UNIVERSIDADE
FEDERAL DE sANTA CATARINA
.
CENTRO
SÓCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO
DE
sERvIÇO sOCIAL
O
CONHECIMENTO
E
ANÁLISE
DA
SITUAÇÃO
DO
PACIENTE
PORTADOR
'
DE
DOENÇA
RENAL
CRÔNICA
No
HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
-
CARACTERIZAÇÃO
E
REFLEXÃO
Trabalho
de
conclusãode
cursoapresentado
aodepartamento
de
serviço socialda
universidade Aprovada PoloDSS
federalde
santa catarinapara obtenção do
títu-lo
de
assistente social, pelaacadêmica:
Em
./ _ _
Ã
Ann co ff
."'
d° Dcs¡§_¡';FÍ'f_"'°° °°“"“
Tânia
Gomes
da
Rosa
AGRADECHVIENTOS
Agradeço
as pessoasque
estiverem presentes comigo, nesta longacaminhada: aos pacientes, e a equipe da
Unidade
de Trabalho Dialítico,UTD
do
Hospital Universitário pela colaboração, aos
meus
irmãos, pelacompreensão
eapoio; à
Maria
Educarda, Susana, Nilsa, Georgia, Manlúcia, Rosilda pela nossaamizade; e as pessoas
que
diretaou
indiretamente contribuíram para aminha
for-tudo comer, beber, ter habitação, vestir-ser e al-
gumas
coisas mais.O
primeiro ato histórico é,portanto, a
produção
dosmeios
que permitam
asatisfação destas necessidades, a
produção
da pró-pria vida material, e de fato este é
um
ato histórico,uma
condição fundamental de toda a história que,ainda hoje,
como
há
milhares de anos, deve sercumprido
todos os dias e todas as horas, simples-mente
para manter oshomens
vivos."SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
... ..óCAPÍTULO
IO
HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
-CONTEXTUALIZAÇÃO
DO
ESPAÇO
DA
PRÁTICA
DO
SERVIÇO SOCIAL
... ..81.1. Hospital Universitário -
Um
Breve
Histórico ... ..81.2.
O
Serviço Socialno
Hospital Universitário ... ._ 121.3.
A
Unidade
de DiáliseNeste
Contexto Hospitalar ... .. 151.4.
Atuação do
Profissionaldo
Serviço Socialna
Unidade
de Diálise ... .. 19CAPÍTULO
IIO
PROCESSO
SAÚDE-DOENÇA:
QUESTÕES E PARTICU
LARIDADES
NA
ÁREA RENAL
....so
2.1.
O
ProcessoSaúde-Doença
... ..3O2.2. Questões e Particularidades
na
Área Renal
... ..34CAPÍTULO
IIIA
PESQUISA
ENQUANTO
INSTRUMENTO:
CONHECIMENTO
E ANÁLISE
DO
COTIDIANO
DOS
PACIENTES
RENAIS
CRÔNTCOS
No
HU
... ..433.1. Caracterização dos pacientes
da
Unidade
de Tratamento Dialítico,UTD
... ..43
3.1 .1.
Metodologia
... ..46SUGESTÕES
... _.õó
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... ..INTRODUÇÃO
O
presente trabalho de conclusão de curso objetivou descrever nossaexperiência de estágio - processo integrante da
fonnação
profissionaldo
assistentesocial desenvolvido junto ao paciente, portador de
doença
renal crônicano
Setor de Nefrologia "unidade de Diálise"do
Hospital Universitárioda
Universidade Fe-deral de Santa Catarina
em
Florianópolis.Durante a experiência vivenciada,
percebemos
a importância deum
conhecimentodo
paciente portador dedoença
renal crônica, identificando-o e permitindouma
visão maisampla do
contextoem
que está inserido.A
ausência dedados
dificultava a definição de prioridadesna
áreasocial,
que levavam sempre
a atuação deforma
empírica, pelo desconhecimento depopulação atendida. H
A
possibilidade de resgatar e sistematizar essa caracterização, paraque
possa ser discutida, animou-nos a descrevê-la,somando-se
o fato de ser traba-lho pioneiro
em
nosso meio.Procuramos, para tanto, identificar e analisar, face ás características
psico-sócio-econômica
do
paciente portador renal crônica, quais as ações desen-volvidas pelo assistente social junto a esse paciente
no
espaço hospitalar.A
partirde estudos iniciais, estabeleceram-se os seguintes objetivos para o estudo
em
questão: .
Conhecer
as características psico-sócio-econônicasdo
paciente porta-pacientes.
O
procedimento metodológico para caracterização desse paciente foio seguinte: a partir
da
leiturado
diário decampo,
dos relatórios, formulários, en- trevistas semi-estruturas e observações junto aos pacientes atendidosna Unidade
de Diálise.
Foram
realizadosno
período deO5
Abril de1994
a30
de junho de1995
e os sujeitosda
pesquisaforam
os pacientes portadores dedoença
renal crô-nica
em
tratamentona Unidade
de Diáliseno
HU.
Foram
entrevistados23
pacientes que seenquadravam no
critério es- tabelecido.As
entrevistas e formuláriosnão
tiveramtempo
de duração, Luna vezque
tínhamos oacompanhamento
diáriocom
esses pacientes.O
trabalho foi estruturado e apresentadoem
três capítulos, sendo queo primiero capítulo, apresenta o Hospital Universitário
como
contextodo
espaçoda
práticado
serviço social, e osegtmdo
capítulo trata deuma
reflexão do
proces-so saúde-doença: questões e particularidades
na
área renal, e o terceiro capítulo,apresenta o resultado
da
investigação que possibilitou oconhecimento
e análisedo
CAPÍTULO
IO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
-CONTEXTUALIZACÃO
no
ESPAÇO
DA
PRÁTICA
DO
SERVIÇO SOCIAL
1.1. Hospital Universitário -
Um
Breve
Histórico_
O
Hospital Universitário (HU), fundadoem
1980, funcionacomo
ór-
gão complementar da
Universidade Federal de Santa Catarina, subordinado dire-tamente à Reitoria.
A
fmalidade básicado
HU
é a assistência médico-cirúrgica, o ensinona
áreada
saúde, O desenvolvimento de pesquisas e extensão.É
considerado,atualmente,
um
dos únicos hospitais públicos de Florianópolis vistocomo
estabe-lecimento de referência
no
Estado.Com
relação aos hospitais universitários, a Lei n. 8.080, de 19 desetembro de 1990, que regulamenta as ações e serviçosde saúde, diz que
“Os
serviços de saúde dos hospitais universitáriose de ensino integram-se ao Sistema
Único
de Saú-de -
SUS,
mediante convênio, preservada sua au-tonomia
administrativaem
relação ao patrimônio,aos recursos
humanos
e financeiros, ensino, pes-quisa e extensão, nos limites conferidos pelas
O
Hospital Universitário foi programado, projetado e construído paracumprir as diretrizes
recomendadas
pela comissão de EnsinoMédico
do
Ministé- rioda
Educação
e Cultura,em
1963, e ter características tais quepermitam
o exercício de três funções principais: ensinona
área de saúde, assistência médico- cirúrgica e desenvolvimento de pesquisas. Para tanto, supõe-se que deva serum
hospital organizado de acordocom
asmodemas
técnicas de administração hospi-talar e disponha de ambulatórios qualitativa e quantitativamente estruturados,
serviços de emergência, razoável proporção de
médicos
docentesem
tempo
inte-gral, disposição de leitos relacionados aos objetivos genéricos e à
demanda,
bem
como
se matriculecom
a rede geral de saúde de maneira a exerceruma
açãomé-
dica comunitária.
Deve
tercomo
precípua a função assistencialcom
atendimentoglobal,
sem
restrições qualitativasou
quantitativasdo
indigente,do
previdenciárioou
particular.Entre os anos de
1960
e 1968, percebeu-se inviável o ensino práticode medicina nos hospitais
da
comunidade,sem
equipamentos para essa fmalidade.Em
1964, o Ministérioda
Educação
e Culturaaprovou
o plano e autorizou o fi-nanciamento
do
projeto, elaborado paraum
hospital de550
leitos, cobrindouma
área de 36.000m2, logo reformulado, reduzindo-se a lotação para
320
leitos euma
área construída de 18.000 m2.
A
obra foi concluídacom
22.000m2.Em
1971,com
10.800m2
de estrutura concluída, ogovemo,
por acharque
os estudantesda
áreada
saúde deveriam ter suas aulas práticas nos hospitaisda
comunidade, determinou a paralisação das obras.Por
um
período de 5 anos, as obras estiveram paralisados, tendo prosseguidocom
recursosdo Programa
deMelhoramentos
do
Ensino Superior.Em
1978, oHU
passa por várias crises, superadas através de inten-sas
campanhas
em
prolda
conclusão de suas obras. V10
Em
ll demarço
de 1980, foinomeada
eempossada
sua primeira di-retoria, liderada pelo
médico
e professor Polydoro Ernani de Santiago e,como
vice-diretor, João JoséCândido da
Silva.'
~
A
inauguraçãodo
Hospital Universitário deu-seem
2 de abril de1980,
com uma
unidade de internação de 100 leitos,23
consultórios de clínicageral e especializada,
com
possibilidade de480
atendimentos diários.Foram
ati-vados
os setores de radiologia, laboratórios de análises clinicas e farmácia hospi-talar.
Com
a internação dos primeiros pacientes e a instalaçãodo
serviçomédico
e deenfermagem,
iniciou-se o ensinono
hospital,com
a vinda dos estu-dantes de medicina, transferidos
do
Hospital de Caridade e, posteriormente,do
Hospital Infantil e Maternidade
Carmela
Dutra.'
O
HU,
que
tinha por objetivo prioritário o ensino médico, passou aredefinir-se
como
hospital geral para assistência comunitária e para o ensino gra-duado de
profissõesda
áreada
saúde e treinamento de pessoal hospitalar.O
HU,
por serum
hospital escola,tem
metas e objetivos traçados,que
nem
sempre vão
ao encontro dos anseiosda
população. Aí, instala-seuma
contradição entre os interesses
da
instituição e osda
população.Os
estudantes,por exemplo,
encaram
sua prática apenascomo
um
aprendizado. Isso fazcom
quea sua clientela
não
seja observada e atendida através deum
visão global, o que, de fato, prejudica o funcionamento demn
hospital que sepropõe
aum
atendimento multi e interprofissional.O
interesse centralizado apenasno
aprendizadotoma
o atendimentodesumano, impedindo
que o paciente seja tratadocomo
um
ser único e importan-O
interesse realdo
usuário é atingirum
estado de saúde,porém
se sabeque
suas necessidades extrapolam ocampo
da
cura física. Ele precisa,na
maioria das vezes, ver-se atendidoem
suas necessidades psíquicas e sociais, fato-res
que
auxiliarãona
superação de seus problemas emergentes.Para esses atendimentos global ao paciente, o
HU
dispõe deum
qua- dro profissional privilegiado,comparado
aos demais hospitaisda
rede estadual,pois possui
um
número
significativo e diversificado de profissionais e, alémdo
pessoal permanente, conta
com
alunos, estagiários e residentes.No
entanto, apesar de possuir recursoshumanos
satisfatórios, a insti- tuição é deficitáriano que
conceme
aos recursos materiais.Os
equipamentos hospitalares são caros, sua deterioração é rápida e,além
disso, os constantes avanços tecnológicosfazem
com
que haja necessidade de sua constante renova-ção.
Entre os serviços
médicos
oferecidos àcomunidade
tem-se:-
Atendimento
à saúdeda comunidade
universitária - desenvolve ati-vidades de assistência ambulatorial para servidores e alunos
da
UFSC;
-
Medicina
ambulatorial - desenvolve atividades voltadas ao atendi-mento
primáriono
sentido de prevenir e curar doenças, oferecendo, aproximada-mente,
40
especialidades de atendimento* .O
objetivoda
instituição é prestar assistência biopsicossocial, visan-do
conservar, recuperar, preservar e elevar o nível de saúde, proporcionandome-
lhores condições de vida à população atendida, através de:
'
Alguns serviços oferecidos pelo HU: Cardiologia, Hematolgia, Pneumologia, Nefrologia, Neurologia, Gastro- enterologia, Cirurgia Geral, Ortopedia, Cirurgia Vascular, Proctologia, Urologia, Otorrinolaringologia, Of- talmologia, Anestesiologia, Emergência, Terapia Intensiva, Ginecologia e Obstetrícia, Neonatologia e Pedia- tria.
12
O
objetivoda
instituição é prestar assistência biopsicossocial, visan-do
conservar, recuperar, preservar e elevar o nível de saúde, proporcionandome-
lhores condições de vida à população atendida, através de:
-
Atendimento
àcomunidade
em
geral, constituindo-senum
hospitalde referência
do
Estado, prestando assistência primária, secundária e terciária,sobretudo à
população
de Florianópolis eGrande
Florianópolis;-
Atendimento
médico-hospitalarem
medicina preventiva à comuni-dade
universitária e circunvizinha;-
Formação
de profissionaisna
área de medicina e nas demais áreasde saúde.
Os
âmbitos de açãoda
instituição se dirige àcomunidade
que possuiou não
vínculocom
a Previdência Social, abrangendo Florianópolis e região, as-sim
como
localidadesdo
interiordo
Estado.Baseado
nesta realidade, o trabalhodo
Serviço Social faz-se neces-sário, justificando-se
que
sua contribuição é significativa os aspectos sociais, pro-porcionando
um
acompanhamento
qualificado junto a população atentidano H.U.
1.2.
O
Serviço Socialno
Hospital UniversitárioA
participaçãodo
Serviço Social junto ao corpo de profissionaisdo
HU
foi solicitada pelo diretorda
comissãode
implantaçãodo
HU,
que viabilizouum
trabalhoem
equipecom
diferentes profissionais e especialistas, visando ofere-cer
um
atendimento global das necessidadesdo
paciente e seus familiares, contri-buindo
no
sentido de abranger o individuoem
sua totalidade.Essa
atuaçãotem
representadouma
contribuição muito significativa àpacien--9
Emergência
9
Unidades
de internação, quecompreendem
as clínicas Cirúrgica,Médicas
(Feminina e Masculina), 'Ginecologia e Pediatria.-)
Hemoterapia
com
ogmpo
de terceira idade -GIG.
-) Patologias específicas
como:
diabetes, ostomizados e doenças re-nais _
-
O
organograma
compreende, basicamente,uma
chefia, sete assisten-tes sociais a ela subordinados e
um
escriturária.Também
fazem
parte de organização internado
Serviço Social osestagiários
do
curso de Serviço Socialda
UFSC.
No
HU,
o Serviço Socialtem
avançadona
questão administrativa,no
sentido de estar conquistando
um
espaço de atuação cada vez maior, conquistasessas ocorridas lentamente, e cujos resultados
ficam
evidentes a longo prazo.A
partirdo
momento
em
que
compreendemos
o verdadeiro significa-do da
palavra saúde,como
sendo o conjunto de condiçõesno
qual as pessoas vi-vem,
pode-se observar a importânciada
atuaçãodo
Serviço Social junto à equipemultiprofissional, pois suas atividades visam,
não
só aquelemomento
vivido pelopaciente,
mas
procuracompreender
e intervirem
todo o contextono
qual será in- serido.A
Sabemos
que
o assistente social encontra dificuldadesno
campo
da
saúde,
bem
como
severas limitações, visto que obinômio
saúde/doença estámuito relacionado à prática médica.
Sendo
assim, os objetivosdo
assistente socialda
instituição hospitalar deve estar relacionadocom
os objetivosda
unidade de trabalho,da
instituição e, fundamentalmente,com
os objetivos reaisda
profissão.A
maioria dos profissionaisque atendem no
HU
vêem
a saúdecomo
14
de
forma
fragmentada,sem
levar-seem
conta sua relaçãocom
o meio, suas con-dições de vida.
É
comum,
portanto, entre os profissionaisda
áreamédica
dicoto-mizar os casos clínicos dos casos sociais, considerando esses últimos de
compe-
tência exclusivado
Serviço Social.Embora
essa seja aconcepção
predominante de saúdeno
HU,
algunsprofissionais
compreendem
deforma
mais global, ajudando a construirum
traba-lho interdisciplinar,
como
ocorrena
UTD,
pediatria,com
os idosos, os diabéticose outros pacientes.
Sendo
oHU
um
hospital público, atende toda a população, indepen-de de convênios.
A
clientelado
Serviço Social é aquelaque
se encontraem
difi- culdades para assegurar seu tratamento de saúde,em
função de suas precárias condições de existência.Em
sua maioria, são pessoascom
baixo nível de escola- ridade, baixa renda, desempregos, subempregados, aposentados, domésticas, en- tre outros. Essas pessoasprocuram
o Serviço Social para solicitar assistência, in- tervençãoem
situações-problemasou
auxílios concretoscomo
alojamentos(albergues, asilos, etc), consultas, exames, alirnentação, medicação, órteses e
próteses (muletas, óculos, cadeira de rodas), informações sobre o processo de in-
ternação hospitalar, direitos previdenciários e trabalhistas e recursos comunitários.
O
objetivo de atuaçãodo
Serviço Socialno
HU
são as situações vi-venciadas pela clientela
na
vida cotidiana,no
seu processo saúdex
doença, prin- cipalmente relacionado às respostas dadas pelas políticas sociaisem
cada conjim-tura específica de nossa sociedade.
C) Serviço Social entende que a saúde é a luta pela sobrevivência, re-
sultante das condições de vida
da
população, e que a assistência à saúde éum
processo de construção de cidadania.A
assistência se constituinuma
função principaldo
Serviço Social e estáalém
de seu caráter emergencial, individual. Possuiuma
dimensão,no
queconceme
à formulação de políticas e recursos comunitários, que se amplia frente àinsuficiência e ineficácia das políticas sociais e
em
face das dificuldades encon-tradas para o exercício
da
prática profissionalna
áreada
saúde.Baseado
nesta realidade, é que o Serviço Socialno
setor de Nefro-logia -
“Unidade
de Diálise”,do
Hospital Universitário, justifica sua participaçãosistemática junto ao paciente renal e seus fansíliares,
numa
colaboração ativa e constante, interagindocom
a equipe; interprofissional.1.3.
A
Unidade
de
DiáliseNeste Contexto
HospitalarAo
abordarmos
com
especificidade adoença
renal, julgamos oportu-no
resgatar, historicamente, a condição inicial de atendimentono
HU,
e sua traje-tória para consolidação de
uma
unidade específica de tratamentodo
portador des-sa doença.
Em
contatocom
alguns profissionaisdo
HU,
estes, através de seusdepoimentos, nos forneceram informações
que
nos permitiram construir, de certomodo,
a históriada
criação dessaUnidade
no
HU.
A
Unidade
de Terapia Intensiva -UTI
- iniciou o tratamento de diáli-se
em
caráter emergencialcom
o portador dedoença
renal.Com
o decorrerdo
tempo, e o
aumento da
demanda
atendida, fez-se necessário o aprimoramento dos serviços prestados ao portadorda doença
renal, implantando-se, assim, urna uni- dade exclusiva para essa patologia específica.Porém,
antes de explicarmos a16
dade
exclusiva para essa patologia específica.Porém,
antes de explicarrnos aUnidade, cabe resgatarmos algtms fatos históricos
da
sua implantação.Em
1998, criou-se aUnidade
Médica, que contou,na
época,com
um
médico
nefrologista e três enfenneiras.Inicialmente, o tratamento era realizado via Diálise Peritoneal
Ambu-
latorial Contínua(CAPD),
que
constado
seguinte:“O
paciente faz a diáliseem
casa, durante24
horaspor dia, 7 dias
da
semana.Vem
ao hospitaluma
vez por mês. Atualmente,não há
essa modalidade de diálise”.(DACHI,
1995).A
partir de 1991, seu atendimento, foi ampliado e, a partir da neces-sidade constatada pela equipe,
foram
acrescidos outros profissionais (três espe-cialistas
em
Nefrologia), tomando-se, por isso, indispensável a especialização e otreinamento de pessoal para atendimento dos pacientes
na
nova modalidade
detratamento implantada.
No
mesmo
ano, iniciaram-se as atividadescom
a Diálise PeritonealIntennitente (DPI),
num
quartoda
ClinicaMédica
Feminina,havendo
dois leitos.A
Diálise,segundo
DACHI,
1995).“É
um
processo de depuração (limpeza)do
sanguede substâncias nocivas ao organismo, através de
urna
membrana
semi-permeável”.Um
dos procedimentos de Diálise usadosna
UTD
com
relação àDPI
é a ida
do
pacienteuma
vez
porsemana
ao hospital,no
qual permanece,em
mé-
dia,
48
horas(DACHI,
1995).“Através de
um
aparelhochamado
“rim artificial” o sanguedo
paciente é depurado.Nesse
caso, o pa-ciente é submetido a três sessões semanais, cada
sessão
com
3 a4
horas de duração, atividade estarealizada
no
hospital”.(DACH1,
1995)A
partir dessemomento,
éque
sepode
caracterizar o atendimentona
Unidade
como
mn
processo continuo,havendo
também
a ampliação dos serviçosoferecidos pela
UTD.
'
O
Serviço de Nefrologia atende pacientesextemos
e intemos, .porta-dores de
doença
renalaguda ou
crônica.Tem
como
objetivo prestar assistênciaqualificada aos pacientes portadores de
doença
renal,no
atendimento de suas ne-cessidades
humanas,
sociais e biológicas afetadas pela doença.Com
relação àmédia
de atendimentos, dados de1995 mostram
quesão atendidos, por escala semanal, oito pacientes
no
tratamento de Diálise Perito-neal Intermitente e
nove
pacientesno
tratamento de Hemodiálise.A
doença
renal,em
seu estágio inicial, é passível demedidas
dietéti-cas, higiênicas
que dispensam
o paciente,da
necessidade deum
tratamento diali-tico contínuo.
Nesse
caso, a Diálise é realizadaconforme
prescrição médica,mas
tem
um
caráter provisório, até a melhora das condiçõesdo
paciente.O
doente renal “crônico” submete-se auma
intensificaçãona
realiza-ção de diálises
em
tratamento contínuo.No
entanto, essas se constituiem
tera-pêutica paliativa, pois a verdadeira esperança para esse tipo de paciente de retor-
no
auma
vidanormal
é a realizaçãodo
transplante.“O
transplante renal,em
princípio, destina-se a to-dos os portadores de insuficiência renal crônica
terminal,
na
faixa etária de 1 a65
anos, sendoneo-18
“O
transplante renal,em
princípio, destina-se a to-dos os portadores de insuficiência renal crônica
terminal,
na
faixa etária de 1 a65
anos, sendocontra-indicado aos portadores de doenças neo-
plásicas e cardiovasculares sintomática”.
(SABBAGA,
1978)Mas
essa intervenção sópode
ser realizada sob condições específi-cas, já
que
envolve parte de outra pessoa.O
doador pode
ser de três tipos,segundo
SABBAGA
(1988):1) vivo relacionado (pai,
mãe,
irmãos e filhos), isto é, doadores quedividem
com
o receptor certo grau de similaridadeno
sistemaHLA*
;2) vivo
não
relacionado (esposo, esposa, cunhado, amigo, etc.);3) cadáver.
No
caso desses dois últimos tipos de doador, é necessáriauma
per- feita avaliaçãoda
saúde,do
paciente, porquenão
existe similaridadeno
sistemaHLA,
sendo
necessáriosexames
clínicos completos, principalmenteno
que se re- fere à função renal.No
Hospital Universitário, é realizado o transplantecom
o doadorvivo,
que pode
serdo
tipo vivo relacionadoou
vivonão
relacionado.A
equipeque
realiza a cirurgia écomposta
por urologistas e cirurgião vascular e, após, es-ses pacientes transplantados são
acompanhados
por nefrologistasda
UTD.
*
HLA
-human
leucoyte antigen (antígeno leucocitário humano). Todos os seres vivos têmmarcadores imunológicos, que determinam sua identidade genética. Esses marcadores se situ-
am em
todas as células nucleadas do organismo e definem o próprio do não próprio, isto é, oque é reconhecido pelo organismo
como
estranho (não próprio) é submetido aum
processo de rejeição. Tal antígeno é denominadoHLA
nohomem
1.4.
Atuação
do
Profissionaldo
Serviço Socialna
Unidade
de
DiáliseA
práticado
Serviço Social junto aos pacientes de doenças crônicasfaz parte de
mn
projeto de atuação profissionalcom
portadores de patologias es-pecíficas.
A
especificidadeda
atuaçãodo
Serviço Social junto aos pacientescrônicos é a
da
assistência, através de prestação de auxílios concretos, imediatos,bem
como
atravésda
articulação dos serviços e recursos comunitários necessáriosao processo de saúde versus doença.
Os
objetivosdo
Serviço Social, dirigidos aos pacientes portadores de doenças crônicas, são:-'
Conhecer
o contexto social dos portadores de patologias específicasatendidas
no
HU;
- Prestar serviços sócio-assistenciais
conforme
as necessidadesda
doença, de acordo
com
cada portador;- Favorecer a articulação de serviços e recursos comunitários
com
vistas a possibilitar ao
portadorde
patologia específicaum
melhor
enfrentamentodo
seu processo de doença.- Favorecer a
formação
e articulação de grupos de apoio ao portadorde patologias específicas
no
HU;
- Desenvolver pesquisas
em
temas especificos relacionados ao pro-cesso saúde
x
doença
dos portadores de patologia específica.De
acordocom
o projeto de açãodo
Serviço Social junto aos pacien-tes renais crônicos:
“A
açãodo
Serviço Social,na
equipe, fundamenta-se
na
perspectiva __de atender asdemandas
sócio-_ __.. ›
__ _._-_, _ _
20. __
de articulação dos recursos institucionais e co-
munitários,
no
sentido de viabilizar otransplanterenal. Esse,
com
possibilidadede promover
amelhoria
da
qualidade de ._vida._do indivíduo”.O
profissional de Serviço Social interage demodo
diretocom
o paci- ente, fazendouso
de inst1umental__específico, a fun de conhecer e atender as de-mandas
oriundasda
doença,do
tratamento e suas conseqüênciasna
vida familiar, social e profissional. Dentre essas técnicas, destaca-se a abordagem,mencionada
por
SOUZA
(1987, p. 82)como:
“um
processocom
o qual o profissional desenvolvesuas relações
com
outras pessoas.A
abordagem
marca
o desenrolar de todoum
conjunto de açõespelo que consegue expressar, sobretudo,
no
seuinicio”.
Através
da
abordagem, realizada individuahnente,o
profissional deSen/iço Social
busca
auxiliar o pacientena
resolução de seus problemas. Paratanto, procura
uma
mudança
de atitude, pormeio
de apoio psicológico,bem
como
pelo uso dos recursos existentes
na
comunidade. Para o desenvolvimento dessaatividade, faz-se necessária a observação,
conforme
ressaltaSOUZA
(1987, p. 184),ação de perceber,
tomar
conhecimento deum
fato
ou
acontecimento que ajude a explicar acompreensão
da realidade, encontrar oscaminhos
, necessários aos objetivos a
serem
alcançados”.Para compreender-se a realidade e obter seus elementos mais repre- sentativos e significativos, a observação se constitui
numa
ferramenta que é capazde detectar, pelo
modo
de agir, de se expressar, toda- a realidadedo
paciente. Contudo, faz-sepremente
que esse olhardo
observador seja pleno de objetivida- de.H
Já a entrevista é outro instrumento valioso para a coleta e desvela-
mento do
real; é ométodo
de estabelecimentoda
relação cliente - assistente soci-al, possibilitando, assim, a intervenção. Por
meio da
entrevista, o assistente socialé
capaz
de reconhecer a realidade verbalizada pelo cliente e, através dela, estabe-lecer o espaço para o diálogo.
A
partir disso,podemos
atémesmo
considerar que observação, diálogo e entrevista secomplementam:
“A
entrevista é utilizadacomo
forma
de desvela-mento
do
real,onde há
a necessidade de priorizarmn
atendimento individual.O
estabelecimentodo
diálogo proporciona
um
ampliarna
consciênciado
cliente e
do
A.S.,ionde
ocorre urna trocamútua
de saberes”.(BARBOSA,
1989, p.15)Por
intermédioda
entrevista, o profissional de Serviço Social buscareconhecer a realidade
do
paciente e, a partir daí, construiruma
relaçãocom
baseno
diálogo. Fica possível, assim, conhecer a história de vidado
paciente e suasinterrelações.
O
serviço Socialtem
aconcepção
deque
a saúdenão
significa ape-nas
não
ter enfermidade, e procura, dessa forma, visualizar o pacientecomo
urnaunidade biopsicossocial. _
O
programa de
açãodo
Serviço junto a pacientescom
insuficiênciarenal crônica apresenta os seguintes objetivos:
0
Atender
asdemandas
sócio-assistenciaisdo
paciente renal crônicoem
trata-pro-22
cesso saúde-doença, através
da
prestação de serviços assistenciais, educativos e de apoio psicossocial, interpretando a doença, o tratamento eo
transplante renal aos pacientes e familiares;0 Identificar as necessidades sócio-assistenciais dos pacientes
em
tratamento di-alítico
no
HU;
0 Esclarecer e orientar
no
sentidoda
mobilização de recursos institucionais/locaise regionais, a
fm
de possibilitar o tratamento eTRANSPLANTE;
'0 Providenciar auxílios concretos que viabilizem o tratamento e o
TRANS-
PLANTE;
0 Criar condições
que
viabilizem a troca de conhecimentos entre a equipe multi-profissional
da
UTD
com
o paciente renal crônico e a família, propiciandoum
atendimento global. ›
`
A
insuficiência renal crônica remete o indivíduo auma
problemáticacomplexa, pois o tratamento e os padecimentos gerados pela
doença
oimpedem
de exercer atividades normais
em
seu cotidiano, tendoque
se submeter a severasrestrições. .
_
O
atendimento a esses pacientes se faz necessário devido à carência, angústia, insegurança,medo,
frustrações que enfrentam dianteda
doença. Pode-se, inclusive, perceber
que
o sofrimento se intensifica àmedida que
vê suas po-tencialidades diminuídas, interferindo
na
sua luta pela sobrevivência.Nessa
perspectiva, entende-se que o diálogonão
éum
meio
de mani-pulação; é,
na
verdade, o instrumento decompreensão
para se chegar ao apoiofrente aos problemas, atingindo-se
uma
visãodo
homem
enquanto pessoa,numa
perspectiva humanista.
Essa
deve garantirque
a identidadedo
pacientenão
seperca
na
estrutura e funcionamento hospitalar, objetivando-se chegar auma
“quando comprometidos
num
pensamento
crítico, aessência
do
diálogo se concretiza.O
diálogo é,então,
um
encontroamoroso
entre oshomens
que atravésdo
mundo
o pronunciam, o transformam e,transformando, o
humanizam
para ahumanização
de todos”.
(FREIRE,
1980, p. 43)Através
do
diálogo, assume-secom
o paciente,um
compromisso, que resultarána
prática profissional.Quanto
a isso,DAMASCENO
(1992, p. 90) ar-gumenta: '
“O
compromisso,como
ato de vontade,não
surgeespontaneamente
no
profissional (fonna voluntá-ria),
mas
se constrói e explicitana
violênciada
prática, isto é, ação-reflexão sobre a realidade,como
conseqüência de seucompromisso no
enga-jamento
pela transformaçãoda
sociedade.O
compromisso do
Assistente Socialcom
o grupocoletivo é conseqüência
do compromisso
é a ex-pressão
da
vontade,do
desejo,do
esforçodo
pro-fissional
em
caminhar o projeto social deuma
determinada classe social, seja
no
âmbito institu- cionalou
junto aosmovimentos
populares. Assim,o
compromisso não
émn
ato neutro; éum
atoconsciente, decidido, que requisita
do
profissionaluma
concepção
demundo
e engajamentona
soci-edade”.
Após
adquirir o conhecimentoda
realidade, e estabelecerum
com-
promisso
com
o paciente, buscamos,em
nossa atuação, conhecer as dificuldades e característicasdo
paciente renal crônico, e intervimosconforme
o plano de atu-ação
do
Serviço Social junto a esses pacientes e seus familiares junto aUTD,
que são: r24
0 Identificação das
demandas
sócio-assistenciais dos pacientes e famílias atendi- dosna
UTD;
0 Prestação de auxílios concretos imediatos aos pacientes e familiares, necessári-
os à viabilização
do
tratamento eTRANSPLANTE;
0 Orientação e esclarecimento quanto aos direitos civis e previdenciários;
0 Esclarecimento
da
dinâmicado
tratamentona
UTD
eTRANSPLANTE
aospacientes e familiares;
0 Orientações quanto aos recursos e serviços institucionais, locais e regionais para tratamento dialítico e
TRANSPLANTE.
ç0 Orientações e
encaminhamentos
quanto ao tratamento forado
domicílio(SUS)
para inscrição
no
TRANSPLANTE;
0 Articulação dos recursos locais/regionais para viabilização
do
tratamento eTRANSPLANTE;
0 Articulação e interpretação das necessidades sócio-assistenciais entre os paci-
entes, família e equipe de saúde;
Para
uma
melhor
compreensão, quanto ao procedimentodo
profissi-onal, nesta unidade, especificamente, as ações profissionais
podem
ser assim deta-lhadas: -
0
Quando
o
paciente renal crônico ingressano
Hospital,UTD
(Unidade de Tra-tamento Dialítico), são registrados todos os dados a seu respeito
no
livroQ
registro, controle dos pacientesem
observaçãona
UTD
e, através deste, to-mamos
conhecimentodo
paciente, identificandonome,
número
do
prontuário,motivo
da
intemação, data de entrada e de saídado
tratamento e seu destino;0 Controle diário: identifica-se o
nome
do
paciente, seunúmero
de registro, sua-0 Posteriormente, recorre-se ao prontuário específico
da
UTD
no
qual são anota-das informações mais detalhadas sobre o paciente e, por
meio
deste, evidencia-se o seu processo evolutivo.
Após
estarmos cientes de todas as informações a respeitodo
pacien-te, realizamos
o
primeiro contato, atravésdo
qual resgatamos informações acercada
sua realidade econômico-social e cultural.Em
momento
seguinte, atravésdo
diálogo e dos contatos constantescom
o paciente e seu familiares, estabelece-se a troca de experiências e informa-ções.
0 Registro
da
ação profissionalem
prontuárioda
equipe e aberturado
prontuárioespecífico dos casos
acompanhados.
Cabe
salientar que, desde o início, foi de vital importância a troca de informações a respeitodo
pacientecom
a equipe multiprofissional daUTD.
A
comunicação
clara e aberta possibilitouuma
melhor
intervenção,quando
neces-sária,
do
Serviço Social.Nesse
período depermanência
do
paciente, enquantoem
tratamento,com
as informações obtidas, o profissional de Serviço Social passa a agilizar osencaminhamentos
necessários, relativos às situações advindasda
doença,do
tra-tamento e das suas implicações sociais.
Tais implicações referem-se à falta de poder aquisitivo
do
pacientepara se deslocar constantemente ao hospital para realização
do
tratamento, aquisi-ção de
medicamentos,
de cadeira de rodas, falta de suporte familiar, baixo nívelde escolaridade (o
que
dificulta acompreensão
das orientações técnicas para otratamento).
-
O
tratamento e os padecimentos gerados peladoença
impedem
orestri-26
ções,
como,
por exemplo, dieta alimentar,uma
vida mais sedentária. Isso se agra-va,
quando
acompanhado
de condições sócio-econômicas desfavoráveis.Embora
o fator
econômico não
seja abalado, o paciente sofre, revolta-se refletindo-seem
sua vida familiar, psicológica.
0
O
Papeldo
Serviço Social,quando do
TransplanteO
papeldo
Serviço Social, nesse sentido, é:“Além
deum
coleta dedados
(...) todauma
orien-tação
com
o paciente sobre o período de espera,motivação para disciplina
no
tratamento e suportepsicológico para a família, pois, nesse ínterim, o
paciente passa a ter conhecimento
do
insucesso deoutros transplantes, muitas vezes por informações
pessoas de seus
amigos
de diálise,ou
mesmo
daimprensa,
aumentando
omedo
da
cirurgia. Esseúltimo fato faz
com
que a família desenvolvauma
ansiedade que, muitas vezes, passa a afetar o es-
tado emocional
do
paciente”.(TORQUATO
ePINHEIRO,
1984, p. 157)TORQUATO
ePINHEIRO
(1984, p. 157)também
apontam
as im-plicações psicossociais
que
o transplante renalpode
apresentar, assimcomo
aação
do
Serviço Social,que
deverá dirigir sua ação para:1. esclarecer situações de dúvida e conflito dos pacientes
no que
diz respeito aotransplante, atuando
como
elo entre paciente,médico
e doador;2. orientar sobre o período de espera para o transplante, esclarecendo sobre os prazos que,
no
trabalho dos autores mencionado, realizadoem
1984,eram
de 1a 2 anos, realizando,
também,
o aconselhamento sobre o disciplinamentodo
Já, durante a internação, o papel
do
Serviço Social é a) interpretar as rotinas hospitalares;b) preparar psicologicamente o receptor e o doador;
c) trabalhar
com
os familiares para minimizar a ansiedade;d) realizar visitas,
quando
necessário, fornecendo à equipe multidisciplinarinfor-mações
sobre o paciente;e) ser a via de
comunicação
entre familiares e pacienteno
isolamento.0 Óbito
do
PacienteNo
caso de óbito, a açãodo
Serviço Social procura confortar e darapoio à família e articular, junto à Prefeitura Municipal de origem
do
paciente, arealização
do
ftmeral.Não
é rara essa solicitação, pois,com
freqüência, os familiaresnão
têm
condições de arcarcom
as despesas. .0 Articulação
com
os Recursos ComunitáriosArticular recursos comunitários é a prática mais freqüente
do
ServiçoSocial.
Nonnalmente,
são mantidos contatos telefônicosou encaminhamento
escrito.
Se
necessário, realizam-se visitas para esclarecimento dosencaminhamen-
tos solicitados para viabilizar os recursos disponíveis,
com
o objetivo de atenderas necessidades dos pacientes e familiares.
Como
exemplo,podemos
citar nossocontato
com
a Prefeitura Municipalda
cidade de origem dos pacientesL.M.
eO.F.,
ambos
em
tratamento de Diálise Peritoneal,que não
tinham condições fi-nanceiras para o deslocamento até o hospital. Para efetivação
do
atendimento,fizeram-se
necessários diversos contatos por telefone' e por escrito.Em
decorrên-cia
da
não
viabilizaçãoda
solicitação feita pelo Serviço Social, solicitamos audi-requeri-28
mento, já que, de acordo
com
a Lei Orgânica da Assistência Social(LOAS),
sãocompetências dos municípios:
-
Atender
ações assistenciais de caráter emergencial (artigo 15);-
Prestar os serviços assistenciais (artigo 23).`
j
Na
Constituiçãodo
Estado de Santa Catarina,promulgada
a 5 deoutubro
de
1989, a saúde é assegurada à pessoa, igualmentecomo
no
artigo 196da
Constituição Federal,mas
se fez necessária a intervençãodo
profissional deServiço Social para assegurar'
um
direito"do
paciente (dos princípios fundamentaisreferentes à condição de saúde): .
'
› “Art.
153 -
A
saúde é direito de todos e dever.do
Estado (...) Parágrafo único: o direito à saúde
implica os seguintes princípios fundamentais: -›
I - trabalho digno, educação, alimentação, sanea-
'
mento, moradia,
meio
ambiente saudável, trans-porte e lazer; V
II - informação sobre o risco de
doença
e morte,bem
como
apromoção
e recuperação da saúde”.O
profissional de Serviço Social, atravésda
orientação ao pacientesobre os benefícios aos quais
tem
direito,mantém
contatocom
instituições, volun-tariado,
que desenvolvam programas
assistenciaisparaum
melhor
atendimento ao paciente, enquanto cidadão. '.
Atuahnente, essas atribuições
vêm
atingindo os objetivos junto aosÉ
a partir dessa atribuição relatadas c das experiências cotidianas quepoderemos
compreender
com
mais clarezao
processo saúde-doença e as particu- laridadesna
área renal.CAPÍTULo
11E
o
PROCESSO
SAÚDE-DoENÇAz
QUESTÕES
E
PARTICULARIDADES
NA ÁREA RENAL
2.1.
O
Processo
Saúde-Doença
Nas
últimas décadas, a percepção e a representação socialda doença
vêm
sofrendomodificações
conceituais significativas.A
doença
vem
sendo apre-endida,
não
mais apenascomo
manifestação biológica individual,mas
determina-da,
também,
por fatores ligados à qualidade integral de vidada
coletividade.“Em
seu sentido mais abrangente, a saúde é a re- sultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda,meio
ambiente, trabalho,em-
prego, lazer, liberdade, acessoƒe posse
da
terra eacesso a serviços de saúde. E, assim, antes de
tudo, o resultado
da
produção, as quaispodem
ge-rar grandes desigualdades nos niveis de vida”.
(VIII Conferência Nacional de Saúde). A
H
Percebe-se, a partir disso, que a saúde está inserida
num
contextosocial
mais
amplo,além
dos liinitesdo
biológico, insere-seno
interiorda
organi- zação social.Além
disso,quando
o quadro de falênciado
sistemaeconômico
se instala, seus reflexos são imediatos naquilo que é mais importante para a maioriaA
CartaMagna
de1988
garante o acesso aos serviços básicos, aindanão
viabilizadosna
prática, e, quanto à política de saúde, maisuma
vez as açõesse voltam para os interesses
da
classe dominante, privilegiando a privatizaçãodesses serviços, fato
que
se agravacom
o quadro recessivoque
conduz
uma
gran-de parcela
da
população ao desemprego,subemprego
e ao não-emprego.A
pes-quisa Nacional por
Amostragem
de Domicílios,PNAD,
ao avaliar o nível de ren-da da
famíliabrasileira, constatou que cerca de32
milhões de pessoasrecebem
menos
deum
saláriomínimo
mensal.Até
1990, a proporção de pessoas vivendona
z linha-zde~pobreza rera -de.- 77,5%- .na região- NordestezAs
.conseqüências-.dessacarência são imediatas e seu
reflexo
nas condições de saúdeda
população, ime-diato. -
As
diferenças existentesno
País, sejam elaseconômicas ou
sociais,aparecem
traduzidas nos seguintes indicadores de saúde:<> expectativa de vida
da
população ao nascer; <> níveis de renda familiar;<> condições ecológicas;
<> condições de trabalho; <> condições de habitação;
<> condições de
saneamento
básico;<> condições ambientais; ›
<> padrão de
consumo;
<> nívelde
escolaridade;<> sistema de transporte. (Cfe.
CROCETA
eSILVA,
1994, p. 20.)Esses indicadores
determinam
como
a, população viveno
dia a dia,32
“À
medida
que se amplia o acessoda
população acondições dignas de moradia, alimentação
em
quantidade suficiente à necessidade, a condição
de trabalho digno, a condições ambientais saudá-
veis, as condições de saúde
da
população tende-rão a melhorar.”
(CROCETA
eSILVA,
1994, P.21.) -
Ao
situar a saúdeno
interiordo
atual sistema deprodução
- o capita-lismo, ancorados
no
sistema neoliberal, constata-se que:“o
processo saúde-doença e as ações desenvolvi- das para a preservaçãoda
saúde e para ocombate
às doenças irão se guiar pela ideologia dominante
nos contextos social, político,
econômico
e cultu-ral das várias épocas
da
históriado
homem.”
(REZENDE,
1989, p. 85.). Adoecer, nesta sociedade, é deixar de produzir e, conseqüentemente,
de garantir a subsistência.
Sendo
assim,entendemos
que ter saúde éuma
questão de sobrevi-vência,
que
inibe abusca
do
estado de completo bem-estar, fisico, mental e social.O
corpo é visto fundamentalmentecomo
instrumento de trabalho.A
doença, então, representa várias ameaças, tantono
sentido de afetar sua saúde,como
de reduzir sua capacidade de trabalho, conseqüentemente atingindoo
aspec-to econômico.
“A
saúde acaba estreitando-se à condição de mer- cadoria, deixando de ser condiçãohumana,
histo-ricamente adaptando-se à lógica
do
mercado.Ӄ
imprescindívelque
ogovemo
invistaem
políticas sociais, garan-tindo à
população o
acesso às condições básicas para se ter o direito garantido àsaúde.
“A
participaçãoda
população nos programas desaúde locais,
são
de extrema importância,uma
vez que
pode
seruma
forma de
obter melhores condições de saúde a nível das decisões edo
controle de serviços,como também
ocorre acom-
preensão de sua realidade e o fortalecimento
da
confiança
de transformá-la.”(SILVA,
1980, p.25.)
Sendo
assim, a participaçãopode
ser consideradacomo
uma
neces-sidade fundamental
do
homem;
através dela, a reflexão parauma
conscientizaçãodos seus direitos
“supõe
o própriomovimento
dessas populaçãoem
conseguir oreconhecimento e efetivação desse direito.”
(SPOSATI
eLOBO,
in: et al., 1922, p. 22).Retomando
a questão fundamental, toma-se necessário explicitarmosque,
na
Constituição Federal de 1988, nos artigos 196 a 200, seção II, da Saúde,está claro
que
a conquistada
saúde éum
direito de todos e deverdo
Estado:“Art.
196
-A
saúde é direito de todos e deverdo
Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas, que
visem
a reduçãodo
risco de do-ença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção,
proteção e recuperação.”
Sabemos
que
a saúdenão
ésomente
o resultado das condições de trabalho, habitação, alimentação, educação, lazer, etc, mas,também,
de condições34
inerentes ao exercício de cidadania e de liberdade,
como
um
processo que se constrói cotidianamente. _2.2.
Questões
e Particularidadesna
Área
Renal
A
interrelação dos aspectosmédicos
e sociaisdo
pacientecom
doen- ça renal enfatiza a necessidade deuma
ação conjuntada
população e equipe de saúde contra a doença.No
Brasil, de acordocom
a reportagem dePAMPLONA,
estima-seque
cerca de20.000
pessoas sofram dealguma
espécie de insuficiência nos rins(anexo 1).
Ainda
de acordocom
PAMPLONA,
apenasum
quarto das pessoasque apresentam
esseproblema
recebem
o diagnóstico e tratamento para a doença.Como
tratamento, entende-se a hemodiálise, a diálise peritoneal intermitente, adiálise peritoneal ambulatorial contínua e o transplante renal.
Segimdo
Romão
Jr.E
Beviláqua (1988):”no Brasil,
95%
dos pacientes renais são submeti-dos a tratamento por hemodiálise e
5%
conseguem
realizar o transplante”.
O
indivíduo que necessita de tratamentotem
seumodo
de vidamo-
dificado radicahnente, seja pela necessidade de se submeter a
métodos
terapêuti- cosque
lhetomam
tempo, pela dependência de máquinas, seja pelo auto-controleque
precisa ter paranão
sucumbir à doença. 9As
implicações sociais quepodem
advirda
constataçãoda doença
influenciarão
na
maneiracomo
os pacientes irão enfrentar todas as fasesdo
trata- mento.Assim,
o individuo sob tratamento deve ter assistência nos seguintes itens que,segundo
Strauss e Corbin (1984), são os pontos fundamentaisno
trata-mento: '
-
prevenção
de crises e seu controle, caso ocorram;-
controle dos sintomas;-
prescriçãode
modos
de vidaque
ele deverá ter para se adaptar ànova
situação;-
prevenção do
isolamento social quepode
ocorrerno
cursoda
doença;~
tentaruma
normalização das relaçõescom
os outros e dos outros aonovo
estilode vida
do
paciente e, o mais importante;-
oferecer condições financeiras necessárias paraque
o pacientenão
fique
pre-judicado
em
sua vida..
Segundo
Moreira
et al. (1993),- ”o
paciente renal crônico passa por diversas situa-
ções de perda,
medo
e carência, o que requerum
atendimento
em
todas as frentes: social, biológica, psicológica, econômica.Nesse
mesmo
estudo, osautores
perceberam que
a atividade profissionaldo
paciente é muito prejudicada, e , muitas vezes, en-
cerrada, pois
tem
de ausentar-sedo
trabalho du-rante várias horas semanais para estar
no
progra-ma
de hemodiálise”.Nesse
mesmo
trabalho, os autores verificaramuma
perda afetiva,principalmente
porque
o tratamento acaba setomando
uma
rotina, e a família e osamigos
vão-se afastandodo
acompanhamento
do
tratamento.Muitas
vezes, se-gundo
os autores, o próprio paciente distancia-se das pessoas,porque
imagina queproximidade
pode
representaruma
cobrança à familiaou
às pessoas que lhedoem
36
Gerahnente
a procura por recursos de saúde acontecequando
a do-ença Já está avançada,
como
se constatana
situação a seguir relatada.J .M.S., casada,
22
anos,do
lar, residenteno
bairroCosteira,
em
Florianópolis-SC,não
tem
filhos, éportadora de insuficiência renal desde 'os 5 anos,
sendo que, até os 1.6
não
se havia submetido aotratamento.
A
partir dos 17 anos, a paciente iniciou seu trata-mento
deCAPD
(Diálise Peritoneal AmbulatorialContínua),
no
Hospital Universitário,com
acom-
panhamento do
setor de diálise,uma
vez por mês.Em
setembro de 1990, aos 19 anos, a paciente fez o transplante renalno
Hospital Regional de Join- ville(com
rim de cadáver).Após
essa cirurgia, apaciente vinha recebendo
acompanhamento
médi-co.
Retomou
ao Hospital Universitário, àUnidade
de Nefrologia,
no
dia 25.8.94,quando
realizou suaprimeira diálise peritoneal,
com
o
diagnóstico derejeição crônica
do
transplante e insuficiência uri-nária. Aceitar o papel de doente foi muito dificil para essa paciente,
que
sónão
adiouo
tratamentoem
virtudeda
gravidade dos sintomas.Nessas
si-tuações, a procura é constantemente adiada, por-
que
os pacientesacham
muito dificil enfrentar adoença, suas implicações e as sensações que dela
podem
advir duranteo
tratamento.Também
ob-servamos
que,em
muitos casos, os motivosdo
adiamento
dizem
respeito ao desconhecimentoda
própria doença, juntamente
com
omedo
e a dúvi-da
sobre o sucesso dos tratamentos.O
mdividuo
cronicamente doente necessitanão
só deum
acompa-
nhamento
medico,mas
seu atendimento deve compreender,também,
aspectossegundo
LEWIS
(apudGUIMARÃES,
1989, p. 14-3).“Insuficiência renal crônica é
uma
síndrome carac- terizada pordano
progressivo e irreversível deambos
os rins. Elapode
se desenvolver duranteum
período de muitosmeses
e anos. E, freqüen-temente,
um
processo insidioso, porque os rinstêm
uma
extraordinária quantidade de reservafuncional.
Antes que
as manifestações clínicas setomem
aparentes, já deve existirum
significativo grau de plano renal (...).Com
assistência apropri-ada, muitos pacientes
podem
permanecer
livresdos sintomas até que
90%
da
função renal sejaperdida.”
As
doenças
crônicas, parte dos problemas fisiológicos que delas po-dem
decorrer, afetamsobremodo
a psique daqueleque
dela sofre, pois se vê dife-renciado, ..apresenta..problemas de enfrentamento
da
doença, sente-se frustrado,anormal,
o que
pode
prejudicar seu desenvolvimentocomo
pessoa, sua vida pro-fissional, amorosa, familiar, enfim, seu convívio
com
os demais.Assim, o
paciente“(...) a cronicidade e os estresses desse tratamento
têm
como
conseqüência a depressão gravedo
pa-ciente e
uma
maior dificuldade desseem
lidarcom
a
nova forma
de vida. Esses aspectos constituemimportante variável para sua adaptação ao- trata-
mento
e para sua maior,ou
menor, sobrevida.”(....)
(LEWIS
apud Guimarães
1989, p. 16)tem
alterado seumodo
de vida, sua fisiologia, seusaspectos psicológicos, profissionais e até
mesmo
espirituais.A
experiência vivenciada por esse paciente está integrada aosacon-›
38
É
importanteque
seconheça
o impacto sobre a vida dessas pessoas,do
tratamento realizado e as alteraçõesno
seu dia a dia.Em
estudo realizado porNISSENSON
(1995), junto a pacientes de hemodiálise e diálise peritoneal, foiobservada
uma
estreita relação entre sobrevivência e qualidadede
vida dos paci-entes e que, esses
dados
sobre o tipo de vidado
paciente deveriam ter,na
prescri-ção de
um
tratamento, amesma
importância dosexames
clínicos. Através de hu-manização do
tratamento médico,segundo
COHEN
et al. (1995), seria possívelaté
mesmo
prevenir a descontinuaçãoda
diálise,que
ocorreem
cerca de10%
dosportadores
de doença
renal crônica que realizam hemodiálise (dados relativos aBoston).
Segtmdo
essa pesquisa, os portadores descontinuam voluntariamente otratamento, a
fm
de buscar amorte*
' ' ' “Toda
a pessoaque
se descobre portadora deuma
doença
crônica, seja ela qualfor, padece, a partir dessa revelação, deprofimdas mudanças
no
seumodo
de
vida,que
se caracterizam por alteraçõesna
sua vida familiar, social,profissional e afetiva,
além da
possibilidade de discriminação nessesmesmos
meios,
dependendo
de sua doença. 'V
Em
diversos centros de estudo,em
todo omundo,
já sereconhecea
importância
do
impacto das relações interpessoais, profissionais e afetivasno
pro- cesso de curade
doentes, sejam crônicosou
não,bem
como
a necessidade de se realizaruma
ação integrada entre áreas médica, psicológica e social paraque
sejapossível otimizar o tratamento, assim
como
para se estabelecer as prioridadesno
manejo
desse paciente, fator ainda neglicenciado pela maioria dos estudos reali-'