubrificante da engrenagem social, que tem como função precípua que os outros sistemas possam co-funcionarem. As críticas à teoria de Luhmann, que exclui o Direito enquanto sistema autônomo, heterovinculador sem paradigmas próprios, podem ser verificada em ALBERGARIA, Bruno. De Luhmann a Aristóteles, evolução ou involução?. Publicado no Caderno Direito e Justiça. Jornal Estado de Minas. 1º de Dezembro. Belo Horizonte. 2008.

3 Em 1988, o então Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, o Deputado Constituinte

Ulisses Guimarães, fez um discurso histórico denominando o texto que estava sendo promulgado por Constituição cidadã. Fazia referência a participação democrática na sua elaboração bem como o fortalecimento dos Direitos Fundamentais em seu texto. São as palavras, ipsis literis: “Repito: essa será a Constituição cidadã, porque recuperará como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria” (sem grifo no original). A expressão é muito utilizada na constelação jurídica.

4 Obviamente que a unanimidade em torno do mundo (totalmente) liberal nunca existiu. Mesmo

após a queda do muro de Berlim, e uma consequente queda das forças teoréticas intervencionistas-sociais, alguns autores tais como Luiz Gonzaga Belluzo, Paulo Nogueira Batista, Milton Santos, Carmem Lúcia Antunes Rocha, Paulo Bonavides, Fábio Konder Comparato, Chesnais, Paul Hirst, J.J. Gomes Canotilho, Antonio Enrique Pérez Luño, Boaventura de Souza Santos, Bourdieu, Chomsky, Stiglitz, Thompson, entrincheirados em um verdadeiros bunkers, defendiam (um certo) Estado-social intervencionista.

5 Entre 1995 e 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso era frequentemente

acusado de ter dito "esqueçam o que escrevi". Apesar de FHC negar a frase, a versão continua lhe sendo atribuída.

6 faz-se aqui uma referencia direta a obra de FUKUYAMA, Francis. The End of History and the Last Man, 1992.

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Enclausurando a Constituição? Entre o paradoxo da Democracia, a Capacidade Reflexiva da Constituição e a sua Força Normativa. In Ciências Jurídicas: Civilisticas; Comparatísticas; Comunitárias; Criminais; Economicas: Empresariais; Filosóficas; Históricas; Políticas; Processuais. Coimbra: Almedina, 2005.

8 A terminologia mais aceita nos meios académicos é a empregada por Maria Helena Diniz na

sua obra Norma Constitucional e Seus Efeitos, Ed. Saraiva, 1992, ou seja, normas supereficazes ou de eficácia absoluta. Contudo, nos meios forenses a terminologia mais consagrada é a de normas petreas.

9 CANOTILHO, J.J. Gomes, Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador. Contributo

para a Compreensão das Normas Constitucionais Programáticas. Coimbra: Coimbra Editora, 2º edição, 2001.

10 CANOTILHO, J.J. Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Coimbra:

Almedina, 7ª edição, 2004.

11 Mais precisamente a EC da Reeleição (nº 16 de 1997). Ver melhor em ALBERGARIA,

Bruno. Reeleição: exercício democrático ou golpe branco de Estado? In Fórum Administrativo – Direito Público. Vol. 86, ano 8, Abril, 2008, págs. 51 a 53, Editora Forum.

12 Ilustrativos são os relato do Nobel e ex primeiro-vice-precidente e economista principal do

Banco Mundial, STIGLITZ, Joseph E. In. Globalization and its Discontents, 2002.

13 A quantia certa paga pelos governos (leia-se, tributos pagos pelos contribuintes) para se evitar um mal maior não pode ser precisada até o momento. Porém, alguns números são conhecidos: o banco central dos EUA, o Federal Reserve, nacionalizou a seguradora AIG ao comprar 79,9% de seu capita por um crédito de US$ 85 bilhões; O Tesouro dos EUA anunciaram a criação de um plano de cerca de US$ 700 bilhões para comprar os títulos hipotecários que ameaçavam os bancos em crise, apesar da negativa do Senado em aprovar o pacote; O FED injetou 20 bilhões de dólares no sistema financeiro para aumentar a liquidez no começo da crise porém, logo após, percebendo que a quantia era ínfima, anunciou o valor de 450 bilhões de dólares.

14 Palavras de George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, ao sancionar a lei que permitia

colocar o seu plano salvador em vigor.

15 Os atuais programas públicos de socorro às empresas não podem ser considerados como uma

simples estatização. Aliás, a falta de definições claras e precisas dos governos mundiais, notadamente o norte-americano, tem gerado severas críticas ao modelo adotado, justamente por não se saber, até o momento, qual é (ou será) o controle estatal (ou não) as empresas socorridas, apesar dos altos recursos financeiros injetados.

16 São as palavras, ipsis literis, do discurso do presidente norte americano Barak Obama, em 1º

de Junho de 2009, para justificar as intervenções estatais na General Motors: “I recognize that

today's news carries a particular importance because it's not just any company we're talking about -- it's GM. It's a company that's not only been a source of income, but a source of pride for generations of autoworkers and generations of Americans

17 Sobre as implicações políticas, ver melhor no interessante o artigo “Courting Bankruptcy:

Why Obama's GM-Chrysler plan is making conservatives so happy”, da lavra de Christopher Beam, de 30 de Março de 2009, na Slate Magazine.

18 A reação à ação governamental as empresas automobilísticas pode ser sentida no artigo Let Detroit Go Bankrupt de autoria de Mitt Romney, publicado no The New York Times, em 18 de Novembro de 2008.

19 John Maynard Keynes nasceu em 1883 e faleceu em 1946. Contudo, a referência da morte de Keynes utilizada neste artigo refere-se ao ostracismo ideológica da escola keynesiana, vivenciado na década de 90 do século passado tendo em vista que a economia nas urbes globais metropolitanas nem queriam ouvir falar no seu dirigismo

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estatal.

20 Inicialmente, Keynes foi injustamente acusado de ser contra o capitalismo quando defendeu a

intervenção estatal nos casos de “falha do mercado”. Em resposta, Keynes foi categorico, com as venias, para a trancrição “Nevertheless, a time may be coming when we shall get clearer than at present as to when we are talking about capitalism as an efficient or inefficient technique, and when we are talking about it as desirable or objectionable in itself. For my part I think that capitalism, wisely managed, can probably be made more efficient for attaining economic ends than any alternative system yet in sight, but that in itself it is in many ways extremely objectionable. Our problem is to work out a social organisation which shall be as efficient as possible without offending our notions of a satisfactory way of life”. The End of laissez-faire, 1926.

21 A afirmação pode se encontrada em MARKIN, N. Gregory, Principles of Economics, Second

Edition, 2001, dentre tantos outros manuais de Economia.

22 Seguem os exemplos no original de Adam Smith.

23 O que se entende por leis de Eshunna é uma compilação jurídica a partir de duas placas de

argila, duplicadas, que contem praticamente o mesmo texto com cerca de 60 artigos-parágrafos, encontradas em Tell Abu Harmal, sul de Bagdá no Iraque, em 1945 e em 1947.

24 Ex vi, como exemplo, transcrevem-se os “Art. 7: 1 sat de cevada (é) o salário de um ceifador. Se (o pagamento for em) prata: 12 SE é o seu salário.

Art. 8: 1 sut de cevada (é) o salário de um joeireiro

25 O Código de Hammurabi é um bloco monolítico – estela - de pedra com 2,5 m de altura, 1,60

metro de circunferência na parte superior e 1,90 na base. A legislação é abrangente: nas 46 colunas contem 281 leis em 3.600 linhas, tudo em escrita cuneiforme, com numeração que vai até 282 (mas a cláusula 13 foi excluída por superstições da época), com matéria da alçada dos nossos códigos comercial, penal e civil. Foi encontrado na cidade de Susa, Iraque, em 1902, e atualmente pode ser visto no museu do Louvre, em Paris.

26 Preambulo do Código de Hammurabi

27 Artigos 241 ao 277 do Código de Hammurabi.

28 Preâmbulo do Código de Hammurabi. 29 Epílogo do Código de Hammurabi

30 A norma constitucional do parágrafo 3, do artigo 192 da CFR/88, no qual previa a limitação dos juros em 12%aa. foi considerada norma programática de eficácia limitada, isto é, não auto aplicável pelo Supremo Tribunal Federal (ADIN 4-7/600); portanto, não tinha eficácia no mundo jurídico. E, antes mesmo que o Congresso Nacional promulgasse uma possível legislação infraconstitucional regulando-a, a casa legislativa resolveu proceder uma Emenda Constitucional (nº 40, de 29 de Maio de 2003), retirando-a do texto da Magna Carta. Por isso, recebe aqui a terminologia natimorta, tendo em vista que já nasceu morta na cosmologia jurídica pátria.

31 Deuteronômio 23:19 32 Deuteronômio 23:20

33 WEBER, Max, Die Protestantsche Ethik Und Der Geistz des Kapitalismuns. In: Archiv fur

Sozialwissenschaft und Sozialpolitik. Tubinger, 1904/5. Vols. XX e XXI (versão utilizada: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo).

34 Ver a classificação das leis de São Tomaz de Aquino (1225-1274) na Summa Theologiae no

qual estabelecia a (i) Lei Natural, revelada por Deus ao homem, através da concessão de sua inteligência, o que deve e o que não se deve fazer. Tem, como principal fonte as palavras (oficiais) de Deus: os Dez Mandamentos (antigo testamento), novo testamento, as interpretações da Bíblia (monopólio da Igreja) bem como as Leis oriundas da Igreja (Direito

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Canônico); e, (ii) a Lei Positiva, feita pelos homens (nobreza e senhores feudais).

35 Notadamente a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

36 Afirmativa encontrada, dentre tantos outros, em CANOTILHO, J.J. Gomes, Direito

Constitucional e Teoria da Constituição, Coimbra: Almedina, 7ª edição, 2004.

37 A liberdade religiosa é, até hoje, motivo de acalorados debates éticos-jurídicos. Ex vi o

conflito (de princípios) entre liberdade x transfusão de sangue (principalmente em crianças e em pessoas inconscientes que não podem expressar (conscientemente – sic, sic, sic) a vontade. Ou ainda, em religiões fanáticas tais como do pastor-reverendo Jim Jones que levou mais de 900 pessoas a suicidaram tomando veneno na Guiana, em 1978 ou ainda o caso de David Koresh em Waco, em 1993, no Texas-EUA, no qual levou mais de 70 pessoas a morte depois do confronto com a polícia e agentes federais. Ou seja, em alguns casos, o Estado (deve) age(ir) diretamente na liberdade religiosa.

38 É comumente creditado a Luis XIV a referida frase. Se foi ou não o criador da mitológica

expressão não se sabe, porém, assim com aconteceu a FHC, a frase “caiu-lhe como uma luva”.

39 Direito e literatura & Direito e Cinema, por que não? A referência ao ator Leonardo DiCaprio

é sobre o filme The Man In The Iron Mask, da Fox Home Entertainment EUA, 1998, que versa justamente sobre o Rei Luis XIV da França e a facilidade com que um cidadão poderia ir para a masmorra.

40 Que faut-il faire pour vous aider?

41 Tradução livre: "deixai fazer, deixai ir, deixar passar”. A frase é atribuída contra a política

econômica Colbertista. Porém, a burguesia francesa queria comprar e vender livremente (deixai

ir, deixar passar a mercadoria).

42 Para fazer justiça, Quesnay também era adepto da política do deixa fazer, deixa passar, o

mundo caminha por si próprio.

43 Mais precisamente os movimentos Ludistas, Cartistas e o surgimento das Trade-unions. 44 Expressão encontrada em CASTANHEIRA NEVES para designar a ensanguentada

Revolução.

45 Faz-se aqui uma paródia do preâmbulo da Constituição Norte-Americana e o thiller We are the World, de Michell Jackson. O texto correto do preâmbulo da Carta Magna de 1776, no original, é: “We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America.”

46 A política economia de Keynes, encapitulada por Franklin D. Roosevelt, defendia que era

melhor o Estado empregar trabalhadores para fazerem buracos e depois taparem buracos, o que fazia com que o dinheiro circulasse, base angular do capitalismo, do que manter os trabalhadores desempregados e o governo com dinheiro em caixa.

47 Em tradução literal “arruinar o vizinho”. Assim, a expressão pode ser definida como :

“Economic measures taken by one country to improve its domestic economic conditions (normally to reduce unemployment) which have adverse effects on other economies. A country may increase domestic employment by increasing exports or reducing imports by, for example, devaluing its currency or applying tariffs, quotas, or export subsidies. The benefit which it attains is at the expense of some other country which experiences lower exports or increased imports and a consequent lower level of employment. Such a country may then be forced to retaliate with a similar measure”. Gary L.Gastineau. First Edition. Swiss Bank Corporation. 1999. Apub. In. AmexDictionary. Disponível em www.amex.com. Extraído em 26 de Abril de 08. Em tradução livre: “Medidas econômicas adotadas por um país para melhorar as suas condições económicas internas (normalmente para reduzir o desemprego) e que tenham efeitos adversos sobre outras economias. Um país pode aumentar o emprego interno através do

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aumento ou a redução das importações pelas exportações, por exemplo, desvalorizar a sua moeda ou aplicar tarifas, quotas, ou de subsídios à exportação. A vantagem é que se atinja, em detrimento dos outros países que algumas experiências menor aumento das importações ou exportações e, consequentemente, uma menor nível de emprego. Tal país pode, então, ser forçado a retaliar com uma medida similar”

48 O ato foi iniciado pelo senador Reed Smoot e Willis C. Hawley, daí o nome “Smoot-Hawley”. Aliado aos agricultores norte-americanos que reclamavam da concorrência internacional, no qual “dificilmente os EUA poderiam competir em relação aos preços praticados por outros países” foi implementado uma política de aumento das tarifas alfandegárias em mais de 20 mil produtos. Apesar de ser associada ao agravamento da depressão económica (como p. ex. afirma Pedro Infante Mota) muito se discute se efetivamente causou ou não melhorias para os agricultores ou se agravou a crise interna, extrapolando-a para outros países. O certo é que desencadeou um processo global de aumento tarifário protecionista.

O'Brien, Anthony. "Smoot-Hawley Tariff". EH.Net Encyclopedia, edited by Robert Whaples. August 15, 2001. URL http://eh.net/encyclopedia/article/obrien.hawley-smoot.tariff extraido em 26 de Abril de 2008. V. tb. MOTA, Pedro Infante. O Sistema GATT/OMC. Introdução Histórica e Princípios Fundamentais. Coimbra: Almedina. 2005. p. 17; DI SENA Jr., Roberto. A Clausula Social na OMC. Curitiba: Juruá. 2005. p. 39.

49 COOPER, Richard N. Trade Policy as Foreign Policy. In. U.S. Trade Policies in a Changing

World Economy. Robert M. Stern. Ed., The Massachusetts Institute of Technology Press. 1988. Pp. 291-292. Cf. Apud. MOTA, Pedro Infante. O Sistema GATT/OMC. Introdução Histórica e Princípios Fundamentais. Coimbra: Almedina. 2005. p. 18

50 Cf. MOTA, Pedro Infante. O Sistema GATT/OMC. Introdução Histórica e Princípios Fundamentais. Coimbra: Almedina. 2005. p. 18. V. tb. DI SENA Jr., Roberto. A Clausula Social na OMC. Curitiba: Juruá. 2005. p. 40. Não se quer aqui fazer um reducionismo simplista – e incompleto - dos motivos da II Grande Guerra; mas, fato é que os motivos econômicos, agravados pelas políticas de proteção do mercado interno, via barreiras alfandegárias, foram um dos fatores que contribuíram para a eclosão da referida guerra.

51 Vários autores insurgem-se contra a história oficial, delatando outros objetivos impostos por

Bretton Woods, dentre os quais pode-se citar CHOMSKY, Noam. O Que Tio Sam realmente quer? 2. ed. Brasília: UNB, 1999; CHOMSKY, Noam O lucro ou as pessoas? Neoliberalismo e ordem global. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002; BOURDIEU, Pierre. La esencia del

neoliberalismo. Disponível em

http://www.analitica.com.br/biblioteca/bourdieu/neoliberalismo.asp.; BOURDIEU, Pierre. A demissão do Estado. In: BOURDIEU, Pierre. (coord.) A Miséria do Mundo. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. Até mesmo o ex-presidente do Banco Mundial e prémio Nobel Joseph Stiglitz faz severas críticas ao “Sistema Bretton Woods” In. STIGLITZ, Joseph. Globalização a grande desilusão. Lisboa: Terramar. 2004.

52 Cita-se, ainda, Dumbart Oaks (1944), Ialta (1945), São Francisco (1945), Potsdam (1945). In. DI SENA Jr., Roberto. A Clausula Social na OMC. Curitiba: Juruá. 2005. p. 41.

53 Ipsis literis: “We are to concern ourselves here with essential steps in the creation of a

dynamic world economy in which the people of every nation will be able to realize their potentialities in peace; will be able, through their industry, their inventiveness, their thrift, to raise their own standards of living and enjoy, increasingly, the fruits of material progress on an earth infinitely blessed with natural riches. This is the indispensable cornerstone of freedom

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and security. All else must be built upon this. For freedom of opportunity is the foundation for all other freedoms”. Discurso Inaugural proferido por Henry Morgenthau, Jr. da Seção do Plenário, em 1º de Julho de 1944.

54 A Consolidação as Leis Trabalhistas – CLT foi promulgada por Getúlio Vargas em 1943. 55 Getúlio Vargas volta a ocupar o cargo de Presidente da República em 1951 a 1954.

56 Faz-se aqui essa afirmativa tendo em vista dois pontos: (i) pelo lado pragmático, porque

aliou-se aos vencedores; (ii) pelo lado jus-filosófico, porque indubitavelmente o nazi-fascimo não é a melhor opção, haja visto os horrores do Holocausto.

57 Artigo 115 da Constituição de 1934. 58 Artigo 116 da Constituição de 1934.

59 Parágrafo único do artigo 117 da Constituição de 1934. 60 Artigo 117 da Constituição de 1934. 61 Artigo 120 da Constituição de 1934. 62 Artigo 121 da Constituição de 1934. 63 Artigo 122 da Constituição de 1934. 64 Artigo 150 da Constituição de 1946. 65 Artigo 157 da Constituição de 1946. 66 Artigo 146 da Constituição de 1946. 67 Artigo 148 da Constituição de 1946. 68 Artigo 154 da Constituição de 1946.

69 Jânio Quadros alegou, após pouco mais de seis meses de governo, em 1961, “forças ocultas”

para pedir a sua renúncia do Posto de Chefe do Executivo.

70 Artigo 3, inciso I. 71 Artigo 3, incisos II e III. 72 Artigo 3, inciso IV. 73 Caput do Artigo 170.

74 Artigo 170, inciso III. Notar, ainda, a política agrícola e fundiária e da reforma agrária,

prevista no Capítulo III, no qual estabelece, no artigo 184, a competência da União desapropriar, por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo a sua função social.

75 Inciso V, do artigo 170. 76 Inciso VI, do artigo 170. 77 Inciso VII, do artigo 170. 78 Inciso VIII, artigo 170.

79 Inciso IX, do artigo 170 e artigo 179. 80 Artigo 174, caput.

81 Artigo 173.

82 Inciso I, do artigo 177. 83 Inciso II, do artigo 177. 84 Inciso III, do artigo 177. 85 Inciso IV, do artigo 177. 86 Inciso V, do Artigo 177.

87 A referência bi-polar é, com o perdão do trocadilho, dupla: (i) ironicamente, no sentido das psiques com o distúrbio do mesmo nome e, (ii) o conceito autopoético de Nikolas Luhmann, conforme já visto.

88 O exemplo automotivo é retirado de Iacocca: An Autobiography, by Lee Iacocca And Willian Novak, Bantam Book,1984.

89 Collapse: How Societies Choose to Fail or Survive, Jared Diamond, Penguin Books, Londres, 2006.

Referências

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