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Mecanismos de controle externo sobre a Polícia

Militar do estado de São Paulo, 1989-2007.

LIMA, João Marcelo Maciel de.

Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista

Faculdade de Filosofia e Ciências, campus de Marília. Orientador: Prof. Luís Antônio Francisco de Souza

Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo.

Objeto e Objetivos

O fim do período de exceção em 1985 e a promulgação da Constituição Federal de 1988 representaram um importante avanço em relação à defesa dos direitos humanos e à normalidade das instituições jurídicas.

A redemocratização do Brasil não foi suficiente para que a sociedade e os governos civis controlassem de forma efetiva o uso de força por parte das instituições policiais, nem tampouco conferiu transparência às atividades da segurança pública. Ao contrário, os dados parecem mostrar que o uso ilegal, arbitrário e excessivo da força, sobretudo a força letal, é um dos grandes problemas da segurança no país.

É nesse contexto que o presente projeto pretende analisar os mecanismos consolidados e as novas experiências de responsabilização (accountability) da Polícia Militar no Estado de São Paulo entre 1989 e 2007. Para tanto, serão analisados os mecanismos de controle interno e externo da instituição policial em face da bibliografia nacional e internacional relacionada à polícia e ao controle institucional.

A pesquisa pretende fazer um histórico da implantação dos mecanismos de controle externo e, ainda, avaliar o impacto da implantação dessas políticas nos índices de letalidade nas ações policiais, particularmente da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Partimos do pressuposto, presente nas principais investigações disponíveis sobre o tema, de que é possível reduzir o número de mortes e minimizar a violência dos

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confrontos entre policiais e suspeitos, por meio de uma análise de risco e de políticas públicas que visem o aperfeiçoamento e o controle efetivo das instituições policiais.

No Brasil, os limites legítimos para a aplicação da força legal estão sendo cotidianamente ultrapassados e isso não é apenas uma questão de políticas públicas, mas também um problema sociológico que merece investigação e reflexão. Nesse sentido, a questão fundamental diz respeito a como equacionar o uso da força dentro do princípio da legalidade, considerando as características do Estado, da Polícia Militar e da sociedade brasileira. Principalmente, a pesquisa pergunta se os mecanismos de controle externo podem contribuir para o controle das ações policiais, para a redução da letalidade nessas ações e, no limite, para a ampliação das garantias constitucionais aos assim chamados delinqüentes.

a) Compreender o papel dos mecanismos de controle e do uso da força letal por parte da polícia, através da bibliografia nacional e internacional sobre o tema; b) Identificar e analisar as experiências contemporâneas de controle interno e externo da polícia, dando ênfase às experiências no Estado de São Paulo, particularmente de controle externo da Polícia Militar do Estado de São Paulo, no período de 1989-2007; c) verificar o impacto dessas experiências e dos mecanismos de controle externo, bem como indagar as razões do êxito ou do fracasso dessas experiências, por meio da análise dos dados sobre letalidade e da montagem de séries históricas sobre mortes em ações da polícia no Estado de São Paulo.

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Metodologia

1. Analisar através da bibliografia nacional e internacional o papel dos mecanismos de controle e do uso da força pela polícia, em primeiro lugar, devemos analisar os aspectos e as funções do trabalho policial. Também não se pode deixar de lado o debate com autores que orientam e fundamentam pesquisas sobre polícia e democracia como Max Weber, Norbert Elias, Michel Foucault, Robert Dahl e Guillermo O’Donnell. Essa bibliografia básica auxiliará na confecção de um quadro de referenciais teóricos mais amplos, que permitam elaborar uma reflexão sobre mecanismos de controle e sobre a política do uso da força. Essa reflexão constituirá instrumental teórico determinante para a análise dos mecanismos de controle externo no Estado de São Paulo entre 1989 e 2007.

2. A identificação e análise dos mecanismos de controle externo na Polícia Militar do Estado de São Paulo serão realizadas por meio de fontes primárias que incluem leis, normas e regulamentos (da Polícia Militar e dos mecanismos de controle), dados estatísticos e entrevistas com os principais envolvidos na elaboração dessas políticas, bem como policiais que participaram desses programas ou que atuam junto aos órgãos e instituições de controle.

3. A verificação do impacto dos mecanismos de controle será feita mediante a análise de séries históricas da letalidade que contemplarão o período de 1989-2007. Essas séries serão construídas, preferencialmente, a partir de dados, disponibilizados, desde 1995, no site da Secretaria de Segurança Pública e no Diário Oficial do Estado. Como os dados começaram a ser publicados em 1995, os números referentes ao período 1989-1994 serão coletados em relatórios de centros de pesquisa sobre a violência, relatórios da ONU, relatórios e organizações não-governamentais, dados da Ouvidoria de Polícia do Estado de São Paulo, da Corregedoria de Polícia do Estado de São Paulo e pesquisa em banco de dados da mídia impressa (Jornal Folha de São Paulo e Jornal O

Estado de São Paulo). Essas fontes também servirão de parâmetros para comparar os

números oficiais com os dados produzidos por fontes alternativas. As séries sobre letalidade serão analisadas segundo o seu impacto no aumento ou decréscimo dos números de mortos em ações policiais (policiais e não-policiais), todavia, para evitar o reducionismo, essa análise necessita ser cruzada e complementada com entrevistas, questionários, relatos dos órgãos internacionais e documentos oficiais.

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Resultados Obtidos

A presente pesquisa encontra-se em sua fase inicial, a maioria dos documentos, dissertações, teses e artigos foram coletados já em trabalho de conclusão de curso que apresentou temática semelhante. Dessa forma, esse trabalho é uma ampliação do escopo da pesquisa realizada na graduação e, por isso, vai envolver entrevistas com os atores que integraram as políticas, sucedidas ou não, de controle da Polícia Militar do estado de São Paulo.

Neste primeiro momento, a pesquisa bibliográfica se debruça sobre os trabalhos de Michel Foucault (2000) sobre governamental e biopolítica e nas considerações de Giorgio Agamben (2002) sobre o Homo Sacer, buscando compreender como as altas taxas de letalidade e a violência policial poderiam estar inscritas dentro de processo de gestão da criminalidade. Nesta perspectiva, o individuo perderia seus direitos e se tornaria objeto de sacrifício sem constituir constrangimentos jurídicos, ou então seria um corpo violável ou incircunscrito.

Em outra chave teórica, os referenciais básicos para a caracterização do trabalho policial e de sua prática, bem como dos mecanismos de controle será alicerçado pela literatura anglo-saxã e francesa. No limite, tentaremos apreender modelos de construção da ordem que não se pautem pelo recurso sistemático à violência.

Por hora, é substancial afirmar que os mecanismos de controle interno da Polícia Militar (Corregedoria e Justiça Militar, PROAR) não tem sido suficientes para equalizar ou, no máximo, reduzir os números da letalidade policial. Ainda mais, o exame dos números de julgamentos, de policiais absolvidos e a forma como são estruturadas essas instituições, per si, já demonstram o corporativismo que permeia a instituição.

Há um esforço direcionado em direção a uma polícia democrática, a implantação do Policiamento Comunitário e a criação da Ouvidoria de Polícia (1995) são exemplos desse esforço. Mas essas políticas não têm sido apoiadas de forma consistente por parte do governo, da sociedade e mesmo por setores da polícia.

Isso, em parte, deveu-se ao desconhecimento das características do Policiamento Comunitário e ao entendimento de que esse tipo de policiamento representaria o

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decréscimo do potencial repressivo e o favorecimento ou tratamento especial de setores da comunidade que colaboram com a polícia.

Nesta perspectiva, houve resistência a mudanças dentro da instituição, falta de apoio logístico e o embate com uma cultura policial que acredita que a polícia é quem sabe o melhor no provimento da segurança.

Este trabalho analisa os mecanismos de controle da Polícia Militar no Estado de São Paulo, e pretende esboçar as principais iniciativas, seus pontos fortes e fracos, bem como a interação desses mecanismos com a instituição policial militar.

Através dessas análises foi possível indicar que mesmo após as diversas iniciativas de controle sobre a atividade policial, as demandas por reformas e mudanças nas instituições rumo a uma maior transparência, controle e responsabilização são, geralmente, fruto de crises agudas da instituição policial. Não são, portanto, resultado de reflexões mais profundas sobre o aparato policial.

O fato é que as polícias têm crescido de forma significativa em efetivo, recursos, custos e potencial de intervenção nas sociedades democráticas. Se a democracia não pode abrir mão de suas polícias, o certo então é a expansão dos mecanismos de controle sobre a ação dos policiais e a implantação de estratégias de policiamento democrático.

Nesse contexto, numa sociedade pautada pelo Estado de Direito, a efetividade do monopólio da violência e o controle do uso força por parte das polícias são componentes fundamentais para o bom desenho de políticas públicas em segurança. No entanto, os limites legítimos para a aplicação da força legal estão sendo cotidianamente ultrapassados e isso não é apenas

Assim, a violência policial não é apenas uma questão de políticas públicas, mas também um problema sociológico que merece investigação e reflexão.

A questão fundamental diz respeito a como equacionar o uso da força dentro do princípio da legalidade, considerando as características do Estado, da Polícia Militar e da sociedade brasileira.

Principalmente, os mecanismos de controle externo podem contribuir para o controle das ações policiais, para a redução da letalidade nessas ações e, no limite, para a ampliação das garantias constitucionais aos assim chamados delinqüentes.

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Referências

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