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O ACESSO DAS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE AOS JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS

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E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE AOS

JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS

Armindo de Castro Júnior1

Marco Antonio Lorga2

INTRODUÇÃO

As Microempresas e Empresas de Pequeno Porte contribuem de forma efetiva para o desenvolvimento da economia mundial desde a Re-volução Industrial e mostram ao mundo a necessidade cada vez maior de estimular o seu desenvolvimento sustentável, em prol da função social que exercem na sociedade.

É fato comprovado que as Microempresas (ME) e Empresas de Pe-queno Porte (EPP) são magníficas oportunidades para os países constituí-rem a própria estabilidade econômica, social e política, através da capaci-dade de geração de empregos, renda e movimentação de riquezas.

Os países em desenvolvimento necessitam de certa informalidade para que os pequenos empresários tenham facilidade no atendimento a exigências legais, como tributárias e trabalhistas, que normalmente em-perram o cotidiano de suas empresas. Este caminho tem sido trilhado por diversos países mais adiantados, que livram as pequenas empresas da so-brecarga burocrática e fiscal.

No Brasil, este segmento tem um papel importantíssimo como fonte geradora de empregos, absorvendo grande parte da mão-de-obra vinda de demissões em massa de grandes empresas, oriundas das políticas de desestatização e globalização.

A título de ilustração, as pequenas empresas representam um segmen-to econômico que congrega 99,2% de segmen-todas as empresas do país, quase 60% dos empregos e 20% do Produto Interno Bruto Nacional. Este segmento é, portanto, um “pequeno gigante” dentro do nosso sistema econômico-social. 1 Professor da Unic; mestre em Ciências Jurídico-empresariais pela Universidade de Coimbra (Portu-gal); especialista em Didática Geral; autor da obra Títulos de Crédito. 3. ed. Carlini & Caniato, 2009. 2 Bacharel em Direito do 10º semestre de Direito da Universidade de Cuiabá – Unic – 2008/2.

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Não basta, contudo, a simplificação de cobrança de tributos e débitos trabalhistas para que as ME e EPP possam ser competitivas no mercado. Existe, pois, a necessidade de se garantir o acesso de tais empresas ao Judiciário, como forma de se atingir a tutela jurisdicional desejada, no menor prazo possível e ao menor custo. Esse é o objetivo do presente artigo.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seus artigos 170, IX, e 179, que os entes federativos têm a obrigação de conferir, às microempresas e empresas de pequeno porte, um tratamento jurídico diferenciado:

Artigo 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte cons-tituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração. [...]

Artigo 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.3

Com a entrada em vigor da Constituição, surgiram várias leis de es-tímulo às microempresas e empresas de pequeno porte, produzidas prin-cipalmente pelos Estados, que começaram a sofrer pressão das entidades representativas do segmento das ME e EPP para o cumprimento do man-damento constitucional.

3 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.presiden-cia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

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Somente em 1996, oito anos após a promulgação da Carta Magna, foi editada a Lei nº 9.317/964, instituindo o SIMPLES, que nada mais era que um sistema simplificado de recolhimento de tributos e contribuições federais. Uma ação muito tímida, por se tratar de um segmento tão impor-tante, social e economicamente para o país.

Os Estados e municípios poderiam, mediante um simples convênio, aderir ao SIMPLES, que abrangeria os tributos devidos aos Estados e aos Municípios, o que de fato não ocorreu. Justificou-se a não-adesão por re-ceio de demora na redistribuição dos recursos pela União e, até mesmo, a possibilidade de compensação das dívidas dos Estados e municípios para com a União.

A situação acabou gerando 28 tratamentos tributários diferenciados em todo o país. Pouquíssimos municípios aderiam ao SIMPLES da União, e a grande maioria não ofereceu qualquer benefício para as microempresas e empresas de pequeno porte.

No dia 5 de outubro de 1999, foi sancionada a Lei nº 9.8415, que instituiu o Estatuto das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, cum-prindo, em parte, o comando constitucional de promover um tratamento diferenciado nas áreas das obrigações de natureza administrativa, tributá-ria, previdenciátributá-ria, trabalhista, creditícia e desenvolvimento empresarial. Mais uma vez, porém, não aconteceu o sucesso da adesão dos Estados e municípios, pelas razões já apresentadas.

Com a criação do Fórum Permanente das Microempresas e Empre-sas de Pequeno Porte, em 19 de maio de 2000, pelo Decreto nº 3.4746, foram estimulados, de forma sistematizada, os debates sobre questões de interesse do segmento.

No ano de 2003, com o apoio de instituições de representação dos pequenos empresários, iniciou-se um movimento para uniformização sis-temática das normas e a ampliação dos benefícios.

4 BRASIL. Lei nº 9.317/96. Dispõe sobre o regime tributário das microempresas e das empresas de pequeno porte, institui o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de pequeno Porte - SIMPLES e dá outras providências. Disponí-vel em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

5 BRASIL. Lei nº 9.841/99. Institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Por-te, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos arts. 170 e 179 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legisla-cao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

6 BRASIL. Decreto nº 3.474/2000. Regulamenta a Lei nº 9.841, de 5 de outubro de 1999, que institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

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O movimento culminou, em 19 de dezembro de 2003, com a edição da Emenda Constitucional nº 42, que alterou o artigo 146 da Constituição Federal, passando a ficar com a seguinte redação:

Artigo 146. Cabe à lei complementar:

[...]

III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, es-pecialmente sobre:

[...]

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microem-presas e para as emmicroem-presas de pequeno porte, inclusive regimes espe-ciais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.

Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e con-tribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que:

I – Será opcional para o contribuinte; II – Poderão ser estabelecidas por Estado;

III – O recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento;

IV – A arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes.7 A Emenda Constitucional nº 42/2003 trouxe grandes avanços, po-dendo ser considerada um marco no processo evolutivo da legislação para as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do país.

Em 2006, seguindo o mandamento constitucional, foi aprovada, no dia 12 de setembro de 2006, a Lei Complementar nº 1238, conhecida como Nova Lei Geral da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

7 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Op. cit.

8 BRASIL. Lei Complementar nº 123/2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Em-presa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nº 8.212 e nº 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e nº 9.841, de 5 de outubro de 1999. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

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DEFINIÇÃO DE MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE

A Lei Complementar nº 123/2006 define, em seu Capítulo II, o que são microempresas e empresas de pequeno porte:

Art. 3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se

micro-empresas ou micro-empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, con-forme o caso, desde que:

I – no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais);

II – no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).9 Como se depreende do texto legal, estão enquadrados no conceito de microempresa e de empresa de pequeno porte tanto os empresários individuais (pessoas físicas), como as sociedades simples e empresárias (pessoas jurídicas), não havendo, portanto, qualquer divergência de trata-mento entre tais pessoas.

ACESSO À JUSTIÇA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal de 1998 estabeleceu a criação dos Juizados Especiais, com o objetivo de tornar a Justiça brasileira mais célere. Vejamos:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas

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cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.10

LEI Nº 9.099/1995

Em obediência ao comando constitucional, os Juizados Especiais Cíveis e Criminais foram criados pela Lei nº 9.099/1995 (LJE), tendo como objetivo a conciliação, o processo e o julgamento de causas cíveis de me-nor complexidade. A lei excluiu do polo ativo dos Juizados Especiais as pessoas jurídicas, bem como seus cessionários:

Art. 8º. [...]

§ 1º - Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pes-soas jurídicas.11

A possibilidade de o empresário individual propor ação nos Juiza-dos Especiais foi questão que causou grande divergência jurisprudencial. Por exemplo, no Primeiro Encontro de Juízes de Juizados Especiais Cíveis da Capital e da Grande São Paulo, foi aprovado o seguinte enunciado, publicado no DOE-SP em 21 de dezembro de 1998:

10. Firma individual não pode figurar no polo ativo dos feitos perante o Juizado Especial Cível. Inteligência do art. 9º, § 4º, da Lei 9.099/95. Aprovado por maioria.12

A posição dos juízes paulistas foi totalmente equivocada. Não existe qualquer empecilho na LJE que impeça ao empresário individual o acesso aos benefícios dos juizados, na medida em que é pessoa física capaz, con-forme dispõe o art. 8º da Lei.

10 BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Op. cit.

11 BRASIL. Lei nº 9.099/1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras pro-vidências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em 03 nov 2009. 12 ESTADO DE SÃO PAULO. Enunciados do Juizado Especial Cível de São Paulo. Disponível em:

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Sobre a personalidade do empresário individual, Gladston Mamede ensina que:

[...] a figura do empresário, também chamado de empresa unipessoal,

empresa individual e, mesmo, de firma individual, ou seja, a pessoa natural (pessoa física) que exerce profissionalmente a atividade

econô-mica organizada [...]13

No mesmo sentido, está a lição de Fábio Ulhoa Coelho, ao explicar que o “empresário pode ser pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, denomina-se empresário individual; no segundo, sociedade empresária”.14

Não é diferente o pensamento de Marcelo Bertoldi:

O empresário pode apresentar-se por meio de uma sociedade, se exer-cida por uma pessoa jurídica (reunião de diversas outras pessoas), ou então pode surgir mediante o exercício empresarial desempenhado por uma única pessoa natural – o empresário individual.15

Na verdade, o empresário individual é uma pessoa física que tem tratamento tributário de pessoa jurídica, não podendo ser confundido com esta. Sobre o tema, Rubens Requião é bastante preciso:

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina explicou muito bem que o comerciante singular, vale dizer, o empresário individual, é própria pes-soa física ou natural, respondendo os seus bens pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis, quer comerciais. A transformação de firma individual em pessoa jurídica é uma ficção do direito tributário, somen-te para o efeito de imposto de renda (Ap. cív. Nº 8.447 – Lajes, in Bol.

Jur. ADCOAS Nº 18.878/73).16

O entendimento dos juízes paulistas está pautado no art. 9º da LJE, que assim dispõe:

13 MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 12. 14 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 19. 15 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira Ribeiro. Curso avançado de direito

co-mercial. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 54.

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§ 4º - O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado.17

O próprio legislador reconheceu a existência da firma individual e a diferenciou da pessoa jurídica, seguindo a doutrina pacificada. Se quisesse excluir o empresário individual do polo ativo dos juizados, o legislador o teria feito quando da redação do art. 8º e não o fez.

Comentando o art. 8º, § 1º, da LJE, Cândido Rangel Dinamarco igual-mente postula pela possibilidade de o empresário individual demandar nos juizados especiais:

A lei não faz menção às firmas individuais, seja para incluí-las, seja para excluí-las. Mas a firma individual é outra coisa senão o empresário em nome individual, que como tal é tratado pelo fisco mas nem por isso deixa de ser uma pura e simples pessoa física.[...]

Elas são portanto admitidas aos juizados cíveis, quer no polo ativo ou no passivo do processo; seria uma injusta incoerência admitir as micro-empresas, que são pessoa jurídica, e não admitir as firmas individuais, que sequer pessoa jurídica são.18

Conclui-se, portanto, que os empresários individuais podem postular no polo ativo dos juizados especiais, independentemente do porte de sua empresa. LEI Nº 9.841/1999

Posteriormente, em 1999, a Lei nº 9.841 permitiu às microempresas a propositura de ações nos juizados especiais às microempresas:

Art. 38. Aplica-se às microempresas o disposto no § 1º do art. 8º da Lei

nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, passando essas empresas, assim como as pessoas físicas capazes, a serem admitidas a proporem ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pes-soas jurídicas.19

17 BRASIL. Lei nº 9.099/1995. Op. cit.

18 DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual dos Juizados Especiais Cíveis. 2.ed. São Paulo: Malhei-ros, 2001. p. 84-85.

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Obviamente, pelo já exposto, a inovação trazida pela Lei nº 9.841/1999 foi a possibilidade de que pessoas jurídicas pudessem deman-dar nos juizados, desde que se qualificassem como microempresas. LEI Nº 10.259/2001

Em 2001, a Lei nº 10.259, que criou os Juizados Especiais Federais, deu legitimidade ativa às empresas de pequeno porte na esfera federal:

Art. 6º. Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível

I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pe-queno porte, assim definidas na Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996.20 LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006

O acesso das empresas de pequeno porte aos benefícios dos juiza-dos estaduais somente se deu em 2006, com a edição do novo Estatuto da ME/EPP, que assim dispõe:

Art. 74. Aplica-se às microempresas e às empresas de pequeno porte

de que trata esta Lei Complementar o disposto no § 1º do art. 8º da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e no inciso I do caput do art. 6º da Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001, as quais, assim como as pessoas físicas capazes, passam a ser admitidas como proponentes de ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas.21

Pelo novo Estatuto da ME/EPP, portanto, as pessoas jurídicas podem demandar nos juizados especiais, desde que estejam enquadradas como microempresas ou empresas de pequeno porte.

No tocante ao cessionário de direito de pessoas jurídicas, o objetivo da LJE, ao excluí-los, está em evitar fraude à gratuidade dos juizados, cau-sada pela cessão de direitos de uma pessoa jurídica, que não poderia se 20 BRASIL. Lei nº 10.259/2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e

Crimi-nais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 7 jan. 2009.

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beneficiar dos juizados, a outra pessoa que tem capacidade postulatória. Dessa forma, deve-se levar em conta, também, a qualidade do ce-dente: se a pessoa jurídica for microempresa ou empresa de pequeno porte, o cessionário deve ser admitido a demandar nos juizados porque tal pessoa jurídica poderia fazê-lo. Vale, portanto, a máxima de quem pode o mais, pode o menos.

Causa estranheza a interpretação restritiva dada ao art. 74 do Esta-tuto da ME/EPP por alguns juízes, que somente vêm admitindo os empre-sários individuais aos benefícios dos juizados especiais, excluindo, pois, as pessoas jurídicas enquadradas pelo estatuto.

Em recente julgado, a juíza Vera Lúcia Calviño, da 2ª Vara do Juizado Especial Cível de Guarulhos, extinguiu processo promovido por pessoa jurídica microempresária sob o argumento de que o Estatuto das ME/EPP não havia alterado a redação do art. 8º, § 1º, da LJE.22

A interpretação da juíza paulista está totalmente equivocada. Pelo já exposto, qualquer empresário individual pode demandar nos juizados, independentemente de ser enquadrado como ME ou EPP. O já citado art. 3º do Estatuto das ME/EPP é suficientemente claro e não admite a interpre-tação restritiva dada pela juíza: “Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário [...]”.

CONCLUSÃO

As ME e EPP compõem uma importante fonte geradora de empre-gos e tributos. Para que possam cumprir sua função social é necessário, contudo, proteger os pequenos empreendedores, no início de suas ativida-des, simplificando a cobrança de tributos e encargos trabalhistas.

Além disso, o acesso à justiça gratuita faz-se necessário, para que os pequenos empresários possam cobrar seus créditos, de pequena monta na maior parte das vezes. Em alguns estados da federação, as custas proces-suais chegam a ser superiores aos créditos a serem cobrados, sem prejuízo dos honorários advocatícios, fato que acaba inviabilizando, por completo, o acesso à justiça comum dos pequenos empreendedores.

22 MATSURA, Lilian. Micro e pequenas não podem recorrer a Juizados. Disponível em: <http:// www.conjur.com.br>. Acesso em: 13 maio 2009.

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A evolução da legislação brasileira garante, desde a edição da Lei nº 9.099/1995, o acesso dos empresários individuais, qualquer que seja seu porte, aos benefícios dos juizados especiais.

Com a edição dos Estatutos das ME e EPP, tal benefício foi estendido às pessoas jurídicas, desde que se enquadrem como microempresários ou empresários de pequeno porte.

Compete ao Judiciário aparelhar-se para cumprir a legislação que garante às ME e EPP o acesso à justiça especial, evitando interpretações restritivas para impedir o que a lei expressamente dispõe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira Ribeiro. Curso avançado de direito comercial. 5 ed. São Paulo: RT, 2009. p. 54.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http:// www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

______. Decreto nº 3.474/2000. Regulamenta a Lei nº 9.841, de 5 de outubro de 1999, que institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

______. Lei Complementar nº 123/2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempre-sa e da EmpreMicroempre-sa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nº 8.212 e nº 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, apro-vada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e nº 9.841, de 5 de outubro de 1999. Dis-ponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007. ______. Lei nº 9.099/1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legisla-cao/>. Acesso em: 03 nov. 2009.

______. Lei nº 9.317/96. Dispõe sobre o regime tributário das microempresas e das empresas de pequeno porte, institui o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de pequeno Porte - SIMPLES e dá outras providências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov. br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

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______. Lei nº 9.841/99. Institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos arts. 170 e 179 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 02 jan. 2007.

______. Lei nº 10.259/2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cí-veis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em: <http://www.presi-dencia.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 07.jan. 2009.

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 19.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual dos Juizados Especiais Cíveis. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 84-85.

ESTADO DE SÃO PAULO. Enunciados do Juizado Especial Cível de São Paulo. Disponível em: <http://carlosrossi.wordpress.com/enunciados/enunjec/>. Acesso em: 03 nov. 2009.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 12.

MATSUURA, Lilian. Micro e pequenas não podem recorrer a Juizados. Disponível em <http://www.conjur.com.br>. Acesso em: 13 maio 2009.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1, p. 78.

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