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Arrumador de contêiner Análise ergonômica da atividade sugere adaptação do ambiente e processos

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Análise ergonômica da atividade sugere adaptação do ambiente e processos

Arrumador de contêiner

Estima-se que existam hoje no Brasil cerca de três milhões de trabalhadores a-vulsos fora da zona portuária, contra 1,2 milhão na zona portuária do Estado de São Paulo. Deste montante 1.500 estão asso-ciados ao Sintrammar (Sindicato dos Tra-balhadores na Movimentação de Merca-dorias em Geral e dos Arrumadores) e 3.500 trabalham de forma informal no município de Santos/SP. Apesar de sua relevância no âmbito portuário e fora dele, a atividade portuária ainda é motivo de polêmica no quesito condições humanas de trabalho.

À medida em que o comércio e os siste-mas de transporte de mercadorias se de-senvolveram modificaram-se também as relações custo-benefício. Com o aumento da exportação e a oscilação do dólar, pro-dutores passaram a exigir uma quantida-de cada vez maior quantida-de produtos quantida-dentro dos contêineres, dando mais trabalho aos ar-rumadores, o que acaba por repercutir em sua saúde e em aumento dos acidentes.

Com o tempo, a Norma Regulamenta-dora Nº 11 (Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais) estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, acabou ficando desatualizada diante das mudanças nas formas de trans-porte impulsionadas pelo crescimento e-conômico mundial. A tarefa de estufagem de contêiner, por exemplo, não é contem-plada na NR 11. A necessidade de adequa-ção vem ao encontro da evoluadequa-ção históri-ca bem como ao alto índice de acidentes e más condições de trabalho verificados na categoria.

Tendo em vista esta realidade, o Sin-trammar solicitou a realização de uma AET (Análise Ergonômica do Trabalho) dos arrumadores na estufagem de sacas de café e açúcar. O sindicato tinha como objetivo entrar com pedido de alteração da norma junto ao MTE, procurando limi-tar a quantidade de sacas exigidas em cada contêiner. A falta de uma regulamen-tação faz com que muitas empresas

deter-Maisa Isabel D’Elia - Terapeuta ocupacional com especialização em Ergonomia pela Politécnica-USP. mdelia@elementuvitalle.com.br

Maisa Isabel D’Elia

ARQUIVO PROTEÇÃO

minem o condicionamento de mais de 330 sacas de café e 540 sacas de açúcar nos contêineres, tornando a operação ainda mais complexa e colocando em risco a saúde psico-fisiológica dos arrumadores. Além disso, a atividade apresenta sazo-nalidade, sendo que nos períodos de alta dos produtos exige intensificação do tra-balho dos arrumadores e,

consequente-mente, ocorre aumento no índice de aci-dentes.

A AA A

ATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE

Os arrumadores de contêineres que par-ticiparam do estudo possuem larga expe-riência na atividade (acima de 15 anos). Vários deles esperam se aposentar quan-do possível, mas muitos se mantêm na

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ativa por causa de sua condição socioe-conômica. Apenas os trabalhadores con-tratados pelas empresas de café têm vín-culo empregatício, o restante são tra-balhadores avulsos, sem nenhum víncu-lo empregatício. O sindicato é responsá-vel por gerenciar os contratos de traba-lho.

Anteriormente, toda a movimentação da mercadoria era feita pelos arrumado-res nos armazéns, independentemente da demanda da exportação. Cerca de 80% do beneficiamento de café era realizado na Baixada Santista, que contava com 33 mazéns. Atualmente há apenas cinco ar-mazéns beneficiando para este fim, o res-tante já vem em contêineres do interior de São Paulo, com até 350 sacas. Essa mu-dança gerou uma diminuição de um

ter-ço na demanda de trabalho para os arru-madores na entressafra. Onde anterior-mente trabalhavam 2.000 homens, hoje atuam 600. Em Santos, o trabalho com o açúcar é realizado just in time, vem dire-to do produdire-tor para a estufagem de con-têiner. Assim, ganham apenas uma movi-mentação ou vão diretamente para o em-barque no navio.

Os contratos de serviços são feitos por meio de negociação com as empresas, considerando a convenção do sindicato. As tabelas de preço variam conforme a atividade e o produto. O trabalho dos arru-madores varia em item, valor e categoriza-ção do serviço. Raramente a atividade de armazenagem de café tem apenas um ou dois itens, sendo que o trabalhador ga-nha duas ou três vezes a mais pelas

tare-fas executadas. No açúcar, na farinha e no fertilizante é apenas um item, mas o valor é diferenciado. Na estufagem de açúcar e café, ganha-se por contêiner fe-chado.

Apesar de não existir uma meta con-tratual, o trabalho é intensificado pelo ar-rumador, pois como este não tem um salá-rio estabelecido, cada saca a mais na alta da safra acresce o valor do salário men-sal. No entanto, representa, muitas vezes, menos saúde para o profissional. Para a empresa, essa atitude é vantajosa, pois ge-ra aumento da produção. No fim do dia são apurados o número de sacas movi-mentadas e de tarefas e subtarefas execu-tadas. Os valores das taxas são somados e divididos pelo número de arrumadores. São taxas distintas, mas todos os traba-lhadores recebem igualmente.

NÚMEROS NÚMEROSNÚMEROS NÚMEROS NÚMEROS

Por meio de levantamento de dados no período de 2000 a 2004, observou-se que o aumento da produção refletiu em um maior índice de acidentes, como é possível verificar no Gráfico 1, Dados de produção, e no Gráfico 2, Acidentes com arrumadores. Os números revelam que a produção de açúcar vem registrando maior número de

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blocos, já que as sacas não emitem ne-nhum sinal a não ser a sensibilidade e a percepção tátil dos pés descalços dos tra-balhadores. Esses acidentes também es-tão relacionados à sazonalidade.

Apesar de não haver um índice signifi-cativo de doenças ocupacionais, obser-vou-se nos dados de produtividade que a atividade de cada arrumador na armaze-nagem, desarmazenagem ou estufagem é exaustiva. A carga levantada por arruma-dor pode chegar a 45 toneladas por ter-no, conforme exposto na Tabela 1, Carre-gamento e descarreCarre-gamento, e na Tabela 2, Estufagem de contêiner.

Dos dados observáveis da produção, constata-se que a demanda do Sintrammar está ligada principalmente ao crescente au-mento da quantidade de sacas por contêi-ner, aumento de acidentes de trabalho, desconforto físico e sofrimento psíquico dos trabalhores, planejamento da opera-ção não condizente com a realidade do trabalho, layout inadequado dos arma-zéns, e relação conflituosa entre setores administrativos e operação, que somado ao cansaço e à desorganização da opera-ção gera, muitas vezes, abandono do tra-balho.

OPERAÇÃO OPERAÇÃOOPERAÇÃO OPERAÇÃO OPERAÇÃO

O planejamento operacional sempre é feito pela empresa contratante, que di-mensiona o pessoal conforme a demanda de seus clientes. A partir da escala, os ar-rumadores se dirigem ao local de traba-lho. Lá a equipe que compõe o terno defi-ne qual será a função de cada arrumador (ajudante ou empilhador) e o local especí-fico em que este trabalhará. A escolha é um processo natural, em que cada um sa-be sua função, porém sempre se revezam nas atividades.

A quantidade de equipamentos e ferra-mentas para a operação é dimensionada pelos arrumadores. Na movimentação de carga, eles usam o que quiserem e a em-presa deve ter os equipamentos e ferra-mentas necessárias. A operação pode ser feita em armazéns, terminais fora da zona portuária e terminais ferroviários. Nos ter-minais ferroviários, no entanto, não há maquinários adequados e a movimenta-ção dos arrumadores dentro dos termi-nais é difícil, pois o espaço dos trilhos é utilizado para montar os blocos de

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car.

Os trabalhadores referem que a descar-ga de vagão é um trabalho perigoso, com relação à disposição das dalas (esteiras rolantes) no local e a necessidade de ali-nhar o vagão no trilho em frente ao termi-nal. Os arrumadores fazem uma alavanca para movimentar o vagão sobre o trilho, no local determinado.

Para a arrumação do contêiner, é neces-sário realizar um processo anterior que consiste em confeccionar os blocos nos armazéns, que precisam ser bem planeja-dos e organizaplaneja-dos para garantir seguran-ça operacional e produtividade satisfató-ria. Os arrumadores reúnem cinco sacas, uma em cima da outra, o que facilita na hora de retirá-las. Se as sacas forem tran-çadas desde embaixo, o processo de des-manche é mais difícil. A trança deve come-çar da quinta saca para cima até o final, sustentando o bloco. Se as sacas forem velhas, é necessário colocar capas para dar estabilidade ao bloco. O tamanho dos blocos varia de acordo com a quantidade de café ou açúcar.

Quando o arrumador coloca a saca no bloco de café, este balança, dando certeza de que o bloco está seguro. Se não balan-çar, os arrumadores param, pois há risco de o bloco cair. Caso o bloco caia, os ar-rumadores o refazem e recebem por esse trabalho se tiverem colocado as capas. Se não as colocaram, e o bloco cair antes de 24 horas, o trabalho extra não terá remu-neração. Já na confecção dos blocos de açúcar, estes não podem balançar e seu lastro é muito maior do que o do café. Os arrumadores fazem uma base de 20 por 20 sacas. No café, o maior lastro chega a 14 por 14 sacas e o menor, 5 por 5 sacas.

DIFICULDADES DIFICULDADES DIFICULDADES DIFICULDADES DIFICULDADES

Por meio dos dados levantados junto ao Sintrammar, com os trabalhadores e por meio da observação, pode-se verificar que: a) Há exigência de grande esforço físico para realizar a tarefa;

b) A atividade é repetitiva e requer ex-celente capacidade aeróbica por causa do desgaste energético;

c) A fuligem do café causa problemas respiratórios e o melado do açúcar eleva o risco da ocorrência de quedas;

d) Em dias de temperatura elevada, o calor é intenso no trabalho exercido fora dos armazéns, nas ferrovias e nos própri-os contêineres. Já em dias chuvprópri-osprópri-os, ape-sar dos toldos fornecidos pela empresa pa-ra cobrir o espaço de carregamento e des-carregamento, há maior risco de quedas pelo piso molhado;

e) A falta de treinamento dos novos arrumadores dificulta a tarefa da estufa-gem, ocasionando retrabalho e dificultan-do o fechamento dificultan-do contêiner;

f) Quando o trabalho é executado com dalas, o ruído é constante e há dificulda-de dificulda-de movimentá-las dificulda-dentro do armazém; g) Na colocação máxima de 540 sacas de açúcar, só é possível finalizar a tarefa com auxílio de uma madeira. No caso de não caberem as 540 sacas ou se houver er-ro na contagem, o retrabalho é inevitável, muitas vezes sem que haja ganho para isso; h) Os arrumadores não fazem a conta-gem, e sim o supervisor da empresa con-tratante. Segundo eles seria impossível que fizessem a contagem pois estão “com a cabeça voltada para o trabalho”;

i) Os arrumadores utilizam a sensibilida-de tátil, auditiva, visual e proprioceptiva para realização do trabalho e, por esse mo-tivo, não há Equipamentos de Proteção Individual. Eles alegam que deixariam de perceber o movimento dos blocos e que isso impediria a antecipação do acidente, se estivessem usando calçados de segu-rança ou protetores auriculares. Nem mesmo calçados são utilizados, pois se-gundo os trabalhadores, os grãos de café entram nos calçados ocasionando feri-mentos nos pés.

Considerados estes aspectos, percebe-se que há grande risco de acidentes e de adoecimento na atividade.

F FF F

FAAAATORESATORESTORESTORESTORES

O levantamento excessivo de carga que causa desgaste físico somado à repetição da tarefa, à intensificação do trabalho, às dificuldades do ambiente físico levam à diminuição da concentração do trabalha-dor e aumentam as chances de acidentes de trabalho. Além disso, a condição econô-mica dos arrumadores faz com que a sujei-ção às tarefas de riscos eminentes e preju-diciais à saúde seja uma dura realidade, levando também ao sofrimento psíquico. Em suma, pode-se afirmar que os prin-cipais fatores que contribuem para a má condição de trabalho e a ocorrência de acidentes na atividade de arrumador de contêiner são: a forma de remuneração, a intensificação do trabalho, a organização do trabalho (número cada vez maior de sacas), a sazonalidade das safras (princi-palmente do açúcar), o ambiente de tra-balho (pó da saca de café, melaço do açú-car) e as condições meteorológicas.

A atividade física dos arrumadores ul-trapassa os limites de força muscular e amplitude articular, além de exigir postu-ras inadequadas. Também requer do tra-balhador percepção sensório-motora, muita atenção, concentração, podendo le-var ao sofrimento psíquico. A falta de em-pregos leva o trabalhador à submissão, e a sazonalidade da profissão prejudica a estabilidade econômica dos arrumado-res.

Como anteriormente destacado, o pla-nejamento da tarefa prescrita da estufa-gem não condiz com a tarefa real, dificul-tando a colocação da última fiada (filei-ra)e fechamento de contêiner. Há ainda risco constante de quedas e acidentes. No ambiente físico são problemas perceptí-veis: o ruído, a fuligem, o melaço, a ilumi-nação e a ventilação.

Pode-se observar, na atividade, variá-veis na operação que interferem no tra-balho e na produtividade. Por exemplo, a condição socioeconômica dos arrumadores e a organização informal e pouco estrutu-rada da escala.

Os acidentes e doenças ocupacionais levantados podem ser provenientes do número de horas trabalhadas, multiplica-das pela quantidade de sacas carregamultiplica-das e pelo peso das mesmas; da intensifica-ção do trabalho pela sazonalidade e pelo baixo salário recebido por item executa-do nas tarefas, e executa-dos limites estabeleciexecuta-dos relativos aos números de fiadas nos con-têineres.

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Por meio do estudo, foram realizadas entrevistas com trabalhadores quando ob-servou-se o momento em que é feita a es-cala, além dos postos de trabalho: de estu-fagem de açúcar realizada no terminal e de estufagem de café realizada no arma-zém. Cada operação possui situações dis-tintas, variando conforme volume, peso, tipo de carga, situação no local, tipos de equipes, relações entre colegas, conferen-tes, supervisores.

Os arrumadores chegam ao local do ponto a partir das 6 horas da manhã e a-guardam as informações sobre o trabalho e a escala organizada. Na primeira con-vocação, o diretor do sindicato chama o número do fiscal que se encontra no qua-dro negro e pede sete arrumadores para um armazém. O fiscal apresenta-se, os trabalhadores se aproximam com as mãos levantadas e o fiscal inicia a escolha da equipe, cujos membros expressam satisfação e alívio por terem sido escolhi-dos.

Foi perguntado ao fiscal como é feita a escolha, de modo que ele respondeu: “Le-vo os companheiros de trabalho. Os que eu levar hoje, amanhã sobem aí e me le-vam. Os que nunca me levaram, eu tam-bém deixo de levar. O trabalho aqui é co-mo na estiva, é tudo no grito”. Apesar da ênfase do discurso do fiscal, os trabalha-dores afirmam que não há uma “competi-ção” entre eles. “Todos acomodam, pois os que não saírem hoje, sairão amanhã”. “Eu vim porque era pra ser fiscal, mas ele não veio hoje, aí pula para o número se-guinte. Se ele vem, eu estou empregado. A gente é uma equipe, se o fiscal não vem, a viagem e o dinheiro da condução são perdidos”.

Observação sistemática

Levantamento e manuseio de sacas excede capacidade humana

HUMILHANTE HUMILHANTE HUMILHANTE HUMILHANTE HUMILHANTE

Dos 100 homens presentes neste dia, apenas 40% foram escalados para o ser-viço. Segundo os arrumadores, em época de safra alta podem ser escolhidos até 500 homens e ainda assim “sobra trabalho”. Por outro lado, quando a safra é fraca, o arrumador só consegue trabalhar 15 dias por mês, se for associado. Já os novatos dizem que cinco dias é muito.“Na safra do açúcar tem pra todo mundo, até falta trabalhador. É a época que fica todo mun-do sorrinmun-do, alegre, até nossas esposas e filhos. É um mês com Deus, outro com o Diabo”, revelou um dos trabalhadores.

Existem ainda fatores intrínsecos à or-ganização da escala, como a sujeição dos trabalhadores diante do dilema social, a não valorização do trabalho, a sazonali-dade das safras e a falta de normatização na escala. Levando-se em consideração estes aspectos e o funcionamento da es-cala, é possível verificar certo constran-gimento nos gestos dos arrumadores, quando levantam suas mãos e chamam pelo fiscal. Os próprios relatam ser uma forma humilhante de escala “A gente fica aqui desprezado”. “O empresário hoje não precisa de nós, nós é que precisamos dele”. O fiscal pode ficar entre os traba-lhadores que serão escolhidos, mesmo se seu número for o próximo. Porém se for escolhido, quando chegar o seu número será pulado e só retornará quando passar por toda a sequência novamente.

CARREGAMENTO CARREGAMENTO CARREGAMENTO CARREGAMENTO CARREGAMENTO

A observação da estufagem de açúcar foi feita no terminal. A atividade iniciou às 7 horas e terminou às 16 horas com direito a uma hora de almoço. Foram

car-regados 12 contêineres, com 540 sacas ca-da um, por dois ternos compostos de dois arrumadores sobre o caminhão e cinco ar-rumadores estufando o contêiner.

A estufagem de café foi observada em um armazém para estufagem de cinco contêineres de café, com 320 sacas cada um, utilizando-se apenas um terno de 8 arrumadores e 2 diaristas para a forração dos contêineres. A média do tempo de estufagem foi de 27 minutos. A atividade iniciou às 7 horas e os contêineres estu-fados foram feitos sobre os caminhões.

Durante a observação, quando diziam que esse tipo de trabalho não é para qual-quer um, fica claro que o arrumador rea-liza esforço excessivo, gerando cansaço, fadiga muscular, dores e, consequente-mente, abandona o trabalho.

A partir dos dados do Índice de Levan-tamento/NIOSH 1994, calculou-se o peso máximo recomendado na manipulação manual das cargas e concluiu-se que prin-cipalmente nas últimas fileiras das fiadas, a relação exacerbada de tempo com fre-quência e peso não é adequada. A execu-ção da atividade está muito acima dos ín-dices estabelecidos pelo NIOSH, como é possível observar no Gráfico 3, Diferencia-ção entre valores do NIOSH e levantamen-to de sacas e no Gráfico 4, Diferenciação entre valores do NIOSH e desmanche de sacas.

As posturas adotadas são dinâmicas, exigindo precisão do sistema osteo-neuro-muscular. Há flexões e rotações de tronco, assim como pressões nos discos interver-tebrais que ultrapassam os limites da ca-pacidade, quando colocam as sacas sobre a cabeça ou quando as puxam no desman-che dos blocos. Para colocação das sacas nas últimas fileiras das fiadas, o arrumador precisa adquirir uma elevação de braços em um ângulo superior a 90º chegando a 180º, o que somente é possível com uma tríplice flexão: coxofemoral, joelhos e tor-nozelos, para dar o impulso de sustenta-ção das sacas. Isto associado ao peso, à gravidade e à distância percorrida faz com que essas articulações sofram microlesões pela carga sustentada.

A atividade biomecânica de manipula-ção e levantamento de cargas pode ser uma das principais causas de lombalgias e problemas nos membros superiores por esforço excessivo ou como resultado de esforços repetitivos entre os arrumadores. Estas tarefas de levantamento repetitivo podem facilmente exceder a capacidade

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aeróbica dos trabalhadores, levando a uma diminuição prematura da resistên-cia e ao aumento da probabilidade de le-são e acidentes pelo cansaço.

DEPOIMENTOS DEPOIMENTOS DEPOIMENTOS DEPOIMENTOS DEPOIMENTOS

Durante a Análise Egonômica do Tra-balho realizada, obteve-se informações de vários atores envolvidos na arrumação de contêiner e foi possível compreender co-mo a atividade é afanosa, por meio da ob-servação sistemática e do discurso dos trabalhadores. Sabe-se que, em nível psí-quico, o trabalho possui papel importan-te na estruturação do sujeito, pois repre-senta a segunda chance de obter ou con-solidar sua identidade e adquirir autocon-fiança por meio do reconhecimento.

O sofrimento mental torna-se, muitas vezes, uma estratégia de defesa do arru-mador em relação ao seu trabalho. Obser-vando o arrumador em cima de um bloco a 23m de altura, foi perguntado a ele se não tinha medo de ficar ali em cima, ao que ele respondeu: “Não, o medo é de sair de casa e não saber o que vai acontecer. Quando a gente está precisando, se obri-ga. Se você chegar em casa e seu filho pedir um café e um pão e você não tiver pra dar, aí você desmonta”, revelou um dos entrevistados durante a pesquisa.

Quando o arrumador fala desta forma, ele está se referindo à possibilidade de ser escolhido na escala, de ter trabalho no dia e até aos riscos que a atividade impõe. “Certo dia, no armazém, um trabalhador se machucou. Chamei o resgate e falei com o cara da perua sobre o colega ma-chucado, e ele perguntou: “Vocês vão

do-brar?” Ele se preocupou se íamos dobrar e não se o cara estava machucado. “A gen-te abandona, porque a gengen-te não aguen-ta. É muita pressão, humilhação e can-saço”, disse outro trabalhador.

“Eles não dão valor nenhum pra gente, são desorganizados. Quando o cara fica velho, tem que trabalhar com 60, 70 anos, mesmo aposentado. Gato é trabalhar e re-ceber sem vínculo empregatício nenhum. Você é um zé ninguém”.

Sendo o reconhecimento uma forma de estruturação do sujeito, fica explícito na fala deles o seu sofrimento, pela árdua ta-refa e pela irrelevância com que são tra-tados ao executá-la. O cansaço também é observado na execução da atividade, bem como no discurso do arrumador: “É muita coisa para o trabalhador colocar: 11 a 14 sacas de altura. É humilhante, pesado e não é reconhecido. Chego em casa, tomo banho e vou dormir. Estou tão cansado, que nem janto. Às vezes trabalha um dia e no outro nem vem”, complementa.

NOVO PROJETO NOVO PROJETONOVO PROJETO NOVO PROJETO NOVO PROJETO

Nos procedimentos de colocação de sa-cas nas últimas fiadas, o trabalho é extre-mamente prejudicial à saúde do arruma-dor, pois a manutenção dos braços eleva-dos acima da cabeça, pode ocasionar le-sões irreversíveis de ombros e de coluna vertebral. Assim, sugere-se que a estufa-gem de contêiner de café seja feita da se-guinte forma: 9 fiadas por 3 colunas, por 10 de alto e uma fiada por 3 colunas, por 8 de alto, em um total de 294 sacas por contêiner.

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fia-das, além da manutenção da elevação de membros superiores causar lesões aos arrumadores, há três itens que dificultam a tarefa: a falta de deslizamento das sacas pelo material acondicionado, o melaço do açúcar que permanece nas sacas e a es-trutura ondulada do contêiner. Sugere-se que a estufagem de açúcar seja de 8 fia-das a 12 de alto, em um total de 480 sacas estufadas por contêiner.

Observando a forma como a escala é organizada e o sofrimento dos arrumado-res diante desta organização, conclui-se que é necessário reestruturá-la com crité-rios e normas estabelecidos. O Sintrammar já possui um novo projeto de escala com base em sistema de rodízio, que tornaria a escala mais justa dando condições para todos os trabalhadores serem escolhidos. Com o novo projeto de escala, na esco-lha dos arrumadores, 75% seriam os ati-vos, 24% os senhas e 1% os inativos. Caso o arrumador não queira levar o inativo, ele tem de levar mais um senha. A garan-tia de ter sempre senhas nas equipes é para que não percam vínculo com o sindi-cato e para que possam se tornar ativos no futuro. Na sequência da escala, os arru-madores só seriam escolhidos depois que os demais passassem pelo mesmo pro-cesso ou na falta dos mesmos.

Nos períodos em que a safra do açúcar é alta, os arrumadores afirmam que até sobra trabalho. No entanto, observou-se que a sazonalidade faz com que os arru-madores intensifiquem seu trabalho na entressafra exigindo mais de sua condi-ção física, o que implica no risco de fadiga e na maior possibilidade de ocorrerem fa-lhas, podendo gerar lesões osteo-muscula-res e acidentes. SUGESTÕES SUGESTÕES SUGESTÕES SUGESTÕES SUGESTÕES

Sugere-se que a escala para o trabalho não ultrapasse oito horas diárias, manten-do uma folga semanal, e que não se ultra-passe a quantidade de estufagem de con-têiner suportada pelos trabalhadores. Dessa forma, haveria tempo suficiente pa-ra recupepa-ração física e prepapa-ração papa-ra a próxima jornada. Haveria também possi-bilidade de escalar novo terno para conti-nuação, proporcionando trabalho diário para todos.

Devido à dificuldade das posturas esta-belecidas no desmanche dos blocos, é ne-cessário que os arrumadores façam rodí-zio nas funções da operação, visto que a postura de flexão de tronco,

coxo-femo-ral, extensão de ombros somada ao peso da carga a ser puxada e ao número de ho-ras trabalhadas por dia, não são fatores favoráveis, com pressão intravertebral de-masiada. A manutenção desta postura po-de acarretar consequências físicas aos ar-rumadores, além de proporcionar fadiga. Tendo em vista a atividade extenuante exercida pelos arrumadores, sugere-se que eles iniciem a atividade gradativamen-te. Deveriam passar por uma orientação do sindicato com palestras abordando or-ganização do trabalho, tipos de tarefas, noções de Segurança do Trabalho, primei-ros socorprimei-ros e informações sobre preven-ção de saúde. Deveriam iniciar na funpreven-ção de observadores de terno e em seguida como coajudantes dos arrumadores. De-veriam participar de escalas semanais al-ternadas para depois, então, tornarem-se arrumadores.

Por ser uma atividade repetitiva e de es-forço físico intenso é necessário que haja um controle profilático das suas condições físicas, desde a prevenção até os trata-mentos agudos e crônicos principalmente do sistema ósteomuscular e respiratório. A tarefa do arrumador é descrita de for-ma simplista, for-mas a tarefa possui, na ver-dade, muitas variáveis e detalhes, obser-vados somente durante o acompanha-mento da operação. Percebeu-se que a atenção e a concentração do arrumador são indispensáveis para a manutenção da segurança operacional, assim como a an-tecipação das ações. Dessa forma, os pro-cedimentos existentes deveriam incluir i-tens que contenham uma melhor descri-ção e abrangência das tarefas, das

referên-cias legais e das condições necessárias para sua execução.

PERSPECTIV PERSPECTIVPERSPECTIV PERSPECTIV PERSPECTIVASASASASAS

O acondicionamento de açúcar em sa-cas de material sintético, segundo os arru-madores, é o que causa maior número de acidentes. Sem levar em conta a dificulda-de dificulda-de pega, a movimentação das mesmas e a dificuldade na estufagem de contêiner. Entrevistando vários arrumadores, estes informaram que o acondicionamento em sacas de algodão ou juta (tecido) que era feito antigamente proporcionava maior Segurança no Trabalho, além de facilitar na movimentação. Sugere-se um estudo sobre a viabilidade do açúcar sem acondi-cionado no sistema antigo.

Segundo os arrumadores, o trabalho com café é dificultado pela quantidade de grãos que caem no chão, tornando-se es-corregadio, com risco de queda, sendo possível apenas trabalhar descalço ou de chinelo, pois o chinelo tem um solado que adere ao chão e não escorrega. Utilizar cal-çado aberto faz com que os grãos não fi-quem presos entre os pés dos arrumado-res, porém, não lhe dá segurança contra objetos que possam cair sobre eles. Para o arrumador trabalhar com segurança na retirada e colocação das laterais dos ca-minhões ou dos vagões, foi solicitado es-tudo de um calçado que tivesse o solado semelhante aos chinelos, que fosse fecha-do de uma forma que os grãos não entras-sem em seu interior e que tivesentras-sem uma biqueira de proteção para os dedos.

Além disso, o layout dos terminais fer-roviários foi construído para a movimenta-ção dos vagões, com plataformas para embarque e desembarque de mercadori-as. Mas em alguns dos terminais esse es-paço é utilizado para armazenagem de sa-cas, sendo inapropriado para a movimen-tação de arrumadores e dalas no local. Os locais deveriam também ser analisados com maior precisão para a melhor adap-tação para os trabalhadores.

Esta análise foi protocolada na sub-delegacia do Ministério do Trabalho e Em-prego de Santos pelo Sintrammar, e após análise dos auditores fiscais do MTE, foi designado que os contêineres estufados no Estado de São Paulo tenham os limi-tes estabelecidos por esta análise ergonô-mica.

Referências

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