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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG

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Academic year: 2021

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ALBERTO MACHADO FERREIRA

PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

ÍNDICE DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL PARA A

CIDADE DE BELO HORIZONTE, BASEADA NA SOBREPOSIÇÃO

ESPACIAL DE COMPONENTES SOCIODEMOGRÁFICAS E

GEOMORFOLÓGICAS

Belo Horizonte,

2015

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PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

ÍNDICE DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL PARA A

CIDADE DE BELO HORIZONTE, BASEADA NA SOBREPOSIÇÃO

ESPACIAL DE COMPONENTES SOCIODEMOGRÁFICAS E

GEOMORFOLÓGICAS

Monografia

apresentada

ao

Departamento de Antropologia e

Arqueologia

da

Faculdade

de

Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Minas

Gerais como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em

Ciências Socioambientais.

Orientador: Prof. Bráulio Figueiredo

Alves da Silva

Belo Horizonte,

2015

(3)

CFRB...Constituição Federal da República do Brasil, de 1988; CDPCM-BH...Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do

Município de Belo Horizonte;

PBH...Prefeitura de Belo Horizonte; UFMG...Universidade Federal de Minas Gerais SMAPU...Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano GGEOP...Gerência de Geoprocessamento (SMAPU); SMARU...Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, SMPL... Secretaria Municipal de Planejamento; SIG...Sistema de Informações Geográficas; IBGE...Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ESRI/ARCGIS...Software para desenvolvimento de sistemas de informações

geográficas;

ENCE...Escola Nacional de Ciências Estatísticas; RMSP...Região Metropolitana de São Paulo; RMBH...Região Metropolitana de Belo Horizonte; PMSP...Prefeitura Municipal de São Paulo; SCBH...Setores Censitários de Belo Horizonte IQVU...Índice da Qualidade de Vida Urbano

PUC/MG...Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; SMDS...Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (BH); Urbel...Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte; Prodabel...Empresa de Informática do Município de Belo Horizonte; PEAR...Programa Estrutural em Área de Risco SVS...Índice de Vulnerabilidade Social (ou da Saúde, BH);

CEM/CEBRAP/SAS/PMSP...Centro de Estudos da Metrópole/Centro Brasileiro de Análise e Planejamento/Secretaria de Assistência Social/Prefeitura Municipal de São Paulo;

IGC...Instituto de Geociências (UFMG); UFV...Universidade Federal de Viçosa. SPSS ...Statistical Package for the Social Sciences

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CFRB...Constituição Federal da República do Brasil, de 1988; CDPCM-BH...Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do

Município de Belo Horizonte;

PBH...Prefeitura de Belo Horizonte; UFMG...Universidade Federal de Minas Gerais SMAPU...Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano GGEOP...Gerência de Geoprocessamento (SMAPU); SMARU...Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, SMPL... Secretaria Municipal de Planejamento; SIG...Sistema de Informações Geográficas; IBGE...Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ESRI/ARCGIS...Software para desenvolvimento de sistemas de informações

geográficas;

ENCE...Escola Nacional de Ciências Estatísticas; RMSP...Região Metropolitana de São Paulo; RMBH...Região Metropolitana de Belo Horizonte; PMSP...Prefeitura Municipal de São Paulo; SCBH...Setores Censitários de Belo Horizonte IQVU...Índice da Qualidade de Vida Urbano

PUC/MG...Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; SMDS...Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (BH); Urbel...Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte; Prodabel...Empresa de Informática do Município de Belo Horizonte; PEAR...Programa Estrutural em Área de Risco SVS...Índice de Vulnerabilidade Social (ou da Saúde, BH);

CEM/CEBRAP/SAS/PMSP...Centro de Estudos da Metrópole/Centro Brasileiro de Análise e Planejamento/Secretaria de Assistência Social/Prefeitura Municipal de São Paulo;

IGC...Instituto de Geociências (UFMG); UFV...Universidade Federal de Viçosa. SPSS ...Statistical Package for the Social Sciences

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1. Introdução 4

1.1. Apresentação 4

1.2. Objetivos, razões e espacialidades 6

1.3. Breve histórico da cidade de Belo Horizonte 12

1.4. Belo Horizonte: aspectos geográficos e geomorfológicos 13

2. Desenvolvimento 16

2.1. Considerações teóricas 16

2.1.1. Aspectos locais das situações de vulnerabilidade 16

2.1.2. O espaço como categoria para compreensão do lugar 22

2.1.3. A predominância como medida da culminância 23

2.1.4. Algo sobre a categoria Patrimônio Cultural 26

2.1.5. A vulnerabilidade como categoria 28

2.2. Materiais e método 31

2.2.1. Construção da componente social da vulnerabilidade 31

2.2.2. Construção da componente ambiental da vulnerabilidade 43

2.2.3. Operacionalização do Índice da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte 51

3. Conclusões 59

3.1. Algumas localidades situadas no entorno tombado da Serra do Curral identificadas como de alta vulnerabilidade socioambiental 59

3.2. Considerações finais 64

4. Apêndices e anexos 66

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1.

Introdução

1.1. Apresentação

O propósito deste trabalho não reside apenas no intento de consagrar seu objetivo de propor uma metodologia que incorpora riscos geológicos na construção de um índice da vulnerabilidade socioambiental para o município de Belo Horizonte mas, também, o de cumprir, apresentando-o como Trabalho de Conclusão de Curso, a etapa decisiva da formação como Bacharel em Ciências Socioambientais, graduação esta que, devido sua característica transdisciplinar, exige do estudante um domínio transversal dos problemas teóricos e empíricos da área de sua formação¹.

Ao referido objetivo implica a utilização, por meio da construção de um Sistema de Informações Geográficas, SIG, em que se sobrepõe a cartografia das áreas sujeitas à predisposição aos riscos devidos às diversas modalidades de processos geológicos que afetam a região do município de Belo Horizonte, à malha dos Setores Censitários do IBGE, SCBH/IBGE, circunscritos nesse mesmo território e aos quais estão agregadas as informações sociodemográficas levantadas pelo Censo Demográfico IBGE 2010.

A manipulação de dados através de SIG possibilita um “olhar espacializado” que, de acordo com Souza, G.C. (2003), “... impõe a necessidade de se pensar como interpretar a relação entre a distribuição da ocorrência de um determinado fenômeno, representado em uma determinada área, com as várias dimensões da realidade, nesse mesmo espaço”.

A ideia original que inspirou a pesquisa que aqui se desenvolve, adveio da participação deste graduando na disciplina optativa “Sistema de Informações Geográficas e aplicação com dados socioambientais”, ministrada pelo professor Doutor Bráulio Figueiredo Alves da Silva e oferecida aos alunos de Ciências Sociais e Ciências Socioambientais, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Para ministrar a referida disciplina o professor Bráulio, em sua ementa, propõe “apresentar e introduzir os conceitos do Sistema de Informações Geográficas – SIG, e sua aplicabilidade com dados de meio ambiente e sociais, discutindo questões tais como: a) processo de construção do conhecimento científico; b) tipos e métodos de pesquisas quantitativas; c) estudo de casos associados ao conceito de Vulnerabilidade Socioambiental; d) fontes de dados socioambientais; e) análises descritivas de dados socioambientais com uso do SPSS² f) visualização espacial de dados sócio-ambientais com uso do ARCGIS-ESRI²”.

________________________

¹ http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgFB8AG/bacharelado-ciencias-socioambientais ² Softwares aplicativos utilizados para a realização deste trabalho.

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A oportunidade de participar da referida disciplina proporcionou o contato com uma rica e diversificada bibliografia a qual, através de artigos e trabalhos relacionados à variedade dos tópicos mencionados acima, em especial aquele referente à construção de indicadores socioambientais espacializados através do uso de sistema de informações geográficas, implicou a arremetida aos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de Ciências Socioambientais através, por exemplo, de disciplinas tais como “Introdução à geodiversidade”, “Tópicos em Geologia: Espaço, território, paisagem e região nos estudos ambientais”, “Tópicos em Demografia: População e meio ambiente”, “Análise ambiental”, “Ecologia política e justiça ambiental”, “Urbanização e dinâmica urbana”, “Métodos quantitativos”, “Métodos qualitativos”, “Fundamentos de análise sociológica”, dentre outras.

No entanto, inserido no universo dessa bibliografia, o artigo de Humberto Prates da Fonseca Alves, denominado “Vulnerabilidade socioambiental na metrópole paulistana: uma análise sociodemográfica das situações de sobreposição espacial de problemas e riscos sociais e ambientais”, foi o que efetivamente mais inspirou este trabalho, pois relata os processos que objetivaram “[...] identificar e caracterizar populações em situação de vulnerabilidade socioambiental na cidade de São Paulo, através da construção de indicadores sociais e ambientais, tomando como fonte de informações socioeconômicas e demográficas os microdados dos setores censitários do IBGE relativos à referida cidade, articulados com parâmetros ambientais desenvolvidos a partir da hidrografia local, [...], com a finalidade de operacionalizar empiricamente a categoria vulnerabilidade socioambiental e com o objetivo de identificar e caracterizar populações nesta situação, por meio da construção de indicadores ambientais, utilizando-se de ferramentas de gerenciamento de informações geográficas” (ALVES, 2006).

Penetrar no universo das possibilidades do geoprocessamento na construção de indicadores sociais e ambientais foi como promover uma prospecção transversal por todas essas disciplinas e isto acendeu grande entusiasmo para a elaboração de uma monografia nesta área. Dessa forma, a busca de argumentos, justificativas, ponderações e análises se realizaria em meio a uma grande diversidade tipológica de campos de conhecimento pelos quais se enveredou durante o curso de Ciências Socioambientais, corroboradas pela consistência das informações estatísticas e dos recursos informacionais disponibilizados.

E foi assim que transpareceu a ideia de se desenvolver uma metodologia para a construção de um indicador que apontasse, em certos recortes intraurbanos da cidade de Belo Horizonte, graus de vulnerabilidade de populações que sofrem, simultaneamente, com problemas ambientais e sociais, no sentido de prover o poder público de orientações e justificativas para a promoção de políticas voltadas à compensação dessas comunidades com projetos socioestruturantes que lhes proporcione empoderamento, equidade e justiça social. Conforme SOUZA, G.C. (2003), “... a utilização de Sistemas de

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Informações Geográficas e de indicadores microlocalizados para políticas públicas induz a responder um problema básico: onde agir”, uma vez que tal pergunta torna-se bastante problemática quando se trata de definir políticas públicas para setores periféricos de regiões metropolitanas conurbadas e populosas.

Os caminhos percorridos para que o objetivo desse trabalho se esboçasse, suscitaram uma miríade de questões, mas, no propósito de se definir uma trilha objetiva, ponderou-se em buscar respostas a uma única pergunta que, para o encalço das metas desse trabalho, dela se devesse partir e que assim se expressa: “é viável, através da operacionalização empírica de indicadores compostos, elaborados a partir de informações georreferenciadas com base em dados sociodemográficos e ambientais espacializados, identificar problemas e mitigar seus efeitos em localidades intraurbanas cujas populações são, sistematicamente, afetadas pela exposição aos riscos impostos pela vulnerabilidade social e ambiental?”.

Existem, sim, algumas respostas possíveis para tal questão, já que também são muitos os conceitos que envolvem tantas categorias necessárias para a construção de indicadores, como, também, são tantos os obstáculos que se devem transpor para integrar os resultados no âmago do universo político-administrativo com o propósito de adaptá-los a pratica.

Assim preconiza o professor Paulo Martino Jannuzzi, da ENCE³/IBGE: “Indicadores sociais permitem a operacionalização de um conceito abstrato ou de uma demanda de interesse programático. Eles apontam, indicam, aproximam, traduzem em termos operacionais as dimensões sociais de interesse definidas a partir de escolhas teóricas ou políticas realizadas anteriormente. Na prática, nem sempre o indicador de maior validade é o mais confiável; nem sempre o mais confiável é o mais sensível; nem sempre o mais sensível é o mais específico; enfim, nem sempre o indicador que reúne todas essas qualidades é passível de ser obtido na escala territorial e na periodicidade requerida” (JANNUZZI, 2005).

1.2. Objetivos, razões e espacialidades

O principal objetivo desse trabalho visa a proposição, à título de exercício, de metodologia para a construção de índice sintético da vulnerabilidade socioambiental, resultante da interação entre dois indicadores, sendo um deles extraído da dimensão social e, o outro, através da dimensão ambiental, cada qual adaptado a determinadas peculiaridades de suas componentes, ou seja, nos campos sociodemográficos e fisiográficos do município de Belo Horizonte, visando ao ajustamento de suas escalas. ___________________________

³ A Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), fundada em 6 de março de 1953, é uma instituição federal de ensino superior dedicada ao ensino de estatística, sendo vinculada ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE apud ALVES, 2006).

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Diferentemente das situações de risco utilizadas como variáveis para a componente ambiental na construção de tantos outros trabalhos prolificamente realizados nesse campo, tais como hidrografia, declividade de terrenos, climatologia, pedologia etc., este exercício recorreu às informações quantitativas intrínsecas à predisposição aos riscos concernentes às estruturas geológico-geomorfológicas inerentes ao território onde se situa a cidade de Belo Horizonte (SILVA et al, 1995) e ineditamente circunscritos aos setores censitários.

A interação entre dois indicadores, acima mencionada, pressupõe a sobreposição espacial da cartografia construída a partir de técnicas de cartografia digital e geoprocessamento que resultaram em um banco de dados geológicos vetoriais georreferenciados (4), à malha digital dos Setores Censitários do IBGE (SCBH/IBGE), adaptados para o Censo 2010 (GGEOP/SMAPU/PBH, 2015).

Aqui os setores censitários, circunscritos aos limites territoriais de Belo Horizonte, são utilizados como unidades espaciais de análise intraurbana e como referencial oficial georreferenciado, resultando um produto sinérgico onde a coexistência espacial das referidas componentes participantes indica, através de uma escala de graus de vulnerabilidade socioambiental, as regiões que devem ser analisadas para posterior adoção de um conjunto de decisões, planos, metas e ações governamentais voltadas para a resolução de problemas pontuais de interesse público.

Em estudos sobre a percepção dos perigos ambientais urbanos e os efeitos de lugar na relação população-ambiente, MARANDOLA JÚNIOR e MODESTO (2012) buscaram um embasamento teórico para a contextualização do debate metodológico em um campo no qual as questões ambientais, sejam ecológicas, geológicas ou demográficas, devem definir-se, para efeito de visibilidade, numa escala palpável no espaço.

Para tanto, ambos apoiam a ideia de que esses estudos devem “buscar uma estratégia de diminuir a escala e investigar de maneira mais detida as múltiplas influências e formas de envolvimento das pessoas com o lugar, encontrando aí as variáveis e nuances que ligam as pessoas aos lugares”. Esses efeitos de lugar (place effects) podem contribuir com a vulnerabilidade das comunidades ao mantê-las, por um sentimento de pertença e relações sociais, em ambientes de risco (ENTWISLE, 2007 apud MARANDOLA JR. e MODESTO, 2012; CUTTER, 2011).

______________________________

4.Segundo informações obtidas com o corpo técnico da GGEOP/SMAPU/PBH, várias instituições participaram deste esforço, entre elas: PBH, UFMG, UFV, Cefet, em ações coletivas ou individuais. É importante ressaltar que “além das ações institucionais, uma vez que trabalho de Silva et al. (1995) é a principal referência sobre a geologia de Belo Horizonte, muitos de seus usuários, estudantes principalmente, realizaram esforços para incluir os mapas analógicos em Sistemas Geográficos de Informação” (GGEOP/SMAPU/PBH, 2015).

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Para Ulrich Beck, teórico alemão que descreveu a “sociedade do risco global” (5), os riscos modernos estão intimamente ligados a decisões técnicas, administrativas e políticas, e pressupõem decisões que são tomadas com base em normas fixas de cálculo e essas normas estão se tornando inválidas na sociedade do risco global. Sob essa ótica ainda é mais justificável a aproximação das escalas, visando ao olhar mais detido e calculável às situações de risco às quais as comunidades humanas estão sujeitas.

Segundo Jannuzzi (2005), “indicadores sociais devem conter certos traços que os analistas consideram como imprescindíveis às especificidades do âmbito de aplicação. Devem, portanto, possuir propriedades tais como serem sensíveis às políticas públicas inerentes à agenda adotada pelos agentes públicos, abrangerem contingente populacional congruente às suas finalidades, devem usar dados confiáveis em sua construção, serem inteligíveis tanto para os agentes quanto para o público-alvo, serem atualizáveis de forma prática, possuírem historicidade para poderem ser comparados e não dependerem de vizinhanças geográficas, serem autônomos, ou seja, serem desagregáveis em todos os sentidos”.

A aplicabilidade dos resultados das análises intraurbanas, apontados pela eventual operacionalização do pretenso Índice da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte, deverá permitir identificar focos propensos a intervenções gestionárias, os quais deverão transparecer com maior nitidez devido ao incremento proporcionado pela sobreposição espacial das componentes social e ambiental.

Como objetivo específico, no entanto, serão identificadas, a partir de interpretações sobre o mapa da vulnerabilidade socioambiental construído, algumas das comunidades críticas, subnormais e de classe média, que se inserem no entorno da Serra do Curral a qual, devido suas características socioeconômicas, demográficas e paisagísticas, bem como algumas importantes e peculiares situações geográficas, teve seu entorno tombado como patrimônio natural e paisagístico e hoje se caracteriza como um dos eixos preferenciais de adensamento da capital mineira (FERREIRA, 2003 apud DUARTE et al).

O empenho em propor uma metodologia para a construção de um índice da vulnerabilidade socioambiental certamente não é novidade em Belo Horizonte. Em novembro de 2008 a Revista do Observatório do Milênio de Belo Horizonte publicou um artigo de autoria dos geógrafos Diego R. Macedo e Glauco Umbelino, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais, que apresentava um estudo sobre os riscos associados à ocupação em relação ao quadro fisiográfico de Belo Horizonte, através de uma análise baseada nas fragilidades relativas às inundações e escorregamentos, ao lado de aspectos socioeconômicos e demográficos da população residente. A finalidade visava à sustentabilidade ambiental e à implementação de políticas habitacionais, através _________________________

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do mapeamento das áreas ideais para o assentamento humano.

Em meados dos anos de 1990 uma equipe multidisciplinar que reunia pesquisadores qualificados da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG e da Secretaria Municipal de Planejamento, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, criaram uma parceria para elaborar o Índice de Qualidade de Vida Urbana – IQVU, cuja primeira versão, editada em 1996 com dados de 1994, foi composta por 75 indicadores georreferenciados que procuraram exprimir a distribuição intraurbana da oferta de serviços e recursos urbanos relacionados aos diversos setores da gestão municipal.

A metodologia para a construção do IQVU partiu da definição de temas variados discutidos por uma equipe de gestores setoriais e regionais, temas estes vinculados às variáveis utilizadas pelo IBGE nos campos sociodemográficos e econômicos e que, após um processo de atribuição de pesos segundo critérios diversos, novas composições foram articuladas e efetuadas aglutinações que, ao final, transformaram-se em componentes de um indicador sintético. A componente ambiental, nesse caso, agregou-se através de variáveis relacionadas às condições sanitárias dos domicílios e de agregou-seus entornos, tais como coleta de lixo, ligação de esgoto etc., (SMPL/PBH, 2000).

Já mais para fins dos anos de 1990, uma parceria entre a PUC/MINAS e as Secretarias Municipais de Planejamento (SMPL) e de Desenvolvimento Social (SMDS) da Prefeitura de Belo Horizonte, concordou em elaborar o Mapa da Exclusão Social cujo princípio definia exclusão social “como o processo que impossibilita parte da população de partilhar dos bens e recursos oferecidos pela sociedade, conduzindo à privação, ao abandono e à expulsão dessa população dos espaços sociais” (5).

O processo de elaboração do Mapa de Exclusão Social se concretizou a partir do dimensionamento e espacialização de um conjunto de dados georreferenciados relativos a manifestações do processo de exclusão social na população da cidade, obtidos até 1996 e que deram origem a uma série de indicadores que participaram da composição do mapa. Dentre esses indicadores destaca-se a construção do IVS – Indicador da Vulnerabilidade Social - cuja função foi dimensionar o acesso da população de Belo Horizonte a cinco dimensões de cidadania que são: Dimensão Ambiental; Dimensão Cultural; Dimensão Econômica; Dimensão Jurídica e Dimensão Segurança e Sobrevivência.

Às dimensões acima mencionadas foram agregadas a uma ou mais variáveis definidas através de indicadores ponderados e o cálculo do IVS processou-se através da padronização das escalas de cada uma das componentes selecionadas para sua construção, para uma única escala de medida que variou entre “0” e “1”, onde os valores _______________________

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próximos a “0” (zero) significam baixa vulnerabilidade e os próximos a “1” (um), alta vulnerabilidade ou maior exclusão. Os indicadores multidimensionais produzidos passaram, então, a constituir o Mapa da Exclusão Social.

Outra experiência importante e que ainda hoje se realiza no município de Belo Horizonte é a construção e edição do Indicador da Vulnerabilidade da Saúde – IVS. Apesar de utilizar-se de uma sigla normalmente empregada para expressar indicadores da vulnerabilidade social, inclusive o que foi criado para o Mapa da Exclusão Social (PUC-MINAS/SMPL/SMDS/PBH, 1999), este indicador já possui certa historicidade e sua metodologia é bem parecida com a que foi construída para o IQVU, com a diferença de que suas variáveis são bem definidas no campo da saúde e utiliza as Unidades de Planejamento, UP, como setores espaciais georreferenciados e onde também se instalam os centros de saúde, que foram utilizados como fonte para coleta de seus dados (SMAS/PBH, 2013).

É importante registrar aqui outro trabalho de grande peso, o qual é desenvolvido pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte – Urbel e se refere ao diagnóstico das áreas de risco de Belo Horizonte e que identifica, exclusivamente em áreas de aglomerados subnormais próximas a encostas ou cursos de córregos ou ribeirões, aquelas sujeitas a escorregamentos, solapamentos e inundações em fundos de vale.

Editado em baixa periodicidade, o primeiro “Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas, Favelas e Conjuntos Habitacionais de Belo Horizonte” foi construído em 1993/1994 e, o último, em 2011, é um documento produzido por uma equipe de geólogos, engenheiros e agentes civis que buscam em campo os dados necessários para a composição da cartografia do risco, através de criteriosas inspeções em domicílios e seus entornos em momentos anteriores e posteriores às estações chuvosas ou naqueles em que o local é acometido, periodicamente, por eventos ligados a algum tipo de risco geológico.

O mapeamento do risco geológico produzido pela Urbel faz parte do PEAR - Programa estrutural em Áreas de Risco - que, como outros programas da referida companhia urbanizadora, foca suas ações em modelos de gestão baseados em planos executivos de atendimento emergencial ou de manutenção.

A metodologia para a construção de um Índice da Vulnerabilidade Socioambiental que aqui se está propondo, baseia-se em critérios semelhantes aos que foram utilizados por Alves (2006), principalmente no que tange a componente social, para a qual

“[...] foram selecionadas variáveis relevantes para a caracterização das múltiplas dimensões da vulnerabilidade social, tais como renda, escolaridade, condições de habitação e estrutura etária. Todas as variáveis foram selecionadas a partir dos resultados do universo do Censo Demográfico 2000. O conjunto inicial de variáveis selecionadas foi reduzido, através de análise fatorial (componentes principais), visando à construção de indicadores sintéticos que captassem a heterogeneidade

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de situações (de vulnerabilidade social) existentes no município de São Paulo. A análise fatorial produziu duas dimensões explicativas de vulnerabilidade – a socioeconômica e a demográfica. Para a construção do Mapa da Vulnerabilidade Social, os cerca de treze mil setores censitários do município de São Paulo foram classificados em oito grupos, através de uma análise de agrupamentos (cluster), a partir de combinações entre as dimensões demográfica e socioeconômica” (CEM-CEBRAP/SAS-PMSP, 2004 apud Alves, 2006).

Para o caso aqui proposto, ao se tratar da componente social pensou-se, num primeiro momento, utilizar metodologia semelhante a que foi empregada na construção do IQVU, o que foi prontamente descartado por não haver recursos nem humanos e nem financeiros para levantar as informações e construir os dados, já que este não se trata de um projeto encomendado e aprovado para fins operacionais.

Em seguida tentou-se utilizar as informações que foram levantadas pela equipe responsável pela construção do IVS, da Secretaria Municipal de Saúde, mas, além de ocorrer o mesmo problema com relação ao IQVU, o critério do IVS possui uma sensibilidade muita restrita às questões sanitárias e utiliza-se de um corpo de analistas bastante especializado nessa área. O mesmo se deu, também, com relação ao IVS integrante do Mapa da Exclusão Social (PUC/SMPL/SMDS/PBH).

Não obstante e já que esta pesquisa não é financiada, decidiu-se desenvolver, ao que se refere à componente social do indicador almejado, um método semelhante ao empregado, como já fora acima mencionado, pelo economista e doutor em Ciências sociais, Humberto Prates da Fonseca Alves e divulgado em 2006 através do artigo denominado “Vulnerabilidade socioambiental na metrópole paulistana: uma análise sociodemográfica das situações de sobreposição espacial de problemas e riscos sociais e ambientais”.

Tomando como base de dados os microdados relativos aos Setores Censitários do Município de Belo Horizonte, SCBH, do Censo 2010 (IBGE), uma vez não haver disponível, para o meio intraurbano de Belo Horizonte, um trabalho como o que foi utilizado por ALVES (2006) e produzido pelos pesquisadores do CEM-CEBRAP/SAS-PMSP, foram selecionadas uma série de variáveis relacionadas às situações sociodemográficas da população da cidade de Belo Horizonte, depurando-as tanto em função de aspectos que levaram em conta os processos de construção social do espaço urbano de Belo Horizonte no decorrer dos anos, quanto em função das dinâmicas que vêm sendo operadas nos campos demográfico e fisiográfico característicos da capital mineira e cujos detalhes metodológicos seguem-se explicados em seção apropriada.

Para a operacionalização de um indicador que representasse a componente ambiental do pretenso Índice da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte, intencionou-se que fosse aproveitado o material disponibilizado pela Gerência de Geoprocessamento, da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, da Prefeitura de Belo Horizonte (GGEOP/SMAPU/PBH), o qual se caracteriza como uma

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planilha do Office Excel contendo os valores percentuais das áreas referentes aos graus de predisposição ao risco geológico (ou risco geológico potencial), resultante da demanda colocada por este graduando junto aos técnicos da referida gerência.

Para tanto foi necessário considerar metodologia semelhante as que foram utilizadas na construção de outros indicadores de vulnerabilidade cujos estudos, diferentemente deste que utiliza a malha digital dos Setores Censitários do IBGE como unidades de análise, consideraram as Unidades de Planejamento do Município de Belo Horizonte, UP, como unidades geográficas de análise, por se constituírem, cada uma, de quantidades variadas de setores censitários do IBGE/2010.

Em seção apropriada serão detalhados os procedimentos que foram construídos com ajuda dos softwares SPSS e ESRI-ARCGis, para articular os dados fornecidos pela citada planilha, no sentido de transformá-los em indicadores da componente ambiental a ser empregada na construção do Índice da Vulnerabilidade Socioambiental.

1.3. Breve histórico da cidade de Belo Horizonte

Planejada e edificada para abrigar a sede política e administrativa da nova capital do Estado de Minas Gerais, a cidade de Belo Horizonte, fundada em 1897, nasceu sob os auspícios de uma nova ordem simbólica que representaria a recém- instituída forma republicana de governo no Brasil a partir de 1889. (BRAGA, 2001).

Seu desenho original, concebido por uma equipe de idealizadores com formação em escolas francesas do século 19 e de ideário positivista, inscreveu, no espaço que fora selecionado, uma espécie de divisão social do trabalho, onde, em sua melhor parte, se instalaria a sede do poder e os funcionários públicos (os higiênicos), bem como os antigos proprietários das fazendas desapropriadas e, na periferia, os trabalhadores braçais, artífices, colonos e serviçais (Belo Horizonte, um espaço para a República).

Atualmente Belo Horizonte é o núcleo de uma região metropolitana formada por 34 cidades e mais 16 que abrigam o colar metropolitano, somando uma população total de 5.829.921 habitantes em 2015, área total de 14.979,1 km² e PIB (2011) de R$ 146.434,2 milhões, sendo que o crescimento urbano, a saúde pública, a pobreza e o lixo são problemas graves que necessitam de políticas públicas mais eficazes.

No limiar da República, a localidade para implantação da nova capital foi selecionada, após exaustivos debates entre membros do governo e representantes ilustres da sociedade mineira de então, dentre cinco lugares que concorreram a tal intento, tendo sido escolhida a localidade originalmente denominada de Curral D’El Rei, fundada em 1701 pelo bandeirante João Leite da Silva Ortiz (BARRETO, A; 1936). Assim, tomada em partes, Barreto descreve a localidade aonde veio a ser implantada a nova capital mineira:

“[...] O sólo, nesta localidade, é, em geral, constituído por terra argillosa misturada a considerável quantidade de oxydos de ferro que lhe dão intensa cor vermelha e, em alguns pontos, rôxa, muito semelhante á dos

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terrenos do Ribeirão Preto, no Estado de S. Paulo. Na parte óra habitada, há boa camada de húmus, que permite pujante vegetação; fora da povoação, para o sul, vae escasseando a vegetação, até desapparecer nas encostas e píncaros da Serra do Curral, onde o sólo é quase totalmente constituído por meineraes de ferro, ou calcareo. [...] em alguns pontos o ferro emerge á flor do sólo, e, em outros, o granito. Pouco permeável e bastante inclinado, para facilitar o escoamento superficial das aguas, é, em geral sêcco. Não dando logar á formação de brejos e alagados; e apenas duas insignificantes lagôas – as do Sapé e a Sêcca – notam-se em toda a bacia do Arrudas, e nem uma póde prejudicar a salubridade da localidade. O sub-sólo é constituído por compacta camada de argila vermelha, misturada a oxydos e carbonatos de ferro, sobrepostas a rochas vivas, ou já em decomposição, graníticas, calcareas ou férreas; em alguns pontos, porém, há bancos de argilla plástica da mesma côr, e, nas várzeas e margens do Arrudas, proximo ao córrego do Leitão, os há de areia com um metro de espessura. Os desbarrancados fórmados pelas enxurradas, que attigem alguns a profundidade de 10 metros, testemunham a seccura do sub-sólo d’esta localidade. [...] E, portanto, ainda sob este importante aspecto, BELLO HORIZONTE presta-se para o estabelecimento de grande e populosa cidade” (BARRETO, Abílio; 1936)

A transcrição, para cá, dessa descrição, buscou antecipar um pouco do contexto, através do qual esse trabalho mergulhará, pois almeja, em seu escopo, construir um indicador da vulnerabilidade socioambiental, cuja componente ambiente se apoiará nas características fisiográficas e geomorfológicas do território no qual a cidade foi edificada.

Em conformidade à descrição acima, razoavelmente fiel apesar da época em que foi registrada, o que se vê hoje é uma vasta região conurbada, cujos processos históricos de construção social dos espaços urbanos não são diferentes dos de outras cidades que se tornaram núcleos de regiões metropolitanas. Como observam BEDUSCHI e GARCIAS (2008), "o processo histórico e social da urbanização incorre em novas formas de produção e consumo da cidade, resultando em contradições entre o ambiental e o social. Ao constituir o espaço da urbanização e da reprodução social, a cidade assume uma forma física a partir da qual se constatam porções territoriais carentes e problemáticas sob o ponto de vista social e ambiental".

Sem querer simplificar o complexo encadeamento do raciocínio de Lefebvre, é interessante ressaltar uma de suas máximas: “a cidade é a projeção da sociedade sobre um local” (LEFEBVRE, 2001, p. 56, apud ARAÚJO, J. A., 2012). Disso pode-se depreender que se a sociedade incorpora novos valores, hábitos e feições, é possível que o locus onde essa sociedade atua, assuma novas expressões, reproduzindo-se de forma mais ou menos sustentável, conforme as tendências evolutivas.

1.4. Belo Horizonte: aspectos geográficos e geomorfológicos

Fundada para ser a capital mineira em 12 de dezembro de 1897, Belo Horizonte tem como gentílico o belo-horizontino; população de 2.375.444 (Censo 2010); área (em km²): 330,954; densidade demográfica (habitantes por km²): 7.200; altitude (em metros): 858; mesorregião: Região Metropolitana de Belo Horizonte; Produto Interno Bruto (PIB):

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R$ 51,6 bilhões (2010); Renda Per Capita: R$ 21.748 (2010); Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0810 - alto (PNUD - 2010); principais atividades econômicas: processamento de minérios, indústria, agricultura, serviços, informática e biotecnologia e medicina; índice de analfabetismo: 4,6 % (2009); esperança de vida ao nascer: 76,37 anos (2010); relevo: plano com algumas montanhas (Portal PBH/Estatísticas e Indicadores).

Considerando que a componente ambiental do índice da vulnerabilidade socioambiental deve estar apta a medir os resultados geodinâmicos que influem na fisiografia da cidade e, também, por tratar-se de informação técnica muito especializada, achou-se importante transcrever integralmente o texto que se segue, o qual se refere às características geológico-geomorfológicas de Belo Horizonte (Cf.: Mapa da predisposição ao risco geológico (6) [ou risco geológico potencial] em Belo Horizonte, em anexo [cd]):

“O território da capital mineira está inserido em um extenso núcleo crustal do centro-oeste do Brasil conhecido como Cráton São Francisco e mostra uma fisiografia diversificada e estreitamente vinculada às propriedades geológicas de seu substrato. Predominam as rochas arqueanas integrantes do Complexo Belo Horizonte e sequências supracrustais de idade paleoproterzóico, integrantes do Supergrupo Mians. Sedimentos cenozóicos recobrem parcialmente estas unidades. Com substrato geológico e relevo diversificado, o território belo-horizontino apresenta predisposição à ocorrência de processos geodinâmicos como escorregamento, erosão, solapamento, queda e rolamento de blocos de rocha, além de eventos de inundação. Nas áreas de ocupação desordenada, estes processos são frequentemente potencializados por agentes tais como cortes no terreno, aterros mal executados, tubulações rompidas, lançamento de esgoto e deposição de lixo e entulho nas encostas e cursos d’água. O domínio do complexo Belo Horizonte integra a unidade geomorfológica denominada Depressão de Belo Horizonte. Este representa cerca de 70% do território de Belo Horizonte e tem sua área de maior expressão a norte da calha do ribeirão Arrudas. Neste, predominam as rochas gnáissico-migmáticas em diferentes estágios de alteração. Seu relevo é tipificado por espigões, colinas de topo plano a arqueado e encostas policonvexas de declividades variadas, nos flancos dessas feições e nas transições. Entre elas ocorrem, com frequência, anfiteatros de encostas côncavas e drenagem convergente e nichos resultantes da estabilização de antigas voçorocas. O domínio das Sequências Metassedimentares tem sua área de ocorrência a sul da calha do ribeirão Arrudas, constituindo cerca de 30% do território de Belo Horizonte. O contato com o domínio do complexo Belo Horizonte é marcado por uma zona irregular em forma de arco, mas de direção geral nordeste-sudoeste (NE-SW). As características deste domínio são a diversidade litológica e o relevo acidentado que encontra expressão máxima na serra do Curral, limite sul do município. Engloba uma sucessão de camadas de rochas de composição variada, representada por itabiritos, dolomitos, quartzitos, filitos e xistos diversos, de direção geral nordeste-sudeste e mergulho para o nordeste-sudeste. Os efeitos locais, gerados pela altitude e grande variedade de solo, tornaram ainda mais diversificadas as fito-fisionomias regionais, podendo ser citadas as seguintes, como as mais _____________________

6 Fonte/Origem: SILVA et al. 1995 – Mapa original (Predisposição ao Risco Geológico em Belo Horizonte); FMG/SMURBE 2008 – arquivo raster (GEOTIFF) gerado a partir de escaneirização de cópia do mapa original e georreferenciamento; Prodabel – elementos de referência espacial utilizados para vetorização; SMAPU 2012 – arquivo produzido por vetorização (método manual) do arquivo GEOTIFF.

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representativas: campo sujo, associações florestais, essas últimas abrigadas principalmente nos vales e campos de altitudes nos quais predominavam associações rupícolas, representadas principalmente por canela – de ema, eriocauláceas e melastomáceas. A maior parte da vegetação primitiva foi destruída em função do crescimento de Belo Horizonte. Aspectos hidrogeológicos: Os mananciais de água subterrânea do embasamento estão localizados a sul / sudeste do município. No aquífero, do complexo granítico-gnáissico, as reservas principais são as constituídas pela porção porosa saturada do manto de decomposição/cobertura de alteração e pelo meio fraturado soto-posto, que pode atingir espessuras superiores a 50 metros, variando normalmente entre 20 e 30 metros. Estas grandes reservas, atualmente pouco aproveitadas, podem se constituir em importante fonte auxiliar para o abastecimento público de Belo Horizonte” (Fonte: BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Plano Diretor de Belo Horizonte: Lei de uso e ocupação do solo: estudos básicos, 1995).

Figura 1.1: MAPA GEOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE

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2.

Desenvolvimento

2.1. Considerações teóricas

2.1.1. Aspectos locais das situações de vulnerabilidade

Para compreender o processo de produção social do espaço urbano de Belo Horizonte e as mazelas decorrentes dos equívocos praticados pelo desenvolvimentismo do pós-guerra, é necessário entender a precocidade da urbanidade e do esforço desenvolvimentista mineiros. Estas são, precisamente, as raízes da criação de Belo

Horizonte e do direcionamento de seu desenvolvimento econômico. A cidade cresceu, já nos primeiros anos de sua existência, de fora para dentro, do subúrbio para o centro e não da região central para a suburbana. O desenvolvimento da cidade contrariou o plano original pela força da resistência popular e pelo mercado.

“A capital traçada pela Comissão Construtora era um lugar elitista. Seus espaços estavam reservados somente aos funcionários do Governo e aos que tinham posses para adquirir lotes. Acreditava-se que os problemas sociais, como a pobreza, seriam evitados com a retirada dos operários, assim que a construção da cidade estivesse concluída. Mas, na prática, não foi isso que aconteceu. Belo Horizonte foi inaugurada às pressas, estando ainda inacabada. Os operários, aglomerados em meio às obras, não foram retirados e, sem lugar para ficar, assim como os belo-horizontinos, formaram favelas na periferia da cidade. A primeira – a do Leitão – ficava nas proximidades do atual Instituto de Educação, em plena Avenida Afonso Pena. Essa massa de trabalhadores, que não eram considerados cidadãos legítimos de Belo Horizonte, revelava o grau de injustiça social existente nos seus primeiros anos de vida”¹.

Segundo a geóloga Isabel E.Q.Volponi, então diretora do Departamento de Manutenção e Área de Risco da Cia. Urbanizadora e de Habitação de Belo horizonte - Urbel, até cerca de vinte anos atrás, as vilas e favelas da capital mineira que, naquela época, ocupavam cerca de cinco por cento do território do município e abrigavam um quinto de sua população, estavam bastante predispostas aos riscos geológicos, os quais são decorrentes das características lito-hidro-geomorfológicas do sítio escolhido para a construção da capital do Estado de Minas Gerais, bem como do padrão de ocupação em suas encostas e baixadas. (VOLPONI, 2014; PEREIRA et al, 2006).

Na consciência de expressiva representação do senso comum, reside o entendimento de que uma recorrente incapacidade do poder público na gestão das políticas públicas para a habitação popular, bem como a falta de determinação na aprovação e manutenção de projetos e normativas imparciais relativos ao uso e ocupação do solo urbano - muitas vezes em benefício da especulação e da corrupção, contribuem _________________________

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enfaticamente com a causa do crescimento desordenado da cidade e proliferação histórica das ocupações irregulares em áreas de topografia e terrenos impróprios à construção por constituírem, no município de Belo Horizonte, os locais onde incidem as mais intensas predisposições aos riscos geológicos.

Segundo ACSELRAD (2002) e MARANDOLA JUNIOR. (2012), no meio urbano, o que desloca as populações socialmente excluídas para as áreas de risco “está mais relacionado ao processo de produção da cidade e dos terrenos que são reservados para outras categorias sociais do que a uma inadequação na racionalidade de parcelas da população nas escolhas de seus lugares de moradia, configurando, assim, tratar-se de um problema de justiça ambiental, de exclusão e segregação”. Portanto, os motivos que levam as populações urbanas a se assentarem em áreas de risco não advêm de um simples problema locacional e, menos ainda, de um problema de solução por controle de crescimento.

Conforme descreve PEREIRA et al (2006), em 1994 a Urbel realizou um diagnóstico das áreas de risco de Belo Horizonte o qual demonstrou a necessidade de implementação de um modelo de gestão que estabelecesse um programa de atendimento contínuo baseado na realização de vistorias, monitoramento, ações preventivas e ações emergenciais no período chuvoso, o que deu origem ao PEAR – Programa Estrutural em Áreas de Risco.

Ainda segundo VOLPONI (2014), com a implementação do PEAR a partir de 1995, “o gerenciamento do problema vem permitindo uma convivência com o risco geológico, bem como diminuindo o número de famílias expostas ao risco e a relevância da concentração desse risco nas áreas de vilas e favelas”. No entanto, para a continuidade das ações do PEAR, é necessário que se realizem diagnósticos periódicos e, para tanto, no final de 2011 a Urbel publicou nova versão atualizada do Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas, Favelas e Conjuntos Habitacionais Populares de Belo Horizonte possibilitando, assim, a continuidade das ações do PEAR (VOLPONI, 2014; PEREIRA et al, 2006).

Adiante reproduz-se o quadro comparativo que demonstra os efeitos das estratégias do PEAR/Urbel (nº de edificações sob condições de riscos em cada ano; fonte PEAR/Urbel) que, apesar da queda dos valores em decorrência da atuação do PEAR, em 2011 o número de edificações que se classificam como de risco (nas áreas exclusivas do Diagnóstico) é maior nas regionais onde ocorrem áreas mais íngremes. (Ver Mapa das Divisões Políticas das Administrações Regionais e das UP’s em anexo)

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TABELA 2.1: COMPARAÇÃO ANUAL DOS DOMICÍLIOS EM SITUAÇÃO DE RISCO, POR ADM. REGIONAL

Fonte: Urbel

Apesar de estar relativamente atualizado, o Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas e Favelas aponta quase que exclusivamente a situação crítica das moradias assentadas em áreas de risco, estabelecendo um quadro comparativo em relação aos levantamentos anteriores e propondo as ações determinadas pelo PEAR, através dos planos de gestão emergenciais que, como aponta o declínio, as ações vêm surtindo efeito.

Essas informações colocadas acima servem para embasar o foco da percepção sobre a exclusão social, a qual se caracteriza, conforme definição criada pela equipe que elaborou o Mapa da Exclusão Social de Belo Horizonte, como “o processo que impossibilita parte da população de partilhar dos bens e recursos oferecidos pela sociedade, conduzindo à privação, ao abandono e à expulsão desta população dos espaços sociais” (BELO HORIZONTE/SMPL, 2002); ou numa situação em que as populações tradicionalmente integradas ao lugar, se veem na situação de expropriação, como descreve ZHOURI (2008):

Numa inversão do princípio político, as comunidades, ao defenderem seus direitos, são vistas como ameaças à democracia e suas manifestações, consideradas um desrespeito à autoridade dos conselheiros (grifo meu). Muitas vezes, os direitos dos cidadãos são interpretados como defesa de “interesses” particulares passíveis de negociação. Assim, os atingidos não são indenizados de maneira justa, de forma a reproduzirem seu modus vivendi (ZHOURI, 2008).

O referido mapa, ainda segundo a equipe que o desenvolveu, “é o dimensionamento e a espacialização de certas manifestações do processo de exclusão social na população da cidade, obtido através de dados coletados em 1996 nas Unidades de Planejamento do município e a partir deles foram construídos alguns indicadores que geraram mapas cujas interpretações revelam os níveis da exclusão social na cidade”. Dentre esses indicadores, elaborou-se o Indicador da Vulnerabilidade Social, IVS, o qual

DIAGNÓSTICOS-> 1994 2004 2009 2011 Barreiro 801 798 652 418 Centro-Sul 2.133 2.049 627 638 Leste 1.281 3.216 798 354 Norte 2.531 381 257 256 Nordeste 1.996 1.089 234 365 Noroeste 1.180 904 278 78 Oeste 1.180 1.261 765 320 Pampulha 694 223 27 207 Venda Nova 2.553 733 151 125 TOTAL 14.349 10.654 3.789 2.761

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é composto pelas dimensões ambiental, cultural, econômica, jurídica e segurança de sobrevivência. (BELO HORIZONTE/SMPL, 2002).

Com relação à periodicidade de edição, o Mapa da Exclusão Social teve uma única versão e nunca mais foi reeditado e, portanto, suas informações expiraram com o decorrer do tempo. Há outro indicador intraurbano elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde, também chamado de IVS e que teve sua última atualização datada de 2011 e, como já descrito anteriormente, trata-se de um índice bastante restrito a área de saúde, já que recolhe, dos centros de saúde espalhados pelas nove administrações regionais da cidade, informações específicas relacionadas ao atendimento médico/ambulatorial, portanto, dados que poderiam participar apenas como variáveis coadjuvantes na construção do indicador da vulnerabilidade socioambiental.

À exceção dos trabalhos acima mencionados, nenhum outro levantamento da situação sociodemográfica intraurbana do município de Belo horizonte foi produzido nos últimos dez ou doze anos, o que dificulta promover aqui, uma descrição das condições vigentes das regiões periféricas da cidade ou de suas áreas mais propensas aos riscos e a desastres, com base em dados mais recentemente elaborados. Esta observação pode ser verificada através da consulta aos repositórios mais tradicionais e fidedignos a disposição do público acadêmico ou do cidadão em geral.

No entanto, os aspectos da situação de vulnerabilidade podem ser percebidos, diariamente, seja através da imprensa, seja através das comunicações de emergências propagadas quando ocorrem chuvas intensas. Um exemplo de desastres mais comuns em Belo Horizonte são os escorregamentos e as inundações, comuns no período das chuvas e que normalmente ocorrem entre os meses de novembro a janeiro.

Também é através dos veículos de comunicação que a sociedade toma conhecimento, diariamente, dos níveis de criminalidade, de insegurança, de população sem teto, de falta de atendimento médico, de falta de escola, de professores etc.; contudo, essas informações não têm sido transformadas em indicadores objetivos, sendo elas pesquisadas nos domicílios apenas quando o IBGE promove o recenseamento decenal. Um exemplo é essa notícia que foi publicada na versão eletrônica do jornal O Estado de Minas em dezembro de 2013:

“Belo Horizonte tem 1.049 zonas críticas sujeitas a serem gravemente afetadas por tempestades, causando desmoronamentos de casas, escorregamentos de encostas, erosões e inundações, além de desprendimentos de rochas. É o que mostram mapas da situação de risco geológico produzidos pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, Urbel. As áreas estão em vilas e favelas, algumas ao lado de arranha-céus da cidade formal e demandam atenção da Defesa Civil e da prefeitura. A Região Centro-Sul é a que mais concentra edificações em áreas com risco alto e muito alto, com 638 casas ameaçadas, do total de 2.761 na capital, seguida pelo Barreiro, 418 e pela Região Nordeste, 365” ²

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As Administrações Regionais que abrangem as zonas mais críticas para a ocorrência de desastres, possuem situações de relevo diferenciadas ou detêm cursos d’água suscetíveis a inundações no período chuvoso.

Tratando um dos objetivos específicos deste trabalho, da análise dos resultados da operacionalização empírica de um índice de vulnerabilidade socioambiental em um recorte intraurbano caracterizado como sendo o entorno paisagístico tombado da Serra do Curral, com o objetivo de identificar e caracterizar as populações que vivem e trabalham nessa região e cujas características espaciais e geomorfológicas indicam condições de risco que imprimem graus variados de vulnerabilidades a essas populações, faz-se, a seguir, uma breve explanação a respeito do local:

Serra do Curral

A região recortada caracteriza-se como uma área de especial interesse para a cidade de Belo Horizonte não apenas pelo seu valor como patrimônio cultural e paisagístico, mas, também, devido às características e condições socioeconômicas e demográficas das pessoas que ali residem, trabalham, estudam e se divertem, o que se configura de modo bastante heterogêneo, fato visualmente averiguado quando se observa os padrões de urbanização e arquitetura que desenham a paisagem local.

O patrimônio cultural de uma cidade é o conjunto das manifestações produzidas socialmente ao longo do tempo, seja no espaço urbano como no rural, tanto no campo das artes, no modo de viver ou na imagem da própria cidade, com seus atributos naturais e edificados. As edificações, o traçado da cidade, o desenho dos passeios, as praças, o paisagismo, as manifestações culturais, os costumes, tornam-se referências simbólicas e afetivas dos cidadãos em relação ao espaço vivido e constituem a imagem, a identidade de sua cidade. Preservar o patrimônio cultural de uma cidade é manter as marcas de sua história ao longo do tempo e assim assegurar a possibilidade da construção dinâmica da identidade daquela comunidade³.

A Serra do Curral, patrimônio natural situado ao sul da capital mineira, integra um conjunto de serras do Quadrilátero Ferrífero que possuem grande variedade litológica e estruturas geológicas marcadas por afloramentos de depósitos paleoproterozóicos que detêm importantes jazidas de minério de ferro.

A vertente norte da Serra do Curral, voltada para a área de implantação da nova capital de Minas, foi o que motivou a denominação de Belo Horizonte à cidade, cujo

________________________ ² Disponível em:

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/12/13/interna_gerais,478815/mapa-de-situacao-de-risco-aponta-1-049-areas-criticas-em-bh.shtml> Acesso: nov. 2014.

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projeto urbanístico privilegiou a vista da serra a partir da Avenida Afonso Pena, principal eixo urbano da capital.

Com altitudes médias entre 1.100 e 1.300 metros, a Serra do Curral serve de limite entre os municípios de Belo Horizonte, Nova Lima, Sabará, Brumadinho e Ibirité. O Pico Belo Horizonte, localizado no local, é o ponto mais alto do município, com 1.390 m de altitude.

Considerada pelos bandeirantes dos séculos XVII e XVIII como um conjunto montanhoso de referência para suas viagens (FERREIRA, 2003 apud DUARTE et al, 2012), atualmente figura-se como um dos eixos preferenciais de adensamento da capital mineira, uma vez que o processo de ocupação urbana em Belo Horizonte vem esgotando seus limites políticos.

O espraiamento urbano constatado na Serra do Curral, no lado de Belo Horizonte, evidencia a relação existente entre o planejamento urbano e as características geomorfológicas locais. O zoneamento estipulado pela Lei Municipal nº 7.166/96 (Lei de parcelamento, uso e ocupação do solo urbano de Belo Horizonte) determina que o adensamento deve ser incentivado nas áreas de topografia mais suave; em porções ambientalmente mais frágeis e de maior predisposição aos riscos geológico-geomorfológicos, marcadas pelas diferenças de litologia e alta declividade, o zoneamento prescreve a contenção ao adensamento, por estarem localizadas em áreas de proteção ambiental, visto a importância simbólica dessa unidade e o seu significado para a organização do espaço local (FERREIRA, 2003 apud DUARTE et al, 2012).

Além dos aspectos históricos e paisagísticos, a região também abriga importante sistema hídrico, do qual emergem nascentes que servem de abastecimento a grande parte da população de Belo Horizonte e de municípios vizinhos (DUARTE, M.; PARAGUASSU, L., 2012).

“No entendimento do reconhecimento do valor simbólico, histórico e cultural de marcos da cidade, em 22 de março de 1990, foi publicada no Minas Gerais a Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte que no Artigo 224, Inciso I, protegeu o Alinhamento Montanhoso da Serra do Curral, compreendendo as áreas do Taquaril ao Jatobá, juntamente com mais 27 (vinte e sete) outros bens de interesse cultural, declarando-os como monumentos natural, paisagístico, artístico ou histórico, sem prejuízo de outros que venham a ser tombados pelo Município” (CDPCM-BH, 2002).

Em junho de 2002 foi publicada no Diário Oficial do Município a Deliberação nº 23, do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, a deliberação da aprovação do tombamento provisório da Serra do Curral, cujas descrições de perímetro e, diretrizes de proteção podem ser consultadas na edição nº 1652, de 29 de junho de 2002.

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Deliberação nº 23/2002- trecho (CDPCM-BH)

“O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte/CDPCM-BH, nos termos do disposto na Seção II, do Capítulo III, do Título VIII da Constituição Federal; na Seção IV, do Capítulo I, do Título IV da Constituição do Estado de Minas Gerais e no Capítulo VI, do Título VI da Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte, em conformidade com o Decreto-lei n.º 25, de 30 de novembro de 1937, o Decreto Legislativo n.º 74, de 30 de junho de 1977; o Decreto Federal, 80.978, de 12 de dezembro de 1977; a Lei Municipal n.º 3.802, de 06 de julho de 1984; e o Decreto Municipal n.º 5.531, de 17 de dezembro de 1986, reunido em sessão extraordinária, realizada em 13 de junho de 2002, deliberou aprovar o tombamento provisório da Serra do Curral - Subárea 1 - Barreiro - Processo nº.: 01.045030.02.07, definindo o perímetro de tombamento da referida área e as diretrizes de proteção.

Todos os imóveis inseridos no perímetro de tombamento ficam sujeitos a diretrizes especiais de proteção” (Diário Oficial do Município - Belo Horizonte Ano VIII - Nº: 1.652 - 06/29/2002).

Portanto, na expectativa da viabilidade operacional do conceito de vulnerabilidade, dadas as suas complexidade e multidimensionalidade, e na tentativa de traduzir padrões socioespaciais na distribuição dos perigos naturais, escolheu-se como recorte espacial para este trabalho o entorno tombado do patrimônio paisagístico da Serra do Curral.

2.1.2. O Espaço como categoria para compreensão do lugar

Em metrópoles como Belo Horizonte, onde ocorrem múltiplas diversidades nas esferas socioeconômicas e demográficas, bem como na ocupação estrutural de seus espaços gerando carências de todos os tipos, um dos grandes desafios para os gestores públicos é identificar as prioridades de investimento na implementação de políticas públicas, já que existe certa desinformação no nível intraurbano das regiões metropolitanas (SOUZA e TORRES, 2003).

Esse trabalho, como já mencionado, tem o objetivo específico de avaliar algumas situações de vulnerabilidade socioambiental em um recorte intraurbano caracterizado como sendo o entorno tombado da Serra do Curral, através de um Sistema de Informações Geográficas construído a partir da sobreposição de um mapa dos riscos geológicos quantificados à malha digital dos SCBH/IBGE. Para tanto serão selecionados alguns bairros, vilas e favelas circunscritos no referido recorte ao qual se considerou categorizá-lo como espaço geográfico.

Estudos que dizem respeito às dinâmicas entre população e ambiente, como é o caso dos recortes que se costumam fazer com o objetivo de se procederem a análises espaciais específicas em setores intra-urbanos de cidades ou metrópoles requerem, para efeito metodológico, definir as entidades geográficas envolvidas (MARANDOLA JÚNIOR e MODESTO, 2012)

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Dentre essas entidades, o espaço geográfico como objeto de estudo, transcende o entendimento imediato que o delimita numa dimensão física, dado que o espaço é social e politicamente construído através da relação entre poder e meio ambiente ou, de forma mais abstrata, entre sociedade e natureza. Assim, o espaço, como categoria, é criado, transformado e reproduzido pela sociedade, à medida que essa se apropria da natureza, a qual sucumbe ao desejo humano de estar sempre reinventando (LEFEBVRE, 1991; ACSELRAD, 2004 apud COSTA e LASCHEFSKI, 2008).

Segundo Lefebvre, na forma citada por COSTA e LASCHEFSKI (2008), o espaço não deve ser visto como algo dado, neutro, imutável ou um vazio onde se espalham coisas ou objetos e, sim, de forma oposta, ou seja, definido como social e politicamente construído.

A categoria “espaço”, portanto, no campo da geografia, é definida como sendo segundo Milton Santos [...] por suas características e por seu funcionamento, pelo que ele (o espaço) oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado da praxis coletiva que reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo movimento da sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171). Sob essa interpretação, pode-se, então, presumir que a identificação e visibilização das localidades onde a coletividade se expressa, através de sua prática, de maneira deficitária, excluída e segregada.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), definem, assim, o espaço: “O espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem, enquanto organiza econômica e socialmente sua sociedade” (BRASIL, 2000, p. 109).

Ainda, no campo pedagógico, trabalha-se assim, a categoria: “No conceito de espaço geográfico está implícita a ideia de articulação entre natureza e sociedade. Na busca desta articulação, a Geografia tem que trabalhar, de um lado, com os elementos e atributos naturais, procurando não só descrevê-los, mas entender as interações existentes entre eles; e de outro, verificar a maneira pela qual a sociedade está administrando e interferindo nos sistemas naturais. Para perceber a ação da sociedade é necessário adentrar em sua estrutura social, procurando apreender o seu modo de produção e as relações socioeconômicas vigentes” (GIOMETTI et al, 2005).

2.1.3. A predominância como medida da culminância

O conceito de predominância foi utilizado neste trabalho como um recurso para a construção de um sistema de proxies que foi utilizado na solução de um entrave metodológico surgido durante a análise dos dados matriciais contidos na planilha da predisposição ao risco geológico dos setores censitárias, criada para servir como fonte das informações necessárias para a operacionalização do indicador ambiental, como componente do Índice da Vulnerabilidade Socioambiental.

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A referida planilha, como será mais detalhadamente explanado em momento oportuno, foi construída na SMAPU/PBH a partir da vetorização dos mapas produzidos por SILVA et al (1995) e contém os valores percentuais das áreas de cada um dos setores censitários de Belo Horizonte,(SCBH/IBGE), percentuais estes que se referem à quatro categorias de graus da predisposição a determinados riscos decorrentes da possível incidência de certas modalidades de processos geológicos levantados em sistemáticos estudos procedidos anteriormente sobre as estruturas lito-hidro-geomorfológica do município de Belo Horizonte.

Originalmente a equipe técnica da SMAPU/PBH produziu um material embasado nas Unidades de Planejamento (UP), as quais agregam, cada uma, certa quantidade variada de SCBH/IBGE. A Planilha da Predisposição ao Risco Geológico por Setor Censitário foi um desmembramento dessas unidades de planejamento. Para tanto foi necessário recalcular os percentuais com base nas áreas dos setores censitários. Vale ressaltar que, para este trabalho, os graus de risco se referem apenas a quatro das sete modalidades de processos geológicos identificadas em Belo Horizonte por SILVA et al (1995) e que, para cada uma delas, há quatro níveis gradativos de risco: desprezível, baixo, médio e elevado.

Os graus de risco (desprezível, baixo, médio e elevado), nesta função, para cada SCBH/IBGE, têm que somar o valor 1, que corresponde a 100% de suas áreas, em cada modalidade de processos geológicos selecionada para este trabalho (escorregamento, escavação, erosão e inundação). Isto significa que, em um mesmo SCBH/IBGE, ocorre uma distribuição matricial de valores percentuais que, na soma total, sempre alcançam o valor 4, já que são quatro as modalidades de processos, cada uma variando de zero a 1, ou zero a 100% de risco.

Sendo assim, para ajustar essa graduação de desprezível a elevada taxa de predisposição ao risco, com uma categorização de vulnerabilidade ambiental decorrente dos processos geológicos, foi necessário criar uma nova matriz (e desprezando os originais) onde se considerou os valores predominantes dos percentuais de risco, retirados dos graus e das modalidades onde eles se encontravam originalmente, ou seja, as situações de culminância.

Considerando que esse trabalho almejou operacionalizar a vulnerabilidade socioambiental, a componente ambiental também indica a vulnerabilidade. Portanto, tomar os valores predominantes dos graus de risco significa considerar as situações mais sensíveis, ou melhor, mais periclitantes, para se tratar o indicador ambiental.

O conceito genérico do termo predominante descrito em alguns léxicos define que se trata daquilo que exerce um predomínio, isto é, um poder ou uma influência sobre algo ou alguém. A ação de predominar, por sua vez, está relacionada a impor-se de alguma forma. Exemplos: “A canela dá sabor predominante neste prato”, “Com o vermelho como

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cor predominante, foi apresentado a coleção Outono-Inverno da famosa marca italiana”, “A Ala das Baianas predominou na avenida” (4).

O predominante, por conseguinte, é algo que sobressai, que é crítico ou que se impõe. Se observarmos um quadro que apresenta cinco cores diferentes, mas em que o amarelo ocupa mais de 70% da superfície, podemos afirmar que o amarelo é a tonalidade predominante na obra em questão.

Quando se fala de uma opinião predominante, por outro lado, faz-se referência a um sentir ou um parecer que se pode observar nos comentários de certo setor da sociedade. Depois de realizar uma entrevista a um jornalista, pode-se dizer que a “opinião predominante” entre os simpatizantes do Clube Atlético Mineiro, é que o goleiro Vítor deve continuar a fazer suas defesas espetaculares para o time.

É importante destacar que a qualificação de algo como predominante pode ser tendenciosa, parcial ou por interesse. Se um analista político falar com dez pessoas e lhes perguntar o que acham do representante que os governam, pode afirmar que a “opinião predominante” é negativa relativamente à referida autoridade, já que nove indivíduos disseram não estar de acordo com as medidas por ela tomadas.

Por mais que se tenha pesquisado, não se obteve êxito em encontrar, na literatura acadêmica, alguma experiência relatada de emprego metodológico do conceito de predominância como ferramenta para obtenção de resultados. Porém, pode-se observar, vivencialmente, seu uso, corriqueiro, em situações onde se escolhem jovens mais altos para compor uma equipe de basquete; escolhem-se, através de concursos públicos, as pessoas com conhecimento mais apurado para o preenchimento de vagas nas carreiras do funcionalismo ou nas vagas das universidades;

As disputas de ginástica podem acontecer em oito provas diferentes: salto sobre cavalo, cavalo com alças, argolas, barra fixa, barras paralelas, trave, barras assimétricas e solo. A Federação Internacional de Ginástica, FIG, estipula regras para as competições olímpicas. Numa lógica inversa de predominância, em relação aos exemplos acima citados, numa competição de ginástica masculina, concorrem mais atletas do que as modalidades disponíveis. Aqueles que fazem menos pontos em cada modalidade, são eliminados.

A aplicabilidade desse conceito, na metodologia que se vai descrever, reside no fato de que, no intuito de capturar mensuravelmente o conceito das componentes ambientais para a construção do indicador da vulnerabilidade ambiental, criou-se um sistema de proxies baseado em valores predominantes dos percentuais das áreas dos SCBH/IBGE sujeitas às diversidades dos riscos geológicos.

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Referências

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