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Relação entre saliência dos papéis e satisfação com os papéis de vida : estudo com uma amostra de adultos trabalhadores emigrantes

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO ENTRE SALIÊNCIA DOS PAPÉIS E SATISFAÇÃO COM OS PAPÉIS DE VIDA: ESTUDO COM UMA AMOSTRA DE ADULTOS

TRABALHADORES EMIGRANTES

Joana Mafalda Guerra Archer de Queirós

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO ENTRE SALIÊNCIA DOS PAPÉIS E SATISFAÇÃO COM OS PAPÉIS DE VIDA: ESTUDO COM UMA AMOSTRA DE ADULTOS

TRABALHADORES EMIGRANTES

Joana Mafalda Guerra Archer de Queirós

Dissertação orientada pela Doutora Rosário Lima

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações

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Agradecimentos

Este espaço é dedicado a prestar um pequeno agradecimento pela grande diferença e pelo contributo que todos tiveram na realização desta dissertação.

À Professora Rosário Lima, pela sua incansável orientação e disponibilidade, ao longo deste projeto.

Á Professora Ana Sousa Ferreira, por todo o apoio e disponibilidade na análise estatística dos resultados.

Aos meus pais e à minha irmã Catarina, por serem os maiores alicerces do mundo! sinto eternamente saudades vossas e feliz porque sei que vos consegui dar mais um orgulho, e tudo o que faço é para vos orgulhar e agradecer tudo o que fizeram e fazem por mim.

Ao André, meu porto de abrigo, aos teus pais, e aos teus irmãos! São a melhor família que me podia ter acolhido. André por nunca me deixares desistir, por estares mais uma vez ao meu lado em mais uma etapa e por seres o melhor do mundo.

Aos meus amigos de Macau, por toda a amizade e carinho. Por me mostrarem que a distância só importa nos mapas. Em especial à Carolina, à Inês, à Magda, à Maria, ao Tomás, ao Rui, à Vitória e à Zélia, que me deram toda a força necessária para concluir a tese.

Às minhas primeiras amigas em Lisboa. Alexandra, encaixamos as duas tão bem como duas peças que foram feitas para serem amigas. Obrigada por toda a compreensão, carinho e todas as conversas. Alícia, amiga e companheira da faculdade. E Zizi, a maneira como vês as coisas vai sempre ser um encanto aos meus olhos.

Às minhas amigas da faculdade, que me acompanharam. Patrícia, minha companheira desde o primeiro dia, sempre disponível a dar a força que muitas vezes precisava, tanto dentro como fora da faculdade, foste a primeira família que me acolheu nesta terra tão estranha para mim, estarei eternamente grata. Adriana, Catarina. Vocês fazem não só a faculdade melhor como o mundo melhor. Inês “Juntas espalhamos magia por toda a parte”, obrigada por não deixares desvanecer a magia, e por teres tanto carinho por mim. E Rita, não há palavras para agradecer o apoio que me deste na realização desta tese. Juntas fomos mesmo mais fortes.

Ao Diogo, à Mariana e à Tatiana o vosso carinho foi sempre sentido no apoio da realização desta tese.

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Resumo

Apesar da atividade profissional continuar a ser considerada o papel central na vida dos indivíduos, as organizações devem ter em conta a conciliação desta atividade com o desempenho de outros papéis de vida igualmente relevantes para o bem-estar dos seus colaboradores. A par da importância atribuída aos diferentes papéis de vida, destaca-se igualmente a satisfação com que os indivíduos os desempenham e, consequentemente, o contributo que estes podem ter no nível de satisfação com a vida em geral. A presente investigação tem como objetivo estudar a relação, entre saliência dos papéis (estudo, trabalho, serviços à comunidade, casa e tempos livres) e satisfação com os papéis de vida (profissional, familiar, lazer), numa amostra de 106 trabalhadores emigrantes portugueses. Para a recolha dos dados, utilizaram-se o Inventário sobre a Saliência das Atividades e a Escala de Satisfação com os Papéis de Vida, tendo os resultados obtidos confirmado parcialmente as hipóteses de investigação inicialmente formuladas. Confirma-se que é o papel de trabalhador o mais importante para a amostra em estudo, não se revelando como prevista a saliência do papel casa. Verificou-se, igualmente, a relação entre a importância atribuída a um papel e a satisfação obtida com o seu desempenho, bem como diferenças entre homens e mulheres na saliência dos papéis e na satisfação com os papéis profissional, familiar e de lazer. No final, apresentam-se ainda as limitações do presente estudo, e sugestões para futuras investigações

Palavras Chave: carreira sem fronteiras, emigração, saliência dos papéis, satisfação com os papéis de vida.

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Abstract

Although occupational activity continues to be considered the central role in individuals' lives, organizations must take into account the conciliation of this activity with the performance of other life roles equally relevant to the well-being of their employees. In addition to the importance attributed to the different roles of life it is important the satisfaction with which individuals perform them and, consequently, the contribution that these can have in the level of satisfaction with life in general. The present research aims to study the relationship between roles salience (study, work, community services, home and leisure) and satisfaction with life roles (occupational, family, leisure) in a sample of 106 portuguese emigrant workers. For data collection, were used the Salience Inventory and the Life Roles Satisfaction Scale, and the results obtained partially confirmed the research hypotheses initially formulated. It was confirmed that the worker role is the most important for the participants, not revealing as predicted the salience of the home role. It was also verified the relationship between the importance attributed to a role and the satisfaction obtained with its performance, as well as differences between men and women in the saliency of roles and satisfaction with occupational, family and leisure roles. Finally, limitations of the present study and suggestions for future investigations are presented.

Keywords: boundaryless career; emigration; roles salience; life roles satisfaction.

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ÍNDICE Resumo ... iv Abstract ... v I.INTRODUÇÃO ... 1 II.ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 2

2.1 Emigração de Portugueses para Macau ... 2

2.2 Carreira sem fronteiras ... 4

2.3 Saliência dos Papéis ... 6

2.4 Satisfação com os papéis de vida ... 9

2.5 Relação entre Saliência dos Papéis e Satisfação com os Papéis de Vida ... 13

III. MÉTODO ... 15

3.1. Participantes ... 15

3.2. Instrumentos ... 15

3.2.1. Inventário sobre a Saliência das Atividades ... 15

3.2.2. Escala de Satisfação com os Papéis de Vida ... 17

3.3. Procedimento ... 18

IV. RESULTADOS ... 18

4.1 Análise Fatorial ... 19

4.2 Análises Descritiva e da Precisão ... 19

4.3 Análise Correlacional ... 21

4.4 Análise Comparativa ... 23

V. DISCUSSÃO ... 26

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 29 ANEXO...CD-ROM

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Análise fatorial exploratória, usando o método das componentes principais com rotação varimax da ESPV ... 19 Quadro 2. Médias, Desvios-padrão e Coeficientes de Precisão das escalas do ISA e da ESPV ... 21 Quadro 3. Matriz de Intercorrelações entre ISA (Escalas de Participação e Adesão) e a ESPV ... 23 Quadro 4. Resultados do Teste de Friedman relativos ao ISA (escala de participação e escala de adesão) ... 24 Quadro 5. Comparação de resultados entre sexos e em função do tempo de emigração em relação às Escalas Participação e Adesão do ISA...25 Quadro 6. Comparação de resultados entre sexos e em função do tempo de emigração em relação à Satisfação Profissional, à Satisfação Familiar e à Satisfação com o Lazer ... 25

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I.INTRODUÇÃO

A saliência das atividades reflete a importância e o valor que as pessoas atribuem aos vários papéis desempenhados ao longo da vida, sendo um aspeto central da saliência dos papéis a influência na forma como os indivíduos exercem a sua profissão, e cumprem as suas responsabilidades em contexto organizacional. Contudo, apesar da atividade profissional continuar a ser considerada o papel central na vida dos indivíduos, as organizações devem ter em conta a conciliação desta atividade com o desempenho de outros papéis de vida igualmente relevantes para o bem-estar dos seus colaboradores. Por outro lado, a par da importância atribuída aos diferentes papéis de vida, destaca-se igualmente a satisfação com que os indivíduos os desempenham e, consequentemente, o contributo que estes podem ter no nível de satisfação com a vida em geral. Torna-se, assim, estrategicamente importante que as organizações invistam na promoção da saliência e da satisfação das atividades desempenhadas pelos trabalhadores, bem como na redução do stresse originado por outros papéis que não o trabalho (Lima, Cruz & Rafael, 2014), evitando o conflito entre papéis, e as implicações deste para o bem-estar dos indivíduos. Tal traduz-se numa gestão eficaz dos diferentes papéis que são desempenhados pelos trabalhadores, uma medida, entre outras, que pode contribuir para as organizações manterem e valorizarem os trabalhadores mais capazes, e que evidenciam um maior potencial de desenvolvimento e de constante adaptação às solicitações que lhes são feitas (Duarte, 2006).

Nos últimos anos tem havido um reconhecimento crescente da importância dos movimentos migratórios de profissionais altamente qualificados, que frequentemente têm necessidade de procurar oferta de emprego no exterior (Salt, 1997), e de se adaptarem a um novo contexto, dando continuidade ao desempenho dos diferentes papéis de vida. O crescente fenómeno migratório, no cenário contemporâneo, origina diversas repercussões de âmbito social, económico e familiar dos sistemas envolvidos, sendo que a emigração constitui uma transição de vida profunda (Levitt, Lane, & Levitt, 2005).

Estudos sobre emigração, têm-se concentrado em compreender e prever a adaptação e ajustamento à cultura (Berry, 1997; 2001; Phinney, Horenczyk, Liebkind, & Vedder, 2001), e revelam que os emigrantes apresentam maior satisfação com a vida em geral, mas um nível de satisfação conjugal mais baixo (Moreira, 2016). No entanto, a vivência desta fase de transição, como sejam a mudança favorável ao nível da estabilidade financeira alcançada, a necessidade de resolver problemas em conjunto e, ainda, a reduzida rede social, parecem ter um impacto benéfico na relação

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conjugal, nomeadamente ao nível da intimidade e conflitos (Cunha, 2014). Por outro lado, a identificação com o país anfitrião pode ajudar os emigrantes a adaptarem-se com sucesso às suas novas vidas. Níveis positivos de identificação com o país anfitrião revelaram níveis mais elevados de satisfação com a vida dos emigrantes (Leite, Cardoso, Marques e Morais, 2016), e a associação a uma positiva autoestima (Phinney, Cantu e Kurtz, 1997), satisfação com a vida (Angelini, Casi e Corazzini, 2014), e condições de vida positivas (Nesdale, 2002, Walters, Phythian e Anisef, 2007). A presente investigação tem como objetivo estudar a saliência dos papéis e a satisfação com os papéis de vida numa amostra de trabalhadores emigrantes portugueses que residem na Região Administrativa Especial de Macau. Mais especificamente, tem-se como objetivos, identificar a importância atribuída aos papéis Estudo, Trabalho, Serviços à Comunidade, Casa e Tempos Livres, identificar o nível de satisfação com os papéis de vida familiar, profissional e de lazer, e estudar a relação entre as duas variáveis em estudo. A sua estrutura contempla o enquadramento teórico (pesquisa sobre as variáveis em estudo, de modo a fundamentar as hipóteses de investigação formuladas), o método (descrição da amostra, dos instrumentos de medida utilizados, e do procedimento adotado), e a apresentação e análise dos resultados obtidos. A par das conclusões é, ainda, feita referência às limitações do estudo, e sugestões para futuras investigações.

II.ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1 Emigração de Portugueses para Macau

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, hoje em dia existem mais pessoas em movimento do que em qualquer outro período da história da humanidade. Com os modernos meios de transportes e as telecomunicações que existem atualmente, mais pessoas procuram uma possibilidade de migrar (Branco, 2015), sendo os movimentos migratórios (emigração e imigração) cada vez mais uma realidade do mundo de hoje. Se um crescimento económico fraco, associado ao aumento do desemprego, poderá́ gerar mais emigração e menos imigração, em contrapartida, um crescimento forte levará a menos emigração (maior satisfação dos percursos de mobilidade social na origem) e maior imigração (Peixoto, 2004), sendo o fator económico apenas um de entre vários que influenciam estes movimentos migratórios.

Considerando o fenómeno da emigração, existem dois tipos de emigração, mais especificamente a emigração permanente e a emigração temporária. Por emigração “permanente” entendem-se os indivíduos que abandonaram o país com intenção de residir no estrangeiro por um

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prazo superior a um ano, e por emigração “temporária” os indivíduos que declararam ausentar-se para o exterior com intenção de aí permanecer por menos de um ano (Peixoto, 2004). Segundo a Base de Dados Portugal Contemporâneo (PORDATA), em 2016 existiam 97151 emigrantes portugueses, sendo que destes, 38273 eram emigrantes permanentes e 58878 eram emigrantes temporários. Por outro lado, segundo os Resultados Preliminares dos Intercensos 2016, da Direção dos Serviços de Estatística e Censos do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, em Agosto de 2016 a população de Macau era de 650.900. Desses, 43,6% nasceram na China Continental, 40,7% em Macau, 3,3% em Hong Kong e 12,3% noutros países/territórios, incluindo Portugal.

Há, assim, uma grande comunidade portuguesa em Macau, o que se deve à presença da língua portuguesa que, ainda hoje é, a par da língua chinesa, língua oficial do território. As principais motivações para a escolha de Macau como destino dos emigrantes portugueses, dividem-se em pessoais e profissionais. Entre as motivações pessoais está a reunificação familiar e a facilidade com que conseguiram encontrar emprego na região, e entre as razões profissionais, o facto de a pessoa já ter tido uma experiência internacional e não desejar regressar a Portugal, ou ter obtido uma proposta de trabalho em Macau (Branco, 2010).

A escolha da região de Macau parece relacionar-se sobretudo com o facto de os emigrantes já terem vivido anteriormente em Macau e, consequentemente, ser um território em que teriam uma maior facilidade de adaptação, por terem amigos ou família no território, que lhes facultariam alojamento numa primeira fase, ou com o surgir de uma nova oportunidade profissional, a partir precisamente de amigos ou familiares (Branco, 2010). Pessoa (2012) constatou que os emigrantes permanecem em Macau quer por via da progressão na carreira, quer por meio da acumulação de capital económico ao longo do ciclo migratório e/ou da aquisição de bens móveis e imóveis socialmente reconhecidos pelos pares, quer ainda através da apropriação de outros tipos de capital. Assim, em Macau, a boa situação económica da região e as ofertas profissionais para pessoas qualificadas permitem aos emigrantes portugueses pensar numa vida mais estável e com mais regalias do que teriam, possivelmente, em Portugal.

Estas movimentações migratórias são, assim, acompanhadas por uma série de desafios para os indivíduos que as fazem e para as suas famílias. Muitas vezes a aposta da movimentação é feita como um meio de progressão pessoal e profissional (Boneva & Frieze, 2001). Nowok, van Ham, Findlay e Gayle (2011) referem que as pessoas emigram por uma variedade de razões, que não só económicas, sendo que a maioria espera aumentar a sua qualidade de vida e a felicidade através da

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mudança do seu local de residência. Os resultados do estudo de Li, Frieze, Horvac, Mijöc e Olson (2012) indicaram que uma elevada orientação para a carreira predizia uma maior intenção de emigração internacional de longo-prazo, pelo que os emigrantes podem ser considerados a base das carreiras sem fronteiras, uma vez que estes indivíduos atravessam fronteiras organizacionais e nacionais de forma independente (Suutari & Smale, 2008).

2.2 Carreira sem fronteiras

Se no início dos anos 50 a escolha da profissão era a escolha de um trabalho para toda a vida (Patton, 2008), posteriormente o termo “carreira” veio substituir o de “profissão”, e o conceito de carreira incluir o de “leisure” (McDaniels, 1965), não se tratando apenas de uma visão restritiva da carreira. Assim, nos anos 80, a conceção de carreira abrange uma multiplicidade de papéis, altura em que foi proposto o conceito de desenvolvimento de carreira ao longo da vida (life-career development), que define o desenvolvimento do “eu” passando o foco a ser na pessoa como um todo (Lima, 1998). Super (1963) propôs a teoria desenvolvimentista da carreira, em que a escolha da profissão era realizada através da comparação entre características pessoais e profissionais, num determinado momento da vida, e Savickas (2005), numa abordagem construtivista, propôs uma visão mais contemporânea, tendo como principal objetivo explicar os processos interpretativos e interpessoais através dos quais os indivíduos atribuem significado ao seu comportamento vocacional. Ao invés de existir um único trabalho para a vida, surge a possibilidade de avanço e de melhoria da progressão num determinado percurso profissional definido pelo próprio indivíduo (Savickas, 2008), não contemplando hoje em dia a carreira, apenas a vida profissional, mas todos os aspetos da vida dos indivíduos (Duarte, 2004).

São vários os tipos de carreira que podem ser enumerados, como sejam as carreiras tradicionais, as carreiras multidirecionais, as carreiras caleidoscópio, as carreiras em espiral, as carreiras proteanas, e as carreiras sem fronteiras (Ribeiro, 2013).

O modelo tradicional de carreira baseia-se na noção de emprego em que o empregado faz uma troca com a organização: ele dedica-se e é fiel e, como recompensa, recebe segurança e estabilidade (Bendassoli, 2009). Já as carreiras multidirecionais, propostas por Baruch (2004), são consideradas carreiras flexíveis, dinâmicas e abertas a diferentes direções e oportunidades. Nas carreiras caleidoscópio as pessoas alteram o seu padrão de carreira ao mudar aspetos da sua vida. A partir deste conceito, os indivíduos avaliam as opções disponíveis através das lentes de um caleidoscópio para determinar a mais adequada entre as exigências, oportunidades profissionais,

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valores e interesses. A decisão tomada afeta o padrão da imagem gerada pelo caleidoscópio (Mainiero & Sullivan, 2005; Sullivan et al., 2009). As carreiras em espiral possibilitam o desenvolvimento das pessoas em profundidade, e com uma amplitude de aptidões, ou seja, os indivíduos demonstrariam ter o conhecimento de um especialista e, simultaneamente, a visão mais ampla de um generalista (Evans, 1996). Nas carreiras proteanas, não importa tanto a remuneração ou a posição hierárquica, mas sim atingir o sucesso psicológico, através de diversas experiências quer em contextos como o educacional e formativo, quer no profissional através do trabalho em várias organizações, e integrando outras mudanças neste campo (Hall & Moss, 1998). Deste modo, as organizações servem apenas de contexto para os indivíduos cumprirem as suas aspirações pessoais (Hall & Mirvis, 1995).

Por fim, o conceito de carreiras sem fronteiras (boundaryless career), que surgiu na década de 90 com o objetivo de corresponder a uma visão mais exata das carreiras e da gestão do percurso profissional dos indivíduos, tem em consideração as mudanças organizacionais verificadas no século XX (Arthur, 1994; DeFillipi & Arthur, 1994; Arthur & Rousseau, 1996; Sullivan & Arthur, 2006). Dado o aumento do número de organizações que funcionam em rede, as carreiras sem fronteiras revelam-se como alternativas de carreira mais dinâmicas e adaptáveis às novas estruturas, não ficando desta forma limitadas a uma organização (Arthur & Rousseau, 1996). Esta conceptualização de carreira sem fronteiras engloba a mobilidade física, isto é, a transposição de limites entre empresas, organizações, funções e áreas profissionais e a mobilidade psicológica, ou seja, a perceção que os indivíduos têm acerca da sua capacidade para iniciar, concretizar e concluir uma transposição entre fronteiras (Sullivan & Arthur, 2006; Forret, Sullivan & Mainiero, 2010).

Considerando a população emigrante, este é o tipo de carreira que mais se adapta, e corresponde aos trabalhadores emigrantes. Trabalhadores dispostos a desenvolver a sua atividade profissional noutro local constituem uma vantagem organizacional, na medida em que fornecem à organização a capacidade de dar uma resposta rápida e flexível às mudanças ambientais (Markham & Pleck, 1986). Assim, com o aumento de colaboradores em situação de mobilidade, há uma preocupação emergente das organizações com a adaptabilidade a contextos não-familiares. Estas preocupações baseiam-se na deslocação de profissionais para um ambiente de trabalho culturalmente diferente, deparando-se os indivíduos com dificuldades e obstáculos, sendo necessário o desenvolvimento de estratégias de planeamento e gestão das situações de mobilidade, a fim de minimizar dificuldades e potenciar uma adaptação bem-sucedida (Schneider, 1987; Craide & Silva, 2012). Neste sentido, Craide e Silva (2012) salientam que, por forma a tentar minimizar as possíveis

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dificuldades decorrentes de choques culturais, é necessário que todos os colaboradores tenham consciência da diversidade cultural emergente, a qual deve permitir o respeito e a consideração pelas diferenças, favorecendo o estabelecimento de relações de trabalho mais flexíveis e integradoras, e contribuindo para o desenvolvimento da organização.

No que diz respeito ao papel profissional, Eby, Butts e Lockwood (2003) identificam três componentes que constituem as características atitudinais essenciais para o sucesso numa carreira sem fronteiras. A primeira representa “o quê”, e relaciona-se com motivações, significados e identificação com a função, às quais está associada a motivação do indivíduo para se compreender a si próprio, explorar diferentes possibilidades e adaptar-se às constantes mudanças no trabalho. Estes indivíduos caracterizam-se pela proactividade, identificando oportunidades e demonstrando iniciativa e perseverança face a contrariedades. A segunda componente representa “quem”, e refere-se a redes de network e contactos que o indivíduo estabelece, que potenciam o aumento de fontes de suporte e o desenvolvimento pessoal através da atualização constante de conhecimentos, técnicas e metodologias (Eby et al., 2003). Eby e colaboradores (2003) identificam ainda uma terceira componente, que representa o “como”, e se refere à procura ativa de desenvolvimento de competências e conhecimentos transversais e flexíveis, úteis para a formação do indivíduo, transponíveis para outras funções e/ou organizações (Alexandre, 2015).

No contexto atual, marcado por alterações, dinâmicas e movimentações intra e interorganizacionais, torna-se importante que as competências associadas à carreira sem fronteiras sejam estimuladas nos colaboradores, para que as organizações possam fazer frente a um mercado laboral cada vez mais globalizado, complexo e competitivo (Briscoe et al., 2006). A par desta medida, as organizações devem valorizar os trabalhadores emigrantes, caracterizados pela carreira sem fronteiras, uma vez que trazem benefícios através de novas ideias e métodos de trabalho, e encarar estes colaboradores não como uma concorrência, mas sim como uma mais-valia para quem os acolhe.

2.3 Saliência dos Papéis

O Modelo do Desenvolvimento da Carreira de Super (1980), representado graficamente pelo Arco-íris da Carreira, é apresentado como forma de ajudar a conceptualizar o envolvimento temporal e o compromisso emocional de cada papel, dizendo respeito o envolvimento temporal à quantidade de tempo que requer o desempenho de um papel/atividade, e o compromisso emocional à carga afetiva ligada a cada papel. A abordagem Life Span/Life Space corresponde, respetivamente, à

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dimensão longitudinal e latitudinal do Arco-íris da Carreira, representando o ciclo de vida (Life-span) o processo de desenvolvimento da carreira relacionando o desenvolvimento vocacional com os estádios de vida, e o espaço de vida (Life-space) com os papéis, e os teatros ou contextos em que estes são desempenhados (Super, Savickas & Super, 1996). Destaca-se, igualmente, o Modelo da Importância do Papel (Super & Sverko, 1995), utilizado no âmbito do projeto Work Importance Study (WIS), que permitiu avaliar os valores e a saliência atribuída aos diferentes papéis desempenhados pelos indivíduos (Ferreira Marques, cit. por Jardim, 2010), mais especificamente os papéis Trabalho, Estudo, Serviços à comunidade, Casa e Tempos livres (Super, 1980). Este Modelo encontra-se estruturado em três níveis, sendo que o primeiro nível inclui a Adesão (componente afetiva, ligação emocional a um papel), a Participação (uso de tempo e esforço no desempenho de um papel) e o Conhecimento (componente cognitiva envolvendo informação e compreensão de um papel). No segundo nível, encontram-se três outras componentes, sendo que cada uma consiste na combinação de dois dos três aspetos do primeiro nível: Envolvimento (Adesão e Participação), Interesse (Adesão com algum Conhecimento ou alguma Participação), e Compromisso (Participação com Conhecimento). O terceiro, a Importância, consiste na combinação do Envolvimento, Interesse e Compromisso (Ferreira-Marques, 1982).

O termo saliência do papel é utilizado para representar a noção de que os diferentes papéis não têm necessariamente a mesma importância para o indivíduo que os desempenha, tendo-se diferenciado saliência dos papéis de outros termos como envolvimento no papel e identidade do papel, e enfatizado que a saliência denota a importância relativa ou o grau em que um determinado papel se destaca dos outros (Super, 1982) A saliência dos papéis é, assim, diferente ao longo do percurso de vida dos indivíduos, que optam por dedicar mais tempo ao papel mais importante (Greenhaus & Beutell, 1985), com o objetivo de cumprir as expectativas e responsabilidades associadas ao papel mais saliente (Greer & Egan, 2012). Por exemplo, as tarefas de desenvolvimento com que os indivíduos se confrontam, levam a que, na adolescência, os papéis de estudante e de tempos livres tendam a ser centrais, enquanto na idade adulta são os papéis Trabalho e Casa os papéis centrais, tornando-se periférico o papel de tempos livres (Super & Sverko, 1995). Vários estudos sugerem que o papel Trabalho e Casa continuam a ser os mais importantes ou salientes na vida dos adultos (Super, 1980; Gutek, Searle & Klepa, 1991; Frone, Russell & Cooper, 1992; Super & Sverko, 1995; Niles & Goodnough, 1996; Cinamon & Rich, 2002; Lassance & Sarriera, 2009; Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Martins, 2013). Caracterizando-se os movimentos migratórios pela procura de trabalho, e por uma situação de migração em que a família se separa da vida comunitária tradicional,

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e reduz-se a uma família nuclear, que deverá assegurar sozinha as responsabilidades partilhadas até então pela família alargada ou pela comunidade (Ramos, 2009), é expectável que a população emigrante dê saliência aos papéis Trabalho (vida profissional) e Casa (vida familiar).

Considerando estes dois papéis/atividades, a literatura tem também incidido em estudos sobre diferenças entre sexos. Nevill e Super (1986) encontraram diferenças entre os dois grupos, sendo o papel trabalho geralmente dominante no sexo masculino, e o papel casa no sexo feminino. Kulik (2000) verificou que as mulheres apresentam menor saliência do papel de trabalhador do que os homens, e Anjos (2013) comprovou que existe um maior envolvimento temporal e emocional na participação no papel casa por parte das mulheres. Pelo contrário, Martins (2015) apesar de não ter verificado diferenças significativas entre homens e mulheres na saliência dos papéis, encontrou valores mais elevados tanto na participação como na adesão ao papel casa no grupo do sexo masculino, o que se pode relacionar com o facto do papel da mulher se ter vindo a modificar do ponto de vista social, profissional e familiar. As mulheres deixaram de ser “apenas” esposa, mãe e “dona de casa” à medida que foram conquistando o mercado de trabalho (Probst, 2015), o que tem contribuído para que exista uma maior igualdade entre sexos tanto no papel Casa como no papel Trabalho. Com base nos dados apresentados, formulam-se as seguintes hipóteses de investigação:

H1: Espera-se uma maior saliência dos papéis trabalho e casa.

H2: Existem diferenças entre homens e mulheres na saliência dos papéis.

De modo a melhor relacionar o tema da saliência dos papéis com as vivências da população emigrante, é feita referência ao processo de aculturação, definido como as mudanças a nível social e psicológico que um grupo de indivíduos experienciam num contexto cultural diferente do seu (Cabassa, 2003). Berry (1977) identifica três fatores que influenciam a forma como os indivíduos entram no processo de aculturação, mais especificamente, a voluntariedade (emigrantes, residentes temporários), a permanência (refugiados) e a mobilidade (emigrantes ou povos indígenas), definindo-se a amostra em estudo como sendo voluntária face à adaptação a levar a cabo, que inclui duas componentes (Ward, 1996) – a psicológica e a sociocultural. A adaptação psicológica refere-se ao bem-estar psicológico e à satisfação no novo contexto cultural, e a adaptação sociocultural relaciona-se com a aprendizagem de competências sociais para interagir na nova cultura, tratar dos problemas da vida quotidiana e levar a cabo determinadas tarefas de maneira eficaz. Ou seja, a adaptação psicológica diz respeito aos aspetos afetivos da aculturação, como o stresse (Lazarus & Folkman, 1984), e depende de variáveis de personalidade, mudanças vitais e apoio social, e a adaptação sociocultural diz respeito a aspetos comportamentais da aculturação (Argyle, 1982). Esta

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é influenciada por variáveis que estão relacionadas com fatores cognitivos e com a aquisição de competências sociais, tais como o conhecimento cultural, a competência linguística, o tempo de estadia na nova cultura, o contacto com as pessoas da sociedade recetora, a distância cultural e a intensidade e a qualidade das identificações com membros do grupo maioritário.

Franken, Coutinho e Ramos (2009), verificaram que os participantes com menor tempo de migração, e ainda em fase de adaptação, experienciavam sentimentos de luto, tristeza e de saudade em relação ao que tinham deixado (amigos, parentes, e a terra onde nasceram). Os emigrantes que já tinham superado as primeiras etapas do processo de aculturação (língua, estadia, trabalho), sentiam-se mais calmos e em sentiam-segurança e, consentiam-sequentemente, não revelavam os “sentiam-sentimentos de perda” referidos. Esta diferença poderá ter influência na maior ou menor importância atribuída aos papéis desempenhados e/ou a serem desempenhados pelos indivíduos, podendo-se manifestar a saliência dos papéis de forma diferente em função do tempo em que os indivíduos, enquanto emigrantes, estão inseridos no processo de aculturação. De referir, ainda, que indivíduos menos aculturados revelam um nível maior de concordância com as obrigações familiares do que os indivíduos mais aculturados, o que mostra que um maior nível de aculturação parece diminuir a importância dos valores familiares (Marín, Otero-Sabogal, & Perez-Stable, 1987). Nesta sequência, formula-se a seguinte hipótese de investigação:

H3: Existem diferenças na saliência dos papéis em função do tempo em que os indivíduos se encontram emigrados.

2.4 Satisfação com os papéis de vida

Na medida em que a satisfação com a vida pode ser um indicador do bem-estar subjetivo dos indivíduos, é importante contemplar a satisfação obtida no âmbito dos domínios específicos da vida, ou seja, dos diferentes papéis que podem ser desempenhados pelos indivíduos ao longo do seu percurso de vida. Uma fonte de informação importante para os julgamentos da satisfação com a vida são, assim, os níveis de satisfação com os domínios específicos da vida (Stubbe et al, 2005), que refletem a relação do julgamento de um aspeto específico da vida (eg. satisfação profissional) com o grau de satisfação com a vida em geral (Pavot & Diener, 2008).

Destacam-se, assim, três papéis de vida (Profissional, Familiar e de Lazer) que ocupam, em geral, o tempo despendido pelos indivíduos, e que se influenciam, direta ou indiretamente, podendo ser desempenhados simultaneamente, e resultando em maiores ou menores níveis de satisfação (Acto, 2017). A este propósito refira-se a teoria de spillover (Stevanovic, 2011), que sugere que o

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indivíduo pode transferir o seu estado emocional, positivo ou negativo, de um papel para outro papel, o que pode levar a que uma não satisfação num determinado papel contribua para uma não satisfação num outro papel, e vice-versa, do que é exemplo o conflito trabalho-família.

Segundo Locke (1976), a satisfação no trabalho ou satisfação profissional é um estado emocionalmente positivo ou de prazer, resultante da avaliação do trabalho ou das experiências proporcionadas pelo mesmo, em relação aos valores do indivíduo. Neste contexto distinguem-se duas componentes da satisfação profissional: uma componente cognitiva, que corresponde ao que o trabalhador pensa sobre o seu trabalho, e uma componente afetiva, que corresponde ao que o trabalhador sente sobre o seu trabalho (Martinez & Paraguay, 2003). Distinguem-se, igualmente, duas dimensões da satisfação no trabalho (Alcobia, 2001). Uma, unidimensional, em que a satisfação é entendida como uma atitude em relação ao trabalho, e outra multidimensional, em que a satisfação depende de múltiplos fatores associados ao trabalho, sendo possível medir a satisfação em relação a cada um deles. Já segundo Spector (2010), a satisfação no trabalho apresenta duas facetas, mais especificamente a abordagem global, que considera a satisfação no trabalho como um sentido único e global em relação ao trabalho, e a abordagem de facetas, que se concentra em vários componentes do trabalho como o salário, as oportunidades de promoção, os colegas de trabalho, as condições de trabalho, a natureza do trabalho, a comunicação e a segurança.

Estudos demonstram que um aumento da satisfação profissional leva a um aumento do desempenho profissional (Wright, Cropanzano & Bonnet, 2007; Judge et al. citados por Wright et al., 2007), pelo que é importante para as organizações que os seus colaboradores estejam satisfeitos com o seu trabalho. Segundo Begley e Czajka (1993), colaboradores insatisfeitos manifestam mais sintomas físicos (eg. insónias, dores de estômago), e num outro estudo confirmou-se existir uma relação entre a insatisfação e as emoções negativas vividas no trabalho, como a ansiedade e a depressão (Jex & Gudanowski, 1992).

A satisfação familiar, definida como o grau de satisfação da estrutura familiar que a pessoa tem, incluindo os relacionamentos (pais-filhos, irmãos) subjacentes a essa mesma estrutura (Carver & Jones, 1992; Sharaievska, 2012), depende de vários fatores, tais como a satisfação conjugal, a existência de filhos (principalmente em idade pré-escolar ou escolar), a dimensão da família, e a ausência de apoio familiar (Herman & Gyllstrom, 1977; Cartwright, 1978; Keith & Schafer, 1980; Pleck et al., 1980; Greenhaus & Kopelman, 1981; Beutell & Greenhaus, 1982). O modelo Core and Balance (Zabriskie & McCormick, 2003; Zabriskie & Freeman, 2004) da satisfação familiar indica que existem dois padrões nas atividades desempenhadas pela família: core (núcleo) e balance

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(balanço), que aumentam a estabilidade e a coesão das famílias. Core, inclui atividades que podem ser desempenhadas todos os dias em casa (eg. jantares em família), e balance refere-se a atividades que não são tão habituais, e que não são realizadas em casa (eg. férias em família).

Referem-se alguns estudos relacionados com a satisfação familiar, como seja o estudo de LaRocco et al. (1980), que comprovou que o suporte familiar predizia o bem-estar geral dos indivíduos, levando a que estes revelassem níveis mais baixos de depressão e de ansiedade. Por outro lado, o envolvimento familiar em atividades de lazer está positivamente relacionado com a satisfação familiar (Holman & Epperson, 1989; Hawkes, 1991), e num outro estudo (Wells et al, 2004) demonstrou-se que o desempenho de atividades de lazer em família aumentava a confiança da família, bem como a maior capacidade de resolução de problemas por parte desta.

No que se refere à satisfação do papel lazer, salienta-se a Teoria da Atividade, que apresenta como desafio principal compreender as relações entre o indivíduo e a estrutura social, e sugere que quanto maior for a frequência com que se desenvolvem as atividades, e quanto mais estas refletem um espaço para o indivíduo manifestar a sua singularidade, maior a satisfação com as atividades de lazer (Lemon et al., 1972). De acordo com Engestrom (1987) e Cole e Engestrom (1993), os elementos essenciais de um sistema de atividade são: o objeto que constitui o elemento em relação ao qual se dirige a atividade; o sujeito que é o indivíduo, ou grupo de indivíduos; os artefactos mediadores que são os recursos culturais, os conhecimentos, os instrumentos e as ferramentas conceptuais considerados relevantes para as atividades a desenvolver; as regras, que se referem a todo o tipo de normas, convenções e regulamentos, mais ou menos exigíveis, explícitos ou implícitos, que, condicionam, limitam e regulam todas as ações e interações que ocorrem no interior do sistema de atividade; a comunidade, o elemento que abrange um número alargado e variado de indivíduos mais ou menos organizados, que partilham ou estão interessados no mesmo objeto; e a divisão do trabalho que consiste na distribuição de tarefas entre os membros da comunidade. Estes diferentes elementos traduzem a grande diversidade de atividades que podem ser desenvolvidas enquanto atividades de lazer, e através das quais os indivíduos podem obter satisfação, contribuindo para o seu bem-estar e satisfação com a vida em geral. A participação em atividades nos tempos livres, ou em atividades de lazer, está positivamente relacionada com a satisfação com a vida (Lloyd & Auld, 2002; Leung & Lee, 2005), podendo estas atividades de lazer ser físicas, como o exercício (Menec, Chipperfield & Perry, 1997; Menec, 2003), ser centradas no lugar (eg. passear num jardim) ou centradas nas pessoas (eg. conversar com amigos e familiares e participação em atividades comunitárias ou religiosas). De referir, ainda, o estudo de Allen e Beattie (2010), que concluíram

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que as dimensões estudadas (económicas, lazer, educação, saúde e segurança, ambientais, administração pública e envolvimento na comunidade) se relacionam, de uma forma hierárquica, com a satisfação com diferentes tipos de atividade desenvolvidos no âmbito da comunidade. O lazer, as condições económicas e a qualidade do ambiente parecem ser as dimensões que contribuem para um maior sentimento de satisfação, sendo as condições económicas as que têm mais impacto na satisfação do papel de lazer.

Na sequência da referência a estudos sobre diferenças entre sexos no âmbito do tema sobre a saliência dos papéis, é igualmente relevante a referência à comparação entre homens e mulheres ao nível da satisfação obtida com os papéis de vida. Relativamente à satisfação em geral, Reis (2014) não encontrou diferenças significativas na satisfação com os papéis de vida quando comparou homens e mulheres, embora num outro estudo (Martins, 2015) tenham sido as mulheres as que apresentaram um maior nível de satisfação com os papéis profissional, familiar e de lazer. Relativamente à satisfação profissional e à comparação entre sexos, vários estudos (Lopes, 2015; Martins, 2015; Silva, 2015) concluíram que as mulheres apresentavam níveis mais baixos de satisfação no trabalho comparativamente com os homens. Já Martins (2005) encontrou níveis de satisfação familiar e de lazer superiores nas mulheres quando comparados com homens (Martins, 2015).

Considerando as características da população emigrante já mencionadas, destaca-se o facto da vivência das diferentes fases do processo de aculturação em que os trabalhadores são envolvidos, parecer revelar diferenças em função do tempo em que os indivíduos se encontram emigrados. Se este dado pode ter a sua repercussão ao nível da importância que é atribuída pelos indivíduos aos diferentes papéis que desempenham, pode também ter impacto ao nível da satisfação que é obtida quando do seu desempenho. Nesta sequência, apresentam-se também alguns estudos que se podem relacionar com a amostra da presente investigação. Caligiuri, Hyland, Joshi e Bross (1998, citado em Lee, 2007) constataram que as características da família, particularmente o suporte familiar fornecido, se relacionavam com o ajustamento, neste caso, do expatriado à mobilidade internacional. Por outro lado, Moreira (2016) verificou que os emigrantes tinham uma menor satisfação a nível conjugal, e numa pesquisa realizada por Siu et al. (2010), foi defendido que o apoio da família tem um papel motivacional, no alcance dos objetivos profissionais dos indivíduos.

Tendo em conta a pesquisa efetuada, e com base nos dados apresentados, formulam-se as seguintes hipóteses de investigação:

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H4: Existem diferenças na satisfação com os papéis de vida em função do tempo em que os indivíduos se encontram emigrados.

H5: Existem diferenças entre homens e mulheres na satisfação com os papéis de vida.

2.5 Relação entre Saliência dos Papéis e Satisfação com os Papéis de Vida

Cada vez mais deve haver um esforço por parte das organizações para compreender as necessidades dos colaboradores, atribuindo importância não só à sua satisfação no trabalho, como também nos contextos familiar e de lazer e, deste modo, facilitar a conciliação que se vêm obrigados a fazer dos vários papéis que desempenham. O envolvimento dos indivíduos num determinado domínio de vida tem uma relação direta e positiva com a satisfação obtida nesse mesmo domínio. E como os indivíduos se tornam mais envolvidos, e investem mais de si nesse domínio, o mesmo é importante para a autoimagem, e indivíduos com uma autoimagem forte revelam níveis positivos de satisfação (Carlson & Kakmar, 2000). Ou seja, é importante que exista um equilíbrio entre as atividades desempenhadas pelos colaboradores de forma a contribuir, quer para o bem-estar destes, quer para o bom funcionamento da organização, podendo este equilíbrio ser visto como a satisfação que o indivíduo obtém a partir do desempenho dos diferentes papéis (Carlson & Gryzwacz, 2008). Vários estudos têm sido realizados no âmbito da saliência dos papéis (Duarte, 1993; Afonso & Lima, 1995; Lima, 1998; Martins, 2013), da satisfação com os papéis de vida (Lopes, 2015; Silva, 2015; Zuzarte, 2016; Acto, 2017) e, mais recentemente, da relação entre as duas variáveis (Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Reis, 2014; Martins, 2015), sendo feita a sugestão de que, em futuras investigações, se estude a relação entre a saliência dos papéis e a satisfação com os papéis de vida em amostras de outras dimensões, e de outros contextos do ponto de vista organizacional.

No geral, estes estudos (Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Reis, 2014; Martins, 2015), revelaram existir uma relação entre a saliência dos papéis e a satisfação com os papéis de vida, destacando-se em Bhowon (2013) e Agostinho (2013), respetivamente, a relação entre a saliência do papel trabalho e do papel casa com a satisfação profissional, e a saliência do papel trabalho com a satisfação profissional e de lazer. Ou seja, os indivíduos parecem não só atribuir importância a diferentes papéis, como também estar satisfeitos com o desempenho das atividades a estes subjacentes. No que diz respeito à relação entre a saliência de um determinado papel e a satisfação no desempenho de outros papéis, Agostinho (2013) comprovou existir uma relação entre a saliência do papel trabalho e a satisfação obtida ao nível de outros papéis, o que já não foi corroborado em outros estudos (eg. Martins, 2015).

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Com o presente estudo procurou-se, igualmente, estudar o grau de satisfação dos indivíduos, neste caso adultos trabalhadores emigrantes, com os diferentes papéis que desempenham, tentando contribuir para a abordagem da saliência dos papéis neste tipo de população, inseridos num outro contexto quer cultural quer organizacional. A emigração é uma transição de vida profunda, acompanhada por vivências e desafios para os indivíduos que a fazem, e para as suas famílias, exigindo grandes mudanças, e adaptações a estas. Neste contexto, pode ser especialmente relevante analisar a importância que estes indivíduos, em processo de aculturação, atribuem às atividades que desempenham, ou que são chamados a desempenhar e, consequentemente, o nível de satisfação obtido com as mesmas. Este estudo pode, assim, contribuir para refletir sobre novas abordagens junto deste tipo de população, de modo a que práticas de recursos humanos a serem implementadas constituam uma mais-valia no próprio processo de aculturação destes indivíduos.

Nesta sequência, com base nos estudos referidos, e tendo em conta a amostra em estudo, formulam-se as seguintes hipóteses de investigação:

H6: A saliência de um papel relaciona-se diretamente com a satisfação obtida no desempenho desse mesmo papel.

H6a: A saliência do papel trabalho tem uma relação direta com a satisfação profissional

H6b: A saliência do papel casa tem uma relação direta com a satisfação familiar H6c: A saliência do papel tempos livres tem uma relação direta com satisfação obtida no papel lazer

H7: A saliência de um papel relaciona-se diretamente com a satisfação obtida no desempenho de outros papéis de vida.

H7a: A saliência do papel trabalho relaciona-se diretamente com o desempenho de outros papéis de vida

H7b: A saliência do papel casa relaciona-se diretamente com o desempenho de outros papéis de vida

H7c: A saliência do papel tempos livres relaciona-se diretamente com o desempenho de outros papéis de vida

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III. MÉTODO

3.1. Participantes

A amostra é constituída por 106 emigrantes em Macau (31 do sexo feminino e 75 do sexo masculino, respetivamente, 29,25% e 70,75%), com idades compreendidas entre os 27 e os 70 anos de idade. Todos os participantes têm formação em Direito, variando as habilitações entre a licenciatura e o doutoramento, mais especificamente, 59 (55,66%) possuem licenciatura, 26 (24,53%) uma pós-graduação, 17 (16,04%) mestrado, e 4 (3,77%) o doutoramento. No que diz respeito à atividade profissional, 67 (63,21%) são advogados, 23 (21,70%) juristas, 9 (8,49%) magistrados, 4 (3,77%) docentes universitários, 2 (1,89%) gestores, e 1 (0,94%) jornalista. O número de anos de atividade profissional varia entre os quatro e os quarenta e cinco anos de serviço, e o tempo que se encontram emigrados em Macau, varia entre um e trinta e quatro anos.

Relativamente ao estado civil, verifica-se que dos 106 participantes, 61 (57,55%) são casados, 9 (8,49%) estão divorciados/separados, 27 (25,47%) são solteiros, 8 (7,55%) vivem em regime de união de facto, e 1 (0,94%) é viúvo. No que se refere ao número de filhos, 31 (29,25%) dos participantes não têm filhos, 19 (17,92%) têm apenas 1 filho, 40 (37,74%) têm 2 filhos, e 16 (15,09%) têm 3 ou mais filhos.

3.2. Instrumentos 1

3.2.1. Inventário sobre a Saliência das Atividades

O Inventário sobre a Saliência das Atividades – ISA (3a edição) (Salience Inventory) foi um dos instrumentos de avaliação psicológica desenvolvido no âmbito do Projeto “Work Importance Study” (WIS), em que estiveram envolvidos países dos cinco continentes, entre os quais Portugal (Ferreira-Marques, 1989). O projeto WIS teve início em 1979, onde foram estipuladas 4 fases: a primeira seria a revisão de literatura e o planeamento do estudo piloto, a segunda os estudos piloto e o desenvolvimento dos instrumentos de medida, a terceira correspondente ao estudo principal, e a quarta ao follow-up dos estudos. Com este projeto, teve-se como objetivo estudar a importância relativa do Trabalho em comparação com outras atividades, e as recompensas que os indivíduos procuram atingir no desempenho dos seus principais papéis de vida, especialmente no papel de trabalhador (Ferreira-Marques & Miranda, 1995).

Inicialmente, no Inventário era questionado aos participantes como se sentiam, e o que faziam

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ou poderiam fazer nas seguintes atividades: Estudo, Trabalho, Serviços à Comunidade, Casa e Tempos Livres. Nesta fase, o Inventário era constituído por três secções: a Escala de Saliência dos Papéis (Envolvimento), Escala de Saliência dos Papéis (Tempo) e a Escala de Realização de Valores. A Escala de Saliência dos Papéis (Envolvimento) perguntava aos participantes que tipo de coisas faziam em cada um dos cinco papéis (medida de participação), e como se sentiam ao desempenhá-los (medida de adesão), sendo-lhes pedido que se posicionassem numa escala de cinco pontos para cada um dos itens apresentados (Ferreira Marques & Miranda, 1995). Após se ter realizado o estudo piloto e a respetiva análise estatística, o Inventário foi revisto. Manteve-se a Escala relativa ao Envolvimento (participação e adesão) e a Escala de Realização (com a nova designação de Valores e Atividades), como parte do Inventário sobre a Saliência das Atividades (versão revista), com uma escala de resposta em quatro pontos relativamente ao tempo e ao grau. A Escala de Saliência dos Papéis (Tempo) passou a ser opcional, sendo utilizada apenas em alguns países. As escalas de Participação e de Adesão foram reduzidas aos dez melhores itens para cada escala com base na evidência empírica, e os resultados tornaram possível a seleção de um item para cada um dos valores a serem incluídos na escala agora designada por Valores e Atividades (Ferreira-Marques & Miranda, 1995).

A versão Portuguesa do ISA avalia, assim, a importância dos cinco papéis, a saber: Estudo- frequentar cursos, assistir a aulas (diurnas ou noturnas, conferências, trabalhos de laboratório), preparar as aulas, estudar numa biblioteca ou em casa, estudar por si mesmo; Trabalho - atividades com ordenado ou à tarefa, num emprego ou por conta própria; Serviços à Comunidade- atividades em organizações comunitárias, como grupos recreativos, escuteiros, centros de serviço social, associações locais, partidos políticos, sindicato; Casa - cuidar do quarto ou da casa, tratar das refeições, fazer as respetivas compras, cuidar de pessoas de família (filhos, parentes idosos); e Tempos Livres - praticar desporto, ver televisão, dedicar-se aos passatempos preferidos, ir a espetáculos (teatro, cinema), ler, descansar e conviver com a família e amigos. Estes papéis estão organizados em três escalas distintas: Escala de Participação, Escala de Adesão, e Escala de Valores e Atividades (Nevill & Super, 1986). A primeira é composta por 50 itens e pretende avaliar a Participação, ou seja, que tipo de atividades o indivíduo desempenha na atualidade ou recentemente, relacionadas com os cinco papéis; a segunda diz respeito à Adesão, avaliando-se o envolvimento afetivo relativamente aos mesmos papéis, sendo igualmente constituída por 50 itens; e a terceira parte, formada por 90 itens, relaciona esses papéis com os valores que o indivíduo espera satisfazer em cada um deles, num total de 190 itens. Para a presente investigação, esta última Escala (Valores

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e Atividades) não foi utilizada.

Através da aplicação do ISA, solicita-se aos participantes que se posicionem numa escala de resposta tipo Likert de quatro pontos (de 1 - Nunca ou raramente a 4 - Quase sempre ou sempre) em relação aos 100 itens das duas escalas utilizadas (Adesão e Participação). A folha de respostas inclui as instruções, seguidas da descrição dos papéis avaliados. É dado ainda um exemplo de resposta ao primeiro conjunto de cinco itens da Escala da Participação, sendo que as questões relativas a esta parte são precedidas pela frase “O que realmente faz ou fez recentemente em ... atividades de ...”, e as da Escala de Adesão pela frase “O que sente em relação a ... atividades de ...” (Lima, 1998).

Na versão portuguesa, a consistência interna, avaliada a partir do coeficiente Alfa de Cronbach, apresenta resultados acima dos 0.80 em todas as escalas (Ferreira-Marques & Miranda, 1995). Esta consistência interna tem vindo a ser corroborada por estudos posteriores (Lima, 1998; Martins, 2013; Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Reis, 2014; Martins, 2015), cujos valores dos coeficientes de precisão se situam, para as Escalas de Participação e de Adesão, entre 0,75 e 0,97.

3.2.2. Escala de Satisfação com os Papéis de Vida

A Escala de Satisfação com os Papéis de Vida (ESPV) é um instrumento de medida que tem como objetivo avaliar a satisfação dos indivíduos relativamente ao seu desempenho nos seguintes papéis de vida: Trabalho, Família e Lazer (Janeiro & Lima, 2013).

A Escala, inicialmente composta por 12 itens, foi utilizada em dois estudos, nomeadamente num estudo que envolveu uma amostra de adultos trabalhadores com idades superiores a 35 anos (Janeiro & Lima, 2011), e, mais tarde, numa investigação com uma amostra de trabalhadores do sector farmacêutico (Janeiro & Lima, 2012). Os coeficientes de precisão obtidos nessas investigações revelaram-se bastante elevados, correspondendo os valores Alfa de Cronbach, respetivamente, a 0.78 e a 0.83. Contudo, os resultados da análise fatorial indicaram a necessidade de melhorar a Escala, eliminando e reformulando alguns itens para obter a estrutura conceptualmente proposta para o seu desenvolvimento, isto é, a satisfação com os papéis profissional, familiar e de lazer (Janeiro & Lima, 2012).

Assim, e após eliminação e reformulação de alguns dos itens, a atual versão da ESPV (Janeiro & Lima, 2013), é composta por onze itens, em que quatro avaliam a Satisfação Profissional (“Sinto-me satisfeito(a) com a minha atividade profissional”; “Gosto do que faço na minha atividade profissional”; “A atividade profissional que desempenho permite-me atingir os objetivos que pretendo” e “Sinto-me satisfeito(a) com as oportunidades que tenho na minha profissão”), três itens avaliam a Satisfação Familiar (“Sinto-me satisfeito(a) com o meu ambiente familiar”, “Sinto-me

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satisfeito(a) com a minha família” e “Gosto de ocupar o meu tempo em atividades com a família”), e quatro itens avaliam a Satisfação com o papel Lazer (“Gosto do que faço nos tempos livres”, “Sinto-me satisfeito(a) a ocupar o “Sinto-meu tempo em atividades de lazer”, “Sinto-“Sinto-me satisfeito(a) com os amigos que tenho” e “Estou satisfeito(a) com as oportunidades de realização pessoal que as atividades de lazer me proporcionam”). As respostas aos itens são dadas através de uma escala de resposta tipo Lickert de 5 pontos, que vai desde “Discordo Totalmente” a “Concordo Totalmente”.

Relativamente à precisão da ESPV, diversos estudos (Agostinho, 2013; Anjos 2013; Reis, 2014; Zuzarte, 2016; Acto, 2017), têm revelado elevados índices de consistência interna, situando-se estes entre 0.79 e 0.88, resultados que reforçam a sua utilização em investigações em que situando-se pretende avaliar o nível de satisfação com os papéis de vida Profissional, Familiar e de Lazer.

3.3. Procedimento

Uma vez definidos os instrumentos de medida a serem utilizados, bem como a amostra, procedeu-se ao contacto via e-mail, com uma fonte próxima em Macau que trabalha na área do Direito, assim como com alguns escritórios de advogados, tendo-se aguardado as respetivas autorizações para se levar a cabo a presente investigação. Simultaneamente, procedeu-se à conversão dos três instrumentos de medida e do consentimento informado, assim como de dados demográficos com o objetivo de melhor caracterizar a amostra em estudo, para formato compatível com a Web (plataforma Qualtrics), tendo sido enviado por mail o respetivo link, no sentido de esclarecer dúvidas que pudessem surgir. Referiu-se que o tratamento e análise dos dados recolhidos seriam totalmente confidenciais, e apenas utilizados para efeitos de investigação, e que a resposta aos questionários seria totalmente voluntária e anónima. Os requisitos para colaborar na investigação e, assim, responder ao formulário, eram o de ser trabalhador empregado, emigrante, e licenciado em Direito. Obteve-se um total de 106 respostas num período de recolha entre 27 de Dezembro de 2016 e 15 de Março de 2017.

IV. RESULTADOS

Nesta secção apresentam-se os resultados obtidos através da análise fatorial exploratória com rotação varimax para a ESPV, assim como as análises descritivas (mínimo, máximo, média e desvio padrão) e da precisão (cálculo dos coeficientes Alfa de Cronbach, e do coeficiente Alfa quando cada item é excluído, correlação entre cada item e a escala) para os instrumentos de medida utilizados – Inventário sobre a Saliência das Atividades (ISA) e Escala de Satisfação com

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os Papéis de Vida (ESPV). Efetuaram-se, ainda, análises correlacionais e comparativas por forma a testar as hipóteses de investigação inicialmente formuladas.

4.1 Análise Fatorial

Com o objetivo de contribuir para o estudo de validação da ESPV, foi realizada uma análise fatorial exploratória através do método de análise em componentes principais com rotação varimax, tendo-se obtido a medida de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), com o valor de 0.739, revelador da amostragem ser adequada para a realização da análise fatorial (Marôco, 2011). Identificaram-se 3 Fatores que explicam 68,15 % da variância total dos resultados. No Fator 1 (34, 54%), saturam os itens (1, 2, 4 e 11) relativos à Satisfação Profissional, no Fator 2 (22,82%) saturam os itens (6, 7, 8 e 9) relativos à Satisfação com o Lazer, e no Fator 3 (10,79%) saturam os itens (3, 5 e 10) relativos à Satisfação Familiar. Estes resultados corroboram, à semelhança de estudos anteriores (Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Reis, 2014; Martins, 2015; Silva, 2015; Zuzarte, 2016; Acto, 2017), as dimensões que se pretendem medir com a ESPV, isto é, a Satisfação Profissional, a Satisfação Familiar e a Satisfação com atividades de Lazer.

Quadro 1.

Análise fatorial exploratória, usando o método das componentes principais com rotação varimax da ESPV

4.2 Análises Descritiva e da Precisão

No Quadro 2 apresentam-se as médias, os desvios-padrão e os índices de precisão das medidas correspondentes à Saliência das Atividades (Escalas de Participação e de Adesão) e à Satisfação com os Papéis de Vida (Profissional, Familiar, Lazer e Total).

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As médias obtidas nas escalas de Participação e de Adesão variam entre 1,49 e 3,43, sendo as mais elevadas a da Participação e Adesão-Trabalho (respetivamente, M=3,16; DP=0,51 e M=3,43; DP=0,55), seguida da Participação e Adesão-Estudo (respetivamente, M=2,56; DP=0,67 e M=2,98; DP=0,75), em terceiro lugar da Participação e Adesão-Tempos Livres (respetivamente, M=2,45; DP=0,59 e M=2,88; DP=0,67) e, por fim, da Participação e Adesão-Casa (respetivamente, M=2,08; DP=0,53 e M=2,57; DP=0,79). Por sua vez, as subescalas Participação e Adesão-Serviços à Comunidade são as que apresentam médias mais baixas (respetivamente, M=1,49; DP=0,49 e M=2,53; DP=0,76), o que parece indicar que os participantes atribuem menor importância a este tipo de atividade comparativamente com a forte saliência (comportamental e afetiva) do papel Trabalho, seguida dos papéis Estudo e Tempos Livres.

Os índices de consistência interna são elevados em ambas as escalas e subescalas, revelando Alfas de Cronbach superiores a 0,70 como recomendado por Nunnally (1978), mais especificamente, situam-se entre 0,80 e 0,94, valores que estão de acordo com estudos anteriores (Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Ferreira-Marques & Miranda, 1995; Martins, 2013; Reis, 2014, Martins, 2015), assim como com os obtidos com a versão portuguesa utilizada no âmbito do WIS (Marques e Miranda, 1995). Efetuado o cálculo dos coeficientes Alfa de Cronbach quando cada item é excluído (Alfa if item deleted), visto que o ISA apresentou valores elevados de consistência interna, optou-se por não retirar qualquer item, existindo, no entanto, itens (13, 22, 24, 25, 83, 86, 88 e 96) cujas exclusões fariam aumentar ligeiramente a precisão das escalas.

A escala total da ESPV, apresenta uma média elevada (M=4,15; DP=0,53), o que parece revelar um elevado nível de satisfação com os papéis profissional, familiar e de lazer, apesar dos participantes terem obtido valores de participação e de adesão diferentes para cada um dos cinco papéis do ISA. Quando analisadas as subescalas da ESPV, constata-se que os níveis de satisfação obtidos são próximos, sendo que a Satisfação Familiar se destaca ligeiramente (M=4,33; DP=0,67) da Satisfação Profissional (M=4,10; DP=0,81), e da Satisfação com o Lazer (M=4,07; DP=0,73).

Considerando a análise da precisão da ESPV, constata-se que os valores Alfa de Cronbach são também iguais ou superiores ao valor de 0,70 (Nunnally, 1978), à semelhança dos obtidos em estudos anteriores (Janeiro & Lima, 2011; Janeiro & Lima, 2012; Agostinho, 2013; Anjos, 2013; Reis, 2014; Silva, 2015; Ortuño, Janeiro & Lima 2016; Zuzarte, 2016; Acto, 2017), e que o cálculo dos coeficientes Alfa if item deleted, permite concluir que todos os itens contribuem para a precisão da Escala, excetuando o item 10 da subescala Satisfação Familiar (“Gosto de ocupar o meu

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tempo em atividades com a família”), que quando retirado revela que aumentaria o valor do Alfa de Cronbach de 0,77 para 0,87.

Quadro 2.

Médias, Desvios-padrão e Coeficientes de Precisão das escalas do ISA e da ESPV

4.3 Análise Correlacional

Para realizar o estudo correlacional foi analisada a distribuição das escalas e subescalas dos dois instrumentos de medida, utilizando quatro critérios: coeficientes de assimetria e de curtose, o teste de ajustamento de Kolmogorov-Smirnov, e ainda gráficos Q-Q Plots. Concluiu-se que as subescalas Participação-Serviços à comunidade e Adesão-Trabalho do ISA, bem como as três dimensões da ESPV, não têm distribuição normal.

Deste modo, procedeu-se ao cálculo da Matriz de Intercorrelaçãos (Quadro 3) entre as Escalas de Participação e de Adesão do ISA e as Subescalas de Satisfação com os Papéis de Vida, tendo-se utilizado o coeficiente de correlação linear de Pearson (rp) quando ambas as variáveis seguem uma distribuição normal, e o coeficiente de correlação ordinal de Spearman (rs) quando pelo menos uma das variáveis em análise não tem normalidade da distribuição.

De modo a analisar H6 (A saliência de um papel relaciona-se diretamente com a satisfação obtida no desempenho desse mesmo papel) verificou-se que a saliência do papel trabalho ao nível da participação tem uma relação fraca, direta e significativa (rS=0,02; p=0,02) com a satisfação profissional, e que ao nível da adesão esta relação é moderada, direta e significativa

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(rS =0,34; p=0,00). A saliência do papel casa ao nível da participação relaciona-se de forma direta, fraca e altamente significativa com a satisfação familiar (rS=0,25; p=0,01) e ao nível da adesão de forma direta, fraca e altamente significativa (rS=0,28; p=0,00). Por fim, a saliência do papel tempos livres, quer a nível da participação quer a nível da adesão, relaciona-se de forma direta, moderada e altamente significativa com a satisfação lazer (respetivamente, rS=0,44; p=0,00 e rS=0,45; p=0,00). Pode-se, assim, confirmar a H6, a H6a (A saliência do papel trabalho tem uma relação direta com a satisfação profissional), a H6b (A saliência do papel casa tem uma relação direta com a satisfação familiar) e a H6c (A saliência do papel tempos livres tem uma relação direta com a satisfação com o lazer).

Para analisar H7 (A saliência de um papel relaciona-se diretamente com a satisfação obtida no desempenho de outros papéis de vida), que foi parcialmente confirmada, procede-se à leitura dos resultados tendo em conta H7a, H7b e H7c.

Verificou-se que a nível da participação, a saliência do papel trabalho tem uma relação quase nula, direta e não significativa (rS=0,01; p=0,96) com a satisfação familiar, sendo esta relação, ao nível da adesão trabalho, quase nula, inversa e não significativa (rS=-0,02; p=0,85). Observou-se ainda que a saliência da participação no papel trabalho tem uma relação quaObservou-se nula, inversa e não significativa (rS=-0,03; p=0,74) com a satisfação lazer, e que esta relação ao nível da adesão do papel trabalho é fraca, inversa e não significativa (rS=-0,11 p=0,27). Não se confirma, assim, que a saliência do papel trabalho se relaciona diretamente com a satisfação noutros papéis (H7a). A saliência do papel casa ao nível da participação relaciona-se de forma direta, moderada e altamente significativa com a satisfação com o lazer (rS=0,34; p=0,00), relação que ao nível da adesão é direta, fraca e significativa (rS=0,22; p=0,02). A saliência ao nível da participação do papel casa relaciona-se de forma direta, quase nula e não significativa com a satisfação profissional (rS=0,07; p=,050) e sucedeu-se o mesmo ao nível da adesão (rS=0,04; p=0,70), pelo que H7b (A saliência do papel casa relaciona-se diretamente com satisfação outros papeis) se confirma apenas parcialmente. Por último a saliência do papel tempos livres relativamente à participação relaciona-se de forma direta, fraca e não significativa com a satisfação familiar (rS=0,10; p=0,29), e ao nível da adesão, esta relação, apesar de direta e fraca, revelou-se significativa (rS=0,27; p=0,01). Já a relação entre a saliência do papel tempos livres quanto à participação e à adesão com a satisfação profissional, revela-se direta, quase nula e não significativa (respetivamente, rS=,01; p=0,94 e rS=0,01; p=0,93). Ou seja, apesar de ao nível da adesão dos tempos livres ter existido uma relação significativa com a satisfação familiar, o mesmo não aconteceu com a satisfação

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profissional e com a participação no papel casa, pelo que H7c (A saliência do papel tempos livres relaciona-se diretamente com a satisfação noutros papéis) só foi parcialmente confirmada. Quadro 3.

Matriz de Intercorrelações entre ISA (Escalas de Participação e Adesão) e a ESPV 4.4 Análise Comparativa

Para comparar os resultados obtidos nas variáveis do ISA, recorreu-se ao teste de Friedman, concluindo-se (Quadro 4) que existem diferenças significativas (p<0.01) entre os resultados de todas as subescalas da Participação, o que se corroborou utilizando a técnica complementar de comparações múltiplas, com exceção da relação entre Participação-Casa e Participação-Tempos Livres (p>0,05). O resultado mais elevado é o da Participação-Trabalho, seguida de Tempos Livres, Estudo e, em penúltimo, Casa. Relativamente à Adesão existem diferenças significativas (p<0.01) entre os resultados de todas as subescalas, exceto entre os papéis Serviços à Comunidade e Casa, e entre os papéis Estudo e Tempos Livres (p>0,05). O resultado mais elevado foi o de Adesão-Trabalho seguido de Estudo, Tempos Livres e, em penúltimo, Casa. Confirma-se, assim, parcialmente a H1 (Espera-se uma maior saliência dos papéis Trabalho e Casa), já que apesar do papel Trabalho revelar uma maior saliência, ao nível da participação é seguido do papel Tempos Livres, e ao nível da adesão do papel Estudo.

No sentido de testar as restantes hipóteses de investigação (H2, H3, H4 e H5) foram comparados homens e mulheres, assim como indivíduos emigrados há menos de 10 anos e há mais de 10 anos. Para comparar os resultados nas variáveis do ISA, recorreu-se ao teste de igualdade de valores médios para amostras independentes, com exceção das variáveis Participação-Serviços à

Referências

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