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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Academic year: 2021

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0529.15.005792-3/001

Número do Númeração

0057923-Des.(a) José de Carvalho Barbosa Relator:

Des.(a) José de Carvalho Barbosa Relator do Acordão:

07/02/2019 Data do Julgamento:

15/02/2019 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DANO MORAL PUBLICAÇÃO EM REDE SOCIAL DE COMENTÁRIOS DEPRECIATIVOS -LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO - EXCESSO - VIOLAÇÃO À HONRA E À IMAGEM OCORRÊNCIA DANO MORAL CONFIGURADO -QUANTUM INDENIZATÓRIO - FIXAÇÃO - CRITÉRIOS. Resta claro o dever de indenizar da parte que indubitavelmente extrapola os limites do seu direito constitucional de liberdade de expressão e informação, publicando em redes sociais comentários depreciativos, dessa forma atingindo a honra e a imagem da pessoa do autor, incorrendo em abuso de direito, com previsão no artigo 187 do Código Civil. A indenização por dano moral deve ser arbitrada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com moderação, observando-se as peculiaridades do caso concreto e os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, de modo que o quantum arbitrado se preste a atender ao caráter punitivo da medida e de recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa da vítima. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0529.15.005792-3/001 - COMARCA DE PRATÁPOLIS - APELANTE(S): FÁBIO FRANCISCO CERIBELLI SANCHEZ E OUTRO(A)(S), MENIA ARANTES CERIBELLI - APELADO(A)(S): JOSENILTON PEREIRA DOS SANTOS

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

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DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA RELATOR.

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA (RELATOR)

V O T O

Trata-se de Recurso de Apelação interposto por FÁBIO FRANCISCO CERIBELLI SANCHEZ e MENIA ARANTES CERIBELLI, nos autos da ação de indenização movida por JOSENILTON PEREIRA DOS SANTOS, perante o Juízo da Vara Única da Comarca de Pratápolis, tendo em vista a sentença de folhas 105/109, que julgou procedente o pedido inicial para condenar os réus ao pagamento da quantia de R$8.000,00, a título de indenização por danos morais, corrigida monetariamente a partir da data da publicação da sentença e acrescida de juros de mora de 1% ao mês desde o evento danoso, impondo-lhes ainda o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 20% do valor da condenação, suspendendo a exigibilidade, ante a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária.

Em suas razões recursais de folhas 111/119, alegam os réus, ora apelantes, que a Constituição da República garante a liberdade de expressão e a divergência de ideias, não podendo ser restringido o direito de expressar opiniões.

Afirmam que, em momento algum, dirigiram ao autor palavras de cunho difamatório ou injurioso, tendo apenas alertado a sociedade para a venda indiscriminada de diplomas de professor de artes marciais, sem qualquer menção ao nome dele, autor.

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Aduzem que as publicações serviram apenas como alertas para que os pais dos alunos e demais adeptos da arte marcial denominada "muay thai" tomassem cuidado na escolha dos profissionais que os auxiliam.

Asseveram inexistir dano moral passível de reparação pecuniária e buscam, na eventualidade de ser mantida a condenação, a redução do quantum indenizatório, por reputá-lo excessivo e desarrazoado.

Ausente o preparo, por litigarem os réus/apelantes sob o pálio da gratuidade judiciária, concedida em primeiro grau.

Sem contrarrazões, conforme certificado a folhas 131 verso. É o relatório.

Conheço do recurso.

E entendo merecer parcial provimento o inconformismo.

Cinge-se a controvérsia posta em aferir se restaram comprovados os requisitos necessários à responsabilização civil, em especial o ato ilícito e o dano propriamente dito, de modo a ensejar a condenação dos réus pelos danos morais reclamados.

Compulsando-se os autos, verifica-se que o nome do autor, de fato, foi envolvido em diversos textos divulgados pelos réus em redes sociais, textos esses que contém conteúdo desabonador à pessoa daquele e que atingiram sua honra subjetiva e objetiva.

No texto de folhas 17, publicado na rede social "facebook", o nome do autor é citado expressamente; postou a requerida Menia, ainda, um vídeo no qual o autor ensina arte marcial a um aluno, vídeo esse acompanhado de comentário depreciativo.

Nos demais textos publicados na mesma rede social (folhas 9/24), vê-se que seu conteúdo desabonador é dirigido ao autor, ainda que

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seu nome não tenha sido expressamente mencionado.

Confira-se o conteúdo do texto publicado no "facebook", trazido aos autos a folhas 16:

"(...) o que dizer de uma pessoa que não gosta de pegar no pesado vive sugando de todos ao seu redor... bom aqui todos trabalham honestamente não vivo de migalhas de parentes e nem usamos de má-fé para ganhar mixaria...".

Chama-se a atenção para o depoimento prestado pelas testemunhas Gilson Rossato de Andrade e Fabiano Pereira Ferreira a folhas 90 e 95, que reforça a prova documental dos autos, demonstrando que os réus divulgaram publicamente não ter o autor qualificação técnica para o exercício de sua profissão:

"(...) que ficou sabendo dos fatos narrados na inicial, tendo acompanhado todo o processo, no caso, dos crimes contra honra, tendo acompanhado pelas redes sociais; que visualizou nos perfis pessoais dos requeridos e no grupo da cidade no facebook, 'Falando Sério de Patrápolis-MG'; que na época teve um rebuliço na cidade, sendo motivo de muita conversa, tendo marcado bastante a cidade, havendo comentários entre as pessoas a respeito; que o fato gerou a saída de alunos da academia do requerente; (...)" (depoimento de folhas 90).

"(...) que os querelados ofenderam o querelante, dizendo que o mesmo não tinha capacidade para ser professor de Muay Thai; que as ofensas se deram em rede social; que o depoente se sentiu também ofendido porque é presidente da Associação de Muay Thai a qual o querelante é filiado; que as ofensas foram que o depoente vendia certificados para dar aula, o que foi prejudicando o querelante em suas aulas; que alguns alunos acharam realmente que o querelante tinha comprado os certificados, tendo o querelante perdido alguns alunos; que os comentários eram para desfazer o trabalho do

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querelante, 'para colocar ele pra baixo', as postagens eram diretamente para o querelante; (...) que já visualizou várias postagens ofensivas ao querelante, sendo que algumas citavam o nome do depoente; que alguns comentários diziam que o querelante 'era burro e como ele estaria ministrando aulas'; (...)" (depoimento de folhas 95, prestado no juízo criminal).

Registre-se, por oportuno, que a requerida Menia, em depoimento pessoal prestado a folhas 91, confessa ser de sua autoria os textos divulgados em sua página pessoal no "facebook", tendo a requerida ainda afirmado possuir um número de cerca de 2.000 amigos em aludida rede social.

Conforme bem consignado pelo culto sentenciante, a cidade de Pratápolis é pequena, contando com cerca de 8.000 habitantes, sendo certo que qualquer fato publicado nas redes sociais "tem endereço certo, mesmo que não se citando expressamente o nome da pessoa que se procura atingir com o comentário".

Acresça-se que os boletins de ocorrência de folhas 26/32 relatam ter sido o autor agredido fisicamente e moralmente em público pelo réu Fábio, em virtude da inimizade havida entre eles.

Resta claro, portanto, que os réus/apelantes indubitavelmente extrapolaram os limites dos seus direitos constitucionais de liberdade de expressão e informação, atingindo a honra e a imagem da pessoa do autor, incorrendo em flagrante abuso de direito, com previsão no artigo 187 do Código Civil, in verbis:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".

"Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim

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econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

A propósito da configuração do dano moral, tenho que a sentença hostilizada não merece reparos, também nesse particular aspecto. Segundo Sérgio Cavalieri Filho o "dano moral, à luz da Constituição vigente, nada mais é do que agressão à dignidade humana" e explica: "(...) só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero aborrecimento, dissabor, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. (...)" (in Programa de Responsabilidade Civil - 10. ed. - São Paulo: Atlas, 2012, p. 93).

Assim, constitui dano moral o prejuízo decorrente de dor que provoca constrangimento, mágoa ou tristeza na intimidade da pessoa, que se diferencia, porém, de meros aborrecimentos aos quais todas as pessoas estão sujeitas porque são fatos corriqueiros e atinentes à vida em sociedade e, por conseguinte, incapazes de gerar dano passível de ressarcimento. De fato, para que haja a compensação da dor moral o ato considerado como ilícito deve ser capaz de ocasionar um sofrimento físico ou espiritual, impingindo tristezas, preocupações, angústias ou humilhações, afetando o psicológico do ofendido de forma a suplantar os meros aborrecimentos, servindo a indenização como forma de compensar a lesão sofrida.

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No caso dos autos, entendo ser evidente o prejuízo moral, ante a exposição negativa da imagem do autor perante a sociedade, seja no campo pessoal, seja no campo profissional, não se podendo perder de vista que essa exposição se deu publicamente e em diversas ocasiões, em uma pequena cidade do interior, onde a repercussão dos fatos tem maior impacto na vida do ofendido.

No tocante ao quantum da indenização, cuja redução buscam os requeridos/apelantes, cumpre observar que a reparação do dano moral significa uma forma de compensação e nunca de reposição valorativa de uma perda. Deve ser fixada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com moderação, observando-se as peculiaridades do caso concreto e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo que o valor não seja tão elevado que se constitua em fonte de enriquecimento sem causa, tampouco insignificante a ponto de não atender ao seu caráter punitivo. A propósito, confira-se lição do mestre Sérgio Cavalieri Filho:

"Creio que na fixação do 'quantum debeatur' da indenização, mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral, deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano não pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para reparar o dano, o mais completamente possível, e nada mais. Qualquer quantia a maior importará enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano. Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é sensato, comedido, moderado; que guarda uma certa proporcionalidade. Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras c i r c u n s t â n c i a s m a i s q u e s e f i z e r e m p r e s e n t e s " . ( P r o g r a m a d e Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 81-82)

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Também nesse sentido a jurisprudência:

"Não há critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral. Recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e atendendo às peculiaridades do caso concreto" (RSTJ 140/371).

"Critérios de quantificação da indenização que devem atender a determinados balizamentos, que obedeçam ao padrão social e cultural do ofendido, à extensão da lesão do seu direito, ao grau de intensidade do sofrimento enfrentado, às condições pessoais do devedor, ao grau de suportabilidade do encargo pelo último, sem descurar do caráter reparatório, sempre com a preponderância do bom senso e da razoabilidade do encargo" (Ajuris 76/608).

"Na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida". (RSTJ 112/216 e STJ-RF 355/201).

"A indenização deve ter conteúdo didático, de modo a coibir reincidência do causador do dano sem enriquecer injustamente a vítima. (STJ-3ª T., REsp 831.584-AgRg-EDcl, Min. Gomes de Barros, j. 24.8.06, DJU 11.9.06)". (in Código Civil e legislação civil em vigor/Theotonio Negrão, José Roberto F. Gouvêa, Luis Guilherme Aidar Bondioli - 30. ed. - São Paulo: Saraiva, 2011, p. 109).

No caso sub judice, entendo que o valor fixado em primeiro grau não se m o s t r a c o n s e n t â n e o c o m o s p r i n c í p i o s d a r a z o a b i l i d a d e e d a proporcionalidade, pelo que tenho por necessária a redução da indenização devida a título de danos morais para o valor de R$4.000,00, valor que reputo suficiente e condizente com as peculiaridades do caso para reparação da dor moral sofrida pelo autor, sendo também adequado para atender ao caráter punitivo-pedagógico da condenação.

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Com tais considerações, dou parcial provimento ao recurso, e faço-o para reduzir o quantum indenizatório para R$4.000,00.

Custas recursais no importe de 30% para o autor e 70% para os réus, suspensa a exigibilidade, todavia, ante a concessão, em primeiro grau, dos benefícios da gratuidade judiciária; deixo de fixar honorários recursais, a teor do disposto no artigo 85, "caput" e §§ 1º e 11, do CPC/15, uma vez que já fixados em sentença honorários advocatícios no percentual máximo permitido em lei.

DES. NEWTON TEIXEIRA CARVALHO - De acordo com o(a) Relator(a). DES. ALBERTO HENRIQUE - De acordo com o(a) Relator(a).

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