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Projecto de reconversão de um Cine-Teatro em equipamento hoteleiro para a cidade de Mangualde

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Engenharia

Projecto de reconversão de um Cine-Teatro em

equipamento hoteleiro para a cidade de

Mangualde

Daniel Ramos Oliveira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Arquitectura

(Ciclo de estudos integrado)

Orientador: Prof. Doutor Jorge Humberto Canastra Marum

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Agradecimentos

Para a realização desta dissertação foi imprescindível o apoio e colaboração de várias pessoas e entidades, sem as quais não seria possível a concretização da mesma. Assim, agradeço: Em primeiro lugar, ao meu Orientador Professor Doutor Jorge Humberto Canastra Marum, pela confiança, disponibilidade e apoio firme que permitiu uma orientação assertiva aos objectivos e desenvolvimento desta dissertação.

À Universidade da Beira Interior, especialmente aos Professores que me acompanharam e ensinaram ao longo destes cinco anos.

À Câmara Municipal de Mangualde, na pessoa do Sr. Presidente Doutor João Azevedo e à planeadora, Doutora Sandra Pais, pelo auxilio prestado e pela faculta de documentação relativa à cidade e ao Cine-Teatro.

Ao IGAC pela amabilidade e disponibilidade prestada na consulta dos documentos referentes ao tema da dissertação.

À Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Vale do Dão e Alto Vouga por me ter possibilitado a visita ao Cine-Teatro de Mangualde.

À Bruna Raquel por todo o companheirismo e amizade, não só no período de elaboração desta dissertação, mas ao longo de todo o meu percurso académico, partilhando todos os bons e maus momentos com bastante cumplicidade.

Ao André Barroco e Filipe Correia pela cooperação, força e paciência que mostraram durante este período.

A todos os meus amigos, que me apoiaram, compreenderam e se mostraram sempre disponíveis para o que necessitasse.

À minha irmã, que fez parte do meu crescimento e sempre me ajudou, mostrando-se uma verdadeira amiga.

Por fim, mas não menos importante, aos meus pais, pelo apoio, carinho incondicional e por todas as oportunidades que me proporcionaram, pois sem eles eu não seria a pessoa que sou.

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Nota Prévia

A partir do século XIX, as intervenções em imóveis preexistentes têm vindo a ganhar maior impacto na sociedade, desenvolvendo-se, acerca desta temática, diversas teorias e práticas. Já no século XIX, assim como actualmente, o património era encarado como um bem para toda a sociedade, devendo contribuir para o desenvolvimento cultural da mesma.

Desde a década de 50 do mesmo século, surgem as mais significativas intervenções no património, adaptando-o a novos usos e funções, surgindo assim, a conversão de antigos conventos, mosteiros, fortes militares em hospitais, bibliotecas, câmaras municipais, museus, escolas, etc.

É no ano de 1951, que ocorre a primeira intervenção de um monumento para Pousada de Portugal, adaptando a alcáçova do Castelo de Óbidos. Assim, a partir de 1970, esta nova tipologia em edifícios históricos, tornou-se habitual.

O presente trabalho assume, assim, a sua importância, quer pelo tema de estudo que é abordado, quer pela possibilidade de apresentar uma nova proposta de reconversão do Cine Teatro de Mangualde para Pousada. Apresenta-se, portanto, como uma mais valia para o estudo de unidades hoteleiras em edifícios preexistentes, assim como alertar e fomentar o interesse pela recuperação do Património imóvel.

Tendo em conta a conjectura atual relativa ao mercado de trabalho em arquitectura, na qual se tem assistido a um declínio da construção em Portugal e uma maior preocupação pela recuperação de imóveis, esta dissertação pretende aprofundar e adquirir conhecimento sobre a temática da reconversão de edifícios, assim como a respectiva metodologia projectual e soluções construtivas.

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Resumo

O principal objectivo desta investigação prende-se com a elaboração de uma proposta de reconversão de um edifício, em elevado estado de degradação, na cidade de Mangualde. Como funcionalidade principal para este imóvel, optámos por projectar uma unidade hoteleira, mais concretamente uma Pousada, visto que, em Portugal com a actual conjuntura económica, se verifica uma maior preocupação e investimento no sector do Turismo. O Turismo português abrange diversos interesses que se difundem por mercados internacionais, com diferentes requisitos, tipos e motivações, sendo um contributo importante para a riqueza do país.

Um pouco por todo o mundo, observamos o abandono dos centros históricos das cidades e consequente degradação do seu Património, sendo imperativo a sua valorização e preservação para que a sociedade actual e vindoura possam usufruir, apreciar e conhecer a sua importância e história, intrinsecamente ligada ao local.

Nesta linha, propõe-se a reconversão do Cine-Teatro de Mangualde, construído em 1948, obra do arquitecto Keil do Amaral, tratando-se de um edifício com grande impacto na cidade, cultural e historicamente, sendo, ainda hoje, um marco do concelho, que se encontra abandonado. A construção dos Cine-Teatros data entre as décadas de 1930 e 1960, no período de vigência do Estado Novo, seguindo o percurso da arquitectura portuguesa do século XX. Atualmente, as salas de cinema estão a cair em desuso, verificando-se uma situação semelhante em Mangualde, onde existem algumas salas polivalentes, para espetáculos e exibição de filmes, que se encontram vazias e sem programação.

A proposta de reconversão deste edifício resulta das preocupações sócio-económicas actuais, aliando a recuperação de património com as exigências do mercado, relativas ao turismo.

Palavras-chave

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Abstract

The main objective of this investigation is to propose the renovation of a building, in a high state of degradation, in the city of Mangualde.

Given the current economic crisis in Portugal and the increasing interest and investment in tourism, the primary purpose of the property will be that of a hotel unit. Tourism in Portugal has wide interests that are spread through international markets, with different requirements, types and motivations, which is an important contribution to the richness of this country.

All around the world, it is possible to see the abandonment of historical city centres and the consequent degradation of their patrimony. It is necessary to value and preserve each place, so that we and future generations are able to enjoy, appreciate and get to know the beauty and history intrinsically connected to that place.

Therefore, we propose the conversion of Mangualde’s movie theater, designed by the architect Keil do Amaral in 1948. A building that had a great cultural and historical impact in the city, although now abandoned, is still a landmark in the region. The construction of the movie theaters dates back to the decades between 1930 and 1960, the Portuguese period of dictatorship, in keeping with the styles of Portuguese architecture in the 20th century.

Nowadays, movie theaters are falling into disuse, verifying a similar situation in Mangualde, where there is possible to find some multipurpose rooms where films and shows are exhibited, which are empty and without programming schedules.

The proposal to change the function of this building is a result of current social and economic concerns, allying the recuperation of cultural heritage with the market demands concerning tourism.

Keywords

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Índice

1. Introdução 1 1.1 Metodologia 1 1.2 Hipótese 1.3 Objectivos 1.4 Normalização 2 3 3 2. Definições e conceitos-chave 2.1 Definições 5 5 2.2 Interpretação das definições/conceitos 6 3. Contexto Histórico 3.1 A reabilitação 3.2 Os cinemas 3.3 O Cine-Teatro de Mangualde 3.4 A cidade de Mangualde 3.5 Dados demográficos 3.6 As pousadas 9 9 10 16 19 21 22 4. Casos de estudo

4.1 Pousada de Santa Marinha da Costa, Guimarães 4.2 Pousada de Santa Maria do Bouro, Amares 4.3 Pousada da Flor da Rosa, Crato

25 25 31 36 5. O projecto

5.1 O existente. Da construção à actualidade 5.2 Memória Descritiva 5.2.1 Ideia/Conceito 5.2.2 Soluções construtivas 5.2.3 Lógica/Percursos 41 41 45 49 50 53 6. Conclusões 57 Bibliografia 59 Lista de Anexos 65

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Lista de Figuras

Figura Pág.

Figura 1 – Fachada do Real Coliseu. Consultado dia 9 de Abril de 2013 às 15h

Fonte: http://cinemasparaiso.blogspot.pt/2013/02/real-coliseu-de-lisboa-palco-da-estreia.html

10

Figura 2 – Palco do Real Coliseu. Consultado dia 9 de Abril de 2013 às 15h

Fonte: http://cinemasparaiso.blogspot.pt/2013/02/real-coliseu-de-lisboa-palco-da-estreia.html

10

Figura 3 – Planta do Cinema Chiado Terrasse. Consultado dia 9 de Abril de 2013 às 19h

Fonte: http://cinemasparaiso.blogspot.pt/2007/06/cinema-dos-primrdios-chiado-terrasse.html

12

Figura 4 – Interior do Cinema Tivoli. Consultado dia 9 de Abril de 2013 às 22h

Fonte: http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/02/tivoli-1924-1991.html 13 Figura 5 – Exterior do Cinema Tivoli. Consultado dia 9 de Abril de 2013 às 22h

Fonte: http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/02/tivoli-1924-1991.html 13 Figura 6 – SNP, Comícios Anti-Comunistas. Consultado dia 10 de Abril de 2013 às 14h

Fonte: http://www.amordeperdicao.pt/especiais_solo.asp?artigoid=204

(Col. Cinemateca Portuguesa)

14

Figura 7 – Desenho da Fachada do Instituto Pasteur, Keil do Amaral, 1934. Consultado dia 10 de Abril de 2013 às 18h

Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/53/Instituto_Pasteur_Por to_Keil_do_Amaral.jpg

15

Figura 8 – Fotografias da construção do Cine-Teatro de Mangualde

Fonte: Arquivo Municipal de Mangualde 17 Figura 9 – Fotografias do Cine-Teatro de Mangualde, 2011

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Figura 10 – Anta da Cunha Baixa, Mangualde. Consultado dia 11 de Abril de 2013 às 21h

Fonte:http://www.turismo.guarda.pt/descobriraregiao/SerradaEstrela/PublishingIm ages/Antamonumentaldacunhabaixa.jpg

19

Figura 11 – Monte e Santuário da Nossa Senhora do Castelo. Consultado dia 11 de Abril de 2013 às 21:30h

Fonte: http://viseumais.com/viseu/wp-content/uploads/Igreja-de-Nossa-Senhora-do-.jpg

20

Figura 12 – Fotografia antiga do Bairro do Rossio. Consultado dia 12 de Abril de 2013 às 15h

Fonte:http://www.cmmangualde.pt/index.php?option=com_content&view=article&i d=224&Itemid=248

21

Figura 13 – Fotografia antiga do Bairro Cabo da Vila. Consultado dia 12 de Abril de 2013 às 15h

Fonte:http://www.cmmangualde.pt/index.php?option=com_content&view=article&i d=224&Itemid=248

21

Figura 14 – Pousada de Manteigas. Consultado dia 14 de Abril de 2013 às 16h

Fonte: http://www.portugalvirtual.pt/pousadas/manteigas/pt/index.html 23 Figura 15 – Pousada do Freixo, Porto. Consultado dia 14 de Abril de 2013 às 16h

Fonte: http://eficienciaenergtica.blogspot.pt/search/label/TRAVEL?updated-max=2012-04-28T13:16:00-07:00&max-results=20&start=40&by-date=false

23

Figura 16 – Pousada de Viseu. Consultado dia 14 de Abril de 2013 às 16h

Fonte: http://www.presstur.com/site/news.asp?news=18946 23 Figura 17 – Pousada de Faro. Consultado dia 14 de Abril de 2013 às 16h

Fonte: http://www.asiarooms.com/en/portugal/faro/190960-pousada_de_faro_estoi_palace_hotel.html

23

Figura 18 – Vista geral da Pousada, 1999. Consultado dia 3 de Maio de 2013 às 11h

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Figura 19 – O Mosteiro da Costa, 1928. Consultado dia 3 de Maio de 2013 às 16h Fonte: http://s-nicolau.blogspot.pt/2007/11/do-colgio-da-costa.html

(fotografia de "O Labor da Grei", editado por Francisco Martins, encontrada no Arquivo da Sociedade Martins Sarmento)

27

Figura 20 – Chafariz e varanda de Frei Jerónimo. Consultado dia 3 de Maio de 2013 às 19h

Fonte: http://www.guimaraesturismo.com/pages/155?geo_article_id=125

27

Figura 21 – Esquema espacial da pousada

Fonte: Dissertação de Mestrado. Brandão, Mariana, 2001. Pousadas de Portugal: três

estudos de caso: Pousada de D. Diniz, Santa Marinha da Costa e Santa Maria do Bouro. Porto: FLUP

28

Figura 22 – Fachada lateral, do novo volume, 1993. Consultado dia 3 de Maio de 2013 às 19h

Fonte: DGMNE - http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5679

29

Figura 23 – Fachada Sul da Pousada, 2006. Consultado dia 4 de Maio de 2013 às 15h

Fonte: DGMNE - http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=1123 31 Figura 24 – Desenho da implantação do mosteiro, 1962. Consultado dia 5 de Maio de

2013 às 14h

Fonte: DGMNE - http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=1123

32

Figura 25 – Mosteiro de Santa Maria do Bouro, 1946. Consultado dia 5 de Maio de 2013 às 14h

Fonte: DGMNE - http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=1123

32

Figura 26 – Fachada Sul da Pousada

Fonte: New Perspective: Design Hotels. Barcelona: Links International, 2007, p.135 33 Figura 27 – Vista geral Sul da Pousada. Consultado dia 8 de Maio de 2013 às 23h

Fonte: http://rgpsousa.blogspot.pt/2012/07/mosteiro-de-santa-maria-do-bouro.html

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Figura 28 – Imagens das zonas comuns da Pousada. Consultado dia 8 de Maio de 2013 às 13h

Fonte: http://www.asiarooms.com/en/portugal/amares/190759-pousada_de_geres_amares_santa_maria_do_bouro-hotel-gallery.html

34

Figura 29 – Chaminé e fachada Sul da Pousada. Consultado dia 11 de Maio de 2013 às 17h

Fonte: http://rgpsousa.blogspot.pt/2012/07/mosteiro-de-santa-maria-do-bouro.html

35

Figura 30 – Vista aérea e implantação da Pousada. Consultado dia 13 de Maio de 2013 às 12h

Fonte: http://portugalfotografiaaerea.blogspot.pt/2010/07/flor-da-rosa.html

36

Figura 31 – Fachada principal da Pousada. Consultado dia 13 de Maio de 2013 às 17h Fonte: http://www.pousadas.pt/historic-hotels-portugal/pt/pousadas/alentejo-hotels/pousada-do-crato/flor-da-rosa/pages/event-guide.aspx

37

Figura 32 – Imagem do novo corpo projectado por Carrilho da Graça. Consultado dia 13 de Maio de 2013 às 17h

Fonte: http://andessemparar.blogspot.pt/2011/01/pousada-flor-da-rosa-crato.html

37

Figura 33 – Imagem do Claustro. Consultado dia 13 de Maio de 2013 às 12h

Fonte: http://www.geolocation.ws/v/W/File%3AFlor%20da%20Rosa%20claustro.jpg/-/en

38

Figura 34 – Bar da Pousada (antiga Sala do Capítulo). Consultado dia 13 de Maio de 2013 às 17h

Fonte: http://www.viamichelin.pt/web/Hotel/Portalegre-7430_999-Pousada_do_Crato_Flor_da_Rosa-t9ds96

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Figura 35 – Recorte do Jornal de Notícias, Porto, 8 de Abril de 1950

Fonte: Arquivo Municipal de Mangualde 41 Figura 36 – Desenhos dos alçados frontal e lateral respectivamente

Fonte: Próprio autor

42

Figura 37 – Planta do Piso 0 do Cine-Teatro

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Figura 38 – Maquete virtual do Cine-Teatro

Fonte: Próprio autor 43

Figura 39 – Interior do Cine-Teatro, 2013

Fonte: Próprio autor 44

Figura 40 – Fotografia do Cine-Teatro, 2013 Fonte: Próprio autor

44

Figura 41 – Fotografia do interior (antigo bar) do Cine-Teatro, 2013 Fonte: Próprio autor

45

Figura 42 – Fotografia do Cine-Teatro (zona da plateia), 2013

Fonte: Próprio autor 45

Figura 43 – Fotografia do pátio lateral do Cine-Teatro, 2013

Fonte: Próprio autor 46

Figura 44 – Localização/implantação (sem escala)

Fonte: Google Earth, editada pelo próprio autor 47 Figura 45 – Esquemas das diferentes tipologias de quartos

Fonte: Próprio autor 48

Figura 46 – Desenho esquemático em corte

Fonte: Próprio autor 51

Figura 47 – Desenho esquemático inicial da distribuição dos espaços

Fonte: Próprio autor 51

Figura 48 – Esquema das paredes exteriores (sem escala)

Fonte: Próprio autor 52

Figura 49 – Esquema das diferentes paredes interiores (sem escala)

Fonte: Próprio autor 52

Figura 50 – Esquema das lajes (sem escala)

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Figura 51 – Entradas da Pousada

Fonte: Próprio autor 55

Figura 52 – Organograma espacial do piso térreo

Fonte: Próprio autor 55

Figura 53 – Organograma espacial do piso 1

Fonte: Próprio autor 56

Figura 54 – Organograma espacial do piso 2 Fonte: Próprio autor

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Resumo de espaços por piso Fonte: Próprio autor

Tabela 2 – Áreas totais das diferentes zonas Fonte: Próprio autor

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Lista de Acrónimos

CCRN Comissão de Coordenação da Região do Norte CE Comissão Europeia

DGEMN Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais D.L. Decreto lei

FAULP Faculdade de Arquitectura da Universidade Lusófona do Porto FAUP Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

FAUTL Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa FCTUC Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

FLUP Faculdade de Letras da Universidade do Porto IGAC Instituto Geral das Actividades Culturais

IGESPAR Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico INE Instituto Nacional de Estatística

IPPAR Instituto Português do Património Arquitectónico ISCTE Instituto Universitário de Lisboa

PDM SNP

Plano Director Municipal

Secretariado de Propaganda Nacional UBI Universidade da Beira Interior UC Universidade de Coimbra UTL Universidade Técnica de Lisboa

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PROJECTO DE RECONVERSÃO DE UM CINE-TEATRO EM EQUIPAMENTO HOTELEIRO PARA A CIDADE DE MANGUALDE

1. Introdução

Nas últimas décadas, a reabilitação de Património tem vindo a ganhar maior importância, sendo hoje consensualmente reconhecida como um motor de desenvolvimento dos espaços, quer em termos de competitividade, paisagem, promoção e desenvolvimento dos locais e, por conseguinte, melhoria no nível de vida da sociedade.

O conceito de Património tem sofrido evoluções ao longo do tempo, estando as mudanças e alterações conceptuais relacionadas com a sua composição, mas também pelo aproveitamento por parte da sociedade. Numa primeira fase, em meados do século XIX, o pensamento centrava-se na preservação dos edifícios e objectos do passado, entrando, a partir da década de 60, numa fase de reutilização e conservação. Nos últimos anos a reabilitação do Património tem sido valorizada numa perspectiva de utilização para diversas funções, desde culturais, pedagógicas, utilitárias, económicas, sociais e impulsionadora do turismo.

É a partir do século XX, nomeadamente após a II Grande Guerra Mundial, que o turismo se torna mais habitual na sociedade. Verifica-se nessa altura, na Europa, um período de prosperidade económica, com a melhoria dos padrões de vida, leis laborais e desenvolvimento da rede e dos transportes, iniciando o aparecimento do turismo de massas. “Se em 1950 eram

25 milhões de turistas, meio século depois a cifra ascendia já aos 700 milhões, prevendo-se [em 2020] 1,6 mil milhões”1. Actualmente o turismo surge como uma das indústrias mais

significativas à escala mundial.

É na sequência dos conceitos e temáticas descritas anteriormente que surge este tema para a dissertação abordando a temática do património cultural da cidade de Mangualde, nomeadamente a reconversão do Cine-Teatro para equipamento hoteleiro dirigido ao turismo.

1.1 Metodologia

Para a realização desta dissertação foi efectuada uma revisão e investigação literária, que serviu de suporte teórico para o projecto de reconversão, com vista a desenvolver soluções arquitectónicas e urbanísticas para o edifício que se encontrava em avançado estado de degradação.

Numa primeira fase, com base em dicionários e enciclopédias, definimos, clarificámos e interpretámos os conceitos chave da dissertação, nomeadamente, Equipamento Hoteleiro,

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PROJECTO DE RECONVERSÃO DE UM CINE-TEATRO EM EQUIPAMENTO HOTELEIRO PARA A CIDADE DE MANGUALDE

Turismo, Mangualde, Património e Projecto de reconversão.

Sendo o imóvel em estudo o Cine-Teatro de Mangualde, numa segunda fase recolhemos informação desenhada e fotografada, desde a sua construção até aos dias de hoje, assim como de outros Cine-Teatros construídos no Estado Novo a fim de compreender o impacto que a sua construção teve no panorama cultural e social em Portugal em particular no caso de Mangualde. Esta informação foi recolhida na Biblioteca Municipal de Mangualde, Arquivo da Câmara Municipal de Mangualde e IGAC de Lisboa.

Seguidamente, realizámos uma análise literária através de uma sustentação teórica sobre o Património percebendo a importância da preservação, recuperação e reconversão, de como esta deve ser efectuada, e tendo como consequências a melhoria da vida social e económica de uma localidade. Nesta mesma fase incidimos também sobre a revisão literária em aspectos relacionados com equipamentos hoteleiros e turismo em Portugal, assim como sobre a recolha de material, escrito e desenhado, de outros casos para estudo de imóveis reconvertidos em Pousadas. Para isto, recorremos à Biblioteca da Universidade da Beira Interior, Biblioteca Nacional de Lisboa, Biblioteca Municipal do Porto e Biblioteca da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

Posteriormente, através da análise e crítica literária da informação reunida juntamente com as leis e normas relativas à cidade de Mangualde e às unidades hoteleiras, demos início à concepção do programa do equipamento hoteleiro.

Assim, numa última fase, surgiram algumas directrizes que sustentam o processo criativo e espacial na concepção da nova proposta projectual no edifício a intervir. Para este processo também contribuíram a análise dos casos de estudo, assim como toda a pesquisa bibliográfica, recolha de informação e investigação projectual.

Com tudo isto como suporte, demos inicio à elaboração do projecto visando atingir os objectivos delineados e sobretudo procurando responder à questão fulcral da dissertação.

1.2 Hipótese

A presente dissertação visa investigar fundamentalmente sobre a seguinte questão: de que forma se pode elaborar um projecto de reconversão de um Cine-Teatro em unidade hoteleira? O interesse por este tema surgiu do gosto pessoal pela área da reabilitação de edifícios aliado ao conhecimento do estado actual do Cine-Teatro de Mangualde. É opinião geral da população que se trata de um imóvel de grande interesse cultural e arquitectónico, daí o desagrado pela sua condição de abandono e destruição.

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PROJECTO DE RECONVERSÃO DE UM CINE-TEATRO EM EQUIPAMENTO HOTELEIRO PARA A CIDADE DE MANGUALDE

Tendo em conta que, por um lado, as salas de espectáculos estão a cair em desábito, e por outro o turismo está em crescente, optou-se por essa nova função, reconvertendo o antigo espaço numa unidade hoteleira.

1.3 Objectivos

Com a elaboração desta dissertação pretende-se, essencialmente, elaborar um projecto de reconversão do Cine-Teatro tendo em conta a essência, história, imagem e impacto que o imóvel representa no local onde está implantado.

Pretendemos, também, como objectivo, alertar para a importância da reabilitação na conjuntura económica actual, na qual a preocupação pela recuperação não se deve cingir aos edifícios classificados como Património.

Numa outra vertente, pretende-se adquirir conhecimentos teóricos e práticos sobre o processo de reconversão, quais os métodos a adoptar e as soluções construtivas mais adequadas para este tipo de projecto.

O presente trabalho assenta ainda na procura de uma solução para atrair pessoas ao interior do país e contrariar a desertificação que cada vez mais se verifica, com as populações a deslocarem-se para os grandes centros urbanos, principalmente litorais.

1.4 Normalização

A estruturação desta dissertação foi determinada pelas Normas de formatação de

dissertações de Mestrado da Universidade da Beira Interior, segundo despacho Nº 49/R/2010,

seguindo a sequência de apresentação por este definida.

Nas notas de rodapé, citações e bibliografia, adoptámos as normas internacionais do Harvard

System of Referencing Guide. As obras consultadas e referenciadas no texto constam na

bibliografia. Quando mencionadas no corpo de texto com nota numerada, as suas referências encontram-se abreviadas em nota de rodapé e por extenso na bibliografia geral.

As citações utilizadas ao longo desta dissertação, encontram-se em itálico e entre aspas (“texto”). As restantes palavras em itálico mas sem aspas (texto), que surgem ao longo do texto, dizem respeito a títulos, marcas ou palavras que julgamos importantes de salientar. Esta dissertação não se encontra escrita ao abrigo no novo acordo ortográfico, que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2012.

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PROJECTO DE RECONVERSÃO DE UM CINE-TEATRO EM EQUIPAMENTO HOTELEIRO PARA A CIDADE DE MANGUALDE

2. Definições e conceitos chave

Para começar, parece-nos essencial definir e interpretar os conceitos e palavras chave da presente dissertação, de forma a tornar mais claro os objectivos propostos e com um maior rigor linguístico.

2.1 Definições

Hotel

2

n.m. estabelecimento onde se alugam temporariamente quartos mobilados, com ou sem

serviços de refeições. (Do lat. hospitāle- «albergue», pelo fr. hôtel, «hotel»)

Hotel

3

1. Casa, habitação privada. Na Idade Média, o termo designa qualquer habitação, mas no séc. XVII um H. é uma casa de distinção habitada por uma pessoa qualificada. 2. Actualmente, um hotel é um estabelecimento destinado a alugar quartos, com certo luxo, servindo ou não refeições. 3. Edifício ocupado por certos estabelecimentos públicos (Hotel dos Inválidos, etc.) O H. De Ville é o edifício onde tem a sede o conselho municipal e onde se agrupam os serviços de administração de uma cidade.

Património

4

n.m. 1. herança paterna; 2. bens que se herdaram dos pais ou avós; bens de família; 3. zonas,

edifícios e outros bens naturais ou materiais de determinado país que são protegidos e valorizados pela sua importância cultural; 4. RELIGIÃO dote necessário para a ordenação de um eclesiástico; 5. figurado riqueza (Do lat. patrimonĭu-, «id.»)

Património

5

Conjunto de bens culturais que devem ser preservados sendo protegidos por legislação específica. Em Portugal, o primeiro alvará de protecção ao P. data de 1721 e foi da responsabilidade de D. João V.

2 Definição in Dicionário de Língua Portuguesa 2009. Porto, 2008 3 Definição in Dicionário de termos de arte e arquitectura. Lisboa, 2005 4 Definição in Dicionário de Língua Portuguesa 2009. Porto, 2008 5 Definição in Dicionário de termos de arte e arquitectura. Lisboa, 2005

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PROJECTO DE RECONVERSÃO DE UM CINE-TEATRO EM EQUIPAMENTO HOTELEIRO PARA A CIDADE DE MANGUALDE

Património

6

São os valores que herdamos do passado e que pela sua importância natural ou cultural, devem merecer o cuidado e a protecção por parte do Estado e de cada um de nós, por forma a continuarem a documentar esse passado e contribuírem para a identidade nacional ou regional. Faz parte do legado de cada geração a transmissão e o enriquecimento da memória colectiva que estrutura as nossas sociedades. Todo o património deveria ser classificado como universal, porque a memória colectiva e o que com ela herdamos devem ser a base do progresso de cada povo e da humanidade em geral.

Pousada

7

n.f. 1. acto ou efeito de pousar; 2. Paragem numa casa para descansar ou pernoitar; 3. Casa

onde se faz essa paragem; albergaria; hospedaria; estalagem; 4. Estabelecimento hoteleiro de bom nível; 5. Domicilio; 6. FIGURADO abrigo; acolhimento; agasalho 7. REGIONALISMO conjunto de cinco molhos de cereal ceifado

Pousada

8

s.f. 1. Acção de pousar; 2. Paragem numa casa para descansar indo de jornada; 3. Estalagem;

4. Morada, domicílio, residência; 5. Choupana; aposentadoria; 6. [Portugal: Beira, Trás-os Montes] Conjunto de quatro molhos de trigo ou centeio que devem dar um alqueire

Projecto

9

n.m. 1. plano para a realização de um acto; esboço; 2. representação gráfica e escrita,

acompanhada de um orçamento que torne viável a realização de uma obra; 3. cometimento; empresa; 4. desígnio; tenção; 5. FILOSOFIA na filosofia existencial, aquilo para que o homem tende e é constitutivo do seu ser verdadeiro; DIREITO ~ de lei proposta apresentada à assembleia legislativa para ser discutida e convertida em lei (Do lat. Projectu-, «lançado», part. pass. de projicere, «lançar para a frente»)

Projecto

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1. Desenho de arquitectura que representa em planta, corte e alçado, o conjunto e os pormenores de um edifício a construir; 2. Plano geral de um edifício, geralmente executado em escala maior do que o anteprojecto, isto é, 1:100 ou 1:50 com pormenores em escala 1:20, 1:10, 1:5 ou até em escala natural, conforme o caso.

6 Definição in Glossário de termos. Porto, 1998 7 Definição in Infopédia. Porto, 2003-2013

8Definição in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, [consultado em 27-09-2013],

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Reconversão

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n.f. 1. acto ou efeito de reconverter ou reconverter-se; 2. nova conversão; 3. ECONOMIA transformação da economia de um país ou região no sentido de a adaptar a novas condições financeiras ou económicas consequentes do progresso 4. adaptação de um funcionário a uma nova actividade profissional (De re-+converter)

Turismo

12

n.m. 1. actividade de viajar, de conhecer lugares que não aquele onde se vive habitualmente;

2. tudo o que se relaciona com os serviços organizados de viagens de pessoas que praticam esta actividade; 3. movimento dos turistas; ~ rural tipo de turismo realizado em casas rústicas que possuem as características do meio rural em que se encontram, permitindo aos hóspedes um contacto direto com os usos e costumes da população local (Do inglês tourism, «id», pelo fr. tourisme, «id»)

2.2 Interpretação das definições/conceitos

Entende-se por Hotel, um edifício constituído por quartos mobilados, capaz de alojar com conforto, requinte e facilidade, hóspedes e viageiros. Pode servir, ou não, refeições e contar com variados serviços e actividades para os clientes, ou público em geral.

Sobre o conceito de Património, compreendemos como sendo todos os bens, materiais ou imateriais, que devem ser vistos como algo a preservar devido ao seu valor próprio, assim como por sustentar a identidade cultural de determinado local. É visto como uma herança do nosso passado, pelo que deverá ser protegido para que as gerações vindouras dele possam usufruir. Desta maneira, encaramos o Cine-Teatro de Mangualde como um imóvel de enorme interesse cultural, admitindo-o como Património.

Em relação ao conceito Pousada, entende-se por um edifício que apresenta uma função semelhante à do Hotel, diferindo essencialmente nas suas dimensões, apresentando a Pousada, geralmente, um tamanho mais reduzido. No nosso país existe uma rede de instalações hoteleiras de qualidade, denominada Pousadas de Portugal, muitas delas criadas através da recuperação de edifícios com valor cultural e patrimonial. Assim, o termo Pousada surge nesta dissertação pela sua dimensão e pelo facto de ser tratar de um projecto de reconversão de um imóvel com fins culturais em unidade hoteleira.

Como conceito de Projecto, em arquitectura, entende-se o conjunto de peças desenhadas e também escritas, que tem como objectivo a obtenção de um conceito para posteriormente

11 Definição in Dicionário de Língua Portuguesa 2009. Porto, 2008 12 Definição in Dicionário de Língua Portuguesa 2009. Porto, 2008

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originar a realização de uma obra, através da sua leitura e interpretação. A elaboração de um

projecto envolve diversas fases, onde os conteúdos específicos e valores quantitativos se

encontram oficialmente regulamentados. O projecto pretende dar resposta a um determinado problema, satisfazendo variadas necessidades intervindo de forma positiva na melhoria da qualidade de vida.

No que diz respeito ao conceito de reconversão, aqui surge como a adaptação de um edifício pré-existente com determinada funcionalidade (Cine-Teatro) numa nova função (Pousada), mantendo, ou não, a essência do imóvel.

Relativamente ao conceito Turismo, entendemos como a actividade na qual as pessoas viajam e permanecem em sítios, fora do seu ambiente natural por um curto período de tempo, inferior a um ano consecutivo, por lazer, negócios ou outra natureza.

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3. Contexto Histórico

3.1 A reabilitação

A reabilitação dos imóveis não surge nos nossos dias, pois na época do Renascimento, Alberti (1404-1472)13, traça as primeiras ideias para se intervir em edifícios existentes, aparecendo

desde então, várias ideias e formas de abordar a questão do restauro.

Actualmente, este tema ganha ainda mais relevância, devido ao consumismo descontrolado e falta de consciencialização para a protecção dos recursos, por parte da sociedade em que vivemos. Um pouco por todo o mundo a construção de novas edificações proliferou, resultando no abandono dos edifícios antigos, acentuando, assim, a tendência para a desertificação dos centros urbanos, aumentando os problemas sociais como a marginalidade e envelhecimento da população e, por consequência a falta de condições de habitabilidade. Face a esta realidade, foram criadas várias medidas, nacionais e regionais para que se consciencializasse a população em geral e sobretudo os principais intervenientes no processo de reabilitação, para a problemática ambiental e a importância de recuperar o património existente. Assiste-se portanto, a um aumento da tendência de intervenção no património edificado, com obras de reabilitação e conservação. A reabilitação não poderá ser vista apenas como um factor económico, na medida em que, socialmente, surgiria a possibilidade do retorno e fixação da população para as zonas com os imóveis recuperados. Para além de garantir a sustentabilidade arquitectónica e urbana e contribuir para uma maior poupança de energia e recursos, protege os valores culturais deixados pelos nossos antepassados, não apenas à escala de cidade mas do próprio mundo em que vivemos.

Segundo a arquitecta Ana Pinho (n.d.), reforçando a ideia anterior, “[...] a reabilitação

urbana é actualmente um tema incontrolável quer se fale de conservação e defesa do património, de desenvolvimento sustentado, de ordenamemto do território, de qualificação ambiental ou de coesão social. É cada vez mais um instrumento-chave para a qualificação e o desenvolvimento dos territórios construídos”14.

Um factor que contribuiu também para o elevado estado de degradação dos imóveis, foi o pensamento generalizado por parte da população, que apenas associa o que é novo à evolução, descurando assim tudo o que é antigo por considerar um obstáculo ao progresso.

13 Leon Alberti, Arquitecto e escultor italiano nascido em Génova. Foi um dos teorizadores estéticos do

Renascimento e um humanista. Autor de tratados sobre escultura, pintura e arquitectura. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2013!

14 Ana Pinho in Conceitos e Políticas Europeias de Reabilitação Urbana – Análise da experiência portuguesa dos Gabinetes Técnicos Locais. Vol. I. Lisboa, 2009, p.57

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Por outro lado, os edifícios que tiveram grande impacto na vivência de um espaço e na sua história, na altura da sua construção e que ainda na actualidade marcam o local, causam o descontentamento da população. É este sentimento que os habitantes de Mangualde nutrem relativamente ao Cine-Teatro da cidade, pois é um imóvel que marcou cultural, social e historicamente a região, e que se encontra hoje abandonado e num elevado estado de degradação.

Os Cine-Teatros, construídos ou adaptados para tais funções, um pouco por todo o território de Portugal, tiveram, e ainda têm, uma enorme importância, enquanto património arquitectónico e cultural.

3.2 Os cinemas

O Cinema aparece no final do século XIX, provocando inúmeras alterações nos hábitos de entretenimento da sociedade. Inicialmente o cinema, ainda apresentado sob a designação de

animatógrafo, teve grande aceitação popular, adaptando-se a locais onde havia grande

concentração de pessoas, como esplanadas, feiras, circos e restantes salas de espéctaculos. A primeira apresentação em Portugal acontece no ano de 1896 no Real Coliseu da Rua de Palma. Era um espaço multifuncional, dotado de pouco conforto e visto como um barracão sem qualquer preocupação espacial. A partir dessa data, a exibição de filmes acontecia de uma forma mais ou menos constante, mas sempre inserido em programas de circo ou variedades acrobáticas e musicais, muitas vezes vistas durante os intervalos desses mesmos espectáculos.

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O cinema era então, até a primeira década do século XX, visto como um espéctaculo de feira, com preços bastante económicos, funcionando em armazéns, circos, em pequenos salões ou em espaços improvisados nas feiras dos bairros e da periferia das cidades. Nas outras cidades e vilas do país era visto como um espectáculo itinerante, que se estabelecia em espaços próprios ou adaptados, por um determinado tempo15.

Portanto, nesta altura, não havia grande preocupação com o espaço no qual se fazia a projecção dos filmes, comummente feita em barracões de madeira e tendas, espaços por vezes pouco confortáveis.

Com o passar do tempo o cinema foi ganhando cada vez mais importância como actividade cultural e de lazer, atraindo maior número de espectadores. Este facto deve-se também à evolução dos filmes, que deixam de ser apenas as curtas metragens temáticas que marcaram o surgimento do animatógrafo e passam a ser filmes que contam histórias, com enredo próprio e principalmente devido ao aparecimento do cinema sonoro e à chegada das grandes produções europeias e americanas.

Posto isto, houve a necessidade de ter espaços especializados para a projecção de filmes. Começou-se então a adaptar esses espaços culturais, especialmente os teatros, apesar dos custos elevados que comportava para os proprietários e exploradores das salas. Medidas impostas pela exigência do público e também por regulamentos e normas que começam a surgir em 1913, referentes à segurança dos estabelecimentos cinematográficos, às instalações eléctricas e às medidas preventivas de incêndio, pois as cabines de projecção eram locais com grande risco, devido à inflamabilidade das películas à base de nitrato. A partir deste ano, para se obter a licença de exploração, passa a ser obrigatório responder a todas essas condições, alterando assim o espaço.

A primeira sala concebida para a exibição cinematográfica foi o Salão Ideal, em 1904, num local abandonado na Rua do Loreto, na capital, porém com pouco significado no ponto de vista arquitectónico ou espacial. Era apenas um recinto com cadeiras voltadas para um écran, ao qual se opunha a máquina de projecção. No final dessa década já se contabilizavam em Lisboa vinte e um estabelecimentos construídos para o efeito à semelhança do anterior, pequenas salas localizadas em pontos estratégicos, com maior movimento e tradição nocturna.

Em 1907 abre o Animatógrafo do Rossio e em 1908 aparece o que é considerado o primeiro edifício com especificidade estrutural dedicado ao programa, o Chiado Terrasse, ambos em Lisboa. No Porto surge em 1907 o Salão Pathé, um ano depois o Salão Jardim Passos Manuel e em 1912 o Salão Olímpya. Estes edifícios seguiam os modelos dos teatros, introduzindo nas

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salas de planta rectangular, os balcões e a separação dos lugares, obedecendo aos regulamentos então implementados.

O primeiro filme sonoro é exibido em Portugal, num pequeno cinema de Lisboa, o Royal Cine em 1930. Logo um ano depois, no São Luís, dá-se a estreia do primeiro filme sonoro português, um sucesso de larga escala, estando em cartaz mais de seis meses e visto por 200 mil espectadores.

Ainda nesta década, em 1924, é inaugurado o grande e luxuoso Cinema Tivoli, construído de raiz em Lisboa e direcionado para a alta burguesia, com capacidade de 1140 lugares, que, posteriormente, sofreu alterações impostas por novos regulamentos.

Com as salas de cinema transformadas em novos locais de encontro e lazer, com grande importância social, praticamente todas as salas de teatro existentes se adaptam para a projecção de filmes, não só nas duas grandes cidades, Porto e Lisboa, mas também noutras cidades e capitais de distrito.

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A construção dos Cine-Teatros entra no período de vigência do Estado Novo. Este regime político instituído sob a direcção de António de Oliveira Salazar (1889 – 1970), por isso também conhecido por Salazarismo, buscava a afirmação de um Estado baseado nos ideais da Nação, e que defendia fundamentalmente a ordem, a tradição e o nacionalismo, a unidade nacional e o papel do líder. Vigorou em Portugal desde 1933 até 1974 sem interrupção, embora com alterações de forma e conteúdo. Era seu objectivo, estabelecer um discurso de ordem e nacionalismo utilizando a propaganda como meio de divulgação, “[...] a censura e o

controlo dos meios de comunicação e da produção artística vão funcionar como instrumentos de promoção de um consenso em torno dos ideais do Estado”16.

Ainda em 1933 é criado o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) que assume um papel essencial da própria imagem do regime e consequente representação ideológica a transmitir. Tinha, ainda, como objectivo assegurar a transmissão de informação interna e de apoiar todas as manifestações culturais, populares e educativas, desde que estas desenvolvessem uma cultura dita nacional, uma imagem de Portugal. Para isso, com a finalidade de fazer chegar a mensagem ao máximo número de pessoas, são utilizados, entre outros meios, o cinema para exibição da propaganda.

Como António Ferro (1895 – 1956), primeiro director do SPN, afirma “[...] a arte, a literatura

e a ciência constituem grande fachada duma nacionalidade, o que se vê lá fora”17. Apoiou e

protegeu os contributos das vanguardas artísticas e das novas gerações, com encomendas directas e a criação das Exposições de Arte Moderna, influindo nas áreas de radiodifusão, teatro, cinema, dança, jornalismo, turismo e actividades culturais em geral.

16 Susana Silva in Arquitectura de Cine-Teatros: evolução e registo (1927-1959), Coimbra, 2010, p. 31 17 António Ferro cit. por Fernando Rosas in Portugal e o Estado Novo (1930-1960). As grandes linhas da evolução institucional. Lisboa, 1992, p. 141

Fig. 5 – Exterior do Cinema Tivoli, (n.d.) Fig. 4 – Interior do Cinema Tivoli, (n.d.)

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A imagem reconhecível que queria fazer passar de Portugal, devia, por um lado, ser ruralista, popular e tradicionalista, realçando as noções de autoridade, pátria, história, família, trabalho e religião e, por outro lado, de estado dinâmico, moderno e regenerador18.

O Estado Novo também influenciou a arquitectura portuguesa, podendo-se denominar de “arquitectura nacional”, sustentada no ideal artístico e político também defendido por António Ferro, na vontade de Salazar e na capacidade de realização de Duarte Pacheco (1900 - 1943). Toda esta arquitectura seguiu as tecnologias da arquitectura moderna, que submeteu às doutrinas e símbolos historicistas, classicizantes e regionalistas do regime. São características desta arquitectura nacionalista: a exigência de um estilo único, de tipologias próprias e modelos oficiais para a generalidade das construções públicas e até privadas; a elaboração de projectos de equipamento social, com sentido de propaganda e funcionalidade, desde escolas, estradas, pontes, hospitais, estações de correios, bairros económicos, etc.; as formas monumentais, simétricas, austeras, estáticas, de grande verticalidade, com um vocabulário neoclássico e recurso ao uso de granitos e mármore para demostrar a força do regime; as marcas de revivalismo historicista, como o domínio da arquitectura manuelina, joanina e pombalina para garantir a autenticidade da arquitectura (especialmente em liceus, prédios urbanos, igrejas,etc.); as fachadas decoradas com linhas Art Déco, com baixos-relevos dispostos no plano central da fachada e em painéis, segundo o gosto modernista, mas com alegorias ao trabalho, ao progresso e à ordem (sobretudo nas fábricas); pouca atenção e dedicação à composição do espaço interno19.

Em 1948, com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial e a derrota dos fascismos internacionais, realiza-se o 1º Congresso Nacional dos Arquitectos, começando uma

18 Susana Silva in Arquitectura de Cine-Teatros: evolução e registo (1927-1959). Coimbra, 2010, p. 35

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contestação ao regime e luta pela reconquista da liberdade de expressão dos arquitectos, na busca de uma linguagem simples, inspirada na tradição popular, mas também funcional. Quem lidera esta luta é Francisco Keil do Amaral (1910 - 1975) autor do projecto do edifício em causa neste trabalho, o Cine-Teatro de Mangualde. Defendeu a aplicação de uma estética ruralista ajustada à escala dos locais, volumetria baixa, que fosse teoricamente racional e formalmente tradicional. Segundo o mesmo arquitecto, “Para que a Arquitectura possa

encontrar livres os caminhos da sua perfeita expansão e servir (servir no sentido mais elevado da palavra) a Humanidade, é necessário que os homens não lhe criem entraves”20.

Keil do Amaral foi autor de inúmeras obras como o Pavilhão de Portugal da Exposição Mundial

de Paris, 1937, Aeroporto de Lisboa, 1943, do Aeroporto de Luanda, 1950, do Pavilhão da Feira internacional de Lisboa, 1956, de espaços verdes como o Parque de Monsanto, 1946-49,

e o Parque Eduardo VII, 1948, de vários planos urbanísticos, e de bastantes obras na Beira, onde viveu alguns anos da sua infância. A sua primeira obra, o Instituto Pasteur (1933-35), no Porto, revela as tendências funcionalistas e o carácter purista, trabalhando a fachada do estreito lote, com largos envidraçados modernos, gráfica e asbtractamente compostos.

20 Francisco Keil do Amaral in A Arquitectura e a Vida. Lisboa, 1942.

Fig. 7 - Desenho da Fachada do Instituto Pasteur, Keil do Amaral, 1934

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A sua obra reflecte uma linguagem simples, equilibrada, inspirada no Neo-Realismo português, com um sentido programático e racionalista, conjugando genuinidade com modernidade.

3.3 O Cine-Teatro de Mangualde

Em 1947-48, Francisco Keil do Amaral projecta então o Cine-Teatro de Mangualde. Nas décadas de 40 e 50, Mangualde era uma vila em ebulição, com edifícios de carácter marcante, desde arquitectura religiosa, como a Igreja da Misericórdia (século XVII), arquitectura civil , como a residência nobre Palácio dos Condes de Anadia (século XVIII) e também militar, sendo exemplo desta a Torre do Relógio Velho (século XVI). Nesta altura a localidade enriquecia, formando-se também culturalmente, advindo daí a necessidade de dotar a população com um espaço construído para espectáculos, iniciando-se então a longa caminhada para a construção do Cine-Teatro.

É precisamente no ano de 1943, que surge a primeira intenção para que se projectasse uma casa de espectáculos, idealizada por António Rodrigues Albuquerque, importante empresário e habitante da vila na época, tendo tentado adquirir mesmo o terreno para a construção, com o auxílio da Câmara Municipal. Contudo, o projecto não prosseguiu, ficando-se pela intenção. Passado um ano, a 4 de Maio, é enviado o primeiro ofício ao Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo e à Inspecção dos Espectáculos a requerer a construção de um edifício para o efeito, onde se podia ler “Em Mangualde não existe

nenhuma casa de espectáculos [...]”21.

Um grupo de pessoas da Vila viriam a construir uma sociedade por cotas, com capital de trezentos mil escudos (na moeda actual, cerca de mil e quinhentos euros), denominada de

Empresa Cine-Teatro de Mangualde, com o fim de construir e explorar o espaço. Resultando

num processo muito disputado, com vários interessados, é constituído como promotor efectivo da construção um benemérito e fundador dos Bombeiros Voluntários de Mangualde. A escolha para a autoria do projecto de arquitectura recaí sobre Keil do Amaral, certamente por este já ter provas dadas na região, tendo já alguma visibilidade. A memória descritiva do Anteprojecto dá entrada na Inspecção dos espectáculos a 25 de Junho de 1947. O arquitecto descreve de forma objectiva, a articulação e funcionalidade do projecto, resolvendo também os problemas de acessos ao lote, pois a única via confrontante ao espaço era a Estrada Nacional 329. Citando o que declara Keil do Amaral na Memória descritiva, “[...] Quanto ao aspecto exterior e interior procurar-se-á conseguir que esta casa de espectáculos, sem luxos

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desnecessários e despropositados, antes com grande sobriedade, seja atraente e digna da vila onde vai ser construída”22.

Fig. 8 - Fotografias da construção do Cine-Teatro de Mangualde (n.d.)

Projecta assim um edifício sóbrio, despido de ornamentos ou artefactos que pudessem ser mal interpretados e encarecer um trabalho que se queria rigoroso e com eficiência espacial e económica. Resulta num traçado simples, moderado por um jogo de volumes rectos, prudentemente articulados com genuinidade 23.

A construção deverá ter ficado concluída em 1950, sendo inaugurado a 9 de Abril do mesmo ano, com a peça teatral O Domador de Sogras, tornando-se sem dúvida, uma importante sala de espectáculos daquela região, que faz parte da memória de variadas gerações, que neste espaço presenciaram a exibição de filmes, peças de teatro e muitos outros espéctaculos ao longo de trinta e quatro anos, enriquecendo culturalmente a população de Mangualde e arredores.

O sucesso desta sala fica assim comprovado com a presença de grandes nomes do panorama cultural da época, alterando aspectos da dinâmica da Vila, aparecendo associações recreativas, alterando a vida social das pessoas e até mesmo incrementando o comércio, devido ao fluxo de frequentadores do Cine-Teatro, da localidade e de fora.

Logo por volta de 1958 aparecem as primeiras queixas relativas às condições gerais e de higiene do imóvel, anos mais tarde avisos também dos Bombeiros de Mangualde, contudo sempre ignorados. O edifício vai-se desgastando pelo tempo, e quando a cobertura já mostrava elevados riscos, surge um ofício da Câmara Municipal, a 20 de Junho de 1984, que decreta o seu encerramento, tendo fechado portas após a exibição do filme Perigoso no

Espaço, a 21 de Julho.

22 Excerto da Memória descritiva assinada por Keil do Amaral. Documento ao abrigo do IGAC, Processo Nº

18.06.01, 1º Vol. – Cine-Teatro de Mangualde

23 José Bandeirinha in Keil do Amaral, Obras de Arquitectura na Beira – Regionalismo e Modernidade.

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O tempo foi passando e o Cine-Teatro encontrava-se cada vez mais deteriorado e a precisar de intervenção, com custos elevados, sendo um factor decisivo no abandono do edifício. A então empresa proprietária do imóvel, a Lusomundo, pede apoio à Câmara Municipal para que se façam as obras exigidas de maneira a reparar as anomalias existentes e o conserto urgente do tecto de maneira a serem garantidas as questões de segurança. Mas a entidade pública, por achar que o Cine-Teatro é propriedade particular, não tendo qualquer benefício com o apoio das obras, dá o pedido como indeferido, o que se veio a provar que foi um erro.

Com o aparecimento de outras salas na região, o interesse foi-se descurando e em 1987 a

Lusomundo apresenta um anteprojecto à Câmara Municipal, para construir naquele espaço um

moderno bloco de escritórios, com um espaço no rés-do-chão para cinema, com capacidade de 270 lugares. O projecto arrasava com a obra de Keil do Amaral. Todavia a Câmara deu o seu aval, desde que na fachada se utilizasse o mais possível o granito, aproveitando a cantaria existente. Talvez por essa imposição, felizmente, o projecto não avançou.

Na década de noventa, a Lusomundo coloca o edifício à venda e a Igreja Universal do Reino

de Deus mostra interesse em adquiri-lo, à semelhança do que aconteceu com o Cine-Teatro

Império de Lisboa e o Coliseu do Porto.

Para impedir a venda, um empresário industrial da cidade compra a antiga casa de espectáculos, para que mais tarde e, quando possível, a Câmara a adquirisse. Para a compra, o empresário recorre ao financiamento pela banca, mas a sua vida profissional sofre uma reviravolta, entrando em incumprimento com as entidades bancárias, ficando o imóvel hipotecado.

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Com tantos impasses, contratempos e descuro, em 1993 parte do telhado cede. Actualmente o edifício encontra-se num estado de deterioração muito elevado, totalmente abandonado, desprotegido, tendo a cobertura sobre a plateia ruído na totalidade.

A lamentável situação em que se encontra o imóvel é incompreendida pela população em geral e o interesse pela sua recuperação reside em pontos como: o autor da obra, dada a importância que Keil do Amaral teve no contexto da Arquitectura no Séc. XX; a dinâmica urbana que pode despoletar, entre factores como a economia, a sociedade e a cultura; carga histórica e o impacto que teve em Mangualde; entre outros.

3.4 A cidade de Mangualde

A história de Mangualde, data desde a pré-história, pois , devido à sua posição geográfica, foi sendo ocupada natural e constantemente pelas várias civilizações, deixando marcas como: Dólmens, Castros, vilas romanas destapadas com as escavações arqueológicas, com destaque para o Monte da Senhora do Castelo, onde teria existido primeiro um castro e seguidamente uma fortaleza romana. De entre as várias obras, destaca-se também a Anta da Cunha Baixa, que data de 3250 a 2750 A.C. e que marca fortemente a imagem do concelho; já da ocupação romana, destaca-se, entre os vários vestígios, desde modestos casais a aglomerados mais densos, a Citânia da Raposeira, constituída por um variado conjunto de estruturas habitacionais, que se pensa ser um núcleo agrário.

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Os romanos eram atraídos pelas inúmeras riquezas naturais, fundamentalmente da exploração mineira, de Portugal e Espanha, começando a sua ocupação progressiva nos finais do séc. XI a.C., que duraria até ao séc. V. Nesta data, a Europa Ocidental é devastada por invasões bárbaras, assim como mais tarde com a invasão dos muçulmanos. Estes teriam tomado o monte e o castelo, cujo alcaide teria sido um mouro, de nome Zurara, passando então a fortaleza a denominar-se Castelo de Zurara ou Azurara, dando origem ao antigo nome da cidade, Azurara da Beira. Este castelo é conquistado definitivamente em 1058, por Fernando Magno (1016 – 1065), rei de Leão.

Na idade média, a vila nasceu à volta de dois bairros primitivos, o primeiro com o nome de

Cabo da Vila e o segundo, Rossio que surge posteriormente, pela necessidade de novas

construções devido ao desenvolvimento da população. No decorrer do século passado, os dois bairros acabaram por se unir, destacando-se o Rossio, onde se instalaram as repartições públicas, os bancos, comércios, cafés, etc., ou seja, era onde estava concentrada a vida social e económica da população.

Mangualde recebe em 1102, o primeiro foral, mesmo antes da formação de Portugal, pelos condes portucalenses, D Henrique e D. Teresa, sendo depois mais tarde em 1217 e 1514 confirmado, por D. Afonso II e D. Manuel respectivamente. Foi vila desde 1218 e ganha a

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Mangualde é então uma cidade do distrito de Viseu, localizada na Beira interior. Contabiliza um total de 18 freguesias, numa área de 220,72 km2 e com 19 880 habitantes divididos por 7

671 famílias.24 Assenta num planalto que se inclina para Sul, bastante fértil, a 545 metros de

altitude, entre o Rio Dão e o Rio Mondego.

Localiza-se a cerca de 15 km de Viseu, 100 km de Espanha, Coimbra e Aveiro, a 140 km do Porto e 300 km de Lisboa e servida por vias automóveis como a A25, o IP3 e também pela linha de caminhos de ferro.

Entre inúmeras obras de interesse arquitéctónico temos a Igreja Matriz, do século XII, a Igreja da Misericórdia, do século XVIII, a Casa ou Palácio de Anadia, do século XVII, Real Mosteiro de Maceira Dão, iniciado no século XII, e o Santuário de Nossa Senhora do Castelo, construído depois da demolição do Castelo, situado a 627 metros de altura, estrategicamente virado para toda a cidade.

3.5 Dados demográficos

De acordo com os Censos de 2011, de uma forma mais lata, podemos verificar que a população, em relação à década anterior, teve um decréscimo de 5,4%, registando actualmente 9 559 homens e 10 321 mulheres, num total de 19 880 pessoas. No entanto o número de famílias aumentou 6,06 pontos percentuais, para 7 689, assim como se verificou um incremento de 17,3% de edifícios e um crescimento respectivo de 16,6% de alojamentos. O envelhecimento progressivo da população do concelho é uma realidade, assim como no resto do território nacional, sendo que a população entre os 15-64 anos está a diminuir, aumentando a população com mais de 65 anos o que faz com que o índice de envelhecimento seja mais de duas vezes superior ao índice de juventude.

24 Resultados dos Censos de 2011, Instituto Nacional de Estatística

Fig. 12 - Fotografia antiga do Bairro do Rossio (n.d) Fig. 13 - Fotografia antiga do Bairro Cabo da Vila( n.d.)

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Relativamente à educação, o ensino que predomina no concelho é o 1º ciclo do ensino básico seguindo do 3º e 2º ciclo. Cerca de 21 % da população em 2011 não tinha qualquer nível de ensino. Em questão de trabalho, da população activa, têm-se registado um aumento nos sectores secundário e terciário e diminuição no sector primário, estando esta última com mão-de-obra envelhecida e fraca escolarização dos produtores.

No que diz respeito ao edificado, a tipologia dominante são os edifícios de dois pisos, com 60,4 pontos percentuais, e com apenas um piso, de 23,1 pontos percentuais, ou seja os edifícios de um e dois pisos são densamente predominantes. De todo o parque construídos constata-se que 41,7% dos imóveis necessitam de reparações, dos quais 4,3% encontram-se muito degradados. No concelho, são os alojamentos familiares clássicos que imperam, com 99,6% contra os não clássicos com 0,3% e 0,1% para os alojamentos colectivos, dos quais apenas 4 são hotéis ou similares, num leque de 11 275 edifícios25.

Gráf. 1 . Estado de conservação dos edifícios concelhios, INE

3.6 As Pousadas

Numa altura em que o país atravessa uma crise económica e social a aposta passa também pelo investimento turístico, num país com alargado património de interesse cultural, natural e histórico, que apesar de pequeno apresenta uma grande versatilidade de oferta.

Um pouco por todo país, podemos observar a recuperação de imóveis para este fim, num total já de trinta e quatro pousadas, com maior incidência no Norte e Alentejo. Estas pousadas, denominadas Pousadas de Portugal dividem-se em quatro grupos: Históricas, situadas em monumentos históricos, inseridas no local original, preservando ainda pedaços intactos da história; Natureza, localizadas habitualmente no meio natural de uma região, em amplos espaços ao ar livre, proporcionando contactos com a cultura local num cenário natural; Históricas Design, em imóveis restaurados, mantendo e recuperando aspectos históricos do

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seu tempo; Charme, localizadas em edifícios que se integram com a arquitectura local, respeitando a traça do folclore e da cultura da época26.

Como exemplos destas pousadas temos: Pousada do Porto, no Palácio do Freixo (histórica), construído em 1742, inaugurado como Pousada em 2009; Pousada de Manteigas, São Lourenço (natural), localizada no Parque Natural da Serra da Estrela; Pousada de Faro, Palácio de Estoi (histórico design), inaugurado em 1909; Pousada de Viseu (charme), surge da recuperação do antigo hospital da cidade, datado de 1842, inaugurado como pousada em 2009.

Fig. 14 - Pousada de Manteigas, (n.d.) Fig. 15 - Pousada do Freixo, Porto, (n.d.)

Fig. 17 - Pousada de Faro, (n.d.)

26 Sítio das “Pousadas de Portugal” - http://www.pousadas.pt/ , consultado em 2013-04-11

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4. Casos de estudo

A opção pelo estudo destas Pousadas em particular, passa primordialmente pelo facto de todas serem adaptações de edifícios preexistentes e pela preservação da identidade e história de cada imóvel, à semelhança do que se pretende com este projecto, assim como por serem edifícios de referência no que diz respeito à reconversão.

O primeiro caso de estudo, a Pousada de Santa Marinha da Costa, do arquitecto Fernando Távora, surge porque, apesar da adição de um novo volume, manteve todo o protagonismo da construção preexistente, preservando e conservando as suas características mais expressivas. No que diz respeito à Pousada de Santa Maria do Bouro, do arquitecto Eduardo Souto Moura, a escolha recai devido, à semelhança deste projecto, a reconversão partir de um edifício em ruínas, tentando manter a imagem que apresentava nos últimos anos.

Por último, escolhemos a Pousada da Flor da Rosa, do arquitecto Carrilho da Graça por ser um projecto em que o arquitecto, com a construção de um novo volume, pretendeu criar um contraste com o existente, através da cor e dos materiais, não retirando protagonismo ao antigo objecto.

4.1 Pousada de Santa Marinha da Costa, Guimarães

Situado na encosta do monte da Penha na Serra de Santa Catarina, um pouco mais a Este da cidade de Guimarães, encontra-se o Mosteiro de Santa Marinha da Costa, abrangido por um vasto parque arborizado.

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Este mosteiro à semelhança da cidade de Guimarães, que hoje é vista como uma das mais importantes cidades históricas do país, com o seu centro histórico reconhecido mundialmente e classificado como Património Mundial da Humanidade, acumula séculos de história. Para além dos sinais de ocupação por parte da civilização romana, este terá sido também um templo suevo-visigótico nos séculos VI e VII, no local onde actualmente se encontra o claustro do mosteiro. Nos finais do século IX o antigo templo é reconstruído sendo consagrada em 889, a Igreja de Santa Marinha da Costa, que viria a ser uma componente do Mosteiro da Costa aquando da sua constituição em 1154. Com o decorrer do tempo o mosteiro foi tendo diferentes funções desde sede do Condado Portucalense, colégio, centro de estudos e até polo de ensino universitário, levando a alterações na sua forma inicial. Em 1936 a igreja e respectiva escadaria foram classificados como Imóvel de Interesse Público.

No final do séc. XVI deflagra um grande incêndio no mosteiro, devastando, entre outras áreas, o claustro românico, que viria a ser reconstruído conforme os moldes clássicos. Assim, durante todo o século XVII, o mosteiro foi sendo lentamente reconstruído, sofrendo importantes obras estruturais e decorativas.

Em meados do mesmo século a capela-mor foi ampliada e iniciou-se a construção, a Este, da grande ala. Esta ala, abrangendo os dormitórios, foi rematada em 1682, pela Varanda de Frei Jerónimo. Em termos decorativos aplicaram-se painéis de azulejos em todo o conjunto: na Igreja, na sacristia, no claustro, no novo dormitório, na Sala do Capítulo e na Varanda de Frei Jerónimo. Em 1731 ocorreu a ampliação do corpo Oeste e entre 1775/78, a construção das torres sineiras.

O Mosteiro foi abandonado em 1834 aquando da extinção das ordens religiosas, tornando-se a igreja destinada ao uso paroquial e, tanto o mosteiro como a cerca foram colocados à venda em hasta pública, sendo adquiridos por um proprietário privado. Desde então, a propriedade passou de família em família até que, no ano de 1932, fica a cargo da Companhia de Jesus, com a pretensão de instalar no mosteiro os seus estudos filosóficos.

Durante este período o mosteiro foi alvo de muitas transformações por parte dos seus proprietários, destacando-se os casos do alargamento da ala Sul do claustro e da ala a Oeste. Em 1951 deflagrou outro grande incêndio que acabou por destruir a ala dos dormitórios, incluindo o seu recheio e os azulejos, deixando o Mosteiro em elevado estado de degradação e posterior abandono.

Imagem

Fig. 1 - Fachada do Real Coliseu, (n.d.)  Fig. 2 - Palco do Real Coliseu, (n.d.)
Fig. 3 - Planta do Cinema Chiado Terrasse, (n.d.)
Fig. 5 – Exterior do Cinema Tivoli, (n.d.) Fig. 4 – Interior do Cinema Tivoli, (n.d.)
Fig. 7  - Desenho da Fachada do Instituto  Pasteur, Keil do Amaral, 1934
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Referências

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