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Análise da Precipitação na Bacia do Rio Mundaú Usando IAC

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Academic year: 2021

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Resumo

O monitoramento da variabilidade pluviométrica é imprescindível na Bacia do rio Mundaú. Alguns locais da Bacia são assolados por eventos que causam secas e enchentes resultando em uma região ecológica e ambientalmente muito vulnerável. O período de 1974 a 1983 apresentou diminuição da precipitação nas três sub-bacias. Utilizando o Índice de Anomalia de Chuva (IAC) concluiu-se que houve mudança nos padrões de precipitação, sendo o “ponto de inflexão” o ano de 1974. Antes disso, no Médio Mundaú e Alto Mundaú, os anos foram mais secos e após 1974 foram mais úmidos, ocorrendo o contrário no Baixo Mundaú.

Palavras-chave: Variabilidade espaço-temporal. Precipitação. Bacia do rio Mundaú. IAC.

Abstract

The monitoring of pluviometric variability is essential in the Mundaú river Basin. Some places of the Basin are devastated by events that cause droughts and floods resulting in a very vulnerable region in ecological and environmental terms. The period from 1974 to 1983 presented reduction in precipitation in the three sub-basins. By using RAI, it was considered that the year of 1974 was the ‘inflection point’ for changes in precipitation standards. Before that, in the Medium Mundaú and High Mundaú, the years had been drier and, after 1974, they were more humid. However, the opposite occurred in the Low Mundaú.

Key-words: Spatial-temporal variability. Precipitation. Mundaú River Basin. RAI.

Análise da Precipitação na Bacia do Rio Mundaú Usando IAC

Analysis of Precipitation in the Mundaú River Basin Using RAI

1 Introdução

No Nordeste brasileiro (NEB) o monitoramento de pe-ríodos secos ou chuvosos e da variabilidade espaço-tem-poral da precipitação são de extrema importância devido aos seguintes aspectos: existência de inúmeros projetos de irrigação implantados e a serem implantados ao longo dos principais rios; o abastecimento de água das grandes cidades depende diretamente do escoamento dos rios ou indiretamente do volume acumulado nas barragens; a maioria das culturas agrícolas depende exclusivamente da regularidade das chuvas e a possibilidade de uso de água subterrânea é pequena, quando comparada ao da água superficial (FREITAS, 2004; 2005).

Esse monitoramento pode ser efetuado por meio do emprego de algum índice climático. Com base neles, pode-se desenvolver um sistema de acompanhamento das características dos períodos secos ou chuvosos, com informações anuais, sazonais ou mensais, com as quais pode-se conhecer profundamente a climatologia de uma região, e verificar os impactos que o clima global causa sobre a distribuição pluviométrica local.

Esse estudo tem como objetivo principal analisar a variabilidade espaço-temporal das chuvas na Bacia do rio Mundaú (AL e PE), utilizando para isso a ferramenta Índice de Anomalia de Chuva (IAC), desenvolvido por Rooy em 1965 e adaptado por Freitas (2004; 2005) para

regiões no Nordeste brasileiro.

Essa ferramenta é particularmente imprescindível na Bacia do rio Mundaú, localizada nos estados de Alagoas e Pernambuco, que além de ser composta por regiões assoladas por eventos adversos que causam secas e enchentes, é uma área de grande produtividade primária, porém ecológica e ambientalmente muito vulnerável, onde são desenvolvidas várias atividades econômicas, tais como: atividades ecológicas ligadas aos manguezais, cultivo da cana-de-açúcar, usinas canavieiras e petroquí-micas, turismo, pesca e atividades ligadas ao patrimônio histórico (DA SILVA et al., 2006).

1.1 Aplicação do IAC

Freitas (2004; 2005) utilizou o índice IAC para locali-dades no Estado do Ceará e observou que com base no mesmo é possível fazer uma comparação das condições atuais de precipitação em relação aos valores históricos, servindo ainda para avaliar a distribuição espacial do evento, consoante sua intensidade.

Mauget (2005) ao estudar a variação multi-decadal da precipitação no período de 1901 a 1998, para identificar as concentrações mais significativas de anos úmidos e secos dentro da série, em regiões continentais, encontrou alta incidência de anos úmidos na América do Norte durante 1972 a 1998, com oito dos dez anos mais úmidos

Djane Fonseca da Silva* Lincoln Eloi de Araújo* Mary Toshie Kayano**

Francisco de Assis Salviano de Sousa* *Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

**Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

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desde 1901, ou seja, oito eventos aconteceram durante esse último período de 27 anos.

Para a região Norte da Europa, foram encontrados sete dos dez anos mais úmidos durante 1978 a 1998. Regimes secos e úmidos significantes foram encontrados nas últimas décadas do século XX. O autor sugere que estes períodos úmidos mais recentes sejam realmente efeitos de causas terrestres, tendo evidência mais notável numa larga mudança do padrão do clima do Atlântico Norte.

Gonçalves et al. (2006) obtiveram o índice IAC para 15 estações situadas no rio São Francisco, tendo concluído que a incidência de anos secos é substancialmente maior na região estudada. Através da aplicação do índice em áreas situadas à jusante da hidrelétrica de Sobradinho, pode-se explicar a ocorrência de cheias e inundações ocorridas no sertão pernambucano.

1.2 Mecanismos produtores de chuva na bacia do rio Mundaú

De acordo com Aragão (1975) os efeitos dinâmicos são os principais responsáveis para estimular ou inibir a precipitação no NEB de forma que:

Em dezembro e janeiro o principal efeito dinâmico favorável à precipitação, principalmente no sul da região, é a penetração de frentes frias oriundas do Sul do continente, afirmação reforçada por Kousky (1979);

Em fevereiro ocorre convergência de massa nos níveis baixos, associada ao movimento vertical ascendente, favorecendo a precipitação;

Em março ocorre divergência de massa nos baixos níveis, convergência nos níveis médios associa-da a movimento vertical descendente, inibindo a precipitação.

Aragão (1975) afirmou ainda que, durante os períodos de seca na região do NEB, há suficiente umidade nos baixos níveis da atmosfera, mas inexiste um mecanismo dinâmico capaz de provocar movimentos ascendentes que tenham como resultado formação de nuvens sufi-cientementes desenvolvidas para produzir precipitação. As razões físicas da variabilidade da precipitação do NEB são complexas e estão relacionadas com a circu-lação atmosférica global. As ocorrências de anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) tendo como exemplo o dipólo sobre o Atlântico Tropical e o apareci-mento de anomalias de TSM sobre o Pacífico Equatorial central leste durante as ocorrências de episódios de El Niño-Oscilação Sul - ENOS (ARAGÃO et al., 1994; HAS-TENRATH; HELLER, 1977; MOURA; SHUKLA, 1981) estão entre os principais fatores de grande escala que contribuem para as mudanças na circulação atmosférica responsáveis pela variabilidade interanual da precipitação sobre o NEB.

As características climatológicas da precipitação no leste do NEB foram investigadas por Lima (1991). Os principais processos responsáveis pela variação inte-ranual da precipitação sobre a região são a posição e intensidade dos sistemas de alta pressão no Atlântico Sul (segundo a autora, parece ser o mecanismo que melhor determina qualitativamente a estação chuvosa

nessa região), as ocorrências ou não de El Niño e a TSM no Atlântico.

No entanto, segundo Hastenrath e Heller (1977); Moura e Shukla (1981) as configurações tipo dipólo de TSM sobre o Atlântico Tropical, verificada para o norte do NEB, também foi observada na estação chuvosa do litoral leste do NEB.

Calbete e Lemos (1996), ao estudar precipitações in-tensas sobre o Brasil, apontaram os sistemas que atuam sobre a região NEB: linhas de instabilidade associadas à brisa marítima, distúrbios de leste, vórtices ciclônicos e sistemas de grande escala como a Zona de Convergência Inter-tropical (ZCIT), como sendo os grandes responsá-veis por chuvas intensas. Por exemplo, os distúrbios de leste, em julho e agosto de 1989, provocaram desvios positivos de precipitação superiores a 300 mm no litoral de Pernambuco e em Guaramiranga-CE. Em junho de 1994, ocorreram chuvas em Fortaleza-CE, quando a precipitação mensal foi aproximadamente três vezes superior à média climatológica. Em algumas localidades do Piauí, os totais mensais foram sete vezes superiores à média climatológica. Esse excesso de precipitação foi causado pela atuação de distúrbios de leste e pelos ventos Alísios que formaram uma zona de confluência sobre a parte norte do NEB.

Molion e Bernardo (2002) sugeriram que a variabili-dade interanual da distribuição de chuvas sobre o NEB, tanto nas escalas espacial quanto temporal, esteja intima-mente relacionada com as mudanças nas configurações de circulação atmosférica de grande escala e com a interação oceano-atmosfera no Pacífico e no Atlântico.

O máximo de chuvas na faixa costeira do leste do NEB (ENE) estaria ligado à maior atividade de circulação de brisa que advecta bandas de nebulosidade para o continente e à ação das frentes frias, ou seus remanes-centes, que se propagam ao longo da costa. Foi sugerido ainda que esse máximo de chuvas estaria possivelmente associado à máxima convergência dos Alísios com a brisa terrestre, à Zona de Convergência do ENE (ZCEN) e às Perturbações Ondulatórias no campo dos Alísios (POAS) que, por sua vez, associam-se à topografia e à convergência de umidade (MOLION; BERNARDO, 2002).

De acordo com INFOCLIMA (2000), o posicionamento da ZCIT no mês de março e início de abril influencia a pré-estação e a quadra chuvosa do NEB. Na maior parte dessa região foi observado um déficit de chuvas durante todo o mês de março de 2000, decorrente de um posicio-namento anômalo da ZCIT em latitudes mais ao norte.

Brabo Alves et. al (2004) mostraram que nos anos de seca extrema no Estado do Ceará a precipitação média no Estado, durante a quadra chuvosa, é inferior a -40% do total climatológico. A distribuição espacial em cada ano de seca é bastante irregular, não havendo uma configuração de padrão para áreas mais (menos) afetadas ao longo do Estado. Isto é, não há evidências, para que se possa concluir categoricamente, que as áreas de Litoral e proximidades (Sertão) tenham chuvas mais abundantes (deficientes). Esta característica de distribuição está diretamente relacionada à variabilidade espacial de atuação de diferentes sistemas que causam chuvas ao longo do Estado.

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2. Material e Métodos

A bacia do rio Mundaú ocupa a parte centro-norte-oriental de Alagoas, drenando as microrregiões geográfi-cas da Mata Alagoana e de Maceió. O rio Mundaú nasce a oeste da cidade pernambucana de Garanhuns, na parte sul do Planalto da Borborema e entra em Alagoas na cachoeira da Escada, ao sul da cidade de Correntes e noroeste da cidade alagoana de Santana do Mundaú, atravessa a área central da Mata Alagoana e chega ao litoral, com a sua foz afogada formando a Lagoa Mundaú (figura 1) (TENÓRIO, 1985). PERNAMBUCO ALAGOAS BAHIA RIO SÃO FRA NCISCO SERGIPE OCEANO AT NTIC O MACEIÓ

Figura 1- Localização da bacia do rio Mundaú

nos Estados de Alagoas e Pernambuco

O rio Mundaú é o mais importante da bacia, é perene e tem uma precipitação média anual de 900 mm e uma vazão média anual de 30,6 m³/s. Os máximos valores de precipitação concentram-se próximos à região lito-rânea, com médias em torno de 2.000 mm, sendo uma conseqüência de influências de brisas que transportam bandas de nebulosidade, provocando maior concentra-ção de chuvas nessa área. Verifica-se diminuiconcentra-ção na precipitação à medida que se adentra no continente, devido à aproximação da região do polígono das secas (GOMES et al., 2004).

Foram utilizados neste trabalho dados de precipitação média mensal de 15 localidades distribuídas nas três sub-bacias (figura 2), da seguinte forma:

• No Baixo Mundaú (BM): Murici, Flexeiras, Capela, Atalaia e Rio Largo;

• No Médio Mundaú (MM): União dos Palmares, São José da Lage, Ibateguara e Santana do Mundaú; • No Alto Mundaú (AM): Bom Conselho, Caetés,

Canhotinho, Garanhuns, Jucati e Jupi.

Os dados foram obtidos no site da Agência Nacional das Águas (ANA), para o período correspondente a 1955 a 1991.

Figura 2 - Mapa das sub-bacias do rio Mundaú (AL e PE) e as localidades utilizadas neste estudo

Alto

Médio

Baixo

Rio Largo Atalaia Capela Santana do Mundaú União dos Palmares

São José da Laje

Ibateguara Murici Canhotinho Jupi Jucati Caetés Garanhuns Bom Conselho Flexeiras

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Foram calculadas as médias históricas da precipitação das localidades e para cada sub-bacia. Foram calculadas também as médias temporais da precipitação para o período de estudo, necessárias para o cálculo do Índice de Anomalia de Chuva (IAC), o qual serve para classificar os anos como secos ou úmidos, de acordo com a média local. Este índice, além de ter sido calculado anualmente, também foi calculado mensalmente para dois anos escolhidos, por serem secos ou úmidos.

Foi utilizado o IAC desenvolvido e utilizado por Rooy (1965) e adaptado a uma região do Nordeste brasileiro por Freitas (2004; 2005), o qual pode ser representado como:

(1) Para anomalias positivas;

(2) Para anomalias negativas,

Sendo: N = precipitação mensal atual, ou seja, do mês que será gerado o IAC (mm);

= precipitação média mensal da série histórica (mm);

= média das dez maiores precipitações mensais da série histórica (mm);

= média das dez menores precipitações mensais da série histórica (mm); e

Anomalias positivas são valores acima da média, e negativas, abaixo da média. Ainda foram gerados os gráficos de número de dias com e sem chuva como mais uma ferramenta na análise da variabilidade temporal das chuvas, além de auxiliar na comparação com os gráficos de IAC. Esses dados também foram obtidos através da Agência Nacional das Águas (ANA) para o período de 1955-1991 para as sub-bacias do BM e AM e de 1963-2004 no MM.

3. Resultados e Discussão 3.1 Baixo Mundaú (AL)

A figura 3 mostra a média climatológica de municípios do BM utilizados nesse estudo. Flexeiras e Rio Largo apresentam-se como os mais chuvosos, enquanto que Atalaia, em boa parte do ano, permaneceu com seus valores de chuva abaixo da média.

A figura 5 mostra o IAC do BM, onde os valores em vermelho representam anos secos e em azul, anos chuvosos ou úmidos. Antes de 1974, ocorreram, 10 anos chuvosos e 9 anos secos; depois desse ano, foram 8 anos úmidos e 10 anos secos, deste modo, o primeiro período foi mais úmido que o posterior a 1974, tornando esse ano um “ponto de inflexão” de uma possível modificação no padrão de precipitação local. Dos 37 anos da série de IAC no BM, 18 anos foram úmidos e 19 anos foram secos.

Esse “ponto de inflexão” também foi observado em Da Silva et al. (2005), ao analisar a vazão do rio Mundaú, e por Araújo et al.(2008), na precipitação da bacia do rio Paraíba.

Na figura 5 percebe-se também que no período de 1956 a 1960, ocorreu uma diminuição de chuva, a qual possivelmente provocou uma diminuição na distribuição e disponibilidade da água para irrigação e agricultura. Sem a prática da gestão nestes setores pode levar a ocorrência de um caos nos mesmos.

O período de 1955 a 1958 apresentou o menor nú-mero de dias com chuva (figura 6), como também pode ser verificado com o IAC na figura 5. Após esse período, o número de dias com chuva aumentou e oscilou entre 70 e 140 dias.

Dentre os anos da série de IAC, foram escolhidos aleatoriamente dois secos (1983 e 1987) e dois úmidos (1975 e 1977) para analisar mais detalhadamente seu comportamento e as diferenças entre suas quadras chuvosas.

(

)

(

)

=

N

M

N

N

IAC 3

(

)

(

)

=

N

X

N

N

IAC

3

N

M

X

N

M

X

N

M

X

Figura 3 - Precipitação média mensal dos municípios do Baixo Mundaú (AL) no período 1955-1991

Figura 4 - Média histórica da precipitação no BM A quadra chuvosa para o BM se estendeu de abril a julho e os meses mais secos ocorreram entre outubro e janeiro (figura 4). 0 50 100 150 200 250 300 350

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

pr ec ipi taç ão (m m) Murici Flexeiras Capela Atalaia

Rio Largo Média da sub-bacia

0 50 100 150 200 250 300

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 5 - IAC anual para o BM de 1955 a 1991

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991

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Figura 6 - Média do número de dias com e sem chuva no Baixo Mundaú de 1955-1991

A figura 7 mostra o IAC mensal para os anos de 1975 e 1977, nos quais o IAC anual apresentou-se positivo (ano chuvoso). Percebe-se que nesses anos chuvosos a contribuição da quadra chuvosa foi muito significativa, colaborando fortemente para o total anual. Precipitações mais acentuadas ocorrem devido à circulação de brisa, que advecta bandas de nebulosidade para o continente e a ação de frentes frias ou de seus remanescentes, que se propagam ao longo da costa, além da ação das Ondas de Leste, que atuam na região durante o inverno, e das POAS, que atuam principalmente de junho a agosto.

A quadra chuvosa nos anos de 1975 e 1977 contribuiu com cerca de 1.387 mm e 1451 mm, respectivamente, o que equivale a 75% do total anual do primeiro ano e 74% do total anual do segundo ano citado.

Figura 8 - IAC mensais de anos secos no BM

0 50 100 150 200 250 300 350 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 d e di as p or a no

dias com chuva dias sem chuva

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 10

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1975 1977

Figura 7 - IAC mensais de anos úmidos no BM

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1963 1987

3.2 Médio Mundaú (AL)

A figura 9 mostra a média climatológica de municípios do MM que foram utilizados nesse estudo. Ibateguara apresentou os maiores valores de chuva enquanto União dos Palmares e Santana do Mundaú foram os mais secos.

A quadra chuvosa para essa sub-bacia foi de abril a julho e a quadra menos chuvosa se estendeu de outubro a janeiro, semelhante ao BM (figura 10).

Figura 10 - Média histórica da precipitação no MM

0 50 100 150 200 250

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Na figura 8 tem-se o IAC mensal para os anos secos no Baixo Mundaú (AL), 1983 e 1987. Ao longo desses anos, poucos meses apresentaram precipitações mensais acima da média, destacando-se o período de janeiro a março, quando esse acréscimo da precipitação pode ter sido ocasionado pela atuação de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs) e pela convecção e instabilidade devido ao aquecimento da superfície no verão. O total de precipitação na quadra chuvosa desses anos foi de 369 mm em 1983 e de 578 mm em 1987, equivalendo a 47% e 58% do total anual, respectivamente.

Durante os anos secos (em 1983 ocorreu um El Niño seguido por um trimestre normal e por um evento de La Niña, e em 1987 o ano foi submetido a um evento de El Niño) os totais anuais parecem ter sido muito

dependentes da atuação dos sistemas que ocorreram fora da quadra chuvosa, principalmente no verão.

Figura 9 - Precipitação média mensal dos municípios do Médio Mundaú (AL) no período 1955-1991

0 50 100 150 200 250 300 350

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

União dos Palmares São José da Laje Ibateguara

(6)

Na figura 11 visualiza-se o IAC do MM, para o qual dos 37 anos da série, 21 anos foram úmidos e 16 anos foram secos fato que reforça as conclusões de SUDENE (1999). Nessa sub-bacia é mais visível o ponto de inflexão em 1974. Antes deste ano ocorreram 12 anos secos e 8 úmidos, e após 1974 ocorreram 4 anos secos e 13 úmidos, o contrário do observado no BM.

Essa “peculiaridade temporal” com um período de IACs positivos e outro de IACs negativos também foi encontrado em Mauget (2005) e Araújo et al. (2007) e na vazão do rio Mundaú por Da Silva (2005).

Figura 11 - IAC anual para o MM de 1955 a 1991

Figura 12 - Número de dias com e sem chuva no MM

-6 -4 -2 0 2 4 6 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991

Figura 13 - IAC mensais de anos úmidos no MM

O número de dias com chuvas aumentou a partir de 1974, quando também é visível o ponto de inflexão nessa série (figura 12). O número de dias com chuvas variou de 30 a 140 dias, limite semelhante ao da sub-bacia anterior.

0 50 100 150 200 250 300 350 400 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 d e di as p or a no

nº de dias com chuva nº de dias sem chuva

Os IACs mensais de 1978 e 1986 (figura 13), anos úmidos, foram positivos ao longo de todo período, exceto em janeiro de 1986. Os maiores valores de precipitação ocorreram fora da quadra chuvosa, entre setembro e fevereiro, ao contrário do BM. Possivelmente, esses maiores valores foram ocasionados pela atuação de VCANs, linhas de instabilidade, sistemas de convecção local e atividades de brisa.

Durante os anos secos de 1957 e 1962 (figura 14), mesmo durante a quadra chuvosa (abril a julho), a maioria dos IACs foram negativos, quando ocorreram chuvas abaixo da média mensal, com exceção de abril de 1957 e junho de 1962, quando ocorreram sistemas meteorológicos causadores de chuva.

Em 1978 e 1986 (anos úmidos), o total anual foi de 2123 mm para o primeiro ano e 1777 mm para o segundo, representando 51% e 49% do total anual, respectivamente. Os totais anuais para os anos de 1957 e 1962 (anos secos) foram 575 mm (82%) e 706 mm (76%), respectivamente.

Figura 14 - IAC mensais de anos secos no MM

-2 0 2 4 6 8 10

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1978 1986

4.3 Alto Mundaú (PE)

A figura 15 mostra a média climatológica de muni-cípios do AM que foram utilizados nesse estudo. Tais médias apresentaram maior variabilidade entre os seus municípios, coincidindo aumento de precipitação em maio, junho e julho. As localidades de Garanhuns e Caetés apresentaram chuvas acima da média e Bom Conselho abaixo da média climatológica.

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1957 1962

Figura 15 - Precipitação média mensal dos municípios do Alto Mundaú (AL) no período 1955-1991

0 20 40 60 80 100 120 140

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Bom Conselho Caetés Canhotinho Garanhuns Jucati Jupi Média da sub-bacia

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Na figura 16 pode-se visualizar a variabilidade anual da precipitação, com quadra mais chuvosa entre abril a julho, tendo o mês de março uma forte contribuição nos totais anuais. No quadrimestre setembro-dezembro foram registrados os menores valores mensais de chuva.

Figura 16 - Média histórica da precipitação no AM

Os IACs mensais de 1975 e 1985 (figura 19), anos úmidos, apresentaram-se negativos na quadra mais seca, em ambos os anos. Já na quadra chuvosa (abril a julho), foram atingidos os máximos valores, com exceção de maio de 1985, que foi negativo, e em junho e julho de 1985, quando o IAC apresentou uma queda nos valores, se comparado a 1975.

A quadra chuvosa de 1975 contribuiu para o total anual com 739 mm de chuva, o que corresponde a 75% do valor anual. Em 1985, quando se observa uma notável redução desses valores, foi registrado 562 mm de chuva, o que totaliza 51% do total do ano.

Os principais mecanismos que propiciam a ocorrência de chuvas são as brisas que levam bandas de nebulo-sidade até a parte alta da bacia, as frentes frias ou seus remanescentes, as Ondas de Leste, que atuam na região durante o inverno, e as Perturbações Ondulatórias no campo dos Alísios (POAS), que atuam principalmente de junho a agosto.

Figura 17 - IAC anual para o AM de 1955 a 1991

Figura 20 - IAC mensais de anos secos no AM Figura 19 - AC mensais de anos úmidos no AM

0 20 40 60 80 100 120

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

A figura 17 mostra o IAC do AM de 1955 a 1991. O aumento de ocorrência de anos úmidos após 1974, como ocorrido na sub-bacia do MM, também foi observado no AM. Antes deste ano, ocorreram 13 anos secos e 6 úmidos, e após 1974, houve 9 anos secos e 9 úmidos, ou seja, diminuiu o número de anos secos.

Figura 18 - Número de dias com e sem chuva no AM

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 10

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1975 1985 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1979 1990 -6 -4 -2 0 2 4 6 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 0 50 100 150 200 250 300 350 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 d e di as p or a no

nº de dias sem chuva nº de dias com chuva

A média do número de dias com chuvas no AM variou de 50 a 130 dias, inferior ao das sub-bacias anteriores. Até 1962 foram registrados os maiores valores (figura 18).

Durante os anos secos de 1979 e 1990 (figura 20), somente os meses de janeiro, abril e maio de 1979 apresentaram IAC positivo. O que reforça o argumento de Aragão (1975), que afirma que durante os períodos de seca na região NEB, há suficiente umidade nos baixos níveis da atmosfera, mas inexiste um mecanismo dinâmico capaz de provocar movimentos ascendentes que tenham como resultado formação de nuvens suficientementes desenvolvidas para produzir precipitação.

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Em ambos os anos secos, o total anual atingiu a metade do valor dos anos úmidos (1975 e 1985), com 334 mm em 1979 e 252 mm em 1990. A quadra chuvosa contribuiu com aproximadamente 68% do valor anual em ambos os casos.

5 Conclusões

Analisando a distribuição sazonal das chuvas na bacia do rio Mundaú nota-se que o período chuvoso se estende de abril a julho no MM e BM, sendo que no AM se estende de março a julho.

Quanto à variação temporal da precipitação anual, o período de 1974 a 1983 apresentou uma diminuição da precipitação nas três sub-bacias. Ao utilizar o IAC concluiu-se que houve uma mudança nos padrões de precipitação, sendo o “ponto de inflexão” o ano de 1974. Antes desse “ponto” os anos foram secos no MM e AM, e após 1974, foram mais úmidos, ocorrendo o contrário no BM.

Esse fato possivelmente foi consequência de ações antrópicas no local. Na região litorânea do BM, o cres-cimento das cidades e a redução da cobertura vegetal geraram um aumento das temperaturas locais, propi-ciando, ao longo do tempo, uma diminuição de chuvas. Nas demais sub-bacias (MM e AM), mais distantes do litoral, o fato dos anos se tornarem mais úmidos, pode ser explicado pelo crescimento de projetos de irrigação, construção de açudes e aumento da vegetação, tornando a região mais úmida.

Por fim, no BM, dos 37 anos do período de estudo, 19 foram secos e 18 foram úmidos. No MM, 16 foram secos e 21 úmidos e no AM, 22 foram secos e 15 foram úmidos. Esse fato reforça a idéia de que o MM se apresentou como a região mais úmida da bacia.

As quadras chuvosas das 3 sub-bacias, em anos úmidos, representam cerca de 60% a 70% do total anual e diminuem em anos secos, ficando entre 46% e 60% do total anual.

Por fim, neste estudo foi verificado que o IAC serve como uma ferramenta para o acompanhamento da plu-viometria em uma bacia hidrográfica, além de ser utilizado para distinção de regiões pluviometricamente diferentes, podendo também, por meio desse monitoramento, gerar prognósticos e diagnósticos de chuvas.

Referências

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(9)

Djane Fonseca da Silva*

Doutorado em Recursos Naturais. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

e-mail: djanefonseca@yahoo.com.br

Lincoln Eloi de Araújo

Doutorando em Recursos Naturais. Universidade Federal de Campina Grande (UFCE).

e-mail: lincolneloi@yahoo.com.br

Mary Toshie Kayano

Doutorado em Meteorologia. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Pesquisadora Titular (INPE).

e-mail: mary@cptecinpe.br

Francisco de Assis Salviano de Sousa

Doutor em Hidráulica e Saneamento. Universidade de São Paulo (USP). Docente da Universidade Federal de Campina Grande (UFCE).

e-mail: fassis@dcaufcg.edu.br

*Endereço para correspondência:

Av: Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó, Campina Grande (PB) - 58109-970.

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