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Casas de sementes comunitárias: estratégias de sustentabilidade alimentar e preservação da biodiversidade no semi-árido cearense.

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Academic year: 2021

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10619 - Casas de sementes comunitárias: estratégias de sustentabilidade alimentar e preservação da biodiversidade no semi-árido cearense.

Houses of seeds community: strategies for sustainability and food preservation of biodiversity in semi-arid region of Ceará.

VASCONCELOS, José Maria Gomes1; MATA, Marlene Feliciano2

1 Mestrando em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de São Carlos,

zmvasconcelos@yahoo.com.br; 2 Dra.SC. Orientadora pela Universidade Estadual Vale do Acaraú,

mfmufpb@yahoo.com.br.

Resumo: Este trabalho teve como objetivo caracterizar o processo de implantação e gestão de casas de sementes comunitária e quantificar os impactos desta tecnologia social sobre a conservação da biodiversidade local das sementes crioulas no Noroeste do Ceará. O trabalho foi conduzido em 07 municípios no universo de 29 organizações comunitárias e 639 famílias, por meio de visitas mensais às casas de sementes, reuniões com lideranças comunitárias, coordenações das casas de sementes, questionários e entrevistas com agricultores e instituições parceiras. Os resultados demonstraram a inserção e sensibilidade das famílias para o desenvolvimento de ações de conservação e proteção ambiental através da implantação das casas de sementes; integração das mulheres e jovens na agricultura familiar. Constatou-se a importância das casas de sementes nos sertões cearenses tanto na sustentabilidade familiar, na melhoria da qualidade de vida das famílias como na preservação da biodiversidade vegetal através do armazenamento das sementes e diversificação de seus cultivos.

Palavras-Chave: Crioulas, intercâmbio, agricultores, semi-árido, resgate

Abstract: This study aimed to characterize the process of deployment and management

of Community Seed houses and quantify the social impact of this technology on the conservation of local biodiversity of native seeds in the Northwest of Ceará. The study was conducted in seven municipalities in the universe of twenty-nine community organizations and six hundred thirty-nine families through monthly visits to the homes of seeds, meetings with community leaders, coordinators of the seed houses, questionnaires and interviews with farmers and partners. The results demonstrated the inclusion of families and sensitivity to the development of conservation actions and environmental protection through the establishment of houses of seeds; integration of women and youth in family farming. It was noted the importance of seed houses in the backlands of Ceará in both family sustainability, improving the quality of life of families and the preservation of plant biodiversity through seed storage and diversification of their crops.

Key words: Creole, exchange, farmers, semi-arid, rescue.

Introdução

A história das sementes está associada à história da humanidade no que diz respeito á alimentação humana e animal. Ao longo de 12 mil anos atrás camponeses e agricultores familiares vêm selecionando e adaptando milhares de variedades no mundo todo como o milho, a mandioca, frutas e hortaliças conhecidas hoje. Neste processo contínuo de descobertas, e evolução de técnicas e práticas experimentadas por comunidades

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quilombolas, camponeses e indígenas encontram-se as sementes. Conta-nos a história que pela observação da capacidade que as sementes tinham e têm de germinar e produzir novas plantas descobriu-se assim á agricultura, sendo atribuída esta grande façanha ás mulheres que ao jogar ao redor de suas casas as sementes dos frutos colhidos passaram a germinar e nascer novas plantas que até então não existiam. (COMISSÃO PASTORAL DA TERRA, RIO GRANDE DO SUL, 2006).

No Brasil o surgimento da Agricultura remete à chegada dos portugueses, onde os povos indígenas, que viviam no litoral, alimentavam-se de caça e pesca marinha, abundantes na costa brasileira, consumia diversas raízes como mandioca, cará, além de praticar a caça no interior das matas. Com a chegada dos colonizadores europeus no século XVI, começa a devastação das vegetações litorâneas brasileiras, quando se deu início a exportação do pau-brasil e de outras culturas. Com a descoberta da agricultura os povos que antes eram nômades, passaram a fixar moradia, com isso surgem às primeiras vilas e posteriormente as cidades que conhecemos hoje, (VASCONCELOS, 2007).

No Ceará a preocupação com a questão das sementes surgiu por volta da década de 70, nos sertões de Crateús e Inhamuns, estimulado pelo então Bispo da Diocese de Crateús Dom Fragoso em virtude de perceber os grandes períodos de estiagens. Nesse período houve o início do programa de distribuição de sementes híbridas, fazendo com que os agricultores fossem perdendo a cultura de armazenar suas sementes, além de correrem o risco dos mesmos ficarem reféns das grandes empresas agrícolas produtoras de sementes. Por volta de 1987 que foi grande ano de seca o Esplar – Centro de Pesquisa Assessoria, promoveu debate com inúmeros agricultores familiares sobre a questão da seca e falta de sementes, surgindo assim o armazenamento comunitário de sementes, (PINHEIRO e PEIXOTO, 2004).

Após o final da segunda guerra mundial por volta do ano de 1950, iniciou-se um processo de modificação bastante acentuada em nossa agricultura, conhecida como modernização. As práticas e os insumos tradicionais foram substituídos por práticas e insumos produzidos pela indústria dos agroquímicos, agrotóxicos, máquinas e sementes. Como conseqüências deste processo, destacam-se a dependência dos agricultores, agricultoras em relação ás indústrias fornecedores de insumos, entre estes as sementes, e a perda da agrobiodiversidade na agricultura, (MEIRELES, 2006)

As variedades crioulas atendem a um dos princípios básicos da Agroecologia que é o de desenvolver plantas adaptadas às condições locais, capazes de tolerarem variações ambientais e ataque de organismos prejudiciais. Outro aspecto importante consiste na autonomia do agricultor, que pode coletar/armazenar as sementes destas variedades e replantá-las no ano seguinte, adquirindo maior independência do mercado de insumos e gerando um material que, com toda sua variabilidade genética, se torna cada vez mais vigoroso e adaptado ao seu tipo de solo e clima, (MENDONÇA, et, al, 2007).

As casas de sementes são organizações locais onde as sementes são armazenadas, visando auto-suficiência da comunidade no abastecimento, resgate e preservação de determinadas espécies importantes para agricultura familiar, (CORDEIRO, 1993).

Este trabalho teve como objetivo caracterizar o processo de implantação e gestão de casas de sementes comunitária, bem como, quantificar os impactos desta tecnologia

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social sobre a conservação da biodiversidade local das sementes crioulas no Noroeste do Ceará.

Metodologia

O trabalho foi conduzido nos municípios de Santana do Acaraú, Santa Quitéria, Massapê, Frecheirinha, Forquilha, Bela Cruz e Sobral na região Noroeste do Estado do Ceará durante o período de dezembro a fevereiro de 2010. Com o apoio da Cáritas Diocesana de Sobral, foi realizado levantamento sobre o número de casas de sementes na região, bem como processo de implantação e organização, das referidas casas de sementes. Os dados foram obtidos através de entrevistas mensais com os representantes das casas de sementes e coordenadores da Rede de Intercâmbio de Sementes da Zona Norte, agricultores e agricultores e agricultoras familiares sócios das casas de sementes e instituições parceiras, em reuniões nas comunidades rurais

As informações foram tabuladas em planilhas manuais elaboradas no Word ® a fim de diagnosticar o retrato das casas de sementes e o trabalho de manutenção e promoção do uso de sementes tradicionais.

Resultados e Discussões

De acordo com os dados foi verificado que mais de seiscentas pessoas estão envolvidas em trabalho de casa de semente em sete municípios da região Noroeste do estado do Ceará. (Figura 1).

Figura 1– Número de pessoas associadas ás casas de sementes levantadas em sete municípios da região Noroeste do Estado do ceará.

No estudo identificou-se que em termos percentuais, mais de 40%, ou seja, 12 unidades destas casas de sementes estão no município de Massapê (Figura 2). Isto se deve ao maior envolvimento das lideranças comunitárias e ao apoio do Sindicato dos trabalhadores rurais do município. Santana do Acaraú é o município que detém o segundo maior percentual em casas de sementes instaladas, sendo um dos lugares pioneiros nesse tipo de organização. Assim como em Massapê, o apoio do sindicato de trabalhadores rurais foi decisivo para o sucesso da implantação destas casas no

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município.

Figura 2 – Distribuição numérica e percentual das casas de sementes na região Noroeste do Estado do Ceará.

Verificou-se junto às associações que o processo de criação das casas de sementes foi democrático, ocorrendo sempre em reuniões ou assembléias específicas, onde foi decidida sobre o nome das casas de sementes, a organização das mesmas, a forma de participação de cada pessoa, família e grupo.

Nas comunidades levantadas constataram-se diversas mudanças quanto à sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida, entre as quais se podem citar:

*Agricultores familiares ficaram independentes da distribuição anual de sementes hibridas distribuída pelos governos para realizar seus plantios anuais;

* Venda de 3.000kg de sementes oriundas das casas, para outros municípios, para a criação de novas casas de sementes na Região Norte do Ceará com o apoio do Instituto Carnaúba;

* Elevada participação e inserção de agricultores, agricultoras e jovens no trabalho de organização comunitária de casas de sementes;

* Criação de 11 novas casas de sementes para comunidades que ainda não participavam de projetos;

* Ampliação dos estoques das casas de sementes com através de intercâmbios em feiras de sementes.

A implantação das casas de sementes é uma tecnologia social de grande relevância para os agricultores e agricultoras rurais, considerando que exerce papel importante na preservação do resgate não apenas das sementes, mas da cultura popular.

Finalmente, compreende-se que as casas de sementes têm atraído novos agricultores familiares e principalmente jovens e mulheres para modelos mais sustentáveis de produção e de convivência com o semi-árido, mostrando para os poderes públicos e para a sociedade a importância de manter o controle das sementes pelos próprios agricultores, como forma de assegurar a soberania alimentar de nossa população.

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Bibliografia Citada

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA-Rio Grande do Sul: Conhecendo e Resgatando Sementes Crioulas. Porto Alegre: Evangraf, 2006.112p.

VASCONCELOS, F. R; LIMA, J. S. Reflexões Sobre a Importância dos Princípios Agroecológicos na Recuperação de Áreas Degradadas Visando a Produção de Biodiesel: A Importância de Sistemas Agroflorestais. Monografia apresentada ao Curso de pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia, 2007. 53 p.

PINHEIRO, M; PEIXOTO L. Casas de Sementes Comunitárias e o Resgate da Diversidade de Sementes Locais no Ceará. Agriculturas, v1. Nº01, novembro de 2004.33p.

MEIRELES, L.R; RUPP, L. C.D (Coord.). Cartilha Agrobiodiversidade. Rio Grande do Sul. 2006. 83p.

MENDONÇA, M. R.; MENDES, N. M.; FERNANDES. Resgate, Produção e Conservação de Sementes Crioulas na Comunidade Rural São Domingos- Catalão-GO: Fórum Ambiental da Alta Paulista. Vol. III, 2007. CD-ROM.

CORDEIRO, A. FARIA A. A. Gestão de bancos de sementes comunitários. Rio de Janeiro. ASPTA, 1993.60p.

Referências

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