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BULLYING: A VIOLÊNCIA ESCOLAR NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES

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Academic year: 2021

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PROFESSORES

LINDINO, Terezinha Corrêa1 – UNIOESTE/PR

FELL, Elizângela Treméa2 - UNIOESTE/PR

KUNZLER, Andréia Carla Bach3 - NEDDIJ/PR BLATT, Luana Rachel4 - NEDDIJ/PR Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

A violência entre as paredes das escolas sempre existiu. Todavia, o que se percebe é que cada vez mais tipos diferentes de violência surgem e tomam proporções que preocupam a comunidade em geral, uma vez que causam sofrimento aos que são agredidos e aos que vivenciam essa prática. Com base nesta temática, o presente estudo valeu-se dos relatos dos professores, acerca do entendimento sob a perspectiva do que é o bullying na escola e como esta violência é percebida por eles em seu cotidiano escolar. Falar mal de alguém, fazer piadas, humilhar, dar apelidos, ignorar, entre outras, tornam-se atitudes naturais e, muitas vezes, confundidas como algo próprio da idade (não importando a etapa que esta pessoa se encontra). Tal conotação dificulta o entendimento e identificação das ações pertinentes ao bullying, visto que ela não indica a necessidade do olhar atento dos professores, quando tratamos do tema na escola. Assim, para mensurar como estes últimos percebem a dinâmica do bullying, foram realizadas entrevistas com os professores do Ensino Fundamental I, de oito escolas do Município de Marechal Cândido Rondon. Nelas procurou-se conceituar o que é violência, quais são os tipos de bullying existentes na escola e como os professores se posicionam frente a esta problemática.

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Professora Doutora em Educação. Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Estudo de Defesa e Direitos da Infância e da Juventude (NEDDIJ), campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: telindino@yahoo.com.br. Telefone: (45) 3284-7854. Rua Pernambuco, 1777, Centro, Marechal Cândido Rondon - PR.

2 Professora Doutora em Educação: História, Política e Sociedade. Coordenadora Geral do Núcleo de Estudo de

Defesa e Direitos da Infância e da Juventude (NEDDIJ), campus Marechal Cândido Rondon - PR.

3 Pedagoga. NEDDIJ – Núcleo de Estudo de Defesa e Direitos da Infância e da Juventude, campus Marechal

Cândido Rondon – PR

4 Estagiária de Pedagogia. NEDDIJ – Núcleo de Estudo de Defesa e Direitos da Infância e da Juventude, campus

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Palavras-chave: Relação professor-aluno. Tipos de violências. Convívio escolar.

Introdução

O presente trabalho visa explorar a concepção de violência, denominada como bullying, vivenciadas por crianças e adolescentes no ambiente escolar, de modo a discutir como os professores percebem a interferência desta violência em sua sala e em sua prática pedagógica.

Para tanto, busca-se na literatura a demarcação das características eminentes do conceito de violência que circunscrevem o conceito de bullying. Isto porque a violência pode ser manifestada de varias formas (física, verbal, psicológica) e em diferentes lugares (no trabalho, escolas, bairros e nos lares). Em especial, ater-se-á ao bullying devido ao mesmo ser um “[...] fenômeno que ocorre, principalmente, em espaços coletivos e se configura como um processo que tem diferentes causas associadas, mas que pode ser considerada uma manifestação do processo de interação entre pares” (GISI; ENS, 2011, p. 39).

Ainda, por saber que este fenômeno ocorre entre pares, por exemplo, nas escolas ele ocorre de aluno (a) para aluno (a) ou de professor (a) para professor (a), causando muita dor e sofrimento para os envolvidos.

O comportamento conhecido como bullying deriva do substantivo bully do inglês, que significa agressor ou agressora (no plural bullies – agressores, agressoras). Por definição universal, o “[...] bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento” (FANTE, 2005, p. 28). Tais comportamentos (insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações) provocam mágoas profundas, acusações injustas, atuação e ridicularizarão hostis e exclusão, danos físicos, morais e materiais aos envolvidos.

Dan Olweus foi o primeiro pesquisador que estudou o bullying. Sua pesquisa iniciou após um caso na Noruega, em 1982, quando três crianças cometeram suicídio. A partir deste caso, “Olweus pesquisou [...] cerca de oitenta e quatro mil estudantes, trezentos a quatrocentos professores e em torno de mil pais, incluindo vários períodos de ensino” (FANTE, 2005, p. 45).

Cabe ressaltar que estudar o bullying é entender quem são seus personagens. Os agressores são aqueles que o praticam; as vitimas são aquelas agredidas tanto física quanto

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verbalmente (e geralmente não se defendem ou retrucam); e a testemunha, aquele aluno (a) que assiste as agressões, mas sem interferir com medo de ser o próximo a sofrer tais abusos.

Desta forma, para este artigo, procura-se discutir o bullying a partir de relatos de professores, acerca do entendimento do que é e como esta violência é percebida em seu dia a dia no ambiente escolar. Assim, foram realizadas entrevistas com os professores do Ensino Fundamental I, no período de 2011-2012, em escolas públicas do Município de Marechal Cândido Rondon.

Um olhar sobre a violência escolar

Definir bullying não é uma tarefa fácil, levando-se em conta todas as formas que se apresenta no ambiente escolar, podendo levar a fatos trágicos como mortes e distúrbios psicossomáticos que podem vir a acompanhar as vítimas por toda a vida.

Palavra inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob a tensão, bullying é o termo que conceitua os comportamentos agressivos e antissociais utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar (FANTE, 2005, p. 27). Muitas vezes, ele é confundido com uma brincadeira, algo natural entre crianças e adolescentes.

Segundo Fante (2005, p. 50), o bullying pode ocorrer de duas formas: “[...] direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vitima”. A direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa, e discriminatória, insultar, constranger); a indireta cujo prejuízo provoque traumas irreversíveis.

Os agressores ou bullies, como afirma Silva (2010, p. 43), “[...] possuem em sua personalidade traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança”, que em geral é obtido ou legitimado por meio da força física ou de intenso assédio psicológico. Desde cedo, os bullies apresentam atitudes aversivas ao comportamento esperado de crianças que respeitam seus pais, professores e familiares. Eles vêem na maldade e no sofrimento do outro um motivo para se divertir e chamar a atenção.

As causas de comportamentos assim “[...] podem ter origem em lares desestruturados ou no próprio temperamento da criança ou jovem”, defende Silva (2010, p, 44). Os pais

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devem estar atentos aos seus filhos e ao perceberem comportamentos agressivos e maldosos precisam dialogar, buscar informações que possam auxiliar na educação e desenvolvimento dos mesmos, acrescenta o autor.

As vítimas, assim como os agressores, possuem características que as classificam como vítimas típicas - aparência física incompatível ao que a sociedade julga como padrão de beleza aceitável ou alguma deficiência física ou intelectual que pode servir como desculpa aos atos realizados.

Mas, para este ato estar completo, necessita-se de visibilidade.

Os espectadores são as crianças e/ou jovens que assistem as práticas de bullying e não fazem para ajudar ou evitar. Eles podem ser classificados em passivos (aqueles que nada fazem com medo de se tornarem a próxima vítima), ativos (aqueles que apóiam os agressores com aplausos e risadas) e neutros (aqueles que não se importam com o que esta acontecendo ao seu redor e não manifestam nenhum sentimento pelas vítimas).

Algumas pesquisas apontam que o maior número de incidência do bullying ocorre na hora do intervalo. Outras afirmam que são nas salas de aula. Mas, a questão é que esta forma de violência esta presente no cotidiano escolar não sendo excluída nenhuma escola, tanto em escolas particulares quanto das escolas públicas, não fazendo referência à cidade de maior ou menor porte.

"É muito difícil perceber entre as crianças o que é brincadeira e o que é agressividade, mas a repetição e a intenção de magoar deixam bem evidente esta diferença" (GISI; ENS, 2011, p. 57).

Levando-se em conta o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que trata das leis que visam assegurar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, a escola carece prover ações que coíbam qualquer forma de vitimização em seus alunos. Ribeiro e Ens (2011, p. 77) estabelecem relações entre o ECA e ações que visem a efetivação destas; bem como,

Estabelece ser a criança e o adolescente uma pessoa em desenvolvimento, com o 'direito à liberdade, ao respeito e à dignidade' (art. 15). Além da 'liberdade quanto à opinião, expressão, crença e culto religioso' (art. 16, II E III). Ainda ser respeitado em sua integridade 'física, psíquica e moral [...], abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais' (art.17).

O ECA postula de quem é a responsabilidade pela efetivação dos direitos nele previstos. "É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente pondo-se a salvo

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de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor". (BRASIL, 1990, p. 03).

A escola carece zelar pelo cumprimento desses direitos garantidos em lei e comunicar as demais instâncias do poder estatal os “[...] maus-tratos envolvendo seus alunos”. (RIBEIRO; ENS, 2011, p.77). Por conseguinte, o estatuto da criança e do adolescente, o ECA postula em seu

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, 1990, p. 01).

Observa-se a necessidade de se ter clareza do Estatuto da Criança e do Adolescente para que se cumpram suas normas, criando um ambiente escolar favorável à aprendizagem destes seres em desenvolvimento. Acredita-se que tanto o professor quanto o aluno têm o direito a um ambiente escolar seguro, que lhes favoreça uma convivência interpessoal de respeito à dignidade humana e à cidadania, caracterizada pela aceitação e acolhimento das diferenças individuais, sendo estas essenciais à saúde e ao bem-estar psicossocial durante a realização das atividades de ensino-aprendizagem. (MASCARENHAS, 2006 apud FERREIRA et al, 2010).

Constantini (2002) corrobora apontando que

[...] o bullying tem origem na irrupção e falta de controle do sentimento de intolerância nos primeiros anos de vida, cujas consequências nas faixas etárias seguintes (estando ausentes reações educativas duras) são atitudes de transgressão e falta de respeito ao outro, aos quais tende a consolidar-se, transformando-se em esquemas mentais e ações de intimidação contra aqueles que são mais fracos. (apud PINGOELLO, 2009, p. 47).

O fato ocorre em sua maioria em escolas, tanto públicas quanto privadas e acomete crianças e adolescentes em desenvolvimento, momento em que a personalidade é elaborada. A introspecção destes acontecimentos acaba trazendo danos às vítimas, desencadeando sentimento de inferioridade e, muitas vezes, raiva reprimida. Este sentimento, em algum momento da vida, pode acabar explodindo de forma violenta e trágica.

O que ocorre é que os alunos vítimas de bullying não delatam seus agressores como forma de proteger sua integridade ou até pela fragilidade em que se encontram frente à violência, o que leva o professor a não perceber nitidamente os fatos.

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A omissão por parte dos professores induz o aluno vitimado a se fechar ainda mais, fragilizando a relação de confiança que deveria existir entre aluno e professor em sala. O professor, além das implicações que demandam sua prática pedagógica, carece estar atento aos sinais que seus alunos emanam, podendo discernir uma brincadeira de uma incivilidade em sala.

Para Fante (2005, p.67), os professores ainda não sabem distinguir entre condutas violentas e brincadeiras próprias da idade, bem como lhes falta preparo para identificar, diagnosticar e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar os problemas bullying. O professor ao perceber o fenômeno se agravando em sua sala acaba sendo afetado emocionalmente, uma vez que as incivilidades e falta de interesse refletem diretamente em seu trabalho, nos resultados dele exigidos, sentindo o efeito e muitas vezes sendo promotor de bullying, devido a seu desgaste e falta de habilidade em tratar o assunto.

Segundo Férnandez (2005, p.56),

A desordem causa um campo próprio para “não aprender”, criando grande dificuldade nos procedimentos das tarefas. Provoca uma atitude negativa entre aluno e professor, propiciando atritos no relacionamento pessoal. Em alguns casos pode-se tratar de um ou mais líderes negativos (criança/desordem) com problemas de conduta, baixa estima e claros problemas de “saber comportar-se”, ou falta de habilidade social para escutar e respeitar a dinâmica da classe.

Estudos realizados pela equipe do Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude- NEDDIJ, do Município de Marechal Cândido Rondon, em turmas da rede municipal, fortalece a ideia de que os professores percebem o bullying, porém muitas vezes ignoram os casos de incivilidade e indisciplina por não conseguirem se colocar em posição correta diante dos fatos.

Conforme Estrela e Amado (2010), as confusões ocorrem de diversas formas em sala. Inicialmente, o mau comportamento de alguns alunos agita a turma, gerando queda no desempenho de outros. Nota-se que somente após algum tempo (variado de professor para professor) é que se percebem as violências entre eles.

Agressões essas que podem levar a transgressões graves. E, por último, “[...] estão as relações entre o professor e aluno, nas quais o aluno desafia o professor; tira sua autoridade, minando o relacionamento entre eles e a turma em geral” (PINGOELLO, 2009, p.30).

Desta forma, foram aplicados questionários aos professores de oito escolas públicas de ensino fundamental (1º e 2º ciclos), na cidade de Marechal Cândido Rondon, sobre o que é violência e sobre a interpretação que eles têm sobre indisciplina, preconceito e o desrespeito

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entre seus alunos. Também se investigou sobre a situação familiar e econômica dos alunos, procurando conhecer o perfil da população estudada.

A compreensão sobre o bullying estabelecida pelo professor: resultados e discussões

Para melhor identificar as características do fenômeno bullying, por parte dos professores, cabe iniciar apresentando a população analisada. Constatou-se que as classes analisadas possuem alunos com diferentes situações familiares.

Visto que a prática pelos professores entrevistados se fundamentava em trocar os alunos de lugar para tentar fazer cessar os casos de agressão, eles chegaram à conclusão de que esta atitude acabava contribuindo para o começo de um novo foco de indisciplina e desrespeito.

Por diversas vezes, os professores entrevistados relataram casos de indisciplina nos quais alunos agridem outros verbalmente e fisicamente; não cumprem regras; respondem agressivamente ao professor; entre outros relatos. Para os eles, a indisciplina e o desrespeito são percebidos em sala quando os alunos não conseguem aceitar as diferenças, não conseguem entender que alguns necessitam de mais tempo para realizar as atividades e acabam atrapalhando a aula como um todo.

Alguns relataram que é comum ouvir os alunos proferindo palavrões e depreciando os colegas. E, quando o professor chama à atenção. Os alunos ignoram suas investidas e continuam a intimidar as vítimas escolhidas.

Este cenário, relatado com tantos detalhes e com tamanha naturalidade indica a necessidade de discussão sobre o assunto. Nota-se nas falas dos professores que em todas as salas há casos de indisciplina e que isso não irá mudar nunca.

Tem um caso, um aluno que a todo tempo chama a atenção para ele, não tem rendimento/aprendizagem e atrapalha os outros. Ele conversa, não sabe se ajudar e quando faz as atividades, faz mal feito ou pela metade. Ele não se concentra e tira a atenção dos outros. Não é um aluno repetente, apenas falta interesse em aprender. (P1/E8).

É comum perceber que os professores procuram causas externas para explicar o fenômeno que ocorre em sua sala. No caso relatado, por exemplo, P1/E8 se atém a um aluno em específico e traça o perfil deste, comparando-o com demais alunos repetentes da sala.

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Todavia, cabe ressaltar que o que este professor não está conseguido perceber é que este aluno necessita uma intervenção diferenciada, a fim de suprir sua necessidade de aparecer, de se sobressair aos demais colegas, já que P1/E8 relata que o aluno em questão chama à atenção todo momento para si.

Relembrando os comportamentos dos que praticam bullying, a atitude deste aluno pode indicar a possibilidade de agressividade no futuro. No intuito de receber maior atenção, ele pode desenvolver ações conflitantes ao andamento e harmonia da sala.

Essa é uma tarefa que os professores necessitam aprender a identificar, para o seu bem-estar e dos seus alunos.

Sobre os comportamentos relatados como indisciplina e que causam distanciamento ao planejamento educacional do professor, outro entrevistado relata que, muitas vezes, os alunos costumam “Gritar para chamar atenção, não fazem as atividades exigidas, distraem a turma fazendo coisas diferentes à aula” (P1/E4). Ou ainda que os alunos “São muito agitados, tem dificuldade em ouvir, falam constantemente e tem atitudes agressivas” (P2/E6).

Tratar a indisciplina como agressão faz com que muitos professores não tenham clareza de quais atitudes tomarem. Por exemplo, quando um professor afirma que “Há casos de indisciplina na minha sala, alunos batem em alunos, fazem bagunça” (P1/E1), o foco se dispersa em acudir aos feridos, tranquilizar a sala ou exercitar a autoridade.

Constatou-se assim que a maioria dos professores entende que os alunos indisciplinados são aqueles que faltam com o respeito aos colegas e professores. São aqueles que não cumprem os combinados, que não apresentam senso de responsabilidade e limites, que são muito agressivos na hora do brincar e que falam muitos palavrões.

Devido ao perfil supracitado, os professores queixam-se que a presença dos pais é quase nula em alguns casos, pois, quando solicitada a presença destes, não comparecem, deixando tanto o aluno quanto o professor sem apoio. (P3/E1, P1/E5, P1/E4). De posse desses relatos, acerca do comportamento e posicionamento de alunos em salas de nosso município, leva-nos a pensar que uma proposta de intervenção é urgente, a fim de formar cidadãos capazes de conviver e aceitar as diferenças de todos.

É claro que somente esta ação não basta. Mas, urge promover uma ação que desenvolva a autoestima dos professores, devolvendo-lhes poder de enfrentamento diante destes casos, de modo a evitar situações conflitantes irreversíveis.

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Com o intuito de compreender melhor o aluno que se encontra nas classes de nosso município, iniciou-se a investigação por saber qual é a situação econômica e o nível de escolaridade dos pais dos alunos como um todo. Na amostra estudada, observou-se que a situação econômica dos pais da maioria dos alunos é baixa, bem como apresenta um nível de escolaridade não superior ao de Ensino Fundamental.

Nota-se também que em sua quase totalidade há precedentes de usuários de drogas e/ou pais alcoólatras (P3/E1, P2/E2, P1/E3, P2/E3, P1/E4, P2/E4, P1/E5, P2/E5, P1/E6, P2/E8).

Outra situação preocupante está no fato de que muitos destes alunos foram abandonados pelos pais e são criados por avós. No relato de um professor: “Briga judicial pela guarda e tutela do filho, onde o aluno está perdendo em estrutura familiar” (P1/E2). Em outras palavras, quando a base familiar falha, os esforços do professor se tornam insuficientes, trazendo ao professor a sensação de dever não cumprido.

Sabe-se que “O professor ideal tenta ser otimista, defende, compreende e aceita o aluno difícil, evita o confronto, respeita a dignidade dos alunos e é capaz de mantê-los em um ambiente de cordialidade e de cooperação”. (HARGREAVES, 1998 apud FÉRNADEZ, 2005, p. 64). Mas, o professor além da responsabilidade de ensinar, forma cidadãos para a vida e, por isso, a necessidade de agir frente às dificuldades enfrentadas em classe.

Outra questão que merece atenção são as incivilidades e violências que ocorrem em sala pela falta de afeição e os preconceitos que, muitas vezes, ferem mais que agressões físicas. Segundo Antunes e Zuin (2008), o bullying não é uma simples manifestação da violência.

Na verdade, o bullying se aproxima do conceito de preconceito, principalmente, quando se reflete sobre os fatores sociais que determinam os grupos-alvos e sobre os indicativos da função psíquica para aqueles considerados como agressores. (apud GISI; ENS, 2011, p. 47).

A maioria dos professores entrevistados não percebe a existência de preconceitos entre seus alunos em suas classes. Nos poucos casos que se presenciam esses tipos de exclusão, as ações promovidas pelos professores se baseiam em conversas generalistas, sem o processo efetivo para a reflexão sobre o assunto.

São poucos os que promovem mudanças de atitudes. Por exemplo, um professor relata que “Acontece preconceito entre alfabetizados e não alfabetizados. A escola reage com

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diálogo, explicação dos fatos e às vezes chamamos a família, dependendo a atitude, e se necessário a presença de autoridades maiores como o CT”. (P1/E5).

O que se pode notar neste relato é que este professor já dividiu sua turma entre os alfabetizados e não alfabetizados, o que possivelmente as crianças não percebam desta mesma forma. Defende uma melhor observação neste caso, pois talvez o que ocorre é que alguns alunos com maior dificuldades na aprendizagem demorem mais e necessitem de maior auxilio do professor, pois não é claro o entendimento da escola sobre este tipo de situação na contemporaneidade.

Um relato sobre um possível entendimento da escola tem frente às situações de preconceito pode ser verificada na fala de P2/E6: “Há casos de preconceito e a escola reage trabalhando esses conceitos”. Percebe-se que eles demonstram interesse pelo assunto, mas ainda não tem claras quais ações devem ser estabelecidas.

Quando questionados sobre casos de criança agredidas em casa ou na escola, a maioria dos professores desconhece tais situações. Todavia, em algumas escolas participantes houve relatos de indignação. Por exemplo, P1/E2 aponta que “Há dois casos de crianças que sofreram agressão em casa, mas isso antes de entrarem nesta escola. Hoje isto se reflete, interfere no desenvolvimento de ensino deles”.

Há professores que relatam que quando a agressão ocorre em sala, tudo é resolvido dentro da sala. Não chamam os pais, mas fazem os alunos pedirem desculpas e procuram com isso controlar a situação.

Outros relataram ainda que algumas crianças comentam que foram agredidas em casa. Porém, “[...] por não aparecem com marcas não podem fazer nada para ajudar”. (P1/E4, P1/E7, P2/E7). As saídas mais efetivadas, conforme aponta P2/E3, em casos de agressão se fundamentam em “Num primeiro momento conversamos com os alunos, depois chamamos os pais para trabalharmos juntos”.

Esta atitude é muito importante, pois, conforme Saravali, 2005 reforça, “O fracasso escolar não se configura apenas no nível da repetência e da evasão, ela ocorre também toda vez que a escola não consegue cumprir o seu papel social de formação”. (apud PINGOELLO, 2009, p. 54). Percebe-se, portanto, que as relações interpessoais norteiam a aprendizagem e, muitas vezes, o professor enquadra um aluno como difícil e indisciplinado quando na verdade este aluno pode estar sendo vítima de violências em casa ou mesmo na escola e reagindo de forma agressiva contra aqueles que não conseguem entendê-lo.

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Por isso, a necessidade dos professores conhecerem sua clientela, a fim de promover um aprendizado eficaz. É possível mudar esse quadro que se instalou nas escolas, com projetos e ações que envolvam os alunos num relacionamento de colaboração, tolerância e valorização das diferenças.

Beaudoin et al argumenta a partir de uma metáfora, a necessidade de se diminuir as tensões em sala e criar uma consciência do que o bullying pode trazer para sua vida e a dos colegas.

Uma boa metáfora para ilustrar a importância desse processo conjunto é imaginar o cultivo de uma flor preciosa na escuridão de uma floresta. Você pode empregar todas as melhores atividades do mundo para promover o crescimento dessa flor – como a irrigação, a fertilização e a limpeza -, empenhando-se nesse trabalho com devoção. No entanto, no final, a flor não irá crescer enquanto o ambiente continuar sem condições de sustentar esse desenvolvimento (2006, p. 146).

A metáfora é usada para salientar um projeto desenvolvido em uma escola onde procuram com uma ação conjunta entre professores e alunos sanar o desrespeito e bullying. Indicam aos alunos os efeitos desastrosos que o bullying traz para a vida de cada um, seja vítima, agressor ou espectador.

É imprescindível que os professores tenham formação e informação adequadas para tratar das situações de desrespeito e incivilidades, que podem levar ao bullying, a fim de evitar e prevenir essas situações.

Conforme Pingoello e Horiguela (2008, p. 642)

Expor o docente ao enfrentamento da violência escolar sem um conhecimento prévio de como ela se constrói, se propaga e quais os métodos mais adequados para seu combate e prevenção, é entregar o professor à própria sorte, deixando margens para que ele tome decisões pessoais que podem ser baseadas na sua própria vivência escolar, na sua experiência familiar ou na intuição, sendo que, em todos os casos, os resultados podem ser tão inesperados como inesperados podem ser as atitudes tomadas por cada professor.

Assim, para o auxílio ao enfrentamento da violência escolar, em especial ao bullying, o Núcleo de Estudo do Direitos e Deveres da Infância e da Adolescência (NEDDIJ) elaborou um folder explicativo cuja intenção foi a de informar e formar os professores em seus direitos e deveres para com os direitos e deveres dos alunos (conforme figura 1).

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Figura 1. Folder ECA para Professores e Alunos (2012) Fonte: NEDDIJ (2012).

Este folder visou esclarecer algumas dúvidas que pairavam sobre as discussões realizadas com os professores neste projeto. Nele é apresentado também o fluxograma do sistema de garantias e direitos, cuja intenção foi a de promover maior clareza a quem recorrer nos casos percebidos na escola.

A distribuição é gratuita e sugerida em todas as escolas participantes.

Considerações Finais

A carência em informações deflagra o despreparo dos professores em lidar com situações de violências em sala, ficando os mesmos a mercê da própria sorte.

Verificou-se que os professores idealizam sua turma. Porém, devido à grande diversidade de informações que recebem diariamente de outros meios de informação, o que se percebe é que para muitos alunos a escola torna-se cansativa – o que pode gerar precedentes para as diversas formas de violências e incivilidades.

Muitos professores queixam-se da falta de interesse nas aulas, dos alunos que parecem estar desligados do mundo escolar, da falta de atenção, da falta de respeito. No entanto, não

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procuram muitas vezes agir com ações que promovam um comportamento mais saudável por parte de seus alunos.

Defendemos que uma parcela de responsabilidade nesta situação é do professor. Assim, cabe a ele promover o desenvolvimento das habilidades de seus alunos, tornando as aulas convidativas ao saber. Para isso, acreditamos que o professor deve ter suporte e capacitação pedagógica para haver mudanças nas relações interpessoais e no papel da escola em sua vida e na dos seus alunos.

Aliás, cabe a todos os envolvidos, refletir sobre a função social da escola e, sobremaneira, a função social do professor em sala de aula. Assim, ao apurar seu senso investigatório e nutrir seu conhecimento sobre o que é bullying, o que é violência e qual é a diferença entre indisciplina e ato infracional, o professor desenvolve uma nova maneira de encarar o panorama apresentado na escola hoje em dia.

REFERÊNCIAS

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Referências

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