• Nenhum resultado encontrado

O Jornalismo e seus desafios fora da sala de aula

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Jornalismo e seus desafios fora da sala de aula"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

IX CICLO NACIONAL DE PESQUISA EM ENSINO DE JORNALISMO MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica

GRUPO DE PESQUISA: ENSINO DE ÉTICA E DE TEORIAS DO JORNALISMO.

O Jornalismo e seus desafios fora da sala de aula

Luisa PROCHNIK1

luisap.rj@gmail.com

O artigo trata da importância do aprendizado das teorias de jornalismo para a formação de profissionais da área, menos de um ano após ter sido decretado o fim da exigência do diploma para o exercício da profissão. Este trabalho propõe uma discussão teórica sobre a necessidade da formação acadêmica para jornalistas, relacionado-a às mudanças tecnológicas ocorridas no processo comunicacional. A discussão se desenvolve na tentativa de questionar a formação teórica dos jornalistas na contemporaneidade e, também, sua participação no processo comunicacional num mundo com amplos canais de distribuição de informação, convergente e interativo.

Palavras-chave

Teorias de jornalismo; Midiatização; Diploma

(2)

Em junho de 2009, o Supremo Tribunal Federal, presidido pelo ministro Gilmar Mendes, decretou o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Os defensores da proposta alegaram que a exigência restringiria a liberdade de expressão ao impedir que os não graduados em jornalismo atuassem como divulgadores de informação. Outra razão apresentada na sessão decisiva foi o fato de ser impossível controlar todos que resolvessem publicar notícias pela internet.

Considerando este recente cenário, o artigo propõe uma reflexão relacionada à importância dos estudos das teorias de jornalismo para a formação de profissionais da área na contemporaneidade. Entende-se neste artigo por jornalismo contemporâneo a produção de notícias em um cenário repleto de novas tecnologias difusoras de informação, onde há um aumento considerável na interatividade produtor-receptor - com este podendo produzir e divulgar seu próprio conteúdo - e também na convergência midiática. Esses dois fatores interferem diretamente na prática jornalística e, portanto, acredita-se ser necessário refletir sobre a importância da vida acadêmica para a formação deste profissional.

O professor Antonio Fausto Neto defende em seu artigo “Novas exigências de formação” as mudanças tecnológicas como um marco para reforçar o investimento na formação universitária do jornalista.

a midiatização impõe mutações no trabalho jornalístico e no reconhecimento de seus atores, colocando novas exigências de processos formativos segundo grades curriculares que abriguem referências (disciplinas e matérias) que reflitam as complexidades que envolvem a relação do jornalismo com a sociedade midiatizada contemporânea (NETO, 2009;150)

O professor de jornalismo e de comunicação de massa da Universidade da Carolina do Norte, Philip Meyer, em seu artigo “Por que o jornalismo precisa de doutores?”, diferencia artesãos, que seriam os jornalistas atuantes há mais tempo no mercado e, portanto, mais desatualizados tecnologicamente, dos profissionais de hoje. Meyer credita a condição de se formar um profissional capacitado a se adaptar às mudanças tecnológicas a um conhecimento teórico, e não no aprendizado a partir da imitação, típico de ensinamento de ofício.

(3)

Uma profissão é aprendida a partir de princípios fundamentais, de modo que quando as situações mudam, o profissional entende as mudanças e ajusta as técnicas para se adequar (Meyer, 2009; 222).

As mudanças tecnológicas são facilmente perceptíveis na área da comunicação. O surgimento de novos canais para emissão de mensagem amplia as possibilidades de envio de conteúdo pelos jornalistas. Esses meios de comunicação, apesar de divergirem fisicamente em computadores de mesa e de bolso, celulares, entre outros exemplos, veiculam conteúdos similares, o que caracteriza o processo de convergência midiática. De acordo com Henry Jenkins, autor do livro Cultura da Convergência, “o que estamos vendo hoje é o hardware divergindo, enquanto o conteúdo converge”. (JENKINS, 2008; 41). Dominar esses novos canais passou a ser um dos desafios dos profissionais.

Outra consequência do desenvolvimento de novas tecnologias é o aumento da participação do público no processo comunicacional. Ele ganha ferramentas tecnológicas para maior interatividade com o jornalista e passa a ter meios para produzir informação e também divulgá-la através de redes sociais e páginas pessoais, por exemplo. A publicação de vídeos caseiros, ou amadores, na internet é uma das várias formas de divulgação de conteúdo direto ao público, sem mediação de uma grande empresa.

E é, portanto, neste cenário de ambiente midiático convergente onde a troca de papéis mostra-se viável que se acredita haver a necessidade de repensar o ensino de jornalismo profundamente. Buscando entender o papel do conhecimento teórico na formação do profissional, não o relegando apenas ao aprendizado técnico proporcionado pelas empresas quando entra como ‘aprendiz’ nas redações.

Em seu livro Teorias do Jornalismo I, Nelson Traquina abre o sexto capítulo chamado As teorias do jornalismo com três perguntas que, de acordo com o autor, guiam diversos trabalhos na área: “Qual o papel dos jornalistas na produção de notícias? Por que as notícias são como são? Afinal, qual o papel do jornalismo na sociedade (...)?” (TRAQUINA, 2005;145). Será a partir destes questionamentos que o trabalho vai fazer uma breve cronologia explicativa das

(4)

teorias de jornalismo que servirá de base para discutir o papel da formação universitária para os jovens profissionais.

Teorias do jornalismo - cronologia

A teoria do espelho foi a primeira que surgiu na tentativa de responder às perguntas presentes no livro de Traquina e data de meados do século XIX. Foi um período marcado pelo desejo de retratar mais fielmente a realidade e essa teoria veio para reforçar o papel da imprensa como divulgadora apenas de fatos que realmente aconteceram, sem uma carga opinativa. O espelho permite que a pessoa se enxergue como ela é (sem entrar aqui no mérito da inversão de lados), assim como o jornalismo deve revelar a história exatamente como ela aconteceu. “As notícias são como são porque a realidade assim as determina” (TRAQUINA, 2005;146).

Nessa época, os meios de comunicação cresciam como as indústrias. O jornalismo virava uma atividade comercial enquanto os jornalistas se profissionalizavam. O conteúdo nos jornais não mais tinha que servir a uma ideologia, como panfletos políticos, e sim, deveriam retratar fatos.

Um novo paradigma das notícias como informação iria substituir, com ritmo e intensidade diversa nos diversos espaços nacionais, o velho paradigma que concebe os meios de comunicação social como arma política e os jornalistas como militantes partidários (TRAQUINA, 2005;147).

O novo jornalismo, ou jornalismo de informação, surge, de acordo com Nelson Traquina, com a ideia de separar os fatos das opiniões. Os jornalistas tinham um papel a seguir.

um comunicador desinteressado, isto é, um agente que não tem interesses específicos a defender e que o desviam da sua missão de informar, procurar a verdade, contar o que aconteceu doa a quem doer (TRAQUINA, 2005;147).

No início do século XX, outro movimento histórico, de acordo com Traquina, teria sido responsável por reforçar a crença na teoria do espelho.

(5)

Surgiu o conceito de objetividade. Ele aparece num momento onde a profissão de relações públicas e a propaganda durante a primeira grande guerra foram as responsáveis por criar fatos, colocando em dúvida a isenção da imprensa. Portanto, decidiu-se criar métodos objetivos para que o jornalista não se afastasse da função de “comunicador desinteressado”.

No entanto, o conceito de objetividade provoca confusão até hoje, pelo simples fato de que não se esperava um jornalista objetivo, ou seja, uma supressão da subjetividade. Buscava-se um método objetivo para chegar até o que de fato aconteceu. Walter Lippmann em seu livro “Opinião Pública” defende a busca do método científico como “antídoto da subjetividade” (TRAQUINA, 2005;149).

Seguindo a linha cronológica traçada por Traquina, no século XX outras teorias tentaram responder a pergunta: “por que as notícias são como são?” (TRAQUINA, 2005;145). David Manning White aplicou a teoria do gatekeeper no jornalismo, colocando o jornalista como o porteiro responsável por publicar ou não uma notícia, isto é, ele escolhe o que é ou não relevante para ser publicado e, consequentemente, lido pelo público.

A conclusão de White é que o processo de seleção é subjetivo e arbitrário; as decisões do jornalista eram altamente subjetivas e dependentes de juízos de valor baseados no “conjunto de experiências e atitudes e expectativas do gatekeeper” (TRAQUINA, 2005;150). A teoria do gatekeeper, no entanto, foi considerada por muitos como insuficiente, por se concentrar apenas no indivíduo. Ela não leva em consideração a estrutura da organização para qual o jornalista trabalha e muito menos o contexto social que o envolve. A proposta de Warren Breed, que surgiu poucos anos depois, era bem diferente. Chamada de a teoria organizacional ela envolve aspectos gerais das empresas de comunicação reconhecendo a sua influência no trabalho do jornalista, tirando dele, portanto, o poder de definir o que é ou não notícia, pelo menos exclusivamente.

Breed sublinha a importância dos constrangimentos organizacionais sobre a atividade profissional do jornalista e considera que o jornalista se conforma mais com as normas editoriais da política editorial da organização do

(6)

que com quaisquer crenças pessoais que ele ou ela tivesse trazido consigo (TRAQUINA, 2005;152).

Os constrangimentos, no entanto, não seriam tão explícitos assim como a linha editorial do veículo. Tudo faz parte de um jogo de recompensa-punição e, dessa forma, o jornalista acabaria aprendendo por osmose o que deve ou não ser feito, o que pode ou não ser publicado.

A fonte de recompensa do jornalista não se localiza entre os leitores, que são manifestamente os seus clientes, mas entre seus colegas e superiores. Em vez de aderir a ideais sociais e profissionais, o jornalista redefine os seus valores até ao nível mais pragmático do grupo redatorial (TRAQUINA, 2005;157).

A cultura profissional nessa teoria, portanto, seria menos importante que a estrutura organizacional presente nas empresas de mídia.

Nos anos seguintes, o aparecimento de autores marxistas como Antonio Gramsci, e também os estudos de semiótica, que trouxeram a complexidade da linguagem para o centro da discussão, seriam, de acordo com Traquina, fatores influenciadores do surgimento de novas linhas de pensamento. As teorias de ação política apareceram estimuladas não mais pela pergunta “por que as notícias são como são?” e nem da ideia de pensar exclusivamente no jornalista ou na estrutura organizacional, mas sim em qual o papel do jornalismo na sociedade, como ele influencia ações políticas e como a imprensa exerce seu papel de o quarto poder.

As teorias da ação política avaliam o quanto de parcialidade e de objetividade há nas notícias a serem analisadas. Elas partem “do princípio de que as notícias devem refletir a realidade sem distorção” (TRAQUINA, 2005;162).É um retorno à teoria do espelho, sem ser dito explicitamente, acreditando que a mídia pode, de fato, reproduzir integralmente a realidade.

Essas teorias englobam duas diferentes linhas de pensamento: teoria do

gatekeeper e a teoria organizacional, que têm em comum o fato de o jornalista

ou da mídia, no segundo caso, ser parcial por se posicionar politicamente, não se atendo apenas a fatos. Uma dos lados posiciona os jornalistas como “uma nova classe com claras parcialidades políticas que “distorcem” as notícias para a propagação das suas opiniões anti-capitalistas” (TRAQUINA, 2005;163). Nessa

(7)

linha de pensamento o jornalista volta a ter um papel mais ativo, como previa a teoria do gatekeeper, e passa a ser o responsável por controlar o produto jornalístico.

A outra linha de pensamento atua num sentido político oposto. “Para Chomsky e Herman, as notícias são ‘propaganda’ que sustenta o sistema capitalista” (TRAQUINA, 2005;163). Seguindo a lógica marxista tradicional da dominação econômica sobre outros setores, o papel do jornalista nessa teoria é reduzido, importando apenas a influência que o regime capitalista exerce na empresa de comunicação e o resultado disso na produção de notícias.

Nos anos 70 há uma virada teórica descrita por Traquina que seria definida pelo surgimento de um novo paradigma: as notícias passam a ser encaradas como construção da realidade e não mais como distorção ou mesmo como descrição isenta da mesma. Essa teoria chamada de newsmaking.

Na introdução foram citadas três perguntas que, de acordo com Nelson Traquina, permearam os estudos acadêmicos do jornalismo desde meados do século XIX. De fato, a teoria do newsmaking não só as responde como vai além ao pensar na interação entre o jornalismo e a realidade em que se vive.

A notícia como construção da realidade, premissa básica do newsmaking, situa o jornalista não mais como definidor do que é ou não notícia ou como um comunicador desinteressado, sem envolvimento pessoal no que escreve. O jornalista é descrito como um profissional influenciado pela sociedade em que vive e que a influencia também ao participar da produção de notícias.

o método construtivista apenas enfatiza o caráter convencional das notícias, admitindo que elas informam e têm referência na realidade. Entretanto, também ajudam a construir essa mesma realidade e possuem uma lógica interna de constituição que influencia todo o processo de construção (PENA, 2009;129)

Mauro Wolf e Nelson Traquina são citados pelo professor e jornalista Felipe Pena em seu livro Teoria do Jornalismo no capítulo sobre o

newsmaking. Pena enumera os critérios que levam o jornalista a produzir e

publicar determinadas notícias e, dessa forma, ser participativo na construção da realidade: rotina da produção e constrangimentos organizacionais, noticiabilidade, valores-notícia e construção da audiência.

(8)

As práticas da redação de um veículo de comunicação são muito importantes na definição do que é ou não notícia, de acordo com a socióloga Gaye Tuchman, também citada por Felipe Pena. Muito mais do que a vontade pessoal ou a intenção manipuladora do jornalista e da empresa onde ele trabalha, a lógica produtiva é comandada principalmente pelo tempo normalmente escasso para a produção da notícia e pelo espaço possível no veículo de informação que definem o que deve ser ou não publicado e qual o formato a ser adotado.

A teoria do newsmaking não nega a existência de pressões externas, de constrangimentos da chefia e da cultura do jornalista envolvidos no processo. Apenas é ter noção de que o cotidiano do jornalista é pautado por uma “distorção inconsciente, vinculada à rotina de produção e aos valores compartilhados com os colegas e interiorizados pela cultura profissional” (PENA, 2008;130).

A noticiabilidade é outro critério determinante para a definição de qual fato do dia é ou não notícia. Ele é aplicado utlizando-se dos valores-notícias.

Eles representam a resposta à seguinte pergunta: quais acontecimentos são considerados suficientemente interessantes, significativos, relevantes, para serem transformados em notícias? (WOLF, 2005;202)

Escolher o que será ou não notícia é um processo de seleção. E a enorme quantidade de fatos (matéria-prima) e o pouco tempo para a produção das notícias exigem que esses critérios sejam padronizados dentro do possível e de fácil aplicação, além de economizarem tempo, esforço e dinheiro.

Teoria e prática: pontos de discussão

Cada teoria é resultado de um conjunto de fatores presentes no contexto econômico, social e político da época. Pode-se observar que cada uma delas responde às três perguntas propostas por Traquina - “Qual o papel dos jornalistas na produção de notícias? Por que as notícias são como são? Afinal, qual o papel do jornalismo na sociedade (...)?” (TRAQUINA, 2005;145). – de maneira diversa.

(9)

Fernanda Lima Lopes em seu artigo “A institucionalização do mercado noticioso e seus significados para a construção da identidade do jornalista no Brasil” relata alterações no contexto social e as consequentes transformações no papel do jornalista. De acordo com Lopes, a mudança do jornalismo panfletário para o industrial no século passado, por exemplo, reforçou o surgimento da identidade do jornalista como um profissional pretensamente objetivo e isento. Assim como o cenário contemporâneo, repleto de novas tecnologias digitais, sugere também impacto na atuação dentro da área (LOPES, 2009). O termo ‘sugere’ é cautelosamente escolhido por este artigo, pois não se pretende determinar uma quebra de paradigma na atuação do jornalista, apenas entender e questionar seu papel no cenário contemporâneo.

A tecnologia torna os meios de comunicação mais acessíveis e atraentes e também mais próximos do público. A detenção dos meios de produção, antes privilégio apenas do jornalista, não se restringe mais aos profissionais. A ‘sociedade midiatizada’, descrita por Neto, expõe as mudanças no campo jornalístico em consequências do desenvolvimento tecnológico midiático.

Particularmente, em suas rotinas, seus valores-notícias, no

status dos seus atores, na incorporação dos leitores como

novos agentes junto aos processos de produção da noticiabilidade, na relação com as fontes as quais, por conta da emergência de tecnologias, passam a usufruir de condições tecnológicas para “fiscalizar” o trabalho produtivo do jornalista (NETO, 2009;151)

A possibilidade de produção e divulgação pelo público deve ser reconhecida e estudada, mas, no entanto, também deve ser contextualizada e relativizada. Tornar viável que “todos” (entre aspas já que a palavra se refere ao grupo que pode pagar o alto preço da tecnologia) tenham acesso à publicação de informação sem mediação de uma empresa de comunicação não significa que esta tenha perdido seu papel de definidora da situação. O poder de produção/divulgação em massa, além de critérios conquistados com o tempo no mercado, como credibilidade, são fatores importantes para a manutenção do sistema vigente do processo comunicacional. Lopes identifica a importância e a força das empresas de comunicação na formação da identidade do jornalista:

(10)

(...) ainda que se possa considerar que a internet efetiva em algum grau de democratização da informação e que isso representa pontos de tensão e motivos de reorganizações para o jornalismo na contemporaneidade, não se pode esquecer o peso fulcral das corporações de mídia para a definição de elementos significativos para a construção da identidade do jornalista (mas não apenas) no âmbito de suas práticas (Lopes, 2009;62).

O complexo cenário apresentado, portanto, sinaliza a busca das grandes empresas de comunicação pela manutenção de sua hegemonia ao mesmo tempo em que o público quer participar ativamente e também produzir e divulgar conteúdo de seu interesse.

O “escancaramento” de suas fronteiras para o ingresso nelas de novos atores, como fontes e leitores, enquanto novos cogestores no processo de produção da noticiabilidade, provoca repercussões sobre o sistema jornalístico. (NETO, 2009; 153)

E é neste contexto da contemporaneidade, ainda indefinido e em movimento, que o jornalista precisa se antecipar às mudanças, reforçando seu papel junto às empresas e também ao público. Uma análise superficial levaria a concluir que o domínio das novas tecnologias é o ponto-chave para o profissional legitimar sua posição enquanto produtor de notícia. O esvaziamento teórico e a predominância do aspecto técnico parece ser a linha seguida pelo Supremo Tribunal Federal ao proibir a exigência do diploma para o exercício da profissão.

Antonio Fausto Neto considera necessário associar a decisão do STF ao atual ambiente midiatizado que interfere na área de atuação dos jornalistas. Em seu artigo, o autor retoma dois argumentos favoráveis à extinção do diploma proferidos na audiência decisiva do tribunal. Em primeiro lugar, o afastamento jornalista/universidade e, em segundo, a recomendação de que as empresas treinem seus profissionais como uma alternativa ao ensino universitário.

O ato do STF deixou à margem da sua decisão sérias questões epistemológicas suscitadas pelas transformações porque passam o exercício do processo de noticiabilidade” (NETO, 2009; 154).

(11)

O processo de noticiabilidade é marcado, segundo o autor, pela capacidade de o jornalista avaliar um acontecimento, selecioná-lo e transformá-lo em notícia. E a capacidade de discernir entre qual acontecimento é de fato digno de publicação, de se adaptar às situações e de construir o discurso noticioso não está delimitada por barreiras do conhecimento técnico das máquinas. Trabalhar e manipular as novas tecnologias não atribuem, necessariamente, ao profissional habilidade para saber qual conteúdo deve ser divulgado através delas, o que “significa que tal problemática ultrapassa a esfera de soluções puramente instrumentais” (NETO, 2009;7).

Estamos diante de uma nova complexidade que afeta, particularmente, noções mais clássicas sobre a tarefa do jornalismo e o lugar do jornalista como selecionador de fato e mediador de contatos, assim como os fundamentos do trabalho metodológico de apuração e construção da notícia (NETO, 2009; 152)

Philip Meyer, em seu artigo “Por que o jornalismo precisa de doutores?”, também destaca as inovações tecnológicas como um marco importante para repensar o papel dos jornalistas. E, assim como o professor Antonio Fausto Neto, Meyer reforça a importância da universidade na formação dos profissionais da área. O desenvolvimento tecnológico não é visto como algo separado da teoria, fazendo com que apenas o conhecimento técnico prevaleça sobre o teórico. Mas, sim, como mais um incentivo para ampliar as pesquisas na área e reforçar o papel do jornalista.

Atualmente, temos uma necessidade desesperada pela teoria, por novas maneiras de compreender o desenvolvimento midiáticos as escolhas que somos forçados a fazer. Universidades com programas de pós-graduação são a nossa melhor esperança para desenvolver conhecimento (MEYER, 2009;222).

Considerações finais: e agora?

A discussão desenvolvida neste artigo traz uma visão favorável ao fortalecimento do estudo teórico na área do jornalismo. As novas tecnologias digitais presentes no sistema comunicacional reforçam a necessidade de se

(12)

estudar e pesquisar a produção de notícias com a utilização das novas ferramentas. A manipulação de máquinas não confere ao profissional discernimento suficiente para ser o mediador entre o acontecimento e a notícia publicada.

Entretanto, é importante ressaltar que também se defende o aprendizado das tecnologias disponíveis para o exercício da profissão. O artigo não propõe o foco apenas no ensino de teoria, deixando o conhecimento técnico em segundo plano. O desenvolvimento tecnológico de novos canais convergentes de comunicação interfere diretamente na área de atuação do jornalista e considera-se uma vantagem profissional para aqueles que também dominam esconsidera-se conhecimento. A defesa é que teoria e prática caminhem juntas e sejam pilares essenciais para a formação do jornalista na contemporaneidade.

Reforça-se, também, que a decisão do STF não deve ser simplesmente combatida sem antes uma reflexão mais profunda a respeito da formatação dos cursos universitários na área do jornalismo. Em vez de apenas defender a volta da exigência do diploma, acredita-se que seja interessante sugerir mudanças na grade curricular e na estrutura do ensino de jornalismo no país - temas interessantes para futuras discussões, mas que não serão aprofundados neste artigo. Espera-se, portanto, que episódio possa servir para o aprimoramento da discussão a propósito do ensino de jornalismo no país para, desta forma, fortalecer a pesquisa e, consequentemente, a produção de conhecimento no campo jornalístico.

O estudo das teorias de jornalismo apresentadas aqui em uma breve cronologia é um fator relevante para a formação de jovens profissionais, no momento em que ajuda a compreender qual o papel do jornalista na sociedade, o que esta espera deste profissional e como produzir notícias com ética e responsabilidade. As teorias servem como base importante para se discutir questões na área e produzir conhecimento para o fortalecimento da profissão. Deixar que as empresas, possuidoras de interesses comerciais, sirvam como alternativa para treinar os jornalistas é limitar a visão de mundo destes profissionais, tornando seu trabalho mecânico e, ao mesmo tempo, condicionando-os a um objetivo meramente mercadológico.

(13)

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Editora Aleph, 2008.

LOPES, Fernanda Lima. A institucionalização do mercado noticioso e seus

significados para a construção da identidade do jornalista no Brasil. Estudos

de Jornalismo e Mídia – Ano VI – n. 2 pp. 61 – 74 jul./ dez 2009.

MEYER, Philip. Por que o jornalismo precisa de doutores? Estudos de Jornalismo e Mídia – Ano VI – n. 2 pp. 219 – 222 - jul./ dez 2009.

NETO, Antonio Fausto. Novas exigências de formação. Estudos de Jornalismo e Mídia – Ano VI – n. 2 pp 149 – 159 - jul./ dez 2009.

PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo I: Por que as notícias são o como são? Florianópolis: Insular, 2005.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Referências

Documentos relacionados

Inspecção Visual Há inspeccionar não só os aspectos construtivos do colector como observar e controlar a comutação (em

A gestão do processo de projeto, por sua vez, exige: controlar e adequar os prazos planejados para desenvolvimento das diversas etapas e especialidades de projeto – gestão de

No Brasil, a falta de uma fiscalização mais rigorosa é uma das razões que possibilitam que certas empresas utilizem os estágios como forma de dispor de uma mão-de-obra qualificada,

Para Chizzotti (1991), esse instrumento possibilita ao estudioso obter as informações desejadas sobre o seu tema de pesquisa. Nesse sentido, como a proposta deste

Inicialmente, até que as ações estejam bem delineadas, a proposta é de que seja realizada apenas uma reunião geral (Ensino Fundamental e Educação Infantil)

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e

pessoas que consideram que as plantas não são completamente inócuas, 20 são da opinião de que estas ‘fazem menos mal que os MC’, o que também não é