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ENTREVISTA TEMÁTICA COM KATIUSKA FLORENCIA SERAFÍN NIEVES E LUIZ CARLOS MARCHENA IBANEZ: IMIGRANTES VENEZUELANOS

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Academic year: 2021

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Resumo: a entrevista tematiza realidades de imigrantes venezuelanos no Brasil e na

América Latina. Entre as causas da imigração estão fatores econômicos e políticos. Informa-se sobre problemas e dificuldades no processo de desloca-mentos e obtenção do visto para permanência temporária ou permanente, mas também sobre manifestações de solidariedade com imigrantes e refugiados. Aponta-se para maiores incidências de discriminação e preconceito por conta da Pandemia de COVID-19, bem como para aumento da violência de gênero. A religiosidade de imigrantes consta como um dos fatores de consolo e resili-ência em processos migratórios.

Palavras-chave: Imigração venezuelana no Brasil. Preconceito. Solidariedade.

Religião. COVID-19.

–––––––––––––––––

* Entrevista feita via e-mail, em 05.06.2020, com o consentimento da(o) entrevistada(o): a venezuelana Katiuska Florencia Serafín Nieves. Mestre e Doutoranda em Ciências da Re-ligião (PUC Goiás). Bacharel em Teologia (Universidad Católica Andrés Bello, Caracas) e em Filosofia (Pontificia Universitá Salesiana, Roma). Especialista em Assessoria Bíblica (Faculdades EST) e Liturgia (IFITEG). Religiosa de São José de Tarbes e agente de pastoral da Diocese de Goiás. E-mail: katiuskaserafin@gmail.com. E com o venezuelano Luiz Carlos Marchena Ibanez. Médico com especialidade em cirurgia geral e laparoscopia. Membro de ECONINTECH e fundador do “Movimiento Libertad Venezuela”. E-mail: luisc.marchena@ gmail.com.

** Doutora em Filosofia/Teologia/Ciências da Religião (Universität Kassel), com pós-doutorado em Ciências Humanas (UFSC). Bacharel em Teologia (Faculdades EST). Professora na PUC Goiás (PPGCR). Pesquisadora Bolsista Produtividade CNPq. Líder do Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Religião, Gênero e Poder. E-mail: ivonirr@gmail.com.

ENTREVISTA TEMÁTICA COM KATIUSKA

FLORENCIA SERAFÍN NIEVES E

LUIZ CARLOS MARCHENA IBANEZ:

IMIGRANTES VENEZUELANOS*

Ivoni Richter Reimer**

E N T R E V I S T A S

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1. VOCÊS PODERIAM NOMEAR ALGUMAS CAUSAS QUE ESTÃO NA ORI-GEM DA CRISE MIGRATÓRIA DE VENEZUELANOS(AS)? COMO É A SITUAÇÃO DAS PESSOAS QUE SAEM DE LÁ E DAS QUE FICAM? RESPOSTA: A principal causa da migração dos venezuelanos é a crise econômica que

atualmente está vivendo o país, qualificada como a pior da história nacional e da história latino americana, causada principalmente pelas políticas econô-micas de Hugo Chávez e Nicolás Maduro fundamentadas na coletivização da propriedade privada e a imposição de uma economia controlada em sua tota-lidade pelo Estado. Isso trouxe como conseqüência a destruição do aparelho produtivo do país, o aumento do gasto público financiado pela renda petroleira e que ao mesmo tempo com a queda nos preços do petróleo levou o país a uma hiperinflação já que esse enorme gasto público foi financiado pela impressão de dinheiro pelo Banco Central de Venezuela sobrevindo o caos econômico que hoje se vive, porque tampouco conta com empresas privadas produzindo e criando outro tipo de renda e emprego. Assim, foi construída a Venezuela de hoje com um enorme aparato estatal com todas as empresas estatais falidas e uma moeda sem valor. Muitos dos venezuelanos que saem do país o fazem em situação econômica precária contanto com apoio no exterior ou se arriscando por conta própria criando-se as grandes concentrações na fronteiras dos países vizinhos Colômbia e Brasil. Para os que ficam no país a situação é precária porque não tem acesso aos serviços básicos como água, energia, gás, internet; devido às falhas constantes destes serviços uma cidade pode ficar 10 horas ou mais sem energia e a todo isto se acrescente a recente falta de gasolina e outros serviços empioraram como saúde e educação que foram diretamente impacta-dos pela situação do Covid-19.

2. QUAL É O PAÍS QUE MAIS ACOLHE IMIGRANTES VENEZUELANOS? E COMO SE APRESENTA HOJE O PANORAMA SOBRE A SITUAÇÃO MIGRATÓRIA DE VENEZUELANOS(AS) NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE?

RESPOSTA: O Informe do grupo de trabalho da Organização dos Estados

America-nos (OEA) para abordar a crise de migrantes e refugiados venezuelaAmerica-nos na região em Junho de 2019, afirma que os migrantes e refugiados venezuelanos se encontram em diversos países de América Latina e o Caribe, dentre eles menciona: Colômbia (1.3 millones), Perú (768.100), Chile (288.200), Equador (263.000), Brasil (168.300), Argentina (130.000), Panamá (94.400), Trinidad e Tobago (40.000), México (39.500), Guiana (36.400), República Dominicana (28.500), Costa Rica (25.700), Uruguai (8.600) e Paraguai (5.000). Observa,

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também, como em América do Sul países como Colômbia, Peru, Chile e Equa-dor concentram más da metade dos venezuelanos neste processo de mobili-dade; já no Caribe, os venezuelanos representam 15% da população total em ilhas como Curaçao (26.000) e Aruba (16.000). Dada a magnitude e gravidade da crise migratória dos venezuelanos o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) conjuntamente com outras organizações dos Estados afetados pela mi-gração criaram um Plataforma de Coordenação para refugiados e migrantes de Venezuela, nesta plataforma o número atualizado até maio de 2020 de ve-nezuelanos em situação de migração e refugio na região alcança os 5.095.283 de pessoas, tornando-se neste tempo a pior crise migratória no Ocidente, para além dos números é preciso enxergar biografias, pois os migrantes e refugia-dos carregam consigo historias de vida, costumes, cultura, jeitos de ser que faz com que os processos inter-regionais algumas vezes sejam difíceis e penosos. Brasil tem um destaque especial porque amparados na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951) é o país que mais tem reconhecido legal-mente a condição de refugiados aos venezuelanos (37.467 pessoas) seguido pelos Estados Unidos de América (9.206) e Equador (6.692), neste sentido per-manecem na espera de aprovação de solicitude da condição de refugiados no Brasil 129.988 pessoas. Existe outro estatuto migratório que, em razão da lei, outorga visto temporário e permanente para morar no Brasil, nesta condição encontram-se legalmente 123.507 venezuelanos. Também, no Brasil o proces-so de interiorização dos venezuelanos que ingressam pelo estado de Roraima – no qual se encontra a maior concentração dos deslocados venezuelanos – até abril de 2020 abrange 543 municípios de destino e um dado interessante sobre o perfil destas pessoas interiorizadas é que no último relatório apresentado, em maio de 2020, 84% estão acompanhados pelo seu grupo familiar.

3. QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES MIGRATÓRIAS E QUAIS SÃO DESAFIOS E DIFICULDADES ENFRENTADAS NO SEU PROCESSO MIGRATÓ-RIO NO BRASIL? QUAIS SÃO AS SUAS INTERSECÇÕES, TAMBÉM DE RELAÇÕES DE GÊNERO?

RESPOSTA: Já mencionávamos anteriormente a vulnerabilidade econômica dos

ve-nezuelanos migrantes e refugiados isto é um dado importante porque aumenta o grau de dificuldade que os venezuelanos enfrentam no processo de mobilida-de pela região, assim como sua inserção social e laborar. Alguns venezuelanos se deslocam sem a documentação necessária por causa da burocracia do Es-tado venezuelano e os altos custos nos trâmites, fazendo com que, em alguns casos, os venezuelanos se encontrem em uma situação de “indefinição legal”

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nos países onde se abrigam, gerando dificuldades para acessar aos serviços básicos, moradia, trabalho, etc. Nos países de destino os desafios enfrentados são também de natureza cultural, porque muitos venezuelanos denunciam a xenofobia da qual são objeto em alguns países latino americanos, durante a pandemia muitos foram despejados de sua moradia, em outros casos os vene-zuelanos são criminalizados ou sub-pagados nos seus serviços. A dificuldade de acesso a moradia tem gerado em alguns municípios uma população de rua migrante, como foi observada na praça cívica de Goiânia ou na mendicância na rua 10 entre a praça universitária e o setor central, alguns destas pessoas são indígenas venezuelanas do Estado Delta Amacuro. A mobilidade dos venezue-lanos a desvelado outros desafios sobre todo para quem fica entre fronteiras sejam colombiana ou brasileira que são os riscos provocados pela situação de vulnerabilidade, isto é o preconceito em geral com os venezuelanos, o despre-paro para acolhida nos abrigos da população LGBTQI+ venezuelana, o tráfico de pessoas para o trabalho escravo ou exploração sexual, as violência física e psicológica que impacta as pessoas, a quantidade de menores de 18 anos que é maior do que a suma de homens e mulheres no mesmo processo, o qual repre-senta um grande desafio social e político para os países que buscam proteger e acompanhar os venezuelanos levando em consideração a acessibilidade a educação e profissionalização deste grupo específico.

4. SABEMOS QUE CRESCEM AS DIFICULDADES NO CONTEXTO MUNDIAL DA PANDEMIA DE COVID-19. ISSO TAMBÉM ACONTECE COM MI-GRANTES E REFUGIADOS VENEZUELANOS(AS) POR AGUDIZAR AINDA MAIS A CONDIÇÃO DE VULNERABILIDADE?

RESPOSTA: Por uma parte, declarada a quarentena em alguns países de América Latina

e o Caribe trouxe a paralisação econômica dos venezuelanos, acumulando-se as dívidas do aluguel e outros serviços básicos que, em muitos casos, levo ao despejo dos venezuelanos e estes por sua parte decidiram fazer o caminho de retorno para Venezuela ficando parados nas fronteiras entre os países, acrescentando-se outros desafios no desabrigo como, por exemplo, maior índice de contagio da doença, dificuldades para acessar ao sistema de saúde, a violência sexual e de gênero que também foi reportada no Brasil, com aumento da violência doméstica que enfrentam as mulheres e crianças nos lares em tempo de isolamento social, muitos tem feito longas caminhadas entre o lugar em que se encontravam até a fronteira venezuelana, outros tiveram o apoio de governos municipais locais para locação de ônibus, mas sem permissão de atravessar fronteiras, um quadro bastante desolador para quem busca segurança. Por outra parte, a população que está organizada em abrigos, ao igual que o resto da população, precisou

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acrescentar medidas sanitárias e higiênicas pra conter a doença, mesmo assim pessoas em abrigos sempre estão em condição de maior vulnerabilidade. Alguns países como Peru e Chile os médicos venezuelanos migrantes foram chamados para servir nos hospitais mesmo sem a legalização local dos diplomas universitários, outras iniciativas como distribuição de alimentos, confecção comunitária de máscaras inclui venezuelanos em diversos países.

5. É POSSÍVEL PERCEBER SE A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA TEM CONTRI-BUÍDO DE ALGUMA FORMA PARA A RESILIÊNCIA E A ESPERANÇA DE MIGRANTES? COMO PODERIAM DESCREVER ISSO?

RESPOSTA: Na base das estatísticas apresentadas no informe sócio-gráfico sobre a

religião em Venezuela, para o ano 2012, 86% da população venezuelana se autodefine cristã, devemos levar em consideração que dentro desta nomencla-tura existem subdivisões de igrejas, seguido pelo grupo dos agnósticos ou sem religião que alcança 6%, outras religiões 2% e grupos minoritários como

San-teria (matriz africana) e judaísmo com 1%, se somamos todos os grupos

pode-mos perceber que de forma geral o sujeito venezuelano é um sujeito religioso, e que sem dúvida, pode ter encontrado nessa experiência força de vontade, esperança, motivação; no caso dos agnósticos ou sem religião encontramos uma forma de religião secularizada em que a utopia “de dias melhores” tem a força para mobilizar o individuo para superar as dificuldades, criar vínculos. Pensamos que uma experiência como esta, da migração forçada em condições mínimas favoráveis, possa ser enfrentada sem um apoio religioso que ajude e motive em todo o processo. É difícil não pensar que os venezuelanos que caminham para atravessar as fronteiras, e andam tantos quilômetros a pé com temperaturas que chegam a quase zero grau nas montanhas colombianas ou pela fronteira do Brasil a altas temperaturas não se vejam a si mesmos como uma similitude com a migração do povo hebreu que foge da escravidão faraô-nica no antigo testamento, de tal forma que as crenças e a própria fé da pessoa provocam resiliência, criam-se significados novos e coragem para mudar-se a outro país com outra cultura, e em alguns casos, com outro idioma. Algumas igrejas e denominações religiosas têm promovido iniciativas de acolhida e proteção aos migrantes venezuelanos, recriando em alguns casos o sentido da família pela comunidade religiosa que acolhe e cuida.

6. KATIUSKA, VOCÊ GOSTARIA DE EXPRESSAR MAIS ALGO?

RESPOSTA: Sim, gostaria de voltar naquilo que disse no começo, os migrantes e

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talvez ao estar frente a elas podemos-nos perguntas o que elas trazem na suas malas? Porque a violência da migração forçada começa na hora de escolher o que devemos ou não levar nessa mala, muita coisa foi deixada para trás, pois como disse uma senhora migrante: “Como poderiam caber 72 anos de vida numa mala de 23 kg?”

THEMATIC INTERVIEW: VENEZUELAN IMMIGRANTS

Abstract: The interview addresses the realities of Venezuelan immigrants in Brazil

and Latin America. Among the causes of immigration are economic and po-litical factors. It is also informed regarding the problems and difficulties in the process of displacement, as well as, how to obtain a visa for temporary or permanent stay, and, also all the expressions of solidarity with immigrants and refugees. It indicates a higher incidence of discrimination and prejudice due to the COVID-19 pandemic, as well as an increase in gender violence. The religiosity of immigrants is one of the factors of comfort and resistance in migratory processes.

Keywords: Venezuelan immigration in Brazil. Preconception. Solidarity. Religion.

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