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GRUPO DE TEATRO CECÉU: do Parque Histórico Castro Alves as ruas da cidade de Cabaceiras do Paraguaçu-BA ( )

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GRUPO DE TEATRO CECÉU: do Parque Histórico Castro Alves as ruas da cidade de Cabaceiras do Paraguaçu-BA (1996-2007)

Rodrigo da Silva Lucena1 RESUMO: Cabaceiras do Paraguaçu na Bahia é o local de nascimento do importante escritor Castro Alves sendo um dos mais lembrados do século XIX e substantivado como poeta dos escravizados, que recebeu em 1971 a construção do primeiro Parque Histórico da Bahia. Esse espaço é o cenário para o desenvolvimento de inúmeras ações culturais, sociais, educacionais e artísticas ao longo de sua trajetória; impactando de forma direta ou indireta na vida dos moradores e recebendo público de diversas localidades. O objetivo é descrever a origem e o funcionamento do Grupo de Teatro Cecéu fundado em 1996 no Parque Histórico Castro Alves e que estará em atividade até 2007. Buscando compreender a importância do grupo na formação de vários adolescentes e jovens moradores da cidade. A metodologia utilizada foi a História Oral. O grupo atuou de forma ativa em espaços públicos no qual terão uma importância significativa em algumas datas comemorativas e festivas da cidade de Cabaceiras do Paraguaçu. Atraindo de forma significativa os moradores para assistir apresentações teatrais no espaço do parque fortalecendo assim a interação e a relação da cidade com o grupo de teatro Cecéu e o Parque Histórico Castro Alves.

PALAVRAS-CHAVE: Grupo de Teatro Cecéu. Cabaceiras do Paraguaçu-Ba. Parque Histórico Castro Alves.

ABSTRACT: Cabaceiras do Paraguaçu in Bahia is the birthplace of the important writer Castro Alves, being one of the most remembered of the 19th century and substantiated as a poet of the enslaved, who received in 1971 the construction of the first Historical Park in Bahia. This space is the setting for the development of numerous cultural, social, educational and artistic actions along its trajectory; impacting directly or indirectly on the lives of residents and receiving audiences from different locations. The objective is to describe the origin and operation of the Cecéu Theater Group, founded in 1996 in the Castro Alves Historical Park and which will be in operation until 2007. Seeking to understand the importance of the group in the formation of several adolescents and young residents of the city. The methodology used was Oral History. The group acted actively in public spaces in which they will have a significant importance in some commemorative and festive dates in the city of Cabaceiras do Paraguaçu. Significantly attracting residents to watch theatrical performances in the park space, thus strengthening the city's interaction and relationship with the theater group Cecéu and the Parque Histórico Castro Alves.

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Licenciado em História pela UFRB. Estagiário de história do Parque Histórico Castro Alves (2018/2019) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia (EBA\UFBA) E-mail: rodrigo.silva.paulista@gmail.com

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KEY WORDS: Theater Group Cecéu. Cabaceiras do Paraguaçu-Ba. Castro Alves Historical Park.

INTRODUÇÃO

“Olha tem um mundo lá fora, há um mundo depois dos muros de Cabeceiras e vocês tem que se preparar para esse mundo. Essa fala dele me fez pensar: que mundo era esse? [...]. Que mundo que eu queria? Que mundo eu vou encontrar? [...]. Foi esse momento do teatro que nós abrimos essa porta para que esse mundo pudesse chegar em Cabaceiras”i

A cidade de Cabaceiras do Paraguaçu no Recôncavo da Bahia, localizada a 158 km da capital Salvador foi o lugar de nascimento de um dos mais importantes poetas da literatura nacional, considerado uma referência primordial na poesia romântica do século XIX. A vasta produção de poemas sobre a libertação dos grupos escravizados, a presença da natureza e principalmente os românticos irá fazer de Castro Alves um nome importante na história nacional. Atuante contra a escravidão junto com alguns dos seus colegas de universidade e outros nomes da literatura.

Com o objetivo de construir um lugar de memória em homenagem ao referido poeta no seu local de nascimento no interior da Bahia; no século seguinte uma iniciativa do professor Edvaldo Machado Boaventura que era gestor como Secretário de Educação e Cultura do Estado da Bahia entre 1970 e 1971 entrou em andamento. Tento uma participação efetiva do amigo de Boaventura, um dos biógrafos do poeta e jornalista Pedro Calmon que também tinham José Capello como amigo em comum, assim iniciaram juntos sucessivas trocas de cartas com representantes da cultura da cidade de Muritiba, cidade a qual naquele momento pertencia como distrito o território desejado para construção do primeiro Parque Histórico da Bahia, na antiga fazenda das Cabaceiras.ii

Uma homenagem devida ao lugar que é berço do poeta Castro Alves, a fazenda Cabaceiras, a qual pertencia a seu avô materno major Antônio da Silva Castro, que foi moradia da família por um tempo. Local onde nasceram os primeiros filhos e os cinco ou seis anos iniciais de vida do poeta. Seu nascimento nessa referida fazenda é referenciado por um dos seus biógrafos afirmando que

em 14 de março de 1847 na Fazenda Cabaceiras, na então Freguesia de Muritiba, Comarca de Cachoeira, a poucas léguas de Curralinho, na Bahia,

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nasceu Antônio Federico de Castro Alves, filho do Dr. Antônio José Alves e D. Clélia Brasília da Silva Castro. (GOMES, 1996, p.59).

Com base nas biografias e a iniciativa do secretário Edvaldo M. Boaventura foi inaugurado o Parque Histórico Castro Alves (PHCA)iii em 1971 na referida fazenda. Assim a comunidade desenvolve-se ao redor do PHCA e posteriormente em 1989 conseguiu sua emancipação política e territorial, sendo desmembrada do município de Muritiba, elevando-se a cidade de Cabaceiras do Paraguaçu. A pequena cidade do recôncavo da Bahia que ao longo dos anos construiu seu crescimento econômico e social em torno do PHCA vivenciou algumas ações culturais e artísticas que movimentou de forma muito ativa a vida dos adolescentes e jovens da cidade a partir de 1996.

O caminho metodológico traçado pela atual pesquisa é a utilização da história oral com a realização de duas entrevistas e posteriormente a análise dos pontos centrais delas, seguindo assim as recomendações para a utilização desse método apresentado por Paul Thompson.iv Cada

entrevista com aproximadamente 35 minutos, com as precursoras pela movimentação para as oficinas de teatro no PHCAv e que forma membras do grupo de teatro Cecéu durante sua

existência. Tendo como pressuposto que esse método requer um exercício de memória. Segundo Jacques Le Goff define-se como “[...] propriedade de conservar certas informações. Remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas.”vi

ORIGEM DO GRUPO DE TEATRO CECÉU

Nas proximidades das homenagens dos 150 anos do poeta Castro Alves a administração do Parque Histórico promoveu uma iniciativa para que a população local possa escolher oficinas para serem realizadas junto às festividades de 14 de março, data especial para cidade. O Parque abriga também ao longo da história uma escola em seu território, que durante muito tempo foi o único espaço de formação de crianças e adolescentes na cidade de Cabeceiras do Paraguaçu.

Encontramos nos relatos de Reiny Oliveira como essa ação irá impactar diretamente na rotina desse espaço educacional

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eu estudava no Colégio Edvaldo Machado Boaventura, que fica nas dependências do PHCA. E ficamos sabendo que em comemoração aos 150 anos, o parque iria disponibilizar diversas oficinas. O diretor colocou uma caixa de sugestão, para ver quais as oficinas o público desejaria. Eu juntamente com mais umas colegas iniciei a mobilizar. Nós não tínhamos ideia do que era teatro, mas era uma das oficinas para ser escolhida, e começamos a mobilizar a turma e o colégio para que as pessoas vencessem visitar a biblioteca e votasse no teatro. Como já era esperado, o teatro foi à oficina mais votada para a comemoração dos 150 anos do poeta. Nesse mesmo período houve outras oficinas como de fantoches, canto e entre outras. No ano de 96. [...]. Tinha mais de 100 pessoas inscritas para a seleção e eles selecionaram 15, e entre esses eu. Uma pessoa extremamente tímida.vii

Nesse contexto as entrevistas de Gilvana Dias Cerqueira e Reiny Oliveira que eram adolescentes entre 16 e 17 anos. Estudantes do colégio Edvaldo Machado Boaventura e juntas com outros amigos construíram uma movimentação para a realização das oficinas de teatro.

Lembrando esse fato Gilvana Dias apresenta que

queríamos participar de oficinas de teatro para desenvoltura em trabalhos escolares e participar mais das atividades aqui no museu. Ai, em uma caixinha de sugestões nós colocamos isso. Nós mobilizamos a escola para pedir isso também. Quando ele (o diretor do PHCA) foi olha caixinha de sugestões como tinha muitos pedidos de oficinas de teatro, ele conseguiu junto a Secretaria de Cultura do estado da Bahia essas oficinas. [...] Mais ou menos em 1996, porque eu lembro que em 97 nós já participávamos das oficinas aqui.viii

A participação e mobilização realizada na escola será peça chave para que a oficina de teatro pudesse ser ofertada a comunidade em meio as comemorações. Assim pela demanda que foi criada para a administração do parque fruto do desejo de conhecer e aprender a arte teatral terá como consequência à formação do primeiro grupo de teatro de Cabaceiras do Paraguaçu. Na concepção de Pavis sobre o teatro ele apresenta que “o termo é mesmo, na verdade um ponto de vista sobre um acontecimento: um olhar, um ângulo de visão e raio ópticos e constituem tão somente pela relação entre o olhar e o objeto olhado que é o que ocorre a construção onde teu lugar a representação.”ix

Com as oficinas, o desejo presente de vivenciar o teatro e construir peças teatrais os adolescentes e jovens irão fortalecer-se é assim dar início a um grupo. Na busca por cria uma identidade Reiny recorda que “por ser uma oficina realizada no parque histórico a professora sugeriu alguns nomes (para o grupo) junto com a equipe e o grupo também ficou de sugerir.”

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como ficaria muito clichê colocar grupo de teatro Castro Alves ou alguma coisa parecida, a nossa primeira professora de teatro, no caso Tainã Andrade deu a ideia de colocamos o apelido, no caso codinome do poeta, que era Cecéu. E assim tivemos a informação que ele era chamado pelos seus familiares quando pequeno, assim adotamos esse nome. È ficou grupo de teatro Cecéu.x

As duas entrevistas salientam que a escolha do nome do grupo “foi unânime entre todos os integrantes.” Os biógrafos da vida e obra do poeta relatam esse fato, atribuindo o apelido ao carinho substantivado ainda na infância como uma ação do irmão mais novo de Castro Alves, o primeiro filho do casal: José Antônio de Castro Alves.xi Nas entrevistas ficou nítido que o grupo terá um perfil de idade muito amplo e variável durante sua existência. Mas, no início irão ter alguns cuidados com a idade dos participantes: “não tinha uma faixa etária específica, mas era maiores de 16 anos, [...] porque a arte era uma coisa nova para a comunidade, como era uma comunidade rural, de cidade de interior, não vinha crianças, [...]tinha essa preocupação, maiores de 16 geralmente. ” (Gilvana Dias).

Perguntando sobre o perfil social e como acontecia os encontros Reiny lembra que eram predominantes “uma classe média e da classe baixa os que formavam esse grupo [...] As oficinas aconteciam no auditório do parque histórico. [...]. Não tinha lanche. A gente se reunia no final da tarde, a partir das 17 horas, quando os trabalhos do parque se encerravam.” Na sua fala é inidentificável que os encontros do teatro eram para alguns uma extensão após as aulas e que o espaço do parque histórico detinha essa demanda extra mesmo após o expediente para atender as necessidades do teatro Cecéu.

Gilvana afirma que “as primeiras aulas aconteceram nas duas primeiras salas do espaço da frente da casa do museu, antes de abrigar as exposições e posteriormente será no auditório Pedro Calmon”xii. Os encontros aconteciam semanalmente, mas em vésperas de apresentações

os encontros eram intensificados em mais dias na semana e os horários podiam se prolongar até as 22 horas.

EXPERIÊNCIAS E ESPETÁCULOS: CABACEIRENSES EM CENA

O grupo realizou alguns espetáculos durante sua trajetória que marcou de forma profunda os seus participantes com as narrativas e propostas que foram levadas para a rua ou apresentados no auditório, aproximando a população das atividades do parque. Nos relatos é

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evidente que a proposta da gestão vigente nesse contexto tinha como objetivo aproximar a comunidade local das atividades desenvolvidas, com o objetivo de criar um sentimento de pertencimento na população de Cabaceiras do Paraguaçu.

O grupo de teatro contribui de forma muito ativa para fortalecer essa relação do parque histórico com os cabaceirenses, constando que

geralmente as apresentações aconteciam no a PHCA, ou na frente da entrada do museu, praça é em frente à igreja. Era muito frequente apresentações na praça. Conseguimos educar o olha da comunidade para essas apresentações, as pessoas faziam silêncio, as crianças faziam silêncio. O grupo era conhecido e amado. As pessoas gostavam de assistir as apresentações, ficavam ansiosos para ver as apresentações. Quando tinha datas comemorativas, não só no 14 de março (aniversário do poeta Castro Alves, data festiva para a cidade) mas sempre perguntavam se iria ter peça? [...] A comunidade se espelhava.xiii

Em 1998 o grupo de teatro Cecéu realizou dois espetáculos de rua em datas festivas no município, que teve como espaço a praça central na festa junina e em frente da igreja no auto de natal no mês de dezembro. “[...] Nessas apresentações de rua o interessante era o fascínio que a comunidade tinha, em parar realmente para ver o grupo se apresentar. [...] Inclusive o espetáculo “Casamento da Chacrinha” foi em meio à arraia daqui de Cabaceiras, a festa foi parada e entrou o cortejo para fazer a encenação em praça pública.” (Reiny Oliveira).

Nos anos inicias, a primeira professora Tainã Andrade, conseguiu realizar momentos de lazer e aprendizado levando os membros do grupo para conhecer espetáculos e vários espaços de teatro, segundo Reiny

visitamos o Teatro Castro Alves em Salvador [...]. Parecíamos uns bichinhos do mato dentro da imensidão daquele teatro. [...] Poder estar em um espaço de teatro, poder estar em contato com atores profissionais isso foi enriquecedor. Conhecer um espaço novo e pessoas novas, outra forma de ver tanto o teatro e as situações sociais foi muito bom mesmo.xiv

Entre os anos de 1996 até 2007 o grupo de teatro Cecéu esteve em frequentes atividades, e durante esses anos o grupo passou por mudanças de professores. Todos(as) vindos de Salvador para realizar as oficinas, alguns com graduação e outros apenas com cursos de longa duração em teatro. Assim cada um deles trouxe suas visões e peculiaridades em relação ao teatro. Contudo Gilvana afirma que “geralmente priorizava-se textos que falava de Castro

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Alves, da cidade de Cabaceiras e do PHCA.xv [...] do nosso patrimônio, do poeta, do parque e as manifestações culturais da cidade e que tivesse fazendo uma correlação com o parque ou uma manifestação regional [...]”

Os integrantes do grupo gostavam de realizar os trabalhos com textos e poemas de Castro Alves. No relato de Reiny ela consegue identificar uma peça que o texto não tinha referência na vida e/ou obra do poeta, mas que sua temática está envolta do regionalismo pois

normalmente os textos eram os professores que apresentavam. Sempre tinha uma ligação com Castro Alves diretamente ou indiretamente. O único espetáculo que não teve diretamente falando sobre Castro Alves foi “Zé de Bião e o Burro Falante”, mas que trazia aspectos com da nossa cidade, do nosso recôncavo. Mas as anteriores todas tinham uma ligação com Castro Alves e o Parque histórico.xvi

O espetáculo “Zé de Bião e o burro falante” foi o último espetáculo do grupo. Esse

trabalho ganhou muita visibilidade, sendo apresentado em Cabaceiras e em seguida foi apresentado em várias outras cidades do recôncavo e em Salvador. Segundo Reiny “quando eram montados espetáculos a equipe dava todo suporte, eles traziam figurinos e cenários, e nós (integrantes do grupo) só fazíamos auxiliar com o que tinha na cidade.”

MUDANÇAS DE VIDA E NOVAS OPORTUNIDADES

As informações e novidades demoravam a chegar na cidade. “Não tínhamos acesso a jornais e revistas. Só pelo Parque histórico. [...] ás vezes a gente lia reportagens que tinha acontecido há um mês, há dois meses, porque quando chegavam revistas aqui, as coisas já tinham acontecido.”xvii A presença de professores da capital, as viagens do grupo e os diálogos

entre esses dois mundos fortalecera uma visão mais ampla sobre a vida e o teatro para aqueles jovens atores e atrizes. Reiny lembra que vários momentos são muito presentes na sua memória sobre os diálogos e vivencias do grupo visto que

em algumas das reuniões mensalmente do grupo de teatro com a equipe do parque. Eu lembro que o diretor falou assim “olha tem um mundo lá fora, há um mudo depois dos muros de Cabeceiras e vocês tem que se preparar para esse mundo.” Essa fala dele me fez pensar: que mundo era esse? [...]. Que mundo que eu queria? Que mundo eu vou encontrar? [...]. Foi esse momento do teatro que nós abrimos essa porta para que esse mundo pudesse chegar em Cabaceiras. [...] A oficina sempre ajudo com relação ao respeito com o outro.

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Respeitar o espaço do outro, respeitar o outro do jeito que ele é. Pois isso era o mundo que estava lá fora. Nós éramos presos ao mundo de Cabaceiras.xviii

Dentro dessa vivencia ativa do grupo com seus professores, os integrantes tiveram acesso a novas experiências culturais e sociais, conhecendo espaços teatrais e artísticos elevando assim a valorização do patrimônio local. Como a atriz Gilvana Dias afirmando que

posso dizer que dês do gosto musical que ficou mais apurado. [...] Depois do contato com o pessoal do parque, como Cristiano, Elder, Tainã é e o pessoal, aí é que veio Nana Cayme, Marisa Monte e a gente pode ter acesso, Caetano. Na sequencias dês do gosto musicais, a culinária, a questão teatral é até mesmo a profissão, que hoje eu sou museóloga é eu devo muito a toda essa experiência que eu tive aqui com o patrimônio é todo meu encantamento com o Parque.xix

É possível perceber que o grupo foi referência para a cidade com uma ativa participação em diversos momentos, nas datas festivas, em ações e apresentações mais pontuais nas escolas e espaços públicos. Recorda Reiny “O grupo era como um fenômeno na cidade. [...]. Apresentamos no aniversário da cidade, eventos da prefeitura, festas de colégios, eventos de fim de ano, comemoração do dia dos professores. Todo evento da cidade eles nos convidava”xx

Era frequente que o parque tivesse um controle do rendimento desses alunos no Colégio Edvaldo Boaventura. Gilvana conta que “tinha uma fiscalização na escola, tinha que estar bem na escola para participar do teatro.” A influência do grupo será marcante na vida dos jovens cabaceirenses, as técnicas teatrais para atuação na rua e no palco não foi o único aprendizado dos participantes desse grupo, visto que essa experiência impactou profundamente nas escolhas desses jovens. Na companhia tiveram acesso a mais informações da capital e região, da movimentação teatral que estava em cena naquele momento, discussões e ensinamentos sobre o respeito e a necessidade de prepara-se para o mercado de trabalho, priorizando a continuação dos estudos.

Nas duas entrevistas é possível perceber que o grupo de teatro foi uma base construída para buscar novos horizontes e possibilidades nos estudos. Reiny lembra das dificuldades para estudar e o quanto era distante o sonho do ensino superior: “ninguém almejava fazer uma faculdade. Boa parte das pessoas do grupo hoje tem faculdade, nós fizemos faculdade. São historiadores, museólogos, pedagogos e entre outros. Tudo teve esse primeiro momento com a oficina de teatro.”

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Os integrantes do grupo são hoje pessoas de destaque na sociedade e trazem consigo o orgulho e a boas lembranças dessa fase. Reiny acrescenta: “com o teatro tivemos acesso a todas essas informações graças a deus. E isso mudou nossa comunidade, mudou nossa cidade. Como eu comentei, somos pessoas diferenciadas, pessoas que foram buscaram o conhecimento, pessoas que correram atrás dos seus sonhos.”

Encontramos nos relatos o quanto essa experiência do grupo foi marcante e fundamental na formação dos jovens, servindo de estimulo para que eles pudessem continuar os estudos mesmo enfrentando muitas dificuldades. Ao responderem sobre os motivos e questões que levaram ao final do grupo, Gilvana encontra algumas possíveis causas: “as pessoas foram crescendo. Casando. Algumas tiveram que viajar por questões de trabalho. Também por falta de interesses de uma ou outra gestão em manter essas oficinas e convidas esses profissionais de teatro.” Assim encontramos uma falta de continuidade do trabalho com o grupo de teatro realizado até 2007.

Tentando entender o impacto dos tempos da companhia e suas influências na vida profissional dos seus membros, Gilvana apresenta a atuação profissional de alguns dos adolescentes que fizeram parte do grupo e hoje são destaque na sociedade cabaceirense visto que na atualidade

temos professores no Colégio Edvaldo, a exemplo Edineia e Fabia. Renata que se tornou assistente social e está sempre liga as atividades do parque. Outras colegas como Tiana, Carminha e Patrícia que mora em São Paulo, Minas Gerais e Salvador sempre falam com saudades e cantam uma felicidade imensa de ter participado do teatro Cecéu. [...] O teatro Cecéu para mim e acredito que para meus amigos também foi m época de muita alegria, amor e encantamento com o patrimônio. Foi um período que nós pudemos reapresentar Castro Alves para a comunidade e para o nosso estado.xxi

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Grupo de Teatro Cecéu fez história na cidade e por onde passou. Levando a poesia e as histórias de Castro Alves a seu público encenando no Auditório Pedro Calmon e nos espaços públicos da cidade de Cabaceiras do Paraguaçu em datas festivas. É possível inferir que através do Parque Histórico Castro Alves, a arte teatral chegou pela primeira vez à cidade, atendendo os desejos e expectativas dos jovens. A interação do grupo com a cidade era bastante ativa. Seus integrantes todos pertenciam à comunidade e recebiam professores que tinham uma

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formação acadêmica em teatro e/ou algum prestigio artístico na capital pelos seus espetáculos realizados

A administração que atuava no Parque entre 1996 até 2007 teve um papel fundamental na existência do grupo. Inicialmente com a oferta de oficinas e em seguida proporcionando todo suporte profissional e técnico para o grupo e seus espetáculos. Essa relação das oficinas dentro do parque e as apresentações em espaços diversos constituiu nos seus membros do grupo um sentimento de pertencimento a cidade com a valorização do seu patrimônio local e uma relação mais próxima com a vida e obra do poeta. Atraindo os moradores para assistir apresentações teatrais no espaço do parque fortalecendo assim a relação da cidade com o grupo de teatro Cecéu e o Parque Histórico Castro Alves.

A experiência teatral dentro do grupo influenciou de forma muito forte nas escolhas de vida educacional e profissional, servindo de estimulo para que os jovens tivessem uma continuação nos estudos, mesmo em meio as dificuldades, privilegiando uma formação acadêmica em diferentes áreas. Assim percebemos que as vivencias e experiência no grupo de teatro Cecéu influenciou e abriu horizontes em toda uma geração de adolescentes e jovens nessa pequena cidade de interior do recôncavo da Bahia.

NOTAS

i OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018].

ii BOAVENTURA, Edvaldo M. Castro Alves: um parque para o poeta / Edvaldo M. Boaventura. Salvador:

Secretária da Cultura e Turismo, EGBA,2006.

iii Parque Histórico Castro Alves.

iv Ver: THOMPSON, Paul. A voz do passado. História oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. v Parque Histórico Castro Alves.

vi LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª Ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. vii OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018].

viii CERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018].

ix PAVIS, Patrice. Dicionário do Teatro. Tradução de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. Perspectiva. São Paulo.

1999.

x CERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018].

xi ALMEIDA, Norlândio Meirelles de. Cronologia de Castro Alves. São Paulo: D. Pedro II, 1960. xii CERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018].

xiii Ibidem.

xiv OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018]. xv Parque Histórico Castro Alves.

xvi OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018]. xvii Ibidem.

xviii Ibidem

xix CERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018]. xx OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018].

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xxi CERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018].

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Norlândio Meirelles de. Cronologia de Castro Alves. São Paulo: D. Pedro II, 1960.

BOAVENTURA, Edvaldo M. Castro Alves: um parque para o poeta / Edvaldo M. Boaventura. Salvador: Secretária da Cultura e Turismo, EGBA,2006.

GOMES, Eugênio. (Org.) Castro Alves: obra completa. 2ed.Rio de Janeiro:Aguillar,1966. LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª Ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. OLIVEIRA, R. Reiny Oliveira: depoimento [out.2018] Entrevistador: Rodrigo Silva Lucena. Cabaceiras do Paraguaçu- Ba, 2018.1 arquivo mp3(34 min), estéreo. Entrevista concedida para elaboração do artigo do entrevistador. [A entrevista encontra-se transcrita no Apêndice "A"] PAVIS, Patrice. Dicionário do Teatro. Tradução de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. Perspectiva. São Paulo. 1999.

SERQUEIRA, G. D. Gilvana Dias Serqueira: depoimento [out.2018] Entrevistador: Rodrigo Silva Lucena. Cabaceiras do Paraguaçu- Ba, 2018.1 arquivo mp3. (34 min), estéreo. Entrevista concedida para elaboração do artigo do entrevistador. [A entrevista encontra-se transcrita no Apêndice "A"]

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