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ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE VIVÊNCIA: RELAÇÃO DOS AGROECOSSISTEMAS AMAZÔNICOS E TRABALHO COMUNIDADE SÃO LOURENÇO, TERRA ALTA, PARÁ

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ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE VIVÊNCIA: RELAÇÃO DOS

AGROECOSSISTEMAS AMAZÔNICOS E TRABALHO – COMUNIDADE SÃO LOURENÇO, TERRA ALTA, PARÁ

SUPERVISED INTERNSHIP EXPERIENCE: RELATIONSHIP OF THE AMAZONIAN AGROECOSYSTEMS AND WORK – ST. LAWRENCE

COMMUNITY, TERRA ALTA, PARÁ Apresentação: Comunicação Oral

Denis Junior Martins da Silva1; Álef do Nascimento Santos2; Mauricio Ricardo de Paula Dias3; Flávio Sampaio Mendes4; Romier da Paixão Sousa5

DOI:https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00120 Resumo

O estágio é um dos momentos mais importantes para a formação profissional. É nesse momento que o futuro profissional tem oportunidade de entrar em contato direto com a realidade da área em que ele pretende atuar, além de concretizar pressupostos teóricos adquiridos pela observação de determinadas práticas específicas e do diálogo com produtores e profissionais mais experientes. Neste contexto, a vivência se constitui em espaço de análise crítica da conjuntura agrária que representa em dias atuais um importante processo de reflexão e elaboração crítica dos objetivos do curso, numa valorização do diálogo com a sociedade, repensando as condições de intervenção sobre a realidade do campo. O referente estudo buscou tratar da interação do homem com as técnicas de trabalho aplicadas ao agroecossistema amazônico, onde a propriedade rural na qual, os estudantes se alojaram, está imerso e o estágio teve como objetivo geral compreender os principais elementos deste agroecossistema e a interação do trabalho no campo, de maneira a ter competência de diagnosticá-los e poder de intervenção, levando sempre em consideração as realidades sociais, culturais e ambientais da comunidade São Lourenço, no Município de Terra Alta, nordeste paraense com base em práticas Agroecológicas. Para uma melhor compreensão do funcionamento do estabelecimento agrícola e da evolução da relação família-estabelecimento utilizou-se como ferramenta conversas informais com os familiares, observação direta, entrevistas baseadas em questionário semiestruturado que buscou identificar o histórico da família, perspectivas e a forma de ocupação do território atual; análise das áreas cultivadas; entrevista e observação de existência dos sistemas de cultivos; sistematização das informações de campo dos discentes do IFPA - Campus Castanhal e foram realizadas caminhadas transversais na área buscando identificar as potencialidades do estabelecimento. O levantamento da relação de trabalho da família mostra como os agricultores atuam em suas

1 Curso de Agronomia, IFPA - Campus Castanhal/denismartins19@hotmail.com 2 Curso de Agronomia, IFPA - Campus Castanhal/allef_n@hotmail.com 3 Curso de Agronomia, IFPA - Campus Castanhal/ricardo.eafc@gmail.com

4 Curso de curso de Agronomia, IFPA - Campus Castanhal/flavio.ifpa2014@gmail.com 5 Doutor, IFPA - Campus Castanhal/ romier.sousa.ifpa@gmail.com

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terras, desde o cultivo às relações econômicas na comunidade. Palavras-Chave: Estágio, agroecossistemas, trabalho, vivência.

Abstract

The stage is one of the most important moments for vocational training. This is where the professional future has the opportunity to come into direct contact with the reality of the area in which he intends to act, in addition to theoretical assumptions acquired by observing certain specific practices and dialogue with producers and more experienced professionals. In this context, the experience is in the area of critical analysis of the agrarian situation that represents in present day an important process of reflection and criticism of the course objectives, in appreciation of the dialogue with society, rethinking the conditions of intervention on the reality of the field. The study sought to address the interaction of man with working techniques applied to agro-ecosystem in the Amazon, where the rural property in which the students lodged, is immersed and the training course aimed to understand the major general elements of the agro-ecosystem and the interaction of the work in the field, in order to have competence to diagnose and power of intervention, taking always into consideration the social, cultural and environmental realities of the St. Lawrence community, in the city of Terra Alta, Northeastern Pará based on agroecological practices. For a better understanding of the functioning of the agricultural establishment and evolution of family relationship-establishment used as informal conversations with family members, direct observation, questionnaire-based interviews semi-structured that sought to identify the family history, perspectives and current occupation of the territory; analysis of the cultivated areas; interview and observation of existence of crop systems; systematization of the information of the students of the IFPA-Castanhal Campus and were performed hiking in the area cross seeking to identify the potential of establishment. The survey of the employment relationship of the family shows how farmers work in their lands, since the growing economic relations in the community.

Keywords: Stage, agroecosystems, work, experience.

Introdução

O estagio supervisionado de vivencia (ESV) II é uma oportunidade que o IFPA – Campus Castanhal proporciona aos estudantes de Agronomia do campus rever os conteúdos das disciplinas ministradas até o momento e por em prática técnicas de observação, interação e intervenção na propriedade onde o aluno ficou alojado durante o período de estagio que teve duração de 12 dias.

Com base no eixo norteador do estagio supervisionado de vivencia (ESV) II, que tem como título “Agroecossistemas Amazônico e Trabalho”, teve por objetivo geral compreender os principais elementos dos agroecossistemas amazônicos e trabalho no campo, de maneira a ter capacidade de diagnosticá-los e de intervir, considerando as realidades sociais, culturais e ambientais, a partir de práticas Agroecológicas, análise agronômica e zootécnica das atividades produtivas do agricultor (agroecossistema).

Daí a importância de se entender a relação de trabalho a partir dos sistemas de produção da família. Segundo Sanchez (2002), a globalização do mundo que vem alterando

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as visões sobre os fatos e conceitos, estimula novas reflexões sobre a organização de trabalhos interdisciplinares a partir de um processo de reintegração e reconstrução do todo.

O ESV buscou também conhecer as relações sociais do trabalho na unidade familiar (trabalho) e a realização de uma análise econômica do sistema de produção (custos, produto bruto, produtividade, outras).

Fundamentação Teórica

O Estágio de Vivência é um período de tempo no qual estudantes universitários convivem com comunidades rurais e assentamentos e pretende discutir a necessidade de uma profunda reorientação dos padrões de organização socioeconômica da agricultura para alcançar sua sustentabilidade, caminhando assim, para a produção de alimentos de melhor qualidade biológica, livres de agrotóxicos e produzidos de forma ambientalmente mais amigável (CAPORAL, 2002).

Para (Guerra, 1995) o Estágio Supervisionado consiste em teoria e prática tendo em vista uma busca constante da realidade para uma elaboração conjunta do programa de trabalho na formação do educador. Desta forma, "o estágio é o eixo central na formação de professores, pois é através dele que o profissional conhece os aspectos indispensáveis para a formação da construção da identidade e dos saberes do dia a dia" (PIMENTA E LIMA, 2004), tornando-se etapa imprescindível para o profissional de qualquer área de trabalho estar apto a exercer sua função como educador, analista, interventor, empreendedor e etc.

Neste contexto, a vivência se constitui em espaço de análise crítica da conjuntura agrária que para Petersen (1999), representa em dias atuais um importante processo de reflexão e elaboração crítica dos objetivos do curso, numa valorização do diálogo com a sociedade, repensando as condições de intervenção sobre a realidade do campo.

A Teoria Geral de Sistemas (TGS) tem por objetivo a formulação de teorias e a construção de conceitos para aplicação em estudos empíricos de diversas ciências. Tal teoria afirma que as propriedades dos sistemas não podem ser descritas significativa e completamente a partir de seus elementos separados, sendo essencialmente totalizante (BERTALANFFY, 1973).

A agricultura familiar brasileira representa 85,2% do total dos estabelecimentos rurais e é responsável por 37,9% de toda a produção nacional, sendo ainda, a principal geradora de postos de trabalho no meio rural, embora esta ocupe apenas 30,5% da área total dos estabelecimentos rurais, e conte somente com 25,3% do total dos financiamentos. (INCRA; FAO, 2000).

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Metodologia

O ESV II foi realizado em período de 12 dias que foram do dia 21 de Maio a 01 de Junho de 2018 na Propriedade do senhor José Eduardo Alves da Silva (Figura 01), pertencente à comunidade São Lourenço, uma comunidade rural familiar, situada na cidade de Terra Alta-PA. O município está localizado na região do salgado (Figura 02) pertencente à mesorregião do nordeste Paraense, limitando ao norte com o município de Curuçá, e a leste com o município de Marapanim, ao sul de São Francisco do Para e Castanhal, e a oeste São Caetano de Odivelas e São João da Ponta (SEPOF, 2014).

Figura 01: Localização da propriedade. Fonte: Própria. Figura 02 - Mapa de localização da Comunidade. Fonte:

LIMA et al., 2014.

Para aquisição de dados utilizou-se as ferramentas presente no Termo de Referencia de Estagio (TDR), discutido e criado em sala de aula, onde a mesma facilita a visualização e compreensão da dinâmica das atividades e eventos da propriedade. As ferramentas utilizadas foram: Caminhada transversal; observação direta, Entrevista semiestruturada, Mapa falado e Calendário Sazonal.

A caminhada transversal permite obter informação sobre os diversos componentes dos recursos naturais, a vida econômica, as moradias, as características de solos, etc. É realizada por meio de uma caminhada linear, que percorre um espaço geográfico com várias áreas de uso e recursos diferentes. O mapa falado tem por objetivo possibilitar o registro e a visualização de forma esquemática das diferentes partes de uma região (unidade de conservação, comunidade, povoado), dos serviços existentes e de sua distribuição nas diversas áreas identificadas, de acordo com a visão e a participação dos próprios moradores e utilitários da unidade. O Calendário sazonal por sua vez busca Possibilitar a identificação das ações realizadas ao longo do tempo, por épocas do ano, mostrando, entre outras coisas, se há ou não multiplicidade de ações (BRASIL, 2011).

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adquiridos em sala de aula (textos, atividades em grupo, seminários, debates e orientações), pesquisas em sites e documentos (fotografias, tabelas, desenhos, materiais impressos, gravações, jornais e documentos legais).

Resultados e Discussão

1.1 Caracterização da Composição Familiar

Nascido na cidade de São Caetano de Odivelas, nordeste paraense, José Eduardo Alves da Silva, marido de Ednéia Pereira Trindade são uns dos moradores do Sitio São Lourenço, juntos são associados à COAFTA (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Terra Alta), onde juntos ajudaram a fundar a cooperativa. O casal possui 5 filhos, sendo 3 mulheres e 2 homens, desses 5 apenas 3 residem com os pais, dos quais foram obtidas as informações contidas no quadro 01.

Quadro 01: composição familiar do Seu Eduardo e Dona Ednéia.

Nome Parentesco Idade Escolaridade Estuda? Ocupação José Eduardo Alves da Silva Pai 39 Fundamental incompleto Não Agricultor Ednéia Pereira Trindade Mãe 38 Fundamental incompleto Não Agricultora

Anderson Filho 18 1º Ano do ensino médio Sim Estudante

Carlos Eduardo Filho 14 8º Ano Sim Estudante

Karla Filha 4 Creche Sim Estudante

A família se encaixa na lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 que estabelece as diretrizes para a formação da Politica Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais (Planalto, 2006), onde o Artigo 3º conceitua agricultor familiar da seguinte forma:

Artigo 3º - Para fins desta lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I- Não detenha a qualquer título, área maior que 4 módulos fiscais;

II- Utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III- Tenha percentual mínimo de renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder executivo; (Lei 12.512, de 2011).

IV- Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família

A mão de obra é predominantemente familiar, tendo em vista que a maior parte dos trabalhadores da área são membros da família, fazendo uso de mão de obra contratada apenas em períodos de plantio e colheita, onde se demanda o maior número de atividades a serem executadas.

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1.2 Sistemas de Cultivos e as Relações de Trabalho

A área da propriedade em estudo possui aproximadamente três hectares. Na mesma a família desenvolve suas diversas atividades onde a maioria delas é direcionada para seus sistemas de cultivos. O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações (HIRAKURI et al, 2012).

Quadro 02: culturas e suas quantidades.

A família não possui atualmente em sua propriedade nenhum sistema de criação, porém possui sistemas de cultivos bem diversificados (Quadro 02), como produção de Banana (Musa acuminata), Açaí (Euterpe oleracea), Pimenta do reino (Piper nigrum), Cupuaçú (Theobroma grandiflorum), Pupunha (Bactris gasipaes), Limão (Citrus Limonium), Laranja (Citrus sinensis) e a Mandioca (Manihot esculenta), porém, essa ultima cultura não é cultivada na presente propriedade e sim na do tio do Seu Eduardo que fica localizado em frente do estabelecimento da família. Todas essas culturas cultivadas na propriedade em sistema convencional com pouca ou nenhuma utilização de insumos agrícolas e muitas vezes

de maneira empírica, pois a família tem pouco acesso à assistência técnica. Entre os sistemas de cultivos mencionados, a principal cultura é a mandioca sendo esta

a principal fonte de renda da família e a que mais ocupa a mão de obra familiar durante o ano como mostra o Calendário Sazonal (Quadro 03), nessa perspectiva a maior parte das atividades desenvolvidas na propriedade estão voltadas para o cultivo e beneficamente da mandioca. Desse modo, os produtos oriundos da mandioca como farinha, tucupi, goma e

Cultura Nome

Cientifico Total (pés) ou área

Açaí Euterpe oleracea 70

Pimenta do Reino Piper nigrum 80

Banana Musa acuminata 15

Cupuaçu Theobroma grandiflorum 15

Mandioca Manihot esculenta 1ha

Limão Citrus Limonium 5

Laranja Citrus sinensis 6

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farinha de tapioca fazem parte da base alimentar e também por garantir grande parte do sustento financeiro da família.

Quadro 03: Calendário Sazonal da família ao longo do ano de 2017. Fonte: Própria. CALENDÁRIO SAZONAL / 2017

Culturas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mandioca X X X X X X X X X

Açaí X X

Pimenta X

Limão X X X

Carvão vegetal X X X X X X X

Outra atividade mencionada no calendário sazonal (Quadro 03), que requer bastante ocupação durante o ano é a produção de carvão vegetal, essa atividade é realizada pelo patriarca da família junto com o seu companheiro de trabalho seu Nonato.

Seu Nonato é um amigo da família que contribui na realização das atividades da propriedade, ele soma bastante à força de trabalho ali exercida sem cobrar algo em troca, ou seja, seu Nonato não exige uma quantia pelo seu trabalho realizado, porem, seu Eduardo lhe fornece todas as alimentações diárias e uma gratificação em dinheiro quando é possível, existindo aí uma parceria e uma relação de harmonia, mutualidade e inter-relação entre seu Nonato e a família.

Como já mencionado, a maior parte do trabalho se dá no cultivo e beneficamente da mandioca e na produção de carvão vegetal. Desse modo a divisão do trabalho se dá seguinte forma, a matriarca dona Edneia é responsável por desenvolver um trabalho de extrema importância para a família que é o trabalho domestico e de cuidar dos filhos, a mesma acorda bem cedo para cuidar da primeira refeição da família, arrumar a filha caçula para ir para escola e realizar as outras atividades do lar.

Além das tarefas domésticas a Matriarca também realizar os trabalhos referentes aos sistemas de cultivos realizados na propriedade, principalmente no beneficiamento e comercialização dos produtos oriundos da mandioca, a mesma, participa efetivamente da maioria das etapas da produção dos produtos como a farinha, tucupi, farinha de tapioca, goma entre outros.

Contudo, Dona Edineia assim como a maioria das matriarcas, exerce um papel fundamental no sistema produtivo da família sendo uma força de trabalho indispensável e importantíssima. De acordo com Lovatto et al, (2010):

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Em muitos casos é a mulher a responsável pela introdução das novas práticas de produção, na em que testa formas e preparados nos cultivos, dedica-se ao artesanato, à culinária, aos agrupamentos sociais, recuperando desta forma a cooperação em todas as esferas produtivas e essa cooperação muitas vezes não é reconhecido no meio rural, ou seja, o papel da mulher muitas vezes se torna invisível.

Segundo Melo (2002) o trabalho da mulher na agricultura familiar muita vezes é gratuito e considerado “ajuda”, revelando que a atividade desenvolvida nessa forma de produção pertence ao homem, é da sua responsabilidade, é sua obrigação.

O trabalho da mulher, não sendo reconhecido, ao contrário do desempenhado pelo homem, sugere que ele não gera valor econômico e social, ou seja, a mulher não é vista dentro da força de trabalho familiar. Essa ideia de que a mulher não faz parte do processo de trabalho da agricultura familiar está, muitas vezes, processada nas mentes não apenas dos homens, mas das próprias mulheres (LOVATTO et al, 2010), porém oque foi vivenciado na família de dona Edneia e de seu Eduardo foi totalmente o contrário disso, ambos são valorizados e auto se ajudam, havendo uma cooperação de trabalho entre os dois.

Seu Eduardo, patriarca da família, assim como Dona Edneia são responsáveis por desenvolver as atividades referentes aos sistemas de cultivos que a família possui, principalmente do cultivo da mandioca e a comercialização dos produtos feitos na propriedade. Ele acorda bem cedo para ir para roça para realizar os tratos culturais do cultivo. Os filhos Anderson e Carlos sempre que possível, ou seja, quando não estão estudando, ajudam os seus pais nas atividades desenvolvidas na propriedade e por serem adolescentes, eles participam dos trabalhos vistos pelos seus pais como “mais leves” como plantio e adubação das culturas, descascamento e ceifa da mandioca.

Seu Eduardo e Dona Edneia, como já mencionado, são cooperados da cooperativa da comunidade São Lourenço que se chama Cooperativa de Agricultores Familiares de Terra Alta (COAFTA) e nela os mesmos participam de ações de reciprocidade de ajuda mútua como mutirões, ou seja, quando um membro da COAFTA está doente e não pode realizar suas atividades do campo, a família junto com os outros cooperados se organizam para ajudarem com sua força de trabalho aquele que se encontra impossibilitado a desenvolver suas atividades como plantio, tratos culturais, colheita e etc...

Segundo Mauss (1974):

Reciprocidade está baseada na dádiva, ato de dar de forma generosa e gratuita, de receber e de retribuir, formando um processo de solidariedade, ajuda mútua, fortalecendo a confiança, pois no ato de dar existe mais que uma mera troca, existe

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todo um simbolismo presente que reforça valores humanos além dos valores econômicos envolvidos.

De fato foi isso que foi observado na relação de trabalho desenvolvido pela família para com os outros cooperados, todos se ajudam e buscam sempre está presente nas atividades conjuntas. Esses laços de reciprocidade contribuem bastante para o crescimento, moral, cultural, social e econômico não só da família de Seu Eduardo e da Dona Edneia mais sim de toda comunidade São Lourenço.

1.3 Fluxos Monetários da Família

Quadro 05: levantamento da produção vegetal ano base 2017. Fonte: Própria. Levantamento da Produção Vegetal / 2017 Culturas Área Total (pés)

Produção

Mão de obra (valor R$ hora/gênero) Quantidade Valor R$

Mandioca 1 ha --- 120 saca/safra 170/180,00 sc 40,00/diária/homem Cupuaçu --- 10 20saca/tarefa --- Mão de obra familiar

Banana --- 15 60 kg/semana 2,25 kg Mão de obra familiar Açaí --- 70 Consumo/troca Mão de obra familiar Pimenta --- 80 215 kg 7,00/kg 0,50/kg/mulher

Maracujá 3,5 tarefa 400 20/40,00/tela ---

Laranja --- 6 Consumo/venda --- Mão de obra familiar Pupunha --- 8 Consumo/venda --- Mão de obra familiar

Limão --- 5 6 tela

23 kg/tela 30,00/tela Mão de obra familiar Carvão vegetal --- --- 100 sc/mês 15,00/saca 60,00/diária/homem

A Mandioca como característica da agricultura familiar amazônica, é o carro chefe da produção, como mostra o (Quadro 05), principalmente na fabricação de farinha e outros derivados. Com uma produção diversificada, a família de Seu Eduardo garante seu sustento com a venda e o consumo a partir da produção em sua propriedade. A venda da produção ocorre principalmente nas feiras das cidades de São Caetano de Odivelas, Terra Alta e Curuçá, gerando renda que é empregada em parte da alimentação, custeio da manutenção das plantações (adubação, irrigação, contratação de mão de obra) e reforma de equipamentos e de sua residência.

A troca de produtos também é comum na comunidade, como por exemplo, a troca de parte da produção de açaí por farinha, peixe, e em alguns casos até por carne. Segundo o relato do seu Eduardo isso faz com que fortaleça ainda mais a união na comunidade. “As vezes quando a produção foi boa, a gente troca o açaí por farinha, peixe e de vez em quando

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uma carne, isso faz com que a nossa comunidade fique mais unida, mostrando a parceria nessa troca [...]”. (Da Silva, José Eduardo Alves. Morador da comunidade São Lourenço. Terra Alta-PA, 2018). Afirmando essa ação de parcerias Noda (2001) diz que no que tange às formas de organização social voltadas para o trabalho estão inclusas, além da mão-de-obra familiar, outras práticas comunitárias tais como o mutirão, a troca-de-dia, e a parceria.

No ano de 2017, a família por meio da COAFTA, se cadastrou no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Criado em 2003, o programa é uma ação do Governo Federal para colaborar com o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer a agricultura familiar. Para isso, o programa utiliza mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção. Parte dos alimentos é adquirida pelo governo diretamente dos agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e demais povos e comunidades tradicionais, para a formação de estoques estratégicos e distribuição à população em maior vulnerabilidade social. (MDA, 2014).

Dessa forma, com o cadastro no programa a família de Seu Eduardo, tinha a venda de produtos como banana, cupuaçu e laranja garantida, gerando renda extra para a família. No entanto, os constantes atrasos no pagamento dos produtos que eram efetuados no mês seguinte, o fizeram desistir do programa.

Conclusões

O Estagio Supervisionado de Vivência (ESV) II, buscou desenvolver uma formação baseada no contexto real de atuação e que possibilite a construção autônoma do conhecimento cientifico através da vivencia de exemplos práticos para discussões acadêmicas e até mesmo profissionais. Os discentes em formação teve a oportunidade de investigar, analisar e intervir na realidade do produtor rural, a partir da imersão na realidade comercial, organização e o funcional da propriedade agrícola e da comunidade.

A presente vivência permitiu compreender toda a dinâmica das atividades realizadas na propriedade do Seu Eduardo e as relações de trabalho ali existentes, sendo assim, um fator importantíssimo para a formação profissional, ética e moral dos discentes dos cursos de ciências agrárias, uma vez que, é vivenciando que se tem a real compreensão das fragilidades e fortalezas presentes do estabelecimento agrícola.

O estágio de vivência possibilitou também aplicar conhecimentos e ferramentas adquiridos na academia, como por exemplo, a percepção do meio que os discentes estiveram

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imersos, assim como compreender a dinâmica de trabalho dos agricultores em suas terras, o aporte técnico aos agricultores quando tomados por duvidas tanto para seus cultivos, quanto para o controle das ações em suas áreas, seja econômica ou acompanhamento agronômico de algumas práticas. Tal acompanhamento é um grande contribuinte para o aperfeiçoamento dos discentes.

Referências

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