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TURISMO RURAL, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RISCO: ESTUDO DA PERCEPÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS DE EMPREENDEDORES DE TURISMO RURAL NA BACIA DO RIO VERDE

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Academic year: 2020

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PERCEPÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS DE EMPREENDEDORES DE TURISMO RURAL NA BACIA DO RIO VERDE

PRISCILA CAZARIN BRAGA1

Mestranda em Educação (UFPR).

JOSÉ EDMILSON DE SOUZA-LIMA2

Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR).

CLÁUDIA CRISTINA MACHADO3

Mestre em Organizações e Desenvolvimento (FAE-PR).

SANDRA MARA MACIEL-LIMA4

Doutora em Sociologia (UFPR).

REGINALDO SOUSA SILVA5

Aluno da Especialização em Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR).

Resumo

Este artigo deriva de um estudo das percepções de risco ambiental dos moradores e empreendedores de turismo rural de três colônias polonesas da Bacia do Rio Verde, situadas na Região Metropolitana de Curitiba, no Paraná e ameaçada pela eutrofização. Tomando como referência a teoria social do risco, o artigo verifica possíveis aproximações e/ou distanciamentos entre a referida teoria e a percepção de risco ambiental de habitantes da Bacia. Conclui que há mais distanciamentos do que aproximações entre a percepção dos habitantes e os pressupostos da teoria social de risco. Além disso, fornece subsídios para um programa de educação ambiental a ser discutido, elaborado e implantado na região por meio do Projeto sobre Eutrofização de águas na Barragem do Rio Verde.

Palavras chave: Sociedade de Risco, Percepção, Turismo Rural e Educação Ambiental.

Abstract

This article is derived from a study of the perceptions of ambient risk of the inhabitants and entrepreneurs of agricultural tourism of three Polish colonies of the Basin of the Green River, situated in the Metropolitan Region of Curitiba, the Paraná and threatened by the eutrofization. Taking as reference the social theory of the risk, the article verifies the possible approaches and/or distances between the related theory and the perception of ambient risk of inhabitants of the Basin. It concludes that it has distances more of what approaches between

1 Turismóloga. Membro do Grupo de Pesquisa em Epistemologia Sociedade e Ambiente – CNPq/FAE. pri13luas@yahoo.com.br

2 Sociólogo. Professor e pesquisador do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE e do Doutorado

em Meio Ambiente e Desenvolvimento (MADE-UFPR). Líder do Grupo de Pesquisa em Epistemologia Sociedade e Ambiente – CNPq/FAE. edmilson@ufpr.br

3

Bacharel em Comunicação Social (UERJ) e membro do Grupo de Pesquisa em Epistemologia Sociedade e Ambiente – CNPq/FAE. claudiacristina.machado@hotmail.com

4 Economista e Mestre em Administração (UFPR) e Membro do Grupo de Pesquisa em Epistemologia

Sociedade e Ambiente – CNPq/FAE. sandralima@ufpr.br

5 Biólogo (Universidade Cruzeiro do Sul) e Membro do Grupo de Pesquisa em Epistemologia Sociedade e

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the perception of the inhabitants and the estimated ones of the social theory of risk. Moreover, it supplies subsidies a program of ambient education to be argued, to be elaborated and implanted in the region by means of the Project on Eutrofization of waters in the Barrage of the Green River.

Key Words: Risk society; perception; agricultural tourism; ambient education.

Introdução

Nos últimos tempos vivenciamos mudanças aceleradas, crises financeiras,

aquecimento global e mudanças climáticas, crise da água, guerra, violência urbana, fome, entre outros, todos esses acontecimentos, anunciados aos quatro cantos do mundo, certamente despertam a preocupação e reflexão de cada um. Assim as tentativas de entendimento sobre essas transformações direcionam os estudiosos a questionar os comportamentos e decisões da

própria sociedade nos últimos séculos. Neste sentido, destacam-se algumas das características da modernidade, período que

acelerou a geração de riscos – na perspectiva de Beck, 2002 – assombrosos à própria sociedade. A industrialização, a divisão do trabalho e o pleno emprego, os estados-nação, a racionalização, o uso indiscriminado dos recursos naturais, os grandes avanços na tecnologia e as questões de gênero, demonstram ser as características que, agrupadas, construíram e ainda constituem os modelos sociais vivenciados e também são responsáveis pela geração dos riscos.

A industrialização por sua vez corresponde ao processo iniciado na Europa por volta do século XVII e se estende até os dias de hoje expandindo suas influências para além fronteiras, no mundo todo, a proliferação das indústrias instituiu o sistema de divisão do trabalho, fator que determinou transformações em grande escala.

Surge ao mesmo tempo a individualização que produz sujeitos reféns dessa estrutura, os quais estão atrelados ao pleno emprego e a necessidade constante de aperfeiçoamento através dos processos de qualificação e educação. Beck (2002) argumenta que o sistema de valores entra em decadência, comprometendo estruturas como a família, eclodindo questões de gênero e transformações nos comportamentos. Passa-se a conviver com a insegurança generalizada em relação ao futuro.

De acordo com Beck (2002), as conseqüências geradas pelo modo de produção industrial, disseminadas por intermédio da globalização, são os determinantes da atual crise socioambiental, ele aponta que o surgimento da sociedade do risco, nada mais é do que o

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envelhecimento da sociedade industrial e que a transição de uma para outra é involuntária e imperceptível.

Para Morin (2007, p.70), os riscos são a herança de morte gerada pelo século XX, pois esse “pareceu dar razão à fórmula atroz segundo a qual a evolução humana é o crescimento do poderio de morte”. Ele acredita que o século XX foi responsável por dois novos poderes de morte, as armas nucleares e a possibilidade de morte ecológica. A primeira, assombrando pela sua capacidade de extinção global e a segunda, acompanha as conseqüências geradas pela dominação da natureza pela técnica que “conduz a humanidade ao suicídio” (MORIN, 2007, p.71).

De acordo com Floriani e Knechtel, (2003, p.13)

As crises sócio-ambientais modernas trazem a marca das sociedades de risco, contestando uma série de valores até então pouco questionados: o progresso, a utilização desenfreada dos recursos naturais, o crescimento econômico continuado, o aumento progressivo de consumo material de algumas sociedades afluentes, em detrimento da imensa maioria do planeta, o agravamento de situações de epidemia, de fome, de guerras, de escassez de água, de desmatamento irrefreável, de mudanças climáticas dramáticas, de violência urbana, de drogadicção e conseqüente anomia social...

Observando as contribuições de Gadotti (2000, p.131), visualiza-se que a globalização, impulsionada pela tecnologia, tem sido determinante na existência das pessoas. Seus impactos catastróficos giram em torno do desemprego, da perda de autonomia de Estados e nações e a exacerbação das diferenças entre os mais ricos e os mais pobres.

Os principais exemplos de tecnologias atreladas à produção de risco, apresentados por Beck (2002) são: a energia nuclear, a biotecnologia e a indústria química. Tais criações seguem a lógica da produção de riscos à proporção que suas conseqüências são incomensuráveis, atingem a todos, geralmente são silenciosas, invisíveis e imprevisíveis, estão fora do sistema de controle criado pela própria sociedade, que não podem ser monitoradas por companhias de seguros, por exemplo. Outra importante característica destes riscos é que suas implicações são atemporais, pois são capazes de provocar um deslocamento na relação entre o tempo e o espaço, podem atingir pessoas que estão a milhares de quilômetros do local onde foram produzidos em uma época longínqua à sua produção. Parece fundamental associar a fabricação destas novas tecnologias à produção de incertezas.

Neste contexto é importante destacar que a produção de riscos na sociedade industrial está atrelada às decisões tomadas pelo conjunto de instituições descritas por Beck (2002) no contexto de uma sinistra “Irresponsabilidade Organizada”. Ele afirma que a sociedade criou um sistema de normalização simbólica que legitima as práticas de destruição da natureza. A conjunção entre os investimentos industriais em novas tecnologias, produzidas pelos

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cientistas, e normalizadas pelos estados governamentais, gera os riscos que assombram hoje a humanidade.

O autor em questão aprofunda esta discussão indicando que o conjunto das instituições, geradoras de riscos por meio de suas decisões, envolvidas por seus interesses, costuma encobrir e ignorar as conseqüências de suas criações, visto que o sistema de controle por meio do princípio da causalidade não consegue abranger tais riscos.

Os riscos gerados a partir das decisões em favor das megatecnologias, como mencionados acima podem ser convertidos em perigos relacionados à destruição ecológica como o surgimento do buraco na camada de ozônio, a crise da água, as mudanças climáticas e os riscos imprevisíveis advindos da manipulação genética.

Porém, a discussão desses teóricos concorda que as sucessivas crises têm fundamento na maneira como se produz conhecimento, nesse sentido para Leff (2001, p. 217):

A crise ambiental não é crise ecológica, mas crise de razão. Os problemas ambientais são fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí podem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve passar por uma política do conhecimento -, e também para a educação. Apreender a complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagem do meio, e sim de compreensão do conhecimento sobre o meio.

Destaca-se o entendimento de que a forma de produção de conhecimento por meio da racionalização contribuiu para legitimar as práticas da modernidade, nesse contexto vale visualizar as contribuições de Floriani e Knechtel (2003, p.48),

A ciência ao apresentar-se como a forma dominante de explicação do mundo, torna-se uma ideologia. Ela parece combater ilusões, mas às vezes é incapaz de combater suas próprias ilusões. Ela se tornou uma das principais forças produtivas das sociedades modernas, institucionalizando-se e tornando-se a principal forma de organização. A ciência tornou-se uma forma cultural de representar e controlar o mundo. A crise das sociedades atuais, nessa perspectiva não é apenas de destruição pela instrumentalidade técnica. É uma crise da racionalidade, do entendimento segmentado do mundo.

Nesse contexto, Morin, confirma a relação estreita entre a produção de ciência e o crescimento econômico, além disso, ele acredita que o caráter exponencial do crescimento econômico origina um “processo multiforme de degradação da psicosfera, de nossas vidas mentais, afetivas, morais” ao mesmo tempo em que desencadeia um “processo multiforme de degradação da biosfera e tudo isso tem conseqüências em cadeia e em anel” (MORIN, 1995, p.67).

Inserem-se nesta discussão as contribuições de Latour (2004, p.39-53), para quem as crises ecológicas não são crises da natureza, mas crises da objetividade. A sociedade do risco traz consigo objetos produzidos inicialmente como limpos, porém, escondem as incertezas da

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modernidade. Esses objetos limpos eram produzidos por pesquisadores, engenheiros, administradores empresários e técnicos, os quais o inseriam no mercado e se retiravam do processo. Os objetos estariam sujeitos às nuances desse “universo diferente” (mercado) com seus “fatores sociais”, interferências políticas e “aspectos irracionais”. Portanto, poderiam gerar conseqüências previstas ou não, característica marcada por Beck, para o risco. Essas conseqüências não imaginadas poderiam determinar diversos “riscos insensatos” até mesmo cataclismas. No entanto, os seus produtores já não seriam responsabilizados pelas conseqüências. Vale destacar em Latour (2004, p.52) que ele acredita que “o melhor meio, para nós, de caracterizar as crises ecológicas é reconhecer, em muitos objetos limpos a proliferação destes vínculos de risco”.

Assim, tendo em vista que as relações da sociedade com o meio estão gerando esgotamentos de todas as ordens, insere-se a principal discussão deste estudo, o processo de eutrofização na bacia do Rio Verde, especialmente no reservatório do Rio Verde e observa-se que:

os tipos de atividades humanas influenciam diretamente na qualidade das águas. Em função destes usos, ocorrem o transporte e o lançamento de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo para os ambientes aquáticos aumentando os riscos de eutrofização (XAVIER, DIAS E BRUNKOW, 2005, p.274).

De acordo com Xavier, Dias e Brunkow (2005, p.273-284) entende-se por eutrofização (eu=bem; trofo=comida), a concentração de nutrientes na água que progressivamente caminha para a degradação e perda da qualidade do corpo aquático. O processo de eutrofização é um processo natural, no entanto a ação antrópica acelera a ocorrência artificial. Ela atinge principalmente lagos e corpos rasos de água, no entanto, também pode ocorrer em represas e rios, basta que estes sejam enriquecidos com nitrogênio e fósforo. Decorre da eutrofização uma expressiva proliferação de plantas aquáticas que modificam o corpo da água, comprometendo sua utilização mais diversa (recreação, abastecimento público etc.).

Segundo Odum (1983, p.434),

a eutrofização, promovida pelo excesso de nutrientes, provoca a proliferação das algas microscópicas que vivem próximas à superfície. Com isso, forma-se uma camada de algas de alguns centímetros de espessura, que impede a penetração de luz na água e, portanto, a realização de fotossíntese nas camadas mais profundas. Levando a morte as algas que estão abaixo da superfície. A grande quantidade de algas mortas favorece o aumento das bactérias decompositoras, que passam a consumir muito oxigênio para a realizar a decomposição. Ou seja, começa a faltar oxigênio na água, o que provoca a morte de peixes e outros organismos aeróbicos (o oxigênio produzido pelas algas da superfície escapa quase todo para o ar, em vez de dissolver-se na água). Com a falta de oxigênio, a decomposição da matéria orgânica,

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que inicialmente era aeróbica, passa a ser anaeróbica, levando à produção de gases tóxicos, como o gás sulfídrico (H2S).

Ricklefs (1996, p.470) sintetiza a sequẽncia dessa cadeia como “proliferação e morte das algas; proliferação de bactérias aeróbicas; queda na taxa de oxigênio; morte dos aeróbios; decomposição anaeróbica e produção de gases tóxicos”.

A concentração desses nutrientes é provocada especialmente pela ação humana sobre as águas, assim os modelos de atividades humanas, ao longo das bacias hidrográficas influenciam diretamente na sua qualidade. Quanto maior o transporte de nutrientes (nitrogênio e fósforo) até o corpo da água, maior o risco de eutrofização. Dentre as causas da eutrofização artificial há fontes de nutrientes pontuais provenientes da contaminação em determinado local como esgotos e efluentes industriais. Há também fontes não pontuais, as quais decorrem do lançamento generalizado de nutrientes a partir do escoamento da água da chuva e das atividades agropecuárias (XAVIER, DIAS E BRUNKOW, 2005).

Com base nos Planos Diretores dos municípios, no caso específico do Rio Verde observa-se que a grande parte da porção urbana da bacia não possui rede coletora de esgoto. Em Campo Magro na Área de UTP (Unidade Territorial de Planejamento) este fato abrange 100% (cem por cento) da localidade, em Campo Largo encontram-se grandes porções urbanas sem coleta e tratamento de esgoto e em Araucária a bacia está inserida em áreas predominantemente rurais, portanto, não possui rede coletora de esgoto.

Portanto, a relação direta entre a ação humana e o comprometimento da bacia hidrográfica do Rio Verde aproxima-se da discussão da Sociedade do Risco. É importante ressaltar que processos como a eutrofização, relacionados à crise da água, podem comprometer a vida de muitas populações, tanto animais, vegetais e especialmente da vida humana. Desta forma, tendo em vista que a eutrofização está relacionada também às atividades humanas, a região caracteriza-se como uma área de risco e pode ser analisada tendo por base os entendimentos do sociólogo alemão Ulrich Beck que desenvolveu primeiramente a teoria sobre a sociedade do risco, como foi observado anteriormente.

A Bacia do Rio Verde localizada na porção oeste da Região Metropolitana de Curitiba, abrange em sua extensão parte dos municípios de Campo Magro, Campo Largo e Araucária, alimenta um reservatório de abastecimento da Petróleo Brasileiro S.A (PETROBRAS) e também serve como fonte de abastecimento urbano explorada pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Recebeu a instituição da APA - Área de Proteção Ambiental Estadual do Rio Verde, a qual foi criada mediante o Decreto Estadual n° 2.375, de 31 de julho de 2000, com área total de 147,56 km². Porém, o Rio Verde e seus

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beneficiários estão ameaçados pelo risco da eutrofização6, potencializada pelas atividades humanas desenvolvidas na bacia. A eutrofização, de acordo com Xavier, Dias e Brunkow (2005) consiste na concentração de nutrientes no corpo aquático o que pode acarretar a perda de qualidade da água e assim, a queda na biodiversidade e nas possibilidades de utilização. É importante destacar que a eutrofização é um fenômeno natural que, entretanto, pode ser acelerado pela interferência humana, provocando assim a rápida degradação do corpo aquático.

Cabe aqui enfatizar que este artigo expõe relações entre o turismo rural, o risco ambiental e a educação ambiental, por meio do estudo da percepção de risco ambiental de moradores e empreendedores de turismo de três Colônias Polonesas, inseridas na Bacia do Rio Verde, nos municípios de Campo Magro e Campo Largo, realizado durante o ano de 2008.

Metodologia

Este artigo apresenta dados extraídos da monografia de conclusão do Curso de Especialização em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR, concluída em setembro de 2008 (BRAGA, 2008), e que se configura como primeiro resultado do sub-projeto sob o título “Percepção do risco ambiental de habitantes da bacia hidrográfica do Rio Verde e desenvolvimento local”, coordenado peloProf. Dr. José Edmilson de Souza-Lima (2008) e vinculado à área temática “Sócio-economia e Educação Ambiental” do Projeto Interdisciplinar sobre Eutrofização de Águas no Reservatório do Rio Verde, patrocinado pela Petróleo Brasileiro S.A (PETROBRAS) e desenvolvido em parceria com outras instituições de ensino superior e empresas estatais como a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) e a Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER).

A pesquisa desenvolvida tem caráter qualitativo o qual pode ser trabalhado utilizando-se de várias ferramentas. De acordo com Gil (citado por ANDRADE, 2008) o emprego de elementos como a observação de atividades do grupo a ser estudado, a realização de entrevistas, com a finalidade de interpretar os comportamentos dos sujeitos e colher suas explicações, compõem a base da pesquisa qualitativa.

Foram desenvolvidas as seguintes atividades dentro desta perspectiva, tendo em vista os moradores de três Colônias Polonesas inseridas na Bacia, a Colônia Figueiredo, a Colônia Dom Pedro II e a Colônia Rodrigues, localizadas entre os municípios de Campo Largo e

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Tomando por base o 1º Seminário do “Projeto interdisciplinar sobre Eutrofização de Águas no Reservatório Rio Verde/ PETROBRAS” realizado no auditório da SIMEPAR, nos dias 25 e 26 de março de 2008.

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Campo Magro. Houve uma entrevista coletiva com associados daAssociação de turismo rural das Colônias Polonesas (ATRCP) que reuniu oito famílias e teve duração de uma hora. A discussão foi coordenada a partir de questões gerais semi-estruturadas relacionadas aos objetivos do projeto, porém os participantes puderam expressar livremente suas opiniões sobre o assunto.

Houve também duas entrevistas individuais com agricultores da região relacionados também ao turismo rural. Optou-se por escolher duas famílias que desenvolvem diferentes formas de produção de alimentos, uma com produção agrícola de maneira convencional e outra que pratica agricultura orgânica.A amostragem não se estendeu a um número maior de entrevistas individuais pela limitação de tempoe pelo caráter iniciante da pesquisadora.

A presente investigação dedicou-se à análise de dados sociais, o que de acordo com Bauer e Gaskel (citado por ANDRADE, 2008, p.24) resultam de processos de comunicação, sendo também construídos a partir da comunicação. Os dados sociais podem distinguir-se a partir da comunicação formal ou da comunicação informal. Nesse sentido este autor reforça a importância da livre expressão dos sujeitos pesquisados, o que, para estudos de percepção, pode significar uma colheita muito proveitosa.

Dentro desse contexto, contribuem Bauer e Gaskel (citado por ANDRADE, 2008, p. 20): “Na pesquisa social, estamos interessados na maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre as suas ações e a dos outros”.

Ressalta-se que o estudo também dedicou-se a uma análise exploratória a qual, segundo Addison (2003, p. 56) “visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses”. Assim, tendo em vista o programa de educação ambiental que poderá se valer deste estudo, o registro das percepções de risco dos moradores da bacia do Rio Verde será um importante instrumento, ainda não existente antes desta pesquisa. Complementando, observa-se a contribuição de Oliveira citado por Andrade (2008, p.23), “um estudo exploratório é realizado quando o tema escolhido é pouco explorado, sendo difícil a formulação e a operacionalização de hipóteses”.

Apontam-se também neste artigo características de pesquisas descritivas, pois segundo Gil citado por Andrade (2008, p.23) “as pesquisas descritivas têm como um de seus objetivos descrever determinados fenômenos”, no caso a percepção de risco dos empreendedores associados ao roteiro de turismo rural na bacia do Rio Verde.

Para isso desenvolveu-se análise dos planos diretores dos municípios, documentos cedidos pelas prefeituras a respeito do projeto de turismo, mapas e informações diversas sobre

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a região. Vale destacar que a observação do contexto das colônias também foi realizada por meio de visitas de campo.

As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram a pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas. A análise dos dados colhidos à luz das teorias estudadas, buscou identificar a percepção de risco dos sujeitos.

Tais processos permitiram construir um panorama sobre a região delimitada na APA do Rio Verde e ao mesmo tempo para responder as questões gerais propostas para este estudo, os quais estarão descritos a seguir.

Apresentação dos resultados

Cabe neste momento destacar a questão geral deste estudo que busca suas respostas na interpretação dos dados colhidos junto aos moradores das colônias: Quais são as percepções de risco ambiental dos empreendedores de turismo rural das Colônias Polonesas na Bacia do Rio Verde? Procurou-se identificar ao mesmo tempo as seguintes questões: Os empreendedores estabelecem relação entre o turismo e os riscos ambientais? Quais as razões e objetivos da associação por eles constituída? Para os moradores, quais os principais fatores causadores de risco ambiental nas colônias Polonesas da Bacia do Rio Verde?

Para a realização da análise dos resultados confrontaram-se as falas dos entrevistados e suas práticas com a teoria estudada, assim partindo dos questionários semi-estruturados foi possível definir algumas categorias de análise.

1. Problemas socioambientais e riscos (se existem, quais são, suas causas e conseqüências);

2. Meio ambiente (o que entendem pelo termo);

3. As leis ambientais (se conhecem, o que pensam sobre elas);

4. A Associação de Turismo Rural das Colônias Polonesas (ATRCP) (por que se reuniram, quais os objetivos, e a relação com o meio ambiente);

5. O turismo rural e os riscos (qual a relação existente, o que esperam do turismo);

Os problemas socioambientais e riscos

Os entrevistados apontaram diversos tipos de riscos aos quais se sentem expostos: “Roubo de alimentos na roça, invasão de casas”; “A gente tem que torcer para que as coisas melhorem, porque senão daqui a pouco do jeito que tá essa água poluída vai voltar na sua torneira”; “As estradas são ruins”; “As leis, feitas de cima para baixo; Você não tem vez nem voz”; “Falta fiscalização das leis”; “Falta emprego para moradores”; “qual a contrapartida

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para nós produzirmos sem agrotóxico”? ”Nada é fiscalizado”. Em relação às possíveis causas, eles observam: “O aspecto cultural é muito forte”. “Faltam investimentos em educação e preparação profissional”.

A partir destes dados pode-se afirmar que eles não apenas visualizam, mas sentem as mudanças socioambientais no local onde vivem. Conseguem observar a ocorrência de problemas e causas locais.

No entanto, vale ressaltar, que a relação dessas causas com as transformações globais não é clara para eles. Se de um lado Beck (2002, p. 5) define risco como “el enfoque moderno de la previsión y control de las consecuencias futuras de la acción humana, las diversas consecuencias no deseadas de la modernización radicalizada7”, de outro, os atores sociais entrevistados, de maneira geral, não relacionam os riscos aos quais estão expostos e problemas que os atingem ao modelo de modernização ao qual estão inseridos, exceto pela visão exposta em falas sobre as causas dos problemas: “A industrialização da agricultura” ou ainda “Causas nós sabemos, pessoas individualizadas, que é o principal, lutando sozinho não tem como conseguir, não vai chamar a atenção de ninguém”.

A partir de falas como: “Outro problema ambiental no Rio Verde lá nosso é a Vila, pode dizer que agrotóxico estraga o rio, mas o esgoto vai todinho, cai a céu aberto, na hora em que eles resolverem estes problemas, o agricultor é mais fácil”, visualiza-se que os moradores percebem como maiores vetores de riscos a presença de loteamentos sem rede de coleta de esgoto, em lugar dos danos causados pelos agrotóxicos.

Em análise da literatura, percebe-se que há fontes não pontuais de poluição originárias especialmente das atividades agropecuárias. Tal poluição é causada pela utilização de fertilizantes químicos e de condicionantes do solo como esterco e lodo de esgoto. A contaminação é gerada pelo escoamento dos nutrientes através da precipitação e do escorrimento subterrâneo (XAVIER, DIAS E BRUNKOW, 2005). Assim, os dois tipos de contaminação, o esgoto doméstico e os agrotóxicos exercem papéis similares em relação ao impacto nos rios.

Deste modo pode-se afirmar que os moradores buscam culpados fora do âmbito das colônias e de suas atividades, como as autoridades, os vizinhos etc. Eles minimizam suas responsabilidades alegando que o maior problema é provocado externamente à colônia.

Nesse sentido, observa-se que para Beck (2002), a sociedade do risco é uma sociedade autocrítica, pois ele acredita que desta forma ela induz a autotransformação à medida que

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O enfoque moderno de previsão e controle das conseqüências futuras da ação humana, as diversas conseqüências não desenhadas da modernização radicalizada -Tradução nossa.

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modifica o âmago do processo de tomada de decisões. Assim, a sociedade passaria a viver em um processo de modernização reflexiva. Esta última significa auto-confrontação com os efeitos (conseqüências não desenhadas) produzidos pela sociedade do risco que não podem ser tratados e assimilados no sistema da sociedade industrial. Outro sentido para reflexivo, que ocorre ao mesmo tempo, refere-se a auto-reflexão, ao exame de seus próprios fundamentos racionalistas. Em síntese, somam-se à idéia de reflexivo (conseqüências) e reflexão.

De acordo com Beck (2002, p.146) a modernização reflexiva:

es una era de incertidumbre y ambivalencia, que combina la amenaza constante de desastres de una magnitud enteramente nueva con la posibilidad y necesidad de reinventar nuestras instituciones políticas y de inventar nuevas formas de ejercer la política en “lugares” sociales que antes se consideraban apolíticos8.

A partir deste entendimento é possível afirmar que não se observa na percepção dos moradores as premissas da modernização reflexiva apresentada por Beck. Se fossem inspirados por ideais de enfrentamento do risco, externalizariam primeiramente a parcela de culpa que lhes cabe, ao contrário de responsabilizar os vizinhos ou autoridades pela existência do problema.

Aprofundando as análises sobre os agrotóxicos, possíveis causadores da eutrofização na bacia, podem ser observadas falas como: “Eu tenho que deixar de plantar e quem recebe é a Sanepar. Isso é uma maneira de ganhar dinheiro nas costas dos outros. Você é obrigado a preservar, que benefício eu tenho, até hoje eu não ganhei nada” ou ainda: “qual a contrapartida para nós produzirmos sem agrotóxico”? ou ainda: “Para os agricultores familiares falta acompanhamento da produção, pois não são apresentadas alternativas à produção convencional;” Visualiza-se nestas posições, a dependência dos agricultores dos modelos legitimados pela modernidade, pois eles esperam que ocorram investimentos externos, ou que entidades técnicas acompanhem o processo.

Portanto, o modelo hegemônico predomina nas suas atitudes e pensamentos, não exercendo sob este viés, a postura de sujeitos em relação ao modo de produção agrícola. A tomada de atitude neste sentido seria um bom começo para a busca de soluções aos problemas levantados.

De acordo com Floriani et al. (2008, p.08):

Quando Beck fala em sub-política ele está de olho em novos sujeitos descrentes e desconfiados em relação aos atores coletivos convencionais, sobretudo os políticos. Os

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É uma era de incerteza e ambivalência, que combina a ameaça constante de desastres de uma magnitude inteiramente nova com a possibilidade e necessidade de reinventar novas instituições políticas e inventar novas formas de exercer a política em “lugares” sociais que antes se consideravam apolíticos - Tradução nossa.

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novos sujeitos tendem a não aceitar ser representados por estes antigos proprietários das instituições políticas e sociais. Eles querem ser seus próprios representantes.

Assim como Touraine (1998, p.37-45), propõe o aumento da autonomia do ator social e, nesta perspectiva, tende a se aproximar de Beck, pois acredita que os novos sujeitos engajados em relações sociais concretas, profissionais, econômicas e ao mesmo tempo está relacionado à nacionalidade ou ao gênero. Estes buscam controlar o tempo e as suas condições de trabalho ou existência, exercendo então a autonomia, que de modo geral tende a ser reconhecida no momento presente, marcado pela democracia cultural, a qual se importa diretamente com os direitos das minorias. Nesse sentido comparando com a postura dos atores estudados, percebe-se que ainda carecem de atitudes que os levariam a uma maior autonomia sobre seu futuro.

Alguns expressam uma visão contrária, como mostram os depoimentos: ”Falta consciência do prejuízo no uso de agrotóxicos, desconhecimento de maneiras de preservar o solo e obter renda sem poluir”. “Não sabem da poluição da terra, da baixa produtividade, e da acumulação de toxinas nos rios e nos peixes”.

Ao se analisar falas como: “causas nós sabemos, pessoas individualizadas, que é o principal, lutando sozinho não tem como conseguir, não vai chamar a atenção de ninguém”, ou ainda, “Nós temos muito interesse que o Rio permaneça Rio Verde e não se torne Rio Preto” pode significar que há indícios de pensamentos em prol do coletivo, como recomenda o entendimento dos novos sujeitos da modernização reflexiva. Observa-se neste sentido uma pista sobre a possibilidade de um processo de educação ambiental agir enquanto harmonizador e fomentador de boas práticas em favor da natureza e do homem e percebe-se nos relatos que não houve trabalhos de educação com estes propósitos junto aos agricultores. Falas como “toda a questão social você muda com educação” pode ser um indicativo de que há uma abertura para mudanças a partir de processos reflexivos que podem advir de propostas educativas focadas no aumento da autonomia dos sujeitos.

Porém, dentro desta finalidade, o processo de educação ambiental também precisa considerar a maneira como se constituem as percepções destes sujeitos. Tendo em vista as contribuições de Berger e Luckmann (1991) quando relatam a interiorização da realidade por meio da idéia de socialização primária e secundária. Observam-se nos moradores falas como: “O aspecto cultural é muito forte”. “Os meus avós plantavam, os meus pais plantavam, então eu tenho que, mesmo que empurrando com a barriga, mas eu tenho que continuar plantando”. Nestes pontos aproximam-se os fortes laços da cultura polonesa, expressos na pesquisa e a resistência ou insegurança em relação ao novo, pois o que lhes parece certo é o que foi

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construído e reconstruído como tradição familiar, o que foi apreendido pelo processo de socialização primária, o qual, de acordo com os autores relaciona-se ao principal alicerce de entendimento do mundo pelos indivíduos.

No momento em que esses sujeitos encontram-se frente às mudanças, eles se aproximam do conceito de socialização secundária, também desenvolvido pelos autores, Berger e Luckmann (1991). A partir de relatos como: “Se a água vale tanto, vamos tratar diferente. Você é obrigado a preservar, que benefício eu tenho, até hoje eu não ganhei nada”, Pode-se afirmar que os processos de socialização secundária, identificados pelos autores como “sub-mundos”, já vivenciados pelos entrevistados os aproximam de processos que reproduzem a lógica vigente, ou até mesmo fortaleceram suas concepções construídas a partir da socialização primária.

O meio ambiente

Quando questionados a respeito do entendimento sobre meio ambiente as expressões faciais indicavam dúvida e houve observações tais como: “Mas o que, que é Meio ambiente, para não desmatar? Meio ambiente é tudo, que falam que é para cuidar, não desmatar, cuidar das árvores”.

Em alguns apontamentos percebe-se que as práticas destrutivas foram proibidas, expresso em falas como: “eles” dizem que agora não pode mais fazer “isso” ou “aquilo”, ou ainda, “você é obrigado a preservar, que benefício eu tenho, até hoje eu não ganhei nada”. Assim, as informações que eles expressam sobre meio ambiente têm caráter proibitivo, pois apesar de acreditarem ser correto não exercerem práticas poluidoras, não as fazem (alguns) pela pressão das leis, e não porque reconhecem a importância da conservação como uma forma de promover a vida, e até mesmo esperam ser beneficiados financeiramente pelas práticas em prol da conservação.

Tal constatação expressa uma atitude não interiorizada, carente em relação ao entendimento sobre meio ambiente e o contexto global da sociedade do risco. Portanto, a percepção destes indica que estão longe da concepção de risco e reflexividade proposta por Beck, pois não se consideram responsáveis verdadeiramente pela produção de riscos e pelo enfrentamento de suas conseqüências.

As leis ambientais

Percebe-se que os moradores não conhecem profundamente a legislação, mas a despeito deste desconhecimento, não concordam com a maneira como ela foi implantada. Em

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falas como: “As leis são feitas de cima para baixo;” “minha preocupação é essa, amanhã ou depois esse povo vai ser notificado”. “Agora chegar e dizer, você vai ser notificado, vai pagar multa e vai ter que sair”. “Há uma contradição, cobram-se quantias absurdas de multas aos moinhos das colônias e também pelos agrotóxicos, mas ninguém observa os loteamentos e vilas”; ”Falta de fiscalização”; Os moradores alegam que as leis são escritas sem observar os contextos locais, nem ao menos dialogar com eles que estão diretamente relacionados aos recursos naturais protegidos por elas.

Nesse contexto, foi fundamental saber como se dá a percepção dos moradores em relação aos demais componentes do processo:

Quantos dos nossos moradores aqui não têm vez nem voz. Enquanto isso os maiores desastres ambientais que acontecem com a PETROBRAS, ninguém pagou nada. Até hoje tá tudo em aberto depois daquele desastre que aconteceu que foi até Balsa Nova. Eles investiram um tanto no município de Balsa Nova, talvez com isso a multa se reverteu em investimentos. Mas se for um colono aqui ele vai pagar multa. As coisas têm que acontecer para que o agricultor fique onde ele está, tranqüilo, sabendo que não vai ser multado, mas ele também tem que colaborar.

A narrativa do morador demonstra que no contexto da bacia, há dúvidas a respeito da igualdade perante essas leis, seriam elas aplicadas da mesma maneira para todos os sujeitos envolvidos? Ou a lei trata “igualmente” sujeitos desiguais? A fala do entrevistado parece revelar um descontentamento em relação a leis que, invariavelmente, no momento de punir trata “igualmente” os desiguais e na hora de beneficiar alguns trata “desigualmente” os mesmos desiguais.

A associação de turismo rural das colônias polonesas (atrcp)

Os principais motivos e objetivos pelos quais eles estão reunidos em associação, por eles expostos são: “Para promover e preservar a Cultura Polonesa”; “Um grupo maior tem mais força para lutar, reivindicar... Eu acho que um grupo consegue muito mais que sozinho”. “Facilita até a captação de recursos de grandes empresas”. “Para enfrentar as dificuldades”; “Buscar melhorias, estradas”.

Ao que parece, o grupo está reunido para participar de decisões em seu favor e discutir coletivamente sobre o futuro da colônia, o que o aproxima, mesmo que por pretextos econômicos, das possibilidades da modernização reflexiva.

Beck (2002) aborda o conceito de sub-política, o qual indica o surgimento de novos grupos sociais atuantes em todos os campos de atividade, também trabalha com a idéia de política de subsistemas. Tais grupos seriam protagonistas de grandes transformações, pois atuariam com linhas alternativas de ação frente aos riscos. Estes buscariam exercer seus

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direitos de participação cidadã nas decisões sobre os riscos, gerando assim conflitos que abalariam as estruturas sociais e instituições vigentes.

No entanto, as principais motivações referem-se a buscas financeiras, vez que o entendimento desses sujeitos está mais próximo de uma lógica econômica, como fica patente a partir das falas sobre os benefícios que a associação pode gerar por meio do turismo: “Oportunidades, qualificação distribuição de renda”; “Melhora de vida da comunidade”; “Possibilidade de comercializar os produtos”; “Divulgação dos outros produtos das colônias”.

Quando expõem a relação da associação com o meio ambiente afirmam que será possível: “Mudar o foco da produção da região”. Oportunizar a conversão das propriedades de agricultura convencional em pequenos empreendedores de turismo e /ou buscando novas opções de cultivo e comercialização de produtos alternativos coloniais”. Ou ainda “O agricultor terá que mudar seu modo de produção, mas a esposa pode ficar em casa produzindo outros produtos para os empreendimentos e turistas”.

Neste sentido, pode-se afirmar que apesar da inegável presença de uma motivação ambiental, ela se apresenta como um fator que os pressiona para a busca de novas soluções frente à legislação e não como uma premissa conservacionista. Assim, as transformações ambientais e as mudanças no contexto global atuam na esfera local da bacia do Rio Verde como um fator repressor, mas que os motiva para procurar mudanças.

Considera-se a partir das falas estudadas que os moradores pesquisados nas colônias são sujeitos em potencial, pois podem fazer emergir transformações em sua realidade social. Pois, se concorda com Castoriadis citado por Floriani, et al, (2008, p.7) quando ele afirma que “é preciso vontade para pensar ou refletir”, complementa afirmando que “o sujeito efetivo está sempre preso em uma rede de determinações”. Assim, parte-se destas premissas sobre os novos sujeitos para visualizar os pesquisados tendo em vista que são descendentes de Poloneses, nos quais se observa que a rede de tradições, já vem sendo construída há muitos anos.

Além disso, há diversos fatores, influenciados pelas decisões de risco da nova modernidade de Beck, (como as ainda recentes tecnologias de produção agrícola) que impõem as maneiras pelas quais esses moradores trabalham e desenvolvem suas ações. Mesmo assim, frente ao novo, eles estão reunidos em associação para buscar alternativas e como foi observado na fala “Em conjunto sempre se aprende alguma coisa”; “Troca de idéias”. Estão abertos à reflexão, pois já demonstraram a vontade de pensamento por meio da entrevista coletiva. Tal fator pode contribuir para a implantação de um processo de educação ambiental.

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O turismo rural e os riscos

A OMT - Organização Mundial do Turismo – (2001, p. 06) afirma que “para que o turismo constitua de fato uma estratégia econômica benéfica tem que ser também dedicado à melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem e trabalham na comunidade e à proteção do ambiente”. Por isso, é expresso na pesquisa que os empreendedores conhecem as possibilidades de melhorias sócioeconômicas advindas do turismo, comprovadas em falas como: “Acho que o desenvolvimento do local, empregos, renda, troca de conhecimentos, difusão da cultura”; “É uma forma de mudar a realidade local”; “Para que venham pessoas comprar direto aqui na chácara”;

Porém, a OMT (2001, p. 25) evidencia que para atingir tais objetivos o turismo precisa considerar a conservação e a preservação dos recursos naturais e da herança cultural, o que para eles em termos culturais é bem claro: “Para promover e preservar a Cultura Polonesa”. No entanto, de acordo com os relatos: “Onde existe gente, sempre tem que se preocupar com os impactos ambientais – lixo”. “Se começar a vir as pessoas ruins não é bom”; “O dia em que os “caras” chegarem e autuarem”; “Que tipo de risco vai gerar se você tirar água do rio e encher um tanque e depois essa água retorna para o rio. Não vejo risco nenhum, só porque você vai colocar um peixe que não é nativo. Eu tenho medo do investidor que cair do cavalo. A não ser que venha muita gente, eles vão trazer o lixo deles de lá e vão jogar aqui”. “Se abrir um restaurante que funcione até altas horas da noite”. As percepções expressam que a atenção à questão ambiental ainda é bastante fragilizada ou insuficiente.

Nesse sentido, aponta-se uma grande contribuição de Beni (2001, p. 53) que alerta para a possibilidade real da idéia de “colapso turístico”, o qual deve ser encarado com profundidade pela sua magnitude. Tal colapso advém do “conflito entre forças encontradas e não complementadas, vai predeterminando, sobre as bases do crescimento exponencial da população e do capital para financiar a expansão dos centros turísticos” e as necessidades de conservação e contenção do fenômeno turístico no sentido do resguardo dos ambientes naturais e culturais.

Assim, a despeito dos entrevistados considerarem a possibilidade de impactos negativos derivados do turismo, é perceptível que não conseguem dimensionar a gravidade dos impactos que podem ser provocados pela administração do turismo que busque apenas benefícios econômicos.

É oportuno retornar à idéia de “objeto com vínculo de risco” descrita por Latour (2004, p.39-53). Nesse caso, como afirmado anteriormente, considera-se que o turismo pode ser um objeto com vínculo de risco, pois ao mesmo tempo em que promete ser uma grande

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oportunidade de valorização cultural, geração de emprego e renda, melhoria da infra-estrutura básica e até promover o contato entre as pessoas e a natureza, ele esconde conseqüências que podem ser desastrosas em relação especialmente aos riscos que produz, como a descaracterização cultural, a dependência econômica de uma atividade, a degradação ambiental, o desgaste das estruturas, a exposição à violência, entre outros de grande magnitude.

Considerações finais

A partir deste estudo, portanto, pode-se inferir que a percepção dos riscos facilita a integração dos moradores com o meio ambiente e permite que estes se posicionem perante as situações que surgem. Este pressuposto foi observado tanto na abordagem teórica, quanto na prática da pesquisa empírica, pela observação e coleta de falas como a que se segue: "você vem aqui, faz muitas perguntas e faz a gente pensar".

Nesse sentido, observa-se que para Beck (2002) o reconhecimento do perigo iminente poderia desencadear uma mudança no processo de decisões a respeito das avaliações de risco, sujeitando-as à apreciação pública e ao mesmo tempo, poderiam submetê-las aos debates científicos interdisciplinares e, ainda, propor a emergência de um debate parlamentar, vez que haveria um envolvimento coletivo no processo de tomada de decisões.

Em relação à comunidade estudada, é possível afirmar que a percepção dos entrevistados aproxima-se de ideais regidos por uma lógica econômica, ainda distantes das possibilidades de transformação reflexiva, proposta pela teoria da sociedade do risco de Beck, complementada pelos demais autores.

Em relação ao turismo visualiza-se na percepção dos entrevistados que estes estabelecem poucas relações entre a atividade turística e a produção de riscos. Portanto, a decisão desses sujeitos em relação à escolha do turismo para promover melhorias econômicas e promoção da cultura polonesa, pode estar vinculada a uma decisão com possibilidade de geração de conseqüências inesperadas e não calculáveis.

Mediante a idéia de que o estudo da percepção de risco fornece subsídios para a proposição de processos formais ou não formais de educação ambiental, pode-se afirmar que a partir deste estudo o programa de educação ambiental que poderá ser discutido e elaborado para a localidade, ao qual os moradores demonstraram estarem abertos, precisará considerar questões referentes à socialização primária dos entrevistados, ainda todas suas concepções sobre o meio ambiente, a legislação, a responsabilidade ambiental, os “objetos com vínculo de

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risco”, bem como as demais observações realizadas, adequando-se assim as necessidades dos sujeitos e o enfrentamento da situação de risco provocada pela eutrofização.

Por fim, é importante ressaltar que as pesquisas qualitativas são desenvolvidas mediante um referencial teórico e das observações dos pesquisadores, portanto, tendo em vista a complexidade de relações e a dinâmica dos processos de transformação social, os dados colhidos referem-se àquele dado momento, sendo que a partir de outros olhares, novas observações podem ser realizadas.

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