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Dos Movimentos Sociais aos coletivos no Século XXI: as horizontalidades dentro das verticalidades? 1

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Academic year: 2021

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Dos Movimentos Sociais aos coletivos no Século XXI: as

horizontalidades dentro das verticalidades?

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Wagner Maia da Costa

(Doutorando em Ciências Sociais - PUC-RIO)

Resumo

Este trabalho tem como objetivo, aferir a importância dos diversos coletivos que atuam na cidade do Rio e regiões adjacentes, suas expressões na democracia, demandas, lutas e diferenciações aos clássicos, novos e novíssimos movimentos sociais. Para tanto, o artigo lança duas perguntas chaves que serão respondidas ao longo do trabalho, com pretensões a contribuir nas discussões atuais e acrescentar em um grupo de pesquisa (Sociedade Civil e Participação no Brasil Contemporâneo: o fenômeno dos coletivos), coordenada pelo professor Drº Fernando Lima Neto, do (Departamento de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Puc-Rio). As perguntas seguem as seguintes ordens: a) o que são coletivos e o que fazem deles, diferentes dos já tradicionais, clássicos, novos e agora novíssimos movimentos sociais (GOHN, 2019)? b) a ideia de confiança pode ser um elemento agregador para uma suposta horizontalidade e hierarquias momentâneas dentro dos coletivos?

As perguntas que norteiam o artigo parecem mais complexas que os limites deste trabalho introdutório. Para respondê-la, recorrerei a crescente literatura sobre coletivos e, uma já consolidada dos movimentos sociais. Tomarei como notas explicativas, algumas respostas e percepções que tenho feito, pesquisando atores de diversos coletivos na cidade do Rio e regiões adjacentes, mas, devo lembrá-los que diante do estágio em que se encontra a pesquisa, restrinjo a somente 10 atores de três coletivos diferentes. A pretensão, é aferir a seguinte hipótese: assim como Pierre Clastres encontrou diferenciações na ideia de hierarquias dentro das sociedades que tinha como princípio noções contra Estado, é possível encontrar semelhanças em sociedades com Estado, pesquisando a noção de confiança dentro dos coletivos que têm como pressupostos, horizontalidades com hierarquias momentâneas. O artigo, não pretende achar respostas conclusivas, mas, contribuir com as discussões sobre os diversos coletivos nas grandes cidades como as do Rio, e os desafios nas democracias do século XXI.

Palavras Chaves: Coletivos, movimentos sociais, democracia, confiança e horizontalidade.

1 44º Encontro Anual da ANPOCS. SPG30 - Movimentos Sociais no Brasil Contemporâneo: contramovimentos,

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Introdução

Aos analistas das ciências humanas e não menos das ciências naturais, há um consenso sobre a singularidade do século XXI em relação aos demais séculos passados. Ao término da segunda década do novo milênio, percebemos que produzimos informações jamais vistas anteriormente, imagens em terabytes, diversas reuniões com grupos de pessoas que tem trazido grandes desafios para os cientistas sociais a interpretá-los e compará-los aos já consolidados grupos como movimentos sociais, ongs, por exemplo. As novas formas de mobilizações que tem ganhado atenção dos diversos cientistas sociais no mundo, e que pretendo estudar, levam o nome de coletivos, que para a pesquisadora Claudia Paim, são:

“os agrupamentos de artistas ou multidisciplinares que, sob um mesmo nome, atuam propositalmente de forma conjunta, criativa, autoconsciente e não hierárquica...” (PAIM, 2009. Página 11).

Os motivos e características que tem levado muitos artigos, revistas e periódicos, dissertações, livros e teses acadêmicas, a estudarem este fenômeno, são diversos. Desde reuniões de pessoas com repulsa a hierarquias e direções verticalizadas, um valor nas ações horizontais, pautas diversas em um só grupo, efemeridade e principalmente uma valorização as autobiografias como motores das lutas sociais, fizeram dos coletivos, algo bem diferente dos chamados movimentos sociais tradicionais, novos e novíssimos, além das ongs e demais grupos de pessoas que se reúnem com pautas em comum. (PAIM, 2009; QUEIROGA, 2012; DUARTE E SANTOS, 2013; THATSCHIK E FREITAS, 2011; LIMA, 2015; GOHN, 2014; 2019; MAIA, 2013; MESQUITA, 2008).

É neste cenário comparativo entre coletivos e movimentos sociais, que dedicarei meu estudo a contribuir com diversos outros trabalhos que tem colocado em par de tensões no século XXI, principalmente pós junho de 2013, (GOHN, 2014; 2019) com os chamados boom dos coletivos e outros grupos de pessoas que se juntaram trazendo novas mudanças, pautas e desafios. Por conseguinte, em busca de contribuir, tracei duas perguntas chaves que podem revelar bons elementos interpretativos tanto sobre coletivos, tanto quanto sobre movimentos sociais, suas divergências e convergências. As perguntas seguem as seguintes ordens: a) o que são coletivos e o que fazem deles, diferentes dos já tradicionais, clássicos, novos e agora novíssimos movimentos sociais (GOHN, 2019)? b) a ideia de confiança pode ser um elemento agregador para uma suposta horizontalidade e hierarquias momentâneas dentro destes coletivos?

É notório esclarecermos a complexidade das perguntas em relação as limitações que temos diante de um artigo científico, que faz parte de uma análise introdutória a uma grande

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pesquisa sobre (Sociedade civil e participação no Brasil contemporâneo: o fenômeno dos coletivos na cidade do rio), ainda em andamento, no Departamento de Ciências Sociais conduzida pelo professor Drº Fernando Lima Neto. A pesquisa tem pretensões interessantes, busca entrevistar através de questionários semiestruturados, com 50 questões cada, e entrevistas em profundidades que podem somar mais de 100 atores de diversos coletivos na cidade do Rio de Janeiro e adjacências. Esta nota introdutória, esclarece que a pesquisa é mais complexa que os limites que temos neste artigo, mas, pode-se contribuir nos estudos da contemporaneidade. Sendo assim, há de se testar a seguinte hipótese: assim como Pierre Clastres encontrou diferenciações na ideia de hierarquias dentro das sociedades que tem como princípio noções contra Estado, é possível encontrar semelhanças em sociedades com Estado, pesquisando a noção de confiança dentro dos coletivos que têm como pressupostos, horizontalidades com hierarquias momentâneas, rodízio de lideranças, fragmentações, autobiografais como motores de suas histórias.

Na hipótese trabalharei com o conceito de confiança como elemento agregador tanto na durabilidade dos coletivos, tanto quanto no sentido de condução deles, diante da efemeridade que eles possuem. Ao conceito de confiança, buscarei bases teóricas em dois autores clássicos das ciências sociais. De um lado, o estudo de Charles Tilly, em seu livro (Democracia). Nosso autor dedicou toda uma análise sobre os processos de democratização e desdemocratização em sociedades ditas democráticas. Seu conceito de confiança, nos ajuda pensar os graus variados de democracias em que as sociedades se encontram.

Outro pensador importante ao nosso estudo, será Robert D. Putnam e seu livro (Comunidade e Democracia. A Experiência da Itália Moderna), suas ideias de comunidades e democracias, onde a noção de créditos rotativos e capital social, como diferenciadores no processo de confiança ou de desconfiança em uma democracia, podem nos ajudar a pensar na importância da noção de confiança em nossas vidas.

Nos interessa o conceito de confiança como elemento importante em nossos estudos, pois acredito que ele possa ser um dos elementos agregadores em ambientes como os de coletivos que são bastantes efêmeros. Aos leitores deste artigo, deixo um esclarecimento, algo que tenho feito desde as linhas iniciais, de que não pretendo esgotar o assunto sobre os diversos conceitos aqui trabalhados, muito menos o de confiança, os autores são importantes na linha interpretativa que tenho feito nos estudos sobre coletivos.

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Sabe-se hoje com grande clareza, que vem de longa data atuações dos chamados movimentos sociais. Os especialistas vinculam a temática junto ao surgimento da sociologia no século XIX, que segundo Gohn, (2014), era tratado como verbetes dos estudos sócio-políticos. O termo movimento social era visto e associado aos distúrbios populares, que vinculados a massa com comportamentos irracionais, foi assim tratado pelos intelectuais no final do século XIX e início de século XX. Lorenço Von Sten, foi um dos primeiros teóricos a utilizar o termo movimento social em 1842. Os estudos de Gohn, (2014), demonstram que as ambições deste pesquisador, eram as de criar uma ciência social dedicada aos estudos sobre socialismo emergente da França naquela época. Nas primeiras décadas do século XX, Herbert Blumer foi figura central nas pesquisas relacionadas aos movimentos sociais. Credita-se a ele, em 1939, o primeiro a formular o termo movimento social na produção teórica. Abordando as estruturas e os funcionamentos, refletidos sobre o papel das lideranças nessas ações coletivas. Destaca-se ainda, na década de 1951, a contribuição de Rudolf Heberle como um dos primeiros pesquisadores a publicar um livro (Social Movements: An introduction to Political Sociology), que trazia como título o conceito de movimento social (GOHN, 2014).

Entretanto, em matéria de uma teoria sistematizada, Gohn (1997; 2014), destaca a década de 1960, como sendo crucial para as noções que temos sobre movimentos sociais e suas diversas características de lutas nas sociedades da época. As grandes viradas sociais dos anos 1960, foram fundamentais para as teorias, lutas e principalmente institucionalizar as pesquisas sobre movimentos sociais, (GOHN, 2014). Nossa autora, destaca três correntes na consolidação dos movimentos sociais na teoria ao longo do século XX. A primeira corrente, era chamada de teoria histórico-estrutural, esta foi claramente influenciada pelos estudos de Karl Marx e as lutas da classe operária do final do século XIX e início do século XX. A segunda corrente, leva o nome de teoria culturalista identitária que ganhou força depois da década de 1960, com pautas diversificadas e influências que vão desde o idealismo Kantiano, do romantismo rousseauniano, até as teorias utópicas e libertárias do século XIX. A terceira corrente é denominada por Gohn (1997, 2014), como institucional/organizacional-comportamentalista, desenvolveu-se basicamente nos Estados Unidos, mas, ganhou grandes adeptos no restante do mundo.

A década de 1970, foi importante aos novos estudos nos chamados terceiro mundo, em especial na América Latina. O Brasil foi um dos primeiros a absorver as diversas teorias já consolidadas nos grandes países industrializados do Norte. Nos anos 1980/90, foram as ONGS, que entraram no cenário das grandes transformações, competindo nos espaços e arenas públicas, dentro ou em paralela disputa com outros movimentos, aos aparelhos do Estado (GOHN, 2014; 2019). No final do século XX e início do XXI, novas teorias, como as do reconhecimento social

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em Axel Honneth, (2003); Nancy Fraser (2001/2007) e Boaventura Sousa Santos nos anos (2000), trouxeram grandes desafios para teoria social e a nova era que estava por vim no novo milênio. Principalmente através dos movimentos globais, que conseguiram encurtar e aproximar atores em diversos países no mundo. A exemplo, temos o Fórum Social Mundial, já com diversas edições (GOHN, 2014; 2019; BRINGEL e Domingues, 2019; PRECIADO e Uc, 2019).

Entretanto, depois desta breve introdução sobre os movimentos sociais ao longo das décadas e séculos, fica-nos uma grande pergunta, o que são movimentos sociais e o que fazem deles, diferentes dos coletivos no século XXI? Ao iniciarmos as explicações, vamos pegar a definição de Maria da Gloria Gohn, do que considera movimento social. Para Gohn, (2014) um movimento social é a expressão de uma ação coletiva, decorrente de uma luta sócio-política, com adversários definidos, além disso, possui liderança verticalizada e com ideias em igualdade de proporções verticais, tendo nos direitos humanos, sua base de luta.

“Um movimento social é sempre expressão de uma ação coletiva e decorre de uma luta sociopolítica, econômica ou cultural...” (GOHN, 2019. Página 14).

Ela separa os movimentos sociais em paradigmas, sendo o primeiro, como paradigma clássico, com bases revolucionárias dos movimentos operários europeus do século XIX. Neste estudo, Marx é a grande referência e as classes sociais, o motor nas mudanças (GOHN, 1997). Estudos com essas bases teóricas, vão até o final da década de 1950. Nos anos de 1960, entram em cena, o que a autora chama de novos movimentos sociais, neste paradigma, as lutas identitárias caracterizadas dentro da modernidade, são de extrema importância para as mudanças sociais, (MELUCCI, 1989; GOHN, 1997; 2014; TOURANE, 2003; 2006, apud PEREZ e Souza, 2017).

Dentre os teóricos destacados, ênfase aos estudos pioneiros do italiano Alberto Melucci na década de 1970/80. Ele captou as mudanças nos movimentos sociais e suas relações com o Estado. Para ele, era diferente as demandas identitárias que estavam sendo trazidas por esses novos atores. Perez e Sousa, (2017), consideram que Melucci, (1989) entende movimento social como uma ação coletiva baseada no conflito, atores opostos, lutando por um mesmo recurso. Alberto Melucci, (1989), foi além, viu nos movimentos sociais dos anos 1970/80, uma recusa a centralização do poder e pautas verticalizadas. Para ele, as novas formas de ações coletivas, na década de 1970, já não cabiam nos movimentos sociais tradicionais.

“Nos últimos vinte anos surgem novas formas de ação coletivo em áreas anteriormente intocadas pelos conflitos sociais...” (MELUCCI, 1989. Página, 1).

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“(...) Os conflitos saem do tradicional sistema econômico-industrial para as áreas culturais: eles afetam a identidade pessoal, o tempo e o espaço na vida cotidiana, a motivação e os padrões culturais da ação individual...” (MELUCCI, 1989. Página 10).

Os estudos de Melucci, (1989) na década de 70 foram fundamentais para o surgimento do que os autores europeus consideraram novos e depois novíssimos movimentos sociais. A década de 1990 e 2000, com fortes crises das relações entre Estado e movimentos sociais (PRECIADO e Uc, 2019), cresceu uma repulsa as ideias centralizadoras, e uma maior aceitação as horizontalizadas nas ações sociais. Soma-se a isso, uma maior aceitação as autobiografias dos atores que estão na linha de frente das causas sociais (PEREZ e Sousa, 2017). Na América Latina e principalmente no Brasil que teve seu boom dos movimentos sociais nos anos 1970, quando chegaram aqui, já possuíam diversas características e tendências as horizontalidades (PEREZ, Sousa, 2017).

A era da globalização no final do século XX e no novo milênio, trouxe o termo novíssimos movimentos sociais e suas lutas. No Brasil, destaca-se o trabalho da pesquisadora e professora Maria da Gloria Gohn, (2014; 2019), como uma influência nos estudos deste conceito. Para os pesquisadores Breno Bringel e José Maurício Domingues, professores do Iesp-Uerj, esta nova era sobre os estudos dos movimentos sociais que tem heranças que vão desde Karl Marx, até Axel Honneth, tem tido grandes dificuldades na década atual em articular a teoria junto com a empiria. Ainda segundo os autores, os estudos de hoje, tem privilegiado as autobiografias, com empiria, mas, esquecido os grandes nortes teóricos. Como uma interessante saída, eles propõem uma retomada dos estudos sobre teoria, pegando-se também, autores que não somente a ceara europeia. O objetivo é fugir do que eles consideram, ocidentocentrismo e eurocentrismo. Uma reconstrução entre teoria crítica e os movimentos sociais com seus novos atores, talvez seja, um dos primeiros passos, mas, super importantes na contemporaneidade, afirmam nossos autores.

Os caminhos de intersecções propostos por autores como Escobar (1992) e Ray (1993) para renovação dos vínculos entre a teoria crítica e os estudos dos movimentos sociais pode ser sugestivo, ainda que represente somente um primeiro passo para além do qual precisa avançar... (BRINGEL e Domingues, 2019. Página, 71).

O novo século e milênio, trouxeram desafios aos estudos empíricos e teóricos na ciência mundial. Céli Regina Jardim Pinto, faz uma pergunta em seus estudos sobre os movimentos sociais, crucial nas interpretações da atualidade. Ela se questiona na possibilidade de estamos vivendo uma nova forma de se fazer política, diante dos grandes acontecimentos. Segundo a autora, ao longo da história dos movimentos sociais, sempre houve uma tensão entre esses e o

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Estado, mas, que nos anos 2000 e principalmente pós 2011, há fortes indícios de que estamos diante de novos fenômenos com qualidades diferenciadas. Exemplificando ela pega protestos como os que aconteceram na Primavera Árabe no Oriente Médio, os indignados na Espanha; o caso dos estudantes no Chile. Esses protestos têm muito mais a nos dizer, do que ficarmos presos a uma velha maneira de analisar os movimentos sociais (PINTO, 2019).

O século XXI com esses desafios, nos dá novas empreitadas em tentar entender o que os pesquisadores tem considerado como os novíssimos movimentos sociais, grupos chamados movimentalistas, autonomistas, que segundo Gohn, (2019), podem ser encontrados resquícios nos anos 1960, mas, que ganharam espaços, pelo menos um desses, pós 2013. Destaca-se também, os chamados coletivos, atores que se juntam com valores horizontais, sem “hierarquias”, diversas pautas em um só grupo e grandes focos nas autobiografias como motores de suas próprias histórias (GOHN, 2014; 2019; PEREZ e Sousa, 2017).

1. 2. Os Coletivos, as Novas Horizontalidades dentro da Verticalidades na Democracia.

Ao chegarmos no final da segunda década de 2000, não é difícil perceber que os fenômenos dos coletivos têm ganhado cada vez mais expressividades tanto em vias numéricas, tanto quanto em variedades de lutas sociais. Os tipos deste fenômeno podem ir desde coletivos de mulheres, passando por negros, lgbt+, artes, meio ambiente, fotografia, saúde mental, até os coletivos de grandes empresas comerciais, que por assim dizer, este último não é objeto de nosso estudo, por se tratar de características diferentes do que consideramos em nossa pesquisa como coletivo. Por isso, diante da grande variedade e complexidade do tema, é notório que devemos considerar o que a literatura tem dito sobre o assunto, as pesquisas recentes e as pioneiras no início dos anos 2000, e compará-los ao que temos encontrado em nossas pesquisas hoje. Este será um dos objetivos nos parágrafos seguintes.

A pesquisadora Claudia Paim é uma das grandes referências nos estudos sobre coletivos no Brasil. Sua tese defendida em 2009, ainda serve como base a quem busque fonte inspiradora para tentar entender este fenômeno efêmero, mas, bastante significativo nas grandes cidades. Ela tem sido citada em diversas teses, dissertações e artigos acadêmicos. Em sua pesquisa, foi buscar como questão central, os modos de se fazer como coletivo de artes. Sua pergunta mestra gira no entorno de: por que os jovens se agrupam ou tem a necessidade de agrupar-se em coletivos, para atuar, refletir e buscar visibilidades na sociedade em que vivem? Como hipótese, ele sugere que os modos de agirem são heterogêneos e bastante responsivos aos seus contextos. Os atores, atuam em diversos espaços, reconfigurando a própria noção de espaço

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com seus ativismos políticos. Os espaços, agora não mais centralizados como se fazia nos movimentos sociais tradicionais, onde o físico era central na construção das atividades, (privilégio esse que também tem sido questionado pelos próprios movimentos sociais), mas, que nos coletivos, já vem embutidos na sua própria crítica e maneira de fazer/agir (PAIM, 2009; GOHN, 2019).

Mas, como em todas as pesquisas é possível encontrar obstáculos difíceis de serem ultrapassados, não foi diferente com o trabalho de Paim, (2009). Ela não encontrou grandes pesquisas teóricas que conceituassem melhor os coletivos. Nos seus estudos e até mesmo nas pesquisas mais recentes, há uma dificuldade nas definições do conceito de coletivo, (PEREZ, Sousa, 2017), essa novidade, foi importante para ela não conceituar e escutar o que os atores consideravam sobre o tema e como eles se autodenominavam. Muitas das pesquisas literárias que tenho feito têm aplicado as mesmas formas que Paim, (2009), por considerarem ainda não solidificada as definições de coletivo. Segundo os pesquisadores Olívia Cristina Perez e Bruno Mello Souza, as pautas sobre os coletivos, ainda encontram grandes dificuldades na conceituação do tema não só no Brasil, como em outros países. Eles também têm utilizado os mesmos métodos que Paim, (2009), deixando os atores se auto denominarem.

Entretanto, a pesquisa de Perez e Sousa (2017) na cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, traz elementos novos e consistentes. Eles pesquisaram cerca de 21 coletivos que atuam na cidade, com iniciativas nas universidades, grande quantidade nas artes, e principalmente nas redes sociais e mídias digitais. Eles também pesquisaram cerca de 1027 coletivos, sendo que, a metodologia excluiu alguns que não se encaixavam na pesquisa, sobrando cerca de 725 coletivos que possuem uma página na maior rede social até então no Brasil, (Facebook).

O resultado desta grande pesquisa foi o encontro de características de clivagem social, como gênero, etnia e orientação sexual, onde dividiram em sete tipos diferentes de coletivos: (coletivo de artes; universitários; coletivos que discutem marcadores sem ligação com a universidade; coletivos de promotores de eventos; coletivos ligados a partidos e movimentos estudantis; coletivos que atuam com causas sociais e coletivos empresariais). Encontraram também, pontualidade nas ações temáticas e formas estratégicas de ocupar o espaço, físico e principalmente virtual. O mais interessante na pesquisa destes intelectuais, foi a ideia de não hierarquia, defendida por outros pesquisadores como (MESQUITA, 2008; THATSCHUK, Freitas, 2011; LIMA, 2015; GOHN, 2019) e na maioria da literatura sobre o assunto. Nas pesquisas aprofundadas e com grande mapeamento nas redes sociais, eles encontraram diversos coletivos com algum tipo de hierarquia e nem sempre horizontalidade nas ações.

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Para Perez e Sousa, (2017), assim como Gohn, (2019) tem ratificado em seus trabalhos acadêmicos, é preciso pesquisarmos mais, antes de fazermos tais afirmativas de horizontalidade, sem hierarquias nos coletivos. Tenho utilizado algumas das metodologias que Perez e Sousa, (2017) fizeram em suas pesquisas em Teresina e até o exato momento desta escrita, encontrei cerca de 350 coletivos no Estado do Rio de Janeiro, que possuem páginas nas redes sociais, em específico no (Facebook). Os dados ainda não foram analisados cuidadosamente, mas, tenho encontrado semelhanças quanto as 10 entrevistas de profundidade que fiz nos coletivos na cidade. Nas minhas entrevistas, alguns atores têm demonstrado a necessidade de uma certa hierarquia dentro do grupo, mesmo, que essa hierarquia seja momentânea, para algo específico e não tenha muita autoridade sobre os demais componentes, como me disse um entrevistado de um coletivo sediado na UERJ, segundo ele, o que chama de “hierarquia de guia”, é importante para manter o grupo coeso, isto não quer dizer que será este o detentor da hierarquia, quem vai decidir os feitos do grupo, ele será mais um conselheiro, um guia e não um dono.

Qual é a descrição do seu coletivo?

A descrição é o que estar aqui no facebook, (somos um coletivo fotográfico com professores e alunos da UERJ para refletir os movimentos sociais no Rio de Janeiro), aí é isso, (risos). Cara, se você precisar de alguma resposta oficial, assim, a gente não tem nada organizado em si, eu sinto uma falta de organização, está cada um por si, (mas, você não acha se estivesse organização não teria hierarquia?) teria, (Isso é bom ou ruim?) depende, (Por que depende?), depende de como a hierarquia é dada, se for uma hierarquia de total subordinação eu acho ruim, mas, se for uma hierarquia de guia, eu acho legal. (Como seria uma hierarquia de guia?), é o que fala, acho que aqui é o melhor caminho, vamos tentar por aqui por que acho que vai dar certo, antão vamos dividir, você pro aqui, vocês vão por ali e aí a gente descobre qual é o melhor caminho. Para ter uma organização mais conversada. Eu quero ir para lá, aí o guia sugere, você vai para lá e você para cá, mas, eu quero ir para lá, então vai, vai. (É um guia que dar muito mais conselho que orientação?), é isto daí mesmo. (Entrevista concedida na UERJ em 07-10-2019).

A resposta anterior, nos dar elementos a questionar sobre a não hierarquia dentro deste coletivo, para além disso, as autobiografias, podem nos revelar outras maneiras de se tratar hierarquias, como bem disse meu entrevistado, uma “hierarquia de guia”, que dar mais conselho que ordem. As pesquisas focadas em autobiografias, vem de longa data, principalmente quando se juntam em coletivos. Para Eduardo Queiroga, pessoas que se juntam em coletivos para promoverem alguma mudança na sociedade, vem desde a Revolução Francesa em 1789, entretanto, ele ver mudanças nas ações dos atores do século XXI. Esses atores estão muito mais focados em ativismo político, com diversas fontes de proliferação dos seus conteúdos. Ainda segundo Queiroga, (2012), a utilização da internet, os grandes meios de comunicação e principalmente com as mídias não tradicionais, as chamadas (mídias independentes), tem sido canais de proliferação dos conteúdos. São atores que agem dentro da sociedade cada vez mais

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conectados a uma cultura da convergência (JANKINS, 2009), e suas redes de relações sociais, (CASTELLS, 1999).

Nas pesquisas recentes, destacam-se os trabalhos de Maria da Gloria Gohn em estudar os novos e novíssimos movimentos sociais no século XXI. Gohn, (2019) dedicou em seu último livro publicado, um grande esforço a compreender a noção de participação desde as décadas de 1960, até os dias atuais. Mas, atenho-me no terceiro capítulo (Participação e protestos nas ruas brasileiras: de junho de 2013 a junho de 2018), onde nossa autora dedica uma parte importante sobre o que consideramos como coletivo e do porquê não podemos confundi-los com os chamados movimentos sociais. Nosso artigo parte também deste pressuposto de que não podemos juntar os dois tipos de ações em uma só, são características e maneiras diferenciadas de agir na sociedade.

O capítulo três é enfático ao ratificar que, de 2013 até 2018, tem sido expressivo no entendimento dos novos e novíssimos movimentos sociais e outros atores na sociedade. As características que fazem desta década referência nos estudos contemporâneos, tem levado cada vez mais autores a tentar entender este ciclo e seus turbilhões de informações, ações, tomadas e retomadas dos atores sociais. Mas, essas mudanças não vêm de agora, segundo Gohn, (2019), desde os anos 1990, os movimentos antiglobalização entraram em cena e tornaram-se objetos de pesquisas, (BRINGEL e Domingues, 2019; PRECIADO e Uc, 2019; GOHN, 2019), também vão nesta direção. Mas, é Céli Regina Jardim Pinto que faz uma análise contundente sobre o diferencial desta década. Para ela, é possível que estejamos diante de uma nova forma de se fazer política desde 2011, que se antes, os movimentos sociais tinham o Estado como inimigo central, ou detentor dos aparatos de fortalecimentos das ações dos atores, com o século XXI, as seguidas crises de representatividade, colocam em xeque esta relação e abre caminhos para outras horizontalidades nas ações.

Maria da Gloria Gohn, (2019), admite que desde 2010, mudou-se o foco dos sujeitos e suas ações coletivas. Esta mudança vem ocorrendo desde o surgimento do Fórum Social Mundial nas décadas anteriores, com fortes articulações entre os movimentos sociais no plano internacional. O surgimento dos indignados diante de uma forte crise do capitalismo em 2008, chega ao Brasil em 2013, contra políticas asfixiantes da globalização. No mundo, destacam-se os ativistas na Primavera Árabe, o movimento Occupy nos Estados Unidos, na América Latina, tem-se a Venezuela, a Colômbia com os indignados, no Chile os estudantes tomam as ruas, movimento que serviu como exemplo nas ocupações das escolas no Brasil em 2015/16 (GOHN, 2019). Em 2013, os protestos chegam ao Brasil como descontentamento no transporte público

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(aumento da passagem em São Paulo), mas, generalizou para 12 capitais e mais outras tantas cidades de grande, médio e pequeno porte. Algumas como Rio e São Paulo com mais de 1 milhão de manifestantes nas ruas. Mas, o que tem em comum estes protestos mundo a fora?

Os pontos de convergências que levaram multidões as ruas em todo mundo, tem em comum as convocações via redes sociais, a internet como grande motor impulsionador. Colaborado pelos grandes canais de mídias tradicionais, mais também fortemente alimentados por mídias ditas alternativas ou independentes, (caso dos coletivo independentes de mídia), comum nos dias de hoje. Destacam-se ainda grande participação dos jovens nos protestos e tomadas de ações, esses que se consideram ativistas e não mais militantes, (GOHN, 2019). Com fortes críticas as ações verticalizadas e adeptos das ações horizontais, atores com alto grau de escolaridade tem atuado neste cenário de lutas (GOHN, 2014; 2019).

Esta nova forma de fazer política principalmente pós 2013, trouxe a expressividade dos diversos coletivos, as manifestações de atores que se auto titulam movimentalistas, autonomistas e novíssimos movimentos sociais. Aqui nos interessa mais as definições sobre novíssimos movimentos sociais e os coletivos, mas, sabendo que os demais também têm sua relevância. Ao conceito de coletivo, Maria da Gloria Gohn, diz que:

(...) Os coletivos, ao contrário de movimentos ou outras formas mais tradicionais, são agrupamentos fluídos, fragmentados. Horizontais, e muitos têm a autonomia e a horizontalidade como valores e princípios básicos. (GOHN, 2019. Página 11).

Os coletivos são múltiplos, “não hierarquizados” em sua maioria, focam nas horizontalidades e se autodenominam ativistas. A efemeridade é outra característica fundamental nestes espaços, com pautas diversas num só grupo. Eles podem ser fechados ou abertos, e segundo Gohn, (2019), podem se tornar movimento social. Sendo assim, os coletivos criam fronteiras de ideias, valores construídos no dia a dia. Mas, Gohn, (2019) é consciente de que se precisa de muitas pesquisas teóricas e empíricas para melhor qualificar o que são, agem e atuam os coletivos na sociedade. Por consequência, outro incomodo encontrado em diversas pesquisas acadêmicas e levantada por Gohn, (2019), é que a maioria dos estudiosos tem focado nas análises empíricas e autobiografias dos atores, deixando-se de lado os grandes nortes teóricos. Os professores Bringel e Domingues, (2019) também tem levantado essa crítica de que os grandes nortes teóricos têm sido deixados de lado, diante da vasta empiria no mundo acadêmico. Por todo esse aparato acadêmico, Gohn, (2019), afirma ser um equívoco denominar os coletivos como movimentos sociais, pois, suas ações contêm elementos que destoam dos tradicionais, novos e novíssimos movimentos sociais.

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Diante dos argumentos levantados, por Gohn, (2019), e outros autores, corroboro com a afirmativa de que não podemos juntar coletivos com os chamados movimentos sociais, pois, suas características destoam em diversas maneiras. Ao respondermos a diferença entre coletivos e movimentos sociais, retornamos à segunda questão do artigo que é, a viabilidade do elemento confiança ser agregador para uma suposta horizontalidade e hierarquias momentâneas nos coletivos, sua durabilidade e ações dentro da democracia do século XXI.

2.1. Os Coletivos e a Confiança como Elemento Agregador dentro da Democracia do século XXI.

Um dos grandes desafios para este novo milênio é analisarmos o papel do Estado nas composições que esses novos atores dos coletivos, novos e novíssimos movimentos sociais, trazem a cena pública nas grandes democracias. Por longas décadas, nos grandes estudos sobre o papel do Estado na sociedade, este quase sempre interpretado como detentor do monopólio legítimo da força, (WEBER, 1982). Mas, o desafio no século XXI, principalmente com as chamadas crises de representatividade e atuação do Estado, é, como lidamos com essas relações diante desses novos atores? Para pensar alternativas, recorro aos estudos da segunda metade do século XX, de um dos antropólogos mais influentes deste século. Pierre Clastres foi o grande pensador das sociedades contra o Estado, seu livro A Sociedade Contra o Estado, de 1974, tornou-se referência e uma crítica da antropologia evolucionista, etnocêntrica que a Europa se constituiu.

A Sociedade Contra o Estado, é mais uma dessas grandes obras primas das ciências sociais, especificamente da antropologia que nos fez e faz ir além, da velha noção weberiana do Estado como detentor do monopólio legítimo da força e dos nossos etnocentrismos do dia a dia. Em seu livro, a noção de primitivo que por muitos antropólogos foi motivo de diferenciação entre evoluídos, (Europeus) e os em processo de evolução (indígenas), é reconfigurado como exaltação de uma cultura, que possui suas próprias metodologias e maneiras de se viver. Ao contrapor a velha noção de primitivos, Clastres, (2013) vai buscar o que levam essas sociedades serem diferentes e ou terem repulsa a noção de Estado?

Para Clastres, (2013), não se trata de evolução, mas, a não necessidade de se ter um Estado e ser contra a noção que as demais sociedades são primitivas. Para ele, o termo primitivo é visto de maneira positiva e com isto, foi buscar como as relações de poder e as hierarquias são divididas em uma sociedade contra o Estado? Nas pesquisas feitas em três momentos distintos, a primeira com os índios Guayakis entre 1963 e 1964, a segunda junto com os Guaranis entre 1965/1966 e por fim, uma passagem nas tribos Chulupi, no Chaco paraguaio

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entre 1966 e 1968, deram consistências ao que Clastres considera noção de chefe para esses habitantes.

O chefe de uma determinada tribo, não o é porque ele quer, mas, o coletivo o colocou neste status. Ele é um guia nos momentos de guerra, serve para apaziguar algum conflito dentro da tribo não resolvido, nunca ditar regras, não toma decisões baseadas em seus preceitos, mas, no que o coletivo decide. Ele é um orientador nos momentos difíceis. Como em momentos de guerra, depois, seu poder é destituído e o coletivo detêm o poder novamente, se insistir, o chefe é deixado de lado. Mas, como em qualquer estudo, há críticas a maneira de se pesquisar e as metodologias utilizadas por Clastres.

As principais críticas que Clastres teve dos seus adversários, estavam na relação demográfica, ele mesmo admitiu em suas linhas finais, a dificuldade neste processo, em sociedades mais extensivas. A probabilidade de se ter um Estado ou não, está preso no tamanho em que a sociedade vive. Fica-nos uma pergunta, como pensar a horizontalidade em uma sociedade com Estado? Neste sentido, proponho que o elemento confiança contido nas ações dos coletivos, pode ser um primeiro passo para o entendimento das horizontalidades e durabilidades destes coletivos em uma sociedade verticalizada com Estado.

Ao chegarmos nesta parte final do artigo, já podemos afirmar o grande desafio que as chamadas democracias têm em lidar com os grandes fenômenos e atores com suas ações. Vez por outra, intelectuais conceituam a democracia como melhor palco para esses fenômenos, embora, dependendo do grau de democratização, essas ações podem ser dificultadas. Este artigo não tem no foco principal a democracia, mas, como o elemento confiança pode ser um agregador em durabilidade das diversas ações, fenômenos e até mesmo regimes em democracias distintas. Para juntar democracia e confiança, recorro aos estudos de Charles Tilly, (2013), e sua brilhante análise de como uma democracia pode passar em processos distintos, de democratização para desdemocratização, ou o contrário, dependendo de quais elementos utilizamos para qualificá-la.

A formulação de sua teoria de que, não se trata em buscar qual país é democrático e qual não é, foi feito através da leitura de uma grande empresa, sediada nos Estados Unidos, responsável pela qualificação de nível de democracias em diversos países no mundo. A (Freedom House), analisa através de alguns critérios se um país pode ser considerado ou não democrático. Os elementos podem ser resumidos em: 1) um sistema político multipartidário; 2) sufrágio universal para todos os cidadãos adultos; 3) eleições competitivas e regulares; 4) acesso público e significativos dos principais partidos políticos ao eleitorado, com participação

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dos meios de comunicação. São inúmeros outros elementos que não nos cabe analisar aqui, mas, esses mencionados são importantes para a teoria do nosso autor.

Segundo Tilly, (2013), pegando esses elementos e analisando dois países distintos, o Cazaquistão e a Jamaica, poderíamos segundo os dados da empresa qualificar um como democrático e o outro como não democrático. O Cazaquistão como não atendendo os critérios levantados, não seria democrático, já a Jamaica por atender, seria democrática. Para Tilly, (2013), é nesta relação que está a contradição, pois, apesar de atender os critérios, a Jamaica também comete várias ações que seriam contra o que consideramos governos democráticos, como alta taxa de homicídios, fraude nas questões de votos, perseguições aos homossexuais, ações de gags, pela Jamaica ser grande rota de fuga de cocaína para os Estados Unidos da América.

Para Tilly, (2013), uma democracia pode variar de um processo de democratização para desdemocratização em poucas décadas ou até mesmo em menor tempo. Os sinais que levam a uma democratização do processo, está nas aberturas das grandes consultas públicas, maior liberdade e transparências nos governos e a forma como os Estados lidam com demandas, protestos e críticas dos atores sociais. Já a desdemocratização acontece no contrário do mencionado. Assim:

(...) um regime é democrático na medida em que as relações políticas entre Estado e seus cidadãos engendram consultas amplas, iguais, protegidas e mais mutualmente vinculantes. A democratização então significa um movimento líquido na direção de consultas mais amplas, mais igualitárias, mais protegidas e mais mutuamente vinculantes, enquanto a desdemocratização significa um movimento líquido na direção de consultas mais estreitas, mais dirigidas, menos protegidas, e menos mutuamente vinculantes. (TILLY, 2013. Página 73).

Sabendo das grandes dificuldades que os Estados e democracias têm, em lidar com essas liberdades, Tilly, (2013), acredita que a confiança possa ser um elemento importante neste processo. O lugar da confiança e da desconfiança, faz com que as liberdades e participações dentro das sociedades podem variar. A confiança não pode ser entendida como um parâmetro individual, mas, um complexo de práticas e ações dos indivíduos em comunidade. Para Tilly, (2013), a confiança consiste em colocar um bem valioso sob a tutela de outrem, correndo o risco de não ser bem retribuído. Pessoas que confiam umas nas outras emprestando dinheiro, deixando sobre cuidados seus filhos, apesar desses riscos, o que ele chama de “redes de confianças”, contêm,

(...) conexões interpessoais ramificadas, constituídas principalmente por laços fortes, dentro dos quais as pessoas depositam recursos e empreendimentos valiosos, importantes e duradouros sob o risco das más ações, erros e falhas dos outros... (TILLY, 2013. Página 94).

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Percebemos as redes de confianças através dos direitos e deveres sendo aplicados em iguais proporções aos componentes desta rede, observar o número de pessoas ligadas direta ou indiretamente a esses laços de confiança, e como elas são construídas sob a tutela de fortes laços de pertencimento, e respeito as liberdades do outro, talvez seja um grande caminho.

Robert D. Putnam foi também ao lado de Charles Tilly, uma das grandes referências ao analisar a confiança nas democracias modernas. Seu estudo, focado na Itália moderna, averiguou qual o papel dos chamados créditos rotativos e capital social, nas comunidades democráticas, e como essas relações fazem com que uma democracia seja mais ou menos democrática. Sua principal busca em seus estudos que duraram mais de duas décadas, era avaliar por que alguns governos democráticos são considerados bons, e outros ruins? Além disso, se as instituições formais podem influenciar nas práticas políticas e de governos?

Os desempenhos institucionais, no pensamento de Putnam, (2006) estão na capacidade dos atores que tomam as decisões, agem em comum acordo e estão aptos a resolver suas eventuais discordâncias. Neste sentido, o sucesso das instituições, em Putnam (2006), leva-se em consideração três elementos cruciais: i) a continuidade administrativa, ou seja, a capacidade que os Estados têm em administrar e lidar com as diversas dificuldades em suas gestões. Em segundo elemento, estão as deliberações sobre políticas, levam-se em consideração, a participação da sociedade e a forma como essas deliberações são tomadas, principalmente a qualidade que elas têm, frente aos seus desafios. Por fim, as implementações em que as políticas estão diretamente relacionadas, frente a capacidade de um Estado conduzir seus negócios internos (RODRIGUES, 2010).

Para Putnam, (2006), quanto mais as comunidades forem de cunho cívico e respeitarem seus acordos mútuos, mas, eficazes serão os governos. Mas, ele crítica a ideia de que dependendo do grau de participação política, uma comunidade pode ser menos ou mais cívica. Para ele, não se trata de números, mas, a natureza desta participação. Para isto, ocorre mencionar nas relações de créditos rotativos e capital social, baseados na ideia de confiança. Os créditos rotativos podem ser desde dinheiro emprestados em pequenas comunidades, até as relações mútuas de compromissos e direitos dentro destes acordos. Esta premissa contraria a tese hobbesiana de que quanto mais coerção, mais confiança teremos na sociedade. A confiança em sociedades democráticas, está na ideia de cooperação entre as partes. O intuito do benefício mútuo, e na ideia de reciprocidade, que podem estimular a participação.

Para Putnam, (2006), quanto mais eficaz e sensível as instituições democráticas forem, melhores empregados estarão esses preceitos. Assim, ele, acredita que um fundo de crédito

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rotativo, pode ser crucial na solidificação de uma cadeia de redes de confianças. Quando vivemos normas de padrões sociais estabelecidas, cumprimos com os nossos compromissos, tendemos a ser mais cívicos. A confiança no pensamento do nosso autor, funciona como um bem público, mas, nem por isso, ela a torna cega, e em contextos das grandes comunidades modernas se estabelece através de duas fontes. De um lado, temos a reciprocidade balanceada, ou específica, quando estabelecemos uma permuta de igual valor. Já na segunda forma, temos a reciprocidade generalizada ou difusa, é quando já partimos do pressuposto de que as trocas terão desequilíbrios entre os acordos feitos. Essas regras são fundamentais para averiguarmos como a confiança é tão importante em sociedades, onde a clareza das regras, fazem com que a democracia se fortaleça.

O interessante tanto no pensamento de Tilly, (2013), quanto em Punam, (2006), é que a ideia de confiança se torna fundamental para o sucesso ou a transição da democratização ou desdemocratização. Não nos cabe trazer os conflitos e diferenciações entre os pensamentos dos autores, mas, constatar que a confiança tem parte fundamental nestes processos. Averiguaremos nos próximos parágrafos, o sentido que os atores dos coletivos têm tomado quanto a confiança em suas ações e formas de encarar suas representatividades.

2.2. A Confiança e as “Hierarquias de Guias” como elemento agregador nos Coletivos.

Delinear as partes finais deste artigo onde se compara os coletivos aos movimentos sociais, é traçar a necessidade em olhar os primeiros com lupa da confiança nas suas ações ditas horizontais, recusa as verticalidades e hierarquizações em tomadas de posição. Vimos que os coletivos têm sido tratados como agrupamentos de pessoas, geralmente jovens, (dados que ainda carecem de pesquisas aprofundadas), com alto grau de escolaridade, seu ativismo em pautas e suas autobiografias como motores das lutas (MESQUITA, 2008, PEREZ e Sousa, 2017; GOHN, 2019).

As pesquisas recentes têm trazido novos elementos (PEREZ e Sousa, 2017), onde a velha análise e até mesmo recente, sobre a não hierarquia dentro destes espaços, como primordial, tem sido questionado em alguns coletivos, já aparecendo algumas verticalidades. Nos parágrafos seguintes, traçarei algumas leituras que tenho feito através de 10 entrevistas que fiz, com atores de três coletivos na cidade do Rio. As entrevistas ainda estão sendo melhor investigadas, por tanto, trata-se de algumas leituras superficiais e nada em profundidade, mas, que tem revelado novos elementos neste estudo. As entrevistas fazem parte da pesquisa já mencionada neste artigo (Sociedade civil e participação no Brasil contemporâneo: o fenômeno

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dos coletivos), liderada pelo professor Drº: Fernando Lima Neto do (Departamento de Pós- Graduação em Ciências Sociais da PUC-RIO).

Em leituras introdutórias percebi que os atores têm a certeza de que os coletivos se diferenciam dos movimentos sociais por terem pautas mais horizontais e uma não hierarquia (liderança), que comanda as ações. Alguns dos entrevistados, disseram que a grande dificuldade dos coletivos, está em saber lidar com diversas pautas em um só grupo, que possuem a efemeridade como norte. Quando perguntados na pesquisa “No geral, você diria que é possível confiar na maioria das pessoas, ou você acha que é preciso ter algum cuidado quando lidamos com os outros?”, as respostas foram em maior percentual para (é preciso ter cuidado), com 7 pessoas optando por essa iniciativa, num total de 70%, contra 3 respostas (é possível confiar), somando 30% das respostas.

Paradoxalmente aos dados levantados anteriormente, quando perguntados sobre (Resuma em três palavras sua relação com o (s) coletivo (s) que participa), surgem como respostas, palavras que nos fazem refletir sobre a importância da confiança nos coletivos, tais como: trocas de apoio, amizade; confiança; solidariedade; respeito, carinho; companheirismo; sintonia; admiração; trabalho em equipe, etc. Quase todos os entrevistados mencionaram que há uma necessidade de confiar no grupo como forma duradoura de suas ações. Nas entrevistas em profundidades, ainda sendo transcritas, tem aparecido a necessidade de acreditar no feito do outro, apoiar suas investidas. Embora não se vejam corriqueiramente, possuem redes sociais e se falam pelo menos uma vez por semana, a efemeridade e a não presença física, coloca como encontramos na literatura, as redes sociais e a internet motores das lutas e reuniões destes coletivos (PAIM, 2009; QUEIROGA, 2009; DUARTE E SANTOS, 2012; THATSCHIK E FREITAS, 2011; LIMA, 2015; GOHN, 2014; 2019; MAIS, 2013; MESQUITA, 2008).

Os dados têm muito mais a nos mostrar sobre as características destes novos atores e os diferenciar dos já tradicionais, novos e novíssimos movimentos sociais. Uma forte recusa dos meios de comunicação tradicionais, tem aparecido com frequência nas pesquisas, em geral, os coletivos, tem encontrado meios ditos por eles como alternativos, (Mídias Independentes), como canais de proliferação das suas investidas. Os grandes canais de televisão como (GLOBO, SBT, BAND, REDE TV; RECORD, etc.) tem perdido espaço para as redes sociais e os grupos de mídias independentes. A força da internet e redes sociais, tem sido os verdadeiros canais a serem utilizados. Este fator, (que precisa ser melhor conceituado e estudado) ratifica a literatura que tem levantado a internet como grande caminho para divulgação destes coletivos (PAIM, 2009; QUEIROGA, 2012; DUARTE E SANTOS, 2013; THATSCHIK E FREITAS, 2011; LIMA, 2015; GOHN, 2014; 2019; MAIA, 2013; MESQUITA, 2008; PEREZ e Sousa, 2017).

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Por consequência, acreditar nas mudanças através de um ativismo consciente, também tem aparecido nas diversas respostas. A recusa a uma única pauta e privilégio a uma só clivagem, tem sido levantado pelos participantes dos coletivos. Assim, um único coletivo, como o que pesquisei, pode ter luta feministas, dos negros, lgbt+, movimentos sociais, educação, sem deixar de lado, a confiança no trabalho dos seus demais companheiros, como coloquei no meio deste artigo a resposta de um dos integrantes, onde a valorização a “hierarquia de guia”, dando ênfase aquele que sabe mais sobre o assunto, mas, sem o fazer dono do coletivo, tem aparecido sobre a tutela de outras palavras. Alguns atores, mencionaram que é fácil perceber quem conduz o coletivo, e que as vezes seja preciso ter alguém de frente, para conduzir as pautas, mas, confiando no que ele tem a fazer, sem dar a liberdade de tomar para si a centralidade do coletivo.

3.1. Considerações Finais.

Iniciamos este artigo, com objetivo de aferir a importância dos coletivos na democracia do século XXI. Lançamos duas perguntas para serem respondidas ao longo do artigo. A primeira direcionava na tentativa de entender o que são os coletivos e o porquê são tão diferentes dos chamados clássicos, novos e novíssimos movimentos sociais? Constatamos que se diferenciam por diversas características, mas, principalmente por terem a horizontalidade como base, recusa as hierarquias, apesar das pesquisas recentes ter encontrado coletivos que prezam por um certo tipo de hierarquia, o que tenho levantado como “hierarquia de guia”, expressão nativa, dita por componente de um coletivo que entrevistei no Rio de Janeiro. Eles são a maioria jovens, considerados como ativistas e não militantes, não tem um alvo em comum, mas, traçam um ideal, são mais preocupados em criar ideias novas, que fazem com que a sociedade reflita sobre suas ações em prol do futuro.

As afirmativas no parágrafo anterior, corroboram com minha hipótese de que, assim, como o pensador Pierre Clastres encontrou um tipo diferente de se ter hierarquias nas sociedades que tem como preceito ser contra o Estado, é possível encontrarmos em sociedades com Estado, formas outras de lidar com a ideia de hierarquia. Foi no elemento confiança que tentei encontrar sentido para durabilidade dos coletivos, já que a efemeridade é constante neste universo.

Por fim, ainda há muito a se investigar sobre os coletivos e movimentos sociais no estado do Rio de Janeiro e em grandes cidades pelo mundo. Por enquanto, acredito que os coletivos, tem trazido desafios para nossos tempos, questionando as noções de hierarquias, verticalidades, eles têm pautados em ações mais independentes e principalmente, a não necessidade de se ter um líder condutor das ações. Ainda há muitas lacunas não respondidas, que os limites deste trabalho não nos deram possibilidades, mas, parece ser convincente que estamos vivendo novas

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formas de relações sociais, disputas pelas cidades urbanas e principalmente engajamento político. Os desafios foram postos, cabe aos cientistas, aferirem as mudanças, permanências e novas questões sobre esse universo cada vez mais complexo e instigante para se pesquisar.

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Referências

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