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PLATÃO: CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO

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PLATÃO: CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO Carlos Eduardo Ribeiro Aguiar

Orientador: Prof. Dr. Paulo César de Oliveira – DFIME/UFSJ

Resumo: Platão, inspirando-se em Pitágoras, Dâmon e Sócrates, encontrou algumas contribuições da música na formação do cidadão grego ideal, sustentando que certos modos musicais influenciam diretamente na formação da personalidade do cidadão da república ou prejudicam essa formação.

Palavras–chave: música, formação, cidadão.

I. Introdução

latão concebia a realidade e a expressava através de uma tradição mitológica, em que acreditava nas divindades como seres regentes do mundo e de tudo que se encontrava nele.

A arte em Platão se encontrava ligada as questões relacionadas à ética e a política. Vendo a instabilidade da vida política grega, o pensador percebeu a necessidade de se buscar uma melhor formação ética para a sociedade, a fim de impedir que desejos individuais não sobressaíssem nas decisões políticas vigentes.

Para os gregos, tanto a música como as outras artes pertenciam à “arte das musas”, que eram conhecidas como seres celestiais, divindades que inspiravam as artes e as ciências. Essa crença dominou fortemente a sociedade grega até a difusão dos escritos de Pitágoras, que foi o primeiro pensador ocidental a sistematizar os sons naturais, a música.

Ele percebeu a existência de uma seqüência matemático-sonora na batida dos diferentes martelos do ferreiro, em que cada um tinha um peso específico. Dessa observação pôde construir um sistema musical que se baseava numa escala de quatro sons – o tetracorde. Percebeu também que da união de dois tetracordes formavam-se escalas de oito notas, que vieram a ser denominadas como: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si e dó, com uma oitava acima, chegando assim à melodia ou sistema moda1, usado até hoje.

II. A música na reflexão platônica

1

Cf. WATANABE, Lygia Araújo. Platão, por mitos e hipóteses: um convite a leitura dos Diálogos. São Paulo: Moderna, 1995, pp. 48 – 50

P

[P1] Comentário: Título do trabalho: Caixa alta, fonte arial tamanho 11(onze), negrito e centralizado.

[P2] Comentário: Dados do autor, instituição, agência financiadora, orientador, etc.: Fonte arial, tamanho 9 (nove), itálico, espaço simples, alinhado ao canto esquerdo. [P3] Comentário: Resumo: Em português, fonte arial, tamanho 10 (dez), espaço simples, justificado, recuo 1,25 cm à primeira linha.

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Pitágoras, de certa forma, traz a razão para a arte musical objetivando-a, influenciando fortemente Platão. Já outro pensador, que também o influencia decisivamente, é Sócrates. Antes de conhecê-lo, conforme é relatado2, Platão era apenas um poeta, só depois se tornou um filósofo. Sócrates, no que diz respeito à música foi entusiasmado por Dâmon, o Areopagita, considerado o primeiro pensador que introduz metodologicamente a música na educação grega. Além deste pensador ter causado uma enorme influência em Sócrates, também influenciou Platão.

Tendo contato com o pensamento de Pitágoras, de Dâmon e de Sócrates, Platão inicia uma reflexão racional para argumentar quais formas musicais deveriam ser valorizadas na formação ideal do cidadão para a vida, buscando de certa forma, fugir da tradição mitológica grega, que ainda insistia em acreditar exclusivamente que os feitos artísticos eram realizados somente por uma inspiração divina, negando assim o caráter racional da arte.

O filósofo também procurou sistematizar a razão em conformidade com as emoções, harmonizando o inteligível com o sensível, fato notado nos seus 26 diálogos, todos tratando temas filosóficos de caráter racional-emotivo.

Ele afirmava a existência de dois mundos distintos: o mundo das idéias e o mundo das aparências. Fazia parte do mundo das idéias a alma e a mente, já do mundo das aparências, o corpo e a sombra, fato visto em sua conhecida alegoria da caverna, que se encontra no VI livro da República.

Pensava que essa divisão serviria também como uma orientação para sistematizar e se entender os desejos e as ações humanas e suas conseqüências, tanto para o individuo quanto para a sociedade.

Não percebemos, em muitas ocasiões, que um homem. Levado pela violência de seus desejos a agir contra a razão que calcula, prejudica-se e se levanta contra o que tem em si mesmo, de que sofre a violência; e que, como se tratasse da luta entre dois partidos, a razão encontra um aliado no ardor do sentimento que anima esse homem?3

2

Cf. MATTEI, Jean-François. Pitágoras e os pitagóricos. Tradução Constança Marcondes César. São Paulo: Paulus, 2000, pp. 101 – 110.

33

PLATÃO, A República, Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: editora Fundação Calouste Gulbenkian, 1949, 440a, b.

[P4] Comentário: Nota de rodapé: Fonte arial, tamanho 9 (nove), seguindo numeração (1,2,3...), com espaçamento simples, justificado.

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Buscou problematizar até quando essa relação poderia ser harmônica ou quando poderia deixar de ser. Para ele, é buscando uma harmonização entre estes dois mundos que os cidadãos gregos poderiam chegar a viver uma vida melhor.

Na alma do homem há como que uma parte melhor, outra pior; quando a melhor por natureza domina a pior, chama-se a isso ser senhor de si – o que é um elogio, sem dúvida; porém, quando devido a uma má educação ou companhia, a parte melhor, sendo menor, é dominada pela superabundância da pior, a tal expressão censura o fato como coisa vergonhosa, e chama ao homem que se encontra nessa situação escravo de si mesmo e libertino.4

A influência dos escritos platônicos no ocidente é muito forte, geralmente isto inclui também uma forte influência nas artes. Sustentava que as artes influenciavam diretamente a moral da vida humana. Cada uma a seu jeito e a música com maior destaque.

De acordo com sua teoria, a arte imita as coisas físicas, como: a pintura da paisagem; o canto do pássaro; a fala de alguém, enfim, tudo isso seriam as aparências. Estas por sua vez, imitam as formas puras, ou formas ideais, que ele entende como: as formas geométricas, a justiça, o bem e o belo. Assim, as artes além de possuírem a capacidade de mexer com nossas emoções, seriam cópias de cópias da forma pura, representações de representações da idéia, imitando a nossa realidade e nos conduzindo tanto para a verdade como para ilusão. Por isto, a arte também tem o poder de ser perigosa.

Na sua visão, é através do controle das artes, em especial, da música, que podemos formar cidadãos ideais para uma sociedade ideal. Sustentava que as composições executadas, tanto pela cítara quanto pelo aulos – uma espécie de flauta do nosso tempo – teriam o poder de influenciar modificando a moral humana a rigor de quem as controla, logo possuir o poder de controlar a vida na cidade estado grega, a polis. É notado em outro pesquisador que Platão procurou atentar para a função orientadora do artista nessa formação.

[...] a verdadeira função do artista é ajudar a apreender esta linguagem da vida. [...] Assim, pois, a arte deve encontrar sua realização, seu cumprimento, na vida; e com razão pode-se chamar mais educado ‘musicalmente’ aquele cujos olhos e ouvidos estão capacitados para discernir o que é justo, não somente nas criações da arte, senão

4op. cit., 431a, b.

[P5] Comentário: Corpo do trabalho: Fonte arial, tamanho 11 (onze), espaço 1,5 (um e meio) entre linhas, justificado, parágrafo francês.

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também à medida que tais condições podem ser apreendidas pelos sentidos, no mundo real de que a arte é reflexo.5

III. Os tipos de melodia

Platão, em sua obra, buscava entender além de outras questões, até onde iam as influências e as possibilidades geradas pela música na vida dos cidadãos gregos. Eram três, os principais tipos de melodia: o Lírico, o Frígio e o Dórico. A diferença entre eles estavam nos intervalos entre os tons e na altura dos seus sons. Esses três tipos de melodia influenciavam os homens, cada um exaltando um certo tipo de emoção. O modo

Lírico buscava exaltar as características sensuais humanas, de forma excitante; já o modo Frigio exaltava as características patéticas e entusiásticas e o modo Dórico exaltava as características de força, de magnitude. Assim pôde-se notar uma intrínseca relação entre as emoções e as ações morais humanas.6

Foi tentando sistematizar a forma de controle que cada estilo ou modo musical exercia sobre os cidadãos que os separou em dois grupos: os que auxiliavam na formação do cidadão da república e os que poderiam prejudicar essa formação, afim de atender os interesses da pólis.

O homem é uma criatura mansa. Aliando-se nele boa educação a um natural feliz, torna-se, de regra, o mais tratável e divino do seres; porém o mais feroz do quantos a terra já produziu, sempre que a educação for insuficiente ou malorientada. Eis a razão por que o legislador não deve considerar o problema da educação das crianças como algo necessário ou de somenos importância.7

A música, naquela época, estava presente em praticamente todas as manifestações da vida social grega, tais como festas religiosas ou profanas, jogos esportivos, teatros, funerais e até em guerras.

Percebe-se assim, o grande poder que a arte tinha, notando sua forte possibilidade influenciadora no nosso comportamento, logo, na nossa personalidade. Foi acreditando nisso que Platão insistiu que a arte, em especial a música, deveria fazer parte na educação dos cidadãos jovens da república procurando manter apenas os modos

5

NETLESHIP, Richard Lewis. La educación del hombre según Platón. Buenos Aires, Editorial Atlântida,

1945.p.145.

6

Cf. ROBLEDO, Antonio Gómez. Platón, Los seis grandes temas de su filosfofía. México, D.F., Ed.

Cuadratíny Médio, 1993. pp.521-524.

7

JEANNIÈRE, Abel. Platão. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1995. p. 122.

[P6] Comentário: Citação com mais de três linhas: Segue separadamente ao texto, fonte arial 10 (dez), com recuo de 4 (quatro) centímetros à esquerda, sem recuo à primeira linha.

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musicais que exaltavam o bem, além de conduzir a alma corretamente ao governo de suas paixões e ao encontro de sua razão. Tais modos musicais ajudariam a fixar na alma a harmonia em lugar da discórdia.

Quando os jogos dos meninos são bons desde o começo, e mediante a ajuda da música tenham adquirido o habito de boa ordem, este hábito de ordem os acompanhará em todas as suas ações e será para eles um princípio de crescimento. E se algo no Estado vier a cair, os governantes assim educados o levantarão de novo.8

IV. Considerações Finais

O filósofo buscou excluir definitivamente certos modos musicais da república aos mais jovens, por pensar que os modos Líricos e Frígios no início da formação dos jovens enfraqueceriam e tornariam as suas personalidades facilmente domináveis. Procurouassim utilizar o modo Dórico, que contribuía na formação do jovem cidadão, tornando sua personalidade mais forte e magnânima, impossibilitando o controle desse cidadão por parte de um tirano. Platão também sustentava, que nos primeiros momentos da formação humana, a alma deveria ser educada a conhecer apenas a beleza e o bem, logo em seguida, quando tais valores estivessem já arraigados a personalidade, poderiam então conhecer outras formas musicais, logo outros valores, que também ajudariam a preparar o cidadão para as intempéries da vida real, tornando-o um cidadão ideal, que teria condições de escolher à melhor atitude a ser tomada diante dos fatos da vida.

Referências Bibliográficas:

JEANNIÈRE, Abel. Platão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.

NETLESHIP, Richard Lewis. La educación del hombre según Platón. Buenos Aires, Editorial Atlântida, 1945.

MATTEI, Jean-François. Pitágoras e os pitagóricos. Tradução por Constança Marcondes César. São Paulo: Paulus, 2000.

PLATÃO, A República, Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Editora Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

ROBLEDO, Antonio Gómez. Platón, Los seis grandes temas de su filosfofía. México, D.F., Editora: Cuadratín y Médio, 1993.

WATANABE, Lygia Araújo. Platão, por mitos e hipóteses: um convite a leitura dos Diálogos. São Paulo: Moderna, 1995.

8NETLESHIP, op. cit., p. 145.

[P7] Comentário: Referências Bibliográficas: Fonte arial, tamanho 10 (dez), espaço simples, justificado.

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