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RACIONALIDADE E ATOMISMO NA ESCOLA NEOCLÁSSICA. André Guimarães Augusto. Introdução

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RACIONALIDADE E ATOMISMO NA ESCOLA NEOCLÁSSICA

André Guimarães Augusto

Introdução

O objetivo do artigo é apresentar uma crítica à hipótese neoclássica da

racionalidade. A hipótese neoclássica de racionalidade se refere exclusivamente à escolha dos melhores meios para atingir finalidades pré-determinadas. Assim, a racionalidade neoclássica tem como características seu caráter formal, instrumental e dedutivo. A hipótese fundamental do artigo é de que o conceito neoclássico de racionalidade atende a uma necessidade do modelo de explicação dedutivo adotado pela escola neoclássica. O modelo de explicação dedutivista supõe um mundo fechado para o qual um pressuposto fundamental é o do atomismo ou condições internas constantes. A idéia aqui é de que a hipótese da racionalidade atende ao pressuposto do atomismo ao fornecer um padrão de comportamento para os agente tornado-o previsível. Argumenta-se também que além de sua função epistemológica o conceito neoclássico de racionalidade exerce uma função valorativa ao propugnar a eficiência como máxima do comportamento humano, refletindo o comportamento necessário ao capital. Finalmente argumenta-se também que as tentativas de reformular o conceito de racionalidade como a racionalidade limitada e a racionalidade estratégica mantêm o caráter instrumental da racionalidade e o pressuposto atomista.

1. A Racionalidade na escola neoclássica.

A hipótese comportamental fundamental da escola neoclássica é a da racionalidade dos agentes. A hipótese de racionalidade está presente na obra de Jevons, Walras e Menger e é considerada por Hahn (1984) como um dos axiomas fundamentais da teoria econômica. O objetivo dessa seção é definir o conceito neoclássico de racionalidade e suas características fundamentais.

O comportamento humano na escola neoclássica é concebido como conduta voltada a um fim. A racionalidade no entanto não se refere aos fins, tematizados na escola neoclássica através do conceito de preferências. As preferências são inerentemente pessoais, subjetivas não sendo passível de qualquer julgamento racional. A definição de ação racional como aquela apropriada do ponto de vista dos fins está,

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portanto, excluída; não se pode afirmar que é racional preferir água a bebida alcoólica, por exemplo, porque a água é saudável enquanto a bebida alcoólica não. Assim no conceito neoclássico de ação racional está excluída a racionalidade substantiva, isto é a justificação racional dos fins da ação.

Mas se o conceito neoclássico de racionalidade não se refere aos fins que podem ser justificados racionalmente, a que se refere? Se a racionalidade não está no conteúdo dos fins ela pode ser encontrada na relação entre meios e fins.

A análise da ação racional na escola neoclássica supõe que o agente possui finalidades alternativas na sua ação e que é capaz de ordená-las de forma consistente. Mas a ação racional supõe também que cada finalidade pode ser alcançada por diferentes meios: ao colocar como fim ir ao trabalho o agente tem como alternativa vários meios de se deslocar – de bicicleta, automóvel, ônibus ou a pé – nem todos os meios estão sempre disponíveis em todas as circunstâncias, e como veremos o conhecimento dos meios faz parte da ação racional. A ação racional supõe também que o mesmo meio serve para diferentes finalidades; com um automóvel é possível ao agente ir para o trabalho, para praia ou para casa de parentes, por exemplo.

Dado os diferentes usos dos meios e a multiplicidade de fins, a conduta voltada para um fim inclui um elemento de deliberação por parte do agente quanto ao melhor uso dos meios. Aqui o elemento central do conceito neoclássico de racionalidade fica claro: é racional o agente que utiliza os meios de forma eficiente e consistente com os fins a serem alcançados.

A Razão diz o que o agente faz se quer alcançar determinados fins. Primeiramente a racionalidade permite ao agente selecionar os meios disponíveis e adequados para alcançar determinados fins: há uma relação lógica entre meios e fins e o agente racional é capaz de reconhecer essa relação e de perceber dentre esses meios quais estão a seu alcance. A racionalidade capacita ao agente não só deliberar quanto aos meios adequados mas também, dado o suposto da escassez dos meios, quanto ao seu uso eficiente; entre os meios disponíveis e adequados o agente racional usa o meio menos escasso e de forma mais eficiente, isto é, sem desperdício desnecessário. Finalmente a racionalidade também capacita ao agente selecionar que fins podem ser alcançados simultaneamente dados os meios uma vez que para o meio mais adequado e eficiente para se alcançar um fim pode impedir que se alcance outra finalidade. Em resumo, uma ação é racional se utiliza os meios adequados para os fins, não realiza sacrifício desnecessário de meios e se o agente escolhe fins congruentes.

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Pode-se dizer então que ao se restringir a capacidade dos agentes de deliberar sobre a coerência entre fins e meios a racionalidade na escola neoclássica é, em primeiro lugar, formal: diz respeito à forma como se alcançam determinados fins, mas não é capaz de dar conteúdo a ação. Mas o conceito de racionalidade adotado pela escola neoclássica é sobretudo instrumental; a razão é um instrumento que permite aos agentes alcançar suas finalidades. O papel da racionalidade na teoria da ação neoclássica é o descrever como os agentes se comportam, mas não fornece uma explicação para a ação; a razão por si só não é capaz de motivar um agente.

A racionalidade instrumental pressupõe a separação entre fins e meios; de um lado, os fins são previamente determinados antes da ação e por outro, os meios são selecionados racionalmente, uma vez definida a escala de finalidades. No entanto tal separação estrita não é possível nem razoável. Primeiramente não parece “racional” que um agente se ponha fins para os quais não existam meios, o que supõe que o conhecimento dos meios é um momento essencial na definição das finalidades e não um momento posterior. Além do mais como os meios podem servir a várias finalidades o próprio uso dos meios pode levar a novas finalidades; em outras palavras os fins podem ser postos na própria ação e não previamente a ela. Assim a definição das finalidades pode ser influenciada pelo conhecimento e uso dos meios, não havendo uma separação estrita entre os dois como supõe o conceito de racionalidade instrumental.

A operação realizada pelo agente racional neoclássico nos permite perceber outra característica do conceito de racionalidade. O agente racional recolhe informações sobre os meios disponíveis e adequados a suas finalidades e uma vez de posse dessas informações e da escala valorativa de suas finalidades deduz a melhor ação a ser tomada. Assim, a razão é cognitiva – se refere à coleta e processamento de informações – e dedutiva: parte de premissas – a escala valorativa das finalidades e os meios disponíveis – para chegar logicamente a conclusões – a melhor ação. Como as finalidades estão quantificadas em uma escala valorativa e os meios são escassos o raciocínio do agente se reduz a um cálculo de maximização.

Sendo a racionalidade formal e dedutiva, sem versar sobre o conteúdo das ações, ela é independente do contexto. Em qualquer situação, independente do conteúdo das finalidades e da natureza dos meios, é possível afirmar uma relação formal de coerência entre meios e fins, isto é a racionalidade instrumental e dedutiva. Sendo ahistórica – independente do tempo e do contexto social – a racionalidade é uma capacidade natural de cada um e de todos os indivíduos autônomos.

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Qual o estatuto epistemológico do conceito de racionalidade, qual seu papel na metodologia da escola neoclássica? A visão predominante na escola neoclássica é de que os homens na realidade não agem racionalmente; a ação racional é vista como uma abstração, uma parte do comportamento humano, como uma aproximação útil que não descreve o comportamento real dos agentes.

Se a escola neoclássica não se propõe a descrever por meio da ação racional como os agentes realmente agem, então que papel exerce essa hipótese; em outras palavras qual a utilidade da hipótese de racionalidade? Procura-se uma resposta a essa questão nesse artigo; antes, porém é necessário fazer uma digressão sobre a metodologia da escola neoclássica.

2. Método dedutivo e atomismo.

Não é possível compreender a função da hipótese de racionalidade sem compreender o quadro metodológico geral no qual ela se insere. Nessa seção procura-se fazer um sumário da metodologia neoclássica adotando-se como hipótese de que a escola neoclássica adere à filosofia da ciência positivista tal como entendida pela corrente do realismo crítico.

Seguindo Bhaskar (1978) e Lawson (1995;1997;1989) pode-se sintetizar o padrão positivista de cientificidade, predominante durante a maior parte do século XX em algumas proposições, quais sejam:

(1) A origem do conhecimento está na experiência, i.é, nas impressões fornecidas pelos sentidos;

A proposição (1) pode ser designada como princípio do empirismo, tendo suas origens remotas no pensamento de Bacon, Locke e especialmente Hume. Essa proposição traz consigo duas outras;

(2) Só é cientificamente válido o conhecimento que seja passível de algum tipo de teste empírico. O teste e sua consequência para a teoria é objeto de divergências, incluindo a versão forte do verificacionismo e o falseacionismo popperiano.

(3) Causalidade é entendida como conjunção incondicional e constante de eventos. A lei de um fenômeno, portanto expressa a conjunção constante de eventos.

A noção de causalidade expressa na proposição (3) tem suas origens no trabalho de David Hume. Sua implicação principal é a ausência de qualquer conexão interna entre os eventos, tornado o caráter necessário das leis apenas um resultado de um hábito mental: porque vejo o sol nascer e se pôr todo dia, espero que amanhã ele nasça novamente; entretanto, para os empiristas nada garante que essa experiência

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dos sentidos se repita amanhã. Tal postura leva facilmente ao ceticismo; para garantir o caráter universal das leis empíricas e tornar o conhecimento empírico válido, J. St. Mill acrescentou o caráter incondicional à repetição de eventos para que esta seja determinada como uma relação de causalidade.

A essas proposições se unem as constitutivas do método explicativo dedutivo, a saber:

(4) Explicar um fenômeno é deduzi-lo de leis gerais, especificadas as condições iniciais.

Deve-se observar que a proposição (4) pode ser desdobrada em outras duas:

(4.1) aquilo que se quer explicar deve ser uma consequência lógica das condições iniciais e de uma lei geral.

(4.2) a explicação deve conter pelo menos uma lei universal,

Ou seja, toda explicação deve conter uma lei geral e ser feita por dedução, para se enquadrar no modelo dedutivista.

A proposição (4) afirma que se queremos explicar algo, por exemplo, a relação entre demanda e preços no mercado, devemos descrever as condições iniciais, as quais juntamente com uma lei geral tornem o evento inteligível.

No exemplo indicado teríamos:

Lei geral: as famílias maximizam utilidade, isto é, são racionais. Condições iniciais: a restrição orçamentária do agente é dada

A partir desses elementos deduz-se a curva de demanda no mercado. (5) eventos são previsíveis a partir da sua dedução de leis gerais.

Essa proposição dá um passo além ao afirmar que eventos que ainda não ocorreram podem ser previstos por dedução a partir do conhecimento de leis gerais e das condições iniciais do sistema.

(6) explicação e previsão são simétricas.

Essa proposição afirma que dado o evento é possível explicá-lo por dedução a partir de leis gerais e condições iniciais, dadas as leis e condições iniciais é possível prever o evento também por dedução. A diferença entre previsão e explicação é portanto, apenas uma diferença temporal, isto é, entre o que ocorreu e o que irá ocorrer. Para esse modelo a capacidade de prever se torna o objetivo último e o critério essencial na seleção de diferentes hipóteses e teorias científicas.

O conjunto de proposições pode ser definido como constituindo a filosofia positivista da ciência, no sentido que lhe empresta Lawson (1995). Deve-se ressaltar

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que a definição é controversa e muitos críticos do positivismo do início do século XX – como Popper – se enquadram nela, dada a não especificação de muitos pontos. Deve-se observar também que o método dedutivo de explicação é tido como válido para todas as ciências físicas, biológicas e sociais.

O importante nesse momento é ressaltar a coerência interna do conjunto de proposições e especialmente a dependência do método dedutivo em relação às três primeiras proposições. Vejamos então.

A proposição (4) requer a existência de uma única causa para o evento: se um evento tiver mais de uma causa isto implica que sua ocorrência em momentos diferentes pode ter resultado de diferentes eventos anteriores, tornando-se eventualmente impossível retroceder do evento a sua causa. Não deve se esquecer que a explicação pressupõe a busca da causa para o fenômeno que já ocorreu, enquanto a previsão procura deduzir eventos futuros. Assim a previsão é compatível com várias causas, embora a explicação dedutiva não o seja.

A coerência da tese da simetria, portanto, requer que todo evento x seja acompanhado sempre do mesmo evento y, i.e., que haja apenas uma única causa necessária e suficiente para um evento. Ou seja, as proposições (4), (5) e (6) requerem a proposição (3) - que lembremos é consequência do princípio do empirismo.

A coerência interna do modelo positivista de cientificidade não o isenta de problemas – muito pelo contrário. Pode-se explicar um evento dedutivamente sem recorrer a uma lei geral, como no caso de explicações históricas ou funcionais que partem de um evento particular para explicar outro dedutivamente. Da mesma forma é possível explicar um evento a partir de proposições universais sem recorrer a uma dedução; um evento pode ser inferido de leis gerais por análise e redescrição teórica. Esse tipo de objeção pode ser refutado pelos adeptos do dedutivismo negando-se o caráter científico dessas explicações, com a consequência de restringir muito o escopo das proposições científicas.

Problemas surgem também para a tese da simetria entre explicação e previsão. Um evento pode ser bem explicado mas sua previsão pode ser deficiente; um exemplo paradigmático é a meteorologia. Por outro lado eventos podem ser mesmo imprevisíveis – embora explicáveis -, uma vez que o conhecimento dos eventos que o precederam requer sua ocorrência. Os problemas são evidentes se observamos que em determinado período T2 um evento x não é seguido de um evento y, como era previsto em T1.

A previsão, portanto pode ser falha, se revelar equivocada, ou mesmo ser impossível; isso representa enorme dificuldade para o modelo dedutivista.

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Primeiramente, se a previsão tem caráter dedutivo, isso significa que ela é uma operação lógica em que a conclusão – o evento a ser previsto – está contida de forma necessária e suficiente nas premissas – as leis gerais e as condições iniciais. Uma falha ou impossibilidade de previsão coloca em cheque o caráter dedutivo da previsão/explicação.

O próprio caráter empírico da teoria é posto em questão pela falibilidade das previsões: primeiramente pela previsão fornecer um dos momentos fundamentais do teste de uma teoria. Em segundo lugar pelo fato de que a noção de causalidade como regularidade empírica requer que a sucessão de eventos seja incondicional, i.e., independente do momento no tempo e do local onde os eventos ocorram. Em outras palavras partindo-se da noção humeana de causalidade o conhecimento só é possível se existirem padrões de eventos implicando que a previsão deve ser sempre completa e infalível.

Como o modelo positivista de ciência responde a esse tipo de situação? Bhaskar (1978) aponta duas respostas possíveis:

1) Nem todas as condições iniciais do sistema foram especificadas (tese da descrição incompleta), em outras palavras nega-se o caráter de lei da relação entre os eventos em questão.

2) Todas as regularidades de um determinado sistema ainda não são conhecidas (tese do conhecimento incompleto), sendo as suas leis descritas com a cláusula coeteris paribus – ou seja, nega-se o seu caráter universal, restringindo sua ocorrência para situações em que “tudo mais está constante”.

Essa questão nos ajuda a ver que a validade do método explicativo contido nas proposições (4), (5) e (6) – que como foi visto são dependentes da noção humeana de causalidade – tem alguns pressupostos, quais sejam:

1) O dedutivismo requer que todas as condições para que a ocorrência de um evento y seja possível sejam descritas ou que permaneçam constantes. Ou seja, requer o isolamento do sistema ou condições externas constantes.

2) Não basta, porém que todas as condições sejam descritas, é preciso que os elementos que compõe o sistema não alterem sua reação aos eventos x, em qualquer circunstância, implicando que a ocorrência de x sempre leva a de y. Em outras palavras o modelo positivista de ciência requer que os agentes tenham condições internas constantes. Os agentes devem ser descritos de acordo com o atomismo – isto é, todos os componentes do sistema devem ser descritos por

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uma única condição invariável, sem estrutura interna. Os agentes em um sistema desse tipo reagem passivamente aos eventos externos.

3) O sistema pode ser descrito pelo comportamento de cada um de seus elementos, ou seja, o sistema como um todo é visto como o resultado da soma de suas partes. Assim, uma vez descritos todos os elementos que compõe o sistema pode-se prever a ocorrência do evento y, já que este não depende de nada além de cada um dos elementos que o compõe. Qualquer sistema, para atender aos requisitos positivistas de cientificidade deve ter sua organização explicada em termos de aditividade.

Esse conjunto de pressupostos- que se colocam no plano epistemológico – torna possível o que Bhaskar (1978) chama de sistema fechado, isto é, um sistema onde todo evento x é seguido invariavelmente de um evento y. O método dedutivo é assim dependente do pressuposto do sistema fechado; pressuposto esse que impõe constrangimentos sobre a teoria.

Esses pressupostos epistemológicos por sua vez pressupõem a conceituação de como o mundo deve ser para que a ciência nos moldes positivistas seja possível, isto é, constituem a ontologia implícita do positivismo, denominada por Bhaskar (1978) de realismo empírico.

O realismo empírico assume que o mundo é constituído pela sucessão de eventos que impressionam nossos sentidos, pela experiência. Bhaskar (1978) indica alguns elementos que formam essa ontologia. Trata-se primeiramente de uma realidade indiferenciada, na qual as percepções que constituem o mundo – como as de um cientista em um laboratório ou as da nossa vida cotidiana – são todas vistas como indistintas: o padrão de eventos que constitui o mundo é tido como ubíquo e espontâneo.

A ontologia do realismo empírico conceitua a realidade como sendo caracterizada pelo isomorfismo e pela superficialidade. O real é reduzido ao empírico: não é possível que algo exista sem se manifestar e sem que essa manifestação por sua vez impressione nossos sentidos. O mundo é identificado como o imediatamente percebido.

Além disso, na ontologia do realismo empírico o novo é impossível: trata-se de um mundo no qual a relação genética causalmente irredutível entre eventos - ou deste com mecanismos não-observáveis – está ausente. A única relação admitida entre eventos é a sua sucessão incondicional percebida como um padrão monótono.

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3.Função epistemológica e normativa da racionalidade neoclássica

Uma vez esclarecidos os fundamentos metodológicos positivistas da escola neoclássica é necessário retomar a questão colocada anteriormente: quais funções a racionalidade exerce na metodologia neoclássica?

Primeiramente a hipótese da racionalidade é fundamental para o modelo de explicação dedutivista. Na escola neoclássica a necessidade de condições internas constantes é satisfeita com o axioma da racionalidade. Na escola neoclássica tudo é reduzido à ação de indivíduos humanos e essas ações são determinadas de uma única forma: a busca de maximização de uma função objetivo. Além disso, essa função objetivo é fixa e só permite um curso de ação para atingir o ótimo. Assim, firmas têm sua ação explicada sempre pela busca de maximização de lucros e as famílias consumidoras pela maximização da utilidade.

A hipótese da ação racional fornece um padrão de comportamento para os agentes tornando-o previsível: diante de qualquer situação a reação do agente será a de realizar o cálculo racional de fins e meios. A reação das famílias a alterações nos preços relativos, por exemplo, será sempre a mesma, estando pré-determinada na sua função utilidade. Assim, os agentes na escola neoclássica reagem de forma automática a eventos externos, replicando sempre o comportamento maximizador. Esse repetição do comportamento maximizador é o que permite aos modelos neoclássicos preconizarem padrões de eventos passíveis de previsão.

Com seu caráter instrumental e formal a racionalidade neoclássica oferece uma descrição da ação independente de seu conteúdo. O agente neoclássico é retratado assim de forma atomística, sem uma estrutura interna. A única condição que descreve o agente é a capacidade de raciocinar dedutivamente, de forma invariável, para escolher a melhor ação.

As condições internas constantes implícitas na escola neoclássica requerem a eliminação do indivíduo real, cuja ação resulta da conjunção de um conjunto de mecanismos de natureza diversa e se caracteriza pela escolha. Paradoxalmente a racionalidade neoclássica elimina a escolha da ação; a escolha implica em deliberação racional acerca de alternativas. A escolha é o que determina um sistema aberto na realidade social; o agente capaz de escolha reage de formas diferentes as circunstâncias impedindo assim a formação de um padrão de eventos. O agente neoclássico não só não procede a escolha quanto as suas finalidades – já que as preferências não são passíveis de julgamento racional – como se caracteriza pela ausência de qualquer comportamento

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que não seja o maximizador. Ao agente é vedado se comportar de outra forma que não seja aquela preconizada pela racionalidade neoclássica.

Como afirma Hahn:“(...) Traditional equilibrium theory does best when the individual has non importance – he is of measure zero. My theory also does best when all the given theoretical problems arising from individual’s mattering do not have to be take into account “ (1984, p.64). Em outras palavras a ação humana na teoria neoclássica é análoga ao funcionamento de um autômato, garantindo assim as condições internas constantes.

Mas a hipótese da ação racional a partir de um conceito restrito de racionalidade também exerce uma função normativa. Primeiramente, se os agentes não agem de forma racional, e as previsões e consequentemente as recomendações de políticas dos economistas neoclássicos partem desse pressuposto, indiretamente a escola neoclássica propõe que os agentes devem agir de forma racional. Assim, a racionalidade, se não explica o comportamento real do agente carrega também um conteúdo valorativo. O valor veiculado pela racionalidade neoclássica é a eficiência. A racionalidade neoclássica ao propugnar o uso adequado e sem desperdícios dos meios e com seu caráter formal e instrumental é um sinônimo para a eficiência. A eficiência, através da ação racional é propugnada como máxima do comportamento humano; sejam eficientes em suas ações é o que diz o elemento normativo da racionalidade neoclássica. Ao caracterizar como irracional qualquer comportamento que não seja o eficiente a escola neoclássica implicitamente julga o comportamento racional, isto é, eficiente, como correto.

Ao veicular a eficiência como valor fundamental das ações humanas a escola neoclássica reflete o comportamento necessário ao capital. O capital é valor que se valoriza, valor que gera mais valor por meio do consumo da mercadoria força de trabalho no processo de produção (Marx,1987). Para que seja gerada a mais-valia é necessário que o consumo de mercadoria força de trabalho ocorra de forma adequada sem desperdício de recursos e que o trabalho se dê com maior continuidade e intensidade possível. De acordo com Marx (1987, p.209):

“O capitalista cuida em que o trabalho se realize de maneira apropriada e em que se apliquem adequadamente os meios de produção, não se desperdiçando matéria-prima e poupando-se o instrumental de trabalho, de modo que só se gaste deles o que for imprescindível à execução do trabalho.”

A eficiência impõe-se assim como uma necessidade da produção do capital. Essa necessidade de eficiência na produção impõe-se não apenas no uso dos meios de trabalho, mas também no uso da própria força de trabalho. Os métodos tayloristas de

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organização do trabalho buscam obter o ótimo de um dia de trabalho maximizando a quantidade de trabalho efetivamente despendida por um trabalhador em uma jornada.

A exigência de eficiência nas ações penetra em todas as esferas da vida social. Se para os capitais individuais o requisito de eficiência é necessário para o controle do trabalho e se impõe pela concorrência, no plano público é uma exigência que se coloca com o objetivo do controle social. A exigência de um comportamento eficiente penetra assim na esfera pública, se consubstanciando em tecnocracia e influencia a administração pública, a educação, a medicina, etc. O comportamento eficiente é assim uma exigência da reprodução da sociedade do capital.

A escola neoclássica justifica assim um comportamento necessário à reprodução do capital ao colocar a eficiência como máxima do comportamento humano. Ao propugnar a eficiência como valor positivo a racionalidade neoclássica reproduz a forma de consciência fenomênica dos agentes na sociedade capitalista. Independente das intenções de seus adeptos, a escola neoclássica exerce uma importante função na reprodução da sociedade capitalista ao validar um comportamento necessário ao capital. [caráter manipula tório?]

Uma vez definidas as funções da hipótese de racionalidade é preciso examinar algumas críticas e tentativas de refinamento do conceito neoclássico de racionalidade, para inquirir em que medida constituem verdadeiras rupturas com o pressuposto atomista. A essa questão que as próximas seções são dedicadas.

4. Racionalidade perfeita, racionalidade limitada e atomismo.

Conforme apresentado na seção inicial, a escolha racional é essencialmente um processo cognitivo. O agente racional deve ser capaz de colher todas as informações sobre os meios disponíveis e calcular as conseqüências do uso dos diferentes meios. Variações em torno do conceito neoclássico de racionalidade tomam como ponto de partida as hipóteses sobre as capacidades cognitivas dos agentes.

O conceito “clássico” de racionalidade (Simon, H., 1955) supõe que os agentes possuem capacidade cognitiva em alto grau, quase ilimitada e que são dotados de racionalidade perfeita. Nessa versão do conceito de racionalidade o agente conhece todas as alternativas que pode escolher, isto é, o agente é capaz de coletar todas as informações do ambiente em que se dá sua escolha, não importando a complexidade, volume e variedade de informações relevantes. A racionalidade perfeita supõe também que o agente é capaz de conhecer as conseqüências de todas as ações alternativas a sua

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disposição; isso supõe que o agente tem a capacidade de computar todas as conseqüências das alternativas de ação, isto é ele é capaz de vincular o valor do resultado – sua utilidade - a cada ação e escolher o curso de ação disponível que leva a parte mais alta de sua escala de preferências. Esse último suposto se refere não só a habilidade de cálculo do agente, mas também a ausência de incerteza, uma vez que os resultados só ocorrem depois de realizada a ação; a racionalidade perfeita elimina assim a possibilidade de conseqüências não antecipadas.

As exigências da racionalidade perfeita quanto às capacidades cognitivas dos agentes para lidar com situações de complexidade e incerteza têm sido contestadas desde o trabalho pioneiro de Herbert Simon com base nos resultados da psicologia cognitiva. Os estudos de psicologia cognitiva apontam limitações fisiológicas do organismo humano para coletar informações, de habilidade preditiva e computacional. O organismo humano não é capaz de acessar todas as informações, nem de acessá-las sempre de forma correta (Kahneman, D.; 2002). Assim a racionalidade do agente está dentro dos limites definidos por sua capacidade cognitiva.

A complexidade do problema da escolha de uma ação entendida como resultado de um processo de maximização está além do alcance do organismo humano; diante de problemas complexos em um contexto de capacidade cognitiva limitada o organismo reage com um processo cognitivo denominado de heurística. Nesse processo o atributo alvo do julgamento é substituído por um atributo heurístico mais acessível à mente; assim os julgamentos são definidos por regras simples que substituem a complexidade do problema a ser resolvido. Ao julgar a distancia de uma montanha, por exemplo, ao invés de realizar os cálculos necessários, o agente usa como regra a nitidez dos contornos da montanha (Kahneman, D.; 2002); assim um atributo que não é diretamente relacionado ao objeto de julgamento é substituído por um mais simples e o raciocínio complexo é substituído por uma regra simples, no caso, quanto mais nítido o contorno da montanha menor é a distância que se está dela.

Com base na psicologia cognitiva, os partidários da racionalidade limitada argumentam que o complexo processo de julgar o valor das conseqüências de sua ação – isto é do ordenamento das preferências tal como requerido pela racionalidade perfeita – é substituído pela definição de um nível de aspiração que ordena de forma mais simples os resultados das ações como satisfatório e não-satisfatório (Simon, H. 1955) A definição do nível de aspiração é a primeira etapa da escolha racional com racionalidade limitada.

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O momento seguinte da decisão consiste no ranqueamento das alternativas de ação; o agente com racionalidade limitada, no entanto não é capaz de conhecer de forma imediata todas as alternativas de ação possíveis. Assim na escolha com racionalidade limitada é necessário um processo de busca de alternativas, de coleta de informações sobre os vários comportamentos possíveis que levam a resultados satisfatórios. As alternativas de ação portanto são percebidas pelo agente de forma seqüencial a medida que apreendem as informações. O processo de mapeamento das alternativas não acaba quando esgotam todas as possibilidades de ação uma vez que existe um custo cognitivo e monetário de coleta de informações.

A decisão do agente se dará considerando o custo de se obter informação e o nível satisfatório. O agente pode cessar a busca de informações sobre novas alternativas quando apreende alguma que resulta no nível satisfatório ou até mesmo antes desse quando o custo de coletar novas informações se torna muito alto. Como resultado, o agente com racionalidade limitada não alcança necessariamente o melhor resultado possível - ou seja, o máximo de sua função objetivo.

O conceito de racionalidade limitada inclui um elemento dinâmico na racionalidade. Enquanto na racionalidade perfeita o agente tem um ordenamento completo e fixo de suas preferências, o agente com racionalidade limitada muda seu nível de aspiração dependendo do nível atingido anteriormente; a impossibilidade de cálculo e as limitações cognitivas na busca de informação levam o agente a um processo de aprendizado de acordo com a experiência.

Como e quanto o agente com racionalidade limitada é racional? Primeiramente a racionalidade limitada é formal - diz respeito à forma como se alcançam determinados fins, mas não é capaz de dar conteúdo a ação - e instrumental - é um instrumento que permite aos agentes alcançar suas finalidades - como a racionalidade perfeita. Também como a racionalidade perfeita a limitada é cognitiva – se refere à coleta e processamento de informações – e dedutiva: parte de premissas – a escala valorativa das finalidades e os meios disponíveis – para chegar logicamente a conclusões – a melhor ação. Assim, racionalidade limitada e perfeita são variações do mesmo conceito de racionalidade.

O fato da racionalidade limitada e perfeita compartilhar o mesmo conceito de racionalidade indica que ambos têm em comum o dedutivismo como modo de explicação científica. A crítica dos partidários da racionalidade limitada se refere à ausência de verificação empírica dos requisitos cognitivos da racionalidade perfeita, por um lado e por outro as “anomalias” – isto é, as previsões decorrentes da hipótese de racionalidade perfeita (Conlisk, J.; 1986). A racionalidade limitada é proposta assim

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como uma correção da hipótese de racionalidade perfeita a partir dos critérios empiristas de ciência, o teste empírico e a previsão.

Apesar de romper com a lógica da maximização a racionalidade limitada permanece tributária do atomismo. Ao manter a racionalidade independente do conteúdo da ação, a racionalidade limitada ainda descreve o agente de forma atomística. O agente com racionalidade limitada busca sempre o comportamento satisfatório, no lugar do máximo, mas continua buscando o melhor uso dos meios para atingir fins pré-definidos. O agente com racionalidade limitada reproduz assim sempre o mesmo comportamento satisfatório em qualquer circunstância, mantendo o pressuposto atomista.

Apesar da concepção comum de racionalidade presente na racionalidade limitada e perfeita, algumas diferenças devem ser notadas. A primeira delas se refere ao aspecto cognitivo da racionalidade: os agentes com racionalidade perfeita, como indica o nome, não comentem erros e são sempre capazes de alcançar o máximo de sua escala de preferências. Já a racionalidade limitada coloca a possibilidade de erros como decorrência das limitações cognitivas e o conseqüente uso da heurística como procedimento cognitivo: raciocínios equivocados podem ser feitos se os agentes substituem informações mais relevantes para o problema em questão por outros que não guardam necessariamente relação com o problema.

O caráter dedutivo da racionalidade também é mantido tanto na perfeita como na limitada; mas aqui há também uma diferença a ser notada: entre os meios disponíveis está incluída a capacidade cognitiva dos agentes e na conclusão a melhor ação é a melhor ação percebida pelo agente e não a melhor ação realmente possível. Assim a racionalidade é concebida uma questão de grau; segundo Simon: “(...) os tomadores de decisão humanos são tão racionais quanto a sua capacidade computacional limitada e sua informação incompleta permitir (...)” (1978, p.351).

5. Racionalidade paramétrica, estratégica (teoria dos jogos) e atomismo.

No modelo de ação neoclássico, o agente com racionalidade perfeita captura todas as informações do ambiente que são relevantes para a escolha da melhor ação. A escolha da ação do agente, a princípio, não muda os dados colhidos do ambiente; em outras palavras, os elementos que estão presentes no ambiente não reagem à ação do agente. Nesse modelo a racionalidade é paramétrica: cada agente individual se reconhece como o único ser capaz de escolher a sua ação em um ambiente constante.

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A racionalidade paramétrica se adequa a descrição de uma situação de economia do tipo Robson Crusoé (Von Newmann, J. e Morgenstein, O.; 1964). Em uma economia do tipo “Robson Crusoé”, as únicas variáveis que influenciariam a decisão dos agentes seriam aquelas que estariam diretamente sob seu controle e os “dados mortos” compostos pelo ambiente físico. No caso de Robson Crusoé, se o agente tem a informação sobre as causalidades do ambiente físico ele é capaz de determinar o resultado da sua ação, pois sabe como o ambiente reagirá a ela.

Em um mundo composto por vários agentes racionais, a hipótese da racionalidade paramétrica significa que a ação de cada agente não influencia a dos outros; em outras palavras, os agentes não incorporam na informação relevante para sua ação como os outros reagem a sua escolha.

A teoria dos jogos se propõe a romper com a economia do tipo “Robson Crusoé” procurando analisar a escolha racional em um contexto social no qual os agentes interagem. Em uma economia social o comportamento dos agentes depende também dos dados que refletem a vontade e intenção dos outros; nessa situação o resultado da ação de cada um irá depender das ações dos outros. (Von Newmann, J. e Morgenstein, O. 1964).

Na teoria dos jogos a interação entre os agentes resulta em conseqüências que são valoradas pelos agentes, valoração esta que é representada pelo payoff ou função utilidade. Um payoff mais alto representa um resultado preferido a todos os outros e os payoffs possíveis representam a valoração dos agentes com relação aos resultados de sua interação de acordo com sua escala de preferências. Os agentes (jogadores) buscam obter o melhor resultado possível definindo um plano de ação (estratégia) considerando a ação dos outros agentes (jogadores). A solução de um jogo é o resultado esperado da interação dos agentes (jogadores) e oferece um conjunto possível de regras de comportamento em cada situação possível. Esses dois aspectos – a descrição da ação como estratégia e a solução como resultado coletivo de decisões individuais – são os elementos que diferenciam a racionalidade estratégica da teoria dos jogos da racionalidade paramétrica, uma vez que incluem a ação dos outros nas informações necessárias para o cálculo da melhor ação.

Nesse quadro geral, diferentes tipos de interação são formalizados pela teoria dos jogos. Os jogos cooperativos tratam de situações em que os compromissos são implementados, se focando na formação de grupos e na distribuição do payoff entre seus membros; nos jogos não cooperativos, em que compromissos não são obedecidos, a questão fundamental é a definição de estratégias dos indivíduos (Aumann, 1987a,

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p.54-55). Os jogos também podem ser dinâmicos formalizando situações de interação repetida, ou estáticos quando a interação ocorre uma única vez.

Os jogos também são definidos de acordo com o grau de incerteza presente na interação dos agentes. Nos jogos com informação completa os agentes conhecem toda a estrutura dos jogos incluindo as preferências e as estratégias disponíveis para todos os jogadores. Nos jogos com informação incompleta os agentes utilizam probabilidades bayesianas para formular expectativas sobre os “tipos” – isto é as preferências e estratégias disponíveis – dos outros jogadores (Harsanyi, J. 1994). Um pressuposto adicional é de que os agentes têm um conhecimento comum - isto é, sabem que os outros sabem que eles sabem - das probabilidades antecedentes, divergindo na formulação das expectativas apenas em relação à informação que cada um dispõe (Aumann, R.; 1997).

Embora existam modelos de jogos com racionalidade limitada, a teoria dos jogos padrão mantém os pressupostos da racionalidade perfeita. Ao incluir as expectativas ou certezas sobre a ação dos outros agentes, a racionalidade estratégica da teoria dos jogos exige do agente capacidades cognitivas ainda maiores do que a racionalidade paramétrica, uma vez que o conjunto de informações e o cálculo necessário para a escolha da melhor ação é ainda maior e mais complexo.

A racionalidade estratégica se mantém no campo da racionalidade instrumental – uso dos melhores meios para alcançar os fins – incluindo entre as informações necessárias para o conhecimento das alternativas disponíveis para cada agente e na relação entre a ação de cada agente e as suas consequências a reação dos outros. A racionalidade da teoria dos jogos também é dedutiva, incluindo entre as premissas o conhecimento – certo ou probabilístico - sobre a ação dos outros jogadores.

Ao manter a racionalidade instrumental a teoria dos jogos se alinha ao pressuposto do atomismo necessário para o método dedutivo. Os agentes em situação interativa agirão sempre da mesma forma nas mesmas circunstâncias; no entanto um elemento adicional merece explicação quando se trata da teoria dos jogos que é a possibilidade de equilíbrios múltiplos, isto é, quando há diferentes estratégias que levam o agente a satisfazer suas preferências de forma ótima. Nesse caso, não seria possível definir a mesma ação para a mesma circunstância e, portanto prever o comportamento do agente.

A interpretação dominante da teoria dos jogos, no entanto, atribui o caráter aparentemente aleatório da ação à falha de conhecimento do pesquisador, isto é, à

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descrição incompleta das circunstâncias em que o agente toma sua decisão. De acordo com Rubinstein:

A estratégia mista de um jogador é pensada como um plano de ação que depende de informação privada que não é especificada no modelo. Embora o comportamento do jogador pareça ser aleatório ele é efetivamente determinístico. Se adicionarmos essa informação na estrutura do modelo, a estratégia mista se torna uma estratégia pura na qual a ação depende de informações externas. (Rubinstein, 1991, p.914).

Além de manter a racionalidade instrumental e, portanto o pressuposto do atomismo, a teoria dos jogos falha na explicação da interação social. A teoria dos jogos compreende a interação como a situação em que o resultado da ação de um depende da ação dos outros; esse caráter da interação aparece na influência que as crenças em relação aos outros tem na determinação da estratégia dos agentes. As preferências dos agentes, no entanto permanecem como um dado e não são alteradas pela interação; em outras palavras a interação social não é capaz de influenciar as motivações dos agentes. Em outras palavras, a ação cuja intencionalidade é influenciar comportamentos para que os agentes realizem determinados fins está ausente da teoria dos jogos.

6. Considerações finais

Nesse artigo foi apresentada em suas linhas gerais uma crítica a hipótese neoclássica de racionalidade. O agente neoclássico age sempre da mesma maneira por meio de uma racionalidade de caráter meramente instrumental, atendendo ao atomismo pressuposto pelo método dedutivo. A hipótese de racionalidade exerce assim uma função epistemológica, central para a elaboração de modelos dedutivos e para realização de previsões. Além da função epistemológica a hipótese de racionalidade exerce também uma função normativa ao propugnar a eficiência como máxima do comportamento humano, refletindo assim um comportamento necessário ao capital. Tentativas de reformular o conceito de racionalidade, como a racionalidade limitada e a estratégica mantém o caráter instrumental da racionalidade e o pressuposto atomista.

Bibliografia

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IN: Econometrica, vol.55, nº1, Jan.1987, p.1-18

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Referências

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