• Nenhum resultado encontrado

SIGNIFICADOS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SOBRE A RELAÇÃO ESPIRITUALIDADE E RISCOS PSICOSSOCIAIS NO AMBIENTE LABORAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "SIGNIFICADOS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SOBRE A RELAÇÃO ESPIRITUALIDADE E RISCOS PSICOSSOCIAIS NO AMBIENTE LABORAL"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

SIGNIFICADOS DOS PROFISSIONAIS

DE ENFERMAGEM SOBRE A RELAÇÃO

ESPIRITUALIDADE E RISCOS

PSICOSSOCIAIS NO AMBIENTE LABORAL*

PABLO LUIZ SANTOS COUTO**, SANDRA CÉLIA COELHO GOMES

DA SILVA***, ANTÔNIO MARCOS TOSOLI GOMES****, TARCISIO DA

SILVA FLORES*****, ELVIRA MARIA CAVALCANTI DE SOUZA******,

NÚBIA RÊGO SANTOS******* CLEUMA SUELI SANTOS SUTO********

CARLE PORCINO*********

Resumo: objetiva-se compreender os significados dos profissionais de enfermagem sobre a

relação entre espiritualidade e os ricos psicossociais no ambiente laboral. Trata-se de um es-tudo de caso, qualitativo, realizado na Emergência de um Hospital Estadual da Bahia, com a equipe de enfermagem entre os meses de maio a julho de 2012. Foi utilizada a entrevista semi-estruturada como técnica de coleta. As falas foram analisadas com a análise de conteúdo temática, da qual emergiram categorias. Os resultados mostram que os riscos psicossociais prejudicam a subjetividade humana, como as emoções e a espiritualidade, o rendimento individual e coletivo no labor, causam conflitos nos papéis desempenhados, decorrentes de problemas de interação social e no ambiente laboral. Conclui-se que a relação interpessoal dos trabalhadores constitui um desafio nos serviços laborais, uma vez que as relações de poder fomentam tensões na equipe e potencializa os riscos psicossociais, desencadeando desordens psicoespirituais e socias à saúde dos trabalhadores.

Palavras-chave: Enfermagem. Riscos ocupacionais. Espiritualidade. Riscos psicossociais.

Saúde do trabalhador.

* Recebido em: 26.08.2019. Aprovado em: 05.12.2019.

** Enfermeiro. Mestre em Enfermagem. E-mail: pablocouto0710@yahoo.com.br *** Socióloga. Doutora em Ciências da Religião. E-mail: sandraccgs@hotmail.com **** Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. E-mail: mtosoli@gmail.com

***** Advogado. Especialista em Direito Trabalhista. E-mail: tarcisiosflores@gmail.com ****** Pedagoga. Mestre em Educação. E-mail: e.cavalcantisouza@gmail.com

******* Enfermeira. Especialista em Urgência e Emergência. E-mail: nubya.net12@gmail.com ******** Enfermeira. Doutora em Enfermagem e Saúde. E-mail: cleuma.suto@gmail.com ********* Psicóloga. Mestre em Estudos Interdisciplinares. Doutoranda em Enfermagem e Saúde. E-mail: carle.porcino@outlook.com

DOI 10.18224/frag.v29i4.7593

(2)

D

entro de um ambiente de trabalho, seja ele qual for, é fundamental que o profissional seja bastante motivado para desenvolver suas habilidades e ter um bom relacionamento com os que estão à sua volta, o que configura uma espiritualidade equilibrada com o ambiente, visando dessa forma a otimização do seu trabalho e o aumento da produtividade para a empresa ou instituição a qual presta serviço.

Para este estudo, foi adotado o conceito de espiritualidade, como a propensão do ser humano para o equilíbrio entre suas emoções, o seu interno e o ambiente que está inserido, cuja conexão é estabelecida através de algo maior que si próprio, que não necessariamente uma religião ou divindade. É tudo aquele capaz de dar sentido à vida e promover bem-estar e qualidade de vida (SOUZA et al., 2004).

Dessa forma, em se tratando das equipes de enfermagem que realizam seus serviços em re-gime de plantão, há o aumento dos riscos psicossociais decorridos da Emergência Hospitalar, por este ser um ambiente que psicologicamente oprime a equipe para o desenvolvimento do dinamismo no atendimento rápido ao paciente, além de haver a tendência para o relacionamento interpessoal insatisfatório (SOUZA et al., 2004; BAGGIO; CALLEGARO; ERDMANN, 2008).

Os riscos psicossociais remetem ao desequilíbrio das questões subjetivas que permeiam as emoções e a espiritualidade do ser humano com o ambiente em que ele exerce o seu labor, o que contribui para alterações na organização e gerenciamento do serviço, aos aspectos de desenho do trabalho e a relação com o contexto social e ambiental, os quais interferem na saúde potencializando danos psicológicos, físicos e sociais (RUIZ; ARAÚJO, 2012). Portanto, quando os trabalhadores da saúde se encontram estressados há a diminuição da capacidade de produção, execução imprecisa de atividades, adoecimento e faltas freqüentes ao trabalho, tensão e cansaço, ansiedade, depressão, atenção dispersa, desmotivação e baixa realização pessoal.

Os profissionais de enfermagem prestam seus cuidados em setores com uma diversidade de cargas de serviços desgastantes. Especificamente nas unidades de emergência hospitalares, que requer desses profissionais agilidade na execução de tarefas, mas, que ao mesmo tempo contam com poucos recursos humanos e grande carga de trabalho, o que compromete tanto a qualidade de vida como a qualidade da assistência prestada aos pacientes (BAGGIO, CALLEGARO, ERDMANN, 2008; DALRI, ROBAZZI, DA SILVA, 2010).

Não só na emergência, mas em todas as áreas do hospital, o profissional da enfermagem tem que prestar a assistência com vistas ao cuidado terapêutico, priorizar sempre a humanização, na busca do respaldo do código de ética da profissão e dos princípios éticos para com o ser humano que compõem o ambiente de trabalho.

A palavra risco, de origem latina risicus, que significa dano ou fatalidade eventual e às vezes até previsível; faz-se presente em múltiplas situações e ambientes, incluindo-se os laborais. Desse modo os riscos ocupacionais podem ser conceituados como os possíveis danos que colocam em perigo a saúde dos trabalhadores e que deveriam ser evitados (CARAN et al., 2011).

A saúde do trabalhador é entendida a partir do contexto construído pelos riscos que existem na organização articulado com o cotidiano individual e coletivo vivenciado no ambiente laboral. Há a influência também dos discursos e práticas sociais produzidas pelo grupo, assim como por fatores político-ideológicos de cada trabalhador envolvido. É a dinâmica da interação social no serviço que reproduz os limites das percepções de riscos laborais (AREOSA, 2014).

Em se tratando de muitas profissões, cujo trabalho é desenvolvido em equipe, há um aumento da tensão entre líderes e liderados potencializada por fatores psicossociais, visto que nas relações de poder observadas na equipe de trabalho há a possibilidade da opressão psicológica desempenhada

(3)

pelo líder para que o serviço seja desempenhado com agilidade e competência. Tais fatores que levam às desordens emocionais, psicológicas e espirituais, caracterizam-se como riscos psicossociais, os podem desencadear uma série de problemas de psicossomáticas nos trabalhadores.

Logo, este estudo justifica-se pelo fato de os riscos ocupacionais psicossociais no ambiente laboral serem potencialmente comprometedores ao bem-estar dos profissionais, uma vez que ele interfere diretamente na saúde mental e espiritual dos indivíduos, bem como da saúde social no trabalho. Este estudo faz-se necessário, para se compreender os muitos fatores que interferem na saúde do trabalhador, não apenas os reais e visíveis, mas aqueles subjetivos que prejudicam o seu equilíbrio espiritual, relacionamento interpessoal, ocasiona os problemas nas relações de poder e desencadeiam doenças relacionadas à tensão e ao estresse.

Destarte, objetiva-se compreender os significados dos profissionais de enfermagem sobre a relação entre espiritualidade e os ricos psicossociais que permeiam o ambiente laboral.

METODOLOGIA

Trata-se de um artigo que utilizou o banco de dados da pesquisa intitulada “A presença dos riscos psicossociais que interferem no ambiente laboral da equipe de enfermagem”, com abordagem qualitativa e caráter descritivo.

É, portanto, um estudo de caso qualitativo, realizado em um hospital regional do interior da Bahia, pela sua representatividade no âmbito regional, por acolher uma população abrangente, além de ser o único estabelecimento hospitalar da rede pública, na região, que oferece serviço de emergência.

Delimitou-se como critérios de inclusão o tempo mínimo de um ano de atuação no serviço e trabalhar no setor da emergência nos plantões noturnos. Foram excluídas/os as/os participantes que não concluíram a entrevista. Assim, dos 17 profissionais que compunham o quadro de profissionais atuantes no setor (não participaram 3 enfermeiras/os e 3 técnicas/os), contribuíram 12 pessoas, sendo 03 enfermeiras/os e 11 técnicas/os que se dispuseram participar e ter suas entrevistas gravadas em áudio. O período da coleta ocorreu entre os meses de maio a julho de 2012.

A entrevista semi-estruturada foi a técnica escolhida para coleta de dados, tendo como instrumento um roteiro de entrevista semi-estruturada contendo perguntas fechadas visando a caracterização dos participantes e perguntas abertas que visou obter conhecimento e profundidade sobre objeto investigado.

A análise das falas ocorreu por meio da análise de conteúdo temática que permitiu a inter-pretações das respostas, da qual emergiram categorias. Para tanto foi realizada a leitura flutuante das respostas, interpretação, captação dos núcleos de sentido similares e opostos, ordenação, clas-sificação e categorização dos dados (MINAYO, 2010).

A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia (CEP-UNEB) via Plataforma Brasil, o qual foi aprovado e liberado para a pesquisa no dia 17 de maio de 2012, com o nº do parecer 23439 e CAAE: 01460012.5.0000.0057. Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no intuito de respeitar todas as normas contidas na às normas da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde – CNS (BRASIL, 2012) que regulamenta as pesquisas envolvendo os seres humanos.

No que concerne a caracterização das/os participantes, das/os doze profissionais entrevistados sete possuíam idade entre 20 a 30 anos, dois entre 30 a 40 anos e três entre 40 a 50 anos. Quanto ao tempo de exercício profissional dois possuíam menos de 1 ano de atuação, quatro entre 2 a 5

(4)

anos, três entre 5 a 10 anos, três entre 10 a 15 anos. No que tange a quantidade de plantões rea-lizados semanalmente, cinco afirmaram de 2 a 3, quatro de 3 a 4 e três disseram fazer 5 plantões seguidos folgando 10 dias durante o mês. De todas/os as/os doze entrevistadas/os, apenas dois são do sexo masculino.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Num mundo moderno e dinâmico, muito se tem discutido sobre os riscos no ambiente de tra-balho com implicações diretas na saúde do trabalhador, principalmente os aspectos subjetivos como a espiritualidade do ser humano. Dentre esses riscos há destaque aos psicossociais, não tão evidentes quanto os acidentes de trabalho ou as doenças ocupacionais, mas com relevância no que tange aos mecanismos psicológicos e fisiológicos, implicantes, por exemplo, no stress (RUIZ; ARAÚJO, 2012).

Diante disso, as Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho, que consolidam as leis trabalhistas do Ministério de Segurança e do Ministério do Trabalho e Emprego e a Organização Panamericana de Saúde no Brasil, dispõem em seus artigos e incisos, principalmente a NR 32, os principais riscos ocupacionais, que os trabalhadores de saúde estão submetidos, sendo historicamente classificados como químicos, físicos, biológicos e ergonômicos; estes podem ocasionar os acidentes de trabalho (DALRI; ROBAZZI; DA SILVA, 2010).

Entretanto, os riscos ocupacionais psicossociais (ROP) podem ser percebidos em situações em que há fatores como exigências do cargo, problemas nas relações interpessoais, na remuneração, na duração da jornada diária, no regime e no ritmo de trabalho, entre outros.

Assim, após a análise do conteúdo das respostas, foi possível a construção de três categorias: (re)significando a associação dos fatores psicossociais como com desequilíbrio psicoespiritual; os riscos psicossociais causadores de sofrimento particular e emocional; a tensão que compromete o relacionamento interpessoal.

(Re)significando a associação dos fatores psicossociais como com desequilíbrio psicoespirit Quanto à percepção dos riscos psicossociais e sua relação com o desequilíbrio psicoespiritu-al, permitiu inferir que eles associam o termo ao comprometimento psíquico e social que venham dificultar o relacionamento, alterando o convívio entre a equipe, sofrimento e angústia, os quais interferem na saúde espiritual. Apenas um dos participantes não soube conceituar “fatores de riscos psicossociais” ou espiritualidade, e outro entrevistado afirmou que está mais relacionado à mente do que com o social, com relação direta à espiritualidade do ser humano.

São fatores que acabam comprometendo a capacidade psíquica, as emoções, a espiritua-lidade e no plantão noturno isso se potencializa, pois há a falta de sono, a sobrecarga de trabalho, o atrito entre os colegas (TEC. 01).

Causadores de alterações no ambiente e que compromete o lado mental, as emoções e o convívio entre os indivíduos que compões a equipe (TEC. 03)

Algo que venha a prejudicar psicologicamente e socialmente a equipe (E. 02).

São riscos psicológicos aos quais estamos sujeitos e que afetam diretamente, nossas emo-ções, não é? Interfere no relacionamento interpessoal. Tudo isso deixa a gente abalado, a mente fica pesada, muito sentimento negativo, não temos bem-estar, o que interfere na nossa espiritualidade (TEC. 06)

(5)

Os riscos psicossociais são conceituados e caracterizados como aqueles referentes ao labor e que funcionam como estressores, como a grande carga de trabalho, as exigências em demasia e os recursos insuficientes para o trabalho. A interação entre os fatores, o trabalhador e o ambiente, influenciam na saúde emocional, no desempenho, na satisfação do profissional e, consequentemente, na saúde espiritual das pessoas (OLIVEIRA; COSTA; GUIMARÃES, 2012). Assim, os conceitos empíricos e pontuais apresentado nas falas dos entrevistados corroboram com as definições apresentadas.

“A natureza do fator psicossocial é complexa e envolve questões relativas ao indivíduo, ao ambiente de trabalho e ao ambiente social” (CARAN, 20111, p. 256). Ou seja, no ambiente labo-ral, o próprio trabalhador e as pessoas com as quais se relacionam passam a vivenciar alterações psicoespirituais e sociológicas decorrentes dos riscos psicossociais.

Isso é posto em evidência quando “tais riscos podem acarretar alterações a sua saúde, como neuroses, ansiedade intensa, distúrbios de sono, depressão, manifestações obsessivas, síndrome do esgotamento (burnout), falhas de desempenho, conflitos interpessoais, assédio moral e conflitos familiares, estresse e violência, prejudicando não só o indivíduo, mas toda a sociedade em que este está inserido” (CARAN, 20111, p. 256).

Entretanto um participante, o E.03 afirmou que os fatores “relacionam-se mais ao psíquico do que o social, principalmente do stress, que o ambiente com esses riscos psicossociais propiciam”. Re-mete a idéia também de que os estressores psicossociais se associam à organização, ao planejamento e ao gerenciamento no ambiente laboral, evidenciando o contexto social do serviço, com potencial para ocasionar desordens físicas, emocionais e psicológicas, essas duas últimas subjetivas e, portanto associadas à espiritualidade, decorrentes da carga de trabalho excessiva, condições insalubres de trabalho, falta de treinamento e orientação, relação abusiva entre supervisores e subordinados (CAMELO et al., 2012). Os riscos psicossociais causadores de sofrimento particular e emocional

Quanto aos riscos psicossociais mais presentes no ambiente da emergência, deve-se destacar uma singularidade na maioria das respostas dos indivíduos, nas quais demonstram que cada profis-sional tem um sofrimento particular oriundo dos riscos psicossociais, os quais repercutem na saúde emocional, e consequentemente, nas conexões do eu interno com o ambiente, que é a espirituali-dade. Apenas um entrevistado não conseguiu perceber a presença de nenhum risco psicossocial.

Desmotivação, dificuldade de relacionamento interpessoal; ambos potencializam o estresse (E.01).

Causas extra trabalho, como outros empregos e problemas de saúde com a mãe (TEC. 02). Sobrecarga de trabalho; demanda muito grande e poucos profissionais (TEC. 03). Desmotivação. Muitas vezes em decorrência da não valorização do trabalho por parte de alguns da equipe ou dos pacientes (TEC. 06).

A sobrecarga de trabalho, o mau-humor e a baixa produtividade do trabalho são causa-dores de estresse (E.03).

Um risco leva ao outro; é como um efeito dominó. Principalmente nos plantões agitados (TEC. 08).

Frente aos riscos que permeiam ambientes com um fluxo de pessoas muito grande e com uma demanda de atividades de trabalho diárias, como a Emergência Hospitalar, os riscos psicossociais que mais se destacam e os que mais prejudicam a equipe de enfermagem, são aqueles relacionados

(6)

à função organizacional, ao desenvolvimento da carreira, a tomada de decisão do líder e controle de situações problemas no espaço de trabalho, relacionamento interpessoal, carga de trabalho, pressão por produtividade, esquemas de trabalho (AREOSA, 2014; CAMELO et al., 2012). Nesse caso, as escalas sempre causadoras de tensões e de acometimentos psicossociais, quando não resolvidas satisfatoriamente, tornam-se em sofrimento e possível causadora de tensões e adoecimento (CA-MELO; ANGERAMI, 2008).

Ressalta-se ainda que os fatores psicossociais representam o conjunto de percepções e ex-periências do trabalhador, alguns de caráter individual (por remeter às subjetividades e a espiri-tualidade), outros referentes às expectativas econômicas ou de desenvolvimento pessoal e outros, ainda, às relações humanas e seus aspectos emocionais. Entretanto, tal idéia descrita acima explica o porquê dos riscos elencados pelos participantes estão associados às suas percepções e vivências, o que reflete na busca pelos significados da vida e naquilo que o auxilia a busca pelo equilíbrio entre o eu interno e ambiente externo (CAMELO; ANGERAMI, 2008; CAMELO et al., 2012).

Nota-se que o estresse está presente em algumas falas dos participantes, considerado por esses uma ameaça ao indivíduo, pois repercute na vida pessoal e profissional, levando-os a uma dificuldade de enfrentamento dos problemas (AREOSA, 2014). Fica nítido que esses riscos além de ocasionarem o estresse, repercutem no adoecimento dos profissionais.

A tensão que compromete o relacionamento interpessoal

Percebeu-se à associação da tensão entre os membros da equipe com o relacionamento interpes-soal, na qual a tensão não ocorre apenas entre líder e liderado, mas entre os próprios liderados, ou seja, entre os técnicos de enfermagem. Apenas três não perceberam tensão entre nenhum membro da equipe.

Há uma grande rivalidade entre os técnicos; comodidade de alguns sabe (...) que não cum-pre a divisão feita pelo enfermeiro e sobrecarrega os demais (E.02).

Principalmente na divisão das tarefas, em que há alguns que já chegam cansados por faze-rem vários plantões seguidos (TEC.07).

Sim, principalmente entre os técnicos que ficam sobrecarregados, já tem poucos profissio-nais e ainda há aqueles que escoram nos outros (TEC.09).

Nessa situação se observa a interação social dentro de ambiente competitivo e conflitante, evidenciando diferenças de personalidades, de sentimentos e idéias. Há nesse caso um sentimento de insatisfação, que compromete o equilíbrio grupo social. Estas condições podem ser explicadas pelo modelo de gestão atual vigente nos hospitais, cujas ações de saúde refletem lideranças pouco democráticas, permitindo o conflito de papéis, que ocorre quando há várias atividades são feitas contra a vontade do profissional ou estão incompatíveis com seus valores reiterando práticas de trabalho enrijecidas (MOURA et al., 2012). Portanto, o sucesso de um trabalho em grupo depende da performance individual e da interação do trabalho em equipe e de comunicação eficiente ente todos os trabalhadores (OLIVEIRA; COSTA; GUIMARÃES, 2012).

Quanto a clássica tensão entre chefe e subordinado, ficou evidente nas falas dos depoentes abaixo:

Ocorre muito, principalmente quando os técnicos mais velhos e experientes não têm muita paciência com os enfermeiros mais novos. Eles querem que os enfermeiros cheguem saben-do tusaben-do (TEC. 05).

(7)

Os técnicos mais velhos não gostam de líderes, no caso os enfermeiros, no setor. Não aceitam que o enfermeiro delegue as funções (E.02).

Alguns técnicos com formação superior em enfermagem, que quer opinar em decisões que não cabe a eles no momento, uma vez que estão como técnicos no plantão e não como enfermeiros; eles querem se impor na tomada de decisão (E.03).

Fica implícito nas falas que há a falta de diálogo entre a equipe e em muitas vezes não con-versam entre si e possuem dificuldade de entender o que o outro necessita ou de qual a função delegada pelo enfermeiro em um determinado serviço. Logo, esses episódios podem está relacionado às falhas no processo de comunicação ao determinar a função de cada profissional.

Um líder da área da saúde necessita desenvolver competências que viabilizem as suas qualifica-ções como a comunicação e a interação pessoal, como é abordado em um estudo que a comunicação por utilizar a linguagem verbal, não-verbal e para-verbal compartilha as informações, as idéias, as experiências, foi considerada como a segunda competência mais frequente entre os sujeitos da pes-quisa para o desenvolvimento do processo de liderar (OKAGAWA; BOHOMOL; CUNHA, 2013). A comunicação entre os membros é de extrema importância para o desenvolvimento do vínculo interpessoal, para a delegação de funções e consequentemente para o cuidado ao paciente. Ela faz com que haja integração entre líder e subordinados no desenvolvimento da assistência (CAMELO; ANGERAMI, 2008; OKAGAWA; BOHOMOL; CUNHA, 2013).

Os riscos psicossociais tendem a interferir muito mais no desempenho do trabalhador do que os fatores físicos, por interferir em questões subjetivas do ser humano/trabalhador, como as emoções e a espiritualidade, as quais refletem no desequilíbrio do ‘eu’ como o ambiente externo, nesse estudo o ambiente laboral da enfermagem. Esses riscos têm sido menos estu-dados e raramente considerados capazes de causar doenças relacionadas ao trabalho, porém o desconhecimento e a desatenção com relação a esses fatores não amenizam os seus efeitos no-civos, que tanto colocam em risco a saúde do trabalhador e a própria estrutura organizacional do serviço de saúde/empresa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os principais resultados apontam para a afirmativa de que os riscos psicossociais estão re-lacionado as causas de desordens emocionais e espirituais, proveniente diretamente do ambiente laboral da equipe de enfermagem, em especial nos plantões noturnos da Emergência Hospitalar, os quais além de serem agitados, levam muitos profissionais a perderem noites de sono, que pode ser um dos determinantes para os possíveis conflitos entre a equipe de enfermagem, sem contar na sobrecarga de trabalho que é um fator destacado pelos profissionais.

Consoante ao referido pensamento, foi evidenciado pela fala dos participantes, que estes percebem os ricos psicossociais como causadores de danos a saúde dos trabalhadores, em espe-cial os transtornos psicológicos e sociais, nesse caso relacionais, problemas emocionais, além de potencializadores de estresse, a fadiga, desgaste de energia física ou mental, neurose, ansiedade, distúrbios do sono, dentre outros, desencadeando agravos que desequilibram o eu interno de cada ser (espiritualidade) e, portanto no bem-estar e na qualidade de vida diária.

Além do mais, a relação interpessoal dos trabalhadores constitui um desafio entre Enfermeiros e Técnicos e entre os próprios técnicos, confirmado pelos depoimentos, uma vez que esses riscos já se encontram no local de trabalho e em alguns momentos os problemas de relacionamento entre

(8)

os próprios técnicos podem ser potencializados, assim como os enfermeiros poderá potencializá-los por meio de suas atitudes na execução de sua liderança.

Diante disso, é fundamental que a equipe de enfermagem faça uso da sensibilidade, afim de que os profissionais cooperem com as atividades e se integrem, com vistas à diminuição da tensão, uma vez que o relacionamento interpessoal, em determinados momentos, fica comprometido pela falta de diálogo e as falhas de comunicação na equipe. Além disso, faz-se importante tangenciar o olhar para desequilíbrio espiritual dos profissionais de saúde, pois compromete o bem-estar e a qualidade de vida e, por fim, o ambiente de trabalho.

MEANINGS OF NURSING PROFESSIONALS ABOUT THE SPIRITUALITY RELATION SHIP AND PSYCHOSOCIAL RISKS IN THE WORK ENVIRONMENT

Abstract: the objective is to understand the meanings of nursing professionals about the relationship

between spirituality and the rich psychosocial in the work environment. This is a qualitative case study, carried out in the Emergency Department of a State Hospital in Bahia, with the nursing team between the months of May to July 2012. The semi-structured interview was used as a collection technique. The speeches were analyzed with thematic content analysis, from which categories emerged. The results show that psychosocial risks harm human subjectivity, as emotions and spirituality, individual and collective performance at work, cause conflicts in the roles played, resulting from problems of social interaction and in the work environment. It is concluded that the interpersonal relationship of workers constitutes a challenge in labor services, since power relations foster tensions in the team and enhance psychosocial risks, triggering psycho-spiritual and social disorders to workers' health.

Keywords: Nursing. Occupational risks. Spirituality. Psychosocial risks. Worker's health. Referências

AREOSA, João. As percepções de riscos ocupacionais no setor ferroviário. Sociologia, problemas e

práticas, v. 75, p. 83-107, maio 2014.

BAGGIO, Maria Aparecida; CALLEGARO, Giovana Dorneles; ERDMANN, Alacoque Lorenzini. Compreendendo as dimensões de cuidado em uma unidade de emergência hospitalar. Rev. bras.

enferm., Brasília, v. 61, n. 5, p. 552-557, out. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.

php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672008000500004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26 ago. 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466/2012 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Bioética. 2012.

CAMELO, Silva Helena Henrique; ANGERAMI, Emília Luigi Saporiti. Estratégias de gerencia-mento de riscos psicossociais no trabalho das equipes de saúde da família. Rev. Eletr. Enf., v. 10, n. 4, p. 915-923, dez. 2008.

CAMELO, Silva Helena Henrique et al. Riscos psicossociais em equipes de saúde da família: carga, ritmo e esquema de trabalho. Rev. enferm. UERJ, v. 20, n. esp. 2, p. 733-738, dez. 2012.

CARAN, Vânia Cláudia Spoti et al. Riscos ocupacionais psicossociais e sua repercussão na saúde de docentes universitários. Rev. enferm. UERJ., v. 19, n. 2, p. 255-261, abr./jun. 2011.

DALRI, Rita de Cássia de Marchi Barcellos; ROBAZZI, Maria Lúcia do Carmo Cruz; Da Silva, Luiz Almeida. Riscos ocupacionais e alterações de saúde entre trabalhadores de enfermagem

(9)

brasileiros de unidades de urgência e emergência. Cienc. enferm., Concepción, v. 16, n. 2, p. 69-81, ago. 2010. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-95532010000200008&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 26 ago. 2019.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

MOURA, Gisela Maria Schebella Souto de et al. Representações sociais do processo de escolha de chefias na perspectiva da equipe de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 46, n. 5, p. 1156-1162, out. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0080-62342012000500017&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26 ago. 2019. OKAGAWA, Fabiana Silva; BOHOMOL, Elena; CUNHA, Isabel Cristina Kowal Olm. Compe-tências desenvolvidas em um curso de especialização em gestão em enfermagem à distância. Acta

paul. enferm., São Paulo, v. 26, n. 3, p. 238-244, jun. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/

scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002013000300006&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26 ago. 2019.

OLIVEIRA, Elias Barbosa; COSTA, Stephannie Lynne Torres; GUIMARÃES, Natasha Souza Lima. O trabalho acadêmico de enfermagem no hospital geral: riscos psicossociais. Rev. enferm.

UERJ, v. 20, n. 3, p. 317-322, jul./set. 2012.

RUIZ, Valéria Salek; ARAUJO, André Luis Lima de. Saúde e segurança e a subjetividade no trabalho: os riscos psicossociais. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, v. 37, n. 125, p. 170-180, jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572012000100020&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26 ago. 2019.

SOUZA, Paulo et al. A religiosidade e suas interfaces com a Medicina, a Psicologia e a Educação: o estado da arte. In: TEIXEIRA, Evilásio Francisco Borges; MULLER, Marisa Cmpio; DA SILVA, Juliana Dors Tigre. Espiritualidade e qualidade de vida. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 53-67.

Referências

Documentos relacionados

O Museu Digital dos Ex-votos, projeto acadêmico que objetiva apresentar os ex- votos do Brasil, não terá, evidentemente, a mesma dinâmica da sala de milagres, mas em

nhece a pretensão de Aristóteles de que haja uma ligação direta entre o dictum de omni et nullo e a validade dos silogismos perfeitos, mas a julga improcedente. Um dos

Como já destacado anteriormente, o campus Viamão (campus da última fase de expansão da instituição), possui o mesmo número de grupos de pesquisa que alguns dos campi

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de