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Práticas ambientais e a relação dos vizelenses com o Rio Vizela

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Academic year: 2020

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Instituto de Ciências Sociais

Ana Catarina Neto Dias Alves

PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS

VIZELENSES COM O RIO VIZELA

Dissertação de Mestrado em Geografia

Especialização em Planeamento e Gestão do Território

Trabalho realizado sob orientação de:

Virgínia Maria Barata Teles

e de:

Miguel de Melo Sopas Bandeira

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DECLARAÇÃO

Nome: Ana Catarina Neto Dias Alves

Endereço eletrónico: catarinaalves.geo@gmail.com Telefone: 913226959 Número do Bilhete de Identidade: 1401182

Título dissertação: PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA Orientadores: Professora Doutora Virgínia Maria Barata Teles e Professor Doutor Miguel de Melo

Sopas Bandeira

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado: Dissertação de Mestrado em Geografia - Especialização em

Planeamento e Gestão do Território

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO (indicar, caso tal seja necessário, nº máximo de páginas, ilustrações, gráficos, etc.), APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, 30 de outubro de 2014

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Agradecimentos

O desenvolvimento desta investigação nem sempre teve ocasiões fáceis, pelo que não posso deixar de agradecer a todos aqueles que, sem eles, este trabalho jamais havia sido concluído.

Primeiramente, a minha imensurável gratidão aos meus orientadores: à Professora Doutora Virgínia Maria Barata Teles pelo acompanhamento assíduo na elaboração desta dissertação, nomeadamente nos momentos mais difíceis. Por ter acreditado sempre em mim, por nunca me ter deixado desistir e pela amizade, que levarei para a vida. Ao Professor Doutor Miguel de Melo Sopas Bandeira, pelas considerações sempre pertinentes e assertivas, pelo carinho e acompanhamento neste projeto.

A todos os docentes do Departamento de Geografia da Universidade do Minho que, de uma forma ou de outra, me foram ajudando a moldar enquanto geógrafa.

A todos os meus colegas, muitos deles amigos também, pelo apoio, partilha, incentivo e carinho. Sem esquecer nem descurar o papel de ninguém, devo um agradecimento especial ao Daniel Ferreira, à Mónica Moreira, ao Alexandre Pereira, ao Francisco Damas, à Marcela Macedo, à Eva Mendes e ao Hélder Lopes, ao Luciano Duarte, ao Tozé Silva e ao Sr. Manuel Barbosa.

À Dona Isabel Salgado, pelo carinho infinito, pela amizade incondicional, pela confiança e incentivo permanentes.

Ao Ruben Torres, pela generosidade com que me presenteou.

À minha família, suporte fundamental desde sempre, pelo carinho, generosidade e compreensão. Aos meus pais por serem, invariavelmente, os melhores do Mundo, com tudo o que isso implica. Aos meus irmãos, pela cumplicidade ímpar e pela força que sempre me deram para que nunca desistisse.

À Helena, a minha maior gratidão pelo amor único que nos une, pelo carinho, pelas lágrimas e vitórias partilhadas, pelo apoio desmedido que sempre me deu, por todos os dias me fazer entender o verdadeiro sentido de Deus nos ter dado uma à outra como irmãs!

Aos meus avós, pelo orgulho mútuo e infinito, pelas partilhas e pela cumplicidade que se pode ler nos olhos. À avó Rosinha por ser mais do que mãe, por todos os momentos de

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confidência, de carinho, de amor, por sermos, para sempre, uma parte muito bonita e feliz uma da outra. À avó Maria pela felicidade de partilharmos muito daquilo que somos, por me fazer cada dia mais forte e mais agradecida por, de alguma forma, lhe pertencer. Ao avô João, por me ter mostrado que nada é mais forte do que o abraço aconchegante de quem nos quer incondicionalmente bem. Ao avô Ivo, pelas lições de vida, pela família maravilhosa que me deu e por todas as partilhas.

À minha madrinha Alexandrina, ao meu padrinho Ângelo, à tia Helena e à tia Teresa agradeço a amizade preciosa com que me veem crescer.

Aos amigos, pela força transmitida, pelo facto de estarem sempre presentes e de me acompanharem durante todos este processo, assim como pelas oportunas distrações. À Marta Lopes, à Diana Pereira, à Sãozinha e à Dona Beatriz, ao João Neto, ao Zé Miguel e ao Miguel Madureira, à Inês Andrade, à Catarina Neto, ao Martim, ao Santiago e à Maria, à Carolina Barros em especial.

Ao Zé, pelo apoio incondicional, pelo amor, pelo carinho e pelo ânimo! Por me ter feito entender que o amor verdadeiro tudo pode.

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Resumo

PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA

Os fatores da degradação ambiental têm condicionado a evolução da situação ambiental e a crescente consciencialização ecológica.

O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos últimos tempos determina uma modificação permanente na sociedade. A inovação tecnológica foi, durante muito tempo, vista como uma forma de mitigar os problemas ambientais, sendo capaz de produzir tecnologias que minimizassem os efeitos das atividades produtivas sobre o ambiente.

Contudo, a generalização do uso das tecnologias acabou por levantar muitas e difíceis questões que dizem respeito ao envolvimento da ciência e da técnica na crise social e global do ambiente.

A procura do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe angústias imprevisíveis e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito tempo até que a sociedade percebesse que esse, gerado pelo mundo globalizado não era isento de preocupações e ansiedades.

A emergência de uma sociedade mais reflexiva, bem como o processo de desenvolvimento da consciência coletiva das responsabilidades da atividade económica pelo desgaste ambiental, mais atento ao ambiente e aos seus problemas, tem trazido à discussão a necessidade de uma maior participação pública em matéria ambiental.

Este estudo surge da necessidade de perceber e identificar a consciencialização, atitudes e práticas ambientais dos vizelenses com o seu território, ainda que inserido num contexto mais amplo, mas igualmente intrincado que é o Vale do Ave.

As estreitas relações que se estabelecem entre a sociedade, as atividades económicas com a rede hidrográfica é uma importante marca na identidade deste território que, ainda assim,

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é indissociável de um problema ambiental grave como é a poluição que, graças aos meios de comunicação social, se tornou um problema que preocupou o país durante algumas décadas.

Por outra parte, a fragilidade económica consequente de uma mão-de-obra com fraca instrução e, daí, mal remunerada e com pouca capacidade de adaptação à mudança faz de Vizela e do Vale do Ave um território economicamente pouco robusto e que, perante um cenário de crise económica, não apresenta capacidade de resiliência e acaba por se ressentir das fragilidades económicas do país.

A ligação dos vizelenses à água é intrínseca, desde sempre associada ao seu crescimento económico, seja pelas termas (Caldas de Vizela) que muita gente atraiu até este território, seja pelo desenvolvimento industrial que se foi fazendo ao longo dos cursos de água, servindo-se destes como força motriz. Assim, torna-se absolutamente fundamental entender de que modo os seus habitantes percecionam e agem relativamente aos problemas ambientais que daí decorrem.

Através deste estudo tentamos aferir como as pessoas percecionavam a poluição do rio Vizela aquando do predomínio da indústria e verificamos que, predominantemente, os inquiridos consideram que, apesar de haver preocupações com o estado do rio, a vitalidade e o crescimento económicos eram mais importantes para a sociedade. Verifica-se, então, uma maior preocupação com os aspetos estéticos da paisagem.

Importou-nos ainda entender como é que, na atualidade, se institui a relação da população vizelense com o rio. Perante uma economia em desaceleramento, a amostra responde predominantemente que os vizelenses não demonstram grande preocupação com o estado do rio, o que contraria a noção de que estes mantém relativamente às decisões de caráter ambiental: todos devemos participar delas, mesmo que não nos digam diretamente respeito.

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Abstract

ENVIRONMENTAL PRACTICES AND THE RELATIONSHIP OF VIZELA RESIDENTS WITH VIZELA RIVER

Degradation factors have been conditioning the evolution of the environmental situation and the raising of ecological awareness

In recent times, technological and scientific development accelerated pace causes a permanent change in society.

Technological innovation have been seen as a means to mitigate environmental problems, being able to produce technologies that minimize the effects of production activities on the environment.

However, widespread use of technologies turned out to raise many and difficult questions concerning the involvement of science and technology in the social and global environmental crisis. The demand for industrial progress as a development engine brought unforeseen troubles and complex problems. It did not take long for society to question the idea that technological progress could sustain a highly industrialized and modern society and realize that technological progress generated by a globalized world was not exempt from worries and anxieties.

The emergence of a more reflexive society and the development of a collective consciousness about the responsibilities for the environmental stresses associated to economic activities have brought to discussion the need for increased public participation in environmental matters.

This study seeks to understand and identify the awareness, attitudes and environmental practices of the inhabitants of Vizela within its territory and in the broader context of the Vale do Ave.

The close relations established between economic activities and the hydrographic network are an important identity element of this territory which is inseparable from pollution, a serious environmental problem which received a large media coverage.

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On the other hand, the resulting economic fragility of a manpower with poor education, underpaid and weak ability to adapt to change makes Vizela and Vale do Ave to a economic precarious territory that, against a backdrop of economic crisis, lacks resilience and ends up resenting from the economic weaknesses of the country.

The connection of the inhabitants of Vizela to water is intrinsic, always linked to economic growth, either by the spa (Caldas de Vizela), whether by the industrial development that occurred along watercourses, which were the driving force. Thus, it is absolutely critical to understand how their inhabitants perceive and act regarding the resulting environmental problems

This study attempts to assess how people perceive the pollution of the river Vizela when industry was the dominant economic activity. We found that, predominantly, respondents consider that, despite concerns about the state of the river, the vitality and economic growth were more important to society., resulting in a greater focus on the aesthetic values of the landscape.

Another goal was to understand the present relationship of the population of Vizela with the river. Facing an economic slowdown, the inhabitants of Vizela do not express great concern about the state of the river, which contradicts their responses regarding environmental decisions that we should all participate, even if do not relate directly to us.

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ... III RESUMO ... V ABSTRACT ... VII ÍNIDICE DE FIGURAS ... XI ÍNDICE DE QUADROS ... XIII ABREVIATURAS E SIGLAS ... XV

INTRODUÇÃO ... 17

1- Pertinência da temática de investigação ... 17

2- Justificação da área de estudo ... 20

3- Objetivos ... 21

4- Metodologia ... 22

5- Organização da tese ... 22

PARTE I – AMBIENTE E TECNOLOGIA ... 25

CAPÍTULO 1. Ambiente e Desenvolvimento ... 27

1.1 Inovação tecnológica e degradação ambiental ... 27

CAPÍTULO 2. Cidadania e mobilização ambiental ... 35

2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais ... 35

2.2 Dimensões da mobilização ambiental ... 39

PARTE II- ENQUADRAMENTO TERRITORIAL ... 45

CAPÍTULO 3. O Vale do Ave e o conselho de Vizela ... 47

CAPÍTULO 4. Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do território .... 59

4.1 Os elementos naturais ... 59

4.2 A população ... 61

4.3 As atividades económicas ... 72

PARTE III – ESTUDO DE CASO... 79

CAPÍTULO 5. As práticas ambientais e a relação dos vizelenses com o Rio Vizela ... 81

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5.1.1 O inquérito ... 81

5.1.2 Características da amostra ... 84

5.2 Análise de resultados ... 88

5.2.1 Atitudes ambientais ... 88

5.2.2 Práticas ambientais e cidadania ... 98

5.2.3 Perceção dos problemas ambientais do concelho ...102

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...111

BIBLIOGRAFIA ...121

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Enquadramento territorial do Vale do Ave ... 47

Figura 2 - Freguesias do concelho de Vizela ... 49

Figura 3 – Moínho sobre o rio Vizela ... 51

Figura 4 - Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011) ... 54

Figura 5 - Localização das principais concentrações industriais ... 55

Figura 6 - Mapa da Rede Hidrográfica da NUT III – Vale do Ave ... 59

Figura 7 - Geologia do concelho de Vizela ... 61

Figura 8 - População residente no município de Vizela entre 1890 e 2011 ... 63

Figura 9 - Variação da população residente por município do Vale do Ave ... 64

Figura 10 - Distribuição da densidade populacional das freguesias do Concelho de Vizela ... 65

Figura 11 - Pirâmides etárias da população residente no concelho de Vizela (2001 e 2011) ... 68

Figura 12 - Distribuição da população residente por sexo e nível de escolaridade em 2011 (%) – Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela ... 71

Figura 13 - População residente segundo a condição perante a atividade económica no concelho de Vizela ... 73

Figura 14 – Distribuiçãos dos inquiridos por grupos etários ... 84

Figura 15 - Distribuição dos inquiridos por sexo (%)... 85

Figura 16 – Distribuição dos inquiridos por grupos etários ... 85

Figura 17 - Distribuição dos inquiridos por habilitações académicas ... 86

Figura 18 - Distribuição dos inquiridos por condição perante o trabalho ... 86

Figura 19 - Distribuição dos inquiridos pela freguesia de residência ... 87

Figura 20 - Concordância relativamente à relação ambiente - desenvolvimento ... 89

Figura 21 - Atitudes face à ciência e a tecnologia ... 90

Figura 22 - Relação de concordância "A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando um pouco o nosso estilo de vida" segundo o grupo etário ... 91

Figura 23 - Relação de concordância entre “Confio mais na ciência que na fé para a resolução de problemas” e habilitações académicas ... 93

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Figura 25 - Grau de concordância com “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente” segundo o

grupo etário ... 96

Figura 26 - Práticas ambientais: ambiente e cidadania ... 99 Figura 27 - Assinatura de petições ambientais segundo os grupos etários (%) ...101 Figura 28 - Concordância relativamente à afirmação "É difícil para uma pessoa como eu fazer

alguma coisa pelo ambiente" ...102

Figura 29 - Participação em ações de caráter municipal (%) ...103 Figura 30 - Manifestação dos vizelenses aquando da elevação de Vizela a concelho, Lisboa .104 Figura 31 - Posição relativamente à participação em matérias de caráter ambiental ...105 Figura 32 Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio do têxtil ...106 Figura 33 Cartaz anónimo exposto aos olhos da opinião pública no lugar da Ponte de Velha…108 Figura 34 Preocupação dos vizelenses com os recursos hídricos na atualidade ...109 Figura 35 Zona ribeirinha do rio Vizela, contígua ao Parque das Termas ...110

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck ... 29 Quadro 2 População residente nos municípios da NUT III Ave em 2001 e 2012 ... 63 Quadro 3 Taxa de crescimento efetivo (%) para as freguesias do concelho de Vizela... 67 Quadro 4 Índice de envelhecimento populacional - Portugal, Norte, Ave em 2001 e 2013 (‰) 69 Quadro 5 Distribuição da população ativa por setor de atividade em % em 2001 e 2011 ... 75 Quadro 6 Taxa de desemprego total por sexo nos concelhos da NUT III Ave em 2001 e 2011 76 Quadro 7 Taxa de desemprego por grupos etários (NUT III – Ave e município de Vizela) para os

anos de 2001 e 2011 (%) ... 77

Quadro 8 Grau de confiança nas fontes de informação (%) ... 97 Quadro 9 Participação dos vizelenses em questões ambientais (%) ...100

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SIGLAS E ABREVIATURAS

AMAVE – Associação de Municípios do Vale do Ave CNA – Comissão Nacional do Ambiente

CEE – Comunidade Económica Europeia

CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens EFTA – European Free Trade Association

EM-DAT - International Disaster Database

ETAR – Estação de Tratamento de Águas Residuais

GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente GNR – Guarda Nacional Republicana

ICN – Instituto Nacional da Natureza INE – Instituto Nacional de Estatística

ISSP – International Social Survey Programme

M.R.C.V. - Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela NUT – Nomenclatura de Unidade Territorial

NV – Notícias de Vizela

OBSERVA - Observatório de Ambiente e Sociedade PDM – Plano Diretor Municipal

PORDATA – Base de Dados de Portugal Contemporâneo

SEPNA – Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR SMAS – Serviços Municipalizados de Água e Saneamento

UN-ISDR – United Nations Office for Disaster Risk Redution U.T. – Unidade Territorial

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INTRODUÇÃO

1. Pertinência da temática de investigação

Em Geografia, os problemas ambientais constituem questões centrais pois estes decorrem da ação humana sobre o território. A perceção individual e social destes problemas tem vindo a adquirir uma abordagem importante no que respeita às políticas públicas, através do incentivo à participação pública, em matéria de Ambiente.

A ciência e a tecnologia geraram “novos riscos”, tornando-se o risco um dos grandes paradigmas da sociedade moderna. A interação entre natureza, sociedade e tecnologia apresenta um amplo conjunto de problemas resultantes das respostas dadas pela população, pelo que se torna importante, entender o modo como as pessoas percecionam os problemas ambientais e de que modo esta condiciona as atitudes e práticas.

A natureza dos riscos alterou-se pelo facto de vivermos numa sociedade onde a industrialização e os avanços tecnológicos transformaram a capacidade da sociedade em os apreender, compreender e gerir.

São múltiplas as classificações de riscos, assim como são vastas as perceções que os indivíduos e a sociedade constroem destes. A comunidade científica, bem como os diversos órgãos que são, de algum modo, responsáveis pelas questões do risco, não reuniram, ainda consenso relativamente à classificação dos riscos. Isto denota a grande complexidade e controvérsia em torno desta questão.

Procurando um entendimento sobre que tipo de risco é a poluição hídrica, rapidamente compreendemos que esta não é considerada como tal nas principais tipologias de risco, mesmo que amplamente relacionada com os problemas nefastos provocados pelo sobre uso da tecnologia.

“De uma forma ideológica, iconográfica e estética, a Natureza tem sido apreendida e simbolizada sob múltiplas facetas, traduzindo ora uma sensibilidade mística, ora uma visão mecanicista, identificando escolhas e valores contraditórios dos pontos de vista ético, político e económico.”

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Nas diversas tipologias de risco, de onde ressaltamos a do EM – DAT – International Disaster Database e a da Autoridade Nacional da Proteção Civil, a poluição dos cursos de água por descargas de efluentes industriais não é considerada “risco tecnológico”, embora as suas consequências se identifiquem com falhas humanas associadas aos acidentes industriais.

O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos últimos tempos determina uma modificação permanente na sociedade. Levantam-se muitas e difíceis questões no que diz respeito ao envolvimento da ciência na crise social e global do ambiente (Levy, 2002).

O capitalismo tornou-se a forma dominante de organização da economia, permitindo uma produção e acumulação crescente de capitais, uma economia globalizada que, invariavelmente, alterou o ambiente físico. A supremacia do paradigma mecanicista, quer na investigação científica, quer na inovação tecnológica, acabou por desenvolver o seu próprio contrassenso: por um lado, a esfera económica separa e isola-se das suas dependências anteriores perante o divino, o místico e o natural; por outro, a maximização da produção, a exploração abusiva dos recursos naturais e a produção desmesurada de resíduos resultaram numa crise ambiental com elevados custos sociais, comprometendo a eficiência do próprio sistema económico dominante (Queirós, 2001). Perante isto parece-nos fundamental promover a centralidade do ambiente no debate político atual, procurando uma reintegração da economia na Natureza.

As sociedades humanas através das suas relações e da organização das suas atividades alteram os territórios em que se inserem, afetando a disponibilidade, produção, diversidade, permanência, resiliência e evolução dos recursos naturais, criando “janelas de vulnerabilidade” (Dow, 1992).

A civilização industrial moderna procurou romper com o passado e orientou-se para os mercados globalizados, assumindo, desta forma, a incerteza dos resultados e a probabilidade de aparecimento de efeitos não desejados ou mesmo inesperados. O risco constitui indubitavelmente “um elemento central no dinamismo económico e da inovação social desejadas, Arriscar tornou-se sinónimo de mudança” (Hespana e Carpintiero, 2001). A sociedade atual é frequentemente caraterizada como a sociedade do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, com múltiplas plataformas de inovação que requer dos cidadãos uma maior capacidade de intervenção e um estado de alerta constante.

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Todavia, a busca do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe dissabores inesperados e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito tempo até que a sociedade percebesse que o avanço tecnológico e científico, causa e consequência do mundo globalizado, não se apresenta ausente de preocupações e angústias, dando origem às sociedades pós-modernas ou aquilo a que Giddens (2002) e Beck et al. (2002), denominaram de “modernidade reflexiva”, em que a incerteza e a insegurança são geradas por novos riscos, o que “justificam as frequentes preocupações com os riscos naturais, os riscos tecnológicos, os riscos biológicos e os riscos económicos e sociais” (Teles, 2010:32).

A reclamação de uma maior participação emerge de um público mais “reflexivo”, mais atento aos dilemas da relação estreita entre a investigação científica e as dinâmicas económicas e políticas, que têm posto em evidência a necessidade de serem repensados os processos de decisão democrática (Gonçalves, 2000).

Os comportamentos, atitudes e práticas dos portugueses perante os problemas ambientais contemporâneos apresentam uma multiplicidade de dimensões culturais, sociais e políticas que estruturam o modo como se relacionam com o ambiente.

A forma como a questão ambiental é sentida e vivida parte do pressuposto de que as dimensões da cidadania passam, não só pelas diversas formas de participação pública mas, também, pela partilha de conhecimentos e informações sobre as questões ambientais. Isto é, o modo como as sociedades contemporâneas se vão organizando de modo a cooperar na superação dos problemas ambientais, tanto individual como coletivamente. Neste sentido, os media e a aposta numa educação ambiental têm desenvolvido um papel fundamental. Ainda que nem sempre a ação que estes vêm encetando sejam isentas de interesses e de manipulação, é inegável o modo como a sua ação se tem repercutido na mudança de mentalidades e numa maior consciência da sociedade para a importância da ecologia e do seu equilíbrio.

Enquanto problema social e político, a questão do ambiente tem, em boa medida, origem na ação coletiva organizada. Mas também é verdade que ela se desenvolve enquanto esfera de atuação de políticas publicas sob o signo da participação cívica e como área privilegiada de expressão da cidadania (Nave e Fonseca, 2004). Para estes autores, as formas e predisposições

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para a participação na esfera da cidadania ambiental são particularmente mediadas pelos mecanismos de perceção de risco associado a fenómenos ambientais.

Atualmente, o sentido de responsabilidade ambiental está, segundo Queirós (2001), associado à crença de que a biodiversidade e a paisagem não podem ser destruídas por decisão humana. O desgaste ambiental é entendido hoje como sinónimo de crise global do ambiente.

A ambivalência da ciência e da tecnologia perante o ambiente resulta desta situação dupla e dúbia que as arrasta para o centro de discussão sobre preservação e degradação ambiental (Lima e Guerra, 2004)

Potenciais fontes de soluções para uma crise ambiental global de que elas próprias estão na origem, a ciência e a tecnologia não parecem despertar opiniões unanimes. Se a ciência pode, por um lado, fornecer soluções pode, por outra parte, ser ela própria, fonte de problemas.

O papel a desempenhar pelo Estado e/ou instituições públicas em geral, é inevitavelmente convocado quando estão em causa interesses públicos ambientais, património natural e comum, e no meio disto, as atividades económicas potencialmente conflituantes (Schmidt et al., 2004).

Outros trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar as perceções e as práticas ambientais dos portugueses e nos serviram de ponto de partida para esta investigação, com os quais tentamos, sempre que possível, estabelecer comparações dos resultados obtidos.

Os trabalhos de referência sobre a perceção, atitudes e práticas ambientais que orientaram o nosso estudo foram os produzidos pela equipa do Programa OBSERVA – Ambiente, Sociedade e Opinião Pública, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em particular os resultados dos dois inquéritos nacionais às representações e práticas dos portugueses sobre o ambiente, publicados nos anos 2000 e 2004 bem como o estudo elaborado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) em colaboração com o International Social Survey Programme (ISSP) da Universidade de Lisboa. A estes fomos buscar ajuda metodológica para a construção do nosso inquérito, bem como a base comparativa para os nossos trabalhos.

2 - Justificação da área de estudo

A escolha do estudo de caso prendeu-se com duas questões fundamentais: a proximidade entre a área geográfica selecionada – o concelho de Vizela e o investigador, havendo uma propinquidade entre o território e as vivências. O segundo motivo prendeu-se fundamentalmente

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com a urgência que os problemas ambientais assumem no contexto científico atual mas, também, social e cultural.

O concelho de Vizela insere-se num contexto mais alargado e, igualmente, complexo do Vale do Ave. A forte industrialização desta área que se inicia em 1845 com a Fábrica de Tecidos do Rio Vizela, em Santo Tirso, e acabaria por se espraiar, grosso modo, a todo o território, haveria de marcar para sempre as vivências das pessoas, a morfologia urbana e as suas dinâmicas demográficas.

Esta complexidade onde o Vale do Ave se inscreve acaba por lhe conferir uma identidade própria que decorre, em parte, da mediatização do problema da poluição dos cursos de água do rio Ave, proveniente das indústrias têxteis que aí se instalaram.

3 - Objetivos

É nosso objetivo primordial estudar o modo como os vizelenses tomaram consciência dos problemas ambientais do concelho de Vizela, nomeadamente os que mais diretamente se relacionam com a forte industrialização deste território e, de que modo, esta condicionou as suas atitudes e práticas ambientais.

Como objetivos específicos, pretendemos encontrar resposta a algumas questões de partida, nomeadamente às atitudes e práticas dos vizelenses e à sua perceção dos problemas ambientais:

1) Que atitudes manifestam face…?: - À relação ambiente/ desenvolvimento;

- À ciência;

- Às preocupações ambientais;

-À confiança nas fontes de informação.

2) Como se refletem as práticas ambientais e de cidadania? - Nas suas intenções;

- Na sua participação em ações de caráter ambiental.

3) Qual a perceção dos problemas ambientais do concelho de Vizela? - Das ações de caráter municipal em que assumiram um papel ativo; - Sobre as atitudes perante as decisões de caráter ambiental;

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- Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio da indústria têxtil; - Aferição das alterações (se existentes) na consciência por parte dos vizelenses sobre o estado do rio;

- Compreensão sobre o modo como as pessoas sentiram que as alterações no estado do rio tem vindo a repercutir-se na relação do Ser humano com o meio.

4 - Metodologia

A resposta dada aos objetivos que formulamos será tanto mais assertiva, quanto melhores as metodologias adotadas, desde as mais teóricas às mais práticas. As diferentes metodologias que foram sendo adotadas são devidamente descritas nos respetivos capítulos.

Genericamente, o enquadramento concetual/ teórico deste trabalho prendeu-se com uma vasta recolha bibliográfica com o intuito de entender de que modo as atitudes ambientais da sociedade são condicionadas pelas perceções que esta desenvolve dos problemas ambientais.

A caraterização da área de estudo – o concelho de Vizela, suportou-se numa ampla recolha bibliográfica, bem como numa base cartografia, quer digital, quer impressa. Recaiu, ainda, fundamentalmente sobre um sistemático trabalho de campo, elementar para o conhecimento do território, mas também para a compreensão das relações que a população vizelense estabelece com este, nomeadamente com os problemas ambientais que aí se encerram, indissociáveis do rio Vizela.

No sentido de aferirmos as atitudes ambientais e as relações que os vizelenses com 15 ou mais anos, estabelecem com o rio Vizela procedeu-se à aplicação de um inquérito entre os meses de Março e Junho de 2014. Os dados resultantes da aplicação do inquérito por questionário foram tratados estatisticamente através do software IBM SPSS®. Os dados obtidos, bem como os cruzamentos de dados efetuados estão devidamente apresentados no capítulo 3, reservado à discussão dos resultados dos inquéritos.

No sentido de sustentar a nossa investigação, recorremos ainda a fontes documentais, nomeadamente à pesquisa de notícias e artigos de opinião em jornais locais, nomeadamente no Notícias de Vizela, desde 1976 até à atualidade.

5 - Organização da tese

A presente investigação apresenta-se organizada em três partes distintas: a Parte I – Ambiente e Tecnologia, que se subdivide em dois capítulos, constituindo o suporte teórico deste

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trabalho, a Parte II – Enquadramento territorial que se subdivide, também, em duas partes e a Parte III – Estudo de caso.

No primeiro capítulo - Ambiente e desenvolvimento, discute-se a ambiguidade da relação tecnologia vs ambiente, e os “novos riscos” que resultam da relação que se estabelece entre estes. Apresentam-se ainda as inseguranças e incertezas em que vivem as sociedades atuais, que geram novas vulnerabilidades. O segundo capítulo – Cidadania e Mobilização ambiental, prende-se com o modo como o Ser Humano desenvolve, apreende e expressa as perceções, atitudes e práticas ambientais e de que modo isso se expressa nas múltiplas dimensões da mobilização ambiental.

No Capítulo 3 – O Vale do Ave e o Concelho de Vizela, procedemos à definição dos limites territoriais sobre as quais desenvolveríamos a contextualização territorial. Aqui é ainda contextualizado o concelho de Vizela num contexto mais abrangente, mas com uma realidade igualmente complexa, do Vale do Ave, tentando perceber de que modo o desenvolvimento deste nicho industrial se foi expressando territorialmente.

O quarto capítulo - Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do território, discutimos o modo como os elementos naturais, nomeadamente o território e a rede hidrográfica organizam o território. Neste sentido, procedeu-se ainda à análise da evolução da população que vive, transforma e se apropria do território, assim como analisamos de que modo as atividades económicas reagem à situação de crise económica que assola todo o país, particularmente o Vale do Ave, procurando entender que condicionantes humanas que motivam esta situação.

O último capítulo respeita ao caso de estudo – As práticas ambientais e relação dos vizelenses com o rio Vizela, em que a interação entre o território e as suas representações são essências. Aqui discutimos os resultados obtidos no inquérito aplicado.

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PARTE I – Ambiente e Tecnologia

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Capítulo 1 – Ambiente e desenvolvimento

A inegável evolução da ciência e da técnica trouxe bem-estar à sociedade, mas fê-lo através da exploração de recursos naturais existentes, traduzindo-se numa irreversível degradação ambiental. Se, por um lado, à ciência e à técnica são imputadas as responsabilidades de inúmeros problemas ambientais, por outro, sem estas não seria possível, em muitos casos, sinalizar como problemas algumas questões ambientais.

Atualmente são graves os desafios ambientais com que a humanidade se debate que nos exigem uma reflexão séria sobre os modelos de crescimento e de desenvolvimento seguidos, assim como nos incitam a procurar equacionar o tipo de relação que se estabelece entre o Ser Humano e a técnica.

1.1 Progresso tecnológico e degradação ambiental

Se o progresso tecnológico ajudou resolução de alguns problemas com que a sociedade se confrontava no passado conduziu, também, à consciência dos riscos que a ameaçavam. Na tentativa de resolver os problemas existentes, a tecnologia acabou por gerar novos riscos, tornando-se num dos principais paradigmas da modernidade.

A interação entre a Natureza, a sociedade e a tecnologia, numa variedade de escalas espaciais cria um mosaico de riscos que apresenta um conjunto muito diferente de problemas.

A sociedade do risco é uma teoria social que descreve a produção e a gestão dos riscos na sociedade moderna que se organiza de modo a responder aos riscos a que se encontram expostas. Neste contexto, Ulrich Beck e Antonhy Giddens são as referências fundamentais.

“No caso dos problemas ambientais, a sua existência traduz não só a dificuldade em se perspetivar o modelo de desenvolvimento económico e social sustentado que saiba compaginar o impacto da industrialização com o bem-estar das populações, como reflete o dilema de encontrar um novo posicionamento na relação técnica do homem com o mundo”.

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As chamadas sociedades do risco aumentam a consciência individual e coletiva relativamente aos potenciais perigos. Do mesmo modo que aumentam a consciência, alastra o campo de ação dos riscos, tornando-se difusos no espaço e no tempo, dotados, muitas vezes, de uma forte volatilidade. Verifica-se uma reorganização social em torno da questão dos riscos que chamou à atenção não só dos decisores, dos políticos ou da comunidade académica, mas também dos cidadãos para a consciencialização dos riscos que os rodeavam.

A intolerância social aos riscos resulta da evolução da perceção e da imagem social da Natureza. Hoje em dia, a causa ambiental e a necessidade de proteger a diversidade biofísica impõem-se de forma cada vez mais partilhada, para o que largamente tem contribuído a ação dos movimentos ambientalistas e o poder difusor dos media que empresta visibilidade sem precedentes a situações de rutura ecológica (Lima e Guerra, 2004).

Os problemas ambientais resultantes da sobre utilização da tecnologia apresentam-se como falhas nos sistemas políticos, sociais e económicos, daí que a degradação ambiental surja como resultado da potencialização humana dos riscos, consequência da modernização, em si mesma. Os riscos tecnológicos e a degradação ambiental são, ambiguamente, um produto da atividade humana e objeto de mitigação e resolução, ou seja, os riscos tecnológicos são construções sociais (Cutter, 1995).

Neste sentido, Beck (1992), expõe a evolução da sociedade em três períodos: Sociedades Tradicionais, Primeira Modernidade e Segunda Modernidade (Quadro 1). As sociedades tradicionais prevaleceram na Europa até ao início da revolução Industrial, caracterizadas pelo predomínio das estruturas feudais. Verifica-se uma grande influência da família e da religião na construção das mentalidades. A definição das perceções individuais circunscreviam-se às relações familiares e de vizinhança.

A primeira modernidade afirmou-se na sociedade europeia através das múltiplas revoluções ao nível da política e da indústria que se desenvolvem entre os séculos XVII e XVIII. Aqui a igreja perde o poder que outrora detivera. Aumentaram as relações sociais, mais impessoais e formais. Apesar das diferenças entre si, nas sociedades tradicionais e nas da primeira modernidade, dominava um clima de confiança, previsibilidade e de segurança. Esta fase caracteriza-se pela aceitação da ciência e da técnica por parte das sociedades, sem grandes questionamentos. Aqui reside a emergência dos

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problemas ambientais decorrentes da tecnologia, ainda que não haja a perceção, quer ao nível da comunidade científica, quer dos leigos, da fragilidade que lhe era inerente.

Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck

Entre a primeira e a segunda modernidade verificaram-se alterações profundas. Beck (1992) considera que a modernização envolveu alterações na estrutura das relações e nos agentes sociais. Os riscos alteraram o processo de modernização. A crítica crescente às práticas modernas industriais resultou numa modernidade reflexiva que, segundo Giddens (2004) é a “possibilidade de uma (auto) destruição criativa para toda uma era: aquela sociedade industrial”. Salienta-se que o “sujeito dessa destruição não é uma revolução, não é a crise, mas a vitória da modernização ocidental” (Beck et al., 1995:12).

Sabemos que as situações de crise que atingem determinadas áreas do Planeta ou certas sociedades não têm uma génese local, mas constituem o resultado de fortes interdependências que unificam os espaços a uma escala muito alargada (Hespanha e Carpinteiro, 2001). Ainda assim, segundo os mesmos autores, isto não obsta que as formas através das quais a crise é combatida e dos recursos mobilizados para esse efeito não possa ser configurada como uma análise das respostas locais a fenómenos globais.

Reconhecendo que o risco é um conceito fluido, fundado culturalmente e contestado socialmente, variável em função das experiências individuais ou coletivas, circunstâncias históricas,

Fonte: Adaptado de Queirós et al. (2006)

.

Sociedades Tradicionais Primeira Modernidade Segunda Modernidade

. Crenças/ religião . Preponderância da família na construção da individualidade . Estruturas comuns . Dogmas . Importância do Estado-nação . Estruturação da sociedade em classes . Pleno emprego . Rápida industrialização

. Exploração da natureza não visível

. Reflexibilidade . Individualização . Globalização . Desemprego . Liberdade de escolha . Progresso tecnológico . Poder tecnocrático Segurança Previsibilidade Confiança Norma Dúvida quotidiana Incerteza Fragmentação cultural Insegurança

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contextos económicos, institucionais e, sobretudo, territoriais, é possível afirmar não haver uma verdade objetiva, monolítica, acerca da relação sociedade/ambiente (Queirós, 2001).

Hoje os riscos estão em todos os lugares. Noutros contextos históricos, a experiência dos riscos nunca foi tão ampla e profunda como se tem verificado nas últimas décadas. As situações de risco atuais são quantitativa e qualitativamente distintas das formas anteriores de risco. As mudanças ocorrem cada vez mais rápidas e em maior grau e intensidade. Estas alterações geram situações novas sobre as quais não é possível ter controlo. A incerteza passou a ser uma das caraterísticas mais relevantes da modernidade.

A civilização industrial moderna procura, decididamente, romper com o passado, gerando uma economia globalizada, assumindo a incerteza dos resultados e o aparecimento de efeitos não desejados que, em muitos casos, nem foram anteriormente previstos. Do mesmo modo que estes novos modos de vida se assumem como motor de dinamismo económico e de inovação social que tantas angústias motivou, como carece de mudanças.

Estas inseguranças invadiram praticamente todos os domínios da vida social, sendo que “o mal-estar causado por estas mudanças manifesta-se em revolta, angústia e desânimo, mas também em desemprego e pobreza, em doença e suicídio, em violência e insegurança (Lima, 2005:15).

Um efeito especialmente visível da globalização consiste na emergência ou na amplificação do risco social, através de processos, por vezes muito complexos de rutura dos desequilíbrios sociais à escala global (Hespanha e Carpinteiro, 2001).

Os riscos globais são, do ponto de vista de Aragão (2008), “riscos em larga escala, com magnitudes sem precedentes. As ações conjugadas da evolução científica e tecnológica e da intensificação de produção industrial e agrícola, com a aceleração do consumo e a globalização do mercado dos produtos e serviços conduziram a uma massificação dos riscos”. São riscos irreversíveis aqueles que, ao se efetivarem, tenham consequências permanentes ou tão duradouras à escala humana. Segundo a mesma autora, a irreversibilidade é um aspeto fulcral da caracterização dos riscos que, comportando para as gerações futuras perda de oportunidades de realização, pelo que a defesa de certas irreversibilidades se justifique pelo interesse na manutenção das escolhas potenciais para o presente e para o futuro. Entende por riscos retardados aqueles que se desenvolvem lentamente e levam gerações a materializar-se, assumindo, em determinadas situações, dimensões catastróficas inerentes à sua extensão e irreversibilidade.

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Não faz sentido falar em novos riscos sem falar, então, em precaução. O princípio da precaução destina-se, sobretudo, a regular os novos riscos ambientais que são globais, irreversíveis e retardados no tempo.

Os “novos riscos” exigem uma gestão antecipatória, ou seja, segundo o Quinto Programa de Ação em Matéria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, em vigor no período 1993-2000, “não nos podemos dar ao luxo de esperar e verificar se estamos errados”. Os riscos são importantes e devastadores demais para que possamos estar à espera de obter provas irrefutáveis ou do consenso científico geral.

Giddens (2001) aponta que nas sociedades que se guiavam mais pelo costume e pela tradição, as pessoas agiam, por vezes, de forma mais irrefletida. Nos dias de hoje, a realidade é diferente, uma vez que em virtude da ciência e da tecnologia podem-se utilizar tais mecanismos e interferir nas decisões, expondo a sociedade a riscos desnecessários em razão das incertezas científicas. Exemplo disso, é o facto de, que nos dias de hoje, se poder escolher o número de filhos que cada casal pretende ter.

Neste sentido, parece estabelecer-se uma dicotomia artificial e nociva entre uma visão maléfica, quase satânica, da técnica e a sua apresentação como um instrumento redentor da Humanidade. Correia (2001) defende que um objeto técnico tem dimensões tanto naturais como artificiais, o que vem contrapor o pressuposto de que a técnica e os objetos técnicos fazem parte de um mundo artificial, diferenciando-se, nesta perspetiva, à Natureza. O autor sugere a importância de se refletir com maior atenção sobre a essência da técnica, procurando o ponto de equilíbrio no seio da distinção entre o que podemos entender como natural e artificial, entendendo daí que a técnica se apresenta como algo híbrido, que oscila entre estas duas definições.

A justificação para uma cada vez maior aposta na inovação tecnológica prende-se, não raras vezes, com a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da sociedade. Nesta busca contínua pelo conforto material, a sociedade e a tecnologia acabam por estabelecer uma complexa rede de relações onde uma é afetada pela outra de forma ininterrupta.

A procura de uma certa equidade entre o Ser Humano e o meio em que se envolve, ou seja, uma conceção não utilitarista da Natureza impõem, desde logo, uma questão fundamental: “Um novo protagonismo atribuído ao ambiente será, efetivamente, autónomo de qualquer apreciação utilitarista?”

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Como resposta a esta questão, os fatores de degradação ambiental da modernidade terão condicionado a emergência do conceito de ambiente que se tem vindo a demarcar do conceito de natureza, assumindo significados mais abrangentes.

O ambiente resume-se frequentemente aos valores naturais e às ameaças que recaem sobre a natureza. Esta ideia de equivalência entre ambiente e natureza deixaria de fora o espaço entre mundo social e mundo natural. Ainda assim, a tendência atual parece apontar para uma inserção progressiva da esfera natural num processo mais vasto e complexo que reúne e integra os mais diversos setores e as suas consequências (Lima e Guerra, 2004). Assim, o conceito de ambiente tem vindo a ganhar uma certa independência, primeiramente nas esferas académicas e, por consequência, nos media e na sociedade.

Este conceito é frequentemente associado aos valores naturais e às ameaças que caem sobe a natureza. Atualmente, o conceito de ambiente demarca-se do conceito da noção de natureza. As várias representações do ambiente acentuam uma outra dimensão e dão origem, fundamentalmente, a três grandes conceções que correspondem a distintos estádios de autonomização do ambiente em relação à natureza (Theys, 1993):

1) Conceção objetiva e biocêntrica: o ambiente é entendido enquanto aglomerado de elementos naturais e suas relações e interdependências, pouco se distanciando do conceito de natureza. O próprio Homem e a sociedade surgem representados enquanto organismos naturais, dependentes, como quaisquer outros, das leis, do funcionamento da natureza. O interesse pelo ambiente não traduzirá mais, de acordo com esta conceção, que a crescente tomada de consciência da pertença social ao sistema mais vasto da biosfera;

2) Conceção subjetiva e antropocêntrica: Se, na conceção objetiva, o Homem se deve adaptar às leis e condições naturais, na conceção subjetiva, os problemas ambientais só ganham visibilidade na medida em que afetam o próprio Ser Humano. O ambiente afirma-se aqui como um espaço de relações entre o Homem e o seu meio envolvente (natural ou construído) e é neste espaço em que a sociedade engloba a natureza e determina a sua evolução que ganham sentido os termos “uso”, “recursos”, “património”, “delapidação”, “preservação”, “acesso”, etc.. No limite, a defesa do ambiente e a preservação dos recursos naturais mais não fazem do que pugnar pela manutenção das condições necessárias à sobrevivência da própria humanidade.

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3) Conceção objeto-subjetiva e tecnocêntrica: A ideia de que o Ser Humano e o seu meio (natural e construído) fazem parte de uma relação interdependente, condicionando-se mutuamente, está na base da conceção tecnocêntrica que, por isso, incorpora simultaneamente uma visão objetiva e subjetiva. O conceito de ambiente, nesta perspetiva, projeta a existência de relações de transformação recíproca, num processo dialético de ações e reações que realçam a capacidade de adaptação dos vários elementos. Sociedade e natureza tendem, deste ponto de vista a integrar-se cada vez mais, pelo que o destino de uma determinará, certamente, o futuro da outra. Esta definição concebe o ambiente como um conjunto de limites, de disfuncionalidades, de riscos ou de problemas que devem ser resolvidos, tendo em conta as interações do sistema global.

Resultado deste processo e imbricado nele, assiste-se ao progressivo abandono dos valores antropocêntricos em que assenta o Paradigma Social Dominante (cimentado em pressupostos de crescimento económico e de progresso perpétuos), em simultâneo com a crescente assunção de valores do Novo Paradigma Ecológico (Catton e Dunlap, 1978; Catton e Dunlap, 1980; Dunlap, 1993; Dunlap, Van Liere, Mertig e Jones, 2000 citado Teles, 2010), que reequaciona o lugar e o papel da humanidade no mundo e os limites ecológicos a que, como tantas outras espécies, está sujeita (Lima e Guerra, 2004). Esta viragem representa a tomada de consciência que questiona o lugar na humanidade no mundo e o papel que desempenha na transformação do ambiente.

A emergência do Novo Paradigma Ecológico que se manifestou não só nos meios académicos mas também na população em geral, através de uma maior consciencialização da importância do ambiente per si, põe em evidência a necessidade da reinterpretação de fenómenos até então negligenciados em detrimento dos indicadores de crescimento económico como a ameaça da poluição, a escassez de recursos e o declínio da qualidade de vida das populações. Assim se abriu caminho para uma noção de dependência ecológica das sociedades. Segundo Lima (2006), a noção de escassez ecológica do ecossistema global, subjacente a esta perspetiva, implica a assunção de leis naturais a que os humanos não podem deixar de estar sujeitos. Num planeta finito, os limites da humanidade serão, apesar do engenho tecnológico, as leis da natureza.

Do ponto de vista de Coelho et al. (2006), o ambiente parece representar-se, sobretudo, pela natureza e pelos elementos naturais (conceção biocêntrica) que, ainda assim, não deixam de estar acompanhados por ideias bucólicas de campo e paisagens, indicadores de uma qualidade de vida perdida que se prende com uma conceção antropocêntrica do ambiente. Uma conceção com contornos marcadamente tecnocêntrica, que alia o mundo natural e social numa ação de efeitos e

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contra-efeitos, é ainda minoritária. Os grupos mais jovens e mais escolarizados parecem optar quer por uma maior adesão à conceção tecnocentrada do ambiente, quer por um relativo distanciamento das conceções mais antropocêntricas que medem e leem o mundo à medida das necessidades da humanidade.

Por sua vez, Beatley (1994) vinca uma dicotomia de atitudes relativamente à relação que se estabelece entre o ser humano e o ambiente: de um lado a visão antropocêntrica, paradigma dominante do mundo ocidental centrado na logica utilitarista da ação que gera a maior quantidade de valor, do outro a visão ecocêntrica que rejeita toda a ação que se justifica apenas na maximização do valor. Queirós (2001) esclarece que a primeira posição supõe uma separação entre um mundo social e a natureza. A Humanidade é “natural” (porque se considera biológica e, nesta perspetiva, possui uma primeira natureza) mas também é “racional” (porque se considera plena de racionalidade). Como testemunho da liberdade humana face ao ambiente físico, um mundo natural pode e deve ser usado pelos humanos para o seu desenvolvimento, entendidos como únicos seres de direito. Pelo contrário, a segunda atitude assume a Humanidade como parte indissociável da Natureza e, como tal, deve respeita-la do ponto de vista ético e moral. Esta perspetiva holística revela uma clara compreensão da interdependência ecológica entre as sociedades humanas e o seu ambiente.

Esta consciência ecológica tem vindo a ganhar visibilidade e aceitação progressivas na sociedade em geral. Ainda assim, este trata-se de um confronto sem fim à vista que resulta do facto de, por um lado, as sociedades humanas dependeram da exploração dos ecossistemas envolventes para progredirem, mas, por outro lado, a intensificação da exploração de recursos naturais a que se vem assistindo, poderem estar a destruir a sua própria base de sustentação.

Muito há ainda a fazer no que respeita a esta confronto entre as duas principais formas de entender as relações do Ser Humano com a Natureza: a ideia de que a natureza existe para responder às necessidades da humanidade versus a ideia da humanidade entendida como uma das espécies inclusa nos ecossistemas.

É neste confronto de ideias que se assentou o trabalho empírico desenvolvido, procurando compreender as atitudes ambientais dos vizelenses relativamente à relação ambiente/desenvolvimento, face à ciência e às preocupações ambientais.

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Capítulo 2 – Cidadania a mobilização ambiental

2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais

A perceção social dos riscos naturais e tecnológicos tem sido fortemente debatida, com principal destaque nos últimos anos. A produção científica tem recaído sobretudo na forma como as diversas perceções sociais são (ou não) integradas em processos de tomada de decisão ou em medidas de mitigação de situações de risco.

De entre os muitos trabalhos desenvolvidos no nosso país sobre a temática dos riscos, em especial no domínio dos riscos naturais, parece haver uma maior propensão para o estudo dos processos perigosos do que para o estudo de como a sociedade os recebe, lhes resiste ou se recupera, ou sejam as componentes suscetibilidade e perigosidade continuam a ser bem estudados, o mesmo não se passando a componente da vulnerabilidade (Cunha et al., 2013).

O estudo da perceção está intimamente ligado com os domínios da Psicologia. Ainda assim, outras ciências como a Geografia, o Urbanismo ou a Arquitetura têm desenvolvido estudos importantes no sentido da sua compreensão. O que se procura fazer é desenvolver os conceitos da perceção aplicados ao espaço.

Nas ciências sociais têm-se desenvolvido bastantes trabalhos de abordagens à perceção do risco, quer a nível internacional, quer em Portugal.

Segundo Goddey e Gold (1986), a geografia do comportamento e da perceção, baseada em visões subjetivas do mundo, tem origem em pesquisas behavioristas que têm por finalidade a compreensão do comportamento humano. Deste modo, a perceção e análise do risco deve ser vista em duas perspetivas, muito distintas mas absolutamente complementares, a dos leigos e a dos especialistas.

“O associativismo faz parte da vitalidade e do “capital social” de uma sociedade civil que é capaz de desenvolver uma multiplicidade de tarefas e iniciativas que lhe cabem na modernização e um país.”

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Segundo Lima (2005), por perceção de risco entende-se a forma como os leigos pensam o risco, referindo-se à avaliação subjetiva do grau de ameaça potencial de um determinado acontecimento. A distinção entre risco percebido (perceived risk) e risco atual (actual risk) ou «objetivo» presume que o primeiro representa uma distorção do segundo e deve-se a crenças, experiências subjetivas, medos irracionais, quando não «histerias» dos não especialistas (Lima, 2000: 160; Flynn e Slovic, 2000:109).

A análise do risco e a perceção do risco apresentam-se como conceitos distintas. Enquanto a primeira integra a objetividade, a segunda é um processo subjetivo, ao ser constituída pelas imagens individuais dos riscos (Navarro e Cardoso, 2005). A análise do risco é fundamental para a gestão dos riscos, já que supõe que se pode reduzir a frequência ou a gravidade das consequências de um acidente tecnológico ou de uma catástrofe natural (Queirós, 2000). Ainda assim, este tipo de abordagem, independentemente de ser eficiente ou não, nem sempre satisfaz a sociedade.

A perceção dos riscos é principalmente considerada como um fenómeno individual. Do ponto de vista das Neurociências (Lent, 2010), perceção é a capacidade que os seres humanos têm de associar informações sensoriais à memória e à cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e orientar o nosso comportamento.

Os estudos sobre a perceção dos problemas ambientais mostram que nem todas as ameaças têm, para os cidadãos, o mesmo caráter inaceitável e potencialmente mobilizador da opinião pública. Lima (2003) considera que a perceção de risco é um pensamento construído socialmente, influenciado pelos mesmos fatores que influenciam outros tipos de pensamento social. Assim, a perceção dos riscos está intimamente relacionada aos valores, e ao mesmo tempo, limitada pelo nível escolar e frequentemente confundida pela linguagem (Queirós, 2000).

Os indicadores de perceção pública dos problemas ambientais permitem vislumbrar a posição que a sociedade tem diante dos problemas que o ambiente vai manifestando. Vários fatores explicam o processo de perceção do risco, sendo estes internos e pessoais, como o método de processamento de informação, a importância de informação recolhida e processada anteriormente. Verificam-se sensibilidades diferentes de pessoa para pessoa, dependendo dos múltiplos fatores que determinam a vulnerabilidade de cada indivíduo.

Do ponto de vista de Renn (2004), os indivíduos constroem a sua própria realidade e avaliam o risco de acordo com as suas perceções subjetivas. Segundo Queirós et al. (2006) este processo de

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formação da perceção do risco é de extrema complexidade ao incluir as experiências que o indivíduo adquiriu ao longo da sua vida e refletindo igualmente a sua esfera sociocultural e ideológica. Neste sentido, muitas vezes a visão da comunidade científica não se coadunam com as perceções da população porque os indivíduos o constroem de forma diferenciada.

Slovic (1987) sugere que as preocupações dos leigos juntam outras dimensões, tais como: o risco é controlável? Individual ou coletivo? Justo ou injusto? Conhecido ou desconhecido? São as suas consequências imediatas ou de longo prazo? Podemos confiar na avaliação dos políticos, tal como na dos especialistas.

Lima (2003) defende que a perceção é um tipo de pensamento social complexo, ambíguo e importante. É, todavia, possível, conciliar, na opinião de Queirós (2000), as perspetivas objetivas e subjetivas nos estudos do risco através de uma posição intermédia que aceite procedimentos científicos que consideram que os riscos ambientais não são puramente objetivos e a introdução de valores a eles associados é uma questão necessária.

Mesmo numa sociedade vulgarmente tida como homogénea do ponto de vista cultural e social como é a europeia, verificam-se grandes dissemelhanças no que respeita à perceção social dos riscos. Ao contrário do que sucedeu com outros países europeus, em Portugal as preocupações ambientais surgiram tardiamente e a sua trajetória vem marcada por determinados detalhes históricos e culturais, influenciando opiniões, atitudes e práticas relativamente ao ambiente. Do ponto de vista de Schmidt et al. (2004), a sociedade portuguesa carateriza-se pela prevalência de uma sociedade fortemente centrada sobre valores tradicionais [valorizados pelo regime do Estado Novo], uma industrialização tardia e incipiente, um processo de urbanização acelerado e desordenado com o correspondente despovoamento do interior; a par da manutenção de baixos níveis de literacia e de um sistema político autoritário que desabituou os cidadãos de intervir.

Invariavelmente, o ritmo a que sucediam os fenómenos em Portugal foi muito díspar do que se ia sucedendo no resto da Europa. Enquanto na maioria dos países europeus as políticas e preocupações da opinião pública sobre o ambiente eclodia no final dos anos 60, a par do Tratado de Roma em 1969 e da Conferência de Estocolmo em 1972, em Portugal, apenas nos anos 80 se regista a emergência do tema ambiental, tendo surgido um quadro legislativo e uma estrutura institucional (Soromenho-Marques, 1998).

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Em Portugal, o primeiro movimento social de conservação da natureza, em 1948, deu-se com a criação da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), conjugando as preocupações de investigadores ligados à agronomia, geologia e áreas afins. Como prioridade de intervenção estabeleceu a questão da educação dos cidadãos. A LPN mantem a sua intervenção até à atualidade, com atuações importante em domínios de conservação da natureza e do desenvolvimento rural, bem como nas questões de participação cívica, sempre com a preocupação de uma fundamentação científica rigorosa das suas propostas e ações (Carpeto, 1998).

Em 1967, as cheias de Lisboa constituíram a marca na afirmação da consciencialização ambiental dos portugueses. Neste sentido, o Arq. Ribeiro Teles surgiu a explicar o desencadear da crise como consequência da ocupação das linhas de água e leitos de cheia por construções nas periferias de Lisboa, onde habitavam pessoas socialmente excluídas. Esta denúncia da ineficácia do ordenamento do território alertou consciências e pôs a nu problemas graves em que o Homem assumia um papel preponderante.

Graças à conjugação de mecanismos e instrumentos de político-administrativos com o financiamento comunitário possibilitou a publicação em 1987 dois diplomas legais fundamentais: a Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 11/87 de 7 de Abril) e a Lei das Associações da Defesa do Ambiente (Lei nº 10/87 de 4 de Abril). Verifica-se um esforço para a institucionalização dos órgãos para as questões ambientais, ao mesmo tempo que surgem associações ambientalistas como o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente – GEOTA (1981) e Quercus (1985).

Os valores e atitudes são fatores intrínsecos a cada um de nós. São os valores que condicionam as atitudes que diariamente se expressam através das nossas ações. Sucintamente, as atitudes podem definir-se como atributos psicológicos do indivíduo que determinam a sua tendência para agir de um determinado modo, em determinada situação (Moore, 1995). As atitudes têm uma relação direta com uma predisposição para a ação.

Para desenvolver uma atitude é necessário adquirir algumas convicções ou crenças e comportamentos de aceitação e recusa. A aprendizagem de uma atitude manifesta-se, essencialmente, por mudanças nas reações e nas respostas emotivas do Ser Humano, bem como nas modificações de conhecimentos e aptidões instrumentos associados a essas reações.

O conceito de preocupação ambiental relaciona-se com a preocupação, o conhecimento, as atitudes em relação ao ambiente e à natureza, as intenções e o comportamento efetivo (Van Liere e Dunlap,

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1981). Perante isto, torna-se evidente que é necessário separar as duas vertentes da preocupação ambiental: as atitudes e as práticas (ou comportamentos).

Conhecendo as atitudes, conseguimos estimar comportamentos. Neste sentido, o estudo das atitudes ambientais pode contribuir para o estudo da dimensão social das afirmações ambientais. De acordo com Coelho et al. (2006), estas podem ser consideradas como sentimentos favoráveis ou desfavoráveis acerca do ambiente ou sobre um problema relacionado com ele, e têm sido definidas como perceções ou convicções relativas ao meio físico, inclusive fatores que afetam a sua qualidade. Os mesmos autores argumentam, também, que as crenças, atitudes e valores são atrelados formando um sistema cognitivo funcionalmente integrado, pelo que uma mudança em qualquer parte do sistema afeta outras partes e culmina em mudança comportamental.

2.2 Dimensões da mobilização ambiental

O ambiente surge com frequência como uma plataforma privilegiada de aplicação dos valores da cidadania e do exercício democrático expresso pela participação. Pode associar-se esta questão às exigências intrínsecas de mobilização da sociedade civil, bem como da participação individual, em ações concretas de preservação do ambiente.

Na perspetiva de Nave e Fonseca (2004), este processo de mobilização tem sido claramente marcado pela evolução registada ao nível de um conjunto muito vasto de fatores e circunstancias, desde logo, a progressiva importância e valorização que vem sendo socialmente atribuída às questões relacionadas com a preservação do ambiente na promoção da qualidade de vida dos cidadãos.

A participação pública afigura-se como um instrumento essencial no que respeita à governança dos riscos. Para que seja eficaz, esta deve ser “precoce e alargada, ou seja, ocorrer desde os primeiros estádios do procedimento, envolvendo todas as partes potencialmente afetadas ou interessadas” (Aragão: 2008: 43). A autora evidencia ainda que esta é uma dimensão recente no que respeita à gestão dos riscos: a relevância atribuída aos cidadãos, leigos, cuja opinião profana foi, desde sempre, desprezada e só recentemente, com a convenção de Aarhus, em 1998, começou a ganhar algum estatuto.

Esta convenção adquiriu um carater inovador, uma vez que estabelece relações entre direitos ambientais e direitos humanos, partindo do pressuposto que o desenvolvimento sustentável só poderá

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ser alcançado com o envolvimento de todos os cidadãos. Assim, esta convenção não representa apenas um acordo internacional em matéria de ambiente, mas tem em conta também os princípios de responsabilização, transparência e credibilidade que se aplicam aos indivíduos e às instituições.

A Convenção de Aarhus está aberta a estados não europeus, pelo que, embora continue a ser regional no seu âmbito, o significado desta é global. Esta está edificada em três pilares fundamentais: o acesso à informação, a participação do público e o acesso à justiça em matéria de ambiente.

As Nações Unidas vêm enfatizando a importância da participação como uma forma de promover a democracia e fortalecer o estado de direito (Delgado, 2013). Nos objetivos de desenvolvimento do milénio para 2000 – 2015 é proclamada a necessidade de desenvolver coletivamente progressos políticos abrangentes de modo a permitirem a participação efetiva de todos os cidadãos.

Diversos autores veem a participação pública como um modo de aumentar a satisfação dos cidadãos (Ferreira, 2003; Guerra, 2006; Healey, 2006; Ascher, 2010), uma vez que se pode estabelecer uma correspondência entre os resultados e as aspirações destes. Em sentido inverso, intervenções onde os pressupostos de diálogo e transparência não estejam presentes podem gerar um clima de controvérsia e insatisfação, aumentadas as clivagens sociais e limitando os pressupostos democráticos (Delgado, 2013).

Em Portugal, os níveis de participação pública são reduzidos. Mattoso (2008) explica que em Portugal o Estado desempenha um papel de intensa regulação social, mas permanece uma grande distância entre representantes e representados. É o Estado que tenta imitar os padrões de atuação dos Estados e das políticas mais desenvolvidos, o que se reflete numa legislação frequentemente muito progressista, sem que os agentes políticos interiorizem esses padrões nas orientações operacionais e na prática política. Por sua vez Lourenço et al. (1997) salientavam a ausência de participação em Portugal mencionando o excessivo caráter técnico dos documentos postos à discussão, o facto de a participação pública ser motivada fundamentalmente pelos interesses particulares em detrimento dos interesses difusos, a fraca ressonância da participação pública nas decisões finais, as debilidades técnicas das autarquias à mercê do Poder Central, a cientificação das decisões e a falta de informação científica adequada ao nível de conhecimentos do cidadão em geral.

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Fig. 1 Enquadramento territorial do Vale do Ave
Fig. 2 Freguesias do concelho de Vizela
Fig. 3 Moinho sobre o rio Vizela
Fig. 4 Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011)
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Referências

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