EUCLIDES DA CUNHA PAULISTA: ENTRE O URBANO E O RURAL

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EUCLIDES DA CUNHA PAULISTA: ENTRE O URBANO E O RURAL

Gabriel de Freitas Borges

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC – PUC Campinas email_address@puccamp.edu.br

Luiz Augusto Maia Costa

História das Cidades:

Ocupação Territorial e Ideários Urbanos CEATEC - PUC-Campinas luiz.augusto@puc-campinas.edu.br

Resumo: Este trabalho trata da análise a respeito da

evolução urbana da cidade de Euclides da Cunha Paulista. Ou por outro lado, sobre as características urbano-rural da mesma. Aspectos que caracterizam uma cidade, ainda que a maioria de sua população, oriunda de assentamentos do MST, esteja fixada na zona rural, foram ressaltados, analisando-se a histó-ria desde a fundação da cidade, passando pelas questões dos assentamentos e novas funções do local, chegando até sua conformação atual. Este processo é de grande valia para que se possa com-preender como os espaços não são formados por elementos pré-determinados, nem podem ser vistos apenas por um único aspecto, mas sim, como um conjunto de fatores que envolvem, neste caso, tanto a agricultura quanto a questão territorial, a produção material e imaterial, e a conformação natural do terri-tório. Importante para esta discussão também é pau-tar o que pode determinar o grau de urbanização de um local, ou o que faz uma determinada comunidade ser considerada urbana.

Palavras-chave: Euclides da Cunha Paulista,

histó-ria da cidade, relações urbano-rural.

Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas

– Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo – CNPq.

1. INTRODUÇÃO

A urbanização pode ser considerada como uma di-nâmica responsável por transformar os espaços, de acordo com inúmeros fatores. De acordo com Mat-tos & Medeiros [1], essas dinâmicas ocorrem em todo o mundo fundamentando-se nas transforma-ções socioeconômicas. A dicotomia sociedade rural, se dedicando em termos ocupacionais às atividades agrícolas e, sociedade urbana, vinculada a ocupa-ções mais complexas e variadas há por bem ser repensada, justificando-se isso por um continuum rural-urbano, a fim de evidenciar as mudanças típi-cas dessas realidades, com o estudo das dimensões ocupacionais, densidade populacional, mobilidade, tamanho das comunidades, entre outros fatores [2].

Segundo estes mesmos autores, observa-se que: (...) a Geografia tem se utilizado de expressões como espaço urbano e espaço rural para delimitar a cidade e o campo, respectivamente. Assim, comparecem afirmações de que o espaço urbano é mais adensa-do adensa-do que o espaço rural, tanto no que diz respeito às pessoas quanto aos equipamentos e infraestrutu-ras técnicas instaladas [2].

Na sociedade atual, os modos de vida e os aspectos socioculturais separam reduzidamente o rural do urbano, sendo que no urbano predomina a concen-tração, a aglomeração de pessoas, dinheiro, serviços e infraestrutura e no rural a dispersão. Ocorreram muitas mudanças no rural, levando o processo de urbanização a prosseguir a passos mais largos e rápidos. Fica cada vez mais difícil encontrar modos de vida específicos atinentes tanto ao rural quanto ao urbano:

Os modos de vida e comportamentos socioculturais separam cada vez menos os rurais dos urbanos, e as clivagens que conheceu nossa sociedade no pas-sado hoje não passam mais pela oposição entre cidade e campo. Todo o discurso sobre o modo de vida específico, sobre o isolamento rural mudou, pois mudou a mobilidade e a acessibilidade, com maior oferta de serviços, informação e infraestrutura [3]. Pontua-se também uma modernização das áreas rurais, para Wanderley [4], as transformações ocorri-das nas condições de vida dos residentes ocorri-das áreas rurais, reduz, consideravelmente, as disparidades dos principais indicadores sociais e econômicos en-tre o rural e o urbano. O rural passa a estar mais próximo do urbano, havendo um continuum, o que não significa, necessariamente, que as característi-cas distintivas do rural desapareceram, mas que há dois polos (extremos) de organização socioespacial, que parte de um polo urbano, com suas próprias características para outro polo rural, também com as suas próprias características.

Fala-se até mesmo em um desparecimento da terri-torialidade rural, devido ao avanço da mundialização

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e das telecomunicações, conforme Silva e Hespa-nhol [2]:

Na realidade, essas são apenas algumas das trans-formações que esses espaços estão passando nos últimos anos e que se somam aos aspectos concer-nentes a sua modernização, integração e tecnifica-ção. Isso significa constatar, por outro lado, que tais espaços não são somente palcos da reprodução agrícola em sentido formal, mas que apresentam novos conteúdos que poderão estar associados de certa maneira às urbanidades que representam, grosso modo, a qualidade/característica do conteúdo urbano e que se referem a modos de vida específi-cos produzidos pelos sujeitos na cidade (expressa como forma espacial).

Tais ponderações compõem aspectos deste traba-lho, por buscar as delimitações ou a inconsistência das mesmas no que tange ao grau de urbanização da localidade a que se dedicou esta análise.

2. HISTÓRICO DA LOCALIDADE

No início da década de 60, com a chegada da Com-panhia Camargo Correia, responsável pela constru-ção do "Ramal de Dourados", da "Estrada de Ferro Sorocabana", foi montado um acampamento, locali-zado a 4 mil metros do local da atual cidade, que passou a ser denominada "Cacipore", que na língua Tupi Aruaco e Ianomâmi, significa chefe supremo, chefe da alma, espirito externo do corpo, alma espi-rito do defunto, parte externa do homem que não morre. Em 15 de setembro de 1965, com a inaugura-ção do "Ramal Dourados", oficializou-se a fundainaugura-ção do povoado que passou a chamar-se "Porto Euclides da Cunha", em homenagem ao escritor carioca, pes-soa conhecida e admirada por um dos fundadores, José Joaquim Mano.

O Distrito de Euclides da Cunha Paulista foi criado em 23 de dezembro de 1991, com sede no povoado do mesmo nome e território desmembrado do muni-cípio de Teodoro Sampaio.

Foi elevado a município em 09 de janeiro de 1990. Distrito criado com a denominação de Porto Euclides da Cunha, ex-povoado, pela Lei nº 3198, de 23-12-1981, subordinado ao município de Teodoro Sam-paio. Em divisão territorial datada de 18/08/1988, o distrito de Euclides da Cunha pertence ao município de Teodoro Sampaio.

Elevado à categoria de município com a denomina-ção de Euclides da Cunha Paulista pela Lei Estadual

nº 6645, de 09/01/1990, desmembrado de Teodoro Sampaio.

Em divisão territorial datada de 01/06/1955, o muni-cípio é constituído do distrito sede. Assim permane-cendo em divisão territorial datada de 14/05/2001 [5].

2.1. Fundação

Euclides da Cunha Paulista, localizado a sudoeste do Estado de São Paulo, as margens do rio Parana-panema, na região conhecida como "Pontal do Para-napanema", é ocupado por terras que faziam parte da fazenda "São José", do senhor José Joaquim Mano; e "Santa Cecília", do senhor Mário Eduardo Ferreira.

José Joaquim Mano loteou parte de suas terras para o desenvolvimento do povoado, doando lotes para construção de igrejas, creches, escolas, etc. Da mesma forma, Mário Eduardo Ferreira também lote-ou parte de suas terras, doando terrenos para a construção de um Centro Comunitário e uma capela.

Figura 1- Planta da Fazenda (Grilo) Pirapó-Santo Anastácio.

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Figura 2 - Localização territorial de Euclides da Cunha Paulista.

Pelos avanços proporcionados a povoação e os ser-viços prestados, destacam-se os pioneiros Geraldo Dias, Manoel Ferreira dos Santos (Nenê Baiano), Urbano Judice, José Petronilio da Silva (Zé Preto), José Milton Dias Monteiro, Francisco de Oliveira (Chico Preto), Wilson Mário Roseiro Coutinho e Ge-raldo Mendes Ribeiro, que chegando com suas famí-lias construíram suas residências, abriram negócios e lutaram para que Euclides da Cunha Paulista se desenvolvesse.

O município foi criado pela Lei 6.645 de 9 de janeiro de 1990, publicada no Diário Oficial de 10 de janeiro de 1990, na página 01, sancionada pelo Governador do Estado, Orestes Quércia, desmembrando-se do município de Teodoro Sampaio.

A instalação do município deu-se em 1º de janeiro de 1993, com a instalação da Câmara Municipal, após eleições de 3 de outubro de 1992.

2.2. A Relação Campo/Cidade e a População

Fazendo parte do município de Teodoro Sampaio, que até os anos 80 era constituído de uma popula-ção rural significante, a região viu seu contingente humano aumentar na zona urbana por ocorrência da industrialização, tendo como um dos exemplos a inauguração das Usinas Hidroelétricas, que trouxe mais possibilidades de trabalho para a população que até então dependiam da terra para sua sobrevi-vência.

Quando de sua emancipação em 1993, Euclides da Cunha Paulista continha um número expressivo de moradores rurais, mas ainda assim sua população urbana era mais representativa, desenvolvendo suas atividades e serviços essenciais no meio urbano e desenhando seu traçado a partir desse crescimento.

Figura 3 – Mapa de configuração territorial.

Figura 4 - Vista aérea do município.

Figura 5 - Limites de Euclides da Cunha Paulista e seu perímetro urbano.

Com o passar dos anos, pode-se notar um expressi-vo aumento na população rural da cidade, mas sem que haja uma grande perda nos números urbanos. Ao mesmo tempo, percebe-se que a política de as-sentamentos urbanos começa a ser desenvolvida na região, levando a cidade a receber um número signi-ficativo de assentamentos ao longo dos anos.

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Apro-veitando as suas terras improdutivas e a tendência a agropecuária familiar, muitas famílias e grupos de resistência a terra observam nessa região a oportu-nidade de mudarem sua realidade, já que o modo como a ocupação se deu nesta região ao longo da história favorece o acumulo de propriedades a pou-cos latifundiários, que muitas vezes não a utilizavam e menos ainda a preservavam. Este período, marca-do por várias batalhas pela posse e utilização da terra, também marca as mudanças de configuração nas cidades da região que, viu sua população es-sencialmente urbana passar a ser quase que dividida ao meio entre as duas categorias, visto que o núme-ro de pessoas nas duas localidades quase que se igualam.

Tabela 1. Evolução Rural de Euclides da Cunha Paulis-ta. Ano População 1993 3328 1994 3395 1995 3462 1996 3528 1997 3591 1998 3655 1999 3719 2000 3780 2001 3719 2002 3660 2003 3601 2004 3543 2005 4075 2010 6111

O fato da população ainda ser maior na área urbana não inibe as novas práticas e caminhos que a cidade começa a traçar. À volta a valorização da terra, as práticas agropecuárias, e os novos cuidados e plane-jamentos para a área rural, trouxeram novas dinâmi-cas para o município, que se viu imerso a retomada de novas culturas e a introdução de várias outras. O intercâmbio entre as duas localidades, que estão muito próximas fisicamente, faz com que muitas vezes, seja impreciso indicar se ali se encontra uma população urbana ou rural, já que a terra neste caso não consegue por si só determinar uma classificação apenas pelo seu uso. Vemos na zona urbana muitos costumes ditos rurais, enquanto que na zona rural, com o acesso fácil a meios de comunicações, outras localidades e informações, vemos hábitos e elemen-tos considerados índices para urbanização.

Se considerarmos os números populacionais como índice de urbanização, neste caso, não seria

possí-vel determinar a sua caracterização regional, visto que como citado, a cidade distribui quase que igual-mente a sua população. Se visto pela ótica da área territorial, seria impossível classificar o município como cidade, já que seus limites urbanos são signifi-cativamente menores que os rurais.

Figura 6 - Mapa de Euclides da Cunha Paulista e seus assentamentos.

A ausência ou presença de serviços específicos como hospitais, escolas ou infraestruturas básicas, também não podem aqui ser a única característica a ser observada para se classificar o local, já que mesmo na zona urbana estes não são consideravel-mente desenvolvidos e que, no caso da Gleba XV, por exemplo, esses serviços se encontram em algum nível de desenvolvimento, possibilitando que, mesmo estando na zona rural, o indivíduo tenha autonomia para desenvolver suas atividades, sem que haja necessidade de se deslocar até o perímetro urbano na maioria das vezes.

3. CONCLUSÃO

O presente artigo teve o intuito de compreender a configuração territorial da cidade de Euclides da Cunha Paulista, desde a sua fundação até os dias atuais.

Para isso, foi realizada uma análise de todos os fatos marcantes da sua história para que se pudesse compreender como a sua malha urbana chegou a esse desenho. Consegue-se perceber que não ape-nas um fator influenciou para que se encontre a ci-dade como está, mas sim uma gama de elementos que juntos desenharam e caracterizaram a cidade, como as questões econômicas, as relações sociais e

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ambientais, as políticas e os modos de vida empre-gados.

Tendo os autores bibliográficos como referência para a construção do pensamento acerca da questão campo rural, é possível identificar a cidade de estudo como um exemplo das novas formas territoriais que são hoje parte de muitas pesquisas dessa área. É preciso compreender que não se pode mais ape-nas classificar o local como urbano ou rural apeape-nas pelo seu território, ou quantidade de pessoas e infra-estrutura, mas é preciso analisar todas as relações encontradas no meio, principalmente entre o indiví-duo e o local onde ele se encontra. É preciso se determinar, antes de tudo, o que seria o urbano e o rural atualmente, com todas as suas ramificações e possibilidades, para depois se analisar o local e suas relações com o todo.

REFERÊNCIAS

[1] HESPANHOL, R. A. de M; SILVA, P. F. da. Re-lações cidade-campo e urbanorural: contribuição para a análise geográfica do projeto cinturão verde de ilha solteira, São Paulo e para o pro-grama vilas rurais em Lerroville, Paraná, Brasil Departamento de Geografia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, n. 11, v.2, julho a dezem-bro de 2011, p.33-48.

[2] MATOS, E. A. C. de; MEDEIROS, R. M. V. A

relação campo-cidade e as “novas” ruralidades.

ParaOnde!?, Volume 5, Número 1: p. 1-15, ago/dez. 2011.

[3] TEIXEIRA, M. A. Transformações no espaço rural e a Geografia Rural: ideias para discussão. Revista de Geografia, n. 14, v.1, p. 9-33, 1997. [4] WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. O

mundo rural como um espaço de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura e rurali-dade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. [5] SDDI - IBGE; Página do município na internet.

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