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o problema da significa~ao sempre foi objeto de estudo na Lingtiistica.

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Regina Celia Pagliuchi da Silveira PUC-SP

Visamos a discutir a rela~ao entre texto e significa~ao a partir do sentido fluido, considerando-o como caracteristica basica das linguas naturais.

o

problema da significa~ao sempre foi objeto de estudo na Lin-gtiistica. Inicialmente, tratam do sentido como sendo determinado pe-10 sistema lingtiistico; apos, da determina~ao do sentido no contexto discursivo.

Durante todo 0quadro da Lingtiistica imanente, a significa~ao

es-ta situada no sistema lingtiistico, propiciando uma visao eses-tatica do signo. Apesar do sistema de signos estar oposto

a

comunica~ao, as sig-nifica~oes emanam do sistema, sendo estas, portanto, independentes da fun~ao comunicativa. Mesmo quando tratam do contexto, este

e

visto como co-texto, 0proprio sistema paradigmatico e sintagmatico

servindo de contexto. A teoria

e

construida por uma bipolaridade ter-minologica.

A Lingtiistica textual opera como urn terceiro termo, intermediario entre lingua e fala: discurso. Ao se considerar os novos efeitos de sen-tidos produzidos pela intera~ao comunicativa, a significa~ao torna-se discursiva, ligada ao texto/contexto. A linguagem passa a ser caracte-rizada pela textualidade, intertextualidade e argumentatividade, en-quanto uma das faculdades cognitivas do homem. No texto, 0 signo

torna-se dinamico, ja que 0discurso

e

um p.rograma designifica~ao,

um processo de contextualiza~ao. Portanto, a linguagem nao

e

mais espelho da realidade, do mundo; mas 0 mundo

e

efeito da linguagem

que fala da verdade como efeito do discurso. A significa~ao torna-se possivel pela comunicabilidade.

Todavia, por- estar em pleno desenvolvimento, encontramos na Lingtiistica textual uma variabilidade de defini~oes para "texto" e "contexto", dependendo dos pontos de vista.

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Na analise transfrasica, 0texto e considerado como uma sequencia

coerente de enunciados; nas gramaticas de texto, como uma unidade original, significativa, em que a coerencia decorre da manuten~llo te-matica, tornando-se possivel uma tipologia de textos a partir das ma-crocategorias textuais; ja para a teoria de texto, este e visto como urn modelo teorico. Porem, apesar destas diferen~as, a significa~llo de urn texto decorre de urn todo, diferente da soma das significa~Oes das fra-ses que 0constituem.

As no~Oes de contexto tambem silo variadas e poderiam ser apre-sentadas por tipos, ainda que nenhuma delas seja encontrada como forma pura de urn tipo. Dentre esses tipos encontramos 0contexto

en-quanto: a) co-texto, compreendendo urn conjunto de regras responsa-veis pela unidade significativa (texto), organizando sua coerencia e coesllo; b) contexto existencial, compreendendo: 0 contexto

referen-cial (conjunto de objetos, acontecimentos aos quais 0texto se refere),

o contexto espacio-temporal (0 lugar e 0 tempo em que os objetos e

acontecimentos se realizam) e os mundos possiveis; c) contexto situa-cional, compreendendo 0conjunto das situa~Oes vistas como

determi-nantes socia is (as institui~Oes e seus cargos, regras especificas de con-versa~llo e a autoridade de quem fala); 0 contexto situacional pode

ainda compreender urn subtipo, 0contexto accional, em que os atos

de linguagem criam a situa~ao lingOistica; d) 0contexto psicologico,

compreendendo as inten~Oes, desejos e cren~as como realizadores do processo discursivo. Apesar desta variabilidade, a significa~llo esta sempre ligada ao contexto, como processo de contextualiza~ao.

Na LingOistica textual, ao se relacionar texto e contexto, as noc;Oes de racionalidade e compreensllo esHio presentes, quando se reconstroi o processo dinimico das significac;Oes.Faz-se necessario, portanto, re-ver0sistema linguistico e considerar a forma linguistica, como discur-siva; assim sendo, 0seu sentido e fluido, vago, nunca determinado,

imanente.

o

sentido sendo fluido, na forma discursiva, nao ha significac;ao sem racionalidade, pois e ela que nos permite viver em sociedade, comunicar-nos. 0 raciocinio e urn processo de inferencia, desde que se esforc;a por obter conhecimentos novos a, partir de conhecimentos ja

adquiridos. No discurso, a significac;ao e vista como processo de infe-rencia, porem inferencia nllo logica, que dinamiza 0processo de con-textualizacao do texto.

o

sentido sendo fluido, na forma discursiva, nlio ha significac;ao sem compreensao, sendo esta vista como norma de cooperac;llo da co-munidade. Compreender exige a discursividade ja que nao se com-preende so, mas em comunidade; e esse sentido que 0interpretar dos

interlocutores implica tambem compreender. Interpretar nllo e visto apenas como operac;llo psicologica em que se diferenciam momentos: apreensllo, compreensllo e interpretac;ao. Nllo ha interpretac;llo fora do discurso, nllo hll significac;ao sem interpretac;llo, compreensao.

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lin-gliistico, esfor~ando-nos por caracteriza-Ia pelo sentido fluido, vago.

o

texto sera visto por n6s como 0 conjunto de predica~Oes que, orga-nizadas por uma determinada coesao, mantem a coerencia nos conteu-dos definit6rios conteu-dos vocabulos (em estado de dicionario), a partir de recortes culturais do continuum da realidade; a rela~ao entre as lexica-lizaCOese modalizada com a coopera~ao da comunidade (necessida-des, possibilidades).

Tomemos a titulo de exemplifica~ao 0 verbete "festa" .

o

conteudo definit6riodeste vocabulo compreende:

"1. reuniao alegre para fim de divertimento; 2. 0 conjunto das cerimOnias com que se celebra qualquer acontecimento; solenidade, comemora~o; 3. dia santificado, de descanso, de regozijo; 4. oomemora~ao liturgica, solenidade da Igreja, romaria; 5. regozijo, alegria, jubilo; 6. trabalheira, cuidado, barulho." (ct.Aurelio, 1975, pg. 623)

"1. solenidade, regozijo por qualquer fato; 2. conjunto das cerimOnias com que se celebra qualquer acontecimento; 3. solenidade da Igreja; 4. alegria, jubilo, regozijo, festim, di-vertimento; 5. aQio que saia fora do ordinario, em que haja alguma coisa de extTaordin~rio" (cf. Caldas Aulete, 1980, pg.1.585).

o

confronto dos dois conteudos definit6rios indicam diferen~as tanto nas lexicaliza~Oes dos conjuntos semicos, quanta na ordem das predica~Oes. Por uma questao de tempo nesta comunica~ao reduzire-mos nossas analises a algumas modaliza~es, implica~Oes e explica-~Oesexistentes nos conjuntos de predica~(tes.

Em (1), 0"1.0 conjunto predica para "festa": "que e reunillo" ,

"que e alegre", "que e para fim de", "que

e

divertimento" .

Na 1.a predica~o, "reuniao", lexicaliza-se pelo recorte de

rela-~Oes actanciais com sujeitos distintos ("anfitrillo, organizador, cola-boradores, convidados"), caracterizados em pelo menos tres tempos e lugares: a) unidos; b) separados; c) reunidos. 0 recorte

e

dado no ter-ceiro tempo, os demais mantem-se implicados, embora em todos os tempos, a actancia esteja modalizada pelo "querer fazer" .

Na 2.a predica~ao, "alegre", a lexicaliza~llo recorta "urn estado

do ser", caracterizando-o em rela~o a outro tempo e em rela~o a ou-tros seres (tristes, indiferentes etc.):

"1. que tern alegria, que sente alegria; 2. que in~pira alegria; 3.ligeiramente embriagado; 4.libertino" (ct.Aurelio, 1975, pg.65).

Mantem-se portanto implicados outros conjuntos de predica~Oes que situam alegria ora como causa, ora como efeito de algo ou algu~m. A rela~o em "reuniao alegre" esta modalizada pelo "ser, parecer".

(4)

"0 fim" em rela~ao a "urn meio" e a "urn propulsor" que se mantem

implicados, embora todos os elementos estejam relacionados no 1.0

conjunto de (1) pela modaliza~ao do "querer": "fim" contem: "1. conclusllo, remate, termo final; 2. limite; J. a ultima fa-se; 4. causa, motivo; 5. inten~llo, prop6sito; 6. alvo, mira; 1. finalidade a que se destina aIgo" (cf. Aurelio, 1915, pg. 629).

Na 4.a predica~llo, "divertimento", a lexicaliza~llo recorta uma,

dentre varias situa~Oes implicadas, em sequencia temporal, caracteri-zadoras de rela~Oes actanciais distintas (adversario, colaborador, agente), na sequencia temporal:

"1. entretenimento, recreio; 2. mus. pequena 6pera com dan~as; 3. mus. passagem modulante, intercalada no epis6-dio de uma fuga; 4. entreato composto de dan~as, coros, pantomimas etc., nos interval os das pe~as musicais ... " (cf Aurelio, 1915, pg. 485).

Em (1),01.0 conjunto esta modalizado pelo "querer fazer", "ser

e parecer".

Ja 02.0 conjunto predica: "0 conjunto das cerimonias com que se

celebra qualquer acontecimento". Com "cerimonias" recortam-se, pela lexicaliza~llo, rela~Oes actanciais distintas, mas caracterizadas pe-la atitude das pessoas reunidas, 0carater solene; os demais conjuntos

estllo implicados:

"reunillo festiva ou ate funebre de carater solene, por oca-sillo de urn acontecimento" (cf. Aurelio, 1975, pg. 308). Neste 2.0 conjunto, a modaliza~llo e dada pelo "dever fazer" e

"dever ser e parecer", mantendo implicadas disjun~Oes modalizado-ras como: "nllo ser e parecer", "ser e nllo parecer". Este conjunto, portanto, estende 01.0•

No 3.0conjunto: "dia santificado, de descanso, de regozijo",

ape-sar de conter varios outros conjuntos.implicados, 0recorte e dado no tempo, caracterizando uma quantidade definida (24 horas) pelQ pro-cedimento variado das pessoas, mantendo, portanto, rela~Oes actan-ciais distintas. A modaliza~llo se da pela jun~llo de "dever" e "que-rer", "ser" e "parecer", implicando varias disjun~Oes tanto paradig-maticas quanto sintagparadig-maticas.

Esta analise pode ser continuada, na tentativa de se levantar 0

maior numero possivel de implica~Oes, nas explica~Oes existentes, ja que estamos inferindo, ao contextualizar este texto de defini~Oes, com o auxilio da norma de compreensao da comunidade. Assim, devido

a

fluidez dos sentidos, temos uma circularidade nas defini~Oes, pois ca-da explica~o ou implica~o contida corresponde a urn outro vocabu-10, que por sua vez contem outros conjuntos de predica~Oes. Porem, urn confronto entre (1) e (2) nos permite observar: numeros diferentes de conjuntos explicados, alem de organiza~Oes textuais diversas. Em (1) organiza-se a partir da topicaliza~llo da "finalidade". em (2), por

(5)

"causa, efeito", possibilitando-nos dizer que os dicioniuios estao lon-ge de manter conteudos definit6rios identicos para urn mesmo voca-bulo, pois a forma lingiiistica sendo discursiva, os sentidos sao flui-dos, vagos.

Em sintese, uma analise deste tipo leva-nos a conduir que nos con-teiJdos definit6rios: 1) ha uma relatividade de sentido, decorrente das lexicalizacoes que SaD recortes culturais do continuum da realidade, mantendo, nas explicacoes selecionadas, 0maior numero de

conjun-tos implicados; 2) os conjunconjun-tos implicados SaD deduzidos pdo ra-ciocinio, por processo de inferencia, contextualizando 0 texto,

criando-se novos efeitos de sentidos, no discurso; 3) nao se pode preci-sar 0valor de verdade, pois desliza-se constantemente de urn efeito de

sentido a outro, estendendo-o ou restringindo-o, indo-se de uma acep-cao a outra; 4) podemos nos referir apenas

a

verdade por definicao, analiticamente, fazendo com que 0 significado lingiiistico seja urn

conjunto fluido de propriedades inegavelmente pertinentes (predica-coes genericas, especificas, individuais); 5) os sentidos sendo fluid os, as inferencias levam a operacoes de adicao e subtracao, encadeando a polissemia de sentidos, caracterizando as linguas naturais como polis-semicas; 6) as lexicalizacoes existentes compreendem uma das proprie-dades mais notaveis da linguagem, pois autorizain uma especie de to-picalizacao sobre uma unica dentre as propriedades que 0significado

comporta; 7) cada termo das predicacoes existentes e definido PQr sua vez por outros conjuntos definit6rios e esta circularidade caracteriza a norma de cooperacao da comunidade, fazendo com que 0 compreen-der nao seja apenas urn processo individual do homem, mas com-preender em sociedade. A maior ou menor precisao das predicacoes decorre do "saber" dos interlocutores desta norma, possibilitando, portanto, leituras de consenso e leituras especificas; 8) embora haja seletividade nas explicacoes, cad a conjunto de predicacoes esta orien-tado para urn determinado ponto (modaliza~o), concorrendo para que nao haja urn carater tao rigoroso que permita dizer com exatidao

qual 0traco selecionado. .

Assim sendo, os sentidos fluidos nos permitem caracterizar a for-ma lingiiistica como forfor-ma discursiva; a determinacao de sentidos de-corre do processo de contextualizacao em que se da0discurso.

CALDAS Aulete (1980). Diciomirio Contemporineo da Lingua Por-tuguesa, Delta, Rio, 3.a ed.

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Referências

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