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PROPOSTA DE ATIVIDADES COM ENFOQUE CTS PARA PROFESSORES DE QUÍMICA

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377 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p.377-388, 2012

PROPOSTA DE ATIVIDADES COM ENFOQUE CTS PARA

PROFESSORES DE QUÍMICA

PROPOSAL OF STS-FOCUSED ACTIVITIES FOR CHEMISTRY TEACHERS

Tomás Noel Herrera Vasconcelos

Universidade Cruzeiro do Sul/ tomas.vasconcelos@cruzeirodosul.edu.br Maria Delourdes Maciel

Universidade Cruzeiro do Sul/ maria.maciel@cruzeirodosul.edu.br Carmem Lucia Costa Amaral

Universidade Cruzeiro do Sul/ carmem.amaral@cruzeirodosul.edu.br Suely de Medeiros Onofrio Gama

Universidade Cruzeiro do Sul/ suely@mgtech.com.br

Alexandre de Souza

Universidade Cruzeiro do Sul/ alelanon@gmail.com

Jobert de Oliveira Neves

Universidade Cruzeiro do Sul/ jobert.neves@ig.com.br

Oton Café da Silva

Universidade Cruzeiro do Sul/ profoton@yahoo.com.br

Resumo

Entre os obstáculos epistemológicos para a implementação de uma abordagem CTS pelo professor de Química em sala de aula estão suas concepções sobre Ciência e suas relações com a tecnologia e a sociedade. Essas concepções, em geral, são provenientes de sua formação inicial. Desta forma, achamos importante investigar as concepções CTS de alguns professores de Química e propor atividades com abordagem CTS onde os professores/alunos desenvolveram sequencias didáticas com essa abordagem. A modalidade utilizada foi a pesquisa-ação colaborativa, com abordagem qualitativa. Foi demonstrada a importância de realizar ações concretas, com atividades que fornececem aos professores teorias e estratégias para uma aprendizagem contextualizada, na construção e reconstrução de saberes e formação do cidadão crítico e participativo. A

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elaboração pelos professores/alunos de proposta de sequência didática, a partir da reflexão crítica, discussão e autêntica colaboração em atividades, mostrou a importância dos cursos de formação e outras vias para a contextualização em Química da complexa relação CTS. Esta pesquisa reforça a opinião que esta modalidade é um processo formativo conjunto dos participantes, de troca de experiências, reflexões criticas, de elaboração de estratégias e produção de conhecimentos, que podem melhorar significativamente o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras chaves: CTS, professores, cursos de formação, atividades CTS.

Abstract

Among the epistemological obstacles for the implementation of a STS (Science-Technology-Society) approach by the Chemistry teacher in the classroom are his or her conceptions on Science, and the relationship with technology and society. These conceptions are generally formed in his or her early theoretical studies. Thus, we believe it is important to investigate STS conceptions of some Chemistry teachers and propose activities based on the STS approach where teachers/students would develop didactic sequences using this approach. The proposed modality was the collaborative research-action, with a qualitative approach. Therefore, it was possible to demonstrate the importance of performing concrete actions, with activities able to provide teachers with theories and strategies for a contextualized learning, in the construction and reconstruction of knowledge and development of a critical and participative citizen. The development by teachers/students of a proposal with didactic sequence ‒ from critical thinking, discussion and authentic collaboration in activities ‒ demonstrated the importance of training courses and other ways for contextualizing the complex STS relationship in Chemistry. This research reinforces the opinion that this modality is a joint development process of the participants, of experiences exchange, critical thinking, strategies formulation and knowledge production, which can significantly improve the teaching-learning process.

Keywords: STS; teachers; training courses; STS activities.

Introdução

Entre os obstáculos epistemológicos para a implementação de uma abordagem CTS pelos professores em sala de aula encontram-se suas ações, as quais são fortemente guiadas pelas concepções que os mesmos apresentam (FIRME; AMARAL, 2011).

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379 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p.377-388, 2012 Muitos problemas são apontados como impedimentos para a inserção da abordagem CTS no contexto da educação formal. Um deles caracteriza-se pela “pouca aceitação e envolvimento dos professores, uma vez que a sua formação inicial não contempla os vários aspectos desta nova abordagem para o ensino de ciências” (FONTES; SILVA apud ESTEVES, 2009, p.58) A abordagem CTS requer do professor uma perspectiva interdisciplinar e tempo para estudar e preparar suas aulas. Muitas vezes, esse professor se sente inseguro para a preparação das aulas e tem receio de ensinar menor número de conceitos científicos ao utilizar essa abordagem (ESTEVES, 2009), levando-o assim, a concepções e atitudes inadequadas em relação a essa abordagem.

Manassero e Vázquez (1998, 2001) realizaram pesquisas com professores de todos os níveis de ensino com o objetivo de identificar suas concepções e atitudes em relação a abordagem CTS. Esses autores aplicaram o Cuestionario de Opiniones sobre Ciencia Tecnologia e Sociedade (COCTS) e o resultado desse questionário mostrou que a formação dos professores é um fator crítico na alfabetização científico-tecnológica.

Maciel (2009) ao aplicarem o mesmo questionário COCTS com um grupo de estudantes de pós-graduação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) descreveram que “ para mudar as atitudes CTS de alunos e professores, é preciso investir em um ensino de ciências CTS e na formação de professores; nos recursos didáticos e nos currículos escolares” (p.51)

Santos, Amaral e Maciel (2010) salientam que, “ a experiência do professor, suas explicações e o direcionamento metodológico sobre o uso dos elementos CTS contribuíram de forma significativa para a abordagem mais sistemática dos temas sociocientíficos”( p.176 ).

De acordo com Marconde et al. (2009)

É preciso a participação ativa do professor discutindo, explicitando e refletindo sobre suas concepções, trocando ideias e experiências. Isto demanda orientação, pesquisa, ações que os auxiliem na elaboração de seus próprios projetos e colaboração conjunta na construção de materiais didáticos ( MARCONDE et al., 2009, p.282)

Uma vez que a formação inicial do professorado é um dos obstáculos para a implementação da abordagem CTS consideramos importante desenvolver uma pesquisa com professores de Química para avaliar suas concepções CTS prévias e posteriores a sua participação num curso de formação continuada com essa abordagem.

Metodologia

Neste trabalho utilizamos como modalidade a pesquisa-ação colaborativa, a qual de acordo com Reis, Damasceno e Maia (2005), todos os envolvidos na pesquisa (professores/pesquisadores e professores/colaboradores):

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380 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p.377-388, 2012 [...] participam como agentes de uma dada investigação. [...] Deste desejo inicia um trabalho que busca meios para envolver os professores em ações que transformem sua prática a partir da reflexão, não apenas sobre seu fazer pedagógico, mas, sobretudo como este poderia ser transformado. (REIS; DAMASCENO; MAIA, 2005. p. 4)

Thiollent (1996), salienta que a pesquisa-ação é uma investigação orientada a transformar uma realidade , uma atitude, valores ou crenças relacionada de forma direta com os sujeitos envolvidos no processo e define a mesma como:

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1996, p.14)

De acordo com Pinheiro (2011, p.9) “ a pesquisa colaborativa, como modalidade da pesquisa-ação tem como princípio básico o processo de colaboração entre os participantes, ou os colaboradores”.

É destaque na pesquisa colaborativa a valorização das opiniões dos participantes. Este aspecto é afirmado por Kemmis (1987, apud PINHEIRO 2011):

[...] entendemos que colaboração significa consenso, tomada de decisões comuns e de forma democrática para a realização de ações onde o co-participante busca refazer as práticas pelas quais interage, sendo “investigador e objeto de investigação de sua própria prática” (KEMMIS,1987, apud PINHEIRO,2011, p.9 ).

Segundo Nogueira-Martins e Bórgus (2004) a pesquisa é de base qualitativa e tem as seguintes características:

[...] busca uma compreensão particular daquilo que estuda; não se preocupa com generalizações populacionais, princípios e leis. O foco de sua atenção é centralizado no específico, no peculiar, buscando mais a compreensão dos fenômenos estudados. Isso não significa, entretanto, que seus achados não possam ser utilizados para compreender outros fenômenos que tenham relação com o fato ou situação estudada. (NOGUEIRA-MARTINS; BÓRGUS, 2004, p. 48).

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, realizamos um diagnóstico das concepções prévias dos sujeitos em relação à abordagem CTS. Para conhecer as mesmas, os sujeitos fizeram uma analise de tópicos de um Seminário Integrador sobre a Chuva Ácida na disciplina Química Ambiental. Estes tópicos foram previamente entregues pelo professor da disciplina e os sujeitos deveriam verificar se a abordagem CTS estava presente nos mesmos.

A proposta para o Seminário Integrador sobre a Chuva Ácida está apresentada no quadro 1.

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1 - Introdução: A poluição do ar. Os problemas locais e globais de poluição do ar.

2 - Características da chuva ácida: Conceito de pH. Expressão matemática do pH. Escala de pH. O pH da chuva ácida. Ácidos que originam a chuva ácida (fórmulas químicas e interpretação das mesmas). Equações de ionização desses ácidos.

3 - Ligação química destes ácidos e da água: Estrutura de Lewis destas substâncias. Geometria molecular. Polaridade das moléculas. Explicar a partir das forças intermoleculares, por que estes ácidos são solúveis em água. Importância desta propriedade na formação da chuva ácida.

4 - Causas relacionadas à formação da chuva ácida: Equações químicas balanceadas das reações. Interpretação qualitativa e quantitativa das equações químicas. Classificar os reagentes e produtos. Função química.

5 - Efeito tampão dos corpos de água: Explicar utilizando a equação química correspondente.

6 – Identifique os problemas originados pela chuva ácida. Mostre as equações químicas balanceadas das reações relacionadas com estes problemas.

7 - Descrever os fenômenos físicos e químicos associados à formação da chuva ácida e os problemas originados.

8 – A chuva ácida e a cidade de São Paulo. Problemas que origina.

9 – Descreva as medidas adotadas para o controle da chuva ácida e os aspectos legais. 10- Experimentos relacionados com a chuva ácida que podem ser realizados no Laboratório de Ensino de Química. Colocar título, objetivos, introdução teórica, materiais, reagentes, procedimento experimental e figura dos experimentos. Descreva detalhadamente a estratégia de ensino a ser adotada.

11-Cálculos estequiométricos relacionados com a chuva ácida.

Quadro 1 – Proposta do Seminário Integrador sobre Chuva Ácida.

Orientamos alguns artigos com enfoque CTS para auxiliar na analise do Seminário. Entre esses artigos estão os dos autores Manassero y Vázquez (1998, 2001), Maciel et al. (2009), Marcondes (2009) e Santos, Amaral e Maciel (2010).

Posteriormente foi realizada uma intervenção a partir de atividades na disciplina CTS do Mestrado de Ensino de Ciências, onde participaram como alunos, os professores, sujeitos desta pesquisa. Essa disciplina tem uma carga horária de 25 Hs. Foram utilizados como recursos didáticos: artigos, textos e livros paradidáticos, aulas expositivo-dialogadas, debates, reflexões críticas e troca de experiência.

A avaliação das concepções CTS posteriores a participação dos sujeitos no curso de formação, foi realizada a partir da elaboração de uma sequencia didática.

As aulas não se limitaram apenas aos estudos teóricos, envolveram ações concretas. Os formandos deste curso de CTS ministraram aulas com este enfoque em cursos de graduação, na disciplina optativa CTS.

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382 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p.377-388, 2012 Sujeitos da Pesquisa

Esta pesquisa tem como sujeitos três professores. São estudantes do Mestrado de Ensino de Ciências, professores em exercício e atuam em duas modalidades: Ensino Médio e Superior. Tem graduação na área de Química.

Pessôa, Jubitipan e Delgado (2009) salientam a importância da incorporação dos professores de ensino básico a grupos de pesquisa da universidade e a coautoria dos mesmos na pesquisa- ação colaborativa:

A inclusão do professor da escola básica no universo da pesquisa é questão controvertida e em pleno debate no meio acadêmico. A oportunidade de trabalho coletivo que incorporou professores de uma escola municipal no Rio de Janeiro a um grupo de ensino de Física da universidade nos possibilitou vislumbrar a ressignificação da função de um professor de Ciências (co-autor deste trabalho) por ele próprio, agora passando a incluir a pesquisa sobre a construção de conhecimento pelos alunos em sua prática como docente. (PESSÔA, JUBITIPAN; DELGADO, 2009, p.1)

Nesse sentido, Lüdke (2001, apud LIMA 2005, p.241) afirma que:

[...] é fundamental que os acadêmicos assumam uma nova postura para que às pesquisas realizadas pelos professores seja dado o mesmo tratamento das pesquisas universitárias, de maneira que se estabeleça relação verdadeiramente colaborativa entre ambas, em termos de co-autorias dos professores nas pesquisas educacionais.(LÜDKE 2001, apud LIMA 2005, p. 241).

Resultados e discussões

Analises critica dos professores/ alunos (sujeitos) dos tópicos de um seminário sobre a chuva ácida

O quadro 2 mostra a análise dos três professores/alunos em relação a proposta do seminário integrador.

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Análise crítica numa perspectiva CTSA

O Seminário Integrador por si só já constitui um fundamento essencial do enfoque CTSA, a sociedade. Ao favorecer o trabalho em grupo de alunos, priorizando a condição de comunidade de educandos, as atitudes no interior do grupo, no desenvolvimento do trabalho visam o bem comum. Para isso, faz necessário que os alunos tomem conhecimento dos avanços científicos e tecnológicos no entendimento da problemática em questão. O mau uso da ciência e tecnologia constitui-se muitas vezes no principal gerador de impactos socioambientais, e por que não dizer socioeconomicoambientais, e ao recorrer aos conteúdos científicos tecnológicos, pode-se promover seu uso como antídoto, favorecendo “desrotulação” da ciência, em especial a Química como a grande vilã dos problemas ambientais.

A chuva ácida poderia ser tomada como um tema gerador na organização dos conteúdos escolares, uma vez que para entender e buscar soluções, lança-se mão de vários conceitos químicos que vão desde o potencial hidrogeniônico (pH), até as reações de formação e equilíbrio. Porém, é necessário a contextualização do tema para que a abordagem CTSA ocorra, apresentando-se o tema por meio de um problema a ser resolvido, com base nos conteúdos ensinados. Para que o aluno dê significado ao conteúdo, poderiam ser solicitadas coletas de água de chuva, em diferentes regiões, mais ou menos poluídas, afim de se proceder uma medida de pH com os alunos, fazendo com que os mesmos procurem explicar as diferenças encontradas nas medições.

O conhecimento prévio do aluno é algo que não pode ser ignorado, é um importante aliado no ensino, uma vez que possibilita a identificação de conceitos que o aluno traz, cientificamente certos ou não, mas caracteriza-se como ponto de partida para agregar, reformar aquilo que já conhece, ou fazer com que o próprio aluno questione, contradiga e reformule seus conceitos.

A abordagem de problemas reais favorece a conexão daquilo que se aprende em sala de aula com o cotidiano do aluno. Portanto, o estudo de caso, ou mesmo a simulação/experimentação é uma importante aliada no processo de aprendizagem.

No enfoque social, as questões da quantidade de áreas verdes na cidade, os impactos na agricultura e geração de alimentos causados pela chuva ácida e o conseqüente aumento dos preços em decorrência da pouca oferta, são exemplos de situações que podem ser colocadas ao aluno de forma a visão crítica, posicionamento diante do problema e tomada de decisão.

Quadro 2 – Texto dos professores ao realizarem a análise do Seminário Integrador.

Para realizar uma análise do texto acima foram utilizadas três categorias propostas por Cardoso (2005 p.73, 83-84):

1. O Pensar dos professores na aproximação do contexto ( contextualização), consta de duas categorias:

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a) O distanciamento das situações-problema cotidianas.

b) O distanciamento do conteudismo.

2. A barreira ideológica. Caracterizada pela negativa de trabalhar abordagem temática, argumentando falta de tempo ou razões que dependam de outras pessoas.

De modo geral os professores/alunos relacionam o tema chuva ácida a conceitos científicos, tecnológicos e sociais. Entretanto, faltou clareza no relacionado com o enfoque CTS e em particular com a educação cidadã, aspecto de destaque da contextualização na abordagem CTS.

Segundo Acevedo (1966, apud MARCONDES et al., 2009)

Contextualização como entendimento crítico de questões científicas e tecnológicas relevantes que afetam a sociedade é característica do movimento CTS. O ensino de Ciências nesse enfoque tem a função de preparar os futuros cidadãos para participarem ativamente no processo democrático de tomada de decisões na sociedade. [...] e tomar decisões relativas às questões com as quais se deparam como cidadãos. (ACEVEDO 1966, apud MARCONDES et al,2009, p.285).

Faltou, no seminário proposto pelo professor da disciplina e na análise dos professores/alunos, um enfoque crítico e histórico de fatores políticos, sociais, econômicos e éticos e suas relações com a ciência, a tecnologia e a sociedade e das políticas públicas que tem contribuído para a degradação do meio ambiente e em particular a formação de chuva ácida. Nesse sentido Humer (1992 apud Cardoso 2005) esclarece como poderia ser o posicionamento e tomada de decisão do cidadão:

Por isto, a pressão governamental precisa ser intensa e os grupos sociais interessados numa efetiva redução da poluição devem participar diretamente das agências que cuidam do meio ambiente na administração pública. [...] Somente quando as consequências da chuva ácida forem amplamente conhecidas, a pressão social conseguirá vencer a inércia das indústrias e governos. (HUMERES, 1992, apud CARDOSO, 2005; p.93). Nos tópicos do seminário proposto (quadro 1) faltou a contextualização nesse sentido, do enfoque CTSA. Cardoso (2005, p.121) constatou na pesquisa que realizou, “ a predominância de práticas descontextualizadas, na aproximação que se empreendeu junto ao grupo de quinze professores” de Química.

Na análise realizada pelos professores/alunos, não existe “o conteudismo, considerado como a ênfase e relevância no ensino de conceitos, sem relação alguma com o cotidiano dos alunos, é assumido como um retrocesso, por contribuir à passividade dos mesmos”(CARDOSO, 2005, p. 79).

Os professores concordam sobre a importância da abordagem com temáticas ambientais no ensino de Química e em particular a inclusão do tema chuva ácida. Em

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relação com esta categoria, Cardoso (2005, p.121) considera nos estudos realizados que “os resultados sinalizaram para um grupo de professores relativamente abertos à questão da abordagem temática do ensino de química, mas estes demonstraram não vislumbrar o potencial da mesma para uma “leitura crítica do mundo” .

Elaboração da sequencia didática pelos professores/alunos.

Foi apresentada pelos professores uma proposta da seguinte sequencia didática: Ciência, Tecnologia e Sociedade: Bebidas Alcoólicas, Química e Sociedade.

De acordo com Zabala (1998, p.18) sequências didáticas são “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”

Nesse sentido a sequência didática proposta neste trabalho tem como objetivo contribuir para que os alunos desenvolvam um espírito crítico em relação às bebidas alcoólicas, através de conhecimentos científicos e tecnológicos, e seus efeitos no corpo humano, na sociedade e os problemas ambientais associados a produção de bebidas. Para atingir este objetivo foram realizadas aulas em diversos tópicos que serão explicados posteriormente.

Foram planificadas 9 aulas com 1h40min cada.

Público alvo: Alunos da 3ª ano do Ensino médio de uma escola estadual.

1ª Aula: Contextualizar o álcool

Sensibilização: Carta para sua mãe, de uma adolescente que sofreu um acidente de transito, originado por um motorista que dirigia sob os efeitos de bebida alcoólica.

Após esta leitura – feita pelo professor – iniciar o trabalho. a) Objetivo da sequencias didática.

b) Apresentação da sequência didática aos alunos.

c) Leitura do texto da Revista Veja, de 10 de Agosto de 2011, sobre a estatística feita com análises de dosagem alcoólicas e o perigo. .

Comentários: Fazer com os alunos uma tormenta de ideias e anotar tudo que eles falarem sobre alcoolismo, seguindo com a construção do mapa conceitual.

b) Comentários: Voltar ao quadro negro e fazer novas anotações tentando abordar o caráter da legalização da bebida e as características econômicas.

c) Após os comentários entrar com o contexto histórico e social da bebida.

2ª Aula: Aula expositivo-dialogada e experimental. Função álcool, estrutura. propriedades,

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386 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p.377-388, 2012 3ª Aula: Produção do álcool etílico ou etanol. Etapas. Determinação experimental do teor

de álcool em bebidas alcoólicas

4ª Aula: Estudo da fermentação. Aula expositivo-dialogada e experimental. 1ª parte do

experimento

5ª Aula: Destilação do álcool etílico na indústria e no laboratório. Aula expositivo-

dialogada e experimental. Álcool biocombustível. Vantagens e desvantagens. Problemas ambientais associados ao uso do álcool. Relação entre os aspectos, políticos, econômicos, éticos, ambientais e as políticas publicas que contribuem a degradação do meio ambiente na produção do álcool e bebidas alcoólicas. Discussões e reflexões.

6ª Aula: Aula experimental. Determinação do teor alcoólico do destilado. Estudo

comparativo com o teor de álcool no fermentado.

7ª Aula: Como o álcool destrói o organismo, as famílias e a sociedade. Bebidas

alcoólicas. Efeitos do álcool sobre o organismo humano. Relação com vandalismo e agressão física (verbal ou sexual), acidentes de trânsito e doenças. Alcoolismo. Estatística.

8ª Aula: Visita a uma usina de açúcar de cana.

Será realizada uma visitação a uma usina de produção de álcool.

Para que os alunos aproveitem melhor esta visita, será realizado anteriormente um estudo do meio, no qual levantaremos todos os aspectos que devem ser observados mais atentamente durante a visitação.

Nesta etapa desenvolveremos um trabalho interdisciplinar, envolvendo professores de outras matérias, entre elas:

 Geografia – Climatização, transgênicos e agrotóxicos;  História – Olhar na historia da produção do açúcar de cana.;  Biologia – Genética, vegetação, meio ambiente;

 Português – Leitura e interpretação de textos;  Matemática – Cálculos estatísticos;

 Sociologia – Os problemas do álcool e a sociedade.

9ª Aula: Avaliação.

A elaboração pelos professores/alunos desta proposta de sequência didática na abordagem CTS, a partir da reflexão critica, discussão e autêntica colaboração em atividades, demonstra a importância dos cursos de formação e outra vias para a contextualização em Química da complexa relação ciência, tecnologia e sociedade, ou seja, para contribuir na formação dos alunos de valores, atitudes, crenças e participação crítica na sociedade.

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Considerações finais

Ficou evidente nesta pesquisa que a formação científica, técnica e pedagógica do professor e a utilização de enfoques inovadores, são fatores de destaque no processo ensino-aprendizagem e em particular na implementação da educação CTS.

Nesse sentido, é importante realizar ações concretas, como as atividades realizadas neste trabalho, para conhecer as concepções prévias dos professores e fornecer-lhes teorias e estratégias para uma aprendizagem contextualizada na abordagem CTS, na construção e reconstrução de saberes e formação do cidadão crítico e participativo.

Esta pesquisa ação-colaborativa reforça a opinião que a pesquisa desta modalidade é um processo formativo conjunto dos participantes, de troca de experiências, reflexões criticas, de elaboração de estratégias e produção de conhecimento que podem melhorar significativamente o processo de ensino-aprendizagem.

Referências

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Professores de Química em Criciúma (SC). Dissertação de Mestrado. Programa de

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Referências

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