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A Ação Operária no Espaço Eclesiástico: O Movimento da Juventude Operária Católica e da Ação Católica Operária ( )

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Academic year: 2021

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A Ação Operária no Espaço Eclesiástico: O Movimento da Juventude

Operária Católica e da Ação Católica Operária (1940-1980)

Alejandra Estevez∗

Introdução

Este artigo tem por objetivo analisar a atuação da Igreja católica no mundo do trabalho através da Juventude Operária Católica (JOC) e da Ação Católica Operária (ACO) no Brasil.O estudo da JOC compreende o período da década de 1940 a 1960 e a ACO será estudada entre 1960 e 1980. A opção dos períodos corresponde aos anos de maior atuação e intervenção de ordem política na sociedade, sem esquecer que a preocupação com a dimensão religiosa e pedagógica sempre foi central para esses movimentos. Ambos os movimentos são compostos por trabalhadores católicos leigos no contexto de surgimento de uma Igreja dita progressista, com um marcante caráter de massas. São movimentos que existem em esfera mundial mas que assumem característica particulares na América Latina.

Em relação a JOC, ela será analisada no período entre 1940 e 1960 e a ACO entre 1960 e 1980. Essa divisão temporal se faz necessária na medida em que a JOC, apesar de existir desde nos anos 1930 no Brasil, ganha mais força e poder organizativo, transformando-se assim em um movimento de massas, somente uma década depois. Apesar da JOC existir ainda hoje, em fins da década de 1960 ela passa por uma grave crise da qual nunca conseguiu recuperar-se totalmente e o movimento pós-1970 possui características totalmente diferentes das que tinha até o momento.

A ACO surge, portanto, exatamente no início dos anos 1960, num contexto de fortes disputas entre projetos políticos antagônicos e de maior radicalização da sociedade de maneira geral. Apresenta-se, assim, como continuador da JOC, com a especificidade de ser formada agora por trabalhadores adultos. Apesar, obviamente, do movimento possuir suas características particulares, é possível facilmente marcarmos pontos de continuidade, que vão desde os mesmos militantes migrarem de um movimento pra outro após atingir a idade adulta, como a aplicação do mesmo método de ação: o Ver, Julgar e Agir.

Nesse sentido, um dos principais objetivos do trabalho é analisar como a Igreja católica, a partir desses dois movimentos, pretendia intervir e evangelizar o mundo do trabalho e como esses movimentos, de maneira criativa e inovadora, conseguiram

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modificar muitas das práticas cotidianas no interior da instituição através de uma maior aproximação desses trabalhadores com o espaço eclesiástico.

Como metodologia de pesquisa é utilizada a análise de documentos produzidos pela JOC, pela ACO, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela própria igreja hierárquica. Além disso, trabalha-se também com a análise de depoimentos de ex-militantes e assistentes religiosos de ambos os movimentos através da metodologia da História Oral.

O discurso teológico-político da Igreja católica

É exatamente a partir das transformações ocorridas no mundo contemporâneo que a Igreja então se vê obrigada a adaptar-se aos novos tempos. Essa adaptação se daria através, principalmente, do reconhecimento do papel de destaque do “povo” de uma maneira geral na sociedade emergente mas, mais especificamente, do trabalhador, que sempre constituiu a grande massa da população.

Dentro desse novo contexto é que em fins do século XIX é lançada a encíclica Rerum Novarum, que seguindo os ideais antiliberais e os novos objetivos da Igreja de aproximação com o mundo do trabalho, propõe questões relativas à melhoria de vida dos operários e soluções para o abandono dos homens no mundo liberal. Esta carta e, posteriormente, a Quadragésimo Anno, orientaram diversos movimentos, tanto compostos por leigos quanto por eclesiásticos em todo o mundo.

É o pontificado de João XXIII, porém, que caracteriza-se como a maior expressão das mudanças introduzidas na Igreja. Apesar de seu curto período na direção da Igreja – 1958 a 1963 – ele mostra-se aberto ao diálogo com outras ideologias, preocupado com a condição de miserabilidade a que estava submetida a maior parte da população e com os problemas do mundo contemporâneo. Em suas duas grandes encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963) fica clara a preocupação com relação às disparidades, de ordem econômica e social, existentes entre as nações e a necessidade dos cristãos tomarem atitudes frente a esses problemas.

A encíclica de 1961 tem como foco central a análise do desenvolvimento dos países subdesenvolvidos e a segunda trata da urgência do estabelecimento da paz e da colaboração entre as nações. Ambas enfatizam a necessidade de uma ação consciente e

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organizada tanto dos cristãos quanto dos não-cristãos para a transformação dessa sociedade em um mundo mais solidário e humano.

Finalmente, com o Concílio do Vaticano II (1962-1965), iniciado sob o papado de João XXIII mas só concluído com Paulo VI, a Igreja vive momentos de grande transformação social – ou pelo menos suas determinações vão ser interpretadas de maneira bastante progressistas por setores da Igreja. O concílio desenvolve a idéia de Igreja como povo de Deus, mais próxima das camadas populares e apesar de ter sua ação voltada essencialmente para a Igreja européia, trouxe importantes progressos principalmente para a América Latina. Dentro desse contexto, as idéias de Cardijn, fundador da JOC, tiveram grande influência na formulação do Concílio, no que diz respeito a sua concepção sobre a ação dos leigos e à relação entre vida e fé, incentivando um diálogo entre Hierarquia e apostolado. Diz ele:

“Vivemos as páginas mais belas da história da Igreja, porque jamais vimos leigos tão conscientes das necessidades da Igreja e de seus irmãos... Jamais os vimos tão conscientes de sua missão, nem tão prontos a cumpri-la, numa fé, numa esperança e

caridade particularmente dinâmica. E isto até entre os mais humildes e fracos”i.

De acordo com essa linha mais progressista inaugurada pelo Vaticano II, o episcopado latino-americano passou a promover importantes discussões a respeito dos temas propostos pelo Concílio. Nesse sentido, foram organizados dois importantes eventos para a América Latina: a Conferência Episcopal de Medellín (Colômbia), em 1968, e de Puebla (México), em 1979. Ambos os eventos foram promovidos pela Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM).

A II Conferência do Episcopado latino-americano em Medellín delibera a opção de ação pelos pobres e proclama-se a “voz dos que não têm voz”. Em primeiro lugar, Medellín marca uma vivência latino-americana do Concílio, onde os temas de pobreza, concentração da terra e desigualdade social puderam ser discutidos mais especificamente, explicitando uma opção preferencial pelos pobres como sendo aquela tipicamente evangélica e que deveria nortear todas as opções de igreja no mundo, por representar a própria opção por Jesus Cristo.

Em segundo lugar, Medellín abriu um espaço importante numa hora bastante efervescente da América Latina, momento de revoluções, de guerrilhas e expectativas diante das ditaduras militares. A III Conferência Episcopal de Puebla veio no mesmo sentido da anterior, isto é, para confirmar a “opção preferencial pelos pobres” na América Latina. É importante, no entanto, ressaltar que todas essas transformações só

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foram possíveis porque militantes católicos leigos e de outras correntes colocaram o episcopado em contato direto com seus problemas e muitas vezes tensionaram para que a hierarquia se abrisse mais, tornando-se mais flexível e sensível aos problemas do mundo temporal.

A atuação dos trabalhadores leigos no mundo do trabalho

A JOC, ela surge no Brasil em início dos anos 1930 através de experiências isoladas nos centros mais industrializados do país sob a coordenação da Ação Católica Brasileira (ACB)ii, mas apenas a partir de fins de 1940 é que ganha maior força e poder organizativo. Assume, assim, um caráter nacional na I Semana de Estudos Nacional da JOC, realizada em São Paulo, em 1948, primeiro espaço onde se reuniram jocistas do Brasil inteiro.

Tal movimento pretendia melhorar a vida do jovem trabalhador através de uma ação evangelizadora e formadora de uma consciência crítica. Nesse sentido, a JOC é a responsável pela criação do método Ver-Julgar-Agir, adotado posteriormente inclusive pelos setores mais tradicionais da Igreja. Trata-se de um método pedagógico de “formação na ação e pela ação”iii, ou seja, significa ver o problema, julgá-lo à luz do Evangelho e agir para transformar sua condição de classe trabalhadora explorada.

Diretamente ligada à ACB, a JOC incorpora inicialmente o ideal divulgado por Pio XI em que pretendia criar um “apostolado leigo na sociedade moderna”iv. No entanto, ao longo do tempo, acaba por assumir uma organização diferente e independente. Até meados da década de 1950, a JOC apresentava uma posição mais conservadora, ou, como diria o ex-militante Wilson Farias, uma postura em que se “tentava conciliar a relação entre o patrão e o empregado”v, na medida em que acreditava na harmonia entre as classes.

Nesse momento seu caráter evangelizador e pedagógico se destacava em detrimento das discussões de ordem política e da atuação nos meios sindicais e trabalhistas. Essa característica obedece justamente ao principal objetivo da Igreja que consistia em recristianizar a classe trabalhadora a partir de uma comunicação direta com a hierarquia. A partir desses movimentos da Ação Católica pretendia-se, em última instância, combater de um lado o liberalismo – responsável pelas condições de miserabilidade a que a maioria da população estava submetida – e de outro o

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comunismo – sistema que ao perceber as injustiças do mundo liberal acreditava que a solução se daria através de uma luta entre as classes sociais. Para a Igreja, a única solução possível seria a reconciliação entre ambas as partes e à Igreja caberia a conscientização dos direitos e deveres de patrões e operáriosvi.

Somente em fins da década de 1950 – e principalmente depois do golpe civil-militar de 1964 – é que ela assume marcadamente uma maior orientação política, de caráter mais progressista. O golpe civil-militar, em 1964 modifica o quadro político e social brasileiro e, conseqüentemente, a realidade da JOC que passou a realizar uma reflexão mais profunda no que se refere à condição da classe trabalhadora no contexto sócio-econômico do país e da América Latina, de maneira geral. Esta opção, consequentemente, implicou em maior repressão por parte do governo ditatorial. A isto soma-se também o fato da própria Igreja hierárquica estar passando por uma profunda transformação internamente, transformação esta que culmina no Concílio Vaticano II.

Tal postura da JOC acaba por gerar uma radicalização da cúpula do movimento, atingindo seu ponto máximo em 1968, no Congresso de Recife. As decisões tomadas neste Congresso fizeram com que recaísse sobre eles uma maior repressão, culminando na prisão de seus maiores líderes. Assim, a JOC acaba por desarticular-se e praticamente deixa de ter qualquer poder de ação significativo na sociedade.

A escolha do período a ser estudado, portanto, se justifica, por ser marcado por um gradativo engajamento, onde a JOC transita de uma postura fundamentalmente evangelizadora e educativa para uma posição mais radicalizada e crítica em relação ao modelo de desenvolvimento adotado pelo governo militar.

Incentivada pela trajetória do movimento jocista é que em fins da década de 1950 começa a se organizar a Ação Católica Operária, incentivada por uma demanda de grande número dos militantes jocista que haviam atingido a idade adulta, mas queriam continuar atuando a partir da mesma dinâmica da JOC, no interior da Igreja católica.

Sendo assim, a ACO nasce da Liga Operária Católica (LOC), movimento ligado à Igreja destinado aos adultos, com forte preocupação assistencialista. Com a entrada de antigos militantes jocista certos temasvii foram sendo inseridos nas pautas de discussão da LOC e gradativamente o movimento foi se politizando e assumindo uma maior identidade de classe.

Em 1960 realizou-se o I Encontro Latino-americano de antigos jocistas, em Córdoba, Argentina, e lá reuniram-se antigos jocistas com um mínimo grau de engajamento. Definia-se, portanto, desde cedo, o caráter mais politizado do movimento,

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em sua maioria composto por antigas lideranças da JOC. Desse encontro foi eleita uma comissão responsável pelos movimentos de ACO da América Latina, que se encontram novamente em 1961, no Chile, em Santiago.

Finalmente em 1962, surge a ACO brasileira, a partir de dois encontros: um no Maranhão e outro em São Paulo. Apresenta-se, assim, como continuadora da JOC, com a especificidade de ser formada agora por trabalhadores adultos. Apesar do movimento possuir suas características particulares, é possível, a meu ver, marcarmos pontos de continuidade, que vão desde os mesmos militantes migrarem de um movimento pra outro após atingir a idade adulta, como a aplicação do mesmo método de ação: o Ver, Julgar e Agir.

Além disso, sua atuação durante o período militar caracteriza-se como uma relação de enfrentamento constante com a hierarquia eclesiástica e com os próprios militares. De maneira conturbada, mas sempre atuando na legalidade, a ACO não adquire o caráter de massas que a JOC assumiu num primeiro momento. Dada a conjuntura e a politização de seu discurso ficava cada vez mais difícil atrair e envolver os militantes.

A partir de uma apropriação particular do método Ver-Julgar-Agir criado pela JOC, a ACO passa a aplicar o Ver-Julgar-Agir nos quatro planos: o econômico, o social, o político e o ideológico. Essa mudança de aplicação do método marca também uma mudança na forma de atuação e no aprofundamento das questões de ordem política, econômica, social e ideológica, preocupações estas que não constituíam a base de luta da JOC, nos anos 1940 e meados dos anos 1950.

De maneira restrita, mas sempre realizando fortes críticas ao regime militar e ao capitalismo de maneira geral e cada vez encarando os socialistas como seus possíveis aliados, a ACO estabelece um discurso, ainda que na prática ele não encontre muito espaço de concretização, onde sua tarefa é lutar pela liberdade dos trabalhadores e combater as injustiças sociais. Esse movimento vai estender-se por todo o período militar mas na década de 1980 vai de maneira gradativa perdendo seu poder de intervenção junto à classe trabalhadora para outros movimentos católicos como por exemplo as Pastorais Operárias.

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Conclusão

A Igreja é aqui entendida como uma instituição que possui múltiplas tendências culturais e políticas e que, portanto, reproduz em seu interior todas as camadas sociais existentes na sociedade e os conflitos inerentes a elas. Nesse sentido, é necessário incorporar a concepção de Roberto Romano que percebe a Igreja a partir de seus próprios pressupostos, sem confundi-la com uma ideologia ou um aparelho de hegemonia. Ela deve ser pensada e analisada enquanto um corpo místico que se posiciona no mundo com um sentido de permanência, mas que se esforça em incorporar à sua tradição doutrinária os novos desafios impostos pelo temporal, a partir de um projeto teológico-político.

Concluímos a partir deste estudo que não existe uma divisão rígida entre a Igreja institucional e a Igreja popular e, por isso, ela não pode, nem deve, ser estudada separadamente. Ambos os setores estão em constante interação e por isso se modificam, numa relação dialética. Em última análise, a divisão ideológica da sociedade se reproduz também no interior da Igreja.

A análise aqui feita também demonstra as diferenças internas da Igreja católica, que impedem que a entendamos como um bloco monolítico. As ações conservadoras, assim como as de cunho progressista, obedecem a uma lógica historicamente constituída ao longo do tempo e por isso mesmo possuem grande valor para as pesquisas históricas.

A JOC foi, portanto, pelos acontecimentos políticos e sociais ocorridos no Brasil e pelas reações da Igreja a essas transformações, um movimento de trabalhadores urbanos de cunho religioso e pedagógico, mas que a partir de fins da década de 1950 passou a ter cada vez uma preocupação maior com as questões políticas que afetavam diretamente todos os operários. Se nas suas duas primeiras décadas de existência ela pode ser entendida como um movimento fundado basicamente com o objetivo de recristianizar a classe trabalhadora e assim reaproximá-la da Igreja católica, na década de 1960 assume uma participação ativa no meio operário, dando maior prioridade a sua identidade de classe.

Essa mudança no interior do movimento, no entanto, não deve ser entendida unicamente por sua origem de classe, mas também deve-se levar em consideração todo o debate político que se desenrolava na sociedade em geral em meados da década de 1950 e em toda a década de 1960 e que tinha influência direta sobre a vida de cada trabalhador. Além disso, a própria Igreja passou por grandes transformações. Se

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inicialmente ela traçou um papel para a JOC, totalmente calcado na aproximação dos leigos da vida religiosa ainda sob a velha lógica da hierarquia eclesiástica e da mínima participação dos fiéis no âmbito sacramental, uma vez em contato com esse movimento suas práticas internas foram sendo gradualmente modificadas, os padres e bispos foram tomando maior dimensão do que era o mundo do trabalho e seus militantes foram rompendo certos limites que marcavam sua atuação no interior da Igreja, migrando de uma posição passiva para uma atuação mais efetiva nas práticas religiosas.

A radicalização dos movimentos sociais no pré-64 e a maior abertura da Igreja, não só no Brasil mas em toda a América Latina, foram fatores fundamentais para a politização da JOC exemplificada no maior envolvimento com o meio sindical e com movimentos da própria esquerda e na emissão de duras críticas ao sistema capitalista.

É nesse sentido então que a postura mais politizada da ACO, que surge justamente nessa fase mais “radicalizada” da JOC, pode ser compreendida. A ACO é o maior reflexo das transformações pelas quais a JOC passou. Mais engajada no sindicato, na política e no meio operário, a ACO reflete exatamente a fase anos 1960 da JOC. Deve ser vista, portanto, como uma continuidade e não como uma mudança de caráter já que a JOC também já tinha abandonado ou, ainda que continuasse com a preocupação religiosa, tinha ao mesmo tempo voltado sua atenção para as questões de ordem política. Justamente pelo fato da JOC ter sempre estado diretamente ligada a hierarquia e apesar de ter havido alguns tantos atritos nunca ter rompido totalmente suas relações permitiu que ela influenciasse e transformasse a Igreja hierárquica como aconteceu. Outros movimentos leigos como a JUC, por exemplo, que adotam uma postura de crítica a certas estruturas tanto no interior da Igreja como na sociedade e que rapidamente desenvolve um discurso mais radicalizado acaba por afastar-se da Igreja e devido a esse fato perde em certa medida seu poder de efetuar mudanças na instituição. O discurso mais moderado e a opção de permanecer no interior da Igreja católica mesmo com algumas críticas fez da JOC e da ACO movimentos chaves nessa transformação.

Para concluir, a idéia de que de repente o movimento operário, a partir de 1978, resolveu se organizar e por acaso a Igreja se incorporou a esse movimento não corresponde a realidade deve ser revista. Desde a década de 1940, ela foi desenvolvendo um grande poder de mobilização entre os operários. A Igreja, nesse sentido, representava a possibilidade de superação da estrutura corporativista do sindicato, cumprindo a função de unir diferentes categorias. Os movimentos de base da Igreja

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serviram, dessa forma, como maneira de mobilização dos trabalhadores quando o sindicato encontrava-se ausente ou pouco presente na vida dos trabalhadores. Portanto, para Heloísa Martinsviii, a Igreja foi, por assim dizer, um canal de participação política e social engajada na falta de outros espaços como esse, aglutinando em torno de si a maioria das forças políticas de oposição ao Governo.

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O presente texto é fruto da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em

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ii

A Ação Católica Brasileira inicialmente é inspirada pelo modelo italiano de Ação Católica onde a divisão dos movimentos se dava a partir de dois ramos gerais: o masculino e o feminino. A partir da década de 1940 a ACB adota o modelo francês ou belga onde essa divisão é feita de acordo com grupos sociais: operários, camponeses, estudantes.

iii CHALOUB, Suraya. Processo Pedagógico Gerador de uma Consciência Crítica. São Paulo: Loyola,

1989.

iv MARTINS, Heloísa. Igreja e Movimento Operário no ABC. São Paulo: Hucitec, 1994. P. 93.

v Entrevista concedida por Wilson Farias a autora no dia 05/06/03

vi Essa postura ficou conhecida como a proposta de uma terceira via – nem a do capitalismo liberal, nem a

do socialismo – mas a via cristã. Essa proposta é formulada por Jacques Maritain.

vii Essa pauta de luta já havia sido definida desde o I Congresso Mundial da JOC, realizado em 1957 e

enfatizava a luta contra a escravidão nas fábricas, a sub-moradia, o analfabetismo, a fome, o desemprego, as desigualdades, as perseguições aos trabalhadores pelos patrões, os salários injustos, etc.

viii

Referências

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