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Encontros afetivos em quintais urbanos: um estudo sobre famílias e sociabilidade no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA)

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Academic year: 2020

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Resumo

Este texto é parte de um estudo cujo objetivo final fora investigar os significados atri-buídos aos quintais em narrativas de diferentes gerações de famílias residentes em áreas urbanas no século XXI, na cidade de Salvador, Bahia. Neste artigo, é proposto o estudo dos quintais como locais de resistências e pertencimentos, partindo da necessidade que o sujeito tem de construir um contexto de vida afetivo, associado ao lugar. Sugere-se o uso dos termos “topofilia”, “affectivation” e “liminaridade” como entidades tríades, que, ao se complementarem, permitem a compreensão das inter-relações entre o lugar e a família no contexto de desenvolvimento.

Palavras-chave: quintais, topofilia, affectivation.

Abstract

This text is part of a study whose final objective was to investigate the meanings attrib-uted to backyards in narratives of different generations of families living in urban areas in the 21st century in the city of Salvador, Bahia. In this article, it is proposed the study

of backyards as places of resistance and belongings, starting from the necessity that the subject has to build a context of affective life, associated to the place. We suggest the use of the terms “topophilia”, “affectivation” and “liminaridade” as triad entities, which, when complemented, allow the understanding of the interrelations between place and family in the context of development.

Keywords: backyards, topophilia, affectivation. 1 Universidade Católica do Salvador. Av. Cardeal

da Silva, 205, Federação, 40231-902, Salvador, BA, Brasil.

2 Universidade de Salerno. Via Giovanni Paolo II,

132, 84084, Fisciano (Salerno), Italy.

Encontros afetivos em quintais urbanos:

um estudo sobre famílias e sociabilidade no

Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA)

Affective encounters in urban backyards: A study about families

and sociability in the Subúrbio Ferroviário in Salvador (Brazil)

Wanderlene Cardozo Ferreira Reis1

jnd1232@hotmail.com

José Eduardo Ferreira Santos1

ferreirasantosenator@gmail.com

Ana Cecília de Sousa B. Bastos1

anaceciliabastos@gmail.com

Giuseppina Marsico2

pina.marsico@gmail.com

Elaine Pedreira Rabinovich1

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Introdução

O período colonial brasileiro foi marcado pela inserção do homem na terra. A necessidade de produzir para o mercado exterior (leia-se metrópole portuguesa), favoreceu, não só o au-mento dos latifúndios em áreas rurais, mas também, o apareci-mento de pequenas propriedades em áreas urbanas.

Dessa forma, todas as construções de casas deveriam dei-xar um espaço para os quintais. Pois, segundo uma Carta Real de 1736, citada por Silva (2004), esta parece ser a primeira base le-gal para normatização do uso do solo no Brasil. Com isso, perce-be-se que havia a obrigatoriedade, não só no sentido da neces-sidade fisiológica, ou seja, para alimentação, como também era uma obrigação imposta pela lei, uma “Lei da Terra” nos moldes coloniais. Contudo, percebemos que não eram apenas estas duas questões em voga na época. Na falta de médicos e hospitais, o conhecimento dos indígenas e dos africanos escravizados no Brasil, acerca das ervas curadoras e seu cultivo, os quintais, tanto nas áreas rurais quanto nas áreas urbanas, se tornam espaços importantes para a população.

[...] também, incorporava-se a área posterior da casa ao plan-tio de ervas medicinais. O conhecimento dessas ervas foi, em grande parte, absorvido da cultura indígena e utilizado para cura durante longo tempo. Ainda hoje, seu uso é comum em localidades em que o acesso a remédios e médicos não é fácil (Loureiro, 2008, p. 15).

Até grande parte do século XIX, a terra não era vendida, mas sim, objeto de concessão. Foi somente a partir da década de 1850, que este antigo regime foi substituído por um novo siste-ma que institucionalizou a propriedade privada do solo, através do Decreto 1.318, de 1854 (Casa Civil, 1854).

No entanto, esse novo sistema, que deu origem às residên-cias construídas em lotes estreitos e profundos, onde a fachada da casa ganhava importância em detrimento dos demais espaços, permaneceu com a valorização do tamanho das áreas não cons-truídas em oposição ao espaço construído. Desse modo, a casa continua tendo um grande espaço livre em seu interior, geralmen-te arborizado, denominado de quintal. Esgeralmen-te modelo era diferengeralmen-te dos modelos europeus e americanos, pelas práticas que abrigava, ou seja, no Brasil, estava ligado ao abastecimento de subsistência e práticas de convivialidade doméstica (Silva, 2004, p. 63).

Vale ressaltar que os quintais urbanos ganharam desta-que por contribuir social, cultural, econômica e ambientalmente. Por exemplo, Trotta et al. (2012) e Winklerprins e Oliveira (2010), realizaram um estudo em Santarém (Pará) e descobriram que as famílias trocavam os produtos dos seus quintais entre si, man-tendo uma rede social de trocas e doações e permitindo, assim, a conservação da biodiversidade. O que é corroborado por Gomes (2009), onde o quintal é um espaço que,

[...] possibilita a convivência com plantas, pequenos animais e vida cultural. Festas de casamento, congados, batizados, pago-des e churrascos passam por ali. Os quintais com plantas

pro-movem encontros e trocas, processos de socialização e relações de vizinhança, que poucos imaginariam existir e resistir nas ci-dades modernas impermeabilizadas (Gomes, 2009, p. 122). Trabalhos realizados em quintais, manejados por povos de diferentes culturas e localizados no território urbano, têm possibilitado o registro do arranjo desse espaço, envolvendo a estrutura de organização, a composição, o manejo e a função das plantas (Ferreira e Dias, 1993; Brito e Coelho, 2000; Amoro-zo, 2002; Pasa et al., 2005).

Dessa forma, verifica-se que a permanência no uso de quintais em áreas urbanas para fins de consumo dos membros das famílias, principalmente quanto ao uso de ervas medicinais, é um dado importante, por mostrar a busca da preservação de um conhecimento acumulado pelas gerações, sendo, como su-gere Carniello et al. (2010, p. 460), “pertinente destacar aqui, que na natureza, à medida que uma planta é percebida como de relevância para um dado grupo pode ser poupada em decorrên-cia dos benefícios revertidos aos que a conhecem”.

Contudo, não é só a questão da preservação ambiental, ou apenas o manejo de plantas para fins medicinais, e muito menos para fins alimentícios, como o eram em tempos remotos, que estão em jogo quanto à preservação do espaço do quintal nas residências das famílias. Nos dias atuais, há outras questões de foro mais subjetivos, ligadas às diversas formas de relaciona-mentos entre a pessoa e o espaço/lugar que, provavelmente, têm contribuído para a preservação e manutenção de espaços, que podem ser tanto públicos quanto privados. Por isso, neste artigo, nos esforçaremos em apresentar alguns fatores que possibilitam a compreensão da manutenção dos espaços dos quintais em re-sidências de famílias no século XXI. Apontamos os fatores resis-tência e pertencimento como díades que se sobrepõem, partindo da necessidade que o sujeito tem de construir um contexto de vida afetivo, associados ao lugar. Utilizando-se uma via expli-cativa desses processos, sugere-se o uso dos termos “topofilia”, “affectivation” e “liminaridade” como entidades tríades, que ao se complementarem, permitem a compreensão das inter-rela-ções entre o lugar e a família no contexto de desenvolvimento.

O processo de affectivation e as

fronteiras objetivas e subjetivas do

desenvolvimento

Os significados semiótico-culturais são promovidos por componentes afetivos que funcionam como uma borda per-meando o intervalo de abertura entre a pessoa e o ambiente. Quando as trajetórias diferenciais de elaborações semióticas, que emergem de motivos “cosmológicos”, organizam as nossas percepções e imaginações em um campo cultural significativo, os processos afetivos agem promovendo ou restringindo os com-portamentos em contextos ambientais.

Contudo, como uma pessoa poderá achar as próprias qualidades afetivas dentro da realidade objetiva e ainda ser

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affectivated por ele? Por exemplo, um objeto, que uma pessoa

encontra dentro do ambiente, pode induzir a certo estado emo-cional através da sua existência objetiva, em combinação com o que há de mais subjetivo presente dentro do self (Valsiner, 1999; Glaveanu, 2013; Carrière, 2013a).

Uma explicação é a forma como usamos ativamente ob-jetos, imbuídos de significados, para estruturar nosso redor, de forma que o meio ambiente, por sua vez, venha mediar nosso bem-estar emocional. Desse modo, a felicidade ou o bem-estar não é um estado permanente a que se pode chegar, mas uma experiência de um tipo especial, necessariamente transitória ou fugaz. Contudo, a sensação de prazer que nós temos, por exem-plo, ao ver um objeto estético que se relaciona ao sentimento de felicidade, pode corresponder a um estado perfeito de harmonia entre o eu e o mundo (Glaveanu, 2013).

O processo de affectivation do outro (pessoa, lugar, objetos), permite o surgimento e a reconstrução da apreensão semiótico-cultural da experiência. Neste sentido, a organização semiótica dos sentimentos é afetiva e cognitivamente elaborada por pessoas que pertencem a um campo cultural que permite a partilha de experiências comunicativas.

Argumentamos aqui, que os quintais remanescentes, nos grandes centros urbanos, por pertencerem a um campo afetivo--cultural específico, sejam esses lugares onde a vida se desenvol-ve em toda a sua amplitude e plenitude. A vida do desabrochar das flores, o crescimento das ervas que curam as mais variadas doenças, mas também, das árvores que nos dão seus frutos sem nenhuma hesitação; o quintal é testemunha ocular do nascer e do morrer dos animais domésticos; sem dúvidas, é o cemité-rio dos pequenos animais que faziam parte da família. É, ain-da, onde as festas se realizam entre o frescor puro e o cheiro de mato, da erva-cidreira e do capim-limão. Um espaço onde a liberdade se amplia independentemente do tamanho físico do lugar. Onde as relações se estreitam, entre os vizinhos e os da “rua”. Um lugar que realimenta o nosso estado afetivo e, assim, o nosso potencial de ação, enquanto que, simultaneamente, nos relacionamos com esse lugar, transformando-o.

O quintal é a relação entre os dois contextos sociais (a casa e a rua), mas também é ele próprio um contexto socio-cultural que, de forma dinâmica, possibilita a construção de valores. Ou seja, o quintal é uma fronteira e, nesse sentido, permite às pessoas “tornar menos ambígua a sua relação con-sigo mesmo, com os outros e com o ambiente físico” (Marsico

et al., 2013, p. 53).

Fronteiras são como “artefatos construídos pelos seres humanos para modular a relação com o ambiente fluido, di-nâmico e ambíguo” (Marsico, 2011, p. 53). Para Marsico, uma fronteira pode ser um dispositivo que demarca (linha, parede, silêncio), mas também, pode ser uma zona que distingue os cam-pos. Uma fronteira pode ser um campo tanto no nível concreto (um muro que separa uma casa da rua) quanto no nível abstra-to (as fronteiras temporais, por exemplo), este último é sempre orientado para o futuro. Segundo a autora acima citada, o ato de recordar ou esquecer são processos que ocorrem na região

de fronteira entre o passado e o futuro, e, portanto, é sempre ambígua (Marsico e Valsiner, 2017).

Fronteiras no desenvolvimento

humano: alguns pontos teóricos

e metodológicos

A fronteira é encontrada bastante no centro do debate científico, acerca da relação entre indivíduo e contexto e o pro-cesso da construção de identidade coletiva e individual.

Ainda assim, isso está sofrendo de uma rigidez na for-ma que está sendo conceptualizada até agora. Não é fixa como aparenta, tanto na prática quanto em significado. Fronteiras são bem simples em movimento, ou melhor, elas são móveis. Frontei-ras sempre estiveram em movimento, e a construção e descons-trução de fronteiras são apenas uma questão de tempo (Davies, 2011). Isso é evidente em uma macroescala, se nós olharmos as fronteiras sócio-políticas das nações ao longo dos séculos, mas, isso também é observável em microescala, como por exemplo, na história do quintal no processo recente de urbanização do Brasil, como fora descrito nesse texto.

Normalmente, fronteiras são concebidas em termos dico-tômicos, (“in <> out”, “here <> there”>) e formadas por forças dialéticas opostas, em vez de processos que conectam e dividem as partes em uma relação inclusiva e separada (Cornejo et al., 2018).

A tentativa recente de reformular a noção de fronteiras na perspectiva da Psicologia Cultural (Marsico, 2016; Marsico e Varzi, 2016), foca exatamente em aprofundar a natureza pro-cessual da borda que não é uma entidade rígida, visível e linear, mas a “Zona da Fronteira” onde movimentos, ações e agência humana em grandeza são possíveis e amplamente promovidas nessa área liminar.

A sobreposição de fronteiras é intrínseca ao ser huma-no e é uma das características específicas da infância (sobre os quais os três casos discutidos, neste texto, se referem). Controles de fronteiras e decisões parentais limitam de certa forma a ca-pacidade das crianças se deslocarem, assim como sua liberdade de fazer e tomar decisões relacionadas sobre onde e com quem eles sentem que pertencem (Konrad, 2015). De qualquer forma, fronteiras não podem ser reduzidas a meras ferramentas de con-trole cultural, elas são também arenas performativas. Os três casos-análise seguintes mostram exatamente como o “quintal” é um “lugar de desenvolvimento” para muitos processos psico-lógicos e socioculturais diferentes, que têm um papel principal na construção da identidade da criança e no paradigma cultural da família como tal.

O quintal, de fato, tem todas as características ambiva-lentes de uma zona liminar. Pois este, normalmente, está loca-lizado entre a casa e a rua. O quintal é parte da vida comum da família e tem um papel crucial na trajetória de desenvolvimento para aqueles que têm vivido nesse “espaço do meio” (Marsico, 2011). Como uma Zona de Fronteira, o quintal representa um

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objeto privilegiado de investigação para o entendimento de di-ferentes processos psicológicos e sociais, como, por exemplo, o que tem sido conceptualizado sobre o rótulo de “affectivation”.

O que significa affectivation?

O estudo sobre a dinâmica do processo de affectivation, de acordo com Valsiner e Tateo (2013) e da construção e expe-riência de fronteiras, assim como fora desenvolvido por Marsico (2011), abre um portal para entender o processo de uso e manu-tenção dos quintais em áreas urbanas, como parte da experiên-cia humana.

A dinâmica entre o ter e o sentir-se parte do ambien-te vem da necessidade de pensarmos a adaptação afetiva como uma possibilidade de ajustar o indivíduo ao ambiente e vice--versa, exibindo o processo de affectivation como fronteira con-ceitual e uma condição para o desenvolvimento de construções de sinais afetivos (Carrière, 2013b).

Affectivation é o processo em que as emoções das

pesso-as são ativadpesso-as quando se relacionam com o ambiente, ou seja, as pessoas têm necessidades emocionais e o ambiente está de-finido para “afetivar” essas necessidades, restringindo e promo-vendo vários estados afetivos (Carrière, 2013b, p. 87).

O termo affectivating, criado por Valsiner e Tateo, fora apresentado quando ambos participavam de um Simpósio na ci-dade de Santiago, no Chile, em 2013. De acordo com estes autores: To emphasize the affective and actions-based nature of that process we have created a term (affectivating= affect + acti-vating) which here is a neologism. It indicates the two-sided (Person à Environment and Environment à Person) process of relating—treating that relating as primarily an affective (and secondarily cognitive) process. Briefly—We affectivate environ-ments that, in that process, turn us affectively tuned to them (Valsiner e Tateo, 2013, p. 1).

Ou seja, affectivation é um duplo processo que interrela-ciona as pessoas a seu ambiente (pessoa – ambiente e ambiente – pessoa), ao mesmo tempo em que ativa esta relação dialógica. Afeto significa, apenas, afeição, um “sentimento de apego since-ro por alguém ou por algo” (Ferreira, 2004, p. 99). Desse modo, a afetividade se refere à capacidade de experimentar sentimentos positivos ou negativos. É empregado de modo a identificar fenô-menos de ordem psíquica e física associado aos termos emoção, humor, motivação, sentimento, paixão, amor, personalidade, temperamento e muitos outros (Longhi et al., 2010).

Affectivation é um processo que permite o surgimento e

a reconstrução de significados de uma experiência em um dado campo semiótico-cultural, cuja essência é o afeto, que

estabe-lece relações entre pessoa e ambiente, de maneira que, tanto ativam quanto facilitam a ação prática em contextos específicos (Carrière, 2013a).

Tuan (1983, p. 4-5), preocupado em entender o que dá identidade e “aura” a um lugar, pergunta-se: “de que maneira as pessoas atribuem significado e organizam o espaço e o lugar?”. Para o autor, isso depende da tomada de um referencial ou de uma perspectiva “experiencial”, ou seja, as maneiras pelas quais as pes-soas tomam contato e constroem a realidade são orientadas pelas sensações (por intermédio dos cinco sentidos) e pelos sentimentos.

Nesse ínterim, esse mesmo autor traz o conceito de “to-pofilia”3 compreendido como o “elo afetivo entre a pessoa e o

lugar ou ambiente físico” (Tuan, 1980, p. 5). Este tipo de senti-mento varia em amplitude, variedade e intensidade, segundo o autor, e também pode vir de respostas prazerosas, mais simples, como a percepção tátil do frescor da brisa, o cheiro de uma erva, por exemplo, ou ser mais “permanentes e mais difíceis de ex-pressar, são os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida” (Tuan, 1980, p. 107). Contudo, para que os significados sejam construídos ao longo das trajetórias humanas, a relação do ho-mem com a paisagem ou meio ambiente deve ser mais pessoal e duradoura, pois estes significados podem “perdurar além do efêmero, quando se combinam o prazer” (Tuan, 1980, p. 110). No entanto, Tuan, nos aponta que,

Na vida moderna, o contato físico com o próprio meio ambien-te natural é cada vez mais indireto e limitado a ocasiões espe-ciais. Fora da decrescente população rural, o envolvimento do homem tecnológico com a natureza é mais recreacional do que vocacional. O circuito turístico, atrás das janelas de vidro rai-ban, separa o homem da natureza. De outro lado, em certos es-portes como o esqui aquático e alpinismo, o homem entra em contato violento com a natureza. O que falta às pessoas nas sociedades avançadas (e os grupos hippies parecem procurar) é o envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que prevaleceu no passado, quando o ritmo da vida era mais lento e do qual as crianças ainda desfrutam (Tuan, 1980, p. 110). É por essa via que discutiremos os significados de

affec-tivation, liminaridade e topofilia como palavras-chave, para

en-tender como o processo de construção de sentimentos e afetos podem estar relacionados a um ambiente específico, o quintal, ainda nos dias atuais e nos grandes centros urbanos. Ou seja, como apontou Marsico (2011, p. 187), “hoje, mais do que nunca, há um reconhecimento de uma interdependência clara entre os tipos “individuais” de condições ‘socioambientais’ para explicar o desenvolvimento humano”.

Nos casos que se seguem, buscou-se analisar, não exaus-tivamente, o papel da afetividade na construção da identidade

3 Topofilia, trata-se de um neologismo criado pelo autor que buscou um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Trata-se de um

livro escrito pelo geógrafo Tuan (1980). O autor define o termo topofilia, criado por ele, como “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vívido e concreto como experiência pessoal”. Tuan aborda a relação do homem com o meio ambiente incluindo não apenas a percepção, mas as atitudes e valores que influenciam a própria percepção sobre o meio ambiente (1980, p. 5).

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de lugar como dimensão do estudo do quintal, enquanto um espaço que possui limites tênues entre a casa (espaço privado) e a rua (espaço público). Foi abordado um processo indutivo de três estudos de caso4, realizados na cidade de Salvador, Bahia,

nos anos de 2014 e 2015. Desta forma, buscou-se evidenciar o que cada um deles contribuiu para a compreensão e para a enunciação dos “termos” affectivation, topofilia e liminaridade.

Estudos de caso

Caso 1

Leonor tem trinta e oito anos de idade e é mãe de Isa-bele, que, atualmente, está com seis anos de idade. Essa história começa quando Leonor e o esposo José compram uma casa com um grande quintal no bairro de Itacaranha. Neste período, sua filha estava completando cinco anos de idade. Foi a partir da sua relação com a filha no novo espaço adquirido que ela foi ativada a pensar em sua identidade afetiva com o lugar, denominado de quintal. Vejamos por quê:

Isadora [minha filha] tinha cinco anos e era uma menina que não gostava de pisar, chegar perto da terra, de um simples matinho, ela não gostava. Aí, quando a gente comprou aqui [esta casa com este quintal] e ela começou a vir com a gente; quando a gente começou a limpar, ela chorava muito, que não queria ficar, que tinha mato etc. Aí, eu comprei uma bota igual a minha e do pai e disse a ela: -Você também vai usar uma bota e usar uma calça, você vai ver como é legal. Aí, eu fiz isso, então ela começou a gostar, começou a pegar nos matinhos, aí ficou contente, aí eu fiquei também, porque ela não pisava, não chegava perto de uma folha, que tinha medo.

Leonor, ao se sentir afetada pela recusa da filha em acei-tar interagir com o quintal, busca através de alguns artifícios (um par de botas e uma calça), incentivar a menina, mas, tam-bém, oferecendo-lhe um suporte emocional e transmitindo-lhe segurança. Ela estava preocupada em mostrar à filha “o que era um quintal”. Isso, talvez, se deva ao seu processo de significação do lugar, em sua infância, como apontado na narrativa a seguir:

Eu brincava demais! Na minha infância a gente dormia de porta aberta. Lá no quintal, minha mãe fazia casinha com as palhas das bananeiras e a gente brincava muito.

[...]

Foi muito bom, tive infância, eu brincava de pular corda, de es-conde- esconde, não tinha medo de nada, a gente ficava assim à vontade, eu, minhas irmãs, minhas amigas.

Assim, como ela teve uma infância marcada pela vi-vência nos quintais, onde as brincadeiras proporcionavam um sentimento de pertença e coletividade, favorecido pela afeição,

cuidado e carinho da mãe, ela tenta reproduzir isso com a pró-pria filha, oferecendo-lhe condições para a vivência de experi-ências semelhantes, orientada pelas crenças que tem de infância e de ser criança. Em razão dessas experiências, podemos pensar que, na trajetória de Leonor em quintais, emerge o que Benja-min (1987), afirmou a respeito do brincar e da brincadeira se-rem a gênese de “nossos hábitos”, pois o processo de repetição, tão importante nas brincadeiras infantis, é o elemento comum. “A essência da representação, como da brincadeira, não é ‘fazer como se’, mas ‘fazer sempre de novo’, é a transformação de uma experiência, em hábito” (Benjamin, 1987, p. 253).

Parece que essas experiências se tornaram ‘hábitos’ e são tão carregadas de significados afetivos para Leonor, que foge ao seu entendimento outra forma de perceber o mundo. Como ela sugere a seguir:

[...] ela não gostava [do quintal], porque tinha areia e mato. Pra mim era estranho, porque eu cresci no mato, eu brincava, pintava e bordava. Aí eu pensei: – tenho que mostrar pra ela o que é um quintal.

Weisfeld (2009 in Carrière, 2013b), nos ajuda a entender o papel da afetividade em relação ao ambiente e às pessoas, nos mostrando que não apenas os afetos que decorrem de circuns-tâncias atuais são importantes, mas aqueles que emergem de nossas memórias de experiências afetivas com as pessoas com quem nos identificamos, como por exemplo, os nossos pais. Sen-tir-se bem num lugar, ter prazer em transmitir o sentimento de lugar aos mais jovens e sentir-se “feliz” com isso, assim como demonstrar cuidados com o lugar e com as pessoas, são formas de manifestar afetos, que não partem, apenas, do ambiente para o indivíduo – “o indivíduo age sobre o meio ambiente para criar esses afetos”, numa via de mão dupla (Carrière, 2013b, p. 87). Le-onor realiza diversas atividades no quintal, como ela mesma diz: [...] no meu quintal eu lavo roupa, eu planto, às vezes a gen-te faz uma festinha no quintal, faz um churrasquinho, como caranguejo, fazemos um piquenique sempre no quintal, que também é o lugar mais fresco.

E cada atividade engendra uma novidade que possibilita a partilha de experiências comunicativas. Por exemplo, fazer um “piquenique no quintal para brincar com os filhos”, oportuniza que o novo ambiente agora ative estes sentimentos dentro do indivíduo, que não estariam necessariamente presentes sem o efeito das ações da pessoa neste ambiente. Provavelmente, nin-guém se sentiria feliz num quintal cheio de mato e lixo, a não ser para transformá-lo num lugar passível de convivência, atra-vés do “capinar” ou “limpar” o local em família. Assim, pode-se concluir que esta tarefa organizada por Leonor (o piquenique), criou uma atmosfera afetiva no lugar. Se antes o quintal tinha uma conotação negativa para a filha Isabele, devido à presença

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de “matos e areia” que eram estímulos que proporcionavam an-siedade e medo, agora, “ela anda descalça, ela pega no mato, ela brinca de comidinha com mato”, mostrando que o cuidado e carinho da mãe fez surgir um novo sentimento, o amor ao lugar.

Desse modo, “a essência do afeto é estabelecer relações entre pessoa e ambiente” de forma que ambos sejam ativados (Glaveanu, 2013, p. 2).

Nas interações com o meio social e cultural criamos sis-temas organizados de pensamentos, sentimentos e ações que mantêm entre si um complexo entrelaçado de relações. Assim, como a organização de nossos pensamentos influencia nossos sentimentos, o sentir também configura nossa forma de pensar.

Affectivating é, portanto, um processo de construção de

si mesmo através do mundo, promovendo a adaptação da “pes-soa ao meio ambiente e do ambiente à pes“pes-soa” (Carrière, 2013b, p. 87).

Essa adaptação só é possível mediante a projeção dos sentimentos sobre os objetos que, posteriormente, com as trocas interpessoais e a intelectualização dos sentimentos, vão sendo cognitivamente organizados, gerando o sistema de valores de cada sujeito (Carrière, 2013b). Assim, Leonor transmitiu a men-sagem para a própria filha de que o quintal tem um valor po-sitivo. No entanto, essa “transmissão” depende de experiências afetivas mútuas, como ela mesma acrescenta: “aí [ela] ficou con-tente, aí eu fiquei também”.

Várias foram as tentativas de Leonor em realizar ativi-dades que pudessem “afetivar” o desejo da sua filha. Contudo, o que estava sendo negociado não era a atividade em si, mas as significações partilhadas entre mãe e filha na realização da atividade. Por exemplo, ao construir um lugar que lhe fosse fa-miliar, carregado de sinais culturais com grande valor afetivo, Leonor possibilitou o surgimento de uma nova identidade, a identidade com o lugar. Neste sentido, o processo de

affecti-vation permitiu o “surgimento e a reconstrução da apreensão

semiótico-cultural da experiência” (Valsiner, 2013, p. 238), tanto da filha quanto da mãe:

Aprendi a gostar de plantar com minha mãe. Gosto de plantar e depois a gente colher é muito bom... quer dizer, a experiência que eu gosto de fazer, eu fico feliz, eu planto ali, todo dia de tardinha, eu molho feliz, ensino para as crianças, que é pra seguir o mesmo ritmo.

O processo é quase infinito: a mãe que ensina a filha, que mais tarde ensinará à sua própria filha. A partir disso, as possi-bilidades de construção e reconstrução de um campo semiótico--cultural são dadas pela abertura afetiva para o outro (Carrière, 2013b). Desse modo, os significados afetivos e cognitivos cons-truídos a partir da experiência no contexto do quintal consoli-daram as experiências de vida, criando continuidade ao longo do tempo irreversível (Valsiner, 2013).

A tensão causada pela possibilidade de a filha crescer sem gostar do quintal, levou Leonor a agir sobre o ambiente, de modo que este pudesse favorecer a mudança e o

desenvol-vimento afetivo de ambas. Pensamos que seja dessa forma que “nós reconstruímos o mundo objetivo; e o mundo reconstruído orienta nossos processos posteriores de construção de significa-dos” (Valsiner, 2012, p. 56).

Caso 2

Ícaro é um adolescente que completara dezoito anos de idade, nasceu na cidade de Salvador, Bahia. Estudou sempre em escolas públicas e acaba de ingressar numa Faculdade Pública na cidade de Salvador. Um jovem de estatura mediana, magro, que se autodenominou negro e sem religião. Mora com a mãe, o padrasto e a irmã Isabele de seis anos. Diz que se mudou cinco vezes de residências. O pai mora próximo com seus três filhos do segundo casamento, enquanto que Ícaro sempre morou com a mãe, con-tudo, a relação entre ícaro e o pai é de um certo distanciamento. Tem uma avó paterna que pouco visita e um avô materno que, segundo ele, “a relação é muito distante”. Diz que o lugar onde mora é muito tranquilo e compara com a vida no interior, onde “a vida é muito boa, muito tranquila”, onde não há “preocupação na cidade com engarrafamento e todo mundo se conhece”.

Ícaro inicia suas narrativas falando desde seu nascimen-to, quando morava apenas com a mãe, as tias e as primas, e diz que já nasceu “muito ligado ao quintal”. A segunda residência, no mesmo bairro, também tinha um pequeno quintal, onde Íca-ro viveu boa parte da infância. O quintal para ele significava “lazer”, era onde ele brincava com as primas. Sua vida começa a mudar, pois, já com cinco anos de idade, a mãe casa-se com José Cidreira e, ainda grávida, resolvem morar em um apartamento em um bairro mais próximo do centro da cidade. Contudo, como a mãe não conseguira uma vaga em uma escola, Ícaro foi obri-gado a ir morar com as tias, que também moravam no Subúrbio, próximo à escola onde ele estudava, até que surgisse uma vaga numa escola próxima à nova casa.

A partir desta narrativa surge um novo contexto, onde o quintal, por não existir mais, ganha um significado novo:

Na casa da minha tia não tinha quintal, então foi um mo-mento, um ano na minha vida, muito complicado, porque eu sempre fui acostumado muito com espaço. Eu sempre tive meu espaço! Pela criação de minha mãe, nunca fiquei muito na rua. Então, não me sentia à vontade ficar saindo toda hora na rua. Então, que eu precisava do meu espaço em casa, acabou que não tinha.

Então, a história ganha um novo desfecho quando a mãe de Ícaro consegue no ano seguinte uma vaga numa escola mais próxima. Neste novo lar, apesar de ser um apartamento, havia um terreno ao lado do prédio “bem grande”, onde provavelmen-te haveria uma nova construção, mas enquanto isso não acon-tecia, era o lugar preferido de Ícaro. Contudo, o menino não estava feliz, pois em suas palavras, “não era como a gente queria, porque você ter um quintal você planta, e tem toda a autonomia sobre aquele espaço”.

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Para diminuir um pouco o sentimento de desamparo em relação à ausência do quintal, ele e sua família sempre visitavam uma tia no subúrbio que comprara uma chácara. Geralmente, isso acontecia nos finais de semana e no período do Carnaval, e a partir desse momento, aumentou o sentimento dele e da família de que precisavam de um lugar semelhante.

Então a gente acabou gostando e conseguimos também uma casa grande com garagem e quintal que era basicamente o que a gente precisava e daí nós mudamo-nos pra cá de novo e, sempre. e todas as casas sempre com quintal.

Na infância o que ele mais gostava de fazer no quin-tal era brincar com o cachorro e com as primas. Era pega-pega, fura-pé, peão, futebol. Neste momento surge a importância em sua vida da interação com sua mãe, tias e primas. A figura femi-nina foi marcante em sua vida na primeira infância, até os cinco anos de idade, quando sua mãe contrai matrimônio com o seu José. Como revelado no trecho a seguir:

[...] nunca fui solitário, tinha minhas duas primas que brincava então a gente tinha que adaptar minhas brincadeiras com as delas. Adaptar assim, minha mãe realmente nunca me deixou andar na rua, então eu fui criado na casa com duas meninas. Então a gente fazia o quê? A gente brincava de casinha, os meus bonecos eram os esposos das bonecas delas, a gente fa-zia piquenique, então sempre conciliava os dois, a vontade dos três. Eram três, sempre conciliava a vontade um pouquinho, brincava um pouquinho de cada, pra não ter essas desavenças. Eu queria brincar de pega, a gente brincava de pega--pega, se ela queria brincar de casinha, pegava a casinha, brin-cava um pouquinho de cada.

Mas também não era só de brincadeiras que viviam as crianças! Ícaro tem consciência do que, como criança, poderia fazer e o que também não poderia fazer, assim, compartilhava a lida com o quintal de diversas formas: “limpava as folhas, jun-tava as folhas pra jogar fora”, mas também não podia usar o facão e a enxada, porém com o ancinho tirava as folhas, “se tivesse alguma garrafa espalhado, limpava de alguma forma”, também plantava e “sempre teve essa ligação de muito cultivo, cana, tomate, pimentão, abacate, a gente plantava”.

Para as pessoas, de um modo geral, a natureza e a sociedade devem ser ordenadas, organizadas e harmônicas. Como sugere Tuan (1983, p. 99), “todas as pessoas requerem do seu ambiente uma sensação de ordem e de boas condi-ções”. Nesta narrativa acima, percebe-se esta crença, onde os significados transitam entre uma visão pragmática e idealis-ta do jovem, ou seja, onde se misturam valores como beleza e um senso de utilidade que são signos que circulam entre o sentimento e o pensamento. No trecho abaixo, este autor tece esse comentário:

Sentimento humano não é uma sucessão de sensações distin-tas; mas precisamente a memória e a intuição são capazes de produzir impactos sensoriais no cambiante fluxo da

experiên-cia, de modo que poderíamos falar de uma vida do sentimento como falamos de uma vida do pensamento (Tuan, 1983, p. 11). Ícaro tem desenvolvido um sentimento estético, talvez, pela influência da mídia, da escola e de outras vivências fora do contexto do subúrbio onde mora, mas também, por sua pró-pria condição sócio-educacional (estudante de uma graduação). Ele adquiriu um desejo de se inserir nesta nova era tecnológica, acessível às camadas médias e altas da sociedade, onde imperam a constante busca pelo conforto, quando outras necessidades mais básicas já foram supridas.

O enredo traçado por Ícaro tem um desfecho com a sua percepção de um futuro um pouco mais distante, quando ele projeta em sua imaginação, o momento em que, ao se casar e ter filhos poder transmitir o seu modo de se relacionar com o lugar.

[...] fui aprendendo com a minha mãe, que primeiro a gente cultiva, a gente semeia, precisa regar aquilo que a gente se-meia pra poder colher amanhã, eu acho que os quintais fazem parte. Eu quero que, quando eu tiver meus filhos, passar essa mensagem pra eles. Não sei se eles vão gostar da mesma pai-xão que eu tenho por quintal, vou tentar passar pros meus filhos. Amanhã ou depois eles possam ter essa mesma paixão e passar pros netos.

Caso 3

Gleide se casou aos vinte e cinco anos de idade, após construir sua casa numa parte onde era o quintal de seus pais. Ela conta sobre a construção que deixou uma pequena área no fundo, mas que “não considerava como quintal não”, porque não utilizava mais, contudo, “ficava olhando da janela os matos nas-cerem ali”. Ao construir sua casa, seu esposo não deixou acesso, pois não “fizeram escada”,

[...] fizeram só janela, uma casa no alto. Ficava ali me lem-brando de como eu era criança, daquela parte ali, fui cres-cendo ali... aí, bem que poderia utilizar o quintal! Olhava uma maneira de como abrir pra poder tornar a fazer um quintal de novo e reutilizar.

Mais tarde, nascidos os dois filhos, ela se muda para uma nova casa em Periperi. A casa antiga fica para outro ir-mão que vai morar com a família. A partir daí, Gleide começa a pensar na diferenciação entre o que é quintal e o que não é, de modo a justificar o que fora feito do espaço de sua infância. Mas seus afetos se misturam e retornam, porque o irmão, ao fazer o acesso ao “quintal”, diz que não é mais quintal. Neste momento ela se pergunta: “Ali não era quintal?” E a resposta logo surge:

[...] porque não tem a terra, jogaram cimento, então deixou de ser um quintal pra ser um pátio, uma área, digamos assim, mas se deixasse terra, ia dizer assim: Ah, vá pro quintal! Eu acho que o fato de diferenciar quintal, de pátio, de área é por causa do cimento, murar tudo, cercar, não ter o verde.

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A nova casa tem um quintal que foi todo cimentado, mas, mantendo um coqueiro plantado, é um local usado para algumas atividades domésticas, como lavar e pôr as roupas para secar num varal, ao sol. Contudo, com o tempo, a casa ganha um novo andar, e outro mais atualmente, e ela e sua família vão se mudando a cada nova construção, enquanto mantém as outras casas anteriores alugadas. Desta forma, a dificuldade na conceituação permanece. Assim, o espaço é um quintal e um quintal. Ela considera quintal porque tem planta, e um não--quintal porque está “todo cimentado”.

[...] mas se tirar todo o cimento, é, seria um quintal, porque ele é grande, dá pra fazer até uma casa se quisesse, mas ali eu disse não, – deixa o meu quintal em paz, que quando eu estiver velhinha vou pro meu quintal, fazer novas plantações. A discussão sobre o papel da liminaridade neste contexto de relação sujeito-espaço/lugar permite romper com a dicoto-mia presente nas ideias duais e inserir uma leitura sistêmica/ transacionalista, admitindo o exercício da ambiguidade positi-va – o isso e o aquilo (como demonstra a nossa personagem acima) e não, o isso ou o aquilo. O que parece ser corroborado com as ideias de Damatta, (2000, p. 13), quando criticamente desconstrói algumas ideias sobre a liminaridade postuladas por antropólogos como Victor Turner, Mary Douglas, Edmund Leach, que não admitem o mais-ou-menos, a indecisão, o adiamento e, acima de tudo, o hibridismo, ou seja, a ausência de comparti-mentalização e de indivisibilidade.

A materialidade seria o conteúdo sem ser o significado; e esta possibilidade de romper o circuito do logos e da visibilidade es-taria na transição entre o significado e a coisa, o que estamos denominando “liminaridade” (Rabinovich, 1997, p. 122). Por exemplo, Gleide comenta que se fosse comprar uma casa, esta deveria ter quintal também. Diz que ama plantas, que gosta de lidar com a terra. Remete-se à vida na “roça” como uma boa vida, por causa do cheiro da terra, “a gente vive mais”. Ela criou um significado de lugar onde a vida é saudável e du-radoura, e não apenas a materialidade da coisa. Como expresso no trecho a seguir:

Quem vai ficar menos doente? É quem vai ficar ali lidando com a terra, com cheiro de terra, das plantas, de área aberta, tem mais chance de sobreviver do que uma pessoa que vive, aqui mesmo, onde estou morando agora? Cercada aqui. Olha... Fumaça! Pra você ver quando saio daqui o clima é diferente, quando saio daqui e vou pra outro canto, o ar você sente logo a diferença, se eu tiver de comprar (uma casa) vou comprar uma casa grande com terreno grande pra fazer um belo de um quintal, e várias plantações.

É desse modo que Bosi (2003, p. 67) salienta que “a nos-talgia revela sua outra face: a crítica da sociedade atual e o de-sejo de que o presente e o futuro nos devolvam alguma coisa preciosa que foi perdida”. É evidente esta “nostalgia” nas

narra-tivas de Gleide, e um sentimento de pertencimento a um lugar ideal, pois “a consciência do passado é um elemento importante no amor pelo lugar” (Tuan, 1980, p. 114), gerando uma forte identificação, visto que,

A identificação é um processo que gera, a cada instante, signi-ficações que, desde que conscientes, constituem-se em instan-tes de identidade. Por hipóinstan-tese, tais processos identificatórios, embora de natureza intrassubjetiva, só podem ser acessíveis através da comunicação (intersubjetiva), nos discursos dos su-jeitos da identidade em pauta, de natureza psicossocial (Tas-sara, 2007, p. 6).

Com isso, a participante demonstra apego a um tipo es-pecífico de ambiente, ainda que seja apenas uma projeção futu-ra, derivado de um possível enraizamento.

Dentro dessa visão de espaço total, o enraizamento foi apre-endido em função de sua dependência à rede de sociabilida-de – família, amizasociabilida-de, ajuda – que, por sua vez, sociabilida-demonstrou depender da relação público/privado – inscrição no território dessa rede de sociabilidade. Essa, por sua vez, demonstrou es-tar contida na noção de communitas – de uma existência ou de um sentido (Berger e Luckmann, 1997) ou de um destino partilhado (Bosi, 1995) em comum (Tassara et al., 2004, p. 332). Evidenciando mais uma vez que o espaço liminar é uma linha tênue que separa o passado do futuro, uma transparente membrana, que permeando ambos os espaços temporais e físi-cos, permite o encontro com a alteridade do sujeito.

Considerações finais

Nos processos simbólicos, destacam-se as diferentes for-mas pelas quais a pessoa se identifica com o seu entorno, valo-riza e preserva o lugar, mediante processos afetivos que estão relacionados à atração a este – o quanto é “afetivado” e lhe proporciona bem-estar pessoal. A importância de todos esses componentes tem suas variações durante o curso de vida do ser humano. Assim, a pessoa passa a ser conhecedora do ambiente em que vive e habita, sentindo-se pertencente àquele lugar.

Desta forma, as discussões aqui ensejadas, apontam para a hipótese de que o quintal seja um lugar composto e modelado por seus moradores com base nos significados por estes atri-buídos. Portanto, é um microssistema construído pelas pessoas que vivem nele. Trata-se de um espaço cultural que depende das avaliações, primeiramente, afetivas e depois cognitivas, pois desperta o desejo de liberdade, de solidariedade e de amor.

É importante salientar que os quintais do subúrbio car-regam muito da sociabilidade quase perdida do urbano, por isso merecem ser analisados sob a ótica de uma psicologia cultu-ralmente situada, sensivelmente tocada pela poética que deles emergem. De fato, analisar os quintais é buscar a aura das nossas primeiras experiências de casa, configurando o ser e o vir a ser, ou seja, famílias que geram famílias.

(9)

Desse modo, exaltam as memórias coletivas, advindas da proximidade com as plantas, tradições, chás, rezadeiras, fru-tas, outros tempos de ser feliz (e sofrer), mas, sobretudo, do ser feliz, e das lembranças que trazemos conosco. Trata-se de um registro amoroso sobre os quintais e a subjetividade daque-les que os mantém. É o laço que insiste em reunir e agregar as famílias urbanas, que trazem consigo os enraizamentos de tradições rurais, que o ambiente, muitas vezes hostil e urbano, não conseguiu destruir. Práticas comuns, tradicionais que não se perderam no urbano, como práticas lúdicas, terapêuticas, religiosas e tradicionais que estão presentes, enquanto ou-tras crenças e práticas vêm se perdendo no urbano, como por exemplos, colocar o “cabelo nas bananeiras para que ele cres-ça” ou “enterrar o umbigo dos filhos sob as árvores saudáveis para garantir a saúde”, encontradas nos quintais do subúrbio, até o século passado, e que, também, se encontravam em ou-tras tradições universais.

É o quintal que carregamos em nossas almas urbanas, que mantém suas raízes na origem de tudo: nossas casas rurais da infância, suburbanas, eternas, princípio de histórias de fa-mílias que geraram fafa-mílias no continuum da história humana, deste “mundo da vida e das mentes” (Valsiner, 2012).

Os quintais são núcleos promotores do desenvolvimen-to familiar e intergeracional, por isso são importantes para que analisemos as famílias urbanas da contemporaneidade, prinpalmente por conta das grandes transformações das nossas ci-dades. Devido a isso, a importância dos conceitos de affectva-tion, fronteiras/liminaridade e topofilia se tornaram um sopro de novidade no estudo das famílias urbanas na perspectiva da psicologia cultural.

Assim, este estudo aponta permanências e mudanças das relações das famílias com suas residências: quintais, fachadas, platibandas, história e memória em um momento agudo de es-peculação imobiliária neste território, que embora seja tipifica-do como “pobre”, tenha belezas naturais incomensuráveis como praias, rios, florestas etc.

Vemos presente os sentidos estéticos e de pertença atu-ando na relação amorosa das pessoas com a sua terra, o que mostra como o urbano ainda não conseguiu “extirpar” os aspec-tos rurais, tradicionais, nos quais habitam as famílias das perife-rias de Salvador.

Os quintais aparecem como lugar das experiências da in-fância, como o útero estendido, das crianças que aprendem com os pais, que “primeiro a gente cultiva, a gente semeia, precisa regar aquilo que a gente semeia para poder colher amanhã”, e das mães que ensinam os seus filhos sob a sombra das árvo-res. Aparece a experiência do plantar e sua importância para a poética do desenvolvimento como modo de esperar, aprender a vislumbrar o passado, o presente e o futuro nas plantas que florescem, tudo isso no “tempo irreversível” (Valsiner, 2012), ou seja, uma experiência total diante da vida. Nos quintais, as pes-soas cuidam de si e dos outros, em formas de sociabilidades que são fundamentais para o desenvolvimento humano, por conta de suas trocas de saberes entre meninos e meninas, adultos e

crianças, pais e filhos, tios, avós, vizinhos, seres humanos total-mente integrados ao ambiente.

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Submetido: 03/06/2017 Aceito: 15/02/2018

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