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O Impacto dos Eventos Musicais no Turismo da Cidade do Porto

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Ana Cláudia Pinto da Silva

O Impacto dos Eventos Musicais no Turismo da Cidade do

Porto

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Turismo, orientada pelo Professor Doutor João Paulo Faustino

Faculdade de Letras da Universidade do Porto setembro de 2016

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O impacto dos eventos musicais no turismo da cidade do Porto

Ana Cláudia Pinto da Silva

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Turismo, orientada pelo Professor Doutor João Paulo Faustino

Membros do Júri

Professor Doutor João Paulo Faustino Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professor Doutor Luís Paulo Martins Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professor Doutor Manuel Pinto Teixeira Instituto Superior de Línguas e Administração

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Sumário Agradecimentos...7 Resumo……….8 Abstract……….9 Índice de tabelas………...10 Introdução………...11

Capítulo I – Enquadramento Teórico...13

1.1. Turismo... ...13

1.2.Ciclo de Vida de um Destino Turístico...17

1.3 Diferentes impactos do turismo...19

1.4. Turismo em Portugal...24

2. - Eventos...26

2.1. Eventos Culturais e sua contribuição para a imagem de um destino………32

2.2. Festivais de Música...34

2.2.1. Festivais de Música em Portugal...36

2.3. Noção de “experiência autêntica” ...38

3. - Turismo Cultural...40

3.1. Política Cultural e Eventos...44

3.2. Turismo Criativo...46

3.2.1. Tipologias de experiências do turismo criativo...47

3.2.2. Perfil do turista criativo...48

3.2.3. Relação entre Turismo Cultural e Turismo Criativo……….49

3.2.4. Mudanças Políticas: da Cultura à Criatividade...50

4. - Turismo Musical...51

5. - Impacto da internacionalização das cidades no turismo...54

5.1. Internacionalização do Turismo Português...56

6. - Cidade do Porto...57

6.1. Eventos Culturais no Porto...60

6.2. Turismo e Arquitetura...64

Capítulo II. - Metodologia………...69 5

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1. Estudo de Caso ...69

1.1. Festivais de Música na Cidade...69

1.1.1. O caso do Nos Primavera Sound...69

1.1.2. O caso do Nos D Bandada...73

1.1.3. O caso do Caixa Ribeira...74

1.2. Entrevista à Porto Lazer...74

2. Resultados... ...77

Considerações finais...79

Referências bibliográficas...82

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Agradecimentos

Desde já, os meus agradecimentos começarão por mencionar que este foi, sem dúvida, o maior desafio da minha vida académica. Não só pelo crescimento e aprendizagem que me trouxe na área em questão, mas acima de tudo pelos bastantes entraves que superei neste percurso. Inúmeras foram as vezes que me ocorreram desistir, contudo houve sempre uma força interior a impulsionar-me para dar-lhe continuidade. E, neste momento, estou grata a essa força, pois todo o sacrifício investido surtiu numa sensação maravilhosa de dever cumprido.

Quero direcionar um agradecimento especial à minha amiga Catarina Organista, pelo companheirismo, lealdade, e palavra de motivação sempre pronta nos momentos mais complicados. A continuidade nesta luta deveu-se muito ao facto de te ter como suporte e apoio para tudo.

À minha amiga Inês Brito, pela ajuda preciosa na reta final.

Ao meu orientador, prof. João Paulo Faustino, por me direcionar e orientar pelos melhores rumos que a dissertação deveria tomar.

Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional, seja neste ou noutro qualquer desafio. E, em geral, aos meus amigos, que sempre me ajudaram a ver mais além neste percurso.

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Resumo

O turismo na atualidade mostra-se cada vez mais abrangente, apoiando-se nas mais diversas áreas de conhecimento. Para além disso, o perfil do turista tem vindo a sofrer alterações com o decorrer do tempo, sendo que este se tem tornado bastante exigente, na busca por experiências que se diferenciem do habitual e padronizado turismo de massas.

Por isso mesmo os eventos culturais, nomeadamente os festivais de música, revelam uma crescente importância como atividade que acrescenta valor à experiência que o turista procura, já que são capazes de criar ligações significativas entre o visitante e o território em questão. Estas ligações são veículos de comunicação e divulgação dos territórios, com impacto na imagem dos mesmos.

Esta investigação centrar-se-á no impacto que os eventos musicais poderão ou não ter num destino turístico, designadamente o Porto. Procurar-se-á avaliar o papel que estes desempenham no turismo, e o que este papel lhe acrescenta.

Avaliado esse impacto, tentar-se-á perceber se existe espaço para o crescimento dos eventos e festivais de música no futuro da cidade.

Palavras-chave: Turismo; Eventos Culturais; Festivais de Música; Porto.

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Abstract

The tourism at the present time is more and more inclusive, leaning on in the most several knowledge areas. Besides, the tourist's profile has been suffering alterations with elapsing of the time, and it has revealed itself quite demanding, in the search for experiences that differ of the habitual and standardized tourism of masses. For that reason, the cultural events, namely the music festivals, have been growing in importance as an activity that increases value to the experience that the tourist seeks, since they are capable of create significant connections between the visitor and the territory in subject. These connections are communication vehicles and promotion of the territories, with impact in the image of the same ones. This investigation will be centered in the impact that the musical events eventually have or not in a tourist destination, more specifically in Porto. There will be a try concerning the evaluation of the paper that these carry out in the tourism, and what does this paper

adds to it.

Appraised that impact, there will be a verification if space exists for the growth of the events and music festivals in the future of the city.

Keywords: Tourism; Cultural Events; Music Festivals; Porto.

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Índice de tabelas

Figura 1 – Total de chegadas de turistas internacionais entre 2010-2014 Figura 2 – Repartição das viagens, segundo os principais motivos, 2014 Figura 3 – Ranking dos principais indicadores de turismo internacional, 2014 Figura 4 – Ciclo de Evolução do Turismo, por Butler (1980)

Figura 5 – Impactos de diferentes dimensões no turismo Figura 6 – Tipologias de eventos

Figura 7 – Parâmetros da experiência no turismo Figura 8 – Tipos e subtipos de atrações culturais Figura 9 – Políticas Culturais

Figura 10 – Surgimento do turismo criativo

Figura 11 – Bases de atividade e tipos de experiência Figura 12 – Turista criativo

Figura 13 – Políticas Culturais tradicionais e Novas Políticas Culturais Figura 14 – Entrada de turistas no Porto entre 2010-2015

Figura 15 – Análise do mercado

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Introdução

A dissertação que agora se apresenta, intitulada “O impacto dos eventos musicais no turismo da cidade do Porto”, foi elaborada no âmbito do Mestrado em Turismo, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Para a sua elaboração, tomou-se como objeto de estudo os eventos musicais realizados na cidade em questão, e a sua contribuição para o desenvolvimento e aceleração turística da mesma. Assim sendo, as principais questões levantadas na abordagem desta temática foram: quais os impactos gerados pelos eventos musicais no turismo da cidade do Porto? Qual o nível de atração que estes eventos causam no espaço em questão? Haverá lugar para o aumento do número destes eventos?

De forma a dar corpo a esta investigação, iniciou-se uma revisão de literatura, recorrendo a artigos científicos, bem como a dissertações já realizadas, no âmbito do turismo e da sua relação com a cultura e os eventos. Recorreu-se ainda a dados estatísticos fornecidos pelo INE, de forma a comprovar a evolução do turismo em Portugal, e o contributo de áreas como a cultura e a música para a diversificação da sua oferta, sendo este um importante suporte para de seguida explorar a hipótese dos eventos musicais contribuírem favoravelmente para o turismo da cidade do Porto. Sobre a evolução do turismo, analisou-se o Ciclo de Vida do Destino Turístico, elaborado por Butler, de forma a entender a necessidade de sustentabilidade de um local em relação ao turismo. Foi também abordado Hall, e os impactos que diferentes áreas causam na atividade turística, para percecionar as diferentes relações que o turismo tem necessidade de desenvolver ao longo do tempo.

No fundo, esta dissertação aborda no seu enquadramento teórico a contribuição de Donald Getz para a relação entre turismo e eventos, passando ainda pelo turismo cultural e criativo, pois estes dois setores do turismo mostram-se cada vez mais dinamizadores da atividade em si e atraem o público crescentemente exigente e informado. Sobre estes dois temas, os nomes de Richards e Florida mostraram-se importantes bases. Quanto ao turismo musical e festivais de música, o estudo do trabalho de Gibson e Connell.

A abordagem à arquitetura mostra-se pertinente na medida em que esta é uma importante parte da cultura e um grande atrativo para todos aqueles que procuram arte e música, inseridos num contexto turístico paisagístico. Assim, é referido o trabalho de Lobo, que relaciona o turismo e a arquitetura.

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Termina assim o enquadramento teórico com uma reflexão sobre a internacionalização do turismo português, como forma de promovê-lo aos públicos de países exteriores, o que se mostra crucial no caso da divulgação de eventos musicais no estrangeiro.

De seguida, procedeu-se a uma investigação de base qualitativa que passou pela análise e recolha de notícias online focadas no turismo da cidade do Porto e nos seus eventos musicais, bem como pela realização de uma entrevista à Porto Lazer, entidade municipal que trata da realização de todos os eventos da cidade. O intuito era averiguar se os eventos musicais ou festivais de música são capazes de atrair um público mais alargado, que procure conhecer a oferta turística da cidade do Porto.

A partir da investigação realizada, é proposta a hipótese de aumentar o número de eventos deste género na cidade, pois conclui-se que estes, apesar de não serem totalmente influenciadores na atividade turística, geram uma dinâmica interessante. Diferenciam a oferta turística da cidade e atraem um público específico que procura música e um bom ambiente, para além de uma cidade histórica e rica culturalmente, com um custo de vida bastante acessível. É proposto ainda que as instituições responsáveis, como as municipais, promovam e apoiem um pouco mais estes eventos, que são realizados maioritariamente por órgãos privados ou através de patrocínios. Por fim, entende-se a necessidade de criar uma maior divulgação, através de campanhas de marketing e publicidade com forte incidência nos países europeus que mais contribuem para o turismo do Porto.

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Capítulo I – Enquadramento Teórico 1.1. Turismo

O turismo é uma área multidisciplinar de importância crescente a nível mundial. Tal como Licínio Cunha (2010) refere na sua investigação intitulada “A definição e o âmbito do Turismo: um aprofundamento necessário.” o turismo é uma área de difícil definição, pois abarca em si a colaboração e ligação com diferentes áreas: “os autores e investigadores procuraram definir turismo, não já com preocupação de elaborar estatísticas, mas na tentativa de caracterizar uma atividade complexa que, emergindo no princípio do século, se viria a transformar numa das maiores atividades económicas mundiais. Contudo, também destas definições não resulta a clara compreensão do fenómeno turístico nem abarcam toda a sua realidade”.

Esta complexidade com a qual nos deparamos deve-se então à abrangência de tantas e tão diferentes áreas, que vão desde a economia à tecnologia, passando pela cultura e tantas outras mais que possam no seu âmbito envolver o turismo na sua atividade.

Para se referir à multidisciplinaridade do turismo, Getz (2004,2006, p.5) apoia-se em John Tribe, para defender que o turismo “não é uma disciplina, mas sim um campo de estudo delineado por várias disciplinas”.

Cunha (2010) alerta para esta multiplicidade de áreas implícitas no turismo, que “não devem ser desprezadas porque podem contribuir para encontrar um conceito ‘para fornecer arcaboiço teórico para identificar as caraterísticas essenciais do turismo” (Theobald, apud Cunha, 2010 p.3).

O autor propõe a sua própria definição de turismo, na tentativa de completar algumas lacunas no seu campo teórico tão vasto e diversificado: “Turismo é o conjunto das atividades lícitas desenvolvidas por visitantes em razão das suas deslocações, as atrações e os meios que as originam, as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades e os fenómenos e relações resultantes de umas e de outras”.

Esta visão de Cunha (2010) é claramente voltada para a Sociologia, tal como a sua formação académica, apontando o foco para as relações interpessoais geradas através da conjugação das várias atividades no turismo.

A Organização Mundial de Turismo (OMT,2014) apresenta uma proposta de definição de turismo que reúne talvez uma maior concordância dentro da área: “conjunto de atividades desenvolvidas por pessoas durante as viagens em locais situados fora do seu ambiente habitual por um período consecutivo que não ultrapasse

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um ano, por motivos de lazer, negócios e outros”. Esta é a definição que parece ser mais frequentemente utilizada e geralmente aceite pela comunidade de investigadores quando se referem à atividade turística, provavelmente por se referir de uma forma mais geral e abstrata aos deslocamentos gerados pelo turismo, abarcando em si qualquer ramo associado ao turismo.

Tal como vimos acontecer com Cunha (2010), cada investigador que propõe uma definição teórica de turismo tenta enquadrá-la com a sua base académica.

Barreto (1995, p. 9), por exemplo, avança com uma definição voltada para o caráter económico do campo em análise: “turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os económicos, que se manifestam na chegada, permanência e na saída dos turistas de uma determinada cidade, país ou estado”.

Por sua vez, Beni (1998, p.153) mostra-se mais interessado em salientar a vertente sociocultural do turismo, alegando que este corresponde a “um conjunto de recursos naturais e culturais que, em sua essência, constituem a matéria-prima da atividade turística porque, na realidade, são esses recursos que provocam a afluência de turistas. A esse conjunto agrega-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu consumo, os quais compõem os elementos que integram a oferta no seu sentido amplo, num estrutura de mercado”. (Pires, 2004).

Reportando-nos um pouco à origem histórica do turismo, e apesar de este já conhecer algum, porém escasso, desenvolvimento desde a Antiguidade Clássica, será de maior interesse analisar a sua evolução a partir da Revolução Industrial, com o surgimento do excursionismo mais fortemente encarrilado por Thomas Cook. Tal como refere Barreto (1999), assim surgiu o “turismo coletivo” em 1841, com a organização do primeiro tour devidamente organizado e com todo o pacote de facilidades incluído. Foi assim que no século XIX, Cook fez nascer a primeira agência de viagens, incluindo nos seus tours excursões de barco e comboio.

Magalhães (2008) realiza uma análise histórica da atividade turística simples e abrangente, refletindo que, para chegar ao turismo tal como o conhecemos hoje, contribuíram as conquistas dos trabalhadores desde o início do século XX (redução dos horários laborais e aumento dos salários), capazes de criar as condições necessárias para a consolidação e massificação da área. Este fenómeno conheceu maior expressão na Europa do pós-guerra. O autor refere ainda que a flexibilização do tempo de trabalho e a valorização do tempo de ócio, características do capitalismo, abriram importantes portas para agilizar a atividade até à atualidade.

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Segundo o INE (2014), baseando-se em dados da OMT, a chegada de turistas internacionais a Portugal ascendeu aos 1 134,7 milhões, o que representa um aumento de 4,4% ao verificado em anteriores estudos.

Figura 1 – Total de chegadas de turistas internacionais entre 2010-2014

No mesmo ano de 2014, a Europa recebeu “mais de metade dos turistas internacionais (51,4%)” a nível mundial.

Também com base em dados da OMT, o INE (2014) analisou os principais motivos de viagem a nível mundial.

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Através do gráfico, denota-se uma clara vantagem para a “Visita a familiares ou amigos” (46,0%), seguindo-se o “Lazer, recreio ou férias” (40,6%) e os motivos “Profissionais ou de negócios (8,7%).

Quanto aos principais mercados emissores de turismo para Portugal, destaca-se em primeiro lugar o Reino Unido (24,2%), seguindo-se a Alemanha (13,5%) e a Espanha 11,1%).

Figura 3 – Ranking dos principais indicadores de turismo internacional, 2014 A nível internacional, localizamos no quadro (INE, 2014) acima Portugal quanto a entradas de turistas internacionais, receitas de turismo internacional e despesas em turismo internacional. Tendo em conta a dimensão do nosso país face à dimensão dos primeiros países do ranking, podemos considerar que se encontra favoravelmente posicionado, possuindo ainda margem para evoluir nos próximos anos.

Em relação a Portugal, esta evolução que se tem vindo a fazer sentir foi importante para o Plano Nacional Estratégico (PENT, 2015) definir o destino como sendo:

“1. Um destino sustentável e de qualidade, onde crescimento turístico é compatível com a produção de benefícios para o território e as comunidades e onde o Estado, na preservação do território, deve saber cumprir o seu papel;

2. Um destino de empresas competitivas, onde um ambiente saudável para a iniciativa privada promove a concorrência e inovação na atividade turística;

3. Um destino empreendedor, munido de todas as competências e conhecimento que lhe permita ser o país campeão do empreendedorismo turístico;

4. Um destino ligado ao Mundo, onde a conectividade e a mobilidade dos turistas são ferramentas importantes na ativação da procura;

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5. Um destino gerido de forma eficaz, onde a definição clara das competências de cada agente não deve ser um entrave à iniciativa privada, à exploração de sinergias e intensificação da transversalidade do turismo;

6. Um destino que marca, cujas estratégias de promoção e comercialização devem resultar de visões técnicas e não políticas no sentido de almejar a eficiência.”

O objetivo será, então, abrir portas para mostrar o País ao mundo, tornando-se mais consolidado, competitivo e inovador em relação aos seus principais concorrentes

Através destes dados apresentados, é possível concluir que as tendências futuras apontam para que o turismo se imponha cada vez mais no mercado mundial: “O relatório da OMT, que prevê os números do turismo internacional em 2020, aponta que o turismo alcançará o lugar de primeira atividade económica no mundo com um total de 1600 milhões de turistas e gerador de receitas na ordem dos 2 biliões de dólares (Carvão, 2009). Desses 1600 milhões, 1200 corresponderão a chegadas intrarregionais e 378 milhões a viajantes de longo curso.” (Gomes, 2012, p. 20).

1.2. Ciclo de Vida de um Destino Turístico

Sendo que um destino turístico é dinâmico, e está sujeito a inúmeras mudanças causadas pelo tempo, pelo seu espaço, pelos setores envolventes, e até pelos visitantes e as suas preferências, Butler (1980) desenvolveu um modelo que explica por que estados passa determinado destino ao longo do tempo, desde o seu surgimento até à sua maturação. Este modelo é pertinente na medida em que expõe a importância de um planeamento adequado para a manutenção de um local como sendo turisticamente atrativo ao longo do tempo.

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Figura 4 – Ciclo da Evolução do Turismo, por Butler (1980)

Tal como demonstra o gráfico, este ciclo descreve as diferentes fases vividas por um destino: a fase inicial, de exploração, designa o momento em que surge um pequeno número de turistas, por iniciativa própria geralmente, e sem padrões de viagem formalmente definidos; o contacto com residentes e alojamentos locais é frequente, pois ainda não existem infra estruturas voltadas para a atividade turística. Com este pequeno movimento, surge a fase de envolvimento, na qual o número de visitantes cresce, e por isso faz sentido a criação de algumas infraestruturas exclusivas para estes mesmos. São gerados alguns mecanismos de organização e promoção do local, assim como algumas áreas de comércio para turistas. O forte contacto com a população local prevalece ainda. Já na fase de desenvolvimento, é esperado que se defina um mercado turístico mais concreto, tendo por base uma forte promoção estratégica. Assiste-se a um decréscimo do envolvimento da população local na atividade turística. As infraestruturas locais são rapidamente substituídas por outras de grandes investidores e de maior dimensão. É valorizado o papel das atrações culturais, e podem ocorrer transformações na imagem física do local. O número de turistas cresce de tal forma que chega a igualar ou ultrapassar a quantidade de população do local.

É aqui que entra a fase de consolidação do destino, que se depara com uma quebra no aumento de turistas a chegar. A economia do local está muito centrada na atividade turística, e há uma tentativa de diminuir a sazonalidade do turismo. Algumas infraestruturas perdem o seu valor e reconhecimento inicial, e as atrações culturais podem ser substituídas por outras mais “artificializadas” e massificadas. É esperado um desenvolvimento das áreas envolventes do destino.

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Na fase de declínio, o destino perde o seu nível de competitividade, as suas infraestruturas turísticas começam a ser substituídas por outras de outros setores, à medida que os potenciais visitantes demonstram desinteresse em relação ao mesmo. Os preços baixam, pois o mercado é cada vez menos procurado.

Após esta fase, podemos assistir a diferentes situações: como evidencia o gráfico, no ponto A, o destino consegue um rejuvenescimento e expansão; no ponto B, é possível uma manutenção e um pequeno crescimento contínuo; no ponto C, torna-se difícil manter os níveis de estabilidade do destino; no ponto D, a saturação causada pelo uso continuado dos recursos leva a um declínio visível do mercado; e, finalmente, no ponto E, em caso de algum evento catastrófico ocorrer no destino, tornar-se-á bastante improvável que um dia este retorne como turisticamente viável.

Após esta análise, torna-se clara a necessidade de um destino ser devidamente planeado e organizado previamente, para que consiga manter o seu mercado estável ao longo do tempo e a sua competitividade alta em relação a outros locais que lhe sejam concorrentes.

1.3. Diferentes impactos do turismo

Sendo o turismo uma área multidisciplinar, como já foi constatado, será pertinente perceber que tipo de efeitos as diferentes disciplinas causam no seu mecanismo de funcionamento. Mason refere em “Tourism impacts, planning and management”, “O ambiente humano compreende fatores e processos económicos, sociais e culturais” (2011, p.36), e serão estes os fatores analisados de seguida. Estes impactos podem sofrer alterações ao longo do tempo, conforme as mudanças que ocorram na área de destino.

Hall (1999) elabora um quadro sobre os impactos que diferentes dimensões têm no turismo, mencionando os seus pontos positivos e negativos. Este quadro será apresentado, acompanhado de uma análise, de seguida, devido ao seu conteúdo completo ilustrar devidamente a temática agora abordada.

Tipo de impacto Positivo Negativo

Dimensão económica Aumento do consumo Criação de emprego Inflação e subida de preços Substituição do trabalho local pelo trabalho do exterior

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Aumento na procura laboral Aumento do valor imobiliário Aumento do nível de vida Maior investimento em infraestruturas e serviços Aumento do comércio livre Aumento de investimento exterior Diversificação da economia Emprego sazonal Especulação imobiliária Maiores lacunas entre ricos e pobres

Menor apoio e investimento em outros serviços Consideração inadequada de investimentos alternativos Estimativa

inadequada dos custos do

desenvolvimento da atividade Aumento do comércio livre Perda de poder local Dependência excessiva em relação ao turismo para emprego e desenvolvimento económico Indústria e Empresas Aumento da consciência do destino Aumento do conhecimento do investidor em relação ao potencial investimento e atividade comercial do Aquisição de fraca reputação resultante de equipamentos inadequados, práticas impróprias ou preços inflacionados Reações negativas das empresas devido à possibilidade de maior

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destino Desenvolvimento de novas infraestruturas e serviços, incluindo alojamento e atrações Aumento das acessibilidades Melhoria da imagem do destino

recursos humanos e apoios estatais Uso de imagens inadequadas de marcas e destinos Dimensões dos recursos naturais e ambientais Mudanças nos

processos naturais que valorizam o ambiente Manutenção da biodiversidade Conservação arquitetónica Preservação do património natural e edificado Manutenção e recriação de habitats e ecossistemas Mudanças nos processos ambientais naturais Perda de biodiversidade Poluição arquitetónica Destruição do património Destruição de habitats e ecossistemas Excesso na capacidade de transporte físico Dimensão sociocultural Aumento da participação local em atividades e eventos Reunião da comunidade Fortalecimentos dos valores e tradições da

Comercialização e modificação de atividades, eventos e objetos de natureza pessoal Mudanças na estrutura da comunidade Enfraquecimento ou perda de valores e tradições da comunidade

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comunidade

Exposição a novas

ideias graças à

globalização

Criação de um novo espaço para a comunidade Maior presença de segurança Turismo como promotor de paz Renascimento de tradições Aumento do

orgulho local e espírito de comunidade

Maior

entendimento intercultural Maior consciência dos valores e perceções exteriores Aumento da atividade criminal Perda de espaço da comunidade Isolamento social Excesso da capacidade de alojamento Perda de autenticidade Tendência para atitudes defensivas em relação às regiões anfitriãs

Aumento da

possibilidade de

desentendimentos entre população local e turistas

Maior alienação resultante das mudanças em relação ao que era familiar Integrado Politica/administraç ão Aquisição de reconhecimento internacional da região de destino Maior abertura política Exploração económica da população local para satisfazer ambições da elite política

Uso do turismo para fundamentar e

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Desenvolvimento de novas instituições administrativas legitimar decisões impopulares ou regimes Perda de poder local e de capacidade de tomada de decisões

Figura 5: Impactos de diferentes dimensões no Turismo Fontes: Hall (1999, pp.29,30).

Através deste quadro é possível perceber as implicações positivas e negativas do turismo. Na economia, pelo lado positivo, parece importante destacar os novos investimentos económicos e a diversificação da economia, capazes de dinamizar e incentivar a troca numa dada comunidade, assim como a construção de novas infraestruturas aptas para criar novos postos de trabalho e atrair público que estimule a atividade comercial. Pelo lado negativo, a intensificação da atividade turística pode trazer à economia um aumento de preços, o que afetará principalmente os residentes da comunidade, pois o turista terá maior predisposição para despender valores mais elevados em tempo de férias. A sazonalidade de alguns postos de trabalho é também preocupante para os residentes, que terão de procurar diferentes ocupações nas épocas em que a atividade turística se revele menos intensa. Ao verificar-se esta situação, a dependência excessiva em relação ao turismo é um fator negativo.

No que concerne ao ambiente e recursos naturais, há que destacar pelo lado positivo a conservação da arquitetura e património, capaz de atrair visitantes que buscam belos edifícios e monumentos, tanto pela sua história e simbolismo como pela sua autenticidade. Não obstante, quando estes não são devidamente mantidos, a falta de sustentabilidade leva à degradação e ao abandono como espaço turístico.

Ao nível sociocultural, os impactos positivos são diversos, principalmente porque o turismo é capaz de incentivar a participação de toda a comunidade em atividades e eventos que visem a atração e dinamização turística. Esta maior interação da comunidade leva ao reconhecimento da importância das suas próprias tradições, não só de revivê-las, mas também de reproduzi-las para que os visitantes aprendam sobre elas. Como contrapartida, pode surgir a perda de autenticidade, através da banalização destas mesmas tradições. Assim, parece que o ideal é mantê-las dentro da comunidade e protegê-las como sendo o “tesouro” de cada comunidade.

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Por último, a nível político/administrativo, reconhece-se positivamente o impacto internacional para qualquer destino, o que pelo lado negativo pode levar a um favorecimento das forças de poder.

1.4. Turismo em Portugal

Com base no estudo realizado por Mateus e Associados, em 2013, é percetível que o turismo como atividade económica se destaca das demais, devido ao seu movimento e consumo no tempo e no espaço, e à sua transversalidade entre os mais variados setores. Assim sendo, não se lhe conhece um diâmetro formalmente desenhado, pois este agrupamento de diversas áreas, aliado ao património material e imaterial, e às próprias preferências dos consumidores, não o permite. Atualmente, é claro o peso do turismo na balança económica portuguesa, e a dinâmica que os serviços movimentados em torno do turismo geram nesta balança, não só em termos de receitas, mas também em termos de empregabilidade. Neste mesmo estudo, estimou-se que as atividades que rodeiam as viagens e o turismo em Portugal são o principal núcleo de exportação da economia e com maior solidez face a concorrência das economias que emergem. Já em 2013, aquando a realização deste estudo, as atividades ligadas às viagens e turismo indicavam “um quinto do esforço global de exportação da economia portuguesa com cerca de 255 mil empregos, com 6,4 mil milhões de euros de valor acrescentado e com 15,2 mil milhões de euros de valor bruto de produção.”

Segundo uma notícia do Jornal Expresso (Mateus, 2016), baseada em dados do INE, neste mesmo ano Portugal atingiu novos números máximos no que toca ao turismo. A título de exemplo, “em fevereiro de 2016, a hotelaria registou cerca de 990 mil hóspedes, mais 122 mil do que em fevereiro de 2015 e mais 307 mil do que em fevereiro de 2006”, um aumento bastante significativo e indiciante de uma época próspera para o setor. Nesta mesma notícia, são indicadas algumas razões avançadas pelo INE para a ocorrência deste fenómeno: “a situação de instabilidade verificada em destinos concorrentes, a par da implementação de estratégias comerciais específicas em fevereiro, nomeadamente pacotes especiais do Dia dos Namorados e do Carnaval (em 2016 com tolerância na Administração Pública)”. Graças a estes fatores, Portugal tem vindo a obter condições para alcançar vantagens comparativas em relação aos seus principais destinos competitivos, sendo exemplo disso a Espanha. Espera-se que nos próximos anos, estes números e fatores venham a consolidar-se cada vez mais no território português.

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Também o Económico publicou uma notícia sobre a mesma temática (Lopes, 2016), onde destaca a evolução dos números do turismo e hotelaria em Portugal até níveis nunca antes atingidos. Porém, é de realçar a declaração do presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), Francisco Calheiros: “entrar neste despique de comparação de números faz desviar a atenção daquilo que é essencial e dos problemas estruturais que ainda se tem de resolver no turismo”, o que revela a necessidade de não cair num otimismo excessivo, mas sim continuar a batalhar para reparar as fragilidades do setor. Nesta mesma notícia, Bernardo Trindade, administrador do grupo PortoBay, destaca algumas novas tendências que têm contribuído para o este recente crescimento do setor: “Os números dos Açores [cresceu 19,6% em dormidas] refletem a entrada em rota da Ryanair e Easyjet”, identifica, a par do crescimento de Lisboa que resulta da “continuada afirmação desta importante capital europeia”. Bernardo Trindade argumenta ainda “a atenuação da sazonalidade algarvia, nomeadamente nos meses de Abril e Novembro” e “a interessante a evolução da atividade no Porto e Norte, Centro, Alentejo e Madeira”. Desta forma, é demonstrada a importância que as novas rotas low cost têm para o setor, abrindo portas a um maior número de visitantes, bem como a redução da sazonalidade, e o alargamento da atividade a regiões até então menos exploradas.

Tal como já foi avançado acima, quando foram discutidos alguns dados sobre o turismo Mundial e em Portugal, esta atividade tem sofrido uma evolução positiva no nosso país, que se faz sentir principalmente na economia.

De facto, o turismo é uma excelente alternativa para o desenvolvimento do país, não só a nível interno com a criação de emprego, como também a nível internacional, o que o impulsiona de forma a ser reconhecido externamente, a expandir a economia e a dinamizá-la.

2. Eventos

Já no domínio dos eventos, o nome de Donald Getz é incontornável. Este professor universitário centra os seus estudos e investigações nos domínios do turismo e dos eventos, sendo que são utilizados em grande parte dos trabalhos realizados nestas áreas, e por isso se torna tão interessante referi-lo neste trabalho.

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A sua definição de “evento” é aquela que trará maior concordância dentro deste campo de estudos, e aquela na qual um maior número de autores se apoiam. Getz afirma que um evento é “ uma ocorrência num dado local e período de tempo; um especial conjunto de circunstâncias; uma ocorrência pertinente” (2008, p.18). Este acontecimento deve ser devidamente planeado para um local em particular, e para atingir um objetivo em específico (2008, p.21), seja ele ligado à “economia, cultura, sociedade e ambiente”.

Marujo (2014 a.) desenvolveu um trabalho designado “Os eventos turísticos como campo de estudo académico”, no qual cita Marujo para descrever o mercado de eventos: “Para a OMT (2003), o mercado de eventos tem-se tornado um segmento altamente especializado e relevante para o setor turístico. Os eventos, seja qual for a sua tipologia, criam oportunidades para a viagem, aumentam o consumo e promovem o desenvolvimento, justificando a luta constante por parte das entidades governamentais na captação de eventos nacionais e internacionais. Em muitas sociedades, o turismo de eventos destaca-se, cada vez mais, como uma tendência promissora que gera movimento económico e social para o lugar onde se insere. ‘Eles surgem como uma arma para identificar um destino, melhorar a imagem do lugar ou combater a sazonalidade” (Marujo apud Marujo 2014 a., p.73). Através desta citação, discute-se a crescente preponderância dos eventos, nomeadamente para o setor em estudo, o turismo, mostrando-se como uma espécie de motor dinamizador e inovador capaz de atrair um público mais alargado.

“É um fato que muitos tipos de eventos realizados em países, regiões ou localidades (com âmbito regional, nacional e internacional) podem promover a atividade turística e gerar desenvolvimento. Daí, que muitas organizações de marketing e comunidade estejam cada vez mais envolvidas no planeamento, organização e promoção de eventos como atrações turísticas. Trata-se do chamado ‘evento turístico em marcha’ que pode ser visto como mais sustentável do que outras formas de desenvolvimento de turismo” (Getz apud Marujo 2014 a.). Esta citação vem dar força à realização de eventos associados ao turismo, como forma de desenvolver atividades furtuitas e experiências realmente significativas aos visitantes de cada destino. Para certas empresas ligadas ao ramo do turismo, os eventos são uma importante chave para diversificar a oferta e captar novos públicos.

Marujo (2014 a., p. 6, 7) defende ainda que “Há muitos estilos de eventos planeados e organizados com diferentes propósitos, mas em todos eles existe uma

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intenção de criar, partilhar experiências individuais e coletivas, de promover através da interação entre turistas e anfitriões diversas experiências”.

Tendo em conta esta última citação de Marujo (2014 a.), onde refere a existência de “muitos estilos de eventos planeados”, e sendo que os eventos possuem objetivos ou propósitos diferentes, apresenta-se de seguida as diferentes tipologias agrupadas por Getz (2002, p.30). Essas tipologias serão abaixo mencionadas através de um quadro de elaboração própria.

Tipologia Definição

Celebrações culturais “Eventos solenes que têm

significado cultural (...) Consistem em festivais, carnvais, comemorações patrimoniais, paradas ou ritos religiosos e rituais...”

Festivais “Um evento cultural que consiste

numa série de performances de trabalhos de belas artes, frequentemente dedicados a um só artista ou género” (Falassi 1987: 2)

Carnaval “...é uma celebração que precede a

Quaresma e é associada a festejos, tradições e paradas”

Comemorações patrimoniais “São serviços de homenagem,

cerimónias específicas ou eventos amplos (incluindo festivais) elaborados para honrar a memória de algo ou alguém”

Paradas ou Procissões “...geralmente são organizadas,

procissão celebratória de pessoas, e as mais populares são espetáculos móveis, entretenimento, ou outro objeto de captação do espetador, passando pela audiência numa progressão dinâmica”

Eventos Religiosos “...ritos e rituais solenes

encorporados, e são considerados sagrados no contextos de religiões específicas”

Eventos Políticos e Estatais “Qualquer evento produzido por e

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nesta categoria”

Artes e Entretenimento “Quase toda a atividade, desporto,

mostra artística ou evento pode ser visto como “entretenimento”. (...) Para ser preciso, tem de ser enfatizado que o entretenimento é passivo, algo que alguém experiencia por prazer sem ter que pensar sobre o seu significado cultural/histórico e sobre os valores que se expressam”

Artes Performativas “...tradicionalmente envolvem

pessoas a atuarem, como músicos, cantores, bailarinos ou atores, e audiências.”

Feiras “Um agrupamento num tempo

específico e local para a compra ou venda de bens (...) uma exibição com a intenção de informar as pessoas sobre um produto ou oportunidade de negócio (...) um evento, normalmente para o benefício da caridade ou instituição público, que inclui entretenimento e a venda de bens”

Feiras Mundiais “...tem um significado muito

específico, que deriva de um acordo internacional de 1928 e é regulado pelo Bureau International des Expositions (BIE) em Paris. BIE estabelece as políticas para comandar as feiras mundiais, que são habitualmente conhecidas como Expos.”

Literatura “Festivais ou outros eventos

planeados onde poesia e trabalhos escritos são comuns, e estes podem incluir “leituras” que são de fato performances”

Artes Visuais “Pintura, escultura e artesanato são

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ou exibições de artes visuais são eventos planeados”

Eventos de Negócios “O objetivo fundamental deste tipo

de evento é promover, vender ou comercializar, ou então conhecer objetivos corporativos. Mercados de agricultura, feiras e exibições (espetáculos de troca e consumo) são claramente baseados em vendas e marketing”

Encontros e Convenções “...são assembleias para

conferenciar e discutir (...) são geralmente grandes assembleias de associações, partidos políticos, clubes ou grupos religiosos (...) Corporações e associações implicam gerentes de encontro e convenção para tratar dos seus negócios”

Exibições “...são abertas ao público,

frequentemente com uma taxa de admissão, e os seus temas mais populares estão ligados a automóveis, viagens, recreação, animais de estimação, eletrónica, jardinagem, artes e outros passatempos”

Eventos Privados “Desde casamentos até

aniversários, bar mitzvahs, funerais, festas temáticas, festas de igrejas, podem requerer profissionais ou ser organizadas pelos participantes. A experiência é tanto pessoal como social, com múltiplos significados possíveis”

Flash Mobs, Encontro de Guerrilha e Lutas de Almofada

“Estes eventos são de certa forma anti estabelecidos, até anarquistas na sua origem ou intenção. Eles dependem de redes sociais para uma entensão alargada (...) São um fenómeno social recente e

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emergente com um propósito, local e curta duração, mas sem um programa real – apenas atividade”

Eventos Educativos e Científicos “Frequentemente considerados um

sub setor dos Eventos de Negócios, são contudo diferentes pelo seu ênfase na criação e troca de conhecimentos”

Eventos Desportivos “O jogo, corrida ou competição

regular e calendarizado (...) compeonatos e torneios calendarizados (...) Eventos multi desportivos (ex: Olímpiadas)”

Eventos de Recreação “...são geralmente produzidos por

parques e agências de recreação, organizaões sem fins lucrativos e grupos de afinidade (como igrejas, escolas e clubes) por razões não competitivas, e têm natureza lúdica”

Protesto ou Manifestação “Protestos são vistos como a forma

mais eficaz de mostrar apoio e arrastar as pessoas para uma causa, ou pelo menos atrair atenção dos que se encontram no poder”

Figura 6 – Tipologias de eventos Fonte: Elaboração própria (adaptada de Getz, 2002)

Posto esta lista de tipologias de eventos, compreende-se que são inúmeras as atividades suportadas por estes, e que estes estão cada vez mais presentes na atividade turística, de forma a suportá-la e a diversificá-la. Ao reportarmo-nos para a temática em estudo, o turismo, é evidente a sua forte ligação com a atividade dos eventos, que lhes concedem uma importante dinamização ao setor. Por isso a contínua referência a Getz permanece essencial, sendo ele um importante estudioso das duas áreas.

No artigo “Country as a free sample: the ability of tourism events to generate repeat visits. Case study with mobile positioning data in Estonia”, da autoria de Kuusik, et al. (2014), os autores referem como ponto de partida: “Quando uma pessoa atende a um evento, também experiencia a área no qual este atua. Se esta experiência for positiva, a probabilidade de repetirem mais tarde para explorar a área mais

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especificamente aumenta”. Através desta afirmação é possível perceber a importância que os autores atribuem aos eventos, e é esta importância que se pretende comprovar com este trabalho. Este ponto de vista põe em evidência os eventos como sendo em parte catalisadores do turismo, capazes de providenciar a quem os visita uma pequena parte do destino de visita escolhido. Os mesmos autores defendem que os eventos podem gerar a repetição de visitas ao destino e de movimentar outras atividades do local, como a económica (p.263). Assim, os mesmos apontam que os benefícios da realização de eventos numa comunidade estendem-se para além dos visitantes, sendo que geram importantes lucros para os seus investidores e entretenimento para os seus residentes (p.264).

Hall (1989) aborda um tipo de evento bastante relacionado com turismo, os eventos Hallmark. Esta designação refere-se a todos os eventos de caráter turístico, que podem ser desde feiras a exposições, de tipo cultural ou até desportivo, que adquirem uma dimensão internacional e podem realizar-se regularmente ou apenas uma única vez. Estes eventos surgem como uma oportunidade para o mercado turístico da região na qual ocorrem. Por vezes são mencionados como sendo mega eventos ou eventos especiais. São considerados uma poderosa estratégia de marketing no destino que os acolhe, atuando tanto a nível local como internacional no combate à sazonalidade que caracteriza muitas regiões. São criadores de diversos impactos, tanto a nível económico e social como cultural. Quanto maior a sua dimensão, é claro que a economia conseguirá extrair-lhe mais benefícios e receitas. Os eventos Hallmark implicam que haja um trabalho e envolvimento conjunto entre os órgãos governamentais e a população local, para que esta última consiga tirar um melhor partido das vantagens económicas e sociais da sua realização, diminuindo o prejuízo de eventuais impactos que causem algum tipo de distúrbios. Estes impactos ainda não são muito conhecidos, e é necessário um estudo mais aprofundado, de forma a minimizá-los.

2.1. Eventos Culturais e sua contribuição para a imagem de um destino

Ao analisar especificamente o “nicho” do turismo de eventos, Getz (2007) enfatiza a ação dos eventos como atração, animação, objeto de marketing, e criadores de imagem.

Mais profundamente, o autor chega ao turismo cultural, já que muitos dos “turistas de eventos são turistas culturais”. Desta forma, recorre a McKercher e du Cros e às suas quatro perspetivas que ajudam a entender de que forma se desenvolve o

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mecanismo que desencadeia o turismo cultural: “’tourism derived’ (uma forma de viagem de especial interesse; um produto); ‘motivational’ (o que os turistas procuram, incluindo visitas a exposições, monumentos e festivais); ‘experimental’ (um ênfase na aprendizagem cultural; a procura por entendimento e satisfação individual) and ‘operational’ (relacionado com o propósito de estudo, como examinar festivais como formas de turismo cultural). Os autores consideram ainda que existe uma categoria de turistas culturais que buscam eventos de forma intencional, tentando obter através deles uma “experiência cultural profunda” e dados os estudos sobre o assunto a previsão é que este setor venha a conhecer um crescimento contínuo. (Getz, 2007)

É importante ainda perceber os impactos que os eventos de turismo podem ter, e este é outro tema abordado por Getz (2007) O autor reconhece que os eventos são uma fonte de motivação para a prática de turismo, contudo é comedido no que toca a considerar que os eventos possam ter impacto a nível económico, já que não existe referências a este item em relatórios realizados. É salientado o facto de os eventos terem impacto positivo no turismo em geral, pois são uma forma de entretenimento e socialização, mas são sobretudo importantes quando realizados para mercados de nicho, já que atraem público com motivações e intenções específicas.

Os eventos, quando aliados ao turismo, podem acrescentar um caráter diferenciador aos destinos turísticos, que os demarquem dos demais concorrentes diretos. Esta situação é claramente benéfica para a atividade económica do setor, pois a diferenciação será procurada por um público que esteja a par das últimas inovações e com maior poder de compra. Estes conceitos serão devidamente abordados aquando a abordagem da noção de “experiência autêntica”. Mateus e Associados salientam a diferenciação, tomando como referência Porter: “a diferenciação traz uma posição de concorrência monopolística a um destino, oferecendo uma experiência turística que não é suscetível de ser oferecida noutro lugar. A oferta de uma experiência diferenciada permite atingir segmentos de mercado com maior poder aquisitivo, oferecer bens e serviços de maior valor acrescentado e reduzir os impactos da massificação a que uma estratégia de liderança de custos tende a conduzir”.

Este estudo vê ainda a cultura (e todos os projetos que lhe estão associados, como os eventos culturais) como veículo para a internacionalização de si própria e do destino em que se insere.

Segundo os números avançados neste estudo de Mateus, que provêm de um inquérito promovido pela Comissão Europeia, “a cultura é relevante na decisão do

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destino de férias”. Este inquérito, ao analisar os principais motivos de férias de 2012 dos 27000 europeus inquiridos, encontrou 40% atribuídos ao sol e praia, a visita a familiares e amigos com 36%, a natureza com 26% e a cultura com 22%, sendo que este último setor é mais procurado por “inquiridos do sexo feminino (23%), acima dos 55 anos (25%) e com maiores qualificações (25%)”. Este perfil, apesar das diferenças, mantém-se no panorama feminino relativamente àqueles que alegam a repetição de visita a um destino por motivos culturais: “inquiridos do sexo feminino (27%), mais novos (29%) e com maiores qualificações (32%) ou a estudar (33%)”. Os principais países emissores de visitantes por motivos culturais são Dinamarca, Espanha, Áustria, Finlândia ou Suécia. (Mateus e Associados, 2013)

Mateus (2013) refere ainda, no estudo realizado, a capacidade que os eventos culturais detêm de gerar atração no turismo (referindo especialmente os festivais de música de verão em Portugal). Estes eventos, aliados ao clima e à paisagem, são polos de atração de um público jovem, porém com rendimentos reduzidos, que procuram a experiência pelo que ela é em si, com grandes probabilidades de repetição da mesma no futuro. Acrescenta ainda que “quando uma determinada forma musical é internacionalmente reconhecida, estes espetáculos contribuem para motivar a visita e são procurados pelos turistas”. Mesmo no caso de pequenos eventos focados em estilos de músicas mais tradicionais, estes podem criar um interessante e estreito laço entre residentes locais e turistas (como é exemplo disso o fado).

Em Portugal, o número de eventos culturais realizados tem vindo a aumentar nos últimos anos, principalmente os de maior impacto: “Do lado da cultura, há a destacar a Capital Europeia da Cultura (CEC) Porto 2001 e a Expo 98 em Lisboa. Foram dois eventos particularmente relevantes devido aos objetivos de regeneração socioeconómica e de requalificação urbana que se sobrepuseram ao setor da cultura stricto senso. E serviram-se largamente na prossecução de uma estratégia concertada de promoção de uma imagem cosmopolita para o exterior” (Ramalho, 2013, p.61). Sobre o Porto como Capital Europeia da Cultura há ainda a referir: “um grande evento cultural que incluiu um extenso projeto de requalificação urbana e ambiental da cidade e a construção e renovação de múltiplas infraestruturas culturais, na tentativa e corresponder ao slogan e lançar ‘pontes para o futuro’”.

Já mais atualmente: “Na cultura salientemos em 2012 a Capital Europeia da Juventude (CEJ) em Braga e a CEC em Guimarães” (Ramalho, 2013, p.61), eventos que

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se mostraram capazes de projetar a imagem destas cidades no exterior, principalmente pela riqueza da sua história e cultura.

Ramalho (2013, p.61) expõe ainda uma importante nota sobre a realização de eventos culturais em Portugal: “a necessidade, premente em tempos de crise, de repensar os investimentos realizados na área do turismo e dos grandes eventos. Mas essa reflexão manter-se-á dificultada enquanto for frágil a avaliação dos impactos dos mesmos, seja na projeção de uma imagem do país para o exterior, na atração de capital financeiro ou humano ou na sua vocação mais social e estritamente cultural”, alertando assim para a necessidade de analisar a forma de como estes eventos se têm vindo a desenrolar, e qual o peso que têm tido no turismo, cultura, economia e sociedade.

2.2. Festivais de Música

Sobre a definição de festivais de música em concreto, Sarmento (2007) apoia-se em Abreu: “Concentram-se num espaço de tempo curto, num local geralmente delimitado e têm uma intensa programação musical”.

Gibson e Connell (2005) forneceram um importante contributo para a investigação e análise dos festivais de música, tendo como objeto de estudo eventos ocorridos na Austrália. Estes investigadores distinguem os festivais realizados direcionados quase exclusivamente para a comunidade local, e de menor dimensão, daqueles com características mais comerciais, que envolvem atuações ao ar livre, com maior investimento de promotores e abertos a um público mais alargado, inclusivamente turistas. Apesar de serem bastante diferentes, em ambos os casos têm influência direta no desenvolvimento local.

Pegg e Patterson (2010) fazem uma análise sobre a necessidade dos eventos musicais buscarem constantemente elementos diferenciadores, pois no ponto de vista dos autores será essa a chave para lhes agregar valor e atrair um maior público. Sobre as motivações deste público, referem que ainda é complicado identificá-las, existindo poucos estudos sobre o efeito, a maior parte deles pautados pelas variáveis socio demográficas e pelos níveis de satisfação.

O estudo levado a cabo por Pegg e Patterson (2010) sobre o evento Country Music Award revelou que as motivações dos seus visitantes se focavam principalmente no gosto pelo género musical em si, mas sobretudo no variável leque de atividades desenvolvidas no mesmo, assim como no ambiente vivido no local (“casual, relaxada,

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familiar atmosfera”). A hospitalidade por parte dos residentes locais foi outro dos fatores mencionados.

Também Gelder e Robinson (2011) estudaram a relação dos eventos, nomeadamente dos festivais, com o turismo, e também estes autores consideram esta aliança importante para canalizar uma considerável dimensão de público, tanto local como estrangeiro. E os eventos, incluindo os festivais, têm assim conhecido uma grande expansão nas últimas décadas, tanto na área de turismo de negócios como nas áreas de turismo de lazer, abrindo portas para serem o “centro da cultura” e uma importante fonte de receitas para as economias locais. Pegg e Patterson (2010) reforçam o papel dos eventos e festivais como catalisadores de momentos de recreação, que motivam o público a participar pela sua multiplicidade de atividades, tal como pelo ambiente e paisagem em que se encontram inseridos.

Abreu (2004) apresenta a sua definição de festivais de música voltada para a sua vertente cultural e de lazer, bem como para a capacidade que estes têm de projetar um determinado local e potenciar o turismo: “...são eventos com uma temporalidade inversa à que observámos para as agendas regulares, iniciando uma atividade mais intensa com a Primavera e estendendo-se até aos meses de Outono. (…) O pico da ocorrência dos festivais acontece no Verão, nos meses de Julho e Agosto, revelando a forma como estes eventos musicais, embora orientados por objetivos artísticos, têm vindo a ser associados a estratégias políticas locais, que procuram promover atividades lúdico-culturais capazes de atrair e fixar turistas e de projetar no exterior (no âmbito regional, nacional ou mesmo internacional) a imagem das cidades ou dos concelhos”.

Os festivais de música são espetáculos ao ar livre, com características e condições específicas, que podem variar entre si, devido à dimensão, temática e até mesmo tipo de público envolvido. Em alguns casos, podem inclusive abarcar na sua programação exibições de artes performativas.

Dias (2012) indica que muitos autores dividem os festivais em: “Festivais “boutique”, que permitem uma maior proximidade entre público e festival, com capacidade máxima de até 10 mil pessoas, segundo Anderton (apud Dias, 2012), ou até 35 mil pessoas, segundo Haslam (apud Dias, 2012); Festivais de dimensão média, com audiências entre 10 mil e 50 mil pessoas; Festivais de larga escala, com mais de 50 mil pessoas de audiência.”

De destacar ainda a criação de espaços com bares e restaurantes para satisfazer a generalidade do público, assim como de feiras de artesanato e de espaços de diversão

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para crianças e adultos. Todos estes parâmetros variam em caso de ser um festival mais genérico ou então mais específico, devido ao seu cartaz voltada para um nicho de público especializado.

Dada a sua ocorrência em espaço aberto, normalmente é escolhida a altura do Verão para a realização, até porque será o momento em que o clima se encontra mais propício a tal e a maioria do público se encontra com mais tempo livre para atividades de férias e lazer.

Segundo o Jornal de Negócios (Ledo, 2014), a cobertura mediática dos festivais de música é cada vez maior, o que pode gerar um retorno que ronda os 18 milhões de euros. O festival com maior cobertura é, sem dúvida, o Rock in Rio Lisboa, seguindo-se o NOS Alive e o NOS Primavera Sound. O número de notícias que antecedem cada festival ronda uma média de 400 a 800, e “Quando se analisa a cobertura mediática no mês de realização do evento, esse número pode escalar para um intervalo entre 2.000 e 3.000 notícias por festival.”

2.2.1. Festivais de Música em Portugal

No que concerne aos festivais de música realizados em Portugal, e que cada vez se apresentam em maior número e com massiva participação do público, é importante referir o nome de Álvaro Covões. Dono e fundador da Everything is New, empresa do ramo musical, é um dos grandes impulsionadores dos festivais em Portugal e da importância que estes têm na promoção externa do país, principalmente do NOS Alive, criado em 2007 e considerado um dos maiores eventos musicais urbanos do país. Destaca-se este nome pois foi capaz de reconhecer a importância de captar público internacional para que um festival se expanda, tal como referiu numa entrevista à revista Visão em 2013: “…Investimos bastante em marketing, publicidade, redes sociais, trazer jornalistas estrangeiros. (…) Somos uma empresa de eventos, criamos conceitos, procuramos oportunidades... Não vamos ter um franchising da marca, isso nem pensar. Mas estamos atentos às oportunidades. Hoje, em Portugal, temos um excelente know how da organização de grandes eventos. E há mercados que não sabem fazer como nós... Por isso, é natural que surjam oportunidades. Faz todo o sentido, até pela nossa capacidade de adaptação.” (Visão, 2013)

Álvaro Covões mostra-se imperativamente um apoiante dos eventos culturais como impulsionadores de diversos setores do país, como o económico e o turístico, e para que estes se solidifiquem como dinamizadores do território, apela às autoridades

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governativas por maior apoio na divulgação e promoção: "As regiões [de turismo] têm a obrigação de mostrar o melhor que temos, de uma forma organizada", afirmou aos jornalistas à margem de um encontro com empresários do sector hoteleiro, em Lisboa. Para o gestor da empresa que organiza o festival NOS Alive, falta ainda coordenação entre as diferentes identidades para que se consiga "vender" o destino Portugal de uma forma integrada. "Devíamos organizar-nos fora da política partidária", reforçou.” (Ledo, 2014)

Para que os números em termos de participantes do NOS Alive subissem, confessa que “...percebemos desde a primeira hora que para ter 50 mil pessoas por dia tínhamos que conquistar público estrangeiro porque em Portugal não há nesta altura grande poder de compra. A realidade é que muitos milhares de jovens em Portugal não têm a mínima hipótese de comprar um bilhete que custa 55 euros.” (Belanciano, 2015)

Este facto comprova na prática a importância da captação de público estrangeiro para a economia e turismo, pois a estratégia utilizada tem resultado em edições do festival completamente esgotadas nos últimos anos.

O fundador da Everything is New considera que a relação entre eventos culturais e turismo é mútua: “as pessoas começaram a valorizar a ocupação dos tempos livres, esse tipo de mercado é inevitável. Isso aliado às viagens de avião mais baratas fez com que se criasse um turismo de curta-duração que tradicionalmente funcionava em Paris, Roma ou Londres e que se tem deslocado. Vejo aí uma oportunidade. Porque é que as pessoas vêm a Lisboa? Para conhecer a cidade e pelos conteúdos associados. Porque vamos a Madrid? Por causa do Prado, do Rainha D. Sofia, da Arco ou do Real Madrid. Há sempre um conteúdo associado. E aqui também temos essa hipótese de criar

conteúdos.” (Belanciano, 2015)

Mais recentemente, já em 2016, num dos debates do Talkfest, discutiu-se a relação entre o turismo e os festivais de música, onde ficou assente a necessidade de criar fortes alianças entre os dois. Duarte Cordeiro destacou os 43 milhões de euros de receita de bilheteira conseguidos em 2014, e a importância de “…demonstrar que fazemos bem e que trabalhamos em conjunto. É preciso ser competitivo”. (Carmo, 2016)

Foi destacada ainda a organização do Boom Festival em Idanha-a-Nova, que detém em si 90% de público estrangeiro no total de espetadores, o que permite dar visibilidade ao interior do país.

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Neste debate ficou a saber-se que os números quanto a bilhetes do NOS Alive vendidos no estrangeiro têm conhecido uma significativa evolução, e passaram dos 15.000 bilhetes 2015 para os 18.000 bilhetes de 2016 (números relativos a Março de 2016, sendo que o festival apenas se realizaria no mês de Julho deste ano), com incidência no público do “…Reino Unido, em Espanha e em França.”

O diretor-geral das Artes conclui o debate alertando: “… falta a criação de uma estratégia”, que evidencie o “potencial turístico” dos festivais de música. (Lusa, 2016)

2.3. Noção de “experiência autêntica”

Falar do conceito de experiência é algo inerente à área dos eventos, e este é também tomado em consideração por Getz (2005). Para ele, aqui contribuem as dimensões cognitiva (perceção, memória, compreensão) e afetiva (sentimentos, emoções, preferências e valores. Referindo-se à experiência de lazer, a mais pertinente para este trabalho, cita Mannell e Kleiber, que refletem sobre o sentido de liberdade de escolha, a intensidade e duração da experiência, assim como as emoções, sentimentos e envolvimento.

Sobre a experiência turística propriamente dita, cita Ooi que sugere que esta é “enriquecida ou moldada por mediadores”, sendo eles os próprios guias ou a informação que é disponibilizada ao turista. Há ainda uma referência a Pine e Gilmore, que em The Experience Economy eferem que a concretização de uma experiência depende do tipo de interação que o turista desenvolve com o “produto” ou objeto de consumo em causa (p.175).

No que concerne à experiência desenvolvida nos eventos, Getz recorre à obra Experience Marketing: Strategies for the New Millenium, de O’Sullivan e Spangler Para os autores, a experiência envolve cinco parâmetros:

1. Etapas: Eventos ou sentimento que ocorre antes, durante e depois.

2. A experiência real: Fatores ou variáveis que influenciam a participação e

forma exteriores.

3. Necessidades a ter em conta.

4. Papéis do participante e de outras pessoas envolvidas (personalidade,

expetativas, comportamento).

5. Relação com quem providencia a experiência (capacidade e vontade para organizar a experiência, controlá-la).

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Ao analisar estes princípios, denota-se que a experiência em eventos não depende apenas daquele que a vivencia, já que este é influenciado pelo meio envolvente e por quem a proporciona ou realiza.

Cunha (2011) faz referência a MacCannell, e esta referência é essencial na medida em que este último é responsável por introduzir o conceito de autenticidade no turismo, pois a seu ver a “consciência turística é motivada pelo desejo de viver experiências autênticas embora frequentemente seja muito difícil saber com segurança se a experiência é, de facto, autêntica”.

A autenticidade, ainda mais quando aplicada ao turismo, é um conceito tão subjetivo e abstrato, que se torna difícil obter uma concordância sobre a mesma. Existem inúmeras variáveis das quais depende: decisões dos visitantes, opiniões sobre os destinos e a sua oferta turística, níveis de inovação, etc.

Cunha faz também referência a Wang para obter uma classificação sobre a autenticidade, através da qual é ainda mais evidenciado o caráter subjetivo do conceito, fortemente ligado a parâmetros culturais e sociais. Este segundo autor dividiu-a em objetiva, construtiva e existencial: “A autenticidade objetivista refere-se à autenticidade dos originais (objetos expostos nos museus, monumentos) e, neste caso, as experiências autênticas são causadas pelo reconhecimento dos objetos visitados como autênticos mas, mesmo que o não sejam, os turistas podem ter experiências autênticas quando lhes são apresentados como tais. A autenticidade construtivista significa o resultado de uma construção social (…) As coisas surgem como autênticas não porque inerentemente o sejam mas porque são construídas como tais em termos de pontos de vista, crenças, perspetivas ou poderes. (…) Neste sentido o que o turista procura é uma autenticidade simbólica. A autenticidade existencial envolve os sentimentos pessoais ativados pelas atividades turísticas. Nas experiências turísticas as pessoas sentem que elas próprias são muito mais autênticas e livres do que no dia-a-dia das suas vidas, não porque descobrem objetos autênticos mas por que estão ocupadas em atividades livres dos constrangimentos diários.”

Por fim, Gomes (2012, p.45) alerta para o seguinte facto: “O turismo é uma atividade que, segundo alguns estudiosos, constitui uma ameaça ao estado natural das coisas, à sua autenticidade. A maioria dos autores apresenta o turismo de massas e a mercantilização das atrações como ameaças para a singularidade e autenticidade do património e da cultura.” Isto representa a necessidade de constantemente preservar os objetos ou atividades designados como autênticos.

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3. Turismo Cultural

O turismo cultural é uma das vertentes que mais se tem desenvolvido na área turística, tanto pelo vasto número de pontos de interesse em todo o Mundo, como pelo aumento da sua procura nos últimos anos. Richards (1996) indica que “Não só as atrações culturais como museus e monumentos constituem o maior setor do mercado de atrações da Europa, mas também têm vindo de forma ascendente a ser colocadas no centro do desenvolvimento urbano e rural através de estratégias e programas de valorização da imagem dos locais”, sendo assim possível reconhecer a importância que o turismo cultural tem na Europa, sendo a atividade turística que provavelmente se mostra com maior expansão em todas as áreas do território europeu.

Segundo o relatório City Tourism & Culture (ETC/UNTWTO/ECT, 2005, 2007), citado por Moreira e Henriques (Moreira e Henriques, 2007, p.134), o turismo cultural informação e experiências para satisfazer as suas necessidades culturais”.define-se como o “movimento de pessoas para atrações culturais fora do seu local normal de residência, com a intenção de obter mais

Estas “atrações culturais” referidas pelas autoras fazem parte da identidade de cada cidade ou região, são o seu património. E assim prosseguem afirmando e importância do património para a cultura: “O património como história, ou ‘história materializada’ (Hernandez e Tresseras, 2001:14), perceciona-se enquanto ‘coisa de valor’ (valor patrimonial, económico, simbólico, semiológico), a qual contribui ‘para Moreia e Henriques, 2007, p.135).

Carvalho (2011, p. 6), em “Os eventos culturais e criativos poderão ou não contribuir para uma imagem diferenciadora do destino turístico maduro?” destaca que “A discussão à volta do turismo cultural engloba áreas distintas de estudo como os efeitos do turismo na comunidade local, a apropriação do património pelo turismo, a relação dos gestores do património e os profissionais de turismo, a autenticidade de certos eventos culturais, a cultura material e imaterial entre outras”, baseando-se nos trabalhos de McKercher e du Cros e de Smith e Forest. Este argumento vem frisar novamente a multidisciplinariedade do turismo, em qualquer que seja a sua vertente -neste caso, o turismo cultural - , e a necessidade colaborar em conjunto com todos os intervenientes para obter uma coerência capaz de tornar este conceito um pouco mais sólido.

Referências

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