EFEITO DE UM INSECTICIDA
PIRETR6IDE-PERMETRINA
SOBRE CLOROFjOEAS
SUMMARY
par
MARIA MANUELA RODRIGUES DA SILVA· e
MARIA GEi.'W1NA FLORES·
This study concerns the efifects of a pirethroid insecticide~perme\lu'in - on growth kinetics of fresh-water algae isolated from Furnas lake, Azores. Two species W€lI"e studied, Scenede-smus protuberans and Chlorococcum humicola., which have quite different morphological and eeological characters.
Res'Ults show a remarkaoble difference of b~hav iour. Sce:ne.desmus. protuberans presents a fading of
the growth curves, on the Uh day after pesticide application.
This tendency continues
to
increase till the 16th day.ChJarococcum humico/.a shows a sharp growth drop 011 4th day of culture. Recover Ocf growth starts after the 4th day, but never reaches the levels of control cultures.
-"* Laborat6rio de Ecologia Aplicada cia Univers1dade doo
Acores.
9500 Ponta Delgada.MAntA MANUELA RODRIGUES DA SILVA e MARIA GENUtNA FLO)?.ES
RESUMO
Este estudo diz respeito aos efeitos de urn insec-ti.cida piretrolde - permetrina - na cinetica do cres-cimento de algas de
agua
dore, isoladas da lagoa das Furnas, S. Miguel, A~ores. Foram estudadas duas esp'ecie.s: Scenedesmus pratuberans e Chlorococcumhumicola, que apresentamcaracteristicas morfologi-cas e ~o16gicas bastante duerentes.
Os resultados obtidos mootram uma notavel dife-renc;a de comportamento entre as duas especies. Em
Scenedesmus protuberans observa-se uma quebra na curva de crescimento ap6s a aplica~ao do pesticida; em Chlorococcum humicola - aplicar;ao da perme-trina no 3.0 ilia de cultura
e
evidenciado urn decres-cimo nQ crescimento a partir do quarto dia de cultura, observando-se 0 restabelecimento deste, sem no en·tanto atingir ()S niveis oDtidos pelas culturas contwlo.
1 - INTRODUYAO
o
U50 de pesticidas na agricultura, numa reg lao em que existem lagoas que se encontram situadas em crateras contidasem caldeiras de vulcoes, com terrenos circundantes cobertos por pastagens e florestas,
e
natural que os produtos fitossani-tarios e correspondentes metab6litos, em virtude da elevadaprecipita~ao destas Regi6es, sejam arrastados para as lagoas causando drasticas altera~oes na Biocenose.
Muitos trabalhos tern sido feltos, especialmente na Ultima dec ada com fim de determinar a toxWade dos p:J'lOdutos fit.os-sanit8.rios, mas. frequentemente, utilizando como material a testar mamiferos, aves, peixes e insectos.
Os estudos feitos para analisar 0 efeito desses pioGutos no firop.ru.ncton, e10 primario da cadeia aUmentar de vari()S
ani-mais, tern sido objecto de menor nfun.ero de publica~5es. Com 0
EFElTO DUM INSEOT. PlRETR1')IDE-PERMETRINA SOBRE CLOROFlCEAS
presente estudo, reaLizado em 1983, iniciamos wn conjunto de experH~ncias de Fisiologia Vegetal, que pretende investigar a accao de produtos fit0,5sanititrios no crescimento de algumas especi£s de clorofkeas fitoplanctooicas de ague. doce existentes nas lagoas de S. Miguel.
A ilha de S. Miguel, sitlla·se na parte oriental do arqui-pelago dos A~ores, com uma area aproximada de 757 krnl e nela exist-em diversas lagoas instaladas em crateras ou caldeiras de origem vulcanica.
Na I"egia{) ocidental, na caldeira das Sete Cidades, esta contida a Lagoa das Sete Cidades. 0 conjunto constitu1do pelas Lagoas Azul e Verde, que {!omunicam entre S1, e tern uma area aproximada de 3,6 e 0,8 km2 respectivamoote.
Na zona central, no maci~o vulcanico do Fogo, existe outra lagoa, a Lagoa do Fogo, com uma area de 1,5 km2
• A oriente,
numa zona de elevada. precip"ita~ao (media dos ultimos 5 anos-2350 mm), a Lagoa das Furnas, ocupando 0 que parece ser uma cratera contida na caldeira de 11m vuldo activo (ultima erup!,":ao 1630), com uma area de 1,89 km2 e 14 metros de profundidade.
Foi nesta lagoa que se fizeram as primeiras cQlheitas de fitoplancton, por ter mellwr acessa, e, pot ncla existifrem as especies com mellivr capacidade de sobrevivencia as condi~oes
laboratoriais da altura.
Nesta. fase inidal do trabalho, estudamos a curva de cros-cimento de duas cloroficeas fitoplanct6nicas de agua doce, isoladas da Lagoa das Furnas e mantidas em cultura DC) Labo-ra·t6rio de Ecologia Aplicada.
Existindo fortes evidencias da diferente sensibilidade que apresentam diversas especies de algas
a
ac~aG de variados produtos fitossanitarios, estudamos 0 efeit.o de urn desses p-ro--dut{)s, urn insecticida piretr6ide, na curva de crescimento destas culturas.o
piretrOide utilizado foi a permetrina, por ser urn insec-ticida de uso na agricultura local, nas concentracoes de 125e SOOmgjl.
MARIA MANUELA RODRIGUES DA SILVA e MARIA GENUtNA FLORES
.2 - MA.TERlAL E M~ETODOS
As duas especies de arlgas cloroficeas fitoplancUinicas usa· <las no presente trabalho foram Scenedesmus protuberans e Chlarococcum humicola..
A primeir'a especie (Scenedesmus protuberans) fOO recQ-lhida por uma rede c6nica de plancton por arrasto, atravessando a lagoa em vanos sentidos.
A colhe:ita da segunda especie (Chlorocaccum humicoLa) foi feita a partiT de raspagens em pedras das margens da lagoa. Das amosiras de fitoplancton colhidas inicialmente, uma parte foi tixada com formol
a
40 ('1(1 para estudos posterioresde sisremMi-ca e outra parle observada ao microsc6pio e, quando possivel, identificada. Desta parte isolam(}S as
espe-cies utilizadas neste traballio, por meio de uana pipeta esti-rada e, apOs varias passagens em agua esterilizada, as especies
loram postas a crescer em meio de cultura pr6prio.
As celulas foram cultivadas em meio mineral liquido, este-rilizada a 1,5 atmosferas durante 30 minutos, em Erlenmeyers de 250 mI de capacidade contendo ooda 100 ml de meio, durante 9 a 16 dias, com arejamento constante.
A permetrina foi adiciooada no Mdo da fase exponencial de otescimento das culturas, com concentra<;oes de 125 e 500 mgjJitrQ nas amostras testes.
Os Erlenmeyers contendo as culturas foram colocados numa camara com iluminaciio continua de 1000 lux fOll'l1ecida por quatro lAmpadas fluorescentes e mantidos a uma temperatura de 20 + 2"C.
o
crescimento do controlo e das culturas foi determinado por 000tagcns d.iftrias das celulas numa camara de Thoma, ap6s agita~ao.EFEITO DUM INSECT. PIRETROIDE-PERMETRINA SOBRE CLOROFtCEAB
2.1. - Meio de cultura mineral
Solu~ao de macronutrientes · ~03 .... ~~ ... t.,···t~·".·!··· MgS041
'1fI:&0 ... ..
:KIIaP{)4 ... . Ca (NOa)2, ~O ... .. Solu~aQ de mieronutnient.es I ... .. Solu~aQ de microDutrient.es II ... .. Agua destilada q,b ... . Solu~ao de microoutrientes I N~EDTA
...
..
Agua destilada q.h. . ... . C/ NaOH N levar a pH.7 FeCla• 6 ~O ... .. 5()5 mg 493 :b137
~ 59 :)Im1
2 ml 1000 ml 186mg 10(l m1 270mg Guardar em fraseo escuro no frigorifico Solucao de mic1'onutrientes II IIaBO~... .
Mn C12 • 4140
...
..
(NH1) 8 M07 041 ~o... ..
ZnC~ ... .eu
C12 • 2~0 ... . CoC12 • ~O ... .. Agua destilada p.b ... . 60mg 40 ~37
»4
~4
~ 1,5 :b 100 mlMARlA MANUELA RQDRIGUT!lS DA SILVA " MARIA GENU1.NA FLORES
3 - RESULTADOS
o
efeito da permetrina nas duas clorofic€as estudadas, pode observar-se nas figuras 1, 2, 3.8.0 1" I I 7.0
b
L
jl
I "0.9'9 , ;.' .... ~ ... ni .... / I>~.'n I"
Fig. 1- Crescimento da alga de agua doce Scenedesmu.s protuberans a 1000 lux sern e com permetrina (125 mg,ll) no meio.
tcFEITQ DUM INSECT. PIRETROIDII:-PERMETRrNA SOBRE CLOROFfCEAS
Na figura 1 observamos 0 efeito da permetrina em S.
pro-tuberans quando aplicada numa cOD:centra~ao de 125 mgjl, nQ 1.0 dia de cul,tura.
Verificamos que a c\lltura controlo apresenta uma taxa de crescimento bastante mais elevada do que a cu1tura tratada. no decUnlO da ex:perienda.
A oultura tratada revela urn erescimento multo mais lento que nao (lev,era atingir
°
nivel do controlo, uma vez quee
assint6ti<:o, pois foi feito 0 tratamento matematieo dos dadosobtidos experimentalmente, construindo uma fun~ao logaritmica, do logaritmo do nUrnero de eel'ulas, obtida por regressao loga-ritJn.ka - pelo metodo dos mlnimos quadrados - em re1a~ao aos dias de cresci-mento, considerando estes como varmvel inde-pendente. A curva re1ativa
a
cultura tratada, ap-resenta urn coefi:cioote de cor:relacao de - 0,97 - significativamente mais baixo do que 0 cocliciente de correlac;;a.o da curva ccmtrolo - 0,99 - {) que indica que 0 crescimento foi afectado pe10produto apUcado.
Nas figuras 2 e 3 em Ch~orococcum humkola verificamos a acluacao da permetrina nas doses de 125 mgjl (fig. 2) e 500 rngjl
(fig. 3).
Log nIT ell lu/as 8.0 7.5 7,0 6,5 2 J I
,
,
I I I I I I I 0 \/
\ \ 0''
\,
I I 1/ ~ 4 5 e.ontrol D I I I I ,0 I I I I 6"
,.
,
,
,
,
, 0 ,,/ ~ .t6
pe .. rne fOna I t-0.97 I 7 8"
/,
9-
" . / IG dia$ Fig. 2 - Cre<'...cimeoto da aJga sub-aerea Chlorococcum hum-kola a 1000 lux, com 125 mg/l de permetrina no mcio e respectivo controlo. A seta indica 0 dia de aplica~o do pesticlda.7,5 7.0 \ \ \ \
,
\ \ 6,5 2 3 \ \ \~
4 \ \,
\\q
, I 14 5,
I,
I,
:0
,
I,
I I I I I 6 f I / I I 0,
7 i i,
,
,
o .". 9 ...,
" perfT'.'r;"o,
/0
8 9 10 diasFig. 3 - Crescimento da alga sub·aerea C. humicola a 1000 lux. com
500 mg/l de permetrina no meio e respectivo controlo. A Stlta
MARIA MAl\"UELA RODRIGUES DA SILVA e MARIA GENUtNA FLORES
o
comportamento desta eSp€cie, em termO's de taxa de crescimento ao fim de 10 dias de cultura, tendo sido aplicada a perroetrina nO' 3." dia, assemelha-se nos dois casos.Nota-se apOs aplicar,:ao, urn decrescimo do Ilumero de eelu-las sendo este muito mais acentuado na coneentrar;aO' mais elevada, mas observa-se no entanto a partir do 4.° dia urn crescimento rapido destas, inversamente relacionado com a dose aplicada.
Verifica-se, POre.m, que nD tempo em que decorreu a exper iEm.cia , as cllllturas tratadas nao atingiram a taxa de crescimento do controlO'.
o
tratamento matematico aplicado foi identicD aD que Jase indkou para a fig. 1, mas nestes dois Ultimos casos, somente o calculamos apas 0 decrescimo observado no 4." dia. Verifica-se ronda que os coeficientes de correla~ao - 0,97 e 0,98 - sao significativamente mais baixos no casu das culwras tratadas do que no controlo - 0,99 - , 0 que tambem indica que as cuLturas sao gravemente afectadas pela aplieat;;ao do produto.
3.1. - Observ~oes morjol.6gicas
3.1.1. - Scenedesmus protuberans - Urua comparat;;ao en-tre as culturas tratadas e nao tratadas mostra que, durante a experieneia, as primerras apresentam ce.}ulas deformadas. mais pequ.enas e descoradas do que 0 controlo, doootando incapaci-dade de formar cenooios como acontece no controlo, emhora tamb€m eventualmente estes possam aparecer numa perc en-tagem de 4 a 5 % nas cultuTas tratadas, mesma quando as
observac;5es sa.{l feitas 30 dias
apas
0 inicio da exp€riencia. Durante 6 meses, dos quais 4 sem arejamento e sem luz, a mesma especie, cultivada como descriw em Mate1"ial e .Me-todos, em presenr;a de 12.1 mg/l de permetrina, nao perdeu a sua capacidade de produzir clorofila na escuridao, nem atingiu a taxa de crescimento do contralo aa longo dos seis meses. 82EFEITO DUM INSECT. PIRI!lTROlDE-PERMETRINA SOBRE CLOROFtCElAS
3.1.2. - Chlarococcum humico1.a - Nesta especie as cul-turas tratadas an longo da experienciat tambem apresentam celulas mais peqllOOas e deseoradas.
No eon tanto, essas caracteris.ti.cas vao atenuar-se rapida-mente, mas 0 seu crescimento, nao atinge nunoa a taxa de creseimento do cnntrolo (figs. 2 e 3).
4. - CONCLUSAO
Poderemos condUIT que estas eSp€cies sao afectadas pelo insecticida aplicado, recuperando no entanto lentamente sem atingir a taX'a de c:rescimento que apresentavam antes da aplical;ao do mesmo.
Uma vez que estes €Usa,ios forrum efectuados em labor a-torio e as reacf;Oes n{) habitat natural sao unprevislveis, os efeitos observados poderao provavelmente ser retardados ou acclerados., pois neste caso 0 material testado estara no seu meio natural- a agua das lagoas.
A leitura dos resultados obtidos da uma ideia do efeito deste insecucida no crescimento das algas iitoplanctOnicas, como era objecto deste ,trabalho.
Sendo este 0 primeiro duma serie de traballios de estudo da aCl;8.0 de p-rodutos fitossanitarios no fitoplancton, e consi-de-rando a falta de meios espedficos para 0 realizar, as condu-soes obtidas estao parcialmente condicionadas por ulteriores estudos, pr{)vave1meute utilizando outras es-pecies e outrQS pro-dutos fit(}ssamitilrios. Os resultados seguintes deverao sec COill-plementados nomeadamente coon 0 doseamento das clorofilas
e a medi~ao da
taxa
de fotossintese aparente.MARIA MA...'illELA IWDRIGUES DA SILVA e MAl\U GENUfNA FLORES
BIDLIOGRAFIA
BEDNARZ, T. - The effect of pesticides on the growth DJ green and
blue-green algM cultures. <tActa lIydrobioi.», Krakow. Polish Academy
of Sciences, 23 (2), 19!U, 155-172.
~ The effect of 2,4-D acid an green and bhte-Qreen algM in unia£oal
and mixed culture. «:Acta Hydrobjo~, Krakow, Polish Academy of
Sciences, 23 (2), 1001, 173-1B2.
BOURRELY, P. - Les algues d'eav. douce. VoL 1, Paris, N. Boubee &
CIe, Hm.
BROWN, A. W. A. - Ecology of Pesticides. New York, John Wiley &
Sons. 1975. ISBN (}.471-1079Q..S.
FOGG, G. E. - Algal Cultures and PhytopWnk.ton Ecology, 2." ed .. Wiscoo
-sin, The University of Wisconsin Press, lJ975. ISBN 0-2ro.Q6760-2.
FOGG, G. E.; SMITH, W. E. E.; .MII...LER, J. D. A.-An apparatus for
the culture of Algae under controlled conditions. London. vol. 1 (1),
1959, 59-69.
FRITSCH, F. E. - The structure and r~uctiDn oj the algae, B! ed ..
VoL 1. Cambridge. Cambridge UniverSit)' Press. 1977. ISBN"(}-52.1
-..()5041-3.
HIRosm, Tamiya - Synchronous culture of algM. <l.Ann Rev. Plant Phy
-siob, Palo Alto. Annual Reviews, inc .. Vol. 17, 1966, 1 .. 26.
KAREN, wnway; FRANCIS, R. Trainor - Scenedesmus m~tphology a1!d
FlotatiDn. «J. Phyco}:., B, 1972, 138-143.
LEWIN, Ralph A. - Physiology and Biochettti.6try of algae. New York.
Academic Press, inc., 1964.
LUARD, Elizabeth J. - Sensivity of Dunaliella and Scenedesmus
(chwro-phyceae) to chlorinated hydrocarbons. «Phycob, S. Diego, Vol. 12 (1/2), 29h33, 1973.
EFEl'l'O DUM INSECT. PIRETR<>IDE-PERME'l'RINA SOBRE CLOROFtCEAS
MORRIS, 1. - The physiological ecology of phytaplankton. ~Studies in
ecolo~, Vol. 7, Oxford, Blackwell Scientific Publications, 1980.
SYLVIA, B. (Sleeper) Derby; RUBER, E. - Primary Production Depre.~·
sion of OXigen. Evolution in Algal Cultures by Organaphospharus
In.~ecticide.~. «.Bull. Environ. Contam. Toxico!», Boston. se, Vol. 5,
1970, 553..558.
U.S.A. AP.H.A,; A.W.W.A.: W.P.C.P.-Standard Methods for the exami
-nation of water and wa.rtewater, H." ed., Washingtoo, 1975.