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DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO, POLÍTICAS DE CUIDADO E GÊNERO EM CONTEXTOS DE POBREZA URBANA

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DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO, POLÍTICAS DE CUIDADO E GÊNERO EM CONTEXTOS DE POBREZA URBANA

Márcio Ferreira de Souza1 Silvana Aparecida Mariano2

Resumo: O presente trabalho é orientado pelos dados da pesquisa “Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará” (CNPq). Tais dados serão trabalhados como desdobramentos de reflexões anteriores desenvolvidas em relação a questões concernentes às conciliações e tensões entre trabalho e família para mulheres titulares do Programa Bolsa Família e às concepções de direito e cidadania, formas de liberdade e capacidade de decisão entre mulheres em situação de pobreza. Como desdobramentos de tais questões, a presente proposta procura ampliar as discussões anteriores a partir de um diálogo com as elaborações teóricas sobre a divisão sexual do trabalho e as políticas de cuidado, com foco mais específico na insistente percepção das mulheres sobre a responsabilidade de cuidados com os filhos e na crítica ao enfoque do bem-estar na orientação das políticas públicas. Ainda que entendamos o cuidado como fundamental para a reprodução social, buscamos refletir sobre a interseção entre políticas de bem-estar social e de equidade de gênero de um ponto de vista crítico em relação à construção histórica de maior responsabilização às atividades de cuidado atribuídas às mulheres e nos posicionarmos em defesa de uma maior responsabilização da paternidade quanto aos cuidados com os filhos.

Palavras-chave: cuidado, assimetria de gênero, divisão sexual do trabalho, transferência condicionada de renda.

Algumas análises por nós anteriormente realizadas tiveram como referência os dados da pesquisa “Discriminação interseccional: estudos sobre situações de pobreza e empoderamento feminino entre mulheres titulares do Programa Bolsa Família no Paraná e no Ceará” (CNPq) e se voltaram para questões relativas à conciliação e tensões entre trabalho e família (MARIANO; SOUZA, 2015a); às concepções de direito e cidadania, formas de liberdade e capacidade de decisão entre mulheres em situação de pobreza (MARIANO; SOUZA, 2016) e às percepções e práticas de gênero das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) a partir de um recorte geracional (MARIANO; SOUZA, 2015b).

Em tais estudos refletimos sobre o Programa Bolsa Família como exemplo para o processo na busca pela inclusão das mulheres de classes baixas nas políticas de assistência. Portanto, coube advertir que quando ocorre tal possibilidade de inclusão, esta se desenvolve em função de um status associado ao âmbito doméstico e familiar, à esfera da reprodução e da maternagem (CARLOTO;

1 Professor Associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Brasil) 2 Professora do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.

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MARIANO, 2010). Em suma, ocorre tendo em vista a dimensão do cuidado como elemento arraigado e restrito ao “universo feminino”.

Neste sentido, questões sociologicamente relevantes, como a autonomia das mulheres, envolvem tanto as percepções relativas à vida pública, como aquelas relativas à vida privada, tendo em vista que “na sociedade brasileira os valores associados à igualdade de gênero estão mais presentes nas percepções sobre a política formal do que nas percepções sobre família e cuidado” (MARIANO; SOUZA, 2016: 8).

No presente artigo buscamos abordar a dimensão da divisão sexual do trabalho (KERGOAT, 2009) e a política de cuidados, com atenção para a percepção das mulheres sobre a responsabilidade de cuidados com o filho e nos posicionando criticamente em relação ao enfoque do bem-estar social na orientação de políticas públicas.

A reflexão sobre o cuidado tem sido tratada cada vez mais sistematicamente como importante elemento de análise no âmbito da sociologia e pensada a partir de sua complexidade, particularmente pelas perspectivas feministas. Danièle Kergoat (2016), por exemplo, discorre sobre o “trabalho do cuidado”, a partir de uma perspectiva materialista, chamando atenção para a “redefinição” do próprio conceito de “trabalho”, que vai ganhando novos contornos e sendo enriquecido pelo interesse despertado por questões relativas ao trabalho doméstico, o trabalho de produção dos meios domésticos, o trabalho doméstico de saúde, o trabalho militante, a divisão sexual do trabalho e, por fim ao próprio trabalho de cuidado3. Dessa maneira, a autora registra que, paulatinamente, “o trabalho foi redefinido e mudou de estatuto: de uma simples produção de objetos, de bens, ele se transformou no que alguns chamam de ‘produção do viver em sociedade’” (KERGOAT, 2016, p. 18).

Seguindo esse princípio lógico, “o trabalho torna-se assim uma atividade política”. Conceitualmente, no âmbito das reflexões feministas, tal dinâmica conceitual perdura por meio dos próprios questionamentos aventados sobre o trabalho do cuidado. Para a autora, “na verdade, o trabalho de cuidado pode ser considerado o paradigma dessa produção do viver”. Cabe-nos descrever a pertinente ressalva feita por Kergoat:

Contudo, deve-se destacar que, embora tal definição de trabalho confira dignidade tanto ao trabalho doméstico gratuito como ao trabalho doméstico remunerado e, mais amplamente,

3 Kergoat cita, por exemplo, como referências: TABET P. La Construction sociale de l’inégalité des sexes: des outils et

des corps. Paris: L’Harmattan, 1998. CRESSON, G. Le travail domestique de santé. Paris: L’Harmattan, 1998. DUNEZAR, X. Organisation du travail militante, luttes interne et dynamiques identitaires: les cas de “mouvement du choómeurs”. In: SURDEZ, M.; VOEGLIT, M.; VOUTAT, B. (orgs.). Identifies – identifier: à propôs de identités politiques. Lousanne: Pblications Universitaires Romandes, 2010.

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ao trabalho de cuidado, é indispensável observar o que essa dignidade recuperada não oblitera o fato de que se trata – também – de trabalho não qualificado, mal pago, não reconhecido, e que as mulheres normalmente não têm a opção de escolher fazê-lo ou não (KERGOAT, 2016, p. 19).

As indagações e argumentos de Kergoat iluminam nossas próprias questões e reflexões fundamentadas na análise sobre os programas de transferência de renda, conforme os dados de nossa pesquisa sobre o PBF.

Antes de entrar na abordagem propriamente dita sobre o PBF, outro aspecto relevante a ser destacado, do ponto de vista teórico e empírico, diz respeito ao trabalho de cuidado, no contexto brasileiro, como um processo de mercantilização. Nadya Araujo Guimarães abordou a questão atentando para situações diversificadas, considerando o trabalho de cuidado exercido em âmbito doméstico ou externo, seja gratuitamente ou de forma remunerada, de modo a analisá-lo a partir de duas diretrizes: por um lado, apontando a atividade de “cuidado com/do outro” (“care”) como “um rico domínio para revisitarmos debates recentes sobre o processo de mercantilização de um determinado bem ou serviço” e, por outro lado, tomando-a como elemento ilustrativo da “ controvérsia em torno do trabalho do cuidado, no sentido da sua contestação moral” (GUIMARÃES, 2016: p. 60) 4.

A reflexão realizada por Nadya Araujo Guimarães parte de uma tentativa de compreensão do processo de “profissionalização” das atividades de cuidado e está atenta para o forte vínculo das atividades de cuidado “da forma, ou da sua figura fundante, que é a do “amor materno””. Dessa maneira, a perspectiva da autora é a de clamar para a necessidade de libertação de tais vínculos dado que

esta última forma se associa (i) ao cuidado como naturalizado, como “feminino”, como atribuição de mulheres; (ii) ao trabalho de cuidado exercido sem remuneração, sob uma relação compulsória, no “lar”, um domínio regido pelo sentimento, e onde não haveria lugar para o interesse (GUIMARÃES, 2016: p. 75).

Destarte, um ponto comum, já ressaltado por diversas/os estudiosas/os sobre o tema do cuidado é a visão crítica sobre a associação entre o exercício das múltiplas atividades de cuidado

4 A autora investe, conforme seus próprios termos: “no estudo sobre a trajetória de duas palavras que (intuía,

nativamente) fossem de consagração recente na nossa linguagem cotidiana – “cuidador” e “cuidadora”. Para tal, recorri ao acervo de um dos mais longevos diários da grande imprensa brasileira, O Estado de São Paulo. Por meio dessa fonte, pude retraçar por quase 150 anos, desde fins do século XIX (1875) até inícios do século XXI (2014), o percurso no espaço público tanto desses dois vocábulos, como de duas outras formas de flexioná-los, “cuidadores” e “cuidador(a)”” (GUIMARÃES, 2016: p. 61). Para exemplificar sucintamente, cabe destacar que foram 1080 registros dos termos entre 1875 e 2014, sendo que a frequência das novas palavras atinge 92% e se concentra no intervalo das duas últimas décadas. Dois terços deles estão abrangidos entre 2010 e 2014.

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com o feminino, estabelecida a partir de perspectivas “naturalizadora” e “essencializante”. Isso vale tanto para atividades de trabalho remuneradas5 e ainda mais intensamente para as atividades de cuidados não remunerado, exercidas maciçamente no âmbito doméstico. Mesmo considerando as mudanças sociais e comportamentais que atingem o tradicional padrão social de família, do ponto de vista da divisão sexual do trabalho, dado o aumento contínuo e crescente da participação das mulheres no mercado de trabalho, ainda persistem práticas (e percepções) das mulheres como “responsáveis” pelas atividades domésticas não remuneradas6.

Helena Hirata (2012, 2016), por sua vez, tem sido uma notável referência nas abordagens teóricas sobre o care e o care work. Apontando para a polissemia do termo care, identificou uma grande dificuldade de sua própria tradução, dado que “cuidado, solicitude, preocupação com o outro, estar atento às suas necessidades são diferentes significados que estão presentes em sua definição” (HIRATA, 2012: p. 284). Em breve balanço sobre o desenvolvimento das teorias sobre o care, a partir da década de 1980 no mundo anglo-saxão, em sua retomada na França em meados dos anos 2000 e no Brasil e América Latina, mais recentemente, Hirata aponta que “as pesquisas sobre o “care” contemplaram num primeiro momento, sobretudo, o cuidado com as crianças. Quanto ao cuidado com pessoas idosas, as referidas pesquisas foram desenvolvidas em disciplinas como a geriatria, a gerontologia, a enfermagem, a saúde pública e raramente, até hoje, no âmbito das ciências sociais” (idem, 2012: p. 284).

Helena Hirata e Nadya A. Guimarães, em Cuidado e Cuidadoras: as várias faces do trabalho do care (2012), demonstram a forte associação da noção de “cuidado” com outros conceitos, tais como trabalho e gênero ressaltando, paralelamente, seu viés multidimensional e transversal, além de apontarem para um campo vasto de ações, que envolve a dimensão do Estado, as políticas públicas voltadas para o segmento da população tido como dependente (mulheres, idosos, crianças etc.) e “até um conjunto de práticas, atitudes e valores relacionados com o afeto, o amor e a compaixão envolvidos nas relações intersubjetivas” (HIRATA e DEBERT, 2016: p. 7).

5 Guimarães (2016), apontando para o recente movimento de mercantilização do cuidado no Brasil, a partir da década

de 1990, alerta para a reconfiguração do trabalho tanto de homens quanto de mulheres, argumentando que “os homens invadem os anúncios da década de 1990 oferecendo-se como “cuidadores de idosos”” (GUIMARÂES, 2016: p. 65). .

6 Clara Araújo e Celi Scalon, por exemplo, em um estudo sobre as ambiguidades da modernização do Brasil,

argumentam que se, por um lado, podemos identificar a presença de valores indicativos de relações de gênero mais igualitárias, a partir da aceitação do trabalho remunerado feminino e da concordância na participação dos homens com filhos e nas atividades domésticas, por outro lado, identificam a persistência do entendimento de que a casa e a maternidade são centrais para a vida das mulheres, insistindo no modelo tradicional de “homem provedor” e “mulher cuidadora” (ARAÚJO e SCALON, 2006). Outros exemplos, neste sentido, podem ser encontrados nas pesquisas sobre usos do tempo (AGUIAR, 2011) que apontam para a grande diferença entre o dispêndio dos usos de tempo em atividades de trabalhado remunerado e atividades de trabalho doméstico não remunerado do ponto de vista do gênero.

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Em artigo publicado no dossiê “Gênero e Cuidado” (Cadernos Pagu), Bila Sorj (2016), analisa “o sentido que o trabalho comunitário adquire no contexto de mudanças do modelo de políticas sociais, no modo de governar, ocorridas no Brasil, sobretudo a partir de 2000” (SORJ, 2016: p. 107). A base de análise empírica para a discussão realizada pela autora é o programa Mulheres da Paz, implantado nas favelas do Rio de Janeiro, visando alternativas ao enfrentamento de violência urbana e atribuindo às mulheres “o papel ativo de co-responsáveis pelo

desenvolvimento e bem-estar social local”. Sorj analisa “a incidência da ação

do Estado na desprofissionalização do trabalho de cuidado das

mulheres junto aos jovens “em situação de risco””, concluindo sobre a não linearidade das novas formas de governar e entendendo-as a partir de sua complexidade e ambivalência, já que envolvem contínuas “disputas entre gestores, operadoras e o público alvo sobre os objetivos, conteúdos e significados das políticas sociais” (SORJ, 2016: p. 109).

Levando em conta o PBF, a partir dos estudos de casos realizados em Curitiba e Fortaleza e considerando a disparidade social entre ambas localidades, temos um grupo de 190 mulheres titulares entrevistadas (Tabela 1) que, do ponto de vista do exercício de atividades remuneradas são representadas por 47% da amostra e 53% não exercem atividade remunerada.

Tabela 1: Respondentes com atividade remunerada em Curitiba e Fortaleza (%)

Fonte: Elaboração própria

Ponderando sobre o percentual de 47% do conjunto de mulheres que exercem atividades remuneradas, identificamos que estas são as principais responsáveis por todas as atividades domésticas realizadas em seu grupo domiciliar, o que acaba por exigir delas uma conciliação entre o trabalho remunerado e as atividades de trabalho não remunerado em casa. Atividades de lavar louça, cuidar das roupas, preparar alimentos, limpar a casa, pagar as contas, são predominantemente de sua responsabilidade (Tabela 2). Portanto, a maioria das mulheres em situação de pobreza assume efetivamente os cuidados com a casa.

Curitiba Fortaleza Total

Exercem 53 41 47

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Tabela 2: Distribuição percentual em situação de maior responsabilidade pelas atividades domésticas entre as respondentes que

exercem trabalho remunerado em Curitiba e Fortaleza

Fonte: Elaboração própria

As atividades de cuidado com o outro, particularmente com os filhos, revelam de forma mais patente o contínuo processo de responsabilização sobre as mulheres. A média comparativa, por município, de filhos dessas mulheres entrevistadas é quase similar: em Curitiba atinge 3,8 filhos por entrevistada e em Fortaleza 3 filhos por entrevistada. A atenção à infância é um dado significativo para as medidas de atividades de cuidado praticadas pelas mulheres titulares do PBF. Dessa maneira, a provisão de serviços públicos voltados à criança, a exemplo de um atendimento básico como as creches, por exemplo, é de fundamental importância para essas mulheres. Em particular às mulheres com filhos em idade de creche, pois contribui para o processo de conciliação entre os cuidados com os filhos e as atividades exercidas no mercado de trabalho. Neste sentido, há uma distribuição desigual entre os municípios pesquisados (Tabela 3). Entre as mulheres com trabalho remunerado, apenas 38% das entrevistadas de Fortaleza possuem criança em idade de creche (média de uma criança por mulher), ao passo que, em Curitiba, totaliza 52% das entrevistadas na mesma situação (com média de 1,3 criança por mulher).

Tabela 3: Respondentes com atividade remunerada pela presença de crianças em idade de creche – Curitiba e Fortaleza

Fonte: Elaboração própria

Atividades Total

Limpar a casa 79

Lavar e passar roupas 79

Cozinhar 78

Lavar a louça 54

Ir ao banco/lotérica pagar conta 69 Fazer pequenos consertos em casa 37

Curitiba Fortaleza Total Possuem criança em

idade de creche

52 38 46

Não possuem criança em idade de creche

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Entendemos que a baixa taxa de cobertura dos serviços de creche está vinculada ao reforço das atividades de cuidado por parte das mulheres e, por suposto, à própria percepção do Estado em relação a esta atividade considerada como de responsabilidade feminina. Esse fator é sobremaneira intensificado com a inserção no PBF, típico do processo de “instrumentalização do papel das mulheres” no âmbito doméstico intermediado pelos programas de transferência de renda focados na família (CARLOTO e MARIANO, 2008, 2009a, 2009b, 2012). Tal “instrumentalização” se constitui por meio do desempenho das mulheres nas atividades dos cuidados com a família, o que vem acentuar seu próprio papel de responsabilidade pelos cuidados em seu grupo doméstico.

Um fator relevante que contribui para a compreensão acerca dessa teia em que as mulheres, em situação de pobreza, se encontram enredadas, diz respeito às próprias condicionalidades impostas às famílias pelo PBF. Tais condicionalidades acabam por sobrecarregá-las de obrigações e têm considerável impacto no modo como administram o seu tempo a partir de suas atividades cotidianas. Tudo isso somado às precárias condições de possibilidade dessas mulheres de efetivamente conquistar sua autonomia econômica por meio do trabalho assalariado, mantendo-se, entretanto, em situação de pobreza extrema e na condição de beneficiárias do Programa Bolsa Família.

Considerações finais

Argumentos corriqueiros relativos ao PBF são calcados em explicações que procuram muito mais adjetivá-los do que analisá-los em toda sua complexidade. Dessa maneira, revelam um olhar simplificador sobre uma política de assistência frequentemente tachada de “populista”, “eleitoreira”, geradora de um “efeito preguiça” ou como um programa que desincentiva o trabalho. Em outros momentos (MARIANO; SOUZA, 2016) chamamos a atenção para o fato – e aqui voltamos a reforçar tal atenção – de que a constatação histórica da participação relativamente baixa das mulheres no mercado de trabalho, em relação à dos homens, tem raízes mais profundas no processo de constituição da divisão sexual do trabalho.

Dentre os efeitos de tais processos emerge a responsabilização das mulheres sobre o trabalho de cuidados (particularmente o cuidado com os filhos) como fator que entrava a possibilidade de autonomia dessas mulheres, particularmente aquelas em situação de pobreza. O PBF não corrobora

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para a falta de incentivo ao trabalho, porém não pode ser compreendido como fator que o incentiva. Portanto, do ponto de vista da possibilidade de estimular uma “autonomia feminina”, as próprias condicionalidades desse programa de transferência de renda operam como processos de manutenção de papéis tradicionais de gênero.

Referências

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CARLOTO, Cássia Maria & MARIANO, Silvana A. “A família e o

foco nas mulheres na política de assistência social”. Sociedade em Debate, n. 14, 2008, p. 153-168.

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MARIANO, Silvana Aparecida; SOUZA, Márcio Ferreira de. Conciliação e tensões entre trabalho e família para mulheres titulares do Programa Bolsa Família. Revista Brasileira de Ciência Política, v. 18, p. 147-177, 2015.

MARIANO, Silvana Aparecida; SOUZA, Márcio Ferreira de. Concepções de direito e cidadania, formas de liberdade e capacidade de decisão entre mulheres em situação de pobreza. In: 10º. Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Belo Horizonte: ABCP, vol.1, p. 1-21, 2016. SORJ, Bila. Políticas sociais, participação comunitária e a desprofissionalização do care. Cadernos Pagu (46), janeiro-abril de 2016: p. 107-128.

SOUZA, Márcio Ferreira de; MARIANO, Silvana Aparecida. Percepções e práticas de gênero das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família a partir de um recorte geracional: mudanças ou permanências? In: XVII Congresso Brasileiro de Sociologia, 2015, Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Sociologia, vol. 1, p. 1-19, 2015.

Sexual division of labor, care policies and gender in contexts of urban poverty

Abstract: This study is guided by the data of the research "Intersectional discrimination: studies on poverty situations and female empowerment among women holders of Family Allowance Program (Programa Bolsa Família – PBF) in Brazilians states of Paraná and Ceará" (National Council of Scientific Researches - CNPq). These data will be elaborated as a result of previous reflections developed in relation to issues concerning reconciliation and tensions between work and family for women holders of Family Allowance Program and conceptions of law and citizenship, forms of freedom and decision-making among women in situations of poverty. As a result of these issues, the present proposal seeks to broaden the previous discussions from a dialogue with the theoretical elaborations on the sexual division of labor and care policies, with a specific focus on the permanent perception of women about the responsibility of care Children and criticizing the welfare approach in the orientation of public policies. Although we understand that care as fundamental to social reproduction, we seek to reflect about intersection between social welfare policies and gender equity from a critical viewpoint regarding the historical construction of greater responsibility for the care activities attributed to women and position ourselves in defense of greater accountability of paternity in childcare.

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