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INFLUÊNCIA DA RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE NO PROCESSO TERAPÊUTICO SOB A ÓTICA DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

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IVANETE FERNANDES DO PRADO**, ALANA LIBÂNIA DE SOUZA

SANTOS***, ELIANE BERNARDES SANTOS****, KRZYSZTOF

DWORAK*****,

DARLYANE ANTUNES MACEDO******

* Recebido em: 26.09.2019. Aprovado em: 15.12.2019.

** Doutorado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília. Mestrado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: damacedo@uneb.br

*** Mestre em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: damacedo@uneb.br **** Pós-graduada em Formação Integrada Multiprofissional em Educação Permanente em Saúde

vincu-lada ao Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS. E-mail: damacedo@uneb.br

****** Pós-doutorando em Psicologia da Educação (Universidade de Coimbra). Doutor em Ciências da Re-ligião (PUC-SP, 2014). Mestre em Teologia Sistemática com Especialização em Liturgia (Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo. E-mail: damacedo@uneb.br

****** Mestre em Saúde Coletiva: Políticas e Gestão em Saúde - UNICAMP – 2019. Docente do curso de Ba-charelado em Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XII desde 2008.

E-mail: damacedo@uneb.br

INFLUÊNCIA DA RELIGIOSIDADE

E ESPIRITUALIDADE NO PROCESSO

TERAPÊUTICO SOB A ÓTICA

DA EQUIPE DE ENFERMAGEM*

DOI 10.18224/frag.v29i4.7714

ARTIGOS

DOSSIÊ

Resumo: As práticas religiosas e a vivência da espiritualidade têm sido associadas a uma

menor evidência de doenças e complicações clínicas. O objetivo desse estudo foi analisar o entendimento da equipe de enfermagem sobre a influência da religiosidade e/ou espiritualidade no processo terapêutico de pacientes hospitalizados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória que teve como cenário um hospital público de referência do sudoeste da Bahia. Participaram dessa pesquisa 21 profissionais de enfermagem atuantes nos setores de clínica médica e clínica cirúrgica. Os resultados apontam que há uma interferência positiva da religiosidade e espiritualidade no processo terapêutico dos pacientes hospitalizados, e ainda que a equipe de enfermagem considera relevante essa temática no âmbito hospitalar, porém pouca ênfase é dada à mesma.

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N

a

s últimas décadas observa-se alusão frequente à influência de aspectos religiosos na cura e no tratamento de enfermidades. As intervenções espirituais/religiosas têm demonstrado benefícios diversos à saúde do indivíduo (GONÇALVES et al., 2015). Isso evidencia que, a religiosidade/espiritualidade no campo da saúde tem demonstrado grandes interesses na tentativa de buscar soluções para aliviar o sofrimento humano.

Nesse contexto a equipe de Enfermagem é parte fundamental no entendimento desse processo holístico de assistência ao cliente hospitalizado, pois passa a maior parte do tempo com os mesmos e intervém diretamente nos cuidados, auxiliando assim no tratamento. Por essa razão é imprescindível que esses profissionais percebam e conheçam as fontes de fortalecimento dos pacientes internados em unidades hospitalares a fim de encorajá-los a reforçar sua religiosidade e/ou espiritualidade, o que contribuirá para o enfrentamento e recuperação do seu estado de saúde.

Assim, o objetivo deste estudo implicou em analisar o entendimento da equipe de enfermagem sobre a influência da religiosidade no processo terapêutico de pacientes hospitalizados.

RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE

A religião é descrita como uma ligação entre o homem e o sagrado através de uma norma organi-zada de crenças, rituais, símbolos e práticas. Segundo Émile Durkheim a religião “é um sistema mais ou menos complexo de mitos, de dogmas, de ritos, de cerimônias” (DURKHEIM, 2003). Já a espiritualidade trata-se da aproximação do homem com o sagrado através de uma busca pessoal pela compreensão da vida, sem necessariamente ter relação com a religião (KOENIG; KING; CARSON, 2012).

A religiosidade, por outro lado, se refere às formas pelas quais os símbolos religiosos são vivenciados e continuamente resignificados, através de processos interativos concretos entre indi-víduos e grupos (RABELO, 1993).

Infere-se nesse sentido, que à religião é dado um conceito formal, institucional e organizado, repleto de dogmas, mandamentos e doutrinas. A religiosidade por sua vez é entendida como uma forma de expressar essa religião, através de objetos, rituais e crenças, por exemplo, formando um conjunto de características que constituem uma determinada religião. E quanto à espiritualidade, esta é entendida como uma crença num ser superior, podendo esta crença estar ou não associada à religiosidade e consequentemente à religião. Em outras palavras, todo ser religioso expressa sua espiritualidade, entretanto, uma pessoa espiritual pode ou não ser religiosa.

RELIGIOSDADE E ESPIRITUALIDADE NO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

O homem tem deixado inúmeros registros histó ricos e arqueológicos da relação entre suas concepções religiosas e a prática no processo saúde-doença. No Egito, por exemplo, praticamente não havia distinção entre religião e magia, bem como se acreditava no poder curativo das mãos, os quais foram demonstrados por hieróglifos encontrados pelos cientistas, acrescentam os autores (PEREIRA; KÜPLEL 2014).

Fleck, Borges e Bolognesi (2003) explicam que a religiosidade e a espiritualidade aparecem como importantes aliadas para as pessoas que se encontram debilitadas ou enfermas. Entretanto, são as consequências do enfrentamento religioso que predirão se os resultados refletidos na saúde do paciente aparecem de forma positiva ou negativa, complementa.

Saad e Medeiros (2008) mostram que a religião pode contribuir de maneira positiva para a melhora da qualidade de vida e da saúde das pessoas, sendo através do respeito ao corpo, gerando

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melhor nutrição e melhores hábitos de vida, melhor estado psicológico além de oferecer melhores estratégias para redução do estresse, como é transmitido por muitas religiões.

As estratégias negativas, conforme Koenig, Parga ment e Nielsen (1998), estão relacio-nadas com resultados que apontam correlações contrárias à qualidade de vida, depressão e saúde física, como por exemplo, uma atitude de não adesão ao tratamento por se acreditar em cura divina.

RELIGIOSIDADE NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Conforme Gill (2004) o nascimento da Enfermagem Científica ocorreu há pouco mais de 200 anos, com Florence Nightingale, quando levou 38 enfermeiras voluntárias à Guerra da Cri-méia, em 1854, na Turquia, no hospital de Scutari, com o intuito de cuidar dos soldados ingleses feridos em batalha.

O autor relata que Florence, em sua assistência, oferecia especial atenção aos doentes grave-mente feridos, pois além de cuidá-los, lia-lhes trechos da Bíblia, ou trazia-lhes conforto em suas palavras nas visitas à noite, demonstrando assim seu envolvimento religioso e espiritual.

Florence dizia ter recebido um “chamado de Deus” que a levou a realizar ensinamentos como a tolerância, a piedade pelo ser humano, a quebra de preconceitos e o respeito pelo outro e pela vida humana, além de proporcionar um cuidado especial para daqueles que sofrem (MI-RANDA, 1996).

No Brasil, a enfermeira Wanda de Aguiar Horta defende e publica sua Teoria das Neces-sidades Humanas Básicas colocando como característica única do ser humano as necesNeces-sidades psicoespirituais, fazendo parte desse contexto as “necessidades religiosas ou teológicas, éticas ou de filosofia de vida” (HORTA, 1979, p. 40).

É por essa razão que a religiosidade ocupa um lugar privilegiado na história da enfermagem brasileira, sendo na maioria das vezes, uma porta-voz da outra na formulação de um pensamento e na consolidação de modos e atitudes que influenciam a formação e o exercício profissional da equipe de enfermagem (GUSSY; DITZ, 2008).

PROCESSOS METODOLÓGICOS

O presente estudo se configura numa pesquisa de campo qualitativa do tipo exploratória. O campo da pesquisa teve como cenário um hospital público do sudoeste da Bahia, atualmente conveniado com o campus XII da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) para realização dos estágios curriculares do curso Bacharelado em Enfermagem. É considerado centro de referência microrregional em saúde e atende cerca de 31 munícipios circunvizinhos com níveis de média e alta complexidade (HRG, 2019).

A população estudada compreendeu 21 profissionais de enfermagem que atuavam nos setores de clínica médica e clínica cirúrgica que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa e assi-naram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os princípios éticos e legais foram respeitados em todas as etapas da pesquisa conforme a resolução nº 466/2012 que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Ressalta-se que a identidade dos participantes foi preservada utilizando-se para isto nomes fictícios aleatórios, sendo eles: João, José, Maria, Joana, Francisca, Suzana, Mara, Marta, Ana, Beatriz, Idália, Rufina, Síntia, Judite, Priscila, Fabiana, Luciana, Eduarda, Clara, Marina e Luíza.

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O instrumento utilizado no campo de estudo para a coleta dos dados foi um roteiro de entrevista semiestruturado. A entrevista contemplou cinco itens específicos para a caracterização dos sujeitos e cinco questões abertas sobre a temática. A coleta de dados foi realizada no primeiro trimestre de 2014 e ocorreu em dias e horários aleatórios com os profissionais de enfermagem, com a finalidade de se obter o maior quantitativo possível e facilidade na realização da entrevista. A en-trevista foi audiogravada, conforme autorização dos participantes, obtendo duração variando entre dez a quinze minutos e ocorreu em sala privativa conforme disponibilidade de cada participante e sem interromper sua rotina de trabalho.

Após a entrevista as respostas foram transcritas na íntegra para garantir a fidedignidade dos dados colhidos prosseguindo-se para a análise dos dados, que foi feita através da análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin (2016), por meio das seguintes etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação, que foram realizadas mi-nuciosamente.

Compondo o processo de análise de conteúdo de Laurence Bardin (2016), e com base nas evidencias das entrevistas emergiram as seguintes categorias: Relevância da religiosidade e/ ou espiritualidade na prática de enfermagem; Religiosidade e sua simbologia; Religiosidade e/ou espiritualidade como auxílio no processo terapêutico; Suporte espiritual e/ou religioso como fator integrante na assistência de enfermagem.

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Participaram deste estudo 21 profissionais de Enfermagem, sendo seis enfermeiros e quinze técnicos de enfermagem e a maioria do sexo feminino, sendo dezenove mulheres e dois homens (Tabela 1).

Essa realidade já era esperada na profissão de enfermagem, como afirma Padilha (1995) quando relata que ao longo da história, a construção dos papéis sociais se direcionou nas questões de gênero inclusive, na escolha profissional, estabelecendo que a mulher, atendendo ao condicio-namento recebido desde a infância, teve e tem uma tendência a escolher uma carreira condizente com a sua condição feminina, como professora primária, secretária, enfermeira dentre outras de caráter predominantemente feminino.

A faixa etária da população pesquisada variou entre 23 e 60 anos. O tempo de exercício no hospital variou de um ano a quinze anos. Quanto à religião ou grupo religioso de preferência, a maioria (doze) referiu ser católica; seis se declararam evangélicos; dois alegaram ser espíritas e dois dos entrevistados mencionaram não ter ou não fazer parte de grupo religioso específico.

Tais dados coincidem com a realidade brasileira, onde os resultados do Censo Demográfi-co 2010 mostraram um crescimento da diversidade de grupos religiosos no Brasil. O número de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, mas ainda assim é maioria no país. Ressalta-se que se consolidou o crescimento de evangélicos e houve um aumento discreto de espíritas, sem religião e adeptos de outras religiosidades (IBGE, 2010).

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Tabela 01: Caracterização dos participantes da pesquisa

Participante Idade Tempo de exercício no setor Tempo de exercício no hospital Opção religiosa

Maria 60 1 ano 1 ano Católica

Joana 47 5 anos 2 anos Espírita

Francisca 35 8 meses 2 ano Evangélica

Suzana 41 1 ano 1 ano Evangélica

Mara 29 1 ano 1 anos Católica

Marta 39 10 meses 2 anos Evangélica

Ana 40 1 ano 15 anos Católica

Beatriz 29 2 meses 5 anos Católica

Idália 53 2 anos 2 anos Católica

Rufina 49 2 anos 2 anos Evangélica

Síntia 45 1 ano 1 ano Evangélica

Judite 49 1 ano 15 anos Católica

Priscila 40 11 meses 2 anos Espírita

Fabiana 49 2 anos 2 anos Sem religião

Luciana 30 4meses 2 anos Católica

João 33 1 ano 2 anos Católico

José 41 2 anos 2 anos Católico

Eduarda 48 5 anos 5 anos Sem religião

Clara 23 2 anos 2 anos Católica

Marina 50 2 anos 2 anos Católica

Luíza 52 2 anos 2anos Católica

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

RELEVÂNCIA DA RELIGIOSIDADE E/OUESPIRITUALIDADE NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM

A religiosidade como um fator relevante na assistência de enfermagem foi referida por 76,19% dos entrevistados. Esses alegaram estar associada à segurança, conforto, além de interferir positi-vamente no trabalho e no tratamento, permitindo aos pacientes uma forma de apoio não somente de ordem física, mas emocional e espiritual.

Os depoimentos a seguir ilustram a descrição citada quando indagados sobre a relevância da religiosidade no âmbito da enfermagem:

Considero importante porque pode interferir positivamente no trabalho e no tratamento (JOSÉ). Eu acho importante porque ajuda na recuperação das pessoas, a fé motiva as pessoas, a pessoa tem que ter fé em alguma coisa para poder acreditar (RUFINA).

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Eu acho interessante, porque a maioria dos pacientes que ficam hospitalizados muito tempo precisa de uma esperança de que vai melhorar e a maioria das vezes é a religião que dá esse apego” (JUDITE).

Acho muito importante porque hoje em dia a enfermagem fala pouco desse assunto (IDÁLIA).

Uma pequena parcela dos entrevistados correspondendo a um total de 14,28% não soube ou não quis opinar sobre a relevância da religiosidade na enfermagem e uma minoria (9,53%) relatou que a mesma é irrelevante por conta da pluralidade de religiões e do ambiente em questão (hospitalar) ser um espaço inadequado para tal abordagem.

RELIGIOSIDADE E SUA SIMBOLOGIA

Os entrevistados foram unânimes quando questionados sobre a percepção da religiosidade dos pacientes, ou seja, de que forma os profissionais visualizavam a expressão da mesma.Ressalta-ram a importância e o valor que é dado à expressão dessa simbologia demonstrada pelos pacientes hospitalizados. Seguem os relatos:

Eles ligam som, quando o paciente é muito grave pedem um pastor ou padre para fazer oração aqui. Já teve caso de médicos demorarem muito para descobrir um diagnóstico de um paciente e os familiares queriam levá-lo para o candomblé (SÍNTIA).

Tem alguns pacientes que se apegam a bíblia, fitas, essas coisas” (PRISCILA); “Vejo através de orações, já vi pastor fazer pregação, já vi pessoas com enfeite pendurado no leito (EDUARDA). Relataram ainda:

Eu vejo muito terço, santinho, paninho, óleo, até um galhinho, e se tiver ali no leito do paciente eu dou o banho e volto a colocar de novo, é o direito dele (CLARA).

Em conversas com o paciente, eu percebo sua religiosidade, ai eu deixo ele falar (FRAN-CISCA).

Diante do exposto pode-se perceber que os entrevistados reconhecem e valorizam a reli-giosidade do paciente independente da sua variabilidade religiosa. A maioria dos profissionais de enfermagem reconhecem a influência da religiosidade/espiritualidade na efetividade do cuidado (OLIVEIRA, 2018). Nesse sentido, é importante considerar e propor um cuidado integral no campo da enfermagem, deve se ampliar o olhar, e contemplar a atenção à dimensão espiritual do indivíduo, considerando que a religiosidade/espiritualidade confere sentido à existência (OLIVEI-RA; MENEZES, 2018).

RELIGIOSIDADE E/OU ESPIRITUALIDADE COMO AUXÍLIO NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Segundo Ribeiro (2019), a espiritualidade e a religiosidade proporcionam um sentido dife-rente ao adoecimento e tratamento, pois podem modificar a forma do doente ver o seu percurso e promover menor desgaste e alívio diante de situações difíceis.

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De acordo com Cortês, Pereira e Tarantino (2005) pessoas que adotam práticas religiosas ou mantêm alguma espiritualidade apresentam 40% menos chance de sofrer de hipertensão, têm um sistema de defesa mais forte, são menos hospitalizadas, se recuperam mais rápido e tendem a sofrer menos de depressão quando se encontram debilitadas por enfermidades.

Koenig et al. (1997) num estudo realizado com 1765 idosos num período de três anos avalia-ram uma relação positiva entre a prática de atividades religiosas e os níveis séricos de interleucina 6 (IL-6) e outros mediadores do sistema autoimune e cascata inflamatória, quando comparado a idosos que não exerciam práticas espirituais ou religiosas.

Os profissionais entrevistados em sua grande maioria (90,47%) foram enfáticos ao relatar re-ligiosidade e/ou espiritualidade como fator relevante na terapêutica. Enfocam que embora seja uma questão carregada de subjetividade, há uma contribuição significativa para o tratamento de qualquer enfermidade, pois a religiosidade tende a trazer conforto, tranquilidade, aceitação e melhora do paciente. Quando questionados sobre a influência da religiosidade no processo terapêutico, as reflexões foram as seguintes:

Ajuda com certeza! É uma abordagem bastante subjetiva, mas existe uma interferência positiva naqueles pacientes que tem uma religiosidade mais exacerbada, pois eles tendem a ter um bom tratamento, e até ajuda a equipe também no decorrer do tratamento (JOÃO). Relataram ainda:

Eu acredito porque quando a pessoa tem fé em alguma coisa o tratamento da pessoa contribui (CLARA).

Acredito sim, aí envolve a fé, não é? Não existe o efeito placebo? Ou seja, se acredita em Deus ele será curado (MARINA).

Sim porque a gente percebe que a fé, é como se a pessoa se agarrasse em alguma coisa, quando você tem fé encontra forças para seguir um tratamento. Quando o paciente tem esperança, ela se agarra àquilo e a gente sabe que o psicológico age também sobre o tratamento da pessoa (LUÍZA).

Durante a pesquisa somente dois entrevistados (9,53%) afirmaram que a religiosidade e/ ou espiritualidade não poderia ser considerada como auxílio terapêutico. Ao serem indagados, os relatos expressaram as seguintes falas:

Não. Eu acho que é importante pra dar equilíbrio emocionalmente, mas fazer milagre, não, vamos ser francos (FABIANA).

Não, eu acho que isso não interfere porque o que vai te curar mesmo, dependendo da doença, são os remédios (EDUARDA).

SUPORTE ESPIRITUAL E/OU RELIGIOSO COMO FATOR INTEGRANTE DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

A religiosidade e a espiritualidade foram reconhecidas por todos os participantes da pesquisa como parte integrante do cuidado de enfermagem. Entretanto, 61,90% dos profissionais afirmaram não oferecer nenhum tipo de assistência desta dimensão aos pacientes hospitalizados.

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Dentre os entrevistados que reconheceram a importância do aspecto religioso e espiritual na enfermagem, mas negaram sua utilização na prática profissional mencionaram como motivos principais: falta de tempo, despreparo espiritual, pluralidade de religiões e falta de estímulo, de-manda de atividades.

Pode-se perceber então que há uma falha da Sistematização da Assistência de Enfermagem, pois não identifica os diagnósticos de enfermagem do domínio “Integridade do Ego” a exemplo da desesperança e angústia espiritual, o que culmina na ausência de prescrições de enfermagem nessa área, e quando se identifica esses diagnósticos, os mesmos ocorrem de maneira pessoal, individual ou de forma não sistematizada, conforme a taxonomia NANDA-I 2013.

Quando indagados se ofereciam algum suporte espiritual ou religioso ao paciente os relatos foram:

Neste setor não tem tempo hábil para uma abordagem religiosa, até porque existe uma pluralidade de religiões e a gente não tem esse momento de fazer abordagem religiosa. A demanda de serviços, a demanda de atividades não comporta uma atividade neste setor (JOÃO).

Relataram ainda:

Não, porque às vezes eu tenho princípios que a pessoa não aceita, você acredita numa coisa e ele em outra, então no trabalho pra falar de religiosidade com o paciente, não (IDÁLIA).

Não, geralmente meu serviço é técnico mesmo, mas é por falta de estímulo da minha parte, mas se eu quiser tem como sim (CLARA).

Não. Eu não me acho capaz e preparada para falar de religião, de Deus. Posso receber o que eu não gostaria (MARIA).

Dezorzi e Crosseti (2008) corroboram e acrescentam ao afirmar que a falta de compreensão sobre religiosidade e/ou espiritualidade, o medo do confronto das próprias ideias com as do outro, como demonstra uma das falas, pode também ser considerado como uma das dificuldades pelo fato de não haver a introdução ou discussão desse tema na graduação, interferindo consequentemente na prática profissional de enfermagem.

Uma parcela dos entrevistados (38,10%) relatou utilizar a religiosidade e/ou espiritualidade na prática do cuidado ao cliente, estimulando-o a fortalecer sua crença pessoal, utilizando-se de palavras como: esperança e fé; fazendo orações por eles; lendo a bíblia; dialogando e reforçando a crença em Deus; e sendo sensível ao momento de dor, angústia e desespero.

As falas traduzem a descrição mencionada quando questionados se ofereciam algum tipo de assistência espiritual ou religiosa ao paciente:

Sim porque na maioria das vezes falo de Deus, de esperança, então acredito que estou oferecendo algum momento de religiosidade (MARIA).

Quando eu percebo que o paciente está muito ansioso, eu converso, eu não falo de Deus propriamente, mas eu falo que tem que ter fé e acreditar em alguma coisa que vai se recuperar (MARTA).

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Relataram ainda:

Diretamente não, mas indiretamente sim. Sempre que eu posso, eu converso com Deus, não diretamente com eles, com os pacientes porque eu não sei qual é a religião de cada um, eu não pergunto, mas eu sempre converso com Deus, e sempre converso com meus superiores, meus mentores espirituais pedindo sempre auxílio (JOANA).

Os relatos mostram que os profissionais de enfermagem podem ajudar os pacientes a se fortalecerem em sua religião e/ou espiritualidade, incentivando-os a buscar suas crenças. Apesar de se observar a importância e o valor que essa temática proporciona aos pacientes, há pouco in-centivo dessa dimensão. Ressalta-se dessa forma que a “Angústia espiritual” e “Desesperança” são diagnósticos de enfermagem que sinalizam o cuidado voltado para a espiritualidade como fator integrante da assistência de enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo observou-se que a religiosidade dos usuários é respeitada pelos profissionais pelo fato dela oferecer um maior conforto, apoio, tranquilidade e aceitação diante da situação clínica vivenciada. Além disso, explicam que a mesma é relevante no âmbito da enfermagem, apesar de haver pouca importância dada ao tema.

Quanto à influência da religiosidade no processo terapêutico, a maioria relatou haver uma in-terligação desses termos, referindo que a religiosidade, como sinônimo de fé e crença no sagrado pode promover efeitos relevantes no tratamento clínico. E embora exista uma compreensão que a religio-sidade e espiritualidade são pertinentes no âmbito da enfermagem e que a mesma deve ser valorizada como condição inerente do paciente hospitalizado, pouco suporte dessa dimensão é dado aos mesmos. Diante do estudo ficou evidente que atender de forma humanizada e holística, envolve con-siderar todas as dimensões do usuário, tanto no aspecto físico, psicológico, religioso e/ou espiritual, de modo a facilitar o atendimento e o processo terapêutico. Necessita-se, portanto de mais estudos e pesquisas relacionadas a essa área com o propósito de disseminar a importância da religiosidade e espiritualidade no processo terapêutico de pacientes hospitalizados, pois esta dimensão é pertinente para a recuperação dos mesmos, sobretudo em âmbito hospitalar.

INFLUENCE OF RELIGIOUSITY AND SPIRITUALITY ON THE THERAPEUTIC PROCESS UNDER THE OPINION OF THE NURSING TEAM

Abstract: religious practices and the experience of spirituality have been associated with less evidence of

disease and clinical complications. The aim of this study was to analyze the nursing team's understanding of the influence of religiosity and / or spirituality on the therapeutic process of hospitalized patients. This is an exploratory qualitative research that had as its setting a reference public hospital in southwes-tern Bahia. Twenty-one nursing professionals working in the medical clinic and surgical clinic sectors participated in this research. The results indicate that there is a positive interference of religiosity and spirituality in the therapeutic process of hospitalized patients, and although the nursing staff considers this theme relevant in the hospital, but little emphasis is given to it.

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Referências

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