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Por que razão há (muito) mais criminosos do que criminosas?

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Academic year: 2021

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criminosas?

Paulo Finuras Independent Researcher

Resumo

Neste artigo analisa-se do ponto de vista da psicologia evolutiva as principais razões que explicam o diferencial da criminalidade por sexo e suporta-se a análise através das estatísticas oficiais para Portugal entre 1960 e 2014. Os dados são consistentes com a perspetiva segundo a qual a atividade criminosa é essencialmente masculina por razões adaptativas, em primeiro lugar. Palavras-Chave

Competição Intra Sexual, Crime, Mecanismos Psicológicos Adaptativos, Sexo, Recursos, Universais Humanos

Introdução

1. Da sociologia criminal à análise biossocial do comportamento criminoso: a mudança de paradigma

2. Comportamento criminoso e universais humanos

3. Por que é que o comportamento criminoso é dominantemente masculino? 4. A situação em Portugal (1960 – 2014)

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Introdução

Segundo as estatísticas oficiais mais recentes,1 em 2014 a distribuição do número total de reclusos em Portugal por sexo,2 mostrava que 93% são homens e só 7% são mulheres. Curiosamente, estas percentagens eram as mesmas em 2004, mas também em 1983, em 1980 e em 1976 e praticamente as mesmas em 1960 (92% para 8%). A tendência é sempre esta: em média, nos últimos 44 anos, 93% dos reclusos em Portugal são homens, e só 7% são mulheres.

Note-se que este fenómeno repete-se não só em Portugal mas praticamente em todos os países do mundo onde há estatísticas minimamente fiáveis?

Em geral, mais de 90% dos criminosos são homens. Já alguma vez pensou por que é que será assim? Por que é que a esmagadora maioria dos crimes e dos criminosos são homens?

Vamos ao início porque este fenómeno, como tantos outros, tem raízes na nossa história evolutiva.

1. Da sociologia criminal à análise biossocial do comportamento criminoso: a mudança de paradigma

Se consideramos que (também) somos animais e que pertencemos à classe dos mamíferos, à ordem dos primatas, à família dos Hominídeos, ao género Homo e à espécie Sapiens e que, parafraseando E. Morin, (…)” somos uma máquina com mais de 3 mil milhões de células controlada e procriada por um sistema genético que se constituiu no decurso de uma longa evolução natural de milhões de anos, e que o cérebro com que pensamos, a boca com que falamos e a mão com que escrevemos são órgãos biológicos (…),”3seria no mínimo estranho,

penso eu, que o nosso comportamento não refletisse também as forças evolutivas ou que a evolução, no nosso caso, tivesse simplesmente «parado no pescoço».4

1 Reclusos: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ - Fonte: PORDATA (Última atualização: 2015-06-26) 2 Havia nesta altura segundo as fontes oficiais 14 003 reclusos contando ambos os sexos.

3 Morin, 1972

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Uma revisão da principal literatura sobre estes temas5 sugere que a perspetiva sociológica da

criminalidade foi o paradigma dominante no século XX na tentativa de explicar os comportamentos designados como «criminosos»6.

Contudo este paradigma, baseado no modelo padrão das ciências sociais (MPCS),7 revela-se

insuficiente para compreender e explicar três fatores cruciais: primeiro, para compreender por que motivo os comportamentos considerados criminosos continuam a ser um universal humano? Segundo, para explicar por que razão persistem como invariantes no conjunto do comportamento humano em todas as sociedades? Terceiro, por que é que são um empreendimento esmagadoramente masculino?8.

Como referem vários investigadores9 é um facto que as taxas de criminalidade masculinas

excedem as femininas em todas as sociedades e fazem-no ao longo dos tempos, pelo que quem pretender, ao nível teórico, argumentar que essas taxas de criminalidade são o produto das diferenças na socialização dos géneros, então terá também de explicar como e porquê todas as sociedades humanas, ao longo da história evolutiva, chegaram à mesma convergência na socialização e no tratamento dos diferentes géneros?

E tal como outros investigadores ainda no campo da psicologia evolutiva10, partilho a ideia

de que a sociologia criminal enquanto paradigma dominante para a explicação das origens do comportamento criminoso esgotou-se. E isto aconteceu porque ignorou os conhecimentos e a informação oriundas da biologia evolutiva, da genética molecular e das neurociências bem como de todos os avanços que as novas tecnologias nos trouxeram neste domínio e que nos alertaram para o facto de que, afinal, o desenvolvimento humano não parece começar na

5Vd. Bibliografia

6 Walsh & Kevin, 2009

7 O termo Modelo Padrão de Ciências Sociais7 (MPCS) que foi introduzido pela primeira vez ao público em geral pelos cientistas sociais John Tooby e Leda Cosmides na sua obra The Adapted Mind7 refere-se à

perspetiva crítica da conceção da mente humana como uma “tábula rasa”, no sentido do “determinismo cultural”. Para estes investigadores este foi o paradigma teórico dominante nas ciências sociais desenvolvido durante o século XX. De acordo com esta abordagem, a mente é encarada como um dispositivo cognitivo de uso geral moldada quase inteira e exclusivamente pela cultura e independente dos constrangimentos e da modelação evolutiva. Porém, a Biologia Evolutiva mostra que, afinal, a nossa mente não parece estar «rasa»!

8 Numa proporção de 90 para 10 (grosso modo).

9 A. Campbell, T. Moffitt, D. Lynam, D. Rowe, A. Mazur, S: Kanazawa entre outros.

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adolescência (como muitas teorias sociológicas implicitamente assumem) mas parece começar, desde logo, no útero. E isto parece ser apenas o começo11.

O psicólogo evolucionista Satoshi Kanazawa (2009), da London School of Economics and Political Science, sugere que existe uma função adaptativa12 do mecanismo que explica o

comportamento considerado criminoso por qualquer sociedade. A sua perspetiva evolutiva é dominantemente ecológica ou ambiental na medida em que descreve, por um lado, de que modo os ambientes, através da seleção natural, moldaram o comportamento dos organismos à medida que estes se adaptaram aos mesmos e, por outro, de que modo são também necessários os fatores ambientais para a emergência de tais comportamentos13.

Na sua proposta teórica, Kanazawa ao analisar o comportamento criminoso do ponto de vista evolutivo, questiona por que motivo os comportamentos e as ações que tradicionalmente se classificam como criminosos continuam a ser parte integrante do repertório comportamental humano e qual foi (ou continua a ser) o propósito evolutivamente relevante que fez (e ainda faz) com que eles continuem14? Por que persistem e para que servem afinal?

Este investigador não sugere que a evolução preservou o material genético dedicado aos roubos, assaltos ou assassinatos, branqueamento de capitais ou à manipulação dos mercados. Pelo contrário. Como refere o próprio,15 «os traços subjacentes a estas ações e comportamentos foram

selecionados ao longo da nossa história evolutiva para ajudar os machos humanos a conseguirem mais oportunidades reprodutivas no quadro da competição intra sexual masculina»16.

Em resumo, propõe que aquilo que está em causa para os homens (embora de forma inconsciente) é o seu sucesso reprodutivo, o que lhes exige um esforço de investimento no acasalamento através da obtenção de recursos de forma «legal» (a maioria das vezes) e «ilegal» (uma minoria das vezes). Portanto, deduz-se que os traços subjacentes aos comportamentos designados como «criminosos» terão sido selecionados para auxiliar os machos humanos a competir com os outros

11 Portanto, parece-me impossível ignorar que estamos no meio de uma revolução no conhecimento que permitirá

desbloquear muitos segredos sobre a natureza, a mente e o comportamento humano.

12 Em termos de sobrevivência e valor reprodutivo.

13 Esta é a razão pela qual os comportamentos considerados «criminosos» pré-existem às normas e sanções contra

eles.

14 Kanazawa, 2009. Op. Cit. 15 Op. Cit. 2009

16 Note-se que a soma dessas características permitiu aos seus possuidores mais oportunidades de acasalamento. A isso chama-se «esforço de acasalamento» ou seja a proporção do esforço reprodutivo total alocado para aquisição de parceiros sexuais o que é o contrário de «esforço de parentalidade», a proporção do esforço reprodutivo total investido na criação de descendência).

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machos na tentativa de conseguir mais oportunidades de acasalamento e consequentemente de reprodução.

2. Comportamento criminoso e universais humanos

A Psicologia Evolutiva (PE) parte da premissa segundo a qual a maioria dos nossos processos mentais foram selecionados naturalmente para resolver as tarefas e os desafios adaptativos enfrentadas pelos nossos ancestrais.17

Decorre deste pressuposto que existe um repertório nuclear de mecanismos psicológicos adaptativos universalmente partilhados que é aquilo que, no fundo, podemos designar por «natureza humana». 18 Cabe à perspetiva evolutiva procurar descobrir a natureza humana universal

através dos chamados Mecanismos Psicológicos Evolutivos 19(MPE) relativos a domínios

específicos20.

Talvez a maioria dos psicólogos sociais concorde que, de alguma forma e nalgum nível, os membros da nossa espécie partilham universais sociais ou mecanismos concetuais e motivacionais que interagem com os contextos culturais em aspetos importantes, isto é, um conjunto de blocos psicológicos de construção, sem os quais as culturas e a aprendizagem cultural seriam impossíveis de partilhar e transmitir.

17 Por definição, considera-se em psicologia evolucionista que os desafios adaptativos são todos aqueles que estão diretamente associados com a nossa sobrevivência e reprodução.

18 i.e. o conjunto completo dos mecanismos e adaptações psicológicas que evoluíram na nossa espécie (G. Miller 2001).

19 Os mecanismos psicológicos evolutivos (ou adaptativos) são regras ou conjuntos de procedimentos ou decisões para o processamento de informações (extração e tratamento de informação do ambiente) com que a evolução através da seleção natural e sexual equipou todos os seres humanos para poderem resolver problemas particulares de adaptação (i.e. problemas de sobrevivência ou reprodução). Por exemplo, evitar predadores e outros perigos, encontrar a comida correta, formar alianças e amizades, cuidar da descendência e dos parentes, ler a mente dos outros, detetar comportamentos oportunistas, encontrar parceiros para acasalamento e reprodução, etc. Os MPE são na verdade «algoritmos» da nossa mente que funcionam na esmagadora maioria dos casos de forma inconsciente. No entanto, e ao contrário de regras de decisão (da teoria da decisão ou teoria dos jogos), os MPE operam por trás de nosso pensamento consciente.

20 De facto, um dos objetivos científicos importantes da PE tem sido o de descobrir evidências dos universais humanos através das culturas, como fizeram alguns cientistas (D. Brown, 1990, D. Buss, 2001; Schmitt & Pilcher, 2004).

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Na sua obra designada «Universais Humanos»21 (1990), o antropólogo D. Brown

compilou centenas de comportamentos comuns às várias sociedades e culturas humanas conhecidas.22

Concluiu que independentemente das diferenças culturais, parece existir uma «cultura humana» que é uma manifestação da nossa natureza ao nível da sociedade. Dado que a natureza humana é universal para todos os seres humanos, a infraestrutura das culturas humanas partilham elementos comuns.

Os chamados comportamentos criminosos e as regras, normas e sanções contra eles são exemplos disso. A análise antropológica dos universais humanos mostra-nos que, por exemplo, todos os seres humanos quando crianças receiam os desconhecidos, registam basicamente as mesmas expressões faciais para o medo, nojo, felicidade, desprezo, ira, tristeza, orgulho e vergonha (incluindo os invisuais de nascença); gostam de histórias, mitos e provérbios; desenvolvem a aversão à perda; sempre que podem exibem as suas capacidades, qualidades e recursos (em particular os homens); seguem a lógica evolutiva da reprodução como objetivo último (mesmo inconscientemente); valorizam a generosidade, inteligência, assertividade e confiabilidade na escolha sexual e na escolha social (nomeadamente na liderança).

Do mesmo modo, em todas as sociedades humanas os indivíduos classificam-se segundo critérios de prestígio e estatuto, dividem o mundo entre o «nós» e o «eles» e assim classificam quem pertence ao seu grupo e os que estão fora dele. Os homens praticam violência de grupo e deslocam-se até mais longe do lar do que as mulheres do mesmo modo que os maridos são, em média, mais velhos e mais altos do que as respetivas esposas. A guerra é um «assunto» masculino e a monogamia não acontece a 100% em nenhuma sociedade ou cultura (pois há em todas elas um limiar mínimo de poliginia).

Os homens, contudo, na esmagadora maioria dos casos, desconhecem a lógica psicológica evolutiva que está por trás dos seus motivos.

21 Human Universals no original.

2222 A lista de D. Brown, contudo, não apresenta os «universais das estruturas mentais» (ou «universais profundos») que são conhecidos e que têm sido revelados por várias teorias, e investigações, particularmente oriundos da psicologia evolucionista, mas não só. Ficam de fora também os chamados «quase-universais» (isto é, os traços que a maioria, mas não necessariamente todas, as culturas mostram), e os «universais condicionais» («Se uma cultura tem um traço A, tem também um traço B). Para um melhor conhecimento deste assunto e outras referências, consultar a própria obra do autor (citada na bibliografia), ou a entrada que o mesmo Donald Brown fez, justamente com a designação de «Universais Humanos» na Enciclopédia de Ciências Cognitivas do MIT, 1999.

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3. Por que é que o comportamento criminoso é dominantemente masculino? Uma das características da nossa animalidade reside no facto de haver uma grande diferença entre os géneros (ou sexos) em termos da variação das suas vantagens adaptativas23.

Por outras palavras, a diferença entre «vencedores» e «perdedores» no jogo reprodutivo é muito maior para e entre os homens do que para e entre as mulheres.

A este propósito a investigadora Anne Campbell (2009) fornece uma explicação «absoluta» sobre as razões evolutivas pelas quais os cérebros masculinos e femininos estão «equipados» de forma diferente desde a sua origem. Isto fica a dever-se ao facto de ambos os géneros terem sido submetidos durante longos períodos de tempo a pressões evolutivas diferenciadas que estão relacionadas com o «jogo» do sucesso reprodutivo.

A tese central de A. Campbell é precisamente a de que a assimetria dos custos de reprodução está na origem da evolução nas fêmeas humanas de uma tendência no sentido de terem mais receio do que os machos em situações que representem riscos significativos de lesões físicas ou psíquicas dado que durante muito tempo a sua descendência dependia quase em absoluto de si para sobreviver24. Em resultado, o seu limiar de adesão a comportamentos arriscados é mais

resistente do que o dos machos humanos.

É essa tendência para evitar danos e perdas, juntamente com outros traços também ligados à preocupação com a «criação da sua descendência» que explica a razão pela qual as fêmeas são menos propensas a correr riscos e a cometer comportamentos e atos antissociais.25

23Enquanto o esforço de parentalidade recai essencialmente sobre a fêmea humana, o esforço de

acasalamento cabe ao macho humano e este obtém tantas e melhores oportunidades reprodutivas

quanto mais e melhores recursos e perspetivas apresentar no quadro da sua «montra» reprodutiva.

24Como ainda hoje acontece, embora de forma mais mitigada

25 Tal como A. Campbell utiliza a lógica evolutiva para teorizar sobre as diferenças de género, também John Paul Wright (2009) postulou que a seleção natural, em diferentes ambientes, favoreceu traços diferentes em diferentes grupos raciais. Assim, nesta perspetiva, os africanos evoluíram em climas mornos e generosos, em que a comida era abundante, enquanto os asiáticos e os europeus, por seu turno, evoluíram em climas mais frios e agrestes, nos quais a aquisição de alimentos e de abrigos era mais problemática e a natureza a «ameaça comum» à sobrevivência das comunidades humanas. Consequentemente terá havido maiores necessidade e pressões entre estes últimos grupos para se organizarem, coordenarem e melhor se prepararem para conseguir fazer face a uma série de contingências do ambiente, o que terá levado a um maior «funcionamento executivo» do que entre aqueles cujos antepassados evoluíram em África em ambientes onde a natureza foi muito mais generosa. Ainda de acordo com J. P. Wright, observa-se que quando as três raças coexistem no mesmo ambiente os asiáticos

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Esta é também a principal razão pela qual em todas as sociedades e culturas os comportamentos violentos e criminosos bem como os comportamentos de guerra são empreendimentos dominantemente masculinos.

Retomando o argumento inicial, a variação da vantagem adaptativa tornou os homens altamente competitivos entre si no cumprimento do seu esforço para serem incluídos ou selecionados no «jogo reprodutivo» e é esta competição que conduz a um elevado nível de violência, como seja a agressão, o assassinato, o roubo e a guerra. Esta última é no fundo e na sua essência um comportamento criminoso coletivo26 que apenas difere do comportamento criminoso ao

nível individual, no seu grau e não na sua natureza. 4. A situação em Portugal (1960 – 2014)

Se olharmos agora para as estatísticas em Portugal, quer no que se refere à diferença, por sexo, seja no número de arguidos, condenados ou reclusos verificamos sempre a mesma tendência e padrão ou seja, aquilo que a teoria evolutiva prevê verifica-se empiricamente.

Arguidos: total e por sexo Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização: 2015-06-26

tendem a superar os caucasianos que por sua vez superam os africanos em muitas áreas da organização social tais como no maior rendimento familiar, menor probabilidade de divórcio, taxas mais baixas de doenças sexualmente transmissíveis e nascimentos fora do casamento e, claro, na redução das taxas de criminalidade (Op. Cit. Walsh, 2004).

26 Excluindo a que é feita em legítima defesa, claro. 0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000 120 000 140 000 160 000 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico N.º 8

N.º Total de Arguidos Por Género em Portugal entre 2007 e 2013

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Arguidos por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização: 2015-06-26

Evolução do n.º de arguidos em Portugal por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização: 2015-06-26 0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000 120 000 140 000 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico N.º 9

Arguidos Por Sexo em Portugal entre 2007-2013

M F 0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000 120 000 140 000 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Gráfico N.º 10

Evolução do N.º de Arguidos Por Género em Portugal entre 1960-2013

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Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000 60 000 70 000 80 000 90 000 100 000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico N.º11

Condenados em Portugal - total e por Género 2003-2013

MAS FEM Total

0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000 60 000 70 000 80 000 90 000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 N º C O N D EN AD O S ANOS Gráfico n.º 12

Cndenados Por Género entre 2003 -2013 em Portugal

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Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

0 10 000 20 000 30 000 40 000 50 000 60 000 70 000 80 000 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Gráfico N.º 13

Evolução do N.º Condenados por Género entre 1960 – 2013 em Portugal

MASCULINO FEMININO 0 2 000 4 000 6 000 8 000 10 000 12 000 14 000 16 000 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 N.º R EC LU SO S Gráfico n.º 14

Reclusos por Sexo 2004-2014

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Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

Condenados: total e por sexo - Fontes de Dados: DGPJ/MJ Fonte: PORDATA - Última atualização 2015-06-26

Efetivamente, a situação em Portugal revela a tendência prevista pelo paradigma evolutivo. Seja em séries curtas (2007-2013, 2003-2013, 2004-2014) seja em séries mais longas

93 93 93 93 94 94 95 94 94 94 94 7 7 7 7 6 6 5 6 6 6 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 % R ec lu sos Anos Gráfico N.º 15

Reclusos Por Sexo em Portugal 2004-2014

Homens Mulheres 0 2 000 4 000 6 000 8 000 10 000 12 000 14 000 16 000 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 N d e REcl u so s Anos Gráfico N.º 16

Distribuição de Reclusos por Sexo em Portugal entre 1960 e 2014

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(1960-2013; 1960-2014) as estatísticas oficiais corroboram a hipótese central do paradigma evolutivo. Verifica-se uma diferença significativa entre a distribuição sexual tanto no número de arguidos como no número de condenados e essa diferença tem-se acentuado a partir de meados da década de 90 do século XX, tanto no número de arguidos como de condenados como de reclusos, cujo padrão segue a mesma linha de tendência: a esmagadora maioria dos arguidos, condenados ou reclusos são homens.

Conclusão

O comportamento criminoso orientado para a obtenção de recursos, sobretudo pelos machos humanos, decorre naquilo que podemos designar como o contexto do «grande jogo reprodutivo da espécie». A sua origem remonta às nossas raízes evolutivas na medida em que se fica a dever à variação da vantagem adaptativa entre os géneros que tornou o comportamento dos machos humanos altamente competitivos entre si no cumprimento do seu esforço de procura de oportunidades de acasalamento.

A acumulação de recursos por via considerada por cada sociedade como ilegal faz parte do repertório dos comportamentos humanos e a sua origem é, portanto, anterior à definição das normas.

Na verdade, é porque as mulheres sempre preferiram escolher acasalar com homens com mais recursos que é lógico que estes vejam aumentadas as suas perspetivas reprodutivas através da aquisição (e sinalização) das suas capacidades, qualidades e recursos, materiais e simbólicos27

(nomeadamente, poder, património, dinheiro, estatuto, prestígio, reputação, etc.).

A grande variação invariante no comportamento criminoso entre os géneros, ou seja, a razão pela qual os homens cometem a maioria dos crimes, deve-se ao facto de, apesar das muitas semelhanças entre si, homens e mulheres serem biologicamente diferentes.

Estas diferenças devem-se aos problemas e às pressões adaptativas enfrentadas pelos nossos antepassados no tempo e ambiente adaptativo ancestral que fez com que ambos os géneros divergissem (também) na divisão, nas estratégias e nos comportamentos associados quer à escolha de parceiro,28 quer aos cuidados e ao investimento parental, pelo que também

27 É sabido que Homens mais ricos e de maior estatuto social têm mais parceiras sexuais e copulam mais

frequentemente do que homens mais pobres e de baixo estatuto (Kanazawa, 2003; Peruffo, 1993).

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desenvolveram psicologias e táticas de comportamento diferentes. Assim, e ao contrário do que o modelo padrão das ciências sociais propõe, as diferenças fundamentais entre os géneros não se devem à socialização ou ao ambiente. São intrínsecas à natureza do próprio sexo.

Em resumo, algumas diferenças fundamentais e estruturantes do comportamento social ao nível do género estão já inscritas no hardware e no consequente software mental de cada um e não são o simples produto da socialização como o mito da «tábua rasa» pretende fazer acreditar. (S. Pinker, 2002). Por outras palavras, não é porque se dá «bonecas» às meninas e «carros» aos rapazes que eles se tornam meninas ou meninos. É porque as meninas são meninas e os rapazes são

rapazes que preferem «bonecas» e «carros», respetivamente.

E é também porque os machos humanos são muito mais orientados para a procura do reconhecimento, poder e recursos materiais e simbólicos que mais facilmente aderem a comportamentos de risco para a aquisição e acumulação de recursos ou à eliminação de rivais e procuram ativamente os benefícios e recompensas, diretos ou indiretos, imediatos ou diferidos, que daí advêm, tornando-os mais «atrativos» pelos recursos acumulados, aumentando assim as suas

possibilidades no «grande jogo reprodutivo».

Este mesmo «jogo reprodutivo», note-se, impôs como regra inerente ao diferencial dos seus custos por ambos os géneros que sendo muito mais altos para a fêmea do que para o macho, cabe às primeiras o poder do benefício da «escolha», enquanto aos segundos cabe competirem por obter recursos para se candidatarem a ser «escolhidos» e deste modo a nãos serem «excluídos» desse mesmo «jogo».

Não devemos esquecer que, para a cabal compreensão deste fenómeno, uma das singularidades da nossa espécie (enquanto primatas superiores e mamíferos), é a disponibilidade dos machos humanos para investirem na sua descendência que é significativamente maior do que em qualquer outra espécie, donde as mulheres, sempre que possível, preferiram (inteligentemente) selecionar no «mercado de acasalamento para reprodução», homens que sejam real ou potencialmente fornecedores de melhores recursos para a sua descendência29. Estes, em resposta, desenvolveram uma orientação mais forte para alcançar statu, recursos e poder, pois estes fatores permitiam e criavam (e continuam a permitir e a criar) mais e melhores possibilidades e oportunidades de conseguir, também, mais e melhores parceiras para o sexo e para a reprodução.

29 ] Este fenómeno está associado e é regido pela prevalência na reprodução dos mamíferos da «Lei da transmissão

igual de caracteres de ambos os sexos», caso contrário, provavelmente o homem teria dotes mentais superiores à mulher tal como o pavão possui uma plumagem ornamental superior à da pavoa (Darwin, 1871).

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Tudo isto resultou (e resulta) na competição intra sexual (masculina) com efeitos de retroalimentação e amplificação da procura de recursos, poder e statu por parte dos homens e explica por que motivo os machos humanos, sem se aperceberem disso, arriscam mais e competem entre si para serem «selecionados». É isto que explica porque é que mais de 90% dos crimes em todo o mundo são cometidos por homens.30

Aparentemente este facto pode parecer contraintuitivo porquanto o comportamento criminoso é arriscado para os machos humanos pois estes correm o risco de serem fisicamente eliminados e assim ficarem afastados do «jogo reprodutivo». Porém, a lógica psicológica evolutiva mostra que não competir, representa um risco de fracasso reprodutivo ainda maior do que a própria competição, pelo que o risco será visto como «bio compensador». Entre competir e perder e o não competir e ser desde logo derrotado na «corrida», os machos humanos preferem arriscar.

Em conclusão, os roubos, a violência e a agressão bem como os crimes em geral resultam da necessidade dos homens competirem por recursos para atrair fêmeas e fazem-nos de todas as formas possíveis, legais e pacíficas (a maioria) e ilegais e violentas (uma minoria).

É por tudo isto que ao longo da sua história, os machos humanos nunca hesitaram em declarar guerras e travar batalhas, conquistar territórios e recursos aos outros, como também pintar quadros, escrever obras literárias, compor e tocar músicas e sinfonias, construir palácios e castelos e, por esta mesma via, realizar feitos e descobertas científicas31. O objetivo foi sempre

o mesmo: impressionar as fêmeas humanas na expectativa de que elas os escolham.

Esta teorização pode parecer estranha já que os designados comportamentos criminosos são universalmente condenados em todas as sociedades e culturas. Mas é facilmente entendível se considerarmos que essas mesmas normas contra os «crimes» evoluíram depois destes e em resposta aos mecanismos psicológicos adaptativos que sobretudo nos homens os motivam a esses comportamentos.

Estes mecanismos são, na verdade, uma herança da nossa história ancestral porque evoluíram nos nossos antepassados antes mesmo da divisão entre símios e humanos há cerca de 5 a 8 milhões de anos atrás32. É isso que a investigação sugere quando mostra que aquilo que

30Brown, 1991; Kanazawa & Still, 2000.

31 Kanazawa, 2009.

32Ou até mesmo, com o propõe De Waal (1996) e Kanazawa (2009) antes da divisão entre macaco e símios há 15 a 20 milhões de anos atrás.

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entre os seres humanos é considerado crime (como o roubo, por exemplo) é uma rotina normal entre os nossos parentes mais próximos (De Waal, 1996). 33

Por que se mantêm então estes comportamentos? Porque «carregamos» uma memória evolutiva que foi construída e moldada na savana durante 99,9% da nossa existência enquanto espécie onde estes comportamentos permitiram aos homens eliminarem ou intimidarem os seus adversários e acumularem recursos (que eventualmente não obteriam de outro modo), para se manterem n «jogo da competição reprodutiva».

Perante isto, a eventual ilusão de uma sociedade sem crime não passa de uma ficção. Resta-nos tentar construir instituições eficazes que perante as forças evolutivas consigam efetuar a melhor «gestão de danos» que seja possível.

Negar a natureza humana e as suas características que derivam do processo evolutivo apenas porque isso pode mostrar tendências que não sejam politicamente corretas ou não nos deixam tão bem na «fotografia das espécies», não resolve problema nenhum nem sequer nos favorece.

Afinal, é conhecendo a força e o sentido das correntes naturais de um rio que saberemos que barco construir e como melhor o podemos navegar. Partindo do princípio, claro, que sabemos para onde queremos ir.

33 Sabemos que os atos violentos e predatórios que os seres humanos classificam nas suas sociedades como «criminosos» ou «ilícitos» são bastante comuns entre as espécies primatas não humanas que não possuem quaisquer regras contra estes comportamentos. O raciocínio e a perspetiva da psicologia evolutiva exige logicamente que os mecanismos psicológicos cruciais que desencadeiam e motivam os comportamentos considerados «criminosos» tenham surgido antes das normas, fossem formais ou informais, contra a violência e o roubo. Se assim não fosse, a concorrência usando meios violentos e acumulação de recursos através de meios também condenáveis socialmente, não conduziria a um maior estatuto social e ao sucesso reprodutivo para os homens, pois estes seriam rapidamente ostracizados por violarem as normas.

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Principal bibliografia citada e de referência

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Referências

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