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O caminho mágico desde a base até ao topo União Desportiva Sousense

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Academic year: 2021

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(1)TREINO DE ALTO RENDIMENTO DESPORTIVO. RELATÓRIO DE ESTÁGIO O caminho mágico desde a base até ao topo União Desportiva Sousense. Relatório de estágio profissionalizante apresentado com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências do Desporto, com especialização em Treino de Alto Rendimento Desportivo (Decreto - Lei nº74/2006, de 24 de Março) Trabalho Orientado por: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Trabalho Supervisionado por: Filipe Manuel Nunes Cândido. Tiago Filipe Oliveira Silva Porto, Setembro 2015. III.

(2) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Ficha de Catalogação Silva, T. F. O. (2015). O caminho mágico desde a base até ao topo. Porto: T. Silva. Relatório de estágio profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em Treino de Alto Rendimento, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Palavras-chave: Futebol, Rua, Formação, Academia, Observação. IV2. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(3) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. “Tem de se gostar muito de jogar futebol antes de se pensar nele como profissão. Foi isso que eu sempre senti. No começo tem de haver gosto, o prazer, a parte lúdica, que pode ou não acabar por se transformar na profissão”. Deco (ex-Jogador). V3. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(4) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. VI4. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(5) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Agradecimentos. Um espaço para homenagens e agradecimentos a pessoas que de uma maneira ou de outra me guiaram e ajudaram nesta longa caminhada. À FADEUP, Professores e Colegas pela oportunidade de partilhar experiencias e conhecimentos ao longo destes anos. Ao Professor Doutor Júlio Garganta, pela disponibilidade ao longo de toda a orientação, pela sua partilha de conhecimentos, permitindo assim tornar este trabalho uma realidade. Um agradecimento à direção da União Desportiva Sousense, pela oportunidade de poder estagiar no clube e ainda por todo o apoio dado ao longo da época desportiva. Ao Filipe Cândido pela oportunidade de uma experiencia nova, e por todas as conversas privadas que me enriqueceram como pessoa e treinador. Ao Coordenador João Cunha um Obrigado por toda a disponibilidade e pelo constante auxilio à “Família Sousense”. À equipa técnica dos Juniores por toda a aprendizagem e momentos vivenciado ao longo do ano. A todos os restantes Treinadores da U.D.S., em especial ao Pedro Carvalho, pelas “conversas de balneário” e principalmente pela amizade. Obrigado aos meus Amigos que me suportaram nesta etapa da minha vida. Agradeço a todas as outras pessoas que me ajudaram de uma forma direta ou indireta ao longo do ano, em especial à minha Tia Glória. Agradecer aos meus Pais por todos os esforços que fizeram para me proporcionarem sempre a melhor educação possível e as melhores oportunidades.. 5 VII. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(6) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Pedir desculpa à Hamsa por não termos privado tantas brincadeiras como ela gostaria, por causa do Relatório. Obrigado Andreia por toda a disponibilidade e compreensão durante este processo, pois sem ti não seria possível nada disto. Obrigado por estares sempre ao meu lado de uma forma incondicional. Amo-te!. Obrigado a Todos!. 6 VIII. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(7) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Índice Agradecimentos ................................................................................................. V Índice de Figuras ............................................................................................... XI Índice de Gráficos ........................................................................................... XIII Índice de Anexos ............................................................................................. XV Resumo ......................................................................................................... XVII Abstract .......................................................................................................... XIX Résumé .......................................................................................................... XXI Lista de Abreviaturas .................................................................................... XXIII Introdução .......................................................................................................... 1 Capítulo I – Enquadramento da Prática Profissional .......................................... 9 1. Enquadramento da Prática Profissional ..................................................... 11 1.1. Contexto Legal e Institucional ............................................................. 11. 1.2. Contexto de Natureza Funcional ......................................................... 12. 1.3. Macrocontexto – O caminho da base até ao topo e processo de. observação ................................................................................................... 12 1.3.1 O caminho da base até ao topo ......................................................................... 12 1.3.1.1. Futebol de Rua.......................................................................................... 12. 1.3.1.2. Academias ................................................................................................. 18. 1.3.1.3. Treinadores – Competências e funções ............................................... 27. 1.3.1.4 Integração de jogadores provenientes das Academias futuramente nas equipas seniores ................................................................................................... 32 1.3.2 Processo de Observação .................................................................................... 35 1.3.2.1. Scouting – O processo de Observação ................................................ 35. 1.3.2.2. O Scouting – Uma vantagem para o processo de treino ................... 41. 1.3.2.3. Fases do processo de observação e diferentes tipos de Scouting .. 43. Capítulo II – Realização da Prática Profissional ............................................... 49 2. Realização da Prática Profissional ............................................................ 51 2.1. Escalão Júnior (Sub-19) ...................................................................... 52. IX 7. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(8) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. 2.2. Escalão Sénior .................................................................................... 63. 2.3. Análise do processo de formação dos escalões Júnior e Sénior do. clube União Desportiva Sousense ................................................................ 68 2.3.1 Caracterização Sociodemográfica da amostra ................................................ 69 2.3.2 Historial de Formação Desportiva ...................................................................... 71 2.3.3 Processo desportivo dos escalões Júnior e Sénior do clube União Desportiva Sousense ....................................................................................................... 79. Considerações Finais e Perspetivas de Futuro ................................................ 87 Referências Bibliográficas ................................................................................ 95 Anexos ........................................................................................................... 103. X8. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(9) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Índice de Figuras. Figura 1 – Currículo padrão de uma Academia de Futebol, adaptado de Stratton (2004) 24 Figura 2 – Fases do processo de Scouting.. 44. Figura 3 – Diferentes tipos de Scouting.. 44. Figura 4 – Estrutura Posicional da Equipa de Juniores.. 53. Figura 5 – Identificação do Atleta da Equipa de Juniores.. 54. Figura 6 – Plano de Mesociclo da Equipa de Juniores.. 55. Figura 7 – Plano da Unidade de treino da Equipa de Juniores.. 56. Figura 8 – Situação posicional dos jogadores (cantos a favor e contra) da Equipa de Juniores. 57 Figura 9 – Situação posicional dos jogadores (livres laterais contra) da Equipa de Juniores. 57 Figura 10 – Ficha de observação a preencher no decorrer do jogo (aspetos fundamentais) da Equipa de Juniores. 58 Figura 11 – Estatísticas de golos/assistências da Equipa de Juniores.. 59. Figura 12 – Relatório de observação para análise do adversário (quatro momentos de jogo, bolas paradas e observações). 65 Figura 13 – Relatório de observação do sistema tático (jogadores utilizados).66 Figura 14 – Relatório de observação das Bolas Paradas (ofensivas e defensivas). 66. XI9. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(10) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. XII 10. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(11) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Índice de Gráficos. Gráficos 1 e 2 – Distribuição da idade da amostra nos escalões Júnior e Sénior, respetivamente.. 69. Gráfico 3 – Habilitações Literárias do escalão Sénior.. 70. Gráficos 4 e 5 – Idade dos inquiridos, Juniores e Seniores, à data em que começaram a jogar Futebol.. 71. Gráficos 6 e 7 – Local onde os atletas, Juniores e Seniores realizaram a maior parte da sua formação.. 72. Gráficos 8 e 9 – Outros clubes referenciados pelos inquiridos, dos escalões Júnior e Sénior, aquando da sua formação.. 73. Gráficos 10 e 11 – Local onde os inquiridos, dos escalões Júnior e Sénior, iniciaram a sua prática de Futebol.. 74. Gráficos 12 e 13 – Opinião dos inquiridos, dos escalões Júnior e Sénior, em relação ao Futebol de Rua.. 75. Gráficos 14 e 15 – Dificuldade sentida pelos inquiridos, dos escalões Júnior e Sénior, ao integrar pela primeira vez uma equipa sénior.. 76. Gráfico 16 – Relação entre o local onde o atleta da equipa Júnior (sub-19), realizou grande parte da sua formação e dificuldade percebida quanto à futura integração no escalão Sénior.. 77. Gráfico 17 – Relação entre o local onde o atleta da equipa Sénior realizou grande parte da sua formação e dificuldade percebida por este quanto à sua integração nesta equipa.. 78. Gráficos 18 e 19 – Local onde foi realizado grande parte da formação do atleta, referente ao escalão Sénior, nas épocas 2014/2015 e 2015/2016 respetivamente.. 86. XIII11. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(12) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 12 XIV. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(13) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Índice de Anexos. Anexo I – Guião de Entrevista a Filipe Cândido – Coordenador da Formação/Treinador da Equipa Sénior.. XXVII. Anexo II – Guião de Entrevista a João Cunha – Coordenador da Formação XXXI Anexo III – Questionário direcionando ao escalão de Juniores da União Desportiva Sousense.. XXXIX. Anexo IV – Questionário direcionado ao escalão de Seniores da União Desportiva Sousense.. XLI. XV 13. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(14) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 14 XVI. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(15) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Resumo O Futebol é atualmente um fenómeno desportivo com elevado impacto social, por todo o mundo, o que faz com que ninguém fique indiferente à magia desta modalidade coletiva, incluindo crianças e jovens. Este estágio profissionalizante resulta da análise e reflexão sobre o processo desportivo do escalão júnior e sénior da União Desportiva Sousense sobretudo, no que diz respeito à inclusão dos atletas juniores no escalão principal. Tal processo foi vivenciado ao longo de uma época desportiva, no contexto real de dois escalões distintos, escalão Júnior (Sub-19) e escalão Sénior do clube U.D.S. possibilitando o acompanhando do processo de treino e jogo de ambos. Um contacto direto com esta realidade permitiu desenvolver conhecimentos e adquirir experiências enriquecedoras no âmbito do futuro profissional. No escalão de Juniores (Sub-19) acompanhou-se o processo referente ao treino á competição; no escalão Sénior, foi desempenhada a função de membro ativo do departamento de Scouting. Neste caso, procedeu-se á observação e análise das equipas adversárias do clube. Ao longo do estágio foram realizadas entrevistas ao coordenador de formação do clube e ao treinador principal da equipa Sénior, com o intuito de registar as respetivas perceções acerca do processo de formação dos atletas no clube. Foi aplicado um questionário, ao plantel dos escalões Júnior e Sénior, com o propósito de verificar no contexto do clube se a formação contínua no mesmo, favorece uma melhor integração dos jovens atletas no escalão principal. Após uma discussão de resultados, proveniente do cruzamento da informação obtida, através de uma revisão de literatura, da experiência adquirida no E.P., da reflexão pessoal e da análise das entrevistas e questionários, foi possível concluir que os atletas provenientes da formação da U.D.S, seriam mais capazes de integrar futuramente uma equipa de alto rendimento em comparação com formações distintas. O realce desse facto é cada vez mais traduzido numa frequente inclusão de atletas formados no clube na sua equipa sénior. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, FORMAÇÃO, ACADEMIA, CONTEXTOS FORMAIS E INFORMAIS, OBSERVAÇÃO. XVII 15. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(16) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. XVIII 16. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(17) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Abstract Football is nowadays a global sporting phenomenon with a deep social impact, which makes no one indifferent to its magic, including children and youngsters. This Professionalizing Internship is the by-product of the analysis and reflection on the sporting process of the junior and senior teams of the União Desportiva Sousense in regards to the inclusion of the junior athletes on the main squad. The aforementioned process was experienced throughout the whole season in a real context on two distinct divisions, the junior division (Under 19) and the senior division of the U.D.S. club, allowing the follow-up of the practice and actual game settings for both teams. A direct contact with this reality improved the knowledge development and made possible to acquisition of a richer experience, to take into account in a professional future in football. In the Junior division (Under 19) the process used was in regards to the training through to the competition; on the senior division I integrated the Scouting department as an active member. In this particular case I proceeded to the observation and analysis of the adversary teams of the club. Throughout the internship, several interviews were conducted to the club’s academy coordinator and to the senior team lead coach to gather the staff’s perceptions about the academy formation of athletes in the club. A questionnaire was given out to both rosters, Junior and Senior squads, to verify in the club’s context if its academy’s continuous process contributed for a better integration of the young athletes onto the main squad. After discussing the results, found from the cross of the information gathered through a literary revision of the experience acquired in the P.I. and from the interviews/questionnaires analysis, it was possible to conclude that the athletes from the academy part of U.D.S would be better suited to integrate an highdevelopment team in the future in comparison to other distinct formations. This fact is furthermore translated in a more frequent integration of the academy’s athletes into the club’s senior team. KEYWORDS: FOOTBALL, ACADEMY, TRAINING, FORMAL AND INFORMAL CONTEXTS, OBSERVATION. XIX 17. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(18) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Tiago Filipe Oliveira Silva. 18 XX. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(19) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Résumé Actuellement, le football est un phénomène sportif avec un haut impact social par tout le monde, qui ne rend personne indifférent à la magie de cette modalité collective, y compris les enfants et les jeunes. Cet E.P. résulte de l’analyse et de la réflexion sur le processus sportif du niveau junior et sénior de l’Union Sportive Sousense, en ce qui concerne l’inclusion des athlètes juniors dans l’échelon principal. Ce processus a été vécu le long d'un temps sportif, dans le contexte réel de deux échelons différents, l’échelon junior (Sub-19) et l’échelon senior du club U.D.S. faisant possible le service du processus de formation et jeu entre tous les deux. Un contact direct avec cette réalité a permis de développer des connaissances et acquérir des expériences enrichissantes à l'avenir professionnel. Dans le classement Junior (Sub-19) on a suivi l'affaire relative à la formation à la concurrence; au niveau senior, on a joué le rôle de membre actif du département de Scouting. Dans ce cas, nous avons procédé à l’observation et à l’analyse des équipes adversaires. Tout au long du stage, des interviews ont été menées au coordinateur de la formation du club et à l’entraîneur-chef de l’équipe senior, avec l'intention de registrer les respectives perceptions concernant le processus de formation des athlètes dans le club. Un questionnaire a été appliqué, aux équipes des étapes junior et senior, afin de vérifier, dans le contexte du club, si la formation continue dans le même favorise une meilleure intégration des jeunes athlètes dans l'étape principal. Après un débat des résultats, à partir de l’intersection de l’information obtenue dans une revue de littérature, de l’expérience acquise dans le stage de formation, de la réflexion personnelle et de l’analyse des interviews et des questionnaires, on a conclu que les athlètes provenant de la formation de l’U.D.S. seraient plus capables d’intégrer à l’avenir une équipe avec une performance athlétique de haut niveau par rapport à d’autres formations. L’importance de ce fait est de plus en plus traduite dans une fréquente inclusion d’athlètes formés par le club dans son équipe senior. Mots-clés : FOOTBALL – FORMATION – ACADEMIE – CONTEXTES FORMELS ET INFORMELS – OBSERVATION. XXI 19. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(20) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. XXII 20. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(21) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Lista de Abreviaturas. AFP – Associação de Futebol do Porto EP – Estágio Profissionalizante FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto MTARD – Mestrado de Treino em Alto Rendimento Desportivo NSCAA – National Soccer Coaches Association of America UDS – União Desportiva Sousense. XXIII 21. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(22) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. XXIV 22. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(23) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Introdução. 1. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(24) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 2. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(25) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Introdução Geral O Futebol é, hoje em dia, considerado um fenómeno à escala mundial, quer a nível desportivo quer a nível social, assumindo, assim, um papel preponderante na sociedade e exercendo um claro fascínio, sobretudo em crianças e jovens que acorrem aos clubes para perseguirem o sonho de se tornarem futebolistas. Por isso, a formação de jogadores tem assumido um papel influente no que respeita ao cuidado que os clubes procuram ter a quando da definição e aplicação de programas/modelos de formação de jogadores. É neste contexto que o presente estágio ganha sentido, posto que o mesmo viabilizou um contacto direto com dois escalões distintos de jogadores de Futebol; um ainda em processo de formação e outro como escalão principal, possibilitando, deste modo, que fosse possível a concretização de uma análise aprofundada acerca do processo desportivo desses atletas, no que concerne à inclusão dos jogadores da equipa júnior no escalão sénior do mesmo clube. Deste modo, afigura-se pertinente abordar o processo de formação dos atletas, designadamente no que se refere à importância do Futebol de Rua, isto é, uma actividade espontânea de jogo livre que é reconhecida por muitos jogadores mundialmente famosos como uma faceta determinante no sucesso das suas carreiras. Também a importância do acompanhamento contínuo do treinador ao longo da formação do atleta, será preponderante no sentido de proporcionar um acompanhamento próximo do mesmo, orientando-o para uma possível integração no escalão de alto rendimento. Se voltarmos atrás no tempo podemos verificar que era o Futebol de Rua a plataforma de arranque para o mundo do Futebol. Todas as crianças e adolescentes o jogavam com os seus amigos e até mesmo com os seus pais. Estes iniciavam assim o seu processo de aprendizagem, sem qualquer tipo de orientação, onde a espontaneidade e a liberdade eram os pontos fortes do dia. 3. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(26) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Atualmente, sobra muito pouco tempo para esta criatividade natural, o que afasta cada vez mais as crianças do Futebol de Rua. Com isto, o recurso à formação desportiva tem vindo a evoluir de uma forma crescente, uma vez que este conceito pode ser aplicado em vários contextos e momentos diferentes ao longo do ciclo vital de um indivíduo. A formação centra-se na transmissão de valores, tendo sempre em vista demarcar algo que é, ou tenciona ser, planificado, organizado bem como ordenado. Esta compreende, como meta bem definida, a transformação e o desenvolvimento eficiente de comportamentos e atitudes do ser humano. É notório o desenvolvimento crescente da formação no Futebol, uma vez que hoje em dia esta é uma aposta séria e real em grande parte dos clubes. Para confirmar isso, Franks et al. (1999, cit Moita, 2008) referem que “há cada vez mais preocupação e empenho no desenvolvimento de jovens jogadores”. Torna-se, então, primordial que se compreenda de uma forma inequívoca que o Futebol de formação é uma escola de jogadores de Futebol, que prepara o atleta ao longo do seu processo de desenvolvimento desportivo, para que, a posteriori, lhe seja concedida a possibilidade de integrar as equipas seniores do seu clube. Desta forma, e para que este processo de formação se tornasse possível, foi indispensável a criação, por parte dos clubes, de estruturas próprias denominadas de Academias. Estas, caraterizam-se por ser um espaço de instrução, conhecimento, valores e saberes desenvolvidos ao longo de vários anos por um conjunto de colaboradores e praticantes. Para além da vertente educacional e cívica, estas têm que ter um objetivo primordial que, na generalidade, passará por formar futuros atletas profissionais do clube. Tendo em conta o processo de formação mediado pelas Academias dos clubes, justifica-se que nos reportemos à importância da integração de jogadores, provenientes das academias, futuramente nas equipas seniores, uma vez que os clubes cada vez mais reconhecem que, ao investir nestes atletas desde o início do seu percurso, investindo na educação, treino e. 4. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(27) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. promoção de experiências práticas, os levará a estimular o aumento das suas aptidões e competências, concedendo assim ao clube um aumento da performance desportiva que mais nenhum jogador vindo do exterior pode proporcionar. À medida que o mundo evolui, o Futebol acompanha essa evolução, o que tem levado os clubes e equipas técnicas a delinearem estratégias capazes de dar resposta a este progresso. Com isto, e de forma a colmatar algumas dificuldades sentidas e analisadas ao longo dos tempos, o processo de observação ou também denominado Scouting, tem ganho uma importância fulcral no que diz respeito ao Futebol atual. Posto isto, a análise de jogo assume, cada vez mais, um papel de destaque na rotina do dia-a-dia de uma equipa de Futebol. Garganta (2000) refere que a caraterização da estrutura da atividade e a análise do jogo de Futebol têm apresentado uma importância e uma influência notoriamente crescente, sempre que o treinador estrutura, delineia e organiza o seu treino. É também de notar que é comum o recurso à observação de jogos da equipa adversária, com o propósito de adquirir informação que possa ajudar futuramente a preparação da equipa, permitindo alcançar o melhor resultado possível na competição em que se encontra. O que nos permite constatar, então, que as equipas técnicas dos clubes consideram essencial a utilização da observação e análise do jogo, recorrendo frequentemente à mesma, tendo sempre por base a recolha de informação que possibilite a melhoria da qualidade do treino e, desta maneira, o consequente aperfeiçoamento do desempenho na competição. A realização deste estágio compreendeu várias ações e tarefas distintas; das quais uma corresponde à nossa inclusão, na qualidade de estudante estagiário, enquanto elemento da equipa técnica do escalão de Juniores (sub19), bem como no departamento de Scouting do clube União Desportiva Sousense (U.D.S) no escalão sénior, no período compreendido entre Agosto de 2014 e Junho de 2015.. 5. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(28) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Como função principal exercida, compreende-se o apoio e. o. acompanhamento atuante dos restantes membros da equipa técnica, no escalão de Juniores (sub-19), no processo de treino e jogo, e no escalão sénior como membro ativo do departamento de Scouting da U.D.S., no processo de observação e análise das equipas adversárias do clube. De forma a executar as funções principais, torna-se necessário cumprir outras funções e tarefas adjacentes para que todo o processo inerente ao estágio profissionalizante seja consumado de modo eficaz, nomeadamente: - Preparação dos microciclos, estando assim comprometido com o planeamento e elaboração de treinos e jogos, relativamente ao escalão Sub19; - Composição de um relatório de observação das equipas adversárias intrínsecas a esta análise, no escalão Sénior e no escalão Júnior, quando solicitado pelo treinador principal; - Elaboração de um relatório de estágio, de forma a caracterizar todo o processo inerente, a entregar na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). Posto isto, foi necessário delinear, de uma forma clara, o objetivo principal do relatório de estágio, uma vez que este deve ser enunciado e formulado de uma forma precisa, explicitando que o autor tem intenção de realizar, isto é, as metas que se pretende alcançar com a realização deste estágio e posteriormente a redação do presente relatório. Assim, o objetivo geral a que nos propusemos dar resposta consiste em proceder a uma análise profunda e reflexiva sobre o processo desportivo do escalão júnior e sénior da U.D.S, no que diz respeito à inclusão de atletas juniores no escalão principal. De forma a viabilizar a consumação do propósito geral, e dar resposta à problemática abordada, foram delineamos os seguintes objetivos específicos:. 6. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(29) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. - Perceber qual a importância da formação no percurso dos atletas; - Compreender a importância do Futebol de Rua, na expressão do desempenho futuro; - Compreender de que forma o treinador se constitui como um sujeito fundamental no processo de formação; - Identificar de que modo a família pode condicionar a carreira de um praticante; - Conhecer o funcionamento do departamento de observação da União Desportiva Sousense; - Entender a forma de ação de todo o processo de observação das equipas adversárias; - Averiguar quais os tipos de observação existentes e suas implicações diretas; - Compreender se o processo de Scouting, na sua vertente de observação e análise da equipa adversária, se constitui como um aspeto indispensável para a preparação do jogo contra essa equipa. Como finalidade, este relatório compreende a análise crítica do processo de estágio, estando nela vincadas inúmeras tarefas de trabalho, pensamentos e ensinamentos recolhidos com base nas experiências vividas, desde o começo até à finalização do mesmo incluindo, assim, a narração de tarefas e funções adjacentes delineadas inicialmente, bem como perspetivas de futuro diretamente relacionadas com esta atividade. Relativamente ao processo de realização do relatório de estágio, podemos verificar que, com a intenção direta de dar resposta a todos os objetivos definidos, o presente relatório encontra-se estruturado do seguinte modo:. 7. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(30) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. - Introdução, que tem como finalidade a estruturação do foco do presente estágio, descrevendo de uma forma resumida o estado atual de conhecimentos relativamente ao exercício profissional considerado. É também nessa fase que são apresentados os dados gerais do estágio bem como os objetivos delineados para o mesmo; - Enquadramento da prática profissional, onde facultamos a revisão de literatura, enquadrada no contexto associado, de forma a dar suporte a todo o relatório de estágio, dando tanta ênfase ao macrocontexto como ao caminho da base até ao topo e ao processo de observação; quer aos contextos legais, institucionais ou de natureza funcional; - Realização da prática profissional, abordando os dois escalões envolvidos, juniores (Sub-19) e seniores, descrevendo todas as atividades desenvolvidas, as funções exercidas e ainda as dificuldades sentidas ao longo deste período de aprendizagem. - Considerações finais e perspetivas para o futuro, ponto fulcral para refletirmos sobre todo o trabalho realizado, bem como retratar todo o conhecimento absorvido através deste estágio e assim repensar sobre as intenções que se seguirão após o término do mestrado; - Referências bibliográficas, nas quais sustentamos o nosso relatório profissionalizante; - Anexos, em que colocamos todos os documentos necessários e imprescindíveis para completarem a informação referenciada ao longo de todo este documento, como por exemplo os guiões de entrevistas e questionários realizados.. 8. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(31) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Capítulo I – Enquadramento da Prática Profissional. 9. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(32) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 10. Tiago Filipe Oliveira Silva. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD.

(33) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. 1. Enquadramento da Prática Profissional De forma a iniciar este enquadramento, iremos abordar os contextos onde o presente estágio profissionalizante se encaixou, quanto ao seu contexto legal, institucional e de cariz funcional, para posteriormente nos voltarmos para o enquadramento de onde surgiu a prática profissional, ou seja, como membro ativo das equipas técnicas dos escalões Júnior e Sénior. Posto isto, procedemos à revisão de literatura, relacionada com o macrocontexto associado, com o intuito de fundamentar o conteúdo do relatório de estágio profissionalizante. Neste contexto, são abordados dois aspetos fulcrais, o caminho da base até ao topo e o processo de observação, de forma a situar as tarefas e funções que foram realizadas ao longo do estágio.. 1.1. Contexto Legal e Institucional. O estágio profissionalizante realizou-se no escalão de Juniores (Sub-19) e no departamento de Scouting do escalão Sénior, da U.D.S., tendo sido inserido no Mestrado de Treino de Alto Rendimento Desportivo (MTARD) da FADEUP. Este surgiu a partir de contactos formais e informais entre a própria FADEUP e a U.D.S. – através de um protocolo de colaboração específico solicitado pelo estagiário Tiago Filipe Oliveira Silva, apoiado na orientação do Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva e supervisionado pelo tutor Filipe Manuel Nunes Cândido. Teve como duração o tempo compreendido entre Agosto de 2014 e Junho de 2015 e suportou um trabalho diário, somando um total de 24 horas ao longo da semana, e ainda a observação de jogos realizada normalmente ao fim de semana.. 11. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(34) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 1.2. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Contexto de Natureza Funcional. Relativamente ao contexto de natureza funcional, as funções executadas neste estágio prendem-se em dois escalões diferentes, isto é, o escalão de juniores (Sub-19) e o escalão de Seniores. Deste modo, as principais funções exercidas ao longo deste processo de aprendizagem. no. escalão. de. juniores,. centraram-se. no. apoio. e. acompanhamento aos restantes membros da equipa técnica no processo de treino e jogo, enquanto no escalão Sénior fizemos parte do processo de observação e análise das equipas adversárias do clube, como membro ativo do departamento de Scouting da U.D.S.. 1.3. Macrocontexto – O caminho da base até ao topo e processo de observação. 1.3.1 O caminho da base até ao topo 1.3.1.1. Futebol de Rua. “No meu bairro em Porto Alegre passei a infância a jogar à bola. Nunca me separava da bola, driblava, driblava, driblava sem parar. Jogava na rua com os meus colegas, mas também jogava horas sozinho ou com o meu cão, o “Bombom”, que era incansável. Com ele, tentei todas as fintas possíveis, para evitar que ele trincasse a bola, com excepção do “túnel”, porque o “Bombom” tinha as patas curtas.” (Ronaldinho Gaúcho in Pacheco, 2005: 44). Espontaneidade. Para muitos foi assim o seu primeiro encontro com a bola de Futebol. Sem nenhuma base teórica e sem orientação, iniciaram a sua aprendizagem sobre este novo mundo, onde a cumplicidade entre o indivíduo e a bola nunca foi tão dócil, onde cada piso, independentemente da sua. 12. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(35) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. qualidade, servia para jogar Futebol, nem que fosse durante três minutos antes das aulas começarem. Tudo parecia mágico! Na verdade, “se pensarmos na origem dos melhores jogadores do mundo, neles não existem grandes academias, campos relvados e botas fantásticas. Existem, isso sim, bairros de lata, baldios de terra revolta e pés descalços.” (Lobo, 2007b: 110). Com pouco ou nada, muitos inventam campos de Futebol para satisfazer o seu único vício, o gosto pela bola, jogar Futebol. Na praia, de simples montes de areia se fazem balizas, onde a cultura e a educação são regidas pelo prazer e não pela sociedade. Qualquer que seja o estrato social da criança, dentro das “quatro linhas” as regras são estabelecidas pelo ditador/comandante, a bola. “Os meus primeiros jogos tiveram lugar no prestigiado estádio da rua Rubens Arredo: «balizas» feitas com sapatos velhos, em cada uma das extremidades – uma onde a rua terminasse num “beco” sem saída e a outra onde se cruzava com a rua Sete de Setembro; as linhas laterais eram mais ou menos onde as casas começavam de cada lado. Mas para mim era como se fosse o Maracaná, e foi o local onde comecei a desenvolver as minhas aptidões.” (Pelé, 2006: 36-37) Todas as crianças, em qualquer momento, independentemente de qual seja o campo, esquece a sua realidade e entra num mundo imaginário onde fintas e passes estão ainda por inventar. Neste mundo novo, o guião da mesma será apenas, e somente, a sua imaginação. Frisando a importância do Futebol de Rua, Michels (2001) escreve: “… o Futebol de Rua é o sistema educacional mais natural que pode ser encontrado. Se analisarmos o Futebol de Rua, concluiremos que a sua força reside no facto de se jogar diariamente de uma forma competitiva, com uma preferência para se jogar em todos os tipos de terreno, fazendo-o normalmente em grupos pequenos. No Futebol de Rua raramente vimos os miúdos a praticar gestos técnicos ou táticos de uma forma isolada.”. A rua tem-se revelado, assim, um marco de extrema importância para o desenvolvimento das qualidades técnicas dos jogadores, sendo que é. 13. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(36) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. disputado nos mais diversos locais ao longo de todo o mundo. Tudo isto possibilita aos jovens a aquisição de um repertório motor mais amplo, cultivando a imaginação e a ilusão de possíveis novos jogadores de maior qualidade. Com a vivência de experiências positivas tudo se torna mais fácil, o que possibilita arquitetonicamente a formação de bases sólidas para a inteligência, afetividade e sensibilidade da criança. Por outro lado, se existirem experiências negativas, poderá surgir um comprometimento dessas mesmas estruturas. Nesta linha de pensamento e segundo Zico cit. Fonseca (2006), “Cresci a aprender a resolver os problemas no meio da rua (…) talvez daí venha parte da minha habilidade.” Grandes nomes do Futebol mundial partilham as suas experiências sobre a sua formação, com o sentimento de que o Futebol de Rua, na maior parte dos casos, foi a parte mais fundamental para o seu desenvolvimento enquanto jogador profissional. Não pode ser apenas coincidência que jogadores como Zico, Pelé, Maradona, etc., estejam sempre a enfatizar a grande importância que o Futebol de Rua teve nas suas bases enquanto jogadores de elite, afirmando que em cada campo que jogavam, haveria sempre um obstáculo qualquer que os ajudavam a desenvolver competências, seja a nível motor, tático ou psicológico. “… começamos a jogar futebol na rua com caroço de abacate (…). O facto de ter aprendido a jogar desta forma foi excelente, pois quando se joga num pomar, com o piso irregular e cheio de árvores, cria-se a necessidade de desenvolver um série de habilidades, pois, para não nos machucarmos, além de olhar para a bola e para o jogo, tínhamos que olhar para as mangueiras e para as raízes das árvores.” Sócrates (s.d.) (ex-internacional brasileiro). Rematando este pensamento, podemos citar as palavras de João Cunha (nosso entrevistado), “… o futebol de rua sempre foi um elemento importante no crescimento dos jogadores pois, antigamente, os jogadores passavam horas e horas a jogar futebol com bolas de diferentes tamanhos, em superfícies. 14. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(37) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. irregulares, jogando contra jogadores mais novos e mais velhos e, todas estas condicionantes permitiam que o jogador crescesse quer ao nível técnico, quer ao nível tático e psicológico pois para eles cada jogo seria como a final de um campeonato do mundo porque quem perdia, ficava de fora a ver os colegas jogar.” (Anexo II) Hoje em dia, tudo se está a tornar diferente. Talvez estejamos a passar por uma fase em que o Futebol se torna mecânico, isto é, onde não existe a espontaneidade evidente do Futebol de Rua, sobrando assim pouco espaço para a criatividade, para a magia falada anteriormente, bem como para a liberdade que é essencial. Valdano (1998) expõe a importância que tem de ser dada ao jogador: “… é necessário formar-se jogadores em quem a espontaneidade seja a norma.” Será natural que tudo isto se processe assim neste momento? É de notar que o ser humano precisa, e possui a constante necessidade de alteração e mudança, pressupondo, neste caso, que a alteração ocorra a nível da evolução do Futebol. Porém, o Futebol é um hábito que se adquire na ação. No Futebol de Rua, um dos principais fatores para o desenvolvimento dos jogadores é a pouca ou nenhuma intervenção dos adultos. Assim sendo, será que a “evolução/mudança” para as Academias de Futebol será o método mais viável? Vários são os relatos ilustres que corroboram a ideia de que o Futebol de Rua está neste momento a sofrer um desgaste e uma falta de interesse por parte das crianças e jovens uma vez que este Futebol, atualmente, só é praticado em entidades próprias sob compromisso, deixando de fora a liberdade, a espontaneidade e a criatividade que era habitual outrora. Garganta. (2006:. 313-326). afirma. que,. com. o. resultado. do. desenvolvimento das cidades, da diminuição dos espaços livres e do tempo disponível, se torna cada vez mais difícil encontrar espaços nos quais se possa jogar livremente, denotando-se assim uma propensão crescente para a diminuição da prática do Futebol de Rua.. 15. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(38) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. “A minha geração passava muitas mais horas a jogar futebol do que os miúdos de hoje em dia. Atualmente, os jovens só jogam futebol nos seus clubes e, por isso, há que dar muito mais ênfase ao trabalho de base.” Cruyff (2004). Muller (s.d.) refere que “… os grandes jogadores do Brasil aprendem a jogar na praia, na várzea ou rua”. Também Pelé menciona que a circunstância que o fez destacar-se dos demais prende-se no facto da sua rua possuir mais buracos do que a dos outros. “A tecnologia de ponta no futebol é a rua e a miséria. Numa partida improvisada, de imediato alguém inventa algo. No meio desse combate de pés descalços, um jogador que possa não ser muito alto (Salas), nem muito forte (Arellano), nem muito rápido (Gallardo), soluciona um problema de forma original. Com uma receção e um toque três adversários são ultrapassados (…) O jogador não usa o catálogo de soluções conhecidas, cria.” Jorge Valdano, (2002). Até que ponto as autarquias têm a responsabilidade por este tipo de urbanização? Mas, urbanização implica a diminuição de espaços livres para a prática de desporto? A resposta certamente que será não. A urbanização deveria implicar sim, a abertura de novos espaços para que exista uma prática livre. Será que o talento tenderá a desaparecer com os espaços livres? Com menos espaços livres, menor será a prática das crianças, logo deverá existir um decréscimo no talento que será denotado ao longo dos anos. Assim, o tema associado ao talento é extraordinariamente contestado em inúmeras áreas do conhecimento humano, tais como a educação, a psicologia, a matemática, as artes, a administração de empresas e, por fim e mais relevante para o nosso E.P, no âmbito do desporto.. 16. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(39) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Portanto, dentro deste prisma, a fortuna e a multiplicidade de estímulos acolhidos aquando da exposição a delimitados contextos, são consideradas essenciais para que esta virtude se mantenha em constante atualização. Neste sentido, possibilita o alcance da excelência e da perfeição. “Jogava na rua como todas as crianças (…) As bases e os conhecimentos que tu vais aprendendo nesse futebol de rua vão-te ser muito úteis no futuro. Se perderes estes hábitos de jogares na rua, no alcatrão, na terra, na pedra … não digo que vais ter mais dificuldades, mas não vais ter a base (…). Aquele é um futebol «pobre» e para tu seres um jogador «rico», não em termos de dinheiro, mas «rico» no sentido de ser um jogador com grandes bases, precisas de aprender esse futebol «pobre».” Rui Costa (2004). Quanto mais rápida for a familiarização da criança com a bola e com o jogo propriamente dito no Futebol de Rua, mais facilitada será a sua aprendizagem. Toda esta familiarização funciona ainda como um potenciador da sua motivação para a modalidade. Tudo isto é também apontado como tendo um impacto significativo naqueles que pretendem atingir altos níveis de desempenho. No Futebol não orientado, como o Futebol de Rua, todos os problemas sentidos surgem da maneira singular como as crianças entendem e reagem ao jogo, o que favorece a busca e a descoberta de múltiplas e distintas soluções de forma a solucionar esses mesmos entraves. “Se na rua os jogadores jogavam sem qualquer apoio dos adultos e resolviam os seus problemas porque é que nós em certos momentos não podemos recriar esses contextos deixando-os jogar a seu belo prazer?” João Cunha (Anexo II). É então de notar que o conceito de erro executa um papel preponderante e de extrema importância na formação de um atleta, possibilitando a estruturação do processo de aprendizagem e ensino em Futebol, incumbindo-se de ser um valioso cúmplice neste mesmo.. 17. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(40) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. A massificação urbana e as novas metodologias empregadas por parte dos novos treinadores serão então pontos fundamentais a ter em conta no dia a dia da formação dos atletas. Tendo em conta todas as impossibilidades para a prospecção atual do Futebol de Rua, as competências que o jogador adquire neste Futebol não orientado, estão a desaparecer de uma forma gradual. Assim, serão então as Academias um local propício, para colmatar a falta que se tem sentido sobre o Futebol de Rua?. 1.3.1.2. Academias. “Uma academia não serve só para descobrir talentos, precisa de ser essencialmente. uma. preparação. para a vida.” Mil-Homens (2003) A palavra Academia traduz um conceito muitas vezes utilizado para denominar as várias instituições vocacionadas para o ensino e promoção de atividades, sejam elas no âmbito das artes, das ciências, do desporto, etc. O clube desportivo é um dos locais rotineiros onde a formação acontece, por isso, alguns clubes delinearam e aprofundaram estratégias que contribuíram para a melhoria dessa formação, optando assim pelo investimento na criação de estruturas próprias, designadas por Academias. A imagem das Academias de Futebol idealiza-se como espaço de instrução, conhecimento, valores e saberes desenvolvidos ao longo de vários anos por um conjunto de colaboradores e praticantes. Para além da vertente da educação escolar e cívica, estas têm que ter um objetivo primordial que, na generalidade, passará por formar futuros atletas profissionais do clube.. 18. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(41) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Numa visão sobre o conceito das Academias, os coordenadores da U.D.S. durante a entrevista, mais propriamente João Cunha, falaram sobre a sua realidade, frisando que “A Academia “Estrelinhas do Douro” foi criada com o intuito de proporcionar aos miúdos uma prática mais regular … e de acordo com as ideias/premissas que pretendemos implementar no clube, seria mais fácil para todos a integração destes em escalões de competição e, ao mesmo tempo, dotá-los de uma maior qualidade a nível da relação com a bola.” (Anexo II). Deste modo, as Academias necessitam de expor e exibir aos jovens atletas uma grande diversidade de atividades motoras, que de uma forma lúdica possibilitem a compensação de distintos défices motores existentes nas atuais gerações, nomeadamente no domínio do seu corpo, do tempo e do espaço.. Esta. premissa. proporcionaria. harmoniosamente. um. Futebol. espontâneo e livre que era outrora praticado na rua. Posto isto, a bola deve então assumir-se com um fator elementar, tendo sempre uma comparência assídua e indispensável, para que as crianças muito precocemente se relacionem de uma forma muito particular com o Futebol. “Lembro-me em criança, de pedir sempre pelo Natal uma bola aos meus pais. Nem bicicletas, nem nada disso. A minha infância foi sair de casa de manhã e só voltar quando rebentava a bola. Para mim, futebol não é uma profissão – é uma bênção de Deus. Adoro a bola. Na minha vida não me imagino a ser outra coisa a não ser jogador de futebol.” (Cristiano Ronaldo, 2006) De acordo com Garganta (2006), a procura e o alcance do prazer pelo treino e pelo jogo deve ser parte constituinte de uma preocupação da qual não se deve descurar, pois tudo isso pode ter uma implicação direta na eficácia e no seguimento da prática do desporto por parte das crianças e jovens. É fundamental que os jovens joguem, brinquem e desfrutem de todo este processo de desenvolvimento desportivo, sendo que a prática desportiva tenderá a focar-se na construção de atitudes motivadoras que, de alguma. 19. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(42) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. forma, encaminhem o atleta para o gosto, pela superação e pelo aprimoramento de competências, desenvolvendo assim um gozo pelo esforço e pela dedicação. É então de reparar que, para se jogar com satisfação e com boa qualidade e habilidade, é necessário que a criança consiga retirar prazer pela prática do Futebol. Só assim, através do alcance da emoção e da razão, lhe é possibilitada a escolha da tão importante tomada de decisão. Oliveira (2001) expõe que a implementação e reforço da formação potencia uma das grandes soluções para amenizar e resolver os problemas económicos dos clubes. Desta forma, este sugere a elaboração de estruturas próprias, bem como a transformação de conceitos e metodologias, para que desse modo “o número de jovens com talento seja maior do que o da realidade atual.” Podemos também referir que a formação desportiva dos jogadores deve sempre espelhar outras orientações diretamente relacionadas com a educação do atleta. Caso contrário, a extrema pressão muitas vezes estabelecida pela competição constante irá desencadear na criança níveis elevados de ansiedade, propiciando altas taxas de abandono precoce do Futebol. Com isto, e sem o devido acompanhamento do atleta, a pressão pode provocar um bloqueio que impeça o jovem jogador de adquirir e desenvolver todas as suas competências necessárias para a prática de funções em outras organizações fora do mundo do desporto. Segundo Cruz (1996), existem várias fontes potenciais de stresse ao nível dos jovens atletas, tais como o medo de falhar, incluindo o receio de ter um rendimento inadequado, a preocupação relativa às avaliações do seu rendimento por parte dos adultos, bem como sentimentos de incapacidade e baixa autoestima. A prática constitui-se então como um requisito necessário para que surja a aprendizagem e, desta maneira, sejam alcançados sublimes níveis de desempenho da performance dos jogadores.. 20. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(43) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Stratton, Reilly, Williams & Richardson (2004) descrevem que a missão fulcral de uma Academia de Futebol prende-se no facto de esta potenciar um ambiente que privilegia o desenvolvimento dos jogadores de elite que futuramente possam fazer parte da equipa principal do clube. Porém, para que tudo isso aconteça, é essencial em todo este processo, tempo e persistência, uma vez que nenhum processo de formação pode demonstrar como inquietação primária a obtenção de resultados rápidos e imediatos. Corroborando com esta ideia, na entrevista a Filipe Cândido (Coordenador da formação da U.D.S. e ainda treinador do escalão sénior), este diz-nos que “Podemos aproximar as práticas da rua ao processo de treino. Mas não se consegue ter o mesmo tempo de prática.” (Anexo I) As Academias de Futebol possuem assim como objetivo primordial a melhoraria dos resultados desportivos a médio/longo prazo dos clubes, através do desenvolvimento e aperfeiçoamento das competências humanas, técnicas e táticas dos jogadores. A formação feita desde os catorze anos de idade facilita, e muito, a assimilação e a integração da cultura e do modelo de jogo da equipa. A aprendizagem não deve ser nunca demarcada pela espera de rendimentos imediatos, pois poderíamos estar a comprometer desta forma a evolução futura do jovem jogador (Mesquita, 1997). A formação desportiva é então um percurso de longa duração, em que cada bloco educacional deve ser construído e consolidado ao longo de um espaço mental, preocupando-se com as necessidades de cada atleta, não descurando estes indivíduos como um todo. “Esta pressa de obter tudo, de uma só vez, sem perspetiva de percurso, sem semear, é muito própria dos nossos dias” (Ramos, 2006:8). Entendemos que, tais práticas devem ser perspetivadas com o cuidado que se justifica. Nos dias de hoje, faz falta empregar uma nova forma de ensinar os jovens jogadores, considerando o atleta mais como um jogador racional, do que como um simples executante.. 21. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(44) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. O entusiasmo do jogo espontâneo permite aos praticantes, o desenvolvimento natural de competências adquiridas através de experiências de jogo vivenciadas através do Futebol de Rua. Estes tem que se adaptar e moldar ás diferentes condições existentes no meio, o que faculta uma aprendizagem ampla e enriquecedora. Deve-se procurar assim, retardar o máximo possível o abandono desta prática, procurando fazer dela sempre a primeira fase da formação do atleta. “Conduzir a bola descalço, sem torcer o pé num daqueles buracos, já seria uma façanha. Driblar perto da ribanceira sem deixar a bola escorrer por ela, a façanha ainda era maior. Garrincha praticava as duas proezas com a maior das facilidades. No primeiro caso, porque de tanto “topar” com os buracos, aprendera a driblá-los junto com o adversário; no segundo, porque detestava ter de descer a ribanceira para ir buscar a bola – onde tentava não perdê-la.” (Castro, 1995) “Abranda a velocidades com que vives ... Observa-as a crescer e regista todos os pormenores. Aprecia cada momento e nunca desejes pelo futuro.” (Erickson, 2004) Ao encontro desta ideia, Raposo (2006) indica que, ao ultrapassar etapas, apressando alguns conteúdos importantes da fase de preparação, poderá estar a provocar uma condenação na evolução do atleta, uma vez que o impossibilita de manter uma margem de progressão e desenvolvimento ao longo dos anos. “… a formação do jovem jogador requer tempo e paciência, sem pretensões de resultados imediatos.” (Pacheco, 2001) Garganta (1986) refere que um atleta passa indefinivelmente por várias fases antes de alcançar os mais elevados níveis de desempenho desportivo, afirmando que, para que tudo isso seja possível, é necessário racionalizar, organizar e estruturar todo o percurso do atleta, desde o início da sua formação até ao nível mais elevado do seu desempenho. Posto isto, é fundamental que. 22. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(45) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. uma Academia de Futebol seja capaz de criar um ambiente o mais adequado possível para o desenvolvimento de jogadores completos. Racionalizando desta forma, as Academias ao preocuparem-se com os atletas a um longo prazo poderão assim instruir um atleta que num futuro próximo lhes dê garantias em conformidade com as ideias do clube. Fortificando este pensamento, João Cunha, na entrevista, refere que na Academia da U.D.S. “… existe uma ideia geral comum a todos os escalões e, dentro desta ideia, procuramos adaptá-la às diferentes fases de crescimento dos jogadores, proporcionando-lhes contextos propícios ao seu crescimento gradual e sustentado, de modo a estarem mais preparados para subir na pirâmide futebolística.” (Anexo II) Para proporcionar aos jovens atletas uma excelente formação, o currículo de uma Academia deve sustentar. sobretudo considerações. direcionadas ao desenvolvimento das seguintes “categorias”: técnicas, táticas, físicas, comportamentais, sociais, psicológicas, educacionais, nutricionais e de qualidade de vida (Stratton et al., 2004).. 23. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(46) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Componente Física. Competências Comportamen tais. Componente Tática. Currículo Padrão de uma Academia Componente Vocacional/A cadémica. Componente Nutricional. Componente Psicológica. Figura 1 – Currículo padrão de uma Academia de Futebol, adaptado de Stratton (2004). “A cultura do impacto mede com muito mais generosidade o episódio isolado que o trabalho contínuo.” ( Valdano, 2008) Kershaw (s.d.) refere que “muitos dos jovens que passam pela nossa escola nunca irão jogar no Manchester United. (…) Por isso, temos que os obrigar a seguirem os estudos, porque o mais importante é que tenham sucesso na vida.” Muitos atletas possuem o sonho de serem grandes estrelas do Futebol no futuro, tornando muito mais fácil para estes a decisão de pensarem em deixar de lado os estudos, concentrando-se única e exclusivamente nesta modalidade coletiva. Com isto, a Academia tem como responsabilidade incutir aos jovens a ideia de que o mundo vai mais para além do Futebol, permitindo que seja assim possível incentivar os jovens atletas ao nível do seu desenvolvimento futebolístico, mas também a nível da sua formação académica (Stratton et al., 2004).. 24. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(47) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Através destas ideias, denota-se então que uma Academia de Futebol é um local que, para além de ser o sítio onde ocorre o desenvolvimento desportivo dos jogadores, é um lugar onde existe um grande incentivo e apoio no que diz respeito à parte académica e formação individual do atleta, razão pela qual se manifesta a importância do recurso à formação através das Academias de Futebol. Os propósitos primordiais das Academias passam desta forma pela concretização de um desenvolvimento técnico, académico, pessoal e social de cada indivíduo, uma vez que a educação de todos os seus jovens jogadores é um dever e uma obrigação do próprio clube. Tudo isto tem de ser realizado segundo uma visão holística, isto é, apreciar o indivíduo como um todo, não podendo ser detentor de comprometimento devido a uma maior ênfase dada ao desenvolvimento da técnica (Fulham Football Club, 2003). Podemos deste modo indicar que um atleta ao longo de todo o seu ciclo de formação deve ser encarado como um todo, a nível global, não descurando nenhuma das suas partes. O jogador não passa apenas pelo desenvolvimento técnico, mas sim por uma série de vertentes que o formador deve ter em consideração, pois, se o treinador de formação encarar o seu atleta como um todo completo, este consegue assegurar um perfeito desenvolvimento de todas as suas capacidades, principalmente as menos visíveis. De referenciar esta ideia, visto existirem ainda muitos agentes desportivos que descoram muitas partes do processo de formação do atleta. O treinador tenta entender atitudes do seu jogador através do processo de treino, esquecendo-se quase sempre das variáveis fora desse contexto, como por exemplo experiências no seio escolar e principalmente no seio familiar. Desta forma conseguimos perceber que a principal fonte educacional do atleta ocorre ao nível do seio familiar. Porém, o treinador terá acesso ao conhecimento dessa estrutura? Por isso, acreditamos que o seu agregado familiar deverá ser parte integrante do processo a que o jovem está associado.. 25. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(48) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. Segundo Mil-Homens (2003), este processo de desenvolvimento é um trajeto nada solitário, onde os pais têm uma palavra importante a dizer. Citando o mesmo, “O problema é quando são os próprios pais a incentivarem-nos a tirar os miúdos da escola, porque o que querem é ver o filho num clube de futebol. Por vezes, esquecem-se de precaver o futuro e de pensar que, se o filho parte uma perna, perde o futebol e pode perder-se para a vida.”. João Cunha (Anexo II) assume que a família será sempre a base para a formação de qualquer atleta, transmitindo assim inúmeros valores cívicos e morais aos aprendizes, pois são estes mesmo que passam a maior parte do tempo com os jogadores. Afirma ainda que, sem essa ajuda, o processo de formação nas academias seria ainda mais difícil. Também Leal & Quinta (2001) mencionam que “Não se trata apenas de treinar. É mais que isso: é educar, é acompanhar o crescimento e maturação, é sentir os problemas dos atletas, é participar, é viver e acompanhar a escola, o namoro ou a discoteca.” Posto isto, o Futebol de Rua bem como o seu posterior processo de treino que ocorre nas Academias, para além de serem distintos tanto a nível cronológico com a nível funcional, são indicados como sendo similarmente preponderantes no que diz respeito à formação de um jogador de alto rendimento. Em suma, podemos verificar que a formação desportiva do jogador se constitui como um ponto essencial para toda a sua preparação desportiva. É então de notar que é de extrema importância a delineação prévia de objetivos em cada fase do seu processo de formação, para que assim o seu crescimento e evolução ocorram de uma forma regular e coerente (Mesquita, 1997).. 26. Tiago Filipe Oliveira Silva.

(49) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Treinadores – Competências e funções. 1.3.1.3. Segundo. Relatório de Estágio – Futebol Mestrado TARD. o. Dicionário. da. Língua. Portuguesa,. o. conceito. de. treinador assenta no pressuposto de que este é um profissional que se encarrega de treinar, de instruir um atleta ou de orientar exercícios de desporto. O treinador executa um papel de extremo valor, muitas vezes fundamental, no que diz respeito ao encaminhamento do atleta neste longo processo que será a sua formação. Este não será o condutor desta jornada, mas sim um guia de percurso. Adelino, Vieira & Coelho (2001) enunciam que os treinadores devem colaborar durante toda a formação dos jovens em todas as suas vertentes, devendo assim fortalecer-lhes o prazer e o hábito da prática desportiva regular. Estes devem ser realistas e propor metas que sejam consideradas pelos jovens concretizáveis, ou seja, possíveis de alcançar. Similarmente, devem potenciar as suas capacidades motoras gerais, de uma forma equilibrada e harmoniosa. Tal acontece com a coordenação motora, devendo ainda focar na aprendizagem, o aprimoramento das técnicas básicas da sua modalidade, neste caso o Futebol. O. treinador. afigura-se. assim,. com. uma. enorme. importância,. relativamente às vidas dos jovens atletas, conseguindo exercer uma influência profunda e positiva no crescimento pessoal e social dos adolescentes. Para João Cunha, na entrevista realizada, o ideal de treinador para Academia da U.D.S. centra-se num indivíduo detentor de três premissas fundamentais: a) “Seja capaz de desenvolver na íntegra os seus jogadores, dotando-os de um conhecimento tático-cognitivo, técnico e psicológico; b) Adaptar as suas ideias ao contexto em que está inserido e aos recursos humanos que possui para que as metas traçadas e definidas por estes sejam providas de significado para os jogadores e atingíveis;. 27. Tiago Filipe Oliveira Silva.

Referências

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