Espaçamento Reduzido no Cultivo do Sorgo Sequeiro e Irrigado
Gilson R. Rocha; Carlos J.B.Albuquerque; Renata S. Brant; Renato M. de Oliveira; Renata, R.J.Souza; David A. Moreira
EPAMIG. Cx. Postal 2248, 38402-019, Uberlândia, MG. e-mail: gilsonrr@hotmail.com ; carlosjuliano@epamig.br; renataplantasmedicinais@yahoo.com.br;
renatoagronomo@hotmail.com; renatajardimagro@hotmail.com; davidtecmoreira@bol.com.br
Palavras chaves: arranjo de plantas, densidade, produtividade, grãos.
A região Norte de Minas Gerais apresenta diversidades físicas bem marcantes, entretanto, a restrição hídrica mais ou menos acentuada, é uma característica homogênea que a torna conhecida como de maior grau de aridez do estado de Minas Gerais. Essa condição proporcionou um grande aumento da área cultivada com o sorgo para alimentação de bovinos, haja vista que a pecuária exerce grande influência na economia desta região que possui um efetivo de aproximadamente 3 milhões de cabeças segundo o (IBGE, 2009), dependentes do milho de outras regiões, principalmente do noroeste de Minas Gerais e Sul de Goiás.
As condições climáticas e outros fatores naturais constituem situações que limitam ou permitem expressar, em maior ou menor grau, a produtividade potencial de algumas culturas, fato este que inviabiliza a produção do milho nesta região, não afetando o sorgo, que pode substituir em termos nutricionais o milho na alimentação dos bovinos tanto na forma de silagem ou em, rações concentradas.
O sorgo é uma gramínea tropical que tolera melhor as altas temperaturas e deficiências hídricas do que muitas outras culturas. O seu sistema radicular fibroso é amplo e tem um ritmo de transpiração eficaz, bem como características foliares próprias das plantas xerófitas, que diminuem a perda de água (VON PINHO & VASCONCELOS, 2002).
As determinações da densidade de semeadura em outras diversas situações de manejo da cultura, são fatores importantes para otimizar a produtividade (BERENGUER & FACI, 2001; HAMMER & BROAD, 2003). A utilização de densidades de plantio maiores tem demonstrado rendimentos de até 20% no cultivo de sorgo (ALMEIDA & RODRIGUES, 1985).
Para se determinar a população ideal de plantas numa determinada área, deve-se levar em consideração aspectos, como fertilidade do solo, genótipo utilizado e regularidade de ocorrência de chuvas. Considerando o aumento de áreas de sorgo nas propriedades agrícolas do Norte de Minas Gerais e a escassez de informações sobre a cultura é de suma importância trabalhos de pesquisa que visam a otimização das práticas de manejo na região.
Avaliar o melhor arranjo de plantas do sorgo granífero em dois sistemas de cultivo (irrigado e sequeiro) no município de Jaíba, Minas Gerais.
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental de Mocambinho (FEMO), integrante da Unidade Regional EPAMIG do Norte de Minas Gerais (URENM), pertencente à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. A FEMO localiza-se no Perímetro Irrigado de Jaíba, município de Jaíba-MG, à margem direita do Rio São Francisco e à esquerda do Rio Verde Grande. A área experimental é caracterizada por Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, com 220 g kg-1 de argila, 680 g kg-1 de areia e 100 g kg-1 de silte. Segundo informações coletadas na estação 83389 do INMET (Instituto Nacional de
apresentado, no período de 1986 a 2008 (treze anos), pluviosidade média de 807 mm anuais, concentrados nos meses de outubro a março. Foram conduzidos dois experimentos, sendo um em área irrigada e outro em área de sequeiro. Utilizou-se a cultivar DKB 599, que é um híbrido granífero precoce, amplamente comercializado na região.
Nos dois sistemas de cultivo (irrigado e sequeiro) utilizaram-se as densidades de 100, 150, 200 e 250 mil plantas por hectare e espaçamentos entre fileiras de 25, 50 e 75 cm, respectivamente. Para ambos os experimentos foram utilizados 480 kg ha-1 da fórmula 4 (N): 30 (P2O5): 10 (K2O) mais 0,5% de Zn, com base na análise de solo. Em adubação de
cobertura foram utilizados 60 kg de K2O ha-1 (Cloreto de Potássio como fonte) e 80 kg de N
ha-1 (Uréia como fonte), aplicados aos 30 dias após a emergência. As panículas foram cobertas com sacos de papel para proteção contra pássaros.
O manejo da irrigação, no sistema de cultivo irrigado, foi realizado com o auxílio de tensiômetros instalados nas linhas das plantas na profundidade de 20 cm. A irrigação foi utilizada apenas até próximo ao final do período de enchimento dos grãos.
Utilizou-se nos dois experimentos, o delineamento em blocos casualizados, no esquema fatorial 4 (densidades) x 3 (espaçamentos), com quatro repetições. Os experimentos foram conduzidos simultaneamente em área contígua na condição irrigada e de sequeiro. A parcela experimental foi constituída de 4 linhas de 5 m de comprimento e a área útil as duas linhas centrais, onde foram avaliados os dados experimentais antes e durante a colheita. Foram avaliadas as características de produtividade de grãos (t ha-1).
Os dados obtidos em cada experimento foram submetidos a uma análise de variância individual. Em seguida foram realizados os testes de aditividade dos dados, normalidade dos erros e homogeneidade das variâncias para, posteriormente, realizar-se a análise de variância conjunta envolvendo os dois experimentos. Todas as análises, incluindo o estudo de regressão em função dos diferentes espaçamentos e densidades foram realizadas utilizando o programa estatístico SISVAR® (FERREIRA, 2000). As médias foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott (1974).
O resumo da análise de variância conjunta está apresentada na TABELA 1. Foi observado efeito altamente significativo para produtividades de grãos e peso de mil grãos. Houve diferenças entre os dois sistemas de cultivo (p≤0,01) e para a interação sistema x densidade (p≤0,05) apenas na produtividade de grãos. A produtividade e peso de mil grãos foram afetadas ainda pelas densidades, interações sistemas x espaçamentos e espaçamentos x densidades.
O coeficiente de variação (C.V.%), que é interpretado como a variabilidade dos dados em relação à média, foi 14,9 para a produtividade dos grãos e 9,38 para o peso de mil grãos. De acordo com Pimentel (1990) os valores constatados para altura de plantas e produtividades de grãos são considerados baixos. Já para o peso de mil grãos Montagner et al. (1999) reportaram valores de coeficiente de variação próximos aos obtidos neste trabalho.
Considerando a produtividade média de grãos dos experimentos individualmente para cada sistema, constataram-se rendimentos equivalentes a 5,00 t ha-1 no sistema irrigado, sendo este valor bem superior à média nacional que foi de 2,35 t ha-1 (IBGE, 2009), devido o incremento proporcionado pela irrigação. Já no sequeiro a produtividade foi de 1,28 t ha-1, neste caso, bem inferior à média nacional.
TABELA 1 Resumo das análises de variância conjunta produtividade de grãos (PG) envolvendo os experimentos sequeiro e irrigado.
QM F V GL PG(t ha-1) Sistema 1 332,27** Blocos 3 0,11 Espaçamentos (E) 2 5,7** Densidades (D) 3 1,217* S x E 2 5,4** S x D 3 0,634* E x D 6 0,496* S x E x D 6 0,176 Erro 69 0,219 CV% 14,9
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F * Significativo a 5% de probabilidade pelo teste F
Foi observada diminuição da precipitação na época do florescimento e enchimento de grãos e consequente redução da disponibilidade de água no perfil do solo, limitando o desenvolvimento das plantas de sorgo. Os menores rendimentos são atribuídos à deficiência de água, nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas e de maturação, que ocasionaram senescência precoce das folhas inferiores e redução no rendimento de grãos (SILVA et. al., 2009 & MAGALHÃES et al., 2000).
Destaca-se que os efeitos do estresse hídrico, nos componentes do rendimento de grãos do sorgo, como peso de mil grãos, são atribuídos a reduções da área foliar e taxa fotossintética das plantas (MAGALHÃES et al. 2000).
As representações gráficas das equações de regressão para produtividade de grãos em função dos espaçamentos entre fileiras no sistema irrigado e sequeiro são apresentados na FIGURA 1.
Foi constatada relação linear decrescente entre a produtividade de grãos e os espaçamentos utilizados apenas no sistema irrigado. Notou-se que o aumento de um centímetro no espaçamento entre fileiras provocou redução de 29 kg ha-¹ de grãos.
Resultados diferentes foram obtidos por Baumhardt & Howell (2006) no sistema sequeiro. Neste trabalho os menores espaçamentos aumentaram a produtividade de grãos em qualquer regime hídrico, sendo que estes autores recomendaram o espaçamento de 28 cm entre fileiras para o sorgo granífero. Os diferentes resultados em trabalhos de espaçamentos e densidades podem ser atribuídos pelas condições climáticas prevalecentes no ano agrícola, genótipo utilizado e fertilidade dos solos (ALBUQUERQUE, 2009).
y = -0,029x + 6,45 R² = 0,760 ** y = -0,001x + 1,34R² = 0,48 ns 0 1 2 3 4 5 6 7 25 35 45 55 65 75 P ro d u ti v id a d e ( to n h a -1) Espaçamento (cm) Irrigado Sequeiro
FIGURA 1 . Representação gráfica das equações de regressão para a produtividade de grãos em função dos espaçamentos no sistema irrigado e sequeiro. ** Significativo a 1% de probabilidade; ns Não significativo. EPAMIG, Jaíba, MG, 2010
Este autor destaca ainda que não verificou-se redução na produtividade nos menores espaçamentos e pode-se recomendar o uso de espaçamentos reduzidos na cultura do sorgo granífero. Como esta característica é afetada por fatores ambientais, as produtividades ficarão asseguradas em anos de melhor precipitação sendo que nos anos com maiores restrições hídricas, as produções não serão afetadas.
Considerando a produtividade de grãos em função das densidades, houve relação linear crescente no experimento sequeiro e relação quadrática no sistema irrigado com valores de R2 sempre superiores a 88% (FIGURA 2).
y = -7E-05x2 + 0,028x + 2,56 R² = 0,96 ** y = 0,0042x + 0,55 R² = 0,89 ** 0 1 2 3 4 5 6 100 125 150 175 200 225 250 P ro d u ti v id a d e (t o n h a -¹) Densidade x(1000 plantas ha -¹) Irrigado Sequeiro
FIGURA 2. Representação gráfica das equações de regressão para a produtividade de grãos em função das densidades no sistema irrigado e sequeiro. **Significativo a 1% de probabilidade. EPAMIG, Jaíba, MG, 2010.
No sistema irrigado houve relação quadrática com acréscimo na produtividade de grãos, estimado pela equação, até a densidade de 191 mil plantas ha-1, atingindo-se 5,23 t ha-1
de grãos. A partir daí, com o aumento da densidade, ocorreu redução na produtividade de grãos.
No sistema de sequeiro o aumento de mil plantas por hectare proporcionou o incremento de 4 kg ha-1 de grãos.
Considerando o desdobramento da interação espaçamento x densidade, foi obtida relação linear significativa para a produtividade de grãos, em função dos espaçamentos nas populações 100, 150 e 250 mil plantas ha-1 e relação quadrática na densidade de 200 mil plantas ha-1 (FIGURA 3). O espaçamento 25 cm apresentou maiores produtividades de grãos em todas as densidades avaliadas.
Verificou-se na população de 100 mil plantas ha-1 que para cada aumento de um
centímetro no espaçamento entre fileiras, houve decréscimo de 10 kg ha-1 de grãos. Já na população de 150 mil plantas ha-1 o aumento de um centímetro no espaçamento proporcionou decréscimo de 10 kg ha-1 de grãos. Para população de 250 mil plantas ha-1 o aumento de um centímetro no espaçamento proporcionou decréscimo de 20 kg ha-1 de grãos. Considerando a população de 200 mil plantas ha-1 foi relatado decréscimo até o espaçamento 58 cm, atingindo-se 2,70 t ha-1 de grãos. A partir daí, com o aumento do espaçamento, ocorreu aumento na produtividade de grãos.
y = -0,010x + 3,36 R² = 0,9162 ** y = -0,01x + 3,62R² = 0,6575 * y = 0,001x2 - 0,136x + 6,68 R² = 1 ** y = -0,02x + 4,34 R² = 0,8242 ** 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 25 35 45 55 65 75 P ro d u ti v id a d e (t o n h a -1) Espaçamento (cm)
100 mil 150 mil 200 mil 250 mil
FIGURA 3 Representação gráfica das equações de regressão para Produtividade em função do desdobramento Espaçamento x Densidade. **,* Significativo, a 1% e 5% de probabilidade. EPAMIG, Jaíba, MG, 2010.
A representação gráfica das equações de regressão em função do desdobramento densidade x espaçamento encontra-se na FIGURA 4.
Notou-se que para cada aumento de mil plantas por hectare no espaçamento 25 cm houve incrementos de 6 kg ha-1 de grãos. No espaçamento 50 cm não ocorreu efeito significativo do aumento da população.
No Texas, EUA, Stichler et al. (1997) observaram, em área irrigada, incrementos na produtividade de grãos de sorgo com a redução do espaçamento entre fileiras de 90 cm para
população de plantas, variedade e espaçamento entre fileiras de sorgo granífero são interdependentes. Ainda neste trabalho, as cultivares tardias apresentaram redução na produtividade, quando semeadas com altas populações.
y = 0,006x + 2,468 R² = 0,877 ** y = 0,000x + 2,811R² = 0,127 ns y = 0,003x + 2,386 R² = 0,596 ** 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 100 120 140 160 180 200 220 240 P ro d u ti v id a d e ( to n h a -¹) Densidade ( x 1000 plantas ha -1) 25 cm 50 cm 75 cm
Figura 4. Representação gráfica das equações de regressão para Produtividade em função do desdobramento Densidade x Espaçamento. ** Significativo 1% de probabilidade; ns Não significativo. EPAMIG, Jaíba, MG, 2010.
Concluiu-se com este trabalho que a redução dos espaçamentos entre fileiras promove incrementos na produtividade de grãos, independentemente da população de plantas adotada. O sorgo granífero cultivado com irrigação tem acréscimo da produtividade com a redução no espaçamento; contudo, o aumento da população de plantas em cultivos irrigados proporciona acréscimos na produtividade até um ponto de máximo, decrescendo a partir deste.
Agradecimentos:
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e ao Banco do Nordeste (ETENE/FUNDECI) pelo apoio financeiro.
ALBUQUERQUE, C. J. B. Arranjo de plantas de sorgo para a região do semi-árido de Minas Gerais. 2009, 125 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) ; Universidade Federal de Lavras : UFLA, Lavras, MG, 2009.
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