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Turmas mistas: uma análise do papel do professor na problematização das questões de gênero

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

ANA BEATRIZ SANTANA ALVES

TURMAS MISTAS: UMA ANÁLISE DO PAPEL DO PROFESSOR NA PROBLEMATIZAÇÃO DAS QUESTÕES DE GÊNERO

Natal-RN 2018

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Ana Beatriz Santana Alves

TURMAS MISTAS: UMA ANÁLISE DO PAPEL DO PROFESSOR NA PROBLEMATIZAÇÃO DAS QUESTÕES DE GÊNERO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Educação Física (Licenciatura) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Márcio Romeu Ribas de Oliveira.

Natal-RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Alves, Ana Beatriz Santana.

Turmas mistas: uma análise do papel do professor na problematização das questões de gênero / Ana Beatriz Santana Alves. - 2018.

25f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Educação Física. Natal, RN, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Márcio Romeu Ribas de Oliveira.

1. Educação Física - TCC. 2. Aulas mistas - TCC. 3. Gênero - TCC. I. Oliveira, Márcio Romeu Ribas de. II. Título.

RN/UF/BSCCS CDU 796.011.1

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo analisar e relatar, sob o viés do gênero, as informações coletadas durante uma observação participante de duas turmas mistas de Educação Física. Foram observadas durante todo um semestre, aulas de de Educação Física do oitavo e do nono anos de uma escola particular e católica da cidade de Natal (RN). A interpretação e análise das informações sugere que o tratamento igual de alunos e alunas durante aulas mistas por si só não supriu as necessidades de aprendizagem de ambos os sexos, no entanto as aulas mistas proporcionaram um ambiente o qual apresentou diversas oportunidades de reflexão acerca das questões de gênero que, no entanto, não foram aproveitadas.

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ABSTRACT

This research had the objective of describing and analyzing, considering mainly gender aspects, data collected during an observation of mixed classes of Physical Education. The observations happened during a whole semester, and were observed the eighth and ninth grades of a private and catholic school in Natal (RN). The interpretation and analysis of the data suggests that the equal treatment given to boys and girls during the classes could not alone suffice the learning needs of both sexes, although the mixed classes provided an environment in which many opportunities for reflexions about gender issues surfaced, the opportunities were not used.

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...6 1.1 JUSTIFICATIVA...6 1.2 OBJETIVOS...6 1.2.1 OBJETIVO GERAL...6 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...7 2. METODOLOGIA...8

3. GÊNERO E A EDUCAÇÃO FÍSICA...9

3.1 OBSERVAÇÃO...11

3.1.1 AS PRIMEIRAS DIFERENÇAS...12

3.1.2 PARTINDO DO MESMO PONTO...13

3.1.3 EXPERIÊNCIA COM O ATLETISMO...14

3.1.4 JOGOS INTERNOS: PARA ALÉM DA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA...16

3.1.5 POSSIBILIDADES PODADAS...17

4. DISCUSSÃO...19

CONSIDERAÇÕES FINAIS...23

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1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surge a partir de questionamentos sobre o papel da educação física na superação dos obstáculos que o gênero, aqui entendido como um conjunto de construções sociais atribuídas ao sexos feminino e masculino, pode impor na aprendizagem dos alunos na Educação Física escolar e em suas vidas de maneira geral e tem como objetivo analisar o papel no professor de Educação Física escolar, no que diz respeito à inserção e discussão das questões de gênero em sala de aula: um tratamento igualitário a ambos os sexos numa aula mista é o bastante? Ou é necessário que haja uma discussão acerca do gênero na sala de aula?

1.1 JUSTIFICATIVA

A justificativa para a realização desta pesquisa possui três dimensões: acadêmica, social e pessoal. Levando em consideração o contexto histórico de exclusão das mulheres das práticas esportivas e da socialização a qual o sexo feminino é submetido, esta pesquisa justifica-se academicamente na necessidade de investigação dos reflexos desse contexto no âmbito escolar da Educação Física, proporcionando então uma reflexão acerca do papel do professor na minimização dos possíveis efeitos de certas construções sociais ligadas aos sexos na sala de aula, dessa forma justificando-se socialmente contribuindo para uma Educação Física mais igualitária e crítica a padrões sociais excludentes. Como justificativa pessoal destaco o interesse pelo assunto e pelo movimento das mulheres por um tratamento mais igualitário na sociedade.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o papel no professor de Educação Física escolar, no que diz respeito à inserção e discussão das questões de gênero em sala de aula.

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1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever as aulas de Educação Física do oitavo e nono anos de uma escola privada na cidade de Natal (RN).

Apontar os momentos de surgimento de problemáticas relacionadas ao gênero e como elas afetam as dinâmicas em sala de aula.

Enfatizar a importância do papel do professor de Educação Física em minimizar os efeitos prejudiciais dos estereótipos sexuais dentro e fora da sala de aula.

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2. METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo que, preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais (SILVEIRA E CÓRDOVA, 2009, p.32). Segundo Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Ela foi feita através de uma observação participante, na qual o pesquisador esteve inserido nas aulas com um assistente do professor das turmas de educação física, e foi utilizado para o registro de dados, um caderno de anotações, utilizado sempre após ao término das aulas e, às vezes, depois.

Foram observadas durante todo um semestre, as aulas de Educação Física dos oitavos e nonos anos de uma escola particular e católica localizada no bairro do Alecrim na cidade de Natal (RN). As aulas dos oitavos anos aconteceram das 11h40 às 12h20 nas segundas e quartas, na qual estavam reunidos os alunos das turmas A, B e C. O mesmo aconteceu com o nono ano no horário das 12h30 às 13h20. O oitavo ano, no começo de 2018 tinha 22 alunos, sendo 12 do sexo feminino e 10 do sexo masculino, com uma média de idade de 13 anos; já o nono ano tinha 25 alunos, com média de idade de 14 anos, sendo 13 meninas e 12 meninos. O semestre observado foi o primeiro do ano letivo de 2018, que teve início dia 19 de Fevereiro e fim no dia 25 de Maio e englobou um trimestre e meio, uma vez que o sistema da escola na qual as observações ocorreram é trimestral.

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3. GÊNERO E A EDUCAÇÃO FÍSICA

As construções sociais relacionadas ao sexo dos indivíduos permeiam a sociedade e a afetam negativamente de diversas formas. A mulher, por exemplo, há séculos ocupa um lugar secundário no corpo social e os estereótipos de gênero de inferioridade intelectual, física e emocional estão nele arraigados, mantendo, dessa forma, o status quo de dominação masculina.

Os argumentos que sustentam esses discursos estão ancorados em uma representação essencialista dos gêneros, segundo a qual, a cada sexo correspondem algumas características que lhe são inerentes e, estas os define. Pressupõe, portanto, a existência de uma certa essência masculina e/ou feminina considerada natural e imutável. A esta concepção opõe-se uma outra, que afirma ser o gênero uma construção social e, por assim ser, admite, para cada pólo da unidade binária. (GOELLNER, 2005, p.148).

Na Educação Física, não é diferente. Expectativas acerca do comportamento e dos papéis "naturais" de cada sexo resultam numa generificação de certos esportes e atividades, por exemplo.

Para Michel Messner (1992) o esporte é uma “instituição genereficada”, ou seja, uma instituição construída por relações de gênero. Sendo assim, sua estrutura e valores (regras, organização formal, composição sexual, etc.) refletem concepções dominantes de masculinidade e feminilidade. Os esportes organizados são também uma “instituição genereficadora” – uma instituição que ajuda a construir a ordem de gênero corrente.

A história da prática de esportes no Brasil reflete tais generificações. Em 1965, por exemplo, foi proibida a participação de mulheres em qualquer tipo de luta, futebol, pólo aquático, “rugby’, halterofilismo e “baseball”. Essa deliberação do Conselho Nacional de Desportos foi revogada apenas em 1979. Esses esportes ainda carregam um grande estigma em relação a participação feminina e a sexualidade das atletas, uma vez que a sociedade ainda considera um corpo forte como uma característica masculina, que por sua vez quando presente em mulheres são associadas a homossexualidade.

A habilidade esportiva dificilmente se compatibiliza com a subordinação feminina tra- dicional da sociedade patriarcal; de fato, o esporte oferecia a possibilidade de tornar igualitárias as re-lações entre os sexos. O esporte, ao minimizar as diferenças socialmente construídas entre os sexos, revelava o caráter tênue das bases biológicas de tais diferenças; portanto, constituía uma ameaça séria ao mito da fragilidade feminina. (LENKKYJ citado por ADELMAN, 2003, p. 448).

Apesar disso, as mulheres vêm ganhando, não sem dificuldade, cada vez mais espaço nas práticas corporais consideradas masculinas, no entanto, deve-se levar em consideração que há menos

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de 50 anos, mulheres eram institucionalmente proibidas de participar em algumas atividades e que até hoje contribuem para a manutenção da generificação de algumas práticas.

Nos anos noventa, então, as questões de gênero emergem na formação e ação profissional na educação física (Souza, 1994), levando a reflexões sobre a prática educativa desta e possibilitando começar-se a pensar nas alternativas pedagógicas que possibilitariam mudanças nas relações de poder entre os sexos na prática do esporte e das atividades físicas, bem como nas visões de corpo masculino e feminino, polarizadas em forte/fraco, dominador/submisso, sensual/racional, etc.

A Educação Física escolar, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Portanto, para que a Educação Física possa cumprir seu papel, é importante que o professor e as instituições de ensino, proporcionem essas tematizações em um ambiente livre de qualquer discriminação, inclusive a ocasionada pelo gênero.

A desmistificação dos estereótipos sexuais, mesmo esses tendo sua base na educação familiar e uma história cultural (...), deve, então, passar pela escola e pela Educação Física, pois esta, no contexto escolar, se constitui no campo, onde, por excelência, acentuam-se as diferenças entre homem e mulher (SARAIVA, 1999, p. 177).

A BNCC não traz nenhuma menção às aulas mistas no que diz respeito ao favorecimento de um ambiente que proporcione reflexões acerca das diferentes realidades e relações sociais, no entanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que:

[...] as aulas mistas de Educação Física podem dar oportunidades para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir, de forma estereotipada, relações sociais autoritárias (BRASIL, 1997, p.30 e 1998a, p.42).

Os papéis atrelados aos sexos estão presentes na vida de todos desde o nascimento e, esta realidade acaba chegando na escola por meio, tanto dos alunos quanto do professor. Sendo assim, Sacristán (1995, p. 89) lembra que “a escola não opera no vazio; a cultura que ali se transmite não cai em mentes sem outros significados prévios”. Para garantir a participação plena de todos e uma educação igualitária para os alunos de ambos os sexos, que supra as diferentes necessidades dos sexos, sejam elas de origem biológica ou socialmente impostas, é necessária uma reflexão acerca dos impactos de construções sociais excludentes na sala de aula, uma vez que a aplicação de aulas mistas por si só talvez não seja capaz de combater os males ocasionados pelos estereótipos de gênero.

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3.1 OBSERVAÇÃO

A estrutura do complexo esportivo da escola é composta por três ginásios, duas piscinas (uma semiolímpica e outra infantil), uma quadra de areia, sala de ginástica artística, sala de ginástica aeróbica, sala de ballet, sala de lutas e uma academia. A maioria das aulas aplicadas durante o período observado foram realizadas em um dos ginásios, o qual não possui paredes laterais, o que o torna bastante exposto.

Durante as unidades letivas analisadas foram abordados quatro conteúdos, nesta ordem: basquetebol, badminton, atletismo e dança. A escola está em transição para a BNCC e esses conteúdos foram selecionados no início do ano na semana pedagógica por todos os professores do serviço de Educação Física da escola, e não apenas pelo professor específico das turmas observadas. Além disso, também aconteceu na escola durante esse período, os jogos internos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio (os jogos internos voltados a Educação Infantil e ao Ensino Fundamental I são realizados separadamente).

Seguindo o sistema utilizado pela escola, os alunos passam por três avaliações ao longo de cada trimestre. Na Educação Física, a primeira avaliação é uma prova prática, na qual são solicitados movimentos específicos dos esportes abordados até o momento e a segunda avaliação consiste em uma prova teórica, baseada em um texto trabalhado em sala de aula antes da prova. Todos os alunos fazem a prova teórica, independentemente de estarem ou não matriculados em alguma equipe esportiva. A terceira prova também é teórica e aborda todos os conteúdos do trimestre. Fazem essa prova apenas os alunos com uma média abaixo de 7, sendo optativa para alunos com média acima.

Participam das aulas de Educação Física apenas os alunos que não estão matriculados em alguma equipe esportiva, cujos treinos são realizados no horário inverso das aulas. O professor de Educação Física, no início de todas as aulas durante os meses de fevereiro e março incentivou os alunos para que procurassem alguma equipe esportiva. Durante conversas informais com o professor, tanto nos oitavos quanto nos nonos anos, alunos relataram não participar de equipes esportivas pelos seguintes motivos: a) falta de interesse em algum esporte específico, b) falta de talento, c) crença de que a prática de um esporte afetaria os estudos, e d) preço da mensalidade.

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basquete, vôlei de quadra, vôlei de areia, badminton, ginástica aeróbica, ginástica artística, ginástica rítmica, dança, ballet, judô, karatê e xadrez (que também faz parte do Serviço de Educação Física). Apesar das motivações para a não participação nas equipes esportivas, ambas as turmas diminuíram significativamente em número de alunos com o passar dos meses. As meninas que deixaram a Educação Física migraram, de acordo com os registros da escola, para a natação, a dança e o xadrez, enquanto entre os meninos as maiores procuras foram pelo futsal e o basquetebol.

3.1.1 AS PRIMEIRAS DIFERENÇAS

A primeira aula sobre basquetebol foi dedicada a explicação das regras básicas do esporte e a prática de dois de seus principais fundamentos, o passe e o drible. Na segunda aula, os alunos praticaram os diferentes tipos de arremesso. Durante a primeira aula e primeira metade da segunda, os alunos não foram divididos por sexo pelo professor, porém quando havia um pedido para formação de duplas e trios, os estudantes dividiram-se por afinidade, o que acabou dividindo a turma por sexo. Na segunda metade da segunda aula, o professor separou os alunos entre meninas e meninos e fez uma disputa de cestas, ganharia quem acertasse mais arremessos. O grupo das meninas precisou de incentivo constante do professor, uma vez que as alunas não pareciam importar-se com a disputa, enquanto os meninos mostraram-se competitivos desde o anúncio da atividade. Esse comportamento se repetiu tanto no oitavo, quanto no nono ano. No oitavo ano, as meninas ganharam por uma cesta de diferença, já no nono, as alunas perderam por duas cestas.

O mesmo equilíbrio não pode ser percebido na terceira aula, na qual os alunos realizaram partidas adaptadas de basquetebol. Apesar de não jogarem uns contra os outros, meninas e meninos tiveram desempenhos bastante discrepantes em ambas as turmas. O professor dividiu a turma entre alunos e alunas, depois escolheu os times aleatoriamente. Nos jogos das meninas, houve bastante interferência do professor, os jogos pareceram muito confusos, tanto pela falta de conhecimento sobre tática (para quem passar a bola, como se posicionar), quanto pela aparente falta de prática na condução da bola. Por vezes, eram esquecidas pelas alunas até mesmo regras básicas como, por exemplo, onde fazer a cesta para seu time.

O ginásio no qual a maioria das aulas são realizadas é aberto e, principalmente durante o horário do nono ano, alunos de outras turmas ficam ao redor da aula, uma vez que as demais aulas do

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turno matutino da escola já têm se encerrado. Os meninos de ambas as séries, e os que não eram da turma e estavam apenas observando as aulas, riram do desempenho das alunas, oferecendo instruções sobre o jogo entre as risadas, apesar de que as alunas já estavam sendo instruídas pelo professor.

Apenas uma menina no oitavo ano e duas no nono ano mostraram mais desenvoltura durante as partidas de basquete e as três já haviam feito parte de equipes esportivas de vôlei e de basquete dentro da própria escola. Entre os meninos, dois (um em cada turma) destoaram da maioria, mas participaram normalmente da aula, apesar de terem sido motivo de risada, assim como as meninas, mesmo que em menor intensidade.

3.1.2 PARTINDO DO MESMO PONTO

As aulas de Badminton seguiram o mesmo padrão das aulas de Basquete, no qual as primeiras aulas foram dedicadas aos principais fundamentos do esporte e na última foram organizadas partidas adaptadas.

Nas aulas de badminton, assim como no basquete, os alunos naturalmente dividiram-se por sexo ao escolherem suas duplas por afinidade. Porém, diferentemente do que aconteceu durante as aulas de Basquete, meninos e meninas passaram a misturar-se após a primeira aula.

A maioria dos alunos em ambas as turmas nunca havia tido contato com o esporte e todos tiveram um desempenho bastante equilibrado no decorrer das aulas, independentemente do sexo. Além disso, os alunos mostraram entusiasmo com o esporte, que pode ser percebido quando os alunos de ambas as turmas pediram ao professor para continuar "brincando" de Badminton após o término das aulas.

Na última aula, os alunos disputaram partidas adaptadas, realizando um pequeno torneio, mas desta vez o professor não pediu para que os alunos se dividissem por sexo, diferentemente do que aconteceu no basquetebol, e ele mesmo escolheu os times. Nas duas turmas, o torneio acabou antes que a aula acabasse, porém os alunos continuaram jogando, dessa vez escolhendo seus próprios times. Tanto os meninos quanto as meninas não mostraram preferência por escolher para seus times jogadores do mesmo sexo e sim jogadores habilidosos.

3.1.3 EXPERIÊNCIA COM O ATLETISMO

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ainda não haviam sido utilizados por essas turmas em 2018. Os conteúdos da primeira aula foram salto em altura e salto em distância. A primeira parte da aula (salto em altura) foi realizada no ginásio principal da escola, que apesar de ser o principal, oferece mais privacidade do que o ginásio em que as aulas são geralmente realizadas, por possuir as quatro paredes. Nessa parte da aula, os alunos foram divididos aleatoriamente em duas filas e se alternaram no salto em altura.

Nas duas turmas, a corda foi ajustada para uma altura mais elevada sempre que algum aluno do sexo masculino ia saltar, no caso das alunas, a corda foi ajustada para cima apenas algumas vezes, para alunas que já haviam praticado o esporte e para baixo para as alunas mais baixas ou que tinham mais dificuldade em realizar a atividade. Os estudantes pareceram já saber que as alturas para homens e mulheres são oficialmente diferentes, uma vez que alunos da turma do nono ano indagaram o professor sobre a medida exata da altura para cada sexo.

Antes de começar a atividade, o professor relembrou aos alunos como o salto em altura deve ser feito e as formas diferentes de saltar. A maioria dos alunos já tinha experiência adquirida nos anos anteriores e não tiveram dificuldade em realizar os movimentos. Os alunos novatos receberam atenção especial na hora de saltar, uma vez que ainda estavam aprendendo a técnica correta, pois nunca haviam praticado Atletismo nas aulas de Educação Física em suas escolas de origem.

A segunda parte da aula foi realizada num local ao ar livre, onde está localizada a caixa de areia utilizada para o salto em distância. Foi uma parte um pouco tumultuada para ambas as turmas, uma vez que é uma área de passagem para outros locais da escola e, no horário do nono ano, todas as aulas já haviam se encerrado. Mais uma vez os alunos foram relembrados das técnicas específicas do salto em distância, formaram uma fila aleatoriamente e saltaram.

A segunda aula foi dedicada ao arremesso de peso. A aula foi realizada novamente num local ao ar livre, próximo a área onde foi realizada a aula do salto em distância, por isso, a única parte das aulas que foi realizada sem que houvessem pessoas passando foi a primeira parte da aula do oitavo ano, num horário em que nenhuma aula ainda havia acabado.

Os alunos não haviam sido introduzidos ao arremesso de peso anteriormente, então, nessa aula houve uma introdução maior. Foram mostrados aos alunos os discos, as bolas de peso e o dardo (a escola não possui o martelo), que foram passados de mão em mão. Durante a explicação da técnica para o arremesso da bola de peso, uma das alunas do nono ano comentou com suas amigas que nunca

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faria arremesso de peso, umas vez que não gostaria que seus braços ficassem "fortes demais". Suas amigas concordaram. Os alunos novamente perguntaram qual a diferença do peso entre a categoria feminina e masculina, mas diferentemente do salto em altura, no qual as alturas foram sendo ajustadas, todos arremessaram a bola de peso menor. Os alunos eram chamados de um em um para arremessar, enquanto os outros observavam. No que diz respeito a performance, os meninos arremessavam mais longe. No dardo, a performance foi parecida, uma vez que a técnica era mais difícil e ambos, meninos e meninas, não a dominavam completamente.

A terceira e última aula do atletismo foi dedicada a maratona e a corrida com obstáculos. Assim que os alunos se reuniram no ginásio próximos ao professor para o início da aula, o professor os separou aleatoriamente em dois grupos e pediu para que os alunos formassem duas filas na lateral do ginásio. Após formadas as filas, ele explicou a atividade: os alunos iriam simular uma maratona dando uma volta pelos prédios da escola. Ele explicou o percurso que os alunos deveriam percorrer e liberou a primeira fila e a outra alguns segundos depois. Os alunos não pareceram ter dificuldade em realizar a atividade, embora alguns poucos tenham retornado andando por não terem aguentado correr durante todo o percurso.

Tanto nos oitavos, quanto nos nonos anos não existiu um padrão no que diz respeito ao desempenho levando em consideração o gênero, dentre os que realizaram a prova em menos tempo e os que não aguentaram correr durante todo o percurso havia meninos e meninas.

Na segunda parte da aula, foi abordada a corrida com obstáculos. Os obstáculos foram dispostos de maneira que os alunos pudessem disputar corridas de três em três e, nessa parte, os alunos foram separados por sexo. Os meninos se mostraram mais competitivos, claramente tentando superar o adversário, enquanto as meninas pareciam preocupadas em apenas cumprir a atividade. Também foram feitas provas de revezamento com os obstáculos. Os grupos do revezamento eram mistos, com meninas e meninos em mesma quantidade em cada grupo. Dessa vez, as meninas pareceram se contagiar pela competitividade dos meninos, que queriam que seus grupos ganhassem a corrida.

3.1.4 JOGOS INTERNOS: PARA ALÉM DA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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basquete, handebol, natação e atletismo. Eles foram realizados ao longo de duas semanas, com jogos também aos sábados. Alunos da Educação Física e das equipes competitivas puderam participar do evento representando suas turmas e a participação foi de caráter optativo, embora os alunos da Educação Física tenham ganhado pontos extras pela participação. Os alunos representaram as turmas de cada série separadamente e, segundo o SEF, algumas poucas turmas não participaram devido ao não cumprimento do número mínimo de alunos inscritos. Todas as modalidades tiveram suas competições divididas por sexo, porém para evitar o problema da não participação das turmas devido ao número insuficiente de inscritos, a escola resolveu permitir que cada equipe poderia ter até dois competidores do sexo oposto. A exceção a essa permissão foram as equipes de futsal, que deveriam ser compostas apenas por alunos do mesmo sexo. A justificativa foi a necessidade de se manter a integridade física das alunas.

As regras para a participação, como os documentos e quantia em dinheiro para a inscrição, a quantidade mínima de alunos por modalidade e a regra dos dois alunos do sexo oposto foram explicadas tanto nas aulas de Educação Física pelos professores, quanto de sala em sala pelos coordenadores. Nas explicações presenciadas nas aulas de Educação Física, não foi o explicado o motivo pelo qual as equipes de futsal não poderiam ser mistas e os estudantes não indagaram o motivo.

Houve muitos inscritos e as competições ocorreram em todos os turnos por duas semanas e apenas as competições de atletismo não foram realizadas nas acomodações da escola e sim no Centro de Atenção Integrada à Criança (CAIC) localizado no bairro de Lagoa Nova.

Foram observadas as competições de Natação das séries finais do Ensino Fundamental II (o que inclui as séries observadas neste trabalho) e as séries do Ensino Médio de ambos os sexos, assim como os jogos de Futsal das séries iniciais do Ensino Fundamental II também de ambos os sexos.

As competições de Natação observadas foram realizadas no fim da tarde na piscina semiolímpica da escola e contaram com a participação e torcida de diversos alunos, sobretudo alunos do terceiro ano, que estavam participando de seus últimos Jogos Internos na escola. A maioria dos alunos que participaram dos eventos da natação tanto no feminino quanto no masculino já tiveram alguma experiência com algum esporte aquático ou ainda o praticam, segundo os professores da instituição. Portanto, parte dos alunos dos oitavos e nonos anos observados nessa competição não foram os mesmos da Educação Física, uma vez que, como mencionado anteriormente, os alunos que

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praticam algum esporte são liberados da Educação Física.

As partidas de Futsal observadas, diferentemente das competições de Natação, contaram com uma grande presença das famílias dos alunos. Nas partidas femininas, alguns pais se exaltavam com expressões de frustração com o desempenho de suas filhas na partida. Nas partidas masculinas, os pais agiam como técnicos de seus filhos, gritando instruções, apesar de ser proibido pelas regras dos Jogos Internos.

3.1.5 POSSIBILIDADES PODADAS

O último conteúdo do semestre foi a dança, abordado no contexto das festas juninas. Na primeira aula da dança o professor no início da aula alertou aos alunos sobre a importância da participação nas aulas devido a nota a ela atribuída. O professor explicou que durante a época do São João sempre são montadas as quadrilhas juninas e há sempre um considerável número de faltosos nas turmas dos oitavos e nonos anos, a maioria dos faltosos do sexo masculino. Devido a esse histórico de faltas que se repete a cada ano, o professor enfatizou bastante durante todas as aulas até o dia da apresentação a importância da participação nas aulas para a nota, o que não foi feito durante nenhum outro conteúdo. Durante uma das primeiras aulas dos nonos anos, o professor conversou com um dos alunos que no ano anterior havia sido bastante prejudicado em relação a sua nota do segundo trimestre devido seu número de faltas.

Durante as primeiras aulas, tanto os alunos do oitavo quanto do nono ano, relembraram passos clássicos das quadrilhas juninas. Os alunos escolheram suas próprias duplas, mas com o passar das aulas, os alunos que faltavam perdiam o "direito" de ficar com a duplas que escolheram e elas iam para quem também estivesse sem dupla. Para facilitar os ensaios e montagem das coreografias, por vezes os alunos precisaram fazer dupla com outro aluno do mesmo sexo, na grande maioria das vezes isso ocorreu com as meninas, que nas duas turmas são em maior quantidade. Em uma das únicas vezes que dois estudantes do sexo masculino precisaram formar uma dupla, o professor parabenizou os alunos pela "coragem". Os dois precisaram ser encorajados pelo professor a formar a dupla, o que não aconteceu quando o par era formado por duas meninas, que nas duas turmas naturalmente formavam duplas entre elas quando percebiam que estavam em maior quantidade.

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Os passos de dança de quadrilha junina foram relembrados pelos alunos e pelo professor e organizados numa música tradicional de São João e os ensaios seguiram, sempre com o lembrete ao início da aula sobre as faltas. A configuração dos alunos variava bastante entre uma aula e outra devido às faltas, e os alunos tornaram-se mais assíduos apenas com a aproximação da data da apresentação. As aulas transcorreram tranquilamente, com os alunos repetindo a coreografia o quanto o tempo permitisse.

No dia da apresentação, que foi realizada pela manhã e assistida pelos alunos das outras turmas do Ensino Fundamental II e também pelas turmas do Ensino Médio e todos os professores de Educação Física, apenas três alunos do nono ano faltaram, dois meninos e uma menina.

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4. DISCUSSÃO

Tanto nas aulas de Educação Física do conteúdo Basquete, quanto nas jogos de Futsal dos Jogos Internos, foi possível perceber o quanto as alunas tinham uma deficiência em relação aos jogos coletivos em comparação aos meninos. Enquanto os meninos entendiam os posicionamentos, passes, tática de jogo; as meninas do nono ano em sua maioria, por exemplo, que tinham em média 15 anos, apenas correram atrás da bola chegando até a não saber em que cesta deveriam a arremessar durante os jogos adaptados de basquete na aula de Educação Física.

Nas aulas de basquete, elas foram corrigidas durante essas mini partidas realizadas na última aula, no entanto, elas não tiveram como praticar novamente para checar se as correções de fato surtiram efeito.

Portanto, os meninos saíram das aulas de basquete capazes de jogar sozinhos, porque provavelmente já sabiam jogar, independentemente das aulas, uma vez que, histórica e socialmente as atividades ofertadas a meninos e meninas durante a infância ainda são bastante diferentes: enquanto para os meninos é encorajado, por exemplo, o futebol, para as meninas ainda é comum que se encoraje apenas práticas como o ballet. "Os meninos são incentivados a praticar brincadeiras mais agressivas e mais livres; jogar bola na rua, soltar pipa, andar de bicicleta, rolar no chão em brigas intermináveis, escalar muros e realizar várias outras atividades que envolvem riscos e desafios. As meninas, ao contrário, são desencorajadas de praticar tais brincadeiras e atividades" (CRUZ e PALMEIRA, 2009 p 127).

Dessa forma, as meninas, que formavam mais de 50% em ambas as turmas observadas, concluíram o conteúdo Basquetebol aparentemente incapazes de jogar uma mini partida do esporte.

Uma das dimensões de conhecimento da Educação Física citadas pela BNCC é o uso e apropriação, que segundo o documento "refere-se ao conhecimento que possibilita ao estudante ter condições de realizar de forma autônoma uma determinada prática corporal. Trata-se do mesmo tipo de conhecimento gerado pela experimentação (saber fazer), mas dele se diferencia por possibilitar ao estudante a competência necessária para potencializar o seu envolvimento com práticas corporais no lazer ou para a saúde." (BRASIL, 2016, p.218)

As aulas tinham como objetivo a aprendizagem, pelos alunos, dos elementos básicos do esporte, no entanto, as alunas não só pareceram não aprender, como ainda experimentaram talvez pela primeira

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vez a prática do esporte em um ambiente no qual foram ridicularizadas pelos seus colegas do sexo masculino, os quais tiveram a liberdade para fazê-lo e dos quais as atitudes não geraram qualquer tipo de reflexão acerca dos estereótipos de gênero e da condição da mulher na sociedade e no esporte.

Nos jogos de futsal, durante os Jogos Internos, as meninas também se depararam com risadas e expressões de frustração não só dos colegas como também dos próprios pais, um experiência que para elas pode ter sido considerada negativa e que será associada ao esporte praticado. Apesar de que os comentários partiram dos pais, e certamente a escola não os repreenderia, essa foi mais uma oportunidade que a escola teria de discutir com os alunos a questão de gênero, no entanto não o fez, o que acaba caracterizando tanto essas ações como o desempenho das meninas no futsal como naturais, e não como o fruto de uma socialização diferenciada para homens e mulheres, que por sua vez parte de estereótipos sexistas.

Sendo assim, a BNCC também chama atenção, na dimensão experimentação, para o ambiente em que as vivências na Educação Física são realizadas:

Faz parte dessa dimensão, além do imprescindível acesso à experiência, cuidar para que as sensações geradas no momento da realização de uma determinada vivência sejam positivas ou, pelo menos, não sejam desagradáveis a ponto de gerar rejeição à prática em si.

Em contraste com as práticas do basquetebol e do futsal, foi possível perceber também que, durante a prática do badminton, um esporte menos disseminado no país, o desempenho durante as aulas não mostrou uma correlação visível com o sexo dos alunos. Apenas poucos deles tinham contato prévio com o esporte e apesar de que alguns alunos tiveram mais dificuldade que outros, eles não eram predominantemente de um sexo e performances abaixo da média da turma não geraram risadas ou comentários jocosos.

Outra situação que merece destaque, foi a divulgação da regra de que não haveria times mistos de futsal, na qual o motivo, nas explicações observadas tanto no oitavo quanto no nono ano, foi omitido. Os alunos fizeram diversos questionamentos acerca dos pormenores das inscrições nos jogos internos, mas em nenhum momento foi questionada a regra de que meninas e meninos não poderiam jogar juntos. Essa omissão, abre alas para o senso comum de que meninas simplesmente não sabem jogar futsal por uma questão de ordem natural e de que seria injusto que elas competissem junto dos meninos.

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Nas aulas de dança da escola observada, que acontecem no contexto das festas juninas, existe sempre um problema com a assiduidade principalmente por parte dos alunos do sexo masculino, no entanto, ao invés de propor uma discussão sobre gênero e a generificação das práticas corporais, o que houve neste ano foi uma ênfase na importância da participação nas aulas para a obtenção de uma boa nota, algo que não havia sido feito nos anos anteriores, uma vez que a maior parte da nota dependia apenas da apresentação final, e não da participação em todos os "ensaios".

O número de alunos faltosos diminuiu, no entanto, eles passaram a obedecer pelo simples fato de não estarem dispostos a obter uma nota baixa, mas possivelmente nunca considerarão a dança como uma prática corporal que poderá ser praticada por eles no futuro. "No caso da dança, por exemplo, considera-se que os arranjos de gênero existentes custam mais aos homens do que as mulheres por limitar aqueles das vivências que liberariam sua expressividade emocional e de movimentos, bem como seus relacionamentos e criatividade." (JESUS e DEVIDE 2006, p.130)

Na educação física, assim como no esporte e no lazer, a relação entre essa prática e o processo cultural se manifesta “podando” possibilidades de processos educativos como os que poderiam levar as pessoas a se entenderem melhor, a resolverem problemas em conjunto, a serem solidárias em situações onde, em função do estereótipo, nem todos participariam e a proporcionar a todos e a todas vivências de acordo com a sua “identidade” desenvolvida, esta nem sempre de acordo com os padrões heterossexuais colocados culturalmente. (SARAIVA, 2002)

Durante as aulas de Educação Física, os alunos foram tratados igualmente na maior parte do tempo mas nunca a questão de gênero foi discutida e problematizada, embora diversas oportunidades tenham surgido e tenha sido observado que uma conscientização acerca dos papéis atribuídos aos sexos feminino e masculino poderia trazer melhorias para o ambiente de sala de aula, beneficiando os alunos de ambos os sexos.

Novamente, de acordo com uma das dimensões do conhecimento trazida pela BNCC, a construção de valores, não se pretende propor o tratamento apenas desses valores, ou fazê-lo só em determinadas etapas do componente, mas assegurar a superação de estereótipos e preconceitos expressos nas práticas corporais.

Todos os momentos que se apresentaram, se discutidos, poderiam ter transformado a aula mista em uma aula co-educativa, que visa discutir juntamente com os alunos aspectos sociais das diferenças entre os sexos. "A co-educação como abordagem metodológica para a Efe contribui para interpretar o desporto e as atividades físicas numa perspectiva relacional de gênero, combatendo o sexismo,

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libertando alunos e alunas das amarras que determinam o que cada sexo pode vivenciar como práticas corporais." (SARAIVA 2002 apud JESUS e DEVIDE 2006, p130).

Esta tendência binária entre o masculino e o feminino, passa a ser desconstruída a partir de uma abordagem Co-educativa que problematiza as descontinuidades nas representações do feminino e masculino presentes nos novos espaços ocupados por homens (espaço privado, cuidado dos filhos/as) e mulheres (espaço público, trabalho profissional) na sociedade (LOURO, 2004).

Dessa forma, aulas que abordassem as questões de gênero trariam benefícios não só para a formação dos alunos como também o ambiente e a relação entre os alunos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir, que apesar das aulas mistas de fato se apresentarem como uma maneira de proporcionar reflexões acerca das diferenças entre os sexos e dos estereótipos socialmente construídos sobre eles, elas não atingem seu completo potencial caso o professor não proporcione as problematizações para que sejam discutidas em sala de aula. Os alunos estão imersos em uma sociedade na qual os estereótipos sexuais são normalizados e considerados naturais, sendo assim, as diferenças observadas pelos discentes, se não contextualizadas e discutidas, continuarão sendo vistas pelos alunos através da lente do senso comum e eles, por sua vez, além de não vivenciarem uma educação física livre de preconceitos, continuarão reproduzindo atitudes sexistas na sala de aula.

As observações realizadas sugerem que, apenas colocar os alunos e alunas em uma mesma turma e tratá-los em pé de igualdade é um método ineficaz e não apaga o fato de que homens e mulheres foram e são diariamente afetados pela sociedade de forma desigual e, ignorando essa realidade social em sala de aula, o professor também ignora os obstáculos que ela impõe para a aprendizagem.

Por isso, se faz importante a atuação do professor nesse quesito, para que os reflexos prejudiciais dos estereótipos sexuais sejam minimizados em sala de aula e para que, além disso, a formação do aluno seja completa e ele seja um cidadão crítico que possa navegar pelos diversos âmbitos da sociedade carregando consigo o poder de reflexão acerca das injustiças sociais, podendo assim colaborar para a formação de um mundo mais justo e igualitário.

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